a psicanÁlise e a neurociÊncia

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A PSICANÁLISE, EM SUAS DIVERSAS ABORDAGENS E A NEUROCIENCIA. A PSICANÁLISE, EM SUAS DIVERSAS ABORDAGENS E A NEUROCIENCIA. Marcelo Vinicius (Informações coletadas) A neurociência é um método, da ciência, que reúne as disciplinas biológicas que estudam o sistema nervoso, normal e patológico, especialmente à anatomia e a fisiologia do cérebro interrelacionando-as com a teoria da informação, semiótica e lingüística, e demais disciplinas que explicam o comportamento, o processo de aprendizagem e cognição humana bem como os mecanismos de regulação orgânica. Já a Psicanálise é um método desenvolvido pelo médico neurologista alemão Sigmund Freud, para tratar de distúrbios psíquicos a partir da investigação do inconsciente. Além de Freud, surgiu outros pesquisadores, como o médico psiquiatra Carl Gustav Jung (psicologia analítica), o psicanalista Alfred Adler (Formado em medicina, psicologia e filosofia pela Universidade de Viena), Jacques Lacan (Formado em Medicina, passou da neurologia à psiquiatria), Melanie Klein (Cursou Medicina) e entre outros pesquisadores, até a nossa atualidade. Na nossa atualidade, temos o psicanalista MD Magno (Nova Psicanálise), (Graduado em Psicologia; Psicólogo Clínico; Mestre em Comunicação, Doutor em Letras; Pós-Doutor em Comunicação. Fundador do Colégio Freudiano do Rio de Janeiro (instituição psicanalítica) e da UniverCidadeDeDeus (instituição cultural sob a orientação da Nova Psicanálise), Elisabeth Roudinesco (Historiadora e psicanalista. É professora na École Pratique des Hautes Études - França), Renato Mezan (Psicanalista e professor titular da PUC-SP e articulista do jornal Folha de São Paulo), Fátima Mora (Psicanálise Integrativa), (Psicanalista, Formação Acadêmica em Física, Formação em

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Page 1: A PSICANÁLISE E A NEUROCIÊNCIA

A PSICANÁLISE, EM SUAS DIVERSAS ABORDAGENS E A NEUROCIENCIA. A

PSICANÁLISE, EM SUAS DIVERSAS ABORDAGENS E A NEUROCIENCIA.

Marcelo Vinicius (Informações coletadas)

A neurociência é um método, da ciência, que reúne as disciplinas biológicas

que estudam o sistema nervoso, normal e patológico, especialmente à anatomia e a

fisiologia do cérebro interrelacionando-as com a teoria da informação, semiótica e

lingüística, e demais disciplinas que explicam o comportamento, o processo de

aprendizagem e cognição humana bem como os mecanismos de regulação

orgânica. Já a Psicanálise é um método desenvolvido pelo médico neurologista

alemão Sigmund Freud, para tratar de distúrbios psíquicos a partir da investigação

do inconsciente. Além de Freud, surgiu outros pesquisadores, como o médico

psiquiatra Carl Gustav Jung (psicologia analítica), o psicanalista Alfred Adler

(Formado em medicina, psicologia e filosofia pela Universidade de Viena), Jacques

Lacan (Formado em Medicina, passou da neurologia à psiquiatria), Melanie Klein

(Cursou Medicina) e entre outros pesquisadores, até a nossa atualidade. Na nossa

atualidade, temos o psicanalista MD Magno (Nova Psicanálise), (Graduado em

Psicologia; Psicólogo Clínico; Mestre em Comunicação, Doutor em Letras; Pós-

Doutor em Comunicação. Fundador do Colégio Freudiano do Rio de Janeiro

(instituição psicanalítica) e da UniverCidadeDeDeus (instituição cultural sob a

orientação da Nova Psicanálise), Elisabeth Roudinesco (Historiadora e psicanalista.

É professora na École Pratique des Hautes Études - França), Renato Mezan

(Psicanalista e professor titular da PUC-SP e articulista do jornal Folha de São

Paulo), Fátima Mora (Psicanálise Integrativa), (Psicanalista, Formação Acadêmica

em Física, Formação em Psicanálise Dinâmica, Sexologia e Psicoembriologia) e

entre outros, bem como os psicólogos, que compõe os mestrados psicanalítico de

universidades como a PUC, UERJ, USP e etc, além da formação de psicanalistas

em escolas psicanalíticas por todo o mundo. Sendo assim, abaixo segue resumo de

estudos e pesquisas da neurociência sobre a mente que contribui com os estudos

da psicanálise como um todo, em suas diversas abordagens. Cabe salientar que não

temos como colocarmos todas as pesquisas cientificas que corroboram com a

psicanálise (tanto os conceitos psicanalíticos mais antigos, como os mais atuais),

pois há muitos. Por tanto, acredito que com esse apanhado, podemos ver cada vez

mais a afirmação da psicanálise e as notícias promissoras para os estudos e

pesquisas sobre a mente e sua complexidade. A proximidade entre a psicanálise e

as neurociências não é novidade. A psicanálise é filha da neurologia, à parte da

medicina preocupada com o cérebro. Segundo Carlos Pacheco, Doutor em Medicina

Page 2: A PSICANÁLISE E A NEUROCIÊNCIA

do Departamento de Psiquiatria da USP, Graduated Fellow do Institute of Living,

Hartford, Conn. EUA, o conceito atual neurocientífica de plasticidade cerebral, das

redes ou mapas neuronais com suas miríades de sinapses sempre em mudança de

maneira ativa em contato com aquilo que vem da realidade interna e externa, dá

uma base orgânica estrutural para a teoria e práticas psicanalíticas atuais. A

neurociência vem mostrando como o estar consciente depende da sincronização, da

sintonia entre várias estruturas corticais e subcorticais. NOVAS FRONTEIRAS DA

PSICOTERAPIA Saiu na Revista Mente & Cérebro uma matéria interessante que

fala sobre a psicoterapia e a neurociência, evidenciando de forma empírica os

benefícios da psicoterapia em geral. Podemos citar a psicanálise, a psicologia e a

psicoterapia holística, por exemplo, como umas das técnicas e estudos da mente

que é envolvida por esta experiência neurocientífica. As raízes da psicologia

remontam à Grécia Antiga, onde o filósofo Aristóteles (384-322ª.C) escreveu o livro

“Acerca da alma”, citado muitas vezes como o primeiro manual sobre o tema. A

proposta original desta ciência era compreender o espírito – do latim spiritus, que

significa sopro, respiração. A limitação dos métodos do passado favoreceu o

distanciamento entre a psicologia em relação ao estudo do “não-palpável”, e a

medicina, com os seus métodos para investigação do corpo. Assim, a decisão de

Freud de confinar suas investigações à arena mental ocorreu somente depois que

ele desistiu de traduzir as observações clínicas dos processos mentais em termos

neurológicos, convencido de que as ferramentas da época não permitiam tal

realização... Atualmente, a neurociência já produz evidências no campo da

psicoterapia em geral. Os dados emergentes dos estudos neurocientíficos revelam

que as funções cognitivas, emocionais, perceptuais, e comportamentais são

mediadas por circuitos cerebrais, e que a não-integridade destes pode estar

associado a alguns distúrbios mentais. A plasticidade cerebral, fenômeno

diretamente ligado ao aprendizado e a memória, pode modificar, compensar e

ajustar funções neurais fundamentais à capacidade adaptativa. Estudos recentes

revelam que a natureza subjetiva e a volição dos processos mentais, como

pensamentos e crenças auto-orientadas, influenciam significativamente a

plasticidade neural em vários níveis. Pesquisas neurofuncionais em indivíduos

saudáveis e em pacientes com algum transtorno demonstram, por exemplo, que a

opinião e as expectativas podem mudar a atividade neurofisiológica e neuroquímica

nas regiões do cérebro associados à percepção, à dor e a expressões emocionais.

Desejos, expectativas, crenças e aspirações são consideradas fatores potenciais de

superação que se refletem na atividade neural. A psicoterapia, em suas diversas

abordagens, se ocupa justamente da subjetividade, ou das representações internas,

Page 3: A PSICANÁLISE E A NEUROCIÊNCIA

e articula percepções, memórias e sistemas de crenças dos indivíduos em processo

terapêutico. Algumas discussões sobre o tratamento eficaz do transtorno de

ansiedade por meio da psicoterapia sugerem que novas percepções, e seus

correspondentes traços de memória, formam-se de forma plástica, substituindo

conexões anteriores responsáveis pelas reações de ansiedade. Pessoas que

vivenciaram eventos dolorosos freqüentemente reconstroem e recontextualizam o

trauma durante a psicoterapia, reorganizam, lembranças, percepções e

experiências, atribuindo novos significados a elas e atenuando assim o próprio

sofrimento. Representações e diálogos internos “encobertos”, que afetam o

relacionamento com os episódios dolorosos da vida, vêm sendo captadas por

técnicas de neuroimageamento utilizada por uma nova geração de psicólogos

clínicos neurocientistas. Na última década, o neuroimageamento tem estimulado

pesquisas desafiadoras sobre sistemas neurais envolvidos em funções cognitivas

complexas em geral. Ou seja, a psicoterapia, envolvendo a psicanálise, a psicologia

e a psicoterapia holística reorganiza o psiquismo implicando em uma nova

configuração neural e assim alterando a atividade neurofisiológica e neuroquímica

nas regiões do cérebro associados à percepção, à dor e as expressões emocionais.

