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Neurociência e doença mental: Contribuições para o entendimento e para o tratamento

Prof. Dr. Caio MaximinoIESB/UnifesspaCoordenador - NeuroLiga

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Contribuições das neurociências paraa psicopatologia

• Tensão entre aproximações psicossociais e aproximações biológicas na saúde mental– A tensão é uma forma da falácia do espantalho: Foco em

elementos éticos e na terapêutica– A sociologia da medicina, mais do que as explicações

biológicas per se, determinam uma certa aversão às explicações

• Um entendimento do funcionamento do cérebro é necessário para entendermos o comportamento, emoções, e processos cognitivos, e como se alteram nos transtornos.

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Cérebro e funções mentais

• As alterações dessas funções após lesões cerebrais são o campo de estudo da neurologia e da neuropsicologia

• A psicopatologia tende a se focar no papel da função cerebral no desenvolvimento da personalidade, “considerando como diferentes tipos de personalidade guiadas biologicamente podem ser mais vulneráveis ao desenvolvimento de certos tipos de transtornos psicológicos” (Barlow & Durrand, p. 48)– P. ex., algumas pessoas impulsivas podem apresentar baixa

atividade serotonérgica e alta atividade dopaminérgica

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Modelo “clássico”

• Derivado da neurologia

• Toda doença mental resulta de uma lesão ou alteração funcional de algum tipo

• Visão ingênua da genética e do papel da plasticidade

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Influências psicossociais sobre estrutura e função do encéfalo

• A interação entre encéfalo e ambiente é de mão dupla, e o efeito do ambiente sobre o cérebro é relevante para os tratamentos psicológicos

• “As intervenções psicoterapêuticas atuam no tecido neural, produzindo alterações no padrão de comunicação sináptica de forma semelhante aos efeitos produzidos por drogas psicotrópicas. Dessa forma, o sistema nervoso central constitui o local comum às intervenções psicológicas e farmacológicas” (Callegaro e Landeira-Fernandez, 2007)

CALLEGARO, M. M.; LANDEIRA-FERNANDEZ, J. “Pesquisas em neurociência e suas implicações na prática psicoterápica”, In: CORDIOLI, A. V. (Org.), Psicoterapias abordagens atuais, p. 851-872, 3ª ed. Porto Alegre: ArtMed, 2008

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Efeito da psicoterapia sobre o funcionamento do SNC

• TOC, terapia comportamental: Redução da atividade do núcleo caudado do hemisfério direito (PET, rCBF)

• Fobia específica a aranhas, TCC: Redução da atividade do giro parahipocampal e do dlPFC direito; aumento da atividade do vlPFC direito; redução da atividade da ínsula e do córtex cingulado anterior direito

• Fobia social, TCC: Redução da atividade da amígdala, córtex parahipocampal, e outras estruturas límbicas; redução da atividade da PAG

CALLEGARO, M. M.; LANDEIRA-FERNANDEZ, J. “Pesquisas em neurociência e suas implicações na prática psicoterápica”, In: CORDIOLI, A. V. (Org.), Psicoterapias abordagens atuais, p. 851-872, 3ª ed. Porto Alegre: ArtMed, 2008

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Efeito da psicoterapia sobre o funcionamento do SNC

• Transtorno bipolar, terapia psicodinâmica: Aumento da atividade do PFC

• Transtorno depressivo maior, terapia interpessoal: Redução da atividade do PFC; aumento da atividade do lobo temporal

• Esquizofrenia, terapia de grupo: Aumento da atividade do PFC esquerdo

CALLEGARO, M. M.; LANDEIRA-FERNANDEZ, J. “Pesquisas em neurociência e suas implicações na prática psicoterápica”, In: CORDIOLI, A. V. (Org.), Psicoterapias abordagens atuais, p. 851-872, 3ª ed. Porto Alegre: ArtMed, 2008

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Interações entre fatores psicossociais e sistemas de neurotransmissores

• Insel et al. (1988): macacos rhesus criados em ambientes com diferentes esquemas de acesso a brinquedos e alimentos– Um grupo tinha acesso livre, o outro só tinha acesso quando o outro grupo escolhia– Controlabilidade– Animais com controle sobre o ambiente apresentam reações de agressividade após injeção

de agonista inverso do sítio BZD; animais sem controle apresentam reações de ansiedade e pânico

– A controlabilidade do ambiente mudou o funcionamento do sistema BZD-GABAA

• Yeh et al. (1996): em lagostins que vencem confrontos, estabelecendo dominância, a 5-HT aumenta a excitabilidade de determinados neurônios; em perdedores, a 5-HT diminui a excitabilidade dos mesmos neurônios

• Berton et al. (2006): em camundongos expostos a um agressor sem possibilidade de fuga, há produção de BDNF no sistema mesolímbico, que altera sua função (de facilitar reforçamento para facilitar evitação e isolamento)

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Modificações pós-traducionais da estrutura da cromatina

• No núcleo da célula, o DNA está fortemente condensado em cromatina, associado a oito histonas: – duas cópias de H2A, H2B, H3 e H4– Histona H1, de ligação

• Cada histona possui uma porção N-terminal que é capaz de passar por múltiplas modificações, incluindo acetilação, fosforilação, e metilação

• Alguns resíduos nessas porções restringem o acesso transcricional, e a acetilação desses resíduos promove o acesso de fatores de transcrição

• A metilação de resíduos nessas regiões inibe o acesso transcricional, dificultando o acesso de fatores de transcrição

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Modificações na metilação associadas a apego

• Weaver et al. (2004): Ratos adultos criados por mães que exibiam altos níveis de limpeza das crias apresentavam baixos níveis de metilação do DNA associado com o gene GR (receptor glicocorticóide) no hipocampo, maior expressão do gene, e mais resiliência a estressores, enquanto o contrário era verdadeiro em relação a animais criados por mães que não limpavam suas crias

• Zhang et al. (2010): Efeitos similares são observados em relação ao GAD1 (glutamato descarboxilase), em associação com mudanças na metilação da região promotora do gene

• Tyrka et al. (2012): Metilação aumentada do DNA para o gene NR3C1 (GR) em leucócitos de homens adultos com histórico de abuso infantil, perda parental, ou outros problemas de infância, associados a respostas atenuadas de cortisol a um estressor

• Beach et al. (2011): Comportamento anti-social de mulheres com histórico de abuso infantil coincide com genótipo e com hipermetilação da região promotora do SERT

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Modificações na metilação associadas ao ambiente pré-natal

• Mueller & Balle (2008): Camundongos machos adultos estressados in utero apresentam alterações na expressão dos genes Crh e GR, metilação reduzida do gene Crh no hipotálamo e na amígdala, aumento nas respostas endócrinas a estressores, e um fenótipo tipo-depressão.

• Vucetic et al. (2010): Dieta de alto conteúdo lipídico durante a gravidez de camundongos produz crias com alta preferência por sacarose e gordura na idade adulta, e hipometilação do DNA e sobre-expressão de diversos genes ligados à recompensa (MOR, Dat) no NAcc e PFC

• Devlin et al. (2010): Escores mais altos de depressão durante a gravidez estão associados com diminuição na metilação do promotor do SLC6A4 (SERT) na mãe (leucócitos periféricos) e no bebê (cordão umbilical)

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Evidências clínicas

• Mill et al. (2008): Alterações na metilação de genes relacionados à neurotransmissão GABAérgica e à função do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) em tecido cortical de pacientes esquizofrênicos

• Koenen et al. (2011): Associação entre a metilação do SLC6A4 e o número de eventos traumáticos em pacientes com TEPT

• Keller et al. (2010): Aumento na metilação de Bdnf nos cérebros de indivíduos suicidas e/ou diagnosticados com TDM

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O modelo de diátese-estresse

• Vulnerabilidade específica (diátese) – tendências herdadas para a expressão de certos caracteres ou comportamentos, cada qual ativado sob certas condições de estresse

• Quando o tipo “correto” de evento de vida ocorre, como um determinado tipo de estressor, o transtorno pode se desenvolver

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Exemplo: 5-HTTLPR e desenvolvimento de TDM

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Exemplo: 5-HTTLPR e desenvolvimento de TDM

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Conclusões

• Os circuitos específicos que estão envolvidos nos transtornos mentais são sistemas complexos identificados por vias de neurotransmissores que inervam várias regiões; entretanto, fatores psicológicos e sociais influenciam fortemente esses circuitos.

• As “experiências psicológicas precoces afetam o desenvolvimento do sistema nervoso e portanto determinam a vulnerabilidade a transtornos psicológicos na vida adulta. Parece que a própria estrutura do sistema nervoso está constantemente mudando como resultado da aprendizagem e da experiência, mesmo em idosos, e que algumas dessas mudanças tornam-se permanentes” (Barlow & Durand, p. 52)