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Nesta aula:-)

1. O governo de D. Pedro II

Consolidação

Conservadores e Liberais no poder

Parlamentarismo

Clientelismo

2. A modernização conservadora

Novas tarifas alfandegárias

A expansão da lavoura cafeeira

Industrialização e urbanização

3. A questão da terra

A Lei de Terras de 1850

A concentração fundiária

4. A questão doa mão-de-obra

Fim do tráfico

Imigração

A Campanha Abolicionista

A abolição aboliu o que?

5. Guerras

Intervenções no Prata

O genocídio paraguaio

Brasil – Segundo Reinado (1840-1889)

6. A crise da Monarquia

A idéia republicana

Desgaste e abandono

O povo ‘bestializado’

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Brasil Império: 1822 – 1889

1850

Segundo Reinado: 1840-1889 – Governo de D. Pedro II

O empresário Barão de Mauá, em 30 de abril, inaugura a primeira ferrovia brasileira.

18541847

Lei Eusébio de Queiróz -proibição do tráfico de escravos.

Parlamentarismo

1840

Coroação de D. Pedro II

1848-50

Revolução Praieira

1842

Revolução Liberal nas províncias de Minas Gerais e São Paulo Lei das Terras

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18891864-70

Segundo Reinado: 1840-1889 – Governo de D. Pedro II

Proclamação da República

Abolição da escravidão

1888

Guerra do Paraguai

1870

Lançamento do Manifesto Republicano

1871

Promulgada a Lei do Ventre Livre

1872

Fundação do Partido Republicano

1882

A borracha ganha

importância no mercado

internacional e o Brasil torna-se um grande

produtor e exportador.

1885

Lei dos Sexagenários: liberdade aos escravos com mais de sessenta anos

1875

Chegam a São Paulo os primeiro imigrantes italianos

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Apesar de sua juventude, d. Pedro II aprendeu depressa a lidar com o poder. Em 1841, substituiu o Ministério liberal que o levara ao trono por outro, regressista. Estes trataram de completar a obra de centralização – e os liberais reagiram com a revolução de 1842. A partir dela, a polarização do campo político ganharia nome e organização, com o nascimento dos partidos Liberal e Conservador – e também o sistema de troca de ministérios. Os conservadores que venceram nas armas foram apeados do governo antes de poder comemorar a vitória. Fortalecia-se assim o comando do Paço, e a educação de todos os políticos na obediência ao verdadeiro comandante do sistema, o Imperador.

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Revolução de 1842

As medidas centralizadoras de 1840 e 1841 repercutiram mal entre as oligarquias provinciais, que viram seu poder reduzido. Em São Paulo e Minas Gerais, logo eclodiram rebeliões liberais. O estopim da revolta foi a dissolução, em 10 de maio de 1842, da Câmara liberal que seria oficialmente instalada três dias depois.

Vários de seus líderes foram presos, mas, depois de processados e julgados, acabaram anistiados em 14 de março de 1844 pelo Imperador.

Tobias de Aguiar

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"Nada mais se assemelha a um saquarema do que um luzia no poder." (Holanda Cavalcanti)

O regime monárquico funcionava com e para a elite dominante no Império,que alimentava um sistema parlamentar artificial e um processo eleitoral altamente excludente. Ela também legitimava tanto o partido chamado Liberal (luzia)quanto o intitulado Conservador (saquarema), esvaziando qualquer substância ideológica que eles pudessem ter ou que os tornasse portadores de alternativas para o país.

Foto: José Pereira de Faro, Terceiro Barão do Rio Bonito

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Na foto os dois escravos representados foram levados ao estúdio para fazer “figuração” na foto da rica senhora baiana. As cadeirinhas eram sempre carregadas por dois escravos

uniformizados, escolhidos entre os de melhor figura da senzala. Dessa forma, a senhora expunha em público a sua condição social.

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Havia fraudes nas eleições do Império ou, as eleições do Império eram uma fraude?

A fraude nas eleições não tinha limites. Os responsáveis pela mesa aceitavam meninos, escravos, pessoas imaginárias e troca de identidades na hora de votar. Outros eram impedidos de votar porque as urnas já estavam cheias de votos preparados. Algumas atas eram assinadas em branco, e os eleitores mais pobres não tinham escolha: ou depositavam na urna a recebida "chapa de caixão", uma cédula marcada, ou sua sorte estava liquidada se ela não aparecesse durante a apuração local.

Urna eleitoral do Império

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Parlamentarismo para inglês ver...

1847 uma lei criou o cargo de Presidente do Conselho de Ministros...

No sistema brasileiro os representantes de todos os poderes eram eleitos ou escolhidos de acordo com a vontade soberana do Imperador para que governasse em paz.

Modelo inglês Modelo brasileiro

Eleições

Câmara dos Deputados

Gabinete de Ministros

Poder Executivo

Eleições

Câmara dos Deputados

Gabinete de Ministros (Poder Executivo)

Conselho de Estado

Senado

Rei Imperador (Poder Moderador)

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Imperador

Poder Moderador

Poder Executivo

Poder Judiciário

Poder Legislativo(Assembléia Geral)

Dupla fonte de atribuição do poder

Encarna

Nomeia

Consulta

Influi

Chefia

Indica

Indica

Indica

Nomeia

Indica

Dissolve

Participa

Elegem a listra tripla

Elegem

Elegem

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População adulta sem direito a voto (1872)

População total: 8,5 milhões

2,2 milhões de mulheres livres

1,7 milhão de escravos e escravos

Mendigos

Praças

Religiosos em regime de claustro

1,8 milhão de homens livres com renda inferior a 200 mil-réis/ano

Não-católicos

Estrangeiros

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Clientelismo e transação

Os tentáculos do poder estendiam-se por toda a sociedade brasileira, determinando o presente e o futuro dos que dependiam do Estado para viver e sobreviver.

As elites no Brasil adotaram uma política clientelística, ou seja, estabeleceram uma rede de favores visando a garantir o monopólio do poder. Elas buscaram sempre o entendimento através de acordos e transações. A viabilização destas práticas era possível graças ao aspecto homogêneo das elites no conjunto da sociedade brasileira.

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O clientelismo como sistema

Assim, o Estado Imperial, desde a independência, utilizou uma prática muito enraizada na vida política do Brasil: o aliciamento para obter lealdade. As concessões de cargos e títulos eram práticas corriqueiras.

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Revolução Praieira

A última revolta do império ocorreu em 1848, em Pernambuco. Após o veto do Senado, dominado pelos conservadores, à indicação do liberal pernambucano Antônio Chichorro da Gama a uma cadeira da Casa, a ala exaltada do Partido Liberal do estado se rebelou. Chamados de praieiros (pois a sede do seu jornal ficava na rua da Praia), eles tomaram Olinda e atacaram o Recife, mas, em 1849, foram derrotados. O conflito seria encerrado definitivamente em 1850. Seguiram-se quatro décadas de relativa paz interna.

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Revolução Praieira

Tendo entre os seus principais lideres os membros da aristocracia rural pernambucana, o Partido da Praia não era propriamente radical ou revolucionário. Mas, diante de seus poderosos inimigos políticos, os praieiros aliaram-se aos lideres mais radicais, como o jornalista Antônio Borges da Fonseca. A ele se deveu a redação do Manifesto ao Mundo, lançado em 1° de janeiro de 1849, no qual as principais exigências eram: “1 ° - Voto livre e universal do povo brasileiro; 2° - Plena liberdade de comunicar os pensamentos pela imprensa; 3° - Trabalho como garantia de vida para o cidadão brasileiro; 4° - Comércio a retalhos para os cidadãos brasileiros; 5° - Inteira e efetiva independência dos poderes constituídos; 6° - Extinção do poder moderador e do direito de agraciar; 7° - Elemento federal na nova organização; 8° - Completa reforma do poder judicial de modo a assegurar as garantias individuais dos cidadãos; 9° - Extinção do juro convencional; 10° -Extinção do atual sistema de recrutamento”.

Nesse manifesto, sem dúvida radical, ouve-se o eco das revoluções liberais européias de 1848, particularmente no trecho em que se refere ao "trabalho como garantia de vida para o cidadão brasileiro", que era uma reivindicação dos socialistas.

Embora o manifesto fosse assinado pelos praieiros, a sua rebelião tinha um sentido mais limitado e bem menos radical: toda a luta resumia-se em contestar a aristocracia rural tradicional, que monopolizava o poder tanto em Pernambuco como no Rio de Janeiro. Os praieiros, na realidade, eram contra apenas os obstáculos colocados por aquela aristocracia à sua plena participação no poder.

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A Era da Conciliação

A consolidação da ordem interna abriu o caminho para a união de forças políticas moderadas, distribuídas pelos partidos Liberal e Conservador.

A conciliação entre os partidos políticos no Império manteve-se pelas condições inerentes ao parlamentarismo. O poder do Imperador e a alternância de poder, eliminando do cenário político os liberais radicais e os conservadores extremados, favoreceram a transação. O Gabinete do Marquês do Paraná (1853-1856) estabeleceu a pacificação do partido conservador e atraiu os liberais mais moderados.

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Conciliação

Assim, o período entre 1850 e 1870, foi considerado pela historiografia como o apogeu do Império. O Estado consolidado e os debates políticos circunscritos ao Parlamento foram as suas marcas. Cabe assinalar que a lavoura cafeeira, em franca expansão, permitiu o crescimento da economia. O suor do trabalho escravo sustentou a estabilidade tão almejada pelas elites.

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PartidoNº de

GabinetesNº de Anos no

Poder

Liberal 2119 anos e 5

meses

Conservador 1529 anos e 9

meses

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As causas do atraso

Depois da independência o Brasil continuou como simples fornecedor de matéria-prima, ao contrário, por exemplo, dos EUA, que se industrializaram rapidamente, a ponto de competir com as nações européias. Para alguns, a causa do atraso foi a política tarifária que vigorou até 1844. Outros acreditam que o problema esteve em tentar resolver o déficit da balança com uma forte desvalorização da moeda brasileira.

Decênios Exportação* Importação*

1821 – 1830 234.263 265.164

1831 – 1840 348.258 385.742

1841 – 1850 487.540 540.944

1851 – 1860 900.534 1.016.686

* Em contos de réis

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As causas do atraso

Há também os que acreditam que o fracasso está ligado à mão-de-obra escrava, extremamente onerosa na indústria quando comparada ao trabalhador livre e assalariado, além de outros custos, que iam desde alimentar até vigiar o escravo. Quem atribui ao escravismo a culpa do atraso afirma que mesmo nos momentos em que houve um certo grau de proteção à indústria interna - seja em função da desvalorização da moeda nacional, seja pela elevação das tarifas aduaneiras -, seus produtos não tinham como competir com os similares importados.

Um escravo de ganho podia ter meios para vestir calças bem-postas, paletó de veludo, portar anel, relógio de algibeira e chapéu-coco. Mas tinha de andar descalço, sinal do seu estatuto de escravo.

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Tarifas Alves Branco

A consolidação do poder político deu ao governo força suficiente para enfrentar uma questão que ficara em suspenso desde a Independência: em 1843 vencia a parte comercial do tratado de 1825 que dava privilégios à Inglaterra. Os liberais, que sempre se opuseram a ele, estavam no poder e recusaram-se sequer a discutir sua prorrogação. Assim, em 1844, o governo pôde elevar as tarifas de importação, equilibrando suas contas e permitindo o início das primeiras aventuras industriais do país.

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Expansão da lavoura cafeeira

Em linhas gerais podemos afirmar que a economia do Segundo Reinado manteve seu modelo agro-exportador integrado nos quadros da economia capitalista com a emergência de uma nova cultura: o café.

Observe no gráfico a evolução da produção cafeeira

Decênios Toneladas

1821 – 1830 190.680

1831 – 1840 584.640

1841 – 1850 1.027.260

1851 – 1860 1.575.180

1861 – 1870 1.730.820

1871 – 1880 2.180.160

1881 – 1890 3.199.560

Fonte: GORENDER, Jacob. O escravismo colonial

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A participação do café na pauta de exportações brasileira*

* dados percentuais arredondados.

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O café em São Paulo

Os fazendeiros do Vale do Paraíba não se modernizaram; já os cafeicultores do Oeste paulista adaptaram-se aos novos tempos...

Vale do Paraíba Oeste Paulista

Formas tradicionais de ocupação e uso da terra; técnicas arcaicas

Mentalidade tradicional (aristocrática, conservadora)

Estagnação econômica

Unidade de produção tradicional (fazenda)

Resistência ao movimento abolicionista

Formas capitalistas de ocupação e uso da terra; técnicas modernas

Mentalidade empresarial (mantém traços aristocráticos, mas com verniz liberal)

Progresso

Unidade de produção capitalista (empresa)

Aceitação do abolicionismo; imigração

Fazenda Santa Genebra, São Paulo, c. 1880

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Os barões do café

A expansão cafeeira levou muitas famílias a instalar-se em São Paulo e em Minas Gerais como posseiros. Com a assinatura da Lei de Terras de 1850, algumas famílias enriquecidas com o café não só legalizaram as terras como expandiram suas propriedades, desalojando posseiros menos afortunados. Logo tudo estava tomado por grandes fazendas, mas ainda faltava obter o prestígio social, facilmente alcançado com um título de nobreza que só o imperador podia conceder - e o fazia em troca de apoio dos novos milionários, que dormiam rudes e acordavam aristocratas. Assim surgiram os barões do café, donos de grandes fortunas que surgiram de uma atividade que iria mudar a face do Brasil.

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Os ingleses contra o tráfico de escravos: a Bill Aberdeen

Em 1845, o Parlamento inglês aprovou uma lei que tomou o nome de seu propositor, o ministro George Aberdeen, autorizando a Marinha inglesa a tratar os navios negreiros como se fossem navios piratas, com direito a apreendê-los e julgar suas tripulações nos tribunais do Vice-Almirantado britânico.

No período de 1845 a 1850, a esquadra britânica na costa ocidental da África capturou quase quatrocentos navios negreiros pertencentes a traficantes brasileiros. No fim da década de 1840, multiplicaram-se os casos de navios negreiros destruídos no próprio local da captura.

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Fim do tráfico: a Lei Eusébio de Queirós

Desta vez, não era uma lei para inglês ver: depois de três séculos e meio, o grande negócio que movia a economia brasileira estava condenado à morte. Em 4 de setembro de 1850, após sessões secretas da Câmara, acordos com os ingleses e muitas negociações, estava decretado o fim do tráfico de escravos.

Volume total do tráfico para o Brasil durante toda a existência do tráfico

atlântico – 1550 a 1850 (em milhares)

Escravos importados

Período Número %

Séc. 16 100,0 1,8

Séc. 17 2.000,0 36,0

Séc. 18 2.000,0 36,0

Séc. 19 1.500,0 37,0

Total 5.600,0 100,0

Fonte: Robert Conrad. Tumbeiros: o Tráfico de Escravos para o Brasil. 1985

* Dados percentuais arredondados.

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Importação de escravos

Ano Escravos

1842 17.354

1843 19.095

1844 22.849

1845 19.453

1846 50.324

1847 56.172

1848 60.000

1849 54.000

1850 23.000

1851 3.387

1852 700

Foto de um navio negreiro apreendido pela marinha inglesa, 1869.

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Lei de Terras

A Lei de Terras, de 1850, proibiu a obtenção de terras públicas, exceto se fossem compradas, sendo, normalmente, caras; legitimou as sesmarias e as posses adquiridas, contanto que estivessem "cultivadas" e não com simples roçados e exigiu o registro das propriedades irregulares. Este último item atendia aos anseios de posseiros com recursos financeiros e conhecimento das malhas burocráticas para medi-las e registrá-las nos Registros Paroquiais.

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Lei de Terras: a prisão do homem livre

Com a extinção do tráfico . ........ negreiro o maior problema para os grandes proprietários era saber como conservar a mão-de-obra assalariada num país das dimensões do Brasil, com grandes disponibilidades de terra. O escravo estava definitivamente preso a seu dono, mas o trabalhador livre podia procurar áreas inexploradas e montar seu sítio, produzir a própria subsistência e pôr alguma coisa no mercado. Para atender aos latifundiários, a lei de ..1850 impediu que os trabalhadoreslivres se tornassem proprietários. E com a venda de terras públicas aos grandes fazendeiros o governo pretendia levantar fundos para financiar a imigração. A longo prazo, no entanto, esse sistema gerou um processo de concentração da propriedade da terra, criando extensas áreas improdutivas.

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A modernização conservadora: industrialização e urbanização

A supressão do tráfico de escravos africanos liberou muitos recursos que foram investidos em outros setores, principalmente no Rio de Janeiro. Na década de 1850, foram fundadas 62 empresas industriais, a maioria de tecidos, 14 bancos, 20 companhias de navegação a vapor, 23 companhias de seguros, 8 estradas de ferro, 8 empresas de mineração, 3 de transporte urbano e 2 de gás. As fábricas produziam principalmente chapéus, sabão, tecidos de algodão e cerveja, mercadorias até então importadas. Elas já utilizavam motores hidráulicos ou energia a vapor.

Telefone, fabricado por volta de 1880, pertenceu ao Imperador e foi um dos primeiros a ser instalado

no Brasil.

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“As ruas foram tomadas por uma multidão maravilhada. As palavras eram poucas, mas uma observação podia ser ouvida por todos os lados: ‘Como pudemos passar tanto tempo sem este melhoramento?’. Na verdade, o contraste entre os velhos candeeiros e a luz emanada dos lampiões falava por si mesmo”.

Dessa forma o Jornal do Commercio noticiou os primeiros lampiões as gás acesos no centro do Rio Janeiro, em 25 de março de 1854.

A cidade do Rio de Janeiro tornou-se palco de grandes transformações: água encanada, iluminação a gás, bondes puxados a cavalo (e depois elétricos). A cidade colonial recebia os ventos do progresso. As lojas comerciais apresentavam as últimas novidades francesas e inglesas, convivendo com os escravos que perambulavam pelas ruas. Miséria e opulência ocupando o mesmo espaço.

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Era Mauá

Uma figura se destacou no período como o maior empreendedor da incipiente indústria brasileira: o gaúcho Irineu Evangelista de Sousa, o barão e depois visconde de Mauá. Ele investiu em companhias de bonde, navegação, iluminação urbana, fundição, em estradas de ferro e até na instalação de um telégrafo submarino ligando o Brasil à Europa. ............ Sua atuação foi tão importante que .................as primeiras décadas da segunda ...........metade do século XIX ficaram ..........conhecidas como Era Mauá. ..................Tornou-se o pioneiro de diversas ...... atividades, em uma época de ........ prosperidade que se apoiava .......................... em bases frágeis com graves .............. contradições, derivadas da ................. sociedade escravista.

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Fim de uma era...

A falta de apoio governamental e uma série de negócios arriscados provocou a sua falência em 1875. A industrialização brasileira durante o império foi apenas um surto que só teria prosseguimento décadas depois, já na República.

As transformações por que passou o Brasil a partir de meados do século XIX, modernizaram o sistema agrário-exportador, mas não o transformaram num sistema industrial; modernizaram a sociedade aristocrática, mas não a transformaram num sociedade capitalista.

Fábrica de ferro, Sorocaba, c. 1884

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A questão da mão-de-obra

Com a paralisação do tráfico africano, em 1850, tornou-se fundamental para os setores dominantes encontrar outra opção para suprir as necessidades de mão-de-obra para a lavoura cafeeira, em expansão. Inicialmente, a transferência de escravos do nordeste para o sudeste atendeu à demanda de cafeicultura. Depois, pensou-se no aproveitamento da chamada "mão-de-obra livre nacional" que vivia no interior ou na periferia dos centros urbanos, fora da economia de mercado, dedicada à sua roça de subsistência.

Recorte em foto de Sebastião Salgado

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Esta alternativa acarretaria mudanças de comportamento por parte das elites. Primeiro, implicava no pagamento de salários atraentes para que esses homens se submetessem à disciplina da fazenda de café, caso contrário eles retornariam para o interior. Segundo, eliminar o preconceito em relação ao trabalhador livre nacional, acusado de "indolente e preguiçoso". Deve-se acrescentar que os séculos de escravidão geraram uma aversão ao trabalho manual, considerado "trabalho de escravo". A solução era atrair imigrantes para o país.

Recorte em quadro de Candido Portinari

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O sistema de parceria

O pioneiro deste sistema foi o Senador Nicolau de Campos Vergueiro, ainda em 1847, na sua fazenda Ibicaba, em Limeira, na Província de São Paulo. O imigrante trabalha à meia e reembolsa o fazendeiro, após a primeira colheita, pela viagem e outras despesas. A prática traz as marcas da escravidão: coação, maus-tratos, fraudes, venda de imigrantes via pagamento da dívida.

Segundo um colono suíço, Thomaz Davatz, que liderou uma revolta na fazenda Ibicaba, em 1857, só faltava "um passo", para os castigos corporais a que estavam sujeitos os cativos. O movimento teve grande repercussão na Europa e a Prússia proibiu a vinda de imigrantes alemães para o Brasil. A partir dessa insurreição, o sistema de parceria perdeu rapidamente prestígio em virtude das suas próprias contradições.

Fazenda Ibicaba, em

1920

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Data Especificação Deve Haver

Janeiro 31 4 dias de trabalho a 2$00 por dia 8$000

Janeiro 31 Cultivo de 290 pés de café em Bergamasco a 0$015 por pé

4$350

Janeiro 31 Capina de 2.365 braças quadradas a 0$006 por braça

14$190

Março 11 Dinheiro adiantado 140$000

Março 14 Cultivo de 500 pés de café emNicolete a 0$015 por pé

7$500

A transportar 105$960

Caderneta de um imigrante, 1906

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A imigração subvencionada

O governo, atento aos interesses do café, assume, a partir de 1870, a importação de braços: paga viagens, cria um órgão para dirigir o fluxo migratório, agências de propaganda e recrutamento em vários países europeus.

O contrato padrão, de 1 ano, revogável, engaja toda a família. O migrante ganha salário-base proporcional aos pés de café a seu cargo, prêmios, suplementos pela carpa (limpeza) e colheita, um lote para plantar milho, mandioca, feijão, ou licença para o plantio intercalar.

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O fim de muitos sonhos...

O trabalho nas fazendas não era fácil. A família imigrante era responsável por uma gleba do cafezal, que exigia, além da colheita, cinco ou seis limpezas anuais. Eles recebiam salários e faziam suas compras na venda do patrão, o que quase sempre gerava uma relação de dependência. Muitos, desencantados, retornavam para seus países. Outros seguiam de fazenda em fazenda na esperança de melhor sorte, que alguns alcançavam comprando pequenas propriedades.

Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo, final do século XIX.

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Outros ainda, ex-operários e artesãos, se estabeleciam na cidade. Porém, perpetuando a mentalidade de donos de escravos, alguns patrões chamavam seus colonos de "escravos brancos".

Derrotados, marcados pelo desencanto, 40% dos imigrantes italianos retornaram à Europa. Os que ficaram criaram raízes. Na cidade, alguns se tornaram grandes comerciantes e industriais, e outros foram ser operários da nascente indústria paulista.

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Angelo Agostini, um dos grandes ilustradores e chargistas do Segundo Reinado, faz um desenho dramático do imigrante europeu confrontado com a nova terra. No Brasil, a floresta selvagem, representada por uma índia, causa a morte do casal, deixando seus dois filhos órfãos. (Revista Ilustrada, 1876)

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Imigração para o Brasil (1850-1889(

Decênio Entrados no Brasil Entrados em São Paulo

1850-1859 108.045 6.310

1860-1869 106.187 1.681

1870-1879 203.961 11.730

1880-1889 453.788 183.349

Total 871.981 203.070

Fonte: LIMA, Heitor Ferreira. História político-econômica e industrial do Brasil

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A grande seca

Entre 1877 e 1878, o Brasil que se modernizava, ia ao teatro e se orgulhava de seus filhos bacharéis, conheceu uma outra face do país, a da miséria rural, dos flagelados da seca no sertão. Tida como a maior do século, a seca atingiu grande parte das províncias da região nordestina, em especial o Ceará. As fotografias dos retirantes, publicadas nos jornais da corte, chocaram os leitores, e vozes se levantaram reclamando recursos e providências do governo imperial. Muitas senhoras da sociedade fizeram campanha, angariando donativos para mitigar a miséria dos retirantes.

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Mas, acima de tudo, essas levas de migrantes causaram medo, assustaram aqueles homens modernos e urbanos, como se o outro país fosse tomar conta das ruas das cidades. O temor de arruaças ou mesmo de saques aos estabelecimentos comerciais provocou pedidos para que os governos provinciais tomassem medidas no sentido de conter o avanço dos retirantes para as cidades, fomentado-se a migração para os seringais amazônicos, com a distribuição gratuita de passagens, numa tentativa de impedir que o Brasil arcaico tomasse conta daquele outro que se modernizava.

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Política externa: dependência inglesa

Durante o século XIX, 100% da dívida externa brasileira era para com a Inglaterra. Embora marcada por conflitos pontuais (Tarifa Alves Branco, Bill Aberdeen, Questão Christie), a política externa brasileira buscou acomodar-se aos interesses ingleses.

Os investimentos britânicos aumentaram com a supressão do tráfico de escravos africanos, em 1850. O capitalismo, a partir da segunda metade

do século XIX, ingressou na fase imperialista. Os donos do capital desejavam não só exportar seus artigos mas, também, controlar

os países produtores de matérias-primas através de investimentos, especialmente no setor de serviços. Por

exemplo, a Inglaterra participou da construção de ferrovias, melhoria dos portos, estabelecimento de companhias de navegação e de transportes urbanos.

Os capitais ingleses investidos no Brasil representaram, em 1880, aproximadamente 45% do total aplicado na América Latina. A Inglaterra exerceu um verdadeiro monopólio sobre o comércio externo brasileiro e demais atividades produtivas até a primeira guerra mundial, quando começou a ser superada pelos Estados Unidos.

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Questão Crhistie

Dois incidentes ocorridos na década de 1860 ficaram conhecidos como Questão Christie. O primeiro decorreu da pilhagem da carga de um navio Prince of Wales, naufragado no litoral do Rio Grande do Sul em 1861, por pescadores gaúchos. O segundo aconteceu no ano seguinte, quando dois oficiais ingleses, embriagados, provocaram confusões no Rio de Janeiro e acabaram sendo presos. Logo depois foram soltos. O embaixador inglês, Willian Dougal Christie, exigiu indenização referente ao valor das mercadorias do navio e pedido de desculpas do governo por causa da detenção dos dois membros da marinha inglesa. Como o governo imperial não atendeu às exigências, Christie ordenou que navios ingleses apresassem, fora do porto do Rio de Janeiro, cinco embarcações mercantes brasileiras. O fato causou enorme protesto popular na Corte, obrigando o Imperador a romper relações diplomáticas com a Inglaterra, que perdurou até 1865, após o laudo do arbitramento do Rei Leopoldo I, da Bélgica, favorável ao Brasil. Apesar desta decisão o governo imperial já tinha indenizado os proprietários da carga roubada.

O embaixador William Christie sobre um barril de pólvora

segurando uma bomba com os dizeres: "direito das gentes".

(Semana Ilustrada)

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A dívida externa do Império (em milhões de libras esterlinas)

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Intervenções no Prata

As disputas pela estratégica região do rio da Prata nascem nas guerras de independência e transformam-se em luta pela hegemonia regional. Além dos interesses econômicos em torno da navegação no Prata, a questão é usada pelos caudilhos das repúblicas platinas e pelas elites dirigentes do império brasileiro para consolidar seu poder interno. A rivalidade entre o Brasil e a Argentina na região é agravada pela determinação do Paraguai de participar da disputa regional.

Entre 1851-1870, o Brasil guerreia com o Uruguai, a Argentina e aniquila o Paraguai no mais mortífero conflito da história das Américas.

Soldado do exército paraguaio

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O Paraguai

O Paraguai segue um rumo próprio desde a independência (1811). Herdeiro do império jesuíta, sem saída para o mar, liga-se ao mundo pelo rio Paraná. Quando a Argentina corta-lhe a saída (1813), isola-se. Seu primeiro governante, José Gaspar Rodrígues de Francia y Velasco, El Supremo, ditador perpétuo, tirano igualitarista, adepto de Rousseau e Voltaire, sob os lemas "Independência ou morte" e "Ordem e progresso" limita o comércio, recusa relações diplomáticas, proíbe a riqueza, castiga as elites, faz a reforma agrária das Estâncias da Pátria, fomenta o ensino público, erradica o analfabetismo.

José Gaspar Rodríguez de Francia y Velasco (1766 -1840)

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Seu sucessor, Carlos Antonio López [1790-1862], moderniza o país, abre o comércio e embaixadas, firma (1850) um acordo de defesa mútua com o Uruguai. O país prospera (fumo, mate, arroz, cana, gado): é o mais provido de ferrovias, telégrafos e linhas de vapores na América do Sul. Cria o sistema defensivo de Humaitá e o serviço militar obrigatório.

O filho de Carlos López, Solano , general aos 18 anos, educado em Paris, sucede-o em 1862. Descrito pelos inimigos como monstro, louco, bárbaro, sátiro, alia despotismo e ardor patriótico, fascina e galvaniza o povo.

Francisco Solano López (1837-1870)

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A Argentina e o Uruguai

A Argentina tem 1,9 milhão de habitantes em 1869 (Buenos Aires, 180 mil), 3,5 milhões de bois e 20 milhões de ovelhas; exporta couros, charque, lã, sebo.

Da Independência à prosperidade do final do século, vive longa era de convulsões, revoluções e montoneras (guerrilhas gaúchas), cindida entre os caudilhos (chefes político-militares de base rural). Juan Manuel Ortiz Rosas, estancieiro, líder unitário, governador de Buenos Aires (1829), ditador (1835-1852), é um caudilho clássico.

A República da Banda Oriental do Uruguai, ex-província Cisplatina, tem economia similar à argentina, 300 mil habitantes e também vive sua fase caudilhesca (Guerra Grande, entre blancos e colorados, 1843-1852). Na fronteira norte, só fixada em 1851 sob ocupação militar imperial, vivem 40 mil brasileiros.

Juan Manuel Ortiz Rosas (1793-1877)

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Na geopolítica do Império (até a República) o Uruguai é um "prolongamento geográfico" do Brasil. Há forte nexo entre os problemas da Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul. E o Império não vacila em intervir neles, para impedir a formação de outro Estado poderoso na bacia do Prata.

Manuel Ceferino Oribe y Viana (1792-1857)

Intervenção contra Oribe e Rosas (1851-52)

Com seus interesses na região contrariados com a eleição do blanco Manuel Oribe no Uruguai e sua aliança com Rosas, da Argentina, o Brasil intervém militarmente na região. Alia-se a Frutuoso Rivera(colorado) no Uruguai para derrotar Oribe e ao general argentino Urquiza para derrotar Rosas.

Ao final da guerra, com o apoio das tropas brasileiras, Rivera e Urquiza são conduzidos ao poder.

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Intervenção contra Aguirre (1864-65)

A primeira invasão reforça a presença brasileira no Uruguai. O barão de Mauá torna-se o maior banqueiro e pecuarista do país; 30% das terras uruguaias são de brasileiros.

Mas os blancos voltam ao governo e o presidente Bernardo Berro tenta nacionalizar a fronteira: reprime a escravidão, eleva os impostos. Volta a pressão por uma interferência do Império, sobretudo quando o blanco radical AtanazioAguirre substitui Berro. O general Antonio Netto, que mantém um exército privado de mil gaúchos, vai ao Rio dizer que "ou o Império protege seus súditos, ou eles se armam e defendem a si próprios".

Atanasio de la Cruz Aguirre Aguado (1801-1875)

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As tropas brasileiras atacam o Uruguai por mar e por terra.

O Paraguai notifica ao Brasil (30/8/1864) que "não pode se conservar indiferente" em face de uma invasão do Uruguai, "pois ela destrói o equilíbrio político no Prata".

Não há resposta; ao que parece, d. Pedro II, como López, julga chegada a hora da guerra.

Em 1865, com o auxílio das tropas brasileiras, o colorado Venâncio Flores derruba Aguirre e assume o governo.

Oficial e soldado do exército brasileiro

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Guerra do Paraguai - Guerra de laTriple Alianza (1864-1870)

A iniciativa da ofensiva é guarani. E é rápida: López apresa em Assunção o vapor brasileiro Marquês de Olinda . A seguir declara guerra ao Brasil. Envia cinco barcos de guerra e uma coluna terrestre que ocupam todo o sul do Mato Grosso até 1868. Outra expedição segue para o sul, toma a província argentina de Corrientes e S. Borja, Itaquie Uruguaiana , no Rio Grande do Sul. Por onde passa liberta os escravos, que chegam a se rebelar. A ofensiva, porém, não altera o desfecho do conflito no Uruguai.

A charge ao lado, publicada no jornal A Vida Fluminense era acompanhada o seguinte texto:

“Projecto de monumento que os paraguayos reconhecidos pretendem erigir a Francisco Solano

Lopes”.

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A Tríplice Aliança (1865)

Pacto secreto Brasil-Argentina-Uruguai (19 itens), é divulgada em 1866 na Inglaterra. Aliança, "ofensiva e defensiva", prevê o uso de "todos os meios de guerra" até a derrubada de López; veda conversações, tratados de paz, trégua ou armistício em separado; garante a independência e soberania do Paraguai, mas não sobre as áreas reivindicadas pelo Brasil e Argentina. O comando geral fica com Mitre sempre que o front esteja na Argentina e na zona paraguaia limítrofe; o da Marinha é exclusivo do Brasil. Um protocolo anexo prevê a demolição de Humaitá e a divisão das armas e equipamentos do Paraguai entre os aliados. As tropas dos três países retomam o Rio Grande do Sul, mas a viragem do conflito não se decide em terra.

Foto (circa 1867) mostra oficial paraguaio capturado por oficial

argentino.

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A Batalha Naval de Riachuelo (25/6/1865)

A frota guarani, mesmo reforçada por seis chatas (grandes jangadas munidas de canhão), sucumbe frente à armada imperial (sob comando do alm. Francisco Manuel Barroso, após duro combate. Salvam-se quatro navios paraguaios, alguns avariados.

Obra: Combate Naval do Riachuelo, de Victor Meirelles, 1872

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A maior guerra da história do Brasil,

que forma seu Exército e Marinha, é também a mais mortífera das Américas. Mata 158 mil brasileiros, 32 mil argentinos e uruguaios, 606 mil militares e civis paraguaios.

Vive quatro fases:

1] A ofensiva paraguaia, rechaçada em Riachuelo (1865);

2] A árdua guerra de posições em torno da fortaleza de Humaitá (1868);

3] A rápida ofensiva imperial até Assunção (1869); e

4] A caçada a López, ou Campanha da Cordilheira (1870).

Foto: cadáveres paraguaios

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O Paraguai perde 140 km² para Argentina e Brasil

e quase todos os homens adultos; a população só se recupera no século 20. As Estâncias da Pátria e a ferrovia são vendidas a estrangeiros.

“Hemos ganado la guerra por rigor, no hay ningún paraguayo entre los 10 y los 50 años vivo".

Domingo Sarmiento

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A Argentina consolida sua unidade territorial.

O outro inglês gasto pelo Império no conflito acelera o progresso argentino e uruguaio.

Foto: civis paraguaios após a guerra.

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O Império do Brasil perdeu boa parte de suas reservas...

Aumenta a dependência para com os banco ingleses, que financianaram a guerra.

O exército, até então desprestigiado, afirmou-se como instituição. Parte de seu contingente era formado por antigos escravos [fala-se em 90 mil negros mortos no conflito] que se tornaram livres após o conflito, aumentando o sentimento antiescravista.

O exército pós-guerra torna-se um foco republicano. Cunha Matos conta que, morto López, o major Floriano comenta: “De um homem como aquele é que nós carecemos no Brasil”. Floriano será o segundo presidente da República.

“(...) a maldita guerra será a ruína do vencedor e a destruição do vencido”. Barão de Mauá

Luís Alves de Lima e Silva, futuro duque de Caxias, comandante geral das tropas brasileiras entre 1866-1869

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Abolicionistas...

"O escravo que mata o seu senhor pratica um ato de legítima defesa.“

"Em nós, até a cor é um defeito. Um imperdoável mal de nascença,o estigma de um crime.“

"Mas nossos críticos se esquecem que essa cor é a origem da riqueza de milhares de ladrões que nos insultam; que essa cor convencional da escravidão, tão semelhante à da terra, abriga sob sua superfície escura, vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade."Luiz Gama

“A escravidão é um roubo". José do Patrocínio

"A história da escravidão africana na América é um abismo de degradação e miséria que se não pode sondar.“Joaquim Nabuco

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Abolicionistas...

André Rebouças (1838-1898)

Filho do conselheiro Antonio Pereira Rebouças, político e advogado mulato, e de Carolina Pinto Rebouças, nasceu na Bahia, mudou-se para a Corte, estudou na Escola Militar, e formou-se engenheiro. Em visita aos EUA nos anos 1870 revoltou-se com a segregação racial e mais tarde aderiu à Sociedade Brasileira contra a Escravidão e à Confederação Abolicionista. Monarquista, exilou-se junto com a família imperial em 1889.

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Abolicionistas...

Antônio Bento (1809-1861)

Antônio Bento era um abolicionista de família rica de São Paulo. Foi advogado, Promotor Público e depois Juiz de Direito. Seus métodos não-ortodoxos, intransigentes e revolucionários para libertação dos negros o tornaram famoso. Promovia, juntamente com os membros da Ordem dos Caifazes (considerada subversiva na época), proteção a escravos que fugiam e incentivava a evasão dos negros das grandes fazendas. Foi o principal organizador do quilombo de Jabaquara, em Santos, para onde foram levados mais de 10 mil escravos, cuja fuