neto_b_rodrigues de morais_marx_taylor_ford_as_forças_produtivas_em_discussão_capítulo_1

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. 1 Marx, Tay lor , For d Taylorismo e maquin aria: a colocação do proble ma A problemática sobre a qual se pret ende refl etir nes- te t rab alho pod e ser v isu ali zad a des de log o a pa rti r de dois c onju ntos de c itaçõ es, o primeiro deles refe rente ao taylorismo: (O ta ylo ris mo car act eri za- se como) "o cont ro le do tra bal ho através do co ntrole das dec isões que são to- , mad as no cur so do traba lho " . I (Se gun do Tay lor , a ge rência cie ntí fic a pressu põe a existência de) "u m dep artame nto de pla nej ame nto para fazer o pensa mento dos h omens ". 2 (A c onc lusão de Ta ylo r de sua luta contr a os op e- rários da Midval e Stee l é que): "Os tra bal had ores que s ão con tro lad os apenas pel as ordens e di sci plin as ger ais não são adequ ada men te con tro lad os, por que ele s estão ata dos aos reais processos de tr abalho (... ) "Para mud ar essa situa ção , o co ntrole sob re o pr oce sso de trabalho deve pass ar às mã os da ger ênc ia, não apen as num sen tido for mal, mas pel o controle e f ixa ção de cad a fase do pr ocess o, inclusi ve seu modo de execuçã o". 3 "Taylor ele vou o con cei to de controle a um plan o int eir a- men te nov o quando ass eve rou como uma necessid ade abso - luta par a a gerê ncia adeq uada a impo sição ao traba lhad or 1. Br ave rma n, H., Trabalh o e capital monopolista, Rio de Janeiro, Zahar, 1977, p. 98. 2. Id.. ibid . , p. 115. 3. Id., ibid., p. 94. 7

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1Marx, Taylor, Ford

Taylorismo e maquinaria:a colocação do problema

A problemática sobre a qual se prette trabalho pode ser visualizada desdedois conjuntos de citações, o primeiroao taylorismo:

(O taylorismo caracteriza-se comotrabalho através do controle das deci

madas no curso do trabalho" .I

(Segundo Taylor, a gerência cientíexistência de) "um departamento para fazer o pensamento dos homens".

(A conclusão de Taylor de sua lutrários da Midvale Steel é que):

"Os trabalhadores que são controlados e disciplinas gerais não são adequadamporque eles estão atados aos reais proces

"Para mudar essa situação, o controde trabalho deve passar às mãos da gnum sentido formal, mas pelo controlefase do processo, inclusive seu modo de

"Taylor elevou o conceito de controle mente novo quando asseverou como um

luta para a gerência adequada a impos

1. Braverman, H., Trabalho e capital monopolista,

1977, p. 98.

2. Id.. ibid. , p. 115.3. Id., ibid., p. 94.

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20 BENEDITO R. MORAES NETO

da maneira rigorosa pela qual o trabalho deve ser execu-tado. " 4

Considerando ser o taylorismo um movimento quese inicia na virada do século XIX para o século XX, econsiderando sua importância na conformação do pro-cesso de trabalho sob o capitalismo no nosso século,é extremamente interessante cotejar o conjunto de ci-tações acima com o que se segue:

"Na máquina-ferramenta vemos reaparecer, em rasgosgerais, ainda que às vezes adotem uma forma muito modi-ficada, os aparatos e ferramentas com que trabalham o tra-balhador manual e o trabalhador da manufatura, com a di-ferença de que, em vez de ser ferramentas nas mãos de umhomem, são ferramentas mecânicas, engrenadas em ummecanismo". 5

"A máquina-ferramenta é um mecanismo que, uma vezque se lhe transmite o movimento adequado, executa comsuas ferramentas as mesmas operações que antes executavao trabalhador com outras ferramentas semelhantes." 6

"A máquina já não tem nada de comum com o instru-mento do trabalhador individual. Distingue-se por com-

pleto da ferramenta que transmite a atividade do trabalha-dor ao objeto. De fato, a atividade manifesta-se muito maiscomo pertence da máquina, ficando o operário a vigiar aação transmitida pela máquina às matérias-primas, e a pro-tegê-la das avarias." 7

"Tão logo a máquina possa executar sem ajuda do ho-mem todos os movimentos necessários para elaborar a ma-téria-prima, ainda que o homem vigie e intervenha de vezem quando, teremos um sistema automático de maquina-ria( ... )."8

4. Id .• ibid., p.86.5. Marx, K., El Capital, 8~ ed., México, Fondo de Cultura Econômica, 1973,

p.304.6. Id., ibid., p. 304.

7. Marx. K .. Elementos fundamentales  para la crítica de la economia política(Grundrisse) 1857·1858. 7~ ed .. México. Siglo Veintiuno, 1978, v. 2, p. 218.

8. Marx. K.,ElCapital.op. cit.,p.311.

MARX, TAYLOR, FORD

"A atividade do operário, reduzida ção, é em todos os sentidos determinada conjunto das máquinas; o inverso não é

"Na manufatura; os trabalhadores, grupos, têm que executar cada processoferramentas. E se o trabalhador é assimde produção, este teve que adaptar-se aNa produção à base de maquinaria depio subjetivo de divisão do trabalho. A

se converte em objetivo, se examina pefases que o integram, e o problema de eprocessos parciais e de articular esteparciais em um todo se resolve medianteda mecânica, da química, etc." 10

"Na manufatura e na indústria mase serve da ferramenta. Ali, os movimede trabalho partem dele; aqui, é ele qseus movimentos. Na manufatura, os ttros tantos membros de um mecanismexiste por cima deles um mecanismo mincorpora como apêndices vivos." 11

"Assim, o processo de produção deixde trabalho, no sentido em que o trabalh

unidade dominante." 12

"O conjunto do processo de produçãosubordinado à habilidade do operário: cação tecnológica da ciência." 13

"A ciência manifesta-se, portanto, nrece como estranha e exterior ao operáencontra-se subordinado ao trabalho mde modo autônomo. Nessa altura, o (... )."14

9. Marx, K., Elementos fundamentales .... op,

10. Marx, K., El Capital, op. cit .• p. 310.11. Id., ibid., p. 349.

12. Marx, K., Elementos fun damentales ... , op.

13. Id., ibid., p. 221.14. Id .. ibid., p. 221.

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"Nota comum a toda a produção capitalista, consideradanão só como processo de trabalho, senão também como pro-cesso de exploração de capital, é que, longe de ser o traba-lhador quem maneja as condições de trabalho, são estas quemanejam a ele; porém, esta inversão não toma realidadetecnicamente tangível até a era da maquinaria. Ao conver-ter-se em iutômato, o instrumento de trabalho se enfrentacomo capital, durante o processo de trabalho, com o pró-prio trabalhador; se eleva frente a ele como trabalho mortoque domina e absorve a força de trabalho viva. "15

merçadoriªs; como unidade do proces'pro~esso de valorizaç_ã?, o PI9s_e~~;gdecesso de produção capitalista, a form

-Ciução de mercadorias" ,17

"tudo o que Marx ammga em relação às característicasespecificamente capitalistas do processo de trabalho (parce-lamento de tarefas, incorporação do saber técnico no ma-quinismo, caráter despótico da direção), o realiza Taylor,nu mais exatamente, lhe dá uma extensão que até então não

havia tido"?16

verifiquemos a questão da hierarquiamentos que compõem a unidade concesso de produção capitalista: o pro~9"'processo de valorização. Para tadominância da categoria capital sobcapital é a potência econômica da soque domina tudo")," e da "lei do dução de mais-valia, a obtenção deabsoluta deste sistema de produção".

Esclarece-se assim a hierarquia desociedade capitalista: -opr;;cesso de

minante, o processo de-trabaTiiõ'  éconseqüência, são as determinações capital que explicam as mudanças cesso de trabalho dentro da sociedadsas mudanças não são outra coisa sendas bases técnicas da produção às dede valorização; ou, seguindo Napoleo

adequação da forma técnica da produnômica," ou ainda, a história da subbalho ao capital. Em outras palavracisa criar o processo de trabalho capisita ter poder no verdadeiro coraçãoforma a conseguir uma sólida base objetivo dominante: vaJº!i~JJ_çj,o_no

Tendo isto como alicerce de todatrabalho, verifiquemos em primeiro blemática a ser resolvida pelo capita

Ainda que supérfluo para os leitores, vale mencio-nar aqui que Marx refletia sobre o desenvolvimento docapitalismo na segunda metade do século XVIII e naprimeira metade do século XIX em seu berço (do capi-talismo), a Inglaterra.

Façamos agora uma indagação: podemos, a partirdo confronto dos dois conjuntos de citações, concor-dar com a colocação de Coriat de que

Acreditamos que n~o, e as razões para isto já estãopostas de forma contundente nas próprias citações.Todavia, devemos aprofundar o argumento, no sen-tido de buscar diferenças entre o movimento sobre oqual reflete Marx e o taylorismo.

Inicialmente, coloquemos algumas questões básicasacerca do movimento de moldagem do processo de tra-balho às determinações do capital. Partindo do fato deque,

"como unidade do processo de trabalho e de criação de va-lor, o processo de produção é um processo de produção de

17. Marx, K., El Capital, op. cit., p. 147.18. Marx, K., Elementosfundamentales ... , op. ci

19. Marx, K., El Capital, op. cit., p. 522.20. Cf. Napoleoni,

c.,Lecciones sobre el capítulo

México, Era, 1976, p. 92.21. Brighton Labour Process Group, "The capitalis

& Class, n? 1, 1977, p. 9.

L

15. Marx, K., El Capital, op. cit., p. 350.16. Coriat, B., Ciencia, tecnicay capítal, Madri, H. Biume Ediciones, 1976,

p.107.

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ros passos, e qual a forma dessa resolução. A questãoestá colocada claramente por Marx, considerando aestreiteza da base técnica manufatureira, alicerçadano parcelamento das tarefas, para o desenvolvimentodo modo de produção capitalista:

"A manufatura não podia abarcar a produção socialem toda a sua extensão, nem revolucioná-la em suas entra-nhas. Sua obra de artifício econômico se viu coroada pela

vasta rede do artesanato urbano e da indústria rural. Aoalcançar certo grau de desenvolvimento, sua base técnica,estreita, tornou-se incompatível com as necessidades da pro-dução que ela mesma havia criado". 22

Manufatura e maquinaria

Verifiquemos mais de perto a estreiteza da base téc-nica manufatureira. Enquanto revolução operadapelo capital no regime de produção, tendo como pontode partida a força de trabalho, e como unidade o tra-balhador e sua ferramenta especializada, caracteriza-se uma dependência do capital em relação ao trabalho

vivo:(Na manufatura),

(... ) "a análise do processo de produção em suas fases es-

 peciais coincide por inteiro com a decomposição de um ofí-

cio parcial nas diversas operações parciais que o integram.

Porém, sejam simples ou complexas, a execução destas ope-rações conserva seu caráter manual, dependendo portantoda força, da destreza, da rapidez e da segurança do trabalhoindividual no manejo de sua ferramenta. O ofício manualsegue sendo a base de tudo". 23

Que problemas isso coloca para o capital? Verifi-quemos a feliz síntese de Palma sobre "os dois limites

22. Marx, K., El Capital, op. cit., p. 300.23. Id., ihid., p. 274.

-

MARX. TAYLOR, FORD

(que) explicam os altos custos de proporta a manufatura e as dificuldades tlizar uma produtividade elevada". 24

Palma parte de duas colocações csobre o processo de trabalho manufatu

"Esta base técnica estreita exclui uma mente científica do processo de produçãcesso parcial recorrido pelo produto h

mente suscetível de ser executado commanual". 25

"( ... ) o princípio peculiar da divisão dem um isolamento entre as diversas faseque adquirem existência independente às outras, como tantos trabalhos parcisão. Para criar e manter a coesão necessções isoladas, coloca-se a necessidade dnuamente o artigo fabricado de uma moutro processo. Do ponto de vista da gr

constitui uma desvantagem característicnente ao princípio da manufatura." 26

E, sobre essas duas colocações, fazmentários:

a) "Olimite fundamental da manufatpor su;t;ise t6cnica l t r t e s a n a l . · Os mesubstancialmente se reduze~ ao insainda que aperfeiçoado pelo uso em urestringida, tornam necessária a adaptatrabalho aos requisitos aptudinais coneinstrumento mesmo. O procedimento 'aobstáculo insuperável na existência donal e no fato de que deve ser manejadosignifica que, mais além de certo limimento freia necessariamente o processo

24. Palma A.. "La organización capitalista deI tMarx", in Palma, A. et alii, La división capitalista de

demos de Pasado y Presente, 32, 1972, p. 17.

25. Apud  Palma, A., op. cit., p. 17.26. Id., ihid .. loc, cito

Tl . Id., ibid .. loc. cito

p

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Como veremos mais à frente, o processo de trabalhotorna-se cientificizado com a introdução da maquina-rIa-porque permite "uma análise verdadeiramentecientífica do processo de produção", ou seja, permiteque "as ações produtivas sejam decompostas nas for-mas fundamentais do movimento e recompostas em

".!operações mecânicas transferíveis às máquinas". 28 Des-de que as operações de produção se dêem através deinstrumentos manejados pelo homem, o processo dedecomposição encontra uma barreira no próprio tra-balho humano.

b) "Uma segunda carência, derivada da mesma divisãodo trabalho entre os homens e, em última instância, da basetécnica artesanal, está constituída pelo limite que o princí-pio da continuidade do processo de trabalho encontra noisolamento das diferentes fases de produção. Isto é devidoao fato de que o mecanismo de conjunto da manufatura éuma combinação de trabalhadoresparçiais, o que requeruma continua -passagem de homens e materiais de um pontoa outro da cadeia de elaboração." 29

Também sobre essa questão, comentários adicionaisserão feitos mais à frente.

Finalmente, como a decomposição de um ofício par-cial nas diversas operações parciais que o integrammantém, no conjunto, o total das operações de um ar-tesão, a manufatura caracteriza-se por acentuada hie-rarquia no trabalho, entre funções simples e comple-xas:

"Ãmedida que fomenta até o virtuosismo as condições par-ciais e detalhistas à custa da capacidade conjunta de traba-lho, (a manufatura) converte em especialidade a ausênciade toda formação. A escala hierárquica do trabalho se com-bina com a divisão pura e simples dos trabalhadores emespecializados e peões" .30

28. Id .. ibid .. p. 22.29. Id., ibid .. p. 17.30. Marx. K., El Capital, op. cit.; p. 284.

tr

MARX, TAYLOR. FORO

Esta escala hierárquica implica quma parte da força de trabalho - especializada, os "virtuoses do detase determinada fora do controle do de aprendizagem:

"A decomposição das tarefas manuformação, e portanto o valor dos tratante, os trabalhos de detalhe mais di

maior de aprendizagem, que os traballosamente, ainda naqueles casos em q

Essa questão fica mais claramente quando ele trata da necessidade impital de passar a produzir máquinacaracterístico de produção", ou sejaquinas. Enquanto as máquinas erabases manufatureiras, a grande indú

"rnediatizada pela força e perícia peque dependeu da força muscular, dvirtuosidade manual com que o trabana manufatura, e o artesão, fora delaminutos instrumentos. Além do fato dcarecia as máquinas - circunstância tal como motivo consciente -, isto faços da indústria já mecanizada e a peria em novos ramos de produção depclusivamente do desenvolvimento de balhadores que, pelo caráter semi-artíssó podia aumentar paulatinamente".

Fica claro, portanto, que a dependao trabalho vivo, enquanto (iep-en(i{

habilidade 40 trClºalhª-clormªllual, ctrave pará. ()il11P~rio~25~apttal. Ê crde produção capitalista se independelho vivo; caso contrário, "o processo

31. Id., ibid., p. 300.32. Id., ibid., p. 312.

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28 BENEDITO R. MORAES NETO

capital estará na dependência das vicissitudes do pro-cesso de trabalho", 33 pois

"Na manufatura, cada trabalhador ou grupo de traba-lhadores ainda possui algum grau de controle sobre o con-teúdo, velocidade, intensidade, ritmo, etc. do trabalho; e aintegração, o equilíbrio ou harmonização do trabalho cole-

tivo é ainda empírico. Ele ainda é alcançado com base naobservação do trabalho real, ao invés de ser calculado comanterioridade com base no conhecimento das funções damáquina'<.ê"

As citações que fizemos no início deste trabalho es-clarecem amplamente a forma encontrada pelo capitalpara esta independentização, criando sua "base téc-nica adequada": a montagem do "grande autômato",objetivando o processo do trabalho pela via do sistema

de máquinas, pela incorporação da ciência através do

sistema de máquinas. A façanha do capital, no sentidode moldar o processo de trabalho às suas determina-ções, descrita por Marx, vem aser a subordinação do

trabalho vivo ao trabalho morto. A ação do capital sedá pelo lado dos elementos objetivos do processo de

trabalho: "Na manufatura, a revolução operada no re-gime de produção tem como ponto de partida a força

de trabalho; na grande indústria, o instrumento detrabalho"."

Como nos esclarece bastante bem o Grupo de Brigh-ton,

"Em O Capital, Marx analisa os estágios do desenvolvi-mento da subordinação real, da cooperação simples, pas-sando pela manufatura, até a maquinofatura. A introdução

da maquinaria é o ponto culminante desse desenvolvimento

porque permite ao capital romper os limites dentro dos

33. Salrn, C.. Escola e trabalho, tese de doutoramento, DEPE/UNICAMP,

1980, p. 56.34. Brighton Labour Process Group, op. cit., p. 12.35. Marx, K., El Capital, op. cit.; p. 302.

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MARX. TArl OR. FOl\D

quais ele poderia efetuar um comando de trabalho sob a cooperação simples e

"Com a maquinofatura o capital pao capital constante; este pode agora sezado sem nenhuma referência às habilicionais. O ponto central da maquinaria

vés da qual ela pode realizar transforma

em diante. o capital rompeu os limites

velocidades através das quais () traba

essas funções. Não sendo mais depende

des, o processo de trabalho é concebid formance da máquina, e o trabalhadoacordo com suas necessidades (da mversa." 37

Além das citações bastante claras das no início da tese, vale a pena maseqüências da introdução da maquinardo trabalho vivo no processo de produ

"Enquanto existia uma base artesanquanto o trabalhador tinha uma área peito à forma de imprimir um objeto, ados e ao modo de usá-los, ele podia dedade das operações. Agora, na fábrica

decide as modalidades de funcionamentdas máquinas. As únicas operações resdor se reduzem aos serviços auxiliares reção das operações mecânicas e de quina. Ademais, uma parte cada vez mnuais residuais é pouco a pouco mecanàs máquinas". 38

"A máquina, como contraposta à feé um mecanismo passível de um procpasso a passo conduz à restrição da áreabalhador e, como limite, esvazia de conDeste ponto de vista. as operações ma

ditas não são senão resíduos passíveis d

36. Brighton Labour Process Group, op. cit., p. 10.37. Id., ibid .• p. 12.38. Palma, A., op. cit., p. 23.

ti

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30 BENEDITO R. MORAES NETO

do se produzam novas modificações tecnológicas e, comoresíduos, não têm importância para o estudo da organiza-

ção da fábrica. " 39

Taylorismo e fordismo

Retornemos agora à problemática que está posta noinício deste trabalho.

Verifiquemos qual o problema que Taylorpr()põeresolver. Este problema fica claro através da descriçãofeita por ele de sua luta contra os torneiros mecânicosda Midvale Steel Works. Tendo sido torneiro, Taylorpossuía valioso conhecimento (para o capital) da prá-tica das oficinas:

"( ) a oficina da Midvale Steel era de trabalho por tarefa( ) Nós que éramos os operários daquela oficina tínhamosa produção cuidadosamente combinada para tudo que saís-se da oficina. Limitávamos a produção a cerca de um terço,acho eu, do que poderíamos ter feito. Sentíamo-nos justifi-cados fazendo isso, devido ao sistema de tarefa - isto é,à necessidade de marcar passo no sistema de tarefa (... )" .40

Sobre o marca-passo, inimigo número um de Tay-lor, afirma este: "A maior parte do marca-passo siste-mático é feita pelos homens com o deliberado propó-sito de manter seus empregadores ignorantes de comoo trabalho pode ser feito rápido" . 41

O problema localizado por Taylor é que "os traba-lhadores estão atados aos reais processos de trabalho",como afirma Braverman. Ora, esta não é  outra senão a

 problemática da dependência do capital frente ao tra-

balho vivo. Recoloca-se essa questão, portanto, numa

 fase mais avançada do desenvolvimento do capita-

lismo.

39. ld .. ibid., p. 38.40. Apud  Braverrnan, H .. op. c i t o , p. 88.41. Id .. ibid .. p. 92.

MARX. TA YLOR, FORD

Essa questão por si só poderia numa questão merecedora de uma rfundada se se constituísse apenas defasagem tecnológica intersetorial siderúrgica, automobilística, por exexemplo desse fenômeno de defasagemento da siderurgia vis à  vis o da icolocações gerais de Marx tinham mento concreto da têxtil no século X

tade) e primeira metade do século Xticas desse movimento se repetem (s

rença) na virada do século XIX parcaso da siderurgia, como vemos em K

"No século dezenove, a indústria ddústria do ferro, da qual aquela brottema de trabalho no qual os trabalhadcontrato com as companhias de aço sistema de trabalho, existiam dois tipo'qualificados' e 'não-qualificados'. Oficados realizavam trabalhos que reqexperiência, destreza e raciocínio; oqualificados realizavam o trabalho Os trabalhadores qualificados eram altamente qualificados, que consegui

em suas comunidades. O aço era prodtrabalhadores qualificados com ajudanque utilizavam equipamentos e matérinhia'<.?

"Com o poder da 'Amalgameted Ua greve de 1882), os empregadores do mecanizar tanto quanto desejassem. Aà derrota de Homestead trouxe desencedentes em todos os estágios da fabrtilhas elétricas, equipamento de fundidor Jones e carros-torpedo transformPontes rolantes elétricas no conversor dor Wellman no forno Siemens-Martin

42. Stone, K., "The origins of job structures in

wards R., Reich M. e Gordon D. (orgs.) Labor markeC. Heath, 1975, p. 30.

.,

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32BENEDITO R. MORAES NETO

quase todos os aspectos manuais na produção do aço pro-priamente dita. E os carros elétricos e empilhadeiras torna-ram o trem de laminação uma operação contínua." 43

"Diferentemente das inovações anteriores na fabricaçãodo aço. a mecanização dos anos 1890 transformou as fun-ções envolvidas na produção do aço. As qualificações tradi-cionais de aquecimento, desbaste, alimentação manual deperfis e laminação foram incorporadas às novas máquinas.As máquinas também movimentavam as matérias-primas eos produtos através da indústria. Conseqüentemente, o novo

processo não requeria nem os trabalhadores pesados nem osoficiais altamente qualificados do passado. Ao invés disso,requeria trabalhadores para operar as máquinas, para ali-mentá-las, para vigiá-las, para fazê-las iniciar e terminarsua atividade. Uma nova classe de trabalhadores foi criadapara realizar essas tarefas, uma nova classe de operadoresde máquinas conhecidos como 'semiqualificados' ." 44

Verifica-se claramente que, para o caso da siderur-gia, apesar da defasagem temporal, observa-se o mes-mo movimento descrito por Marx a partir do caso datêxtil, qual seja, a independentização do capital frenteà habilidade do trabalho vivo através da introdução demaquinaria.

Todavia, é radicalmente diferente a forma taylorista

para buscar resolver o mesmo problema da dependên-cia do capital frente à habilidade do trabalho vivo. Se-não vejamos: qual a proposição de Taylor? Está claradesde logo nas citações do início deste trabalho. Apro-fundemos, seguindo Braverman na explicitação dosprincípios estabelecidos por Taylor:

1. Dissociação do processo de trabalho das especiali-

dades dos trabalhadores

"O administrador assume ( 0 0 ') o cargo de reunir todo oconhecimento tradicional que no passado foi possuído pelostrabalhadores e ainda de classificar, tabular e reduzir esseconhecimento a regras, leis e fórmulas (00.)."45

43. Id .. ibid., p.35.44. Id .. ibid .. p. 37.45. Apud  Braverman, H .. op. cit.• p. 103.

.,

ti

MARX. TAYLOR. FORD

2. Separação de concepção e execução

"Todo possível trabalho cerebral devecina e centrado no departamento de pla

 jeto." 46

3. Utilização do monopólio do conh

controlar cada fase do processo de

modo de execução

"Talvez o mais proeminente elemento

científica moderna seja a noção de tartodo operário é inteiramente planejado menos com um dia de antecedência, e cna maioria dos casos, instruções escritas norizando a tarefa que deve executar, aa serem utilizados ao fazer o trabalho ( 0 0

cifica não apenas o que deve ser feito e otido para isso ( 0 0 ') A gerência científica plamente em preparar as tarefas e sua e

Caracteriza-se o taylorismQ,portantotrole do trabalho (pelo capital) atravésdecisões que são tomadas no curso

Nada mais ilustrativo sobre esse poclássico de Taylor acerca de sua "exp

holandês Schmidt sobre carregamento"Schmidt começou a trabalhar, e du

intervalos regulares, era dito pelo homdele para vigiar: Agora junte a sucata edescanse. Agora ande - agora descanlhava quando lhe mandavam trabalhar, do lhe mandavam descansar, e às cintinha carregado 47,5 toneladas de carro"

Reafirmando o ponto, o taylorismcomo uma forma avançada de controleo objetivo de elevar a produtividade d

4 6 . I d . . i b id . • lo co c i t o

47. Id .. ibid .. p. 108.

48. Id .. ibid .. p. 98.4 9 . I d . . ibid .. loco cit,

- , . - -- --

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processos de trabalho nos 'quais o capital dependia dahabilidade do trabalhador, seja em funções simples ou

. complexas. De que forma? Através do controle de ta-

Idos os tempos e movimentos do trabalhador, ou seja,

. do controle (necessariamente despótico) de todos os

i passos do trabalho vivo.

Estamos bastante distantes da forma descrita porMarx de ajustamento da base técnica às determina-ções de capital: num momento mais avançado do de-

senvolvimento do capitalismo, à questão historica-mente recolocada de sua dependência frente ao traba-lho vivo, o capital reage de uma forma diferente: ao

invés de subordinar  o trabalho vivo através do trabalho

morto, pelo lado dos elementos objetivos do processo

de trabalho, o capital lança-se para dominar  o ele-

mento subjetivo em si mesmo. Esta "façanha" do ca-pital significa, em uma palavra, a busca da transfor-

mação do homem em máquina: "O princípio subja-cente e que inspira todas essas investigações do traba-lho é o que encara os seres humanos em termos de má-quina ";"

Mantém-se todavia uma característica fundamentaldo movimento: a libertação do capital da habilidade

dos trabalhadores. Marx esclarece essa libertação pelolado do sistema de máquinas. Pela via taylorista, bus-ca-se objetivar  o fator subjetivo, o trabalho vivo,

Mantêm-se os movimentos dos trabalhadores comas ferramentas do capital e, ao mesmo tempo, desloca-se o trabalho como unidade dominante do processo deprodução. Conseqüentemente, o capital aprendeu a

chutar com os dois pés.

5/1 ld , ibid., p. 156. Ê interessante observar que o taylorismo leva ao paro-xismo um urovimento jé esboçado na manufatura, como vemos em Marx: "Ade-mais de distribuir  os diversos trabalhos parciais entre diversos indivíduos, se sec-ciona o indivíduo mesmo, se lhe converte em um aparato automático adstrito a

um trabalho parcial" (El Capital, p. 293). "( ... ) sua articulação (do trabalhador

na manufaturai com o mecanismo total o obriga a trabalhar com a regularidadede UII/CI  peça de maquinaria." (El Capital, p. 284)

, .

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MARX. TAYLOR. FORO

E fundamental, antes de prosseguiração que estamos desenvolvendo, as«fordisrno, enquanto processo de traa partir de uma linha de montagem,

dido como desenvolvimento da propos

que sentido se trata de um desenvolvtido de que se busca o auxilio dos el

do processo (trabalho morto), no caobjetivar  o elemento subjetivo (trabalh

racterização do fordismo como um dtaylorismo é amplamente disseminadaque se pode observar através das citaç

"( ... ) o fordismo abraça os princípioscoloca mais efetivamente em prática, psificação ainda maior do trabalho". 51

"( o fordismo) aprofundou o taylorismobalho." 52

"Há que insistir no caráter inovadoao taylorismo, fordismo que ainda hocesso de trabalho. Como assinala B.retome o essencial do taylorismo (sepconcepção e de execução, divisão e su

adjudicação de um tempo a cada gestoduzir dois princípios essenciais:

a introdução de meios de abastecimras) que se concretizam na 'linha';um novo modo de gestão da força d

"Trata-se (o sistema de Taylor), adaberto, como demonstrará Ford algintroduzindo outros elementos. Neste não é - como equivocadamente se tcatálogo de receitas e de técnicas. P

51. Aglietta, M .• A theory of capitalist regulatio

Londres, NLB, 1979, p. 117.52. Id., ibid., p. 118.

53. Palloix, C., "EI proceso de trabajo dei fordismorabo, 13-14, Madri, s.d .. p. 144.

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princípios que permitem a ordenação e combinação dos ele-mentos, poderá, transformando-se e desenvolvendo-se (cf.introdução da linha de montagem no automóvel), conservarcomo sistema características constantes, quaisquer que se-

 jam as modificações que sua aplicação a tal ou qual indús-tria lhe produza." S4

"Ford, mediante a introdução da cadeia de montagem,leva a cabo um desenvolvimento criador do taylorismo que oleva - do ponto de vista do capital - a uma espécie deperfeição "ss

Em termos bastante rápidos, trata o fordismo de fi-xar o trabalhador num determinado posto de trabalho,com as ferramentas especializadas para execução dosdiferentes tipos de trabalho, e transportar através daesteira o objeto de trabalho em suas diferentes etapasde acabamento, até sua conformação como mercado-na.

O fordismo caracteriza o que poderíamos chamar desocialização da proposta de Taylor, pois, enquanto esteprocurava administrar a forma de execução de cadatrabalho individual, o fordismo realiza isso de formacoletiva, ou seja, a administração pelo capital da for-ma de execução das tarefas individuais se dá de uma

forma coletiva, pela via da esteira. A colocação deMarx de que, a partir da introdução da maquinaria, otrabalho vivo se submete ao trabalho morto, ou seja,que a questão da qualidade e do ritmo do processo sedesloca do trabalho para a máquina, aparentementese aplica também à linha de montagem (fordismo).Mas só na aparência, sendo todavia esta a forma desua manifestação ao nível da consciência do trabalha-dor individual. Para esse trabalhador individual, colo-cado num determinado posto de trabalhç de uma in-dústria de grande porte, o caminho da esteira, e por-tanto a intensidade do seu trabalho, parece algo ima-

54. Coriat, B., op. cit., p. 92.55. Id., ibid., p. 101.

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nente à própria esteira, como se bromaterialidade da esteira. Isto acontecde máquinas, na medida em que, atse lhe confere um movimento próprioção do objeto de trabalho (daí a supebalhador).

Já no caso da esteira, se pensarmoslinha em analogia com a máquina, assa máquina são os trabalhadores com

de trabalho. O ritmo do processo duma propriedade técnica da esteira, m

 posto em discussão a cada momento

coletivo (posto que se supere a nívecoletivo a limitação antes apontada paindividual) .

Usemos, para ilustração, o clássAdam Smith, da manufatura de alfine

"Um homem transporta o fio metálicoum terceiro corta-o, um quarto aguçaquinto prepara a extremidade superiorbeça; para fazer a cabeça são precisas ções distintas; colocá-la constitui tambécífica, branquear o alfinete, outra; colo

papel de embalagem é também uma O importante trabalho do fabrico de adividido em cerca de dezoito operaçõealgumas fábricas, são efetuadas por dibem que noutras o mesmo operário potrês delas" . S6

Vejamos, a partir desse exemplo, dos movimentos de moldagem do propelo capital:

1. A subdivisão crescente das tarvando à hiperespecialização das fmovimento seguinte, as ferramentas riam "arrancadas das mãos dos traba

56. Smith, A., "Riqueza das nações", in Adam Sm

Paulo, Abril Cultural, 1974, col. "Os Pensadores", 28,

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postas num mecanismo, a partir das leis da mecânica,da física, etc. O aperfeiçoamento técnico-científico sedá no sentido de aumentar sempre o rendimento dessemecanismo (máquina) que toma para si a função detransformar o fio metálico em alfinete.

2. Verificam-se com detalhe os movimentos dos tra-balhadores sobre o objeto de trabalho. Reelaboram-seesses tempos e movimentos a nível gerencial, e atravésdas "mãos e olhos do capital", ou seja, chefes, super-

visores, etc., passa-se a exigir determinadas perfor-mances constantemente reelaboradas à luz da expe-riência oferecida pelo trabalho vivo. Aprofunda-seatravés do auxílio dos elementos materiais, incorpo-rando uma esteira que transporta a matéria, o fio me-tálico, por postos de trabalho definidos em termos detempos/movimentos, sendo a transformação do fio emalfinete efetuada com as ferramentas nas mãos dos tra-balhadores.

Após essa identificação do fordismo como um de-senvolvimento do taylorisrno, consideremosuma ques-tão crucial: a incorporação da ciência ao processo ele

trabalho. Como vemos nas citações anteriores, nas

quais Marx coloca essa questão, a incorporação daciência pelo capital é a essência mesma da objetivação,do processo de trabalho, como coloca Palma:

"Quando falamos da manufatura nos detivemos no princí-

 pio subjetivo da divisão do trabalho, consistente no fato deque as funções de trabalho estão estruturadas sobre umabase tecnológica artesanal. A introdução das máquinas per-mite transferir o aspecto operativo da área de trabalho dotrabalhador às máquinas, eliminando do processo de traba-lho todos os condicionamentos subjetivos e substituindo oprincípio subjetivo por um princípio objetivo de organiza-ção. Por objetivo Marx entende que é suscetível de análise

científica e de recomposição com base em critérios científi-cos ou quantitativos. A objetividade, neste caso, consiste naaplicação da ciência aos problemas do processo de trabalho;tal aplicação constitui a ciência da tecnologia, pela qual asações produtivas são decompostas nas formas fundamentais

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do movimento e recompostas em operaçõferíveis às máquinas",57

Ê bastante claro que a máquina, natureza, é ciência posta a serviço dintrodução torna, portanto, a produçãção tecnológica da ciência": "A ciêconstrução da máquina, obriga os eledos desta a funcionar como autômatos tanto, o aperfeiçoamento da maquina

excelência de ampliação do tempo ddente:

"( ... ) a máquina se converte, nas mãomeio objetivo e sistematicamente apl

mais trabalho dentro do mesmo tempo.uma dupla maneira: aumentando a ve

nas e estendendo o raio de ação da mvigiar o mesmo trabalhador, ou seja,deste". S9

Êsobre isso que trata Belluzzo, qu

"( ... ) a objetivação do processo de prodpossa ser explicada senão como o coroado capital em extrair um volume crescepago significa a autonomização da esentido de que 'a aplicação da ciência que determina e estimula o desenvolvimediata' (Marx, Elementos para a cr

Por isso mesmo, todos os métodos qutécnica, não podendo senão confirmar são métodos de produção de mais-valiacrescente, cuja aplicação continuada tdiato cada vez mais redundante". 60

57. Palma, A., op. cit., p. 22.58. Marx, K., Elementosfundamentales ... , op. cit.

59. Marx, K., El Capital, op. cit.; p. 339.60. Belluzzo, L. G. M., Um estudo sobre a crítica d

de doutoramento, DEPE/UNICAMP, Campinas, 1975,

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Quanto ao taylorismo, visto como um processo deadministração dos tempos e movimento do trabalhovivo, observa-se uma diferença fundamental no que serefere ao papel da ciência na produção, dado que a

questão de até onde se pode levar  o movimento hu-

mano não é uma questão passível de ser resolvida pela

ciência. Como coloca Salm: "(. ..) a Ergonomia - es-tudo dos tempos e movimentos - não pode ser vistacomo algo objetivo, mas sujeito a negociações e com-

promissos'"." Esta é também a conclusão de Vergara,que se preocupa especificamente em questionar o ca-ráter científico dos estudos de tempos e movimentos.São bastante interessantes as seguintes colocações en-contradas no estudo de Vergara:

"Gomberg, no final de seu estudo, conclui que as moder-nas técnicas industriais de estudo dos tempos não podempretender rigor científico. São, em suma, guias empíri:os

 para estabelecer um intervalo para as normas de produção,- 1'''62no interior do qual pode ter lugar a contrataçao co etiva .

"A conclusão da análise efetuada é que é preciso separaras duas funções - previsional e normativa - em virtudedas conseqüências da inconsistência e da falta de rigor das

técnicas de medição do trabalho sobre a condição dos tra-balhadores (ordenados efetivos, ritmos de trabalho, etc.).Talvez o leitor se pergunte, com certa perplexidade, como

determinar então os rendimentos normais; a resposta é evi-dente: por contratação, tal como acontece quando as nor-mas não são determinadas objetivamente. Éclaro que existeo procedimento alternativo, amplamente utilizado: a fixa-ção autoritária das normas, por parte das empresas, ou me-lhor dizendo, a fixação abertamente autoritária das nor-mas."63

"Dada a amplitude da área de subjetividade (muitas ve-zes traduzindo-se em abuso por parte da empresa) que ca-

61. Salm, C .. op. cit.• p. 64.62. Vergara, J. M., A organização científica do trabalho, Lisboa, Editorial

Estampa. 1974. p. 92.63. Id .. ibid .. pp. 95-96.

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racteriza a determinação dos tempos, ovir e controlar todos os aspectos e proalgum modo, possam influenciar as cdos trabalhadores e os vencimentos porcontratar e regulamentar todos os acom os tempos de trabalho." (Confederaliana di Lavoro) 64

"Os sindicatos não podem aceitar o equestões. Cada aspecto do procedimentopos deve estar sujeito à revisão do sindictratação coletiva e de adequados proceclamações." (Federação Internacional Indústria Metalúrgica) 6S

o conhecimento científico é, no caapenas um suporte para que o capitexplore as particularidades do homequina, e por outro, aperfeiçoe os metrole dos "passos" do trabalhador cutilização de computadores para mapdutividade). Sobre a busca de comprecularidades do homem-máquina, verlente descrição de H. Braverman:

"Uma nova linha de desenvolvimento aberta por Frank B. Gilbreth, um doseguidores de Taylor. Ele acrescentou aconceito de estudo do movimento, isto sificação dos movimentos básicos do ctipo de trabalho concreto em que essesutilizados. No estudo do movimento eelementares eram encarados como as toda atividade no trabalho. Foram chatermo que é uma variante do nome de trário. Além da cronometragem, ele inclógrafo (uma fotografia do local de traposição dos ritmos de movimento), fopicas (obtidas mantendo-se as lentes

64. Apud  Vergara, J. M., op. cit., p. 96.65. /d.. ibid., p. 96.

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"Pesquisa mais recente pretendeu superar os defeitos ine-rentes aos dados padrões que, ao parcelar movimentos emcomponentes elementares, despreza fatores de velocidade eaceleração nos movimentos humanos - movimentos queocorrem como um fluxo mais que como uma série de deslo-camentos disjuntivos. Fizeram-se 'esforços para encontrar

um meio de obter uma visão contínua, ininterrupta do movi-mento humano e para medi-lo nessas condições. No cursodessa pesquisa, examinou-se o emprego do radar, dos acele-rômetros, ondas fotoelétricas, pressão do ar, campos mag-néticos, efeitos capacitativos, fotografias móveis, etc., e, porfim, as ondas sonoras, pelo emprego do alternador Doppler,foram escolhidas como as mais apropriadas." 67

execução, ou entre trabalho intelectuanual.

