neutralidade da rede no marco civil da internet

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1 NEUTRALIDADE DA REDE NO MARCO CIVIL DA INTERNET 1 (CRIAR TÍTULO) Jorge Luis da Costa Silva 2 Pedro Escosteguy 2 1 INTRODUÇÃO Considerado um avanço para alguns partidos da base do governo e um expressivo setor da sociedade civil e um retrocesso para outros dissidência da base aliada do governo e empresas de telecomunicação , o Marco Civil da Internet foi sancionado pela presidente Dilma Rousseff após tramitar por dois anos na Câmara dos Deputados. Sua aprovação pelo plenário da Câmara em votação quase unânime não representa os conflitos políticos desencadeados pelo processo de discussões sobre privacidade, responsabilidade e, principalmente, neutralidade da rede. O Marco Civil da Internet, consubstanciado na Lei nº 12.965, de 23 abril de 2014, se apresentou como uma reação à polêmica "Lei Azeredo". A proposta, que ficou conhecida como "AI-5 Digital", previa a regulação da rede e dos internautas unicamente sob a perspectiva do crime. Tendo em vista impedir a aprovação do AI-5 digital, uma petição online, chamada “Pelo veto ao projeto de cibercrimes – Em defesa da liberdade e do progresso do conhecimento da internet brasileira 3 , reuniu mais de 160 mil assinaturas. Conforme salienta a advogada Veridiana Alimonti (2013) em artigo publicado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), “não é nada raro que os avanços tecnológicos e a potencialidade da Internet sejam encarados com desconfiança, levando a regulações que favorecem o vigilantismo e a criminalização de condutas cotidianas na rede”. Nesse cenário, crescia a necessidade por uma Carta de Princípios da Internet, que fosse capaz de estabelecer direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Inspirado nos Princípios para a Governança e Uso da Internet no Brasil 4 , aprovados em resolução do Comitê Gestor da Internet no Brasil em 2009, o Projeto de Lei nº 2.126/2011 referente ao Marco Civil foi disponibilizado em plataforma online 1 Trabalho proposto pelo Professor Carlos Affonso, na disciplina de Direito Civil I. 2 Alunos do 1º período (tarde/noite) do curso de graduação da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 3 Disponível em: <http://www.petitiononline.com/veto2008/petition.html>. 4 Disponível em: < http://cgi.br/resolucoes/documento/2009/CGI.br_Resolucao_2009_003.pdf>.

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Page 1: Neutralidade Da Rede No Marco Civil Da Internet

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NEUTRALIDADE DA REDE NO MARCO CIVIL DA INTERNET1 (CRIAR

TÍTULO)

Jorge Luis da Costa Silva2

Pedro Escosteguy2

1 INTRODUÇÃO

Considerado um avanço para alguns – partidos da base do governo e um

expressivo setor da sociedade civil – e um retrocesso para outros – dissidência da base

aliada do governo e empresas de telecomunicação –, o Marco Civil da Internet foi

sancionado pela presidente Dilma Rousseff após tramitar por dois anos na Câmara dos

Deputados. Sua aprovação pelo plenário da Câmara em votação quase unânime não

representa os conflitos políticos desencadeados pelo processo de discussões sobre

privacidade, responsabilidade e, principalmente, neutralidade da rede.

O Marco Civil da Internet, consubstanciado na Lei nº 12.965, de 23 abril de

2014, se apresentou como uma reação à polêmica "Lei Azeredo". A proposta, que ficou

conhecida como "AI-5 Digital", previa a regulação da rede e dos internautas unicamente

sob a perspectiva do crime. Tendo em vista impedir a aprovação do AI-5 digital, uma

petição online, chamada “Pelo veto ao projeto de cibercrimes – Em defesa da liberdade

e do progresso do conhecimento da internet brasileira3”, reuniu mais de 160 mil

assinaturas.

Conforme salienta a advogada Veridiana Alimonti (2013) em artigo publicado

pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), “não é nada raro que os

avanços tecnológicos e a potencialidade da Internet sejam encarados com desconfiança,

levando a regulações que favorecem o vigilantismo e a criminalização de condutas

cotidianas na rede”.

Nesse cenário, crescia a necessidade por uma Carta de Princípios da Internet,

que fosse capaz de estabelecer direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil.

Inspirado nos Princípios para a Governança e Uso da Internet no Brasil4, aprovados

em resolução do Comitê Gestor da Internet no Brasil em 2009, o Projeto de Lei nº

2.126/2011 – referente ao Marco Civil – foi disponibilizado em plataforma online

1 Trabalho proposto pelo Professor Carlos Affonso, na disciplina de Direito Civil I.

2 Alunos do 1º período (tarde/noite) do curso de graduação da Faculdade de Direito da Universidade do

Estado do Rio de Janeiro. 3 Disponível em: <http://www.petitiononline.com/veto2008/petition.html>.

4 Disponível em: < http://cgi.br/resolucoes/documento/2009/CGI.br_Resolucao_2009_003.pdf>.

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colaborativa. Com mais de 2000 contribuições recebidas, a proposta final foi

encaminhada ao Congresso Nacional.

No bojo desse processo que vai da construção até a aprovação do Marco Civil,

é importante ressaltar alguns pontos polêmicos que de transformaram em verdadeiros

nós na trajetória legislativa do PL. Um incômodo às operadoras de telecomunicações é o

tema da privacidade; a proposta do Marco Civil proíbe que elas guardem os dados de

navegação dos usuários, estabelecendo apenas a guarda dos registros de conexão

(número IP, horário da conexão e desconexão) por um ano. Essa redação impede,

portanto, a comercialização pelas operadoras das preferências dos consumidores na

Internet a potenciais anunciantes, assim como fazem os provedores de aplicações de

Internet (ex: Google, Facebook e outros sites). Além disso, outro assunto tratado

abordado é a responsabilidade dos intermediários, que trata da fronteira entre o que

pode ser dito online e a responsabilidade pelos danos causados. Há, ainda, um debate

ainda mais acirrado relacionado à neutralidade da rede, que discute o tratamento da

navegação dos usuários na internet pelas operadoras de telecomunicações. A proposta

do Marco Civil determina que as empresas de telecomunicações não podem fazer

distinção de tráfego orientadas por interesses comerciais, nem facilitar a transferência de

determinados pacotes de dados (aquilo que enviamos ou recebemos quando estamos

navegando) em detrimento de outros.

Embora todos estes temas sejam relevantes, este trabalho se limitará a realizar

uma breve análise da proposta de neutralidade da rede trazida pelo Marco Civil,

identificando as principais divergências e conflitos que envolvem o assunto. Para tanto,

foi realizada uma pesquisa exploratória, a partir de levantamento bibliográfico e

documental, a fim de conhecer melhor a problemática em tela.

2 DESENVOLVIMENTO (CRIAR SUBTÍTULO)

A Lei nº 12.965/14 estabelece ao responsável pela transmissão, comutação ou

roteamento o dever de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem

distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicativo, sendo

admitidas exceções somente em razão de requisitos técnicos e serviços de emergência a

serem regulamentados posteriormente (art. 9º). De forma a controlar o gerenciamento

de tráfego, o artigo impede ainda que tais empresas bloqueiem, monitorem, analisem ou

fiscalizem o conteúdo dos pacotes de dados (art. 9º, § 3º). O debate sobre a neutralidade

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reside, portanto, na possibilidade de se restringir ou facilitar acesso a determinados

serviços ou conteúdo na rede.

O diretor de planejamento da Rede de Informações para o Terceiro Setor

(Rits), Carlos Afonso, em seu artigo publicado no site do Comitê Gestor da Internet no

Brasil (2007), faz uma analogia entre as operadoras de telecomunicações (infovias) e as

operadoras de rodovias para elucidar a necessidade de haver um tratamento isonômico

em relação à transferência de dados: “Não cabe ao operador de infovia […] decidir se

carros vermelhos têm menos prioridade que carros azuis, ou se datagramas de telefonia

IP têm menos prioridade que datagramas de vídeo originados de determinado servidor”.

Nesse sentido, afirma o autor, “esse é um elemento central para a neutralidade da rede: a

infovia não pode censurar ou interferir no tráfego de conteúdo, seja este qual for”.

Essa concepção de neutralidade expressa na Lei é o principal alvo de ataques

das operadoras de telecomunicações, que querem alterar seu modelo de negócio atual

para poder oferecer planos diferenciados de acesso à Internet, não apenas por

velocidade, mas pelo tipo de serviço ou conteúdo disponível.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde a sua formulação até seu contexto atual, o Marco Civil da Internet é

exemplar no que se refere aos desafios de garantir princípios e direitos aos usuários no

uso da rede. É preciso mobilização da sociedade e priorização do governo em suas

políticas públicas para que realmente se estabeleça uma regulação democrática da

Internet, que a conceba como ambiente de direitos e não somente de negócios ou de

vigilância.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AFONSO, C. Todos os datagramas são iguais perante a Rede! CGI.br, 2007.

Disponível em: <http://www.cgi.br/publicacoes/artigos/artigo43.htm>.

ALIMONTI, V. Notícias do Brasil: um pouco sobre o Marco Civil da Internet. Idec,

2013. Disponível em: <http://www.idec.org.br/em-acao/artigo/noticias-do-brasil-um-

pouco-sobre-o-marco-civil-da-internet>.

BRASIL. Lei nº. 12.965, de 23 abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos

e deveres para o uso da Internet no Brasil.