Maiores informações: Revista Mente & Cérebro (revista de neurociência, neurologia,

psiquiatria, psicologia e psicanálise). Edição N 191 – Dezembro 2008 e a Revista

Scientific American OS NEURÔNIOS-ESPELHO E O REVIRÃO DA NOVA

PSICANÁLISE Boas notícias para a psicanálise freudiana e os estudos sobre a

mente humana: a descoberta dos neurônios-espelho. Os neurocientistas

responsáveis por esse feito são Giacomo Rizzolatti, Vittorio Gallese e Leonardo

Fogassi da Universidade de Parma (Itália). Para cientistas como Vilayanur

Ramachandran, da Universidade da Califórnia de San Diego, os neurônios-espelho

vão fazer pela psicologia o que o DNA fez pela biologia. MD Magno, Psicanalista,

tem afirmado tese semelhante desde 1982, quando postulou o aparelho lógico do

REVIRÃO (um princípio de espelho absoluto) como modelo de funcionamento de

nossa mente. Revirão é a possibilidade de enantiomorfismo total, a habilidade de

pensar o avesso radical de qualquer afirmação e de realizá-lo através da arte e da

técnica. Essa competência de nossa mente – agora também comprovada

biologicamente no cérebro com a descoberta dos neurônios-espelho – é que dá

origem à linguagem humana e sua intrincada estrutura gramatical. Como se pode

ver, notícias promissoras para os estudos e pesquisas sobre a mente e sua

complexidade. SOLUÇÕES INCONSCIENTES! Num estudo de 2004, o

neurocientista Ullrich Wagner, da Universidade de Lubeck, Alemanha, demonstrou

quão poderoso pode ser o processamento de memórias no sono. Ele ensinou aos

Page 4: A PSICANÁLISE E A NEUROCIÊNCIA

participantes como resolver um tipo de problema matemático, usando um

procedimento longo, e fez com que o repetissem cerca de 100 vezes. Em seguida,

pediu para os voluntários irem embora e voltar 12 horas mais tarde, quando foram

instruídos a tentar outras 200 vezes. Embora não soubessem que havia uma

maneira bem mais simples de resolver os problemas, os pesquisadores perceberam

exatamente quando eles descobriram o atalho, pois a velocidade da resolução da

tarefa aumentava de repente. Muitos dos participantes descobriram o truque durante

a segunda sessão, e esta chance aumentou 59% depois de uma noite de sono. De

alguma forma o cérebro adormecido estava solucionando esse problema, sem nem

mesmo saber que havia algo para solucionar. Um processo inconsciente. Também

outros estudos científicos comprovam que o sono foi um fator facilitador para

solução de problemas mais complexos. Ao contrario que muitos pensam, o cérebro

não descansa durante o sono, mas encontra-se em franca atividade. É possível

fazer deduções lógicas de forma inconsciente e descobrir novas informações em

aprendizagem direta. Isso nos faz retomar os estudos psicanalíticos como um todo,

em suas diversas abordagens, em que se pode encontrar que o processo

inconsciente está sempre trabalhando. Sendo mais especifico, falando da psicologia

analítica (uma das “vertentes” da Psicanálise), no material “Carl Gustav Jung. O Eu

e o inconsciente” nos explica esse processo e assim sabemos, que o inconsciente

nunca está em repouso. Sua atividade parece ser contínua. Além do conceito de

Freud que afirma que o inconsciente é formado pelos conteúdos que são reprimidos

pelo ego, Jung demonstra que o inconsciente também é dinâmico, produz

conteúdos, reagrupa os já existentes e trabalha numa relação compensatória e

complementar com o consciente. No inconsciente encontram-se, em movimento,

conteúdos pessoais, adquiridos durante a vida e mais as produções do próprio

inconsciente. Estes estudos da neurociência vêm mais uma vez colaborar com os

estudos da psicologia analítica, a qual já tinha afirmado, mais ou menos nos anos 30

do século XX, o conceito semelhante, de que todas estas coisas (soluções

inconscientes), evidenciada agora pela neurociência, são sintomas da contínua

atividade do nosso inconsciente, que atua mesmo ao dormimos, em uma noite de

sono, e que durante o dia, vence ocasionalmente as inibições impostas pela

consciência. Aproveitando, de forma sintetizada, o que é então o sonho? O sonho é

um produto, da atividade psíquica inconsciente durante o sono. O sonho é um

processo automático, que se fundamenta na atividade independente provinda do

inconsciente e que não está sujeito à nossa vontade, do mesmo modo que o

processo fisiológico da digestão. Trata-se, pois, de um processo psíquico

absolutamente objetivo, de cuja natureza podemos tirar conclusões objetivas a

Page 5: A PSICANÁLISE E A NEUROCIÊNCIA

respeito do estado psíquico realmente existente. PSICANÁLISE EM SUAS

DIVERSAS ABORDAGENS, EM ESPECIFICO, A PSICOLOGIA ANALITICA A LUZ

DA NEUROCIENCIA A Psicanálise entende-se que o id, que faz parte do aparelho

psíquico, constitui o reservatório da energia psíquica, onde se "localizam" as

pulsões, constituindo o pólo pulsional da personalidade. Os seus conteúdos,

expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um lado hereditários e

inatos e, por outro, recalcados e adquiridos. Em outras palavras, o id é constituído

dos resíduos arcaicos hereditários, que são inatos, e pelos reprimidos, que são

adquiridos, ou seja, nós somos constituídos por um psiquismo que é passado de

geração para geração. Segundo Freud, o id é a parte inacessível da personalidade,

pois está repleto de energias provenientes de impulsos inatos. Jung também lançou

as bases para a estruturação arquetípica da natureza humana, campo hoje também

investigado pela neuroetologia, considerando que tanto a psique, como o corpo

humano, têm uma estrutura definida que compartilha a continuidade filogenética com

os demais filos do reino animal. Jung adiantou-se aos conhecimentos de sua época.

Enquanto a psicologia acadêmica insistia que o repertório do comportamento

humano era infinitamente plástico, quase que completamente dependente das

vissitudes e ocorrências do ambiente e pouco influenciados pelas estruturas inatas

ou geneticamente predeterminadas, Jung insistia no oposto – enfatizava a

estruturação arquetípica do comportamento humano. Para Jung o homem não luta

para se tornar uma totalidade, já nasce como uma totalidade que buscará se

desenvolver, realizar suas potencialidades na sua interação com o ambiente, com o

social e com o cultural. Na visão de Jung, compete ao homem desenvolver esse

todo, esse potencial genético que se manifestará fenotipicamente a partir das

influências peristáticas. Em 1935, na Clínica Tavistock em Londres, Jung dizia: “O

cérebro nasce com uma estrutura acabada, funcionará de maneira a inserir-se no

mundo de hoje, tendo, entretanto a sua história. Foi elaborado ao longo de milhões

de anos e representa a história da qual é o resultado. Naturalmente traços de tal

história estão presentes como em todo o corpo, e se mergulharmos em direção à

estrutura básica da mente, por certo encontraremos traços de uma mente arcaica.” e

no campo da neurofisiologia Paul D. MacLean aborda a análise da evolução

funcional filogenética do cérebro, da qual fala Jung, e propõe o modelo do cérebro

triuno. Tanto estruturalmente como na sua função o cérebro retrata a sua longa

evolução. Apresentando-se constituído por estruturas características dos mamíferos

mais evoluídos, que manifesta o seu mais alto grau de complexidade e

desenvolvimento no homem. A seguir observam-se estruturas próprias dos

mamíferos mais primitivos e estruturas que compartilhamos com os répteis. Esses

Page 6: A PSICANÁLISE E A NEUROCIÊNCIA

três cérebros funcionam em uníssono, porém não em harmonia. Os etologistas

dizem que a emissão dos comportamentos ambientalmente estáveis (invariantes) e

ambientalmente instáveis (variantes) depende do funcionamento dos três

subsistemas propostos por MacLean, e que integram circuitos neurais presentes

indistintamente nos três cérebros. Similarmente ao que afirma Jung, MacLean

descreve: “Radicalmente diferentes na estrutura, na química e evolutivamente

separados por incontáveis gerações, as três formações constituem uma hierarquia

de três cérebros em um – um cérebro triuno. Tal situação sugere que as funções

psicológicas e comportamentais estão sob a direção conjunta de três diferentes

mentalidades. Nos seres humanos acrescenta-se a complicação das duas

formações mais antigas não disporem da possibilidade de comunicação verbal”. A

presença dessas estruturas neurais dá embasamento às afirmações de Jung: “Não

há nada que impeça de assumir que certos arquétipos existam até mesmo nos

animais, e que eles (arquétipos) se fundam nas peculiaridades dos organismos vivos

e que, portanto expressam diretamente a vida, cuja natureza não pode ser em maior

profundidade explicada. Não somente os arquétipos são aparentemente, as

impressões incontavelmente repetidas de experiências, mas ao mesmo tempo,

comportam-se como agentes que promovem a repetição dessas mesmas

experiências”, e “ Mas existem várias coisas na psique humana que não são

aquisições individuais, pois a mente humana não nasce tabula rasa, nem sequer

cada ser humano é dotado de um cérebro novo e único. Ele nasce dotado de um

cérebro que é o resultado do desenvolvimento de incontáveis elos ancestrais. Esse

cérebro é produzido em cada embrião com toda a perfeição diferenciada, e quando

começa a funcionar, produzirá fielmente os mesmos resultados que foram

produzidos inumeráveis vezes ao longa da linha ancestral. Toda a anatomia humana

constitui um sistema herdado idêntico em sua constituição aos ancestrais e que

funcionará da mesma maneira. Todos os fatores que foram essenciais aos nossos

antepassados, recentes ou remotos, continuam essenciais para nós,estão

embebidos no nosso sistema orgânico hereditário(10).” É inegável, como se vê nas

citações acima, que Jung considerava o cérebro como o órgão essencialmente

ligado à psique e valorizava a influência da genética. Antecipou-se à moderna

concepção de que a mente resulta de um complexo processamento eletroquímico de

informações pelas estruturas neurais (11). Modernamente o cérebro é considerado

um sofisticado sistema hipercomplexo que processa e gera informações como

substrato das emoções, dos pensamentos, da cognição, da criatividade e dos

comportamentos. A mente é o principal produto do funcionamento cerebral. É o

resultado da pressão evolutiva que como conceitua Max Delbrück (Premio Nobel,

Page 7: A PSICANÁLISE E A NEUROCIÊNCIA

um dos fundadores da moderna Biologia Molecular), quando diz: “No contexto da

evolução, a mente de um ser humano adulto, o objeto de centenas de anos de

estudos filosóficos, cessa de ser um fenômeno misterioso, uma coisa em si. A mente

passa a ser considerada como um processo adaptativo em resposta às pressões

adaptativas, como todos os processos vitais” (12). O grande erro de Descartes foi o

de considerar a mente como algo com vida própria, independente do corpo, o que

influenciou a psicologia acadêmica e o pensamento ocidental durante séculos,

constituindo um paradigma que só agora começa a mudar (13), (14). “O cérebro está

organizado em processadores (sistemas neurais) que funcionam de maneira

independente (até certo ponto). Uma vez que cada um desses sistemas tem tarefas

específicas, várias atividades podem ser executadas pelo cérebro simultaneamente,

isto é, esses sistemas trabalham em paralelo. Essa arquitetura permite que você

masque chicletes, e caminhe pela rua, dirigindo-se a um destino sentindo-se feliz e

lembrando-se do numero do telefone que seu amigo lhe forneceu na quadra anterior,

tudo isso ao mesmo tempo em que a sua postura é mantida ereta, sua pressão

sangüínea é mantida num nível adequado e a sua freqüência respiratória é

sincronizada pela necessidade de oxigênio exigido pelas atividades em que está

engajado nesse momento” (15). Para executar todas as atividades necessárias à

homeostasia e interagir com o ambiente físico e social em que se encontra, o

sistema nervoso processa dados captados pelos canais sensoriais transformando-os

em informações pertinentes à situação do momento e ao estado mental, que

também é o resultado de processamento em outras redes neurais, e dessa

complexa atividade neural resulta o estado mental, as emoções, as atitudes e os

comportamentos. Os elementos básicos constituintes dessas redes neurais são os

neurônios. Existem cerca de 100 bilhões de neurônios e uns 10 mil tipos de

neurônios no cérebro humano. São células excitáveis capazes de produzirem sinais

elétricos e químicos, verdadeiros bits, representando dados que permitem codificar

tudo que nos atinge tanto do meio externo quanto do meio interno. Basicamente o

neurônio apresenta o corpo celular do qual emerge dois tipos de prolongamentos.

Prolongamentos múltiplos e ramificados, os dendritos que são especializados para a

recepção de sinais de entrada, e um prolongamento longo e único o axônio, que

veicula os sinais de saída. O axônio se ramifica profusamente estabelecendo

contato com os dendritos ou com o corpo celular de outros neurônios e

eventualmente com outros axônios. A região onde ocorre esse contato é

denominada sinapse. As sinapses são extremamente plásticas e participam

ativamente na gênese de todas as atividades mentais. O desenvolvimento e

estruturação das conexões sinápticas dependem em parte do código genético e em

Page 8: A PSICANÁLISE E A NEUROCIÊNCIA

parte dos eventos vivenciais de cada individuo. Pode-se postular que o conjunto de

circuitos e sinapses predominantemente programados pelo código genético sirva de

suporte para os arquétipos enquanto que os circuitos e sinapses formados durante o

desenvolvimento ontogenético constituem o suporte para os complexos que se

formam ao redor dos núcleos arquetípicos. Os genes contêm as informações

necessárias para, em sinergia com o ambiente químico intra-uterino, estabelecer a

estruturação da circuitaria básica (21), constituindo o que Jung denominou sistemas

básicos de ação – “Os arquétipos constituem sistemas de prontidão para a ação e

constituem ao mesmo tempo imagens e emoções. São herdados juntamente com a

estrutura do cérebro – constituem na verdade o aspecto psíquico dessa estrutura

(22)”. * Arquétipos são traços funcionais do inconsciente coletivo * Inconsciente

coletivo é constituído pelos materiais que foram herdados da humanidade (Na

neurociência como código genético). É nele que residem os traços funcionais, tais

como imagens virtuais, que seriam comuns a todos os seres humanos.

PSICANÁLISE E NEUROCIÊNCIA NA VISÃO PSIQUIÁTRICA. Segundo Carlos

Pacheco, Doutor em Medicina do Departamento de Psiquiatria da USP, Graduated

Fellow do Institute of Living, Hartford, Conn. EUA, o conceito atual neurocientífica de

plasticidade cerebral, das redes ou mapas neuronais com suas miríades de sinapses

sempre em mudança de maneira ativa em contato com aquilo que vem da realidade

interna e externa, dá uma base orgânica estrutural para a teoria e práticas

psicanalíticas atuais. A neurociência vem mostrando como o estar consciente

depende da sincronização, da sintonia entre várias estruturas corticais e

subcorticais. O inconsciente (fantasia inconsciente), por sua vez, dependeria, para

se manifestar, de um bloqueio emocional de certos conjuntos neuronais e suas

sinapses, liberando outras redes, mais ligadas ao mundo interno, em uma espécie

de neo-jacksonismo. Tal se passaria no sonho, nos lapsos de língua, nas

parapraxias e na construção de sintomas neuróticos e psicóticos, conforme já Freud

havia observado. O ser humano necessita da fantasia, tanto consciente como

inconsciente, em alternância perene entre essa realidade interna e o mundo exterior.

Ambas são necessárias à mente, para dar "alma" ao cérebro, sem as quais este

morreria. O pensar parece ser em grande parte uma sintonia entre a fantasia

inconsciente, as captações sensoriais aferentes (o cérebro não sobreviveria sem o

corpo) e os engramas (memórias) estabelecidos no decorrer da vida. Dormir seria

necessário para descansar certos setores sinápticos, ligados à realidade exterior,

deixando livres outros mais conectados ao mundo interno, originando o sonhar. Sem

esse desligamento neurossináptico da consciência vígil, o cérebro não sobrevive. Os

especialistas em sono sabem disso. Para o aprendizado (aquisição de novos

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engramas), o sono bem dormido é tão necessário, mostrando pesquisas com

estudantes, quanto a primeira metade da noite é fundamental para consolidar o

aprendido em vigília (Houzel, 2002). Provavelmente seria porque no sono profundo

inicial funciona mais a realidade interna, ao contrário do sono superficial, com a

realidade externa mais influente, entrando nos sonhos. Não é impossível que, para a

consolidação do aprendizado, seja necessário o que em psicanálise se denomina

autismo construtivo, a mente fica voltada para dentro, para si mesma com seus

objetos internos, sem sonhos e contatos com o mundo exterior. Isso poderá explicar

certos lampejos criativos, tanto artísticos como científicos. Na química, quando

Kekulé sonhou com o anel benzênico, ainda não conceituado, e na fisiologia quando

Banting sonhou necessitar ligar o canal pancreático de cães para confirmar que as

ilhotas de Langermans secretavam a insulina. Conclusão Como tenho procurado

mostrar nesta seção Ponto de Vista, a psicanálise atual contribui cada vez mais para

compreensão da mente humana, seus distúrbios e seu tratamento. Por outro lado,

as neurociências vêm confirmando inúmeros postulados psicanalíticos modernos, no

estudo das funções cerebrais mais diferenciadas. Entretanto, os neurocientistas não

podem mais deixar de lado as contribuições da ciência do inconsciente (a

psicanálise), como nós psicanalistas não desprezamos os desenvolvimentos dos

conhecimentos das ciências cognitivas e das neurociências em geral. Para muitos

neurologistas e psiquiatras excessivamente organicistas, ainda somos uma espécie

de filósofos, desligados da verdadeira ciência. Alcunha talvez válida para as escolas

sectárias de psicanálise na sua ortodoxia. Fora destas, que apesar de tudo podem

dar sua contribuição, a ciência psicanalítica já atinge hoje dimensões nada

desprezíveis para a compreensão do ente humano na sua unidade e no seu

relacionamento interpessoal, tanto na saúde como na doença. Em artigo anterior

nesta revista (2002) procurei focalizar mais detidamente o processo analítico. Ainda

a respeito, gostaria de citar Kantrowitz (1995) e Schalker (1995), duas norte-

americanas com dois trabalhos notáveis que revelam a percepção das mais

sensíveis do jogo transferência-contratransferência. Na experiência emocional

recíproca, o paciente evolui reavaliando suas vivências e o mesmo se dá com o

analista, conforme vai percebendo como suas reações emocionais determinam e

condicionam as do paciente. E com isso, o próprio analista evolui, não só como

profissional, mas também como pessoa. As autoras, com muita sensibilidade e

intuição, relatam como trabalham em um interjogo emocional profundamente

humano entre duas pessoas, sem necessitar do jargão específico de qualquer das

"escolas" psicanalíticas existentes. Aliás, em psicanálise, muitas vezes o mesmo

termo é conceituado de várias maneiras por diferentes analistas, o que impede

Page 10: A PSICANÁLISE E A NEUROCIÊNCIA

freqüentemente qualquer discussão criativa. Finalizando, outro autor, o italiano Ferro

(1996) possui as mesmas características, como demonstrou em seus seminários

clínicos em nossa sociedade. São suas palavras: "Acredito que como analistas

deveríamos mostrar, cada vez mais, para além das teorizações, aquilo que fazemos

e como fazemos, na concretude da sessão". Aliás, palavras muito semelhantes às

de Bion (1973, 1974), em vários dos seus escritos e conferências, muitas das quais

pronunciadas em São Paulo e Rio de Janeiro, tais como: "Na psicanálise, duas

pessoas ousam se perguntar sobre coisas esquecidas e ignoradas, devendo ao

mesmo tempo viver no presente, disso resulta ambas ficarem mais fortes

mentalmente". NEUROPSICANÁLISE: UM NOVO PARADIGMA PARA A

PSICANÁLISE NO SÉCULO XXI Há pouco mais de 100 anos, Sigmund Freud,

médico neurologista, criava um método clínico de tratamento psicológico

denominado psicanálise. Este método, a princípio, podia ser aplicado apenas aos

neuróticos. Foi somente na década de 20 do século passado que a psicanálise

começou a estender seu campo de aplicação, abrangendo as chamadas neuroses

de guerra, com Sandor Ferenczi; a demência precoce, com Karl Abraham e Carl

Gustav Jung; e a psicanálise infantil, com Anna Freud e, sobretudo, Melanie Klein.

Estes psicanalistas romperam, de certa forma, com a idéia, defendida por Freud, de

que a psicanálise estava restrita a adultos neuróticos. A partir da década de 50,

Winnicott ampliará a aplicação da psicanálise aos distúrbios anti-sociais e à

delinqüência juvenil; assim como Lacan desenvolverá uma teoria própria, que dará

suporte à clínica das psicoses, e mesmo das perversões. Cada psicanalista citado

desenvolveu novas teorias e técnicas voltadas para o seu campo de atuação. Após

um século de psicanálise, esta continua a ampliar seu campo de trabalho. Com o

mais recente advento do método neuropsicanalítico, derivado do método

neuropsicológico de Luria, a psicanálise estende mais uma vez sua capacidade

clínica ao iniciar o tratamento de pacientes com lesões neurológicas. Este método

clínico de pesquisa tem sido desenvolvido por nomes como o do sul-africano Mark

Solms e do indiano V. S. Ramachandran. Curiosamente, a neuropsicanálise tem

sido desenvolvida por cientistas de países historicamente marginalizados. A

psicanálise, nos tempos freudianos, também tinha um caráter marginal, estando

quase restrita aos judeus europeus. Além disso, a neuropsicanálise representa um

retorno ao Freud neurologista, precursor da neurociência atual. Assim como Fausto,

a psicanálise tem uma dívida com o seu Mefisto; e mesmo que tenha se distanciado

da ciência nos últimos anos, esta mesma ciência - atualmente, como neurociência -

vem, como Mefisto, lembrar a dívida histórica aos atuais discípulos de Sigmund

Freud, o nosso Fausto. A neuropsicanálise surge, então, como uma das

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possibilidades de quitar essa dívida histórica da psicanálise com a ciência. Muito se

tem falado a respeito da neuropsicanálise nos últimos tempos, mas pouco ainda se

sabe sobre esta nova proposta interdisciplinar. Nas próximas linhas, abordaremos,

brevemente, a origem da neuropsicanálise enquanto método de pesquisa e

movimento interdisciplinar. Tentaremos, em seguida, analisar os objetivos propostos

por essa nova área do conhecimento e, finalmente, apresentar algumas críticas e

sugestões, nas quais a neuropsicanálise poderia se enquadrar como um novo

paradigma para a psicanálise no século XXI. Em 1999, Eric Kandel, proeminente

neurocientista, publica um artigo intitulado Biology and the future of psychoanalysis:

a new intellectual framework for psychiatry (em português, "A biologia e o futuro da

psicanálise: um novo referencial intelectual para a psiquiatria revisitado")1, no qual

aponta algumas sugestões para a psicanálise no século XXI. Entre outras coisas,

Kandel propunha uma aproximação entre psicanálise e neurociência, com o objetivo

de desenvolver novas pesquisas e teorias em psicanálise. Segundo Kandel, a

neurociência poderia fornecer fundamentos empíricos e conceituais mais sólidos à

psicanálise1. Um ano após a publicação do referido texto, em 2000, Kandel recebe o

prêmio Nobel de medicina por suas contribuições à neurobiologia, introduzindo o

conceito de plasticidade neural. Ainda em 2000, é realizado o 1º Congresso

Internacional de Neuropsicanálise, em Londres, ocasião em que é criada a

International Neuro-Psychoanalysis Society. Dentre os participantes desta

sociedade, podemos citar, além do próprio Kandel, alguns dos nomes mais

conhecidos no meio neurocientífico, como Antônio Damásio, Oliver Sacks, Gerald

Edelman, V.S. Ramachandran, entre outros; além de psicanalistas famosos, como

Charles Brenner e André Green. Mark Solms, presidente da sociedade acima

mencionada, vem publicando alguns trabalhos, desde o final dos anos 90 do século

passado, nos quais apresenta um novo método de pesquisa em neurociência2. Este

método, que tem sido a principal referência dentro do movimento neuropsicanalítico,

consiste numa adaptação do método neuropsicológico tradicional, elaborado por

Luria, para o estudo da atividade cerebral ligada aos fenômenos emocionais, que

têm sido investigados pela psicanálise por mais de 1 século. Esta modificação no

eixo de investigação das neurociências - dos processos cognitivos para os

fenômenos emocionais - vem ocorrendo com maior freqüência nos últimos anos,

impulsionada pelo desenvolvimento de aparelhos altamente especializados no

mapeamento preciso da atividade cerebral, como é o caso do PET-Scan e da

tomografia funcional por ressonância magnética (fMRI). O método

neuropsicanalítico, introduzido por Solms, pretende unir as observações realizadas

durante sessões de psicanálise com pacientes portadores de lesões cerebrais aos

Page 12: A PSICANÁLISE E A NEUROCIÊNCIA

diagnósticos realizados com o uso das mais recentes tecnologias de mapeamento

cerebral, a fim de descobrir quais áreas do cérebro correspondem aos fenômenos

psíquicos descritos por Freud no decorrer de sua trajetória como psicanalista. Como

exemplo das descobertas feitas através do método neuropsicanalítico, podemos

citar as primeiras experiências de V.S. Ramachandran com pacientes que

apresentavam lesões no hemisfério direito do cérebro, portadores de um distúrbio

conhecido como "anasognosia". Estes pacientes são incapazes de reconhecer a

paralisia de um membro, sintoma denominado de "negligência". Após a aplicação de

um pequeno volume de água gelada no ouvido esquerdo de alguns de seus

pacientes, Ramachandran constatou que a negligência desaparecia completamente

e só reaparecia depois de alguns minutos. Esta estimulação calórica pode ser

interpretada "como sendo uma correção temporária e artificial do desequilíbrio de

atenção entre os hemisférios"2 (p.57). O resultado deste experimento levou à

descoberta de que o fenômeno da repressão, bem como o de outros mecanismos de

defesa descritos na literatura psicanalítica, é mediado pelo hemisfério esquerdo do

cérebro. A princípio, constatamos que o método neuropsicanalítico parece ser eficaz

na localização das áreas cerebrais correspondentes aos fenômenos inconscientes

que influenciam a vida psíquica dos indivíduos. Além disso, este método vem

preencher a lacuna observada por Kandel1 no que diz respeito à necessidade de

uma base empírica para a psicanálise. No entanto, resta saber como o método

neuropsicanalítico pode contribuir para um avanço no conhecimento conceitual dos

processos inconscientes. Neste sentido, o método apresentado por Solms

certamente não é o único capaz de fornecer as bases conceituais para a psicanálise,

embora seja o primeiro a estabelecer a possibilidade de investigação científica

experimental para tais conceitos. A psicanálise, através do método da associação

livre e de suas técnicas próprias, vem desenvolvendo um arcabouço teórico vasto

durante mais de 1 século. É evidente que nem todos os conceitos psicanalíticos

poderiam ser validados pela neurociência3 através do método neuropsicanalítico;

contudo, não podemos censurar o esforço que vem sendo feito pelos adeptos da

neuropsicanálise para incrementar as pesquisas psicanalíticas. Apesar de não

podermos negar a iniciativa pioneira do método neuropsicanalítico, devemos

questionar até que ponto a neuropsicanálise, enquanto método, pode contribuir para

a teoria psicanalítica e para a psicoterapia. O grande mérito do método

neuropsicanalítico, até o momento, foi chamar a atenção para a necessidade de um

diálogo com a neurociência, uma vez que dispomos, nos dias atuais, de meios para

investigar a mente humana com muito mais eficácia. Neste sentido, a

neuropsicanálise, enquanto movimento, veio sacudir o meio psicanalítico,

Page 13: A PSICANÁLISE E A NEUROCIÊNCIA

oferecendo um novo paradigma para a psicanálise no século XXI. Não obstante, o

método neuropsicanalítico precisa de um arcabouço teórico que ofereça conceitos

bem delineados e bem definidos, numa linguagem conceitual, científica. Freud nos

ofereceu tais conceitos quando desenvolveu, paralelamente à prática psicanalítica, a

sua metapsicologia. Esta representa a teoria psicanalítica pura, uma teoria sobre a

mente humana. A metapsicologia freudiana foi construída para ser uma ciência4,5.

Tendo um método experimental e uma metapsicologia científica, resta acrescentar

ao corpo da neuropsicanálise - enquanto movimento - uma psicoterapia de base

neuropsicanalítica, a fim de oferecer condições completas para se pensar num novo

paradigma. Neste sentido, a princípio, a psicoterapia de base neuropsicanalítica não

funcionaria de maneira muito diferente da psicanálise tradicional. Ao afirmar isto,

estamos considerando que a psicanálise clássica ainda tem muito a nos oferecer

enquanto prática psicanalítica3. As técnicas psicoterápicas continuam se

desenvolvendo na medida em que os sintomas de uma determinada época vão

surgindo, em resposta às demandas e transformações da sociedade. No entanto, o

modo de refletir teoricamente a respeito do material encontrado na prática clínica

deverá ser reavaliado, uma vez que as descobertas neurocientíficas,

especificamente as neuropsicanalíticas, teriam uma certa influência no

desenvolvimento de uma metapsicologia científica4,5. Dentro de um certo tempo, as

modificações e os acréscimos feitos à teoria metapsicológica iriam produzir seus

efeitos na prática clínica, na elaboração de novas técnicas psicoterápicas. Um dos

grandes desafios da psicanálise na atualidade é compreender a dinâmica dos novos

sintomas, como a depressão, a síndrome do pânico, a toxicomania, entre outros.

Esta dificuldade não se dá apenas porque a dinâmica desses sintomas é nova,

como muitos psicanalistas acreditam, mas vai além disso. Não adianta tentar

adaptar os novos sintomas às velhas teorias explicativas, mas é necessário revisar a

própria teoria, senão modificá-la radicalmente. Este parece ser também o problema

enfrentado por algumas teorias quando se trata de transmiti-las a outrem. O

problema não está somente na complexidade da teoria ou na dificuldade do sujeito

em compreendê-la; o maior problema está no fato de que certas teorias já não estão

de acordo com os paradigmas atuais, isto é, já não refletem o modo de pensar da

atualidade. Boa parte desta dificuldade poderia ser resolvida se os psicanalistas

estivessem mais abertos não só para as novas produções culturais, mas, sobretudo,

para as novas descobertas realizadas no meio científico. Este é o desafio lançado

para os psicanalistas atuais: pensar a psicanálise tendo como referência o

paradigma científico de sua época. * Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul

http://www.sbpi.org.br/redator/item27586.asp