E bastante difundida na literaturaadvento do taylorismo como um mna divisão entre trabalho intelectualnual.

Senão vejamos: Braverman, no desde logo, da caracterização docomo "atividade proposital, orientad

cia"." Todavia, continua Braverman,

para mostrar as posições mutáveis assumidas pelo trabalha-dor), e a fotografia móvel; tudo isto viria a ser suplemen-tado por meios mais avançados". 66

"São também utilizados modelos fisiológicos para o gastode energia, para o que o consumo de oxigênio e os índicescardíacos são os indicadores mais comuns; esses dados sãoapresentados em gráficos por meio de dispositivos de me-dida do volume de oxigênio e eletrocardiogramas. As forçasaplicadas pelo corpo (assim como as aplicadas nele) são me-didas em uma prancha de força, utilizando cristais nos equi-pamentos. Em outra variante, lemos, num artigo sob o tí-tulo: 'A Quantificação do Esforço Humano no Movimentodos Membros Superiores', sobre uma estrutura chamada'o quinematômetro exoesqueletal', que é descrito como 'umdispositivo montado externamente ao sujeito humano parafins de medir  as características cinemáticas de seus mem-bros durante o desempenho de uma tarefa'. A medida dosmovimentos do olho é dada através de técnicas fotográficase também por eletroculografia, que utiliza eletrodos coloca-dos próximos ao olho." 68

 \ "a unidade de concepção e execução p

concepção pode ainda continuar e gova idéia concebida por uma pessoa poOUTra. A força diretora do trabalho cociência humana, mas a unidade entre pida no indivíduo e restaurada no grumunidade ou na sociedade como um to

No estudo que realiza sobre o molução da unidade que caracteriza o Braverman confere ênfase especiacomo fica claro quando esclarece administração científica" 71 é o princ

por Taylor de que "todo possível deve ser banido da oficina e centrado de planejamento ou projeto". 72 Para

"este poderia ser chamado o princípio cepção e execução, melhor que seu nprincípio de separação de trabalho mbora semelhante ao último e, na prática

Verifiquemos agora um aspecto que se desdobraimediatamente da questão da aplicação da ciência àprodução, qual seja, a separação entre concepção e

De maneira análoga, Maurice de Mteriza o princípio da divisão cocomo a natureza específica do taylori

66. Braverman, H.. op. cit., p. 151.67. Id., ibid.. p. 154.68. Id.•ibid., p. 155.

69. Braverman, H.,op. cit., p. 52.70. ld., ibid. ,p. 54,

71. Id., ibid., p. 104.72. Id. ibid. p. 103.73. Id .. ibid .. p. 104.

-~ - - - - - - - - - - -" =

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"A divisão do trabalho, para Taylor, é essencialmente adivisão entre a direção e a exeS:llção. Não são os mesmos queconcebem, planejam, preparam o trabalho, e os que o exe-cutam seguindo escrupulosamente as diretrizes recebidas(... ) Ê necessário precisar aqui que para Taylor o parcela-mento das tarefas, o 'trabalho em migalhas', não é essencialpara a Organização Científica do Trabalho". 74

Para Benjamin Coriat, a chave da gerência cientí-fica é que "seu programa se define pela análise do obs-

táculo que vence: trata-se nada menos que de expro-. priar aos trabalhadores seu saber (... )". 75 Ademais, disso, "( ... ) não se trata somente de expropriar  aos

trabalhadores seu saber, senão também de confiscar 

este saber recolhido e sistematizado - em benefícioexclusivo do capital (... )".76 Portanto, "o que aqui seinstaura maciçamente é a separação entre trabalho deconcepção e de execução, um dos momentos chaves daseparação entre trabalho manual e intelectual". 77

Para esses autores, parece clara a noção de que otaylorismo teria inaugurado histórica e teoricamente aseparação entre concepção e execução.

Vejamos agora com algum detalhe o que nos diz

Marx sobre a questão:"Os conhecimentos, a perspicácia e a vontade que se

desenvolvem, ainda que em pequena escala, no lavrador ouno artesão independente, como no selvagem que manejacom astúcia pessoal todas as artes da guerra, basta que se-

 jam agora reunidas na oficina em seu conjunto. As potên-cias espirituais da produção ampliam sua escala sobre umaspecto à custa de inibir-se nos demais. O que os trabalha-dores parciais perdem concentra-se, enfrentando-se comeles, no capital. Êo resultado de a divisão manufatureira dotrabalho erguer frente a eles, como propriedade alheia e

 poder dominador, as potências espirituais do processo ma-

74. Montmollin, M. de, "Taylorisrne et antitaylorisme", Sociologie du Tra-

vail, n? 4,1974, p. 377.

75. Coriat, B., op. cit., p. 94.76. Id., ibid., loco cito

77. Id .. ibid., loco cito

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MARX. TAYLOR, FORO

terial de produç!o .. Este processo de

com a cooperaçao Simples, onde o cafrente aos tr~balhadores individuais a do corpo social do trabalho. O processo na manufatura, que mutila o trabalhadem trabalhador parcial. E se arremata onde a ciência é separada do trabalho cpendente de produção e aprisionada a s

Para Marx, como não poderia deixse verifica é um processo que chega a nante com a grande indústria. Como a"a grande indústria leva ao grau má

(entre tra~~lh? intelectual e trabalho

gando a ctencia no processo de trabalhdo trabalhador" .79

Portanto, o grau máximo de separcepção e execução já está posto desdeduç_ão.?a maquinaria. A forma históraçao ja estava dada na época de Taylo

Ora, como não temos dúvida a resque para o taylorismo é absolutamente da separação concepção/execução, e mos dúvidas de que esta separação j

na sua forma mais desenvolvida, e radical com a introdução da máquinnos diante de algo aparentemente enaparência, todavia, posto que podemques~ã~ procurando raciocinar sobre~e ctsao entre trabalho manual e19ualme~t; desenvolvidas. De forma scaracterizá-las da seguinte forma: numa mais desenvolvida, a separação cução se dápela introdução da maquina

- ,separaçao e procurada sem a introdu

naria (taylorismo). Em uma palavra,

78. Marx, K., El Capital, op. cit., p. 294.79. Palma, A., op. cit., p. 30.

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 , parar trabalho intelectual/trabalho manual mantendo

I o trabalho manual como a base do processo de tra-

I, balho. Devemos, portanto, detectar na manufatura oinício dessa segunda forma, como fica bastante claroem Marx, quando cita Ferguson:

"A ignorância é a mãe da indústria e da superstição. Areflexão e o talento imaginativo podem induzir a erro, po-rém o hábito de mover o pé ou a mão não tem nada a vercom uma coisa nem outra. Por isso onde mais prosperam as

manufaturas é ali onde se deixa menos margem ao espírito,a tal ponto que a oficina poderia ser definida como uma

máquina cujas peças são homens". 80

E bastante claro, a nosso juízo, que o fordismo (for-ma desenvolvida do taylorismo) caracteriza na verdadeum desenvolvimento da manufatura. Vejamos inicial-mente uma colocação de Marx sobre a manufatura:

"Como o produto parcial de cada trabalhador detalhistarepresenta ao mesmo tempo uma fase especial de desenvol-vimento do mesmo artigo. coloca-se a necessidade de queuns trabalhadores ou grupos de trabalhadores entreguem aoutros a matéria-prima por eles trabalhada. O resultado dotrabalho de uns toma seu ponto de partida do resultado do

trabalho de outros. Portanto, são os segundos os que dãodiretamente trabalho aos primeiros. A experiência se encar-rega de assinalar o tempo de trabalho necessário para a con-secução do efeito útil pretendido em cada processo parcial,e o mecanismo total da manufatura descansa sobre a pre-missa de que em um tempo de trabalho dado se pode al-

cançar um resultado dado. Sem esta premissa, não se pode-riam interromper nem combinar no tempo e no espaço osdiversos processos de trabalho que se complementam unsaos outros. Êevidente que esta interdependência direta dostrabalhos e, portanto, dos trabalhadores que os executam,obriga a estes a não investir em sua função mais que otempo estritamente necessário para realizá-la, com o que seestabelece uma continuidade, uma regularidade, uma regu-lamentação e, sobretudo, uma intfLnsidade do trabalho com-

80. Apud  Marx, K., El Capital, op . cit., p.295.

MARX, TAYLOR, FORD

pleta~ent~ di~tintas em relação às dostes e inclusive as da cooperação simples

C,.?mparemos a colocação acima conaçao de Henry Ford sobre as caractmentais do processo por ele implemenprimeiros passos da linha de montagem

"O carro Ford consta de cinco mil pefusos e porcas. Algumas bastante volu

pequenas como as peças de um relógio.os p.rimeiros carros o sistema consistia trazidas manualmente à medida das nena construção de uma casa. Depois, atrução de peças, vimos que era necessárção especial da usina para o fabrico de cem regra um só operário fazia todas apor uma pequena peça. O aumento rápiobrigou a pensar num sistema no qual torvasse outro. Operários mal dirigidos a correr atrás do material e da ferramelhar e ganham pouco, porque isso de ocupação remuneradora.

N~ss.oprimeiro passo no aperfeiçoamconsistiu em trazer o trabalho ao operároperário ao trabalho. Hoje todas as opno princípio de que nenhum operário dpasso a dar; nenhum operário deve ter q

Os princípios de montagem são:I?) Trabalhadores e ferramentas deveordem natural da operação, de modo qutenha a menor distância possível a percúltima fase.2?) Empregar planos inclinados ou apde modo que o operário sempre ponhapeça que terminou de trabalhar, indo elimediato por força do seu próprio pesopossível.3?) Usar uma rede de deslizadeiras popeças a montar se distribuam a distância

81. Id .. ibid., p. 280.

, . .

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o resultado dessas normas é a economia de pensamentoe a redução ao mínimo dos movimentos do operário, que,sendo possível, deve fazer sempre uma só coisa com um sómovimento". 82

"Tudo se move em nossas oficinas. Isto, suspenso porcorrentes, indo ter ao ponto de montagem na ordem que lheé designada. Aquilo, deslizando em planos movediços, ouarrastado pela lei da gravidade. O princípio geral é quenada deve ser carregado, mas tudo vir por si. Os materiaissão trazidos em vagonetes ou reboques puxados por chassisFord, suficientemente móveis e rápidos para deslizarem emtodos os sentidos. Nenhum operário necessita carregar oulevantar qualquer coisa. Isso faz parte de um serviço dis-tinto - o serviço de transporte." 83

"O princípio é que um operário não deve ser constran-gido à precipitação: deve dispor do tempo exato, sem umsegundo a mais nem um segundo a menos para executar asua operação." 84

"Em abril de 1913, experimentamos a primeira aplicaçãode uma rede de montagem. Tratava-se da montagem dosmagnetos. Nós viramos tudo de pernas para o ar quando setrata da adoção de um melhor sistema, mas só o fazemosdepois de absolutamente certos das vantagens. Creio que

esta estrada móvel foi a primeira que já se construiu comeste fim. Veio-me a idéia vendo o sistema de carretilhas aé-reas que usam os matadouros de Chicago.

Até então montávamos os magnetos pelo sistema comum.Um operário, executando todas as operações, conseguiamontar, num dia de 9 horas, 35 a 40 magnetos, o que dava25 minutos para cada peça. Esse trabalho de um homem foidistribuído entre 29 operários, o que reduziu o tempo damontagem a 13 minutos e 10 segundos. Em 1914 elevamosde 8 polegadas a altura da rede e o tempo de montagem caiua 7 minutos; novas experiências sobre a rapidez do movi-mento operário faz hoje quatro vezes mais do que antes. Amontagem do motor, confiada antigamente a uma só pes-

82. Ford, H., Minha vida e minha obra, Rio de Janeiro-São Paulo, Com-panhia Editora Nacional, 1926, p. 78.

83. Id., ibid., p. 80.84. Id., ibid., pp, 79-80.

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MARX. TAYLOR, FORO

soa, hoje é feita por 84, com um renmaior.

O método foi logo aplicado ao chassisque conseguíramos fora montá-lo em 12Experimentamos arrastá-lo por meio duma distância de 75 metros, ao mesmo rários, viajando dentro dele, iam tomandtas pelas margens do caminho. Esta expgrosseira, reduziu o tempo de 5 horas chassis. No começo de 1914 elevamos o n

diço. Tínhamos dois planos, um a 68 a 62 centímetros acima do solo, para atende dois grupos de trabalhadores. Esta inmão do operário diminuiu o número dtempo da montagem desceu a 1 hora echassis nessa época era assim montado. xa se fazia na John R. Street, a famosa nossa fábrica de Highland Park. Hoje o uma vez.

Tudo isto não foi feito com a rapidez narrar. A velocidade do movimento daobjeto de muitas experiências. Para o mtamos uma rapidez de 1,05 m por minuduzimos a 45 cm. Era pouco. Finalme60 em por minuto." 85

Das citações acima extraem-se, deguintes considerações:

1. A elevação da produtividade so

 para Ford se dá pela via do parcelamenOra, esta não é outra coisa senão a nalência da manufatura. Todavia, comomente Donald Weiss, a correlação etrabalho somente "se poderia esperarcondições históricas particulares" (Smith, ao assumir o parcelamento deforma de aumentar a produtividade). Marx (corretamente, a nosso juízo) col

85. Id.. ibid., pp. 78-79.

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50 BENEDITO R. MORAES NETOMARX, TAYLOR, FORD

"Marx raciocina como se segue: no primeiro estágio maisimportante do desenvolvimento da produção capitalista,aquele da produção manual, ou 'manufatura', existe umatendência para a extensão e intensificação da divisão do tra-balho. Porque, sempre que tivermos produção manual, te-mos a circunstância de que o profissional de um ofício pre-cisa dominar certos movimentos físicos, geralmente bas-tante engenhosos, enquanto outros oficiais necessitam do-minar outros desses movimentos. Na medida em que a in-dústria está apoiada no domínio de certas habilidades fí-sico-manipulativas, a produtividade será claramente incre-

mentada pelo aumento da 'destreza' promovido em cadatrabalhador pela divisão do trabalho C,.) Mas com a intro-dução da produção através de máquinas, tivemos o início deuma nova e admirável tendência. Alcança-se um ponto his-tórico no qual as diferenças entre habilidades envolvidas nosvários ramos da indústria começam a se tornar menos e me-nos pronunciadas. Ã medida que a produção torna-se cres-centemente automatizada, as habilidades exigidas para fa-zer o produto A tornam-se crescentemente semelhantesàquelas requeridas para produzir o produto B. A razão éque, enquanto os movimentos físicos necessários para pro-

duzir A e B necessitavam, até a era da automação, ser de-

sempenhados por mãos humanas, à  medida que a automa-

ção se instala, estes movimentos físicos não são mais desem-

 penhados por mãos humanas. Eles passam a ser feitos pormáquinas. Na medida em que o trabalho humano ainda es-

teja envolvido na produção, ele tende a ser cada vez maisrestringido a uma estreita faixa de funções de manutenção.

Diferentemente do trabalhador qualificado, que habilmentemanipula suas ferramentas, o operário da fábrica torna-secada vez mais um apêndice da máquina". 86

melhor, sempre que se tenha "um medução cujos órgãos são homens". 87 

3. Pode-se aplicar sem restrições montagem a colocação feita por Marx tura: "A maquinaria específica do pe

 fatura é, desde logo, o próprio traba

produto da combinação de muitos traciais"." Sempre. que a produção se funbalho parcelado, tem-se um "mecanism

cansa sobre a premissa de que em umbalho dado se pode alcançar um resuquestão é, para Ford, o maior resultadtempo de trabalho dado. Marx já cmanufatura, que a interdependência lhos permitia o estabelecimento de umtrabalho sem precedentes. Ford leva edo trabalho manufatureiro ao paroxismo limite da potencialidade produtiva celado, como deixa claro na primeirabrutal intensificação do trabalho manFord através de uma solução avançadblema típico da produção 'à base do tr

o problema do abastecimento dos hombalho. Vale a pena repetir Marx sobr

Ê bastante claro, portanto, que Ford reiventou acorrelação manufatureira entre divisão do trabalho eprodutividade, já superada pela maquinaria, a formamais desenvolvida de incremento da produtividade dotrabalho.

2. O caráter empírico imanente a qualquer processode trabalho que se alicerce no trabalho manual, ou

"C,,) o princípio peculiar da divisão doem um isolamento entre as diversas fasesque adquirem existência independentes às outras, como tantos trabalhos parciasanal. Para criar e manter a coesão nefunções isoladas, coloca-se a necessidacontinuamente o artigo fabricado de umum a outro processo. Do ponto de vista disto constitui uma desvantagem caractimanente ao princípio da manufatura".

86. Weiss, D. D., "Marx versus Smith on the division of labor", Monthly Review ; Nova York, vol. 28, n? 3, jul.-ago. 1976, pp. 108-109.

87. Marx, K., 1.'1Capital, op. cit.; p. 274.88. Id .. ibid., p. 283.89. Id., ibid., p. 279.

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52 BENEDITO R. MORAES NETO

Como salienta Marx, este é um problema típicoda produção manual, problema que não se coloca paraa produção à base de maquinaria, posto que o abas-tecimento mecânico das máquinas é um complementonecessário do princípio da produção automatizada,como também esclarece Marx:

"Cada máquina parcial provê a matéria-prima à que asegue imediatamente, e como todas elas trabalham ao

mesmo tempo, o produto se encontra constantemente per-correndo as diversas fases do processo de fabricação, bemcomo em trânsito de uma fase a outra. E assim como namanufatura a cooperação direta dos trabalhadores parciaiscria uma determinada proporção numérica entre os diver-sos grupos de trabalhadores, no sistema orgânico estabele-cido à base de maquinaria o funcionamento constante dasmáquinas parciais em regime de cooperação cria uma pro-

 porção determinada entre seu número, seu volume e suavelocidade. A máquina de trabalho combinada, que agora éum sistema orgânico de diversas máquinas e grupos de má-quinas, é tão mais perfeita quanto mais contínuo é seu pro-cesso total, quer dizer, quanto menores são as interrupçõesque ocorrem no trânsito da matéria-prima da primeira faseaté a última, e, portanto, quanto menor é a intervenção damão do homem neste processo e maior a do mecanismo

mesmo, desde a fase inicial até a fase final. Se na manu- fatura o isolamento dos processos diferenciados é um prin-cípio ditado pela própria divisão do trabalho, na fábrica jádesenvolvida impera o princípio da continuidade dos pro-cessos específicos". 90

Não é outro senão esse problema imanente à produ-ção manual, superado pela maquinaria, que Ford bus-ca solucionar, quando procura "trazer o trabalho aooperário em vez de levar o operário ao trabalho", per-mitindo que "nenhum operário necessite carregar oulevantar qualquer coisa". Daí que o trabalho mortointroduzido por Ford restringe-se ao que ele mesmochamou de "o serviço do transporte". O trabalho mor-

90. ld .. ibid., pp. 310-311.

MARX, TAYLOR, FORD

to característico do fordismo não exec

guma sobre o objeto de trabalho. Comno fordismo,

"todas as tarefas de manutenção são, nvel, assumidas pelo maquinismo (combportadoras, chassis móveis) que, em quos serviços que não sejam tarefas de mente ditas". 91

Podemos, portanto, batizar o forditura do capitalismo monopolista, e, pdessa analogia, podemos compreender que o capital tenha aprendido a "chupés", um deles lhe tenha colocado pnosso juízo, Marx não imaginaria ppara o capital no último quartel do ssejam, problemas ligados à organizaçde trabalho:

"O absenteísmo, o turnover, o trabalhomesmo a sabotagem tornaram-se os flautomobilística americana: a Fortune,

elite administrativa, descreve com um c

nores estas manifestações da resistência de organização e de dominação que nãoinício do taylorismo". 92

Essa colocação envolve duas questõeaprofundamento. A primeira referentinerentes à forma taylorista. Esta fozação da produção consegue destituirqualquer conteúdo, mantendo ao mação manual do trabalhador sobre o obatravés das ferramentas. Sem dúvidnha" capitalista, enquanto demonstraçã

91. Coriat, B., op. cit., p. 77.

92. Pignon, D. &Querzola, L, "Democracia e autorin Gorz, A. et alii, Divisão do trabalho, tecnologia e mo

lista, Porto, PublicaçõesEscorpião, 1974,p. 58.

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54 BENEDITO R. MORAES NETO

cidade de subordinar o trabalho a seus desígnios, masuma façanha questionável ao nível da operação mesmado capital, pois, se bem que independentize o capitaldas habilidades dos trabalhadores, não os torna supér-fluos, mas os exige em grande quantidade, para atua-rem como "autômatos úteis" no lugar dos elementosinanimados da máquina. Em uma palavra, o capitalnão se liberta totalmente do trabalho vivo, o que, para-fraseando Salm, não independentiza absolutamente oprocesso de valorização das vicissitudes do processo detrabalho:

"As baixas de produtividade exprimem a resistência dostrabalhadores à exploração. Essa resistência, que se mani-festa na quebra das cadências, na sabotagem larvar, no au-mento das taxas de peças defeituosas, é crítica para o pa-tronato" .93

"A travagem da produção esteve no centro das preocu-pações de Taylor (... ) ele estava também convencido de quea técnica de cronometragem, ao determinar cientificamenteos tempos de trabalho, implicaria o desaparecimento dessefato, porquanto implicaria o conhecimento rigoroso dostempos necessários para efetuar as diversas tarefas. Na rea-

lidade não foi assim. A travagem continua a ser uma práticageneralizada nas empresas. Trata-se de uma prática defen-

siva que encontra o seu fundamento na falta de valor cientí-

 fico da eronometragem e que se desenvolve impulsionadapela experiência do trabalho a prêmio e pela solidariedadedo grupo." 94

Ora, o taylorismo reabre para o capital e o trabalhosua histórica frente de conflitos no interior do processode trabalho, de forma agravada para o capital, pois, sepor um lado permite a interferência do trabalhadorcoletivo, por outro aliena por completo o trabalhadorindividual quanto ao conteúdo do trabalho, o que olança inexoravelmente à ação coletiva contra o capital.

93. Id., ibid., p. 60.94. Vergara, J. M., op. cit., p.142.

MARX, TAYLOR, FORO

Extremamente esclarecedoras sobrinerentes à forma taylorista são as colota sobre as "barreiras internas ao prolho", ou seja, aos "limites internos ao balho" de tipo fordista:

"Esses limites podem ser identificados dos períodos de tempo que formam o diado a fragmentação das tarefas é levada

vários elementos se combinam para evitterior no tempo desperdiçado, e mesmo direção. Os fatores principais que atuam

1. O acréscimo do balance delay time,

sados por desequilíbrios na linha de momeno deriva do fato de que a configuraçãota da linha de montagem impõe certas sição das séries de tarefas parciais, e o rtodos os trabalhadores têm um ciclo de mma duração. Esta impossibilidade de igualitariamente leva a um total de temsoma daqueles períodos nos quais os traclos mais curtos permanecem parados,tempo cresce com a fragmentação adicion

2. Os efeitos da intensificação do trablíbrio físico e mental dos trabalhadores.

negativo é devido à uniformidade de ritmum movimento constantemente incremeque a produtividade depende de um pforme de operações durante todo o diaproduto da necessidade do capitalista desobre a força de trabalho à sua disposimaneira é derivada de uma observação dfisiológicas ideais para :1 atividade humase uma coisa é clara é que a performance

rada através de mudança de ritmo e peautocontrole sobre os momentos e modadança. Sujeição a um uniforme porémritmo de trabalho, combinada com o encpo de repouso, incrementa imensamente vas formas de exaustão das quais é impde um dia para outro. Os sintomas dessa

destruição das capacidades humanas serante os anos 60, especialmente nas indnizadas: um alto nível de absenteísmo e,

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56 BENEDITO R. MORAES NETO

um nível irregular que desafia qualquer tentativa de pre-visão; um acréscimo nas incapacidades temporárias cau-sadas pela acumulação de exaustão nervosa, um aumentonos acidentes nas linhas de montagem; um aumento naproporção de produtos defeituosos e: conseqü~ntemen~e, notempo dedicado ao controle de qualidade. A irregularidadeno absenteísmo apresenta efeitos particularmente desas-trosos na medida em que aumenta significativamente otemp; necessário para preencher as tur~~s (production

teams) e conseqüentemente o tempo necessano para colocara linha de montagem em andamento, bem como requer oemprego de força de trabalho excedent: .dedicada a váriastarefas auxiliares mas principalmente utilizadas para preen-cher os claros na linha de montagem quando necessário.

3. A abolição de qualquer vínculo perceptível entre oproduto coletivo da força de trabalho e o dispênd~o de ener-gia pelo trabalhador individual. Isto se segue dIre~amenteda coletivização do trabalho levado a cabo pela linha demontagem. Ela permite aos gerentes capitalistas. evi~arqualquer desafio direto ao output norm . Mas pOSSUIo in-conveniente de tornar difícil dividir os trabalhadores contraeles mesmos, e induzi-los a participar da degradação desuas próprias condições de trabalho através de bôn~s indi-viduais de produtos (individual output bonus). A hnha demontagem tende a unificar os trabalhadores numa luta ge-raI contra suas condições de trabalho". 9S

Salta aos olhos a semelhança entre esses limitesapontados por Aglietta para o fordismo e aquelesapontados por Marx para a manufatura, alicerçandonossa opinião de que o primeiro não é outra coisa se-não uma manufatura levada ao seu máximo grau dedesenvolvimen to.

Podemos desde logo identificar o primeiro limitecolocado por Aglietta com a limitação essencial da ma-nufatura para Marx, qual seja, a de que sua "( ... ) base

técnica estreita exclui uma análise verdadeiramentecientífica do processo de produção, já que todo pro-cesso parcial recorrido pelo produto há de ser necessa-

95. Aglietta. M.,op. cit.. pp. 119-121.

MARX. TAYLOR. FORO

riamente suscetível de ser 'executadoparcial manual". 96 Os "desequilíbrimontagem", ou seja, "o fato de que balhadores têm um ciclo de movimentração", levando a desperdício de temdismo, deve-se, em última instância, cerçar nos movimentos humanos. Aplocação de A. Palma para a manufatur

"( ... ) O procedimento analítico eninsuperável na existência do instrumentode que deve ser manejado pelo homemmais além de certo limite, o uso do ins

sariamente o processo de decomposição"

Também a segunda limitação decnual da produção fordista, posto qucom a performance humana e suas dcofisiológicas não se coloca no caso dde maquinaria. Neste caso, como O Capital, a destruição das capacidaproletariado não afeta em absoluto oprodutivo e a qualidade do produto,

um como outro estão na dependência tema de maquinaria. A "forma modedas capacidades humanas" mencionaespecificamente taylorista, determinadobjetivação do fator subjetivo do pro(transformação do homem em máqução de Aglietta de que o "ser humanum uniforme e sempre crescente ritnada mais é que a confirmação, noalgo já assentado por Marx quando ahomem é um instrumento muito imp

ção, quando se trata de conseguir mo

96. Marx. K., El Capital, op. cit., p. 274.97. Palma,A.,op.cit.,p.17.

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S8BENEDITO R. MORAES NETO

mes e contínuos". 98 Ainda que o capitalismo tenhaaperfeiçoado bastante o instrumento hu~ano ~e pro-dução, relativamente à fase manufa~reIra, a In:per-feição humana para movimentos um!ormes e.sta n~centro das limitações da forma tayloflsta/fordlsta. Enotável para nós o fato de que essa limitação, caracte-rística de uma base material inteiramente superadapela maquinaria, constitua um problema para o capi-tal em nossos dias.

Finalmente, a colocação de Aglietta de que "a linhade montagem tende a unificar os trabalhadore~ t.I~m~luta geral contra suas condições de trabalho ja foiabordada por nós algumas páginas atrás. Que~emosmarcar aqui quão estranho é o fato de que o capital sedefronte na segunda metade do século XX, com umaluta ope~ária contra a forma de organização do pr~-cesso de trabalho. A partir da instalação da produçaoà base do sistema automático de maquinaria, a luta declasses necessariamente se desloca, como de fato acon-teceu em termos globais, na direção de outra forma .deutilização das máquinas, ou seja, na direção do SOCia-lismo. A reabertura dos conflitos capital/trabalho nointerior do processo de trabalho deve ser [nteiramentecreditada à forma taylorista de organização da produ-ção.

Para completar nossa analogia entre t~Ylo~ismo/f~r-dismo e manufatura, utilizamos uma ,citaçao co~tl,danum texto recente de Alain Lipietz, que, a nosso JUlZOsintetiza de forma brilhante toda a argumentação atéaqui desenvolvida:

"A destreza manual da mulher oriental é renomada no

mundo inteiro. Ela possui duas pequenas mãos e trabalha

velozmente com uma diligência extrema. Quem, por conse-

qüência, poderia estar melhor qualificado pela natureza e

98. Marx, K., El Capital, p. 306.

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MARX, TAYLOR, FORD

 pela tradição para contribuir para a ef

de montagem que a mulher oriental?"

É necessário, todavia, um esclareco sentido que damos à analogia entrefatura. O que queremos marcar é qudamenta-se num desenvolvimento b

rísticas próprias do trabalho sob a reira. Há, porém, uma diferença esse

enfatizada: a manufatura representa

senvolvimento do trabalho sob suacaracterizando-se, portanto, como uria desse desenvolvimento. Nesse sevimento da manufatura levou à sua nnaria como a forma mais desenvolA recriação da manufatura no séculapresenta caráter radicalmente divenufature ira já estava superada histoqüentemente, o fordismo não reprnecessária do trabalho humano; mucaracteriza-se, isto sim, como o deseparoxismo, da forma historicamentevida.

Voltemos à citação inicial de D. zola, para discutirmos a segunda que se refere ao movimento do taylor

desenvolvimento do capitalismo.Ao começarmos a refletir sobre ess

consideração inicial, no sentido de'caminhou a reflexão até aqui. Na budade do taylorismo, procuramos asção de que não se pode entendê-lo cdamento relativamente ao que Marx ao processo do trabalho sob o capitadesde logo, a dificuldade teórica que

99. Apud  Lipietz, A., Vers une mondialisation CEPREMAP, 1982.

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60BENEDITO R. MORAES NETO

ao tratarmos o taylorisrno, pois, apesar de se constituir 

numa forma moderna de organização do processo de

trabalho pelo capital, só se constituindo numa neces-

sidade e se viabilizando dentro do capitalismo mono-

 polista, como pretendemos discutir mais àfrente, cons-

titui-se, ao mesmo tempo, numa regressão espantosa

relativamente às bases técnicas especificamente capi-

talistas, ao sistema de maquinaria, à forma mais de-senvolvida. Este caráter do taylorismo nos parece ter

emergido já das considerações feitas anteriormente,quando discutimos a independência do capital frenteao trabalho humano ou, o que é r igorosamente amesma coisa, a cientifização dos processos de trabalhosob o capitalismo. Essa questão terá grande relevânciamaisà frente, no capítulo 3 deste trabalho, quandodiscutiremos a questão essencial da superação do capi-

talismo.Ademais de caracterizar o taylorismo/fordismo, coi-

sa que já procuramos fazer, precisamos buscar suasraízes históricas. Em termos simples, trata-se de res-ponder à questão: por que o taylorismo/fordismo?

Quais os determinantes da adoção pelo capital dessaforma menos desenvolvida de produção na etapa mo-nopólica do capitalismo?

Já assentamos a idéia de que o capital, ao abrir no-vas frentes de acumulação ao final do século XIX einício do século XX, defronta-se com a recolocação doslimites representados por sua dependência frente àhabilidade do trabalho vivo, e, na busca de superaçãodesses limites, encontrou o taylorismo/fordismo. Tra-ta-se da necessidade imperiosa do aumento de produ-ção, que, através de tentativas sucessivas, vai confor-mando a linha de montagem. Por um lado, a luta pelomercado potencialmente fabuloso do novo produto, oautomóvel, dentro dos marcos do capitalismo monopo-lista, não permitia a evolução lenta das escalas de pro-

dução, impondo-se desde logo a necessidade da grandeempresa, e por outro não existia qualquer conheci-

MARX. TAYLOR, FORD

mento prévio ao nível da "ciência da td

., p~ ~sse s~ mcorpora~ a produção do noficina foi o laboratorio, surgindo a forma acabada dos experimentos.

Vejamos com mais detalhe essa qmente, ~eJamos cOJ?o Nilton Vargas codo surgimento da linha de montagem, aaspectos extremamente relevantes:

" ( . . o ! De~ej~m~s. mostrar que a especific

autom~vel inviabilizou a automatização ~rodutIv? ~ nosso ver, devido a duas pritIcas; Primeiro, ~sse produto não é fruto contínuas a partir de um: ~atéria-prima exemplo, os produtos químicos), mas é a jde co~pone~tes (cinco mil na época de Fdez mil): muitos deles são materiais difercessament?s distintos. Segundo, o fato cons~mo, insere-se na estratégia de vendcontínuas no m?delo, o que poderia toobsoleto um equipamento muito automatiz

Vejamos a primeira característica apse ao fato de que a indústria automobisegmento terminal, não realiza qualqu

ção da matéria, mas sim uma operaçãode componentes acabados no que diz rcesso de, transformação material. Podees~e carater :m outro segmento industrpeito de ser filho do desenvolvimento ciso século, possui um processo produtivosenvolvido como a linha de montagem

Det~l?a.ndo um P?UCOmais o caso dtom?bllIstlca, verifiquemos algumas pertll~e~tes de .Lafont, Leborgne e Lipide:cnçao do CIclo da produção do autotuído dos segmentos fundição, usinagem

l .?O. Varg~s, N., Organização do trabalho e capital -

truçao habitacional, tese de mestrado, COPPE-UFRJ, 1979

MARX TAYLOR FORD

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montagem mecânica e montagem final, colocam osautores que esses dois últimos "representam o em-prego mais numeroso, o menos mecanizado (... )". Es-

ses segmentos são

"o domínio dos O. S. e, na França, dos imigrantes, dosex-camponeses, dos trabalhadores desqualificados e, no se-tor de estofamentos, das mulheres. A complexidade dos

gestos a efetuar (trajetórias espaciais precisas que exigem

torções de forças extremamente complexas e variáveis) é tal que não pôde até agora ser 'incorporada'  a priori nem a

uma máquina especial clássica, nem mesmo a uma má-

quina programada" .101

Em Marx, observamos uma característica genéricada maquinaria: "Estas duas partes do mecanismo quevimos descrevendo (motor e transmissão) têm por fun-ção comunicar à máquina-ferramenta o movimentopor meio do qual esta segura e modela o objeto traba-

lhado" .102 A máquina tomou para si, desde seu nas-cedouro, a função de "modelar o objeto trabalhado",no sentido da realização das transformações materiaisnecessárias à transformação do objeto de trabalho emproduto do trabalho. Um problema novo para o capi-tal foi, todavia, a produção em massa de um produtocomo o automóvel, que se constitui na "junção de mi-lhares de componentes". Se estamos preocupados nes-se momento com a gênese da linha de montagem, po-demos admitir que essa fosse a única alternativa paraelevação brutal da produtividade do trabalho no fa-brico de automóveis no início de nosso século, dado oestágio do conhecimento técnico-científico da época.Isto porque, para conformar um produto de monta-gem à característica genérica da produção à base demaquinaria, é necessário um novo tipo de máquina, de

101. Lafont, J., Leborgne, D. e Lipietz, A., Redéploiement industriel et es-

 pace économique, Paris, CEPREMAP, 1980, p. 117.102. Marx, K., El Capital, op. cit., p. 304.

MARX, TAYLOR, FORD

concepção impossível, a não ser como de Ford. Como vemos em Lafont, Leb

"a informática permite a criação de um. bô qu~n~s; o ro, o, capaz de aprender  um g~ena ~mposs!ve~ de calcular a priori, e, isto amda nao e o caso) de reconhecer de escolher ele mesmo as peças a montar"

Fica claro, portanto, que estamos iddeterminação tecnológica na gênese dtagem fordista. Vale realçar, todavia, que, em nosso raciocínio, precedeu essmente técnica. Referimo-nos à mençãome~te"à :'~ecessidade imperiosa do adu çã o , a luta pelo mercado potencialdo ~ov? produto, o automóvel, dentrocapitalismo monopolista", que "não pção lenta das escalas de produção".

Desde logo, só a grande empresa poforma taylorista, pOISque esta traz emduçã~ "es,tandárdizada",. a produçãot~mbem so m~m estágio bastante avanlismo que se viabiliza essa forma de do

balho pelo capital. Como exemplo clásrulenta dos trabalhadores qualificadostagem, F~rd rea~~ lançando mão da trabalho simples ja posta pelo capitalispo, elevando abruptamente os saláriodessa forma um exército de reserva vadas dimensões. A concorrência inencarregou do resto, varrendo de vez plexo na montagem do automóvel. Sesclarece Henry Ford: "Quanto ao tpara a aprendizagem técnica a proporç43% não requerem mais que um dia;

103. Lafont, J., Leborgne, D. e Lipietz, A., op. cit.,

pus

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um dia até oito; 6, de uma a duas semanas; 14, de ummês a um ano; 1 0 /0 de um a seis anos. Esta últimacategoria de trabalhos requer grande perícia - comoa fabricação de instrumentos e a calibragem". 104

Observe-se que os 1% dos trabalhos que requerem"grande perícia" não estão incluídos na montagempropriamente dita.

Ainda utilizando como referência o caso da indús-tria montadora de veículos automotores, ramo fordistapor excelência, vejamos rapidamente a questão do de-senvolvimento do taylorismo no tempo. Basta, paraisso, reportarmo-nos a um esclarecedor artigo deEmma Rotschild que analisa o processo de trabalhoutilizado pela GM em 1972 em sua nova fábrica emLordstown (Ohio) destinada à produção do modeloVega, Nesta fábrica a GM procurou situar-se na fron-teira da técnica: "Aos olhos da GM, Lordstown de-veria ser o modelo das fábricas de automóveis do fu-

turo" .105 O resultado é o que segue:

operários vêem-se perante um novo Veggundos, ou seja, uma equipe de 8 horas vmóveis. Por conseguinte, os postos de trtu dados em função de um ritmo de proddos. Todas as inovações visam unicamendas cadências: a forma das peças foi simum operário zeloso mas não qualificado uma delas em 36 segundos". 106

Pois bem, já admitimos a linha de m"a única alternativa para elevação da

no fabrico de automóveis no início ddado o estágio do conhecimento técniépoca". Ora, o relato traduz, para o cautomobilística, um incrível "congforma taylorista, por mais de 50 anos, envolvendo a articulação de aspectostecnológicos, foge aos objetivos deste intenção aqui é apenas marcar a atualitaylorista/ fordista.

"As fábricas de Lordstown, cuja construção custou maisde 100 milhões de dólares, encerram um número excep-cional de inovações tecnológicas. Os engenheiros da GMdizem que se trata das mais modernas e mais belas fábricas

do mundo. A organização da oficina de moldagem foi cal-culada por um computador e as oficinas de montagem obe-decem a uma 'concepção inteiramente nova'. Contudo, asinovações de Lordstown apelam, para aumentaraprodutivi-

dade, para os mesmos métodos que a GM  e as suas concor-

rentes já utilizavam nas outras fábricas, métodos esses que

não saem da linha dos mais antigos métodos de produção

em série. (... )O princípio essencial da tecnologia de Lordstown é a ace-

leração das cadências, tal como o aplicara Henry Ford. EmLordstown podem desfilar numa cadeia de montagem cemviaturas por hora, enquanto a cadência habitual é de 60. Os

104. Ford, H., Minha vida e minha obra, op. cit., p. 105.105. Rotschild, E., "Capitalismo, tecnologia, produtividade e divisão do tra-

balho na General Motors", in Divisão do trabalho, tecnologia e modo de pro-dução capitalista, op. cit., p. 113. 106. Id., ibid., p. 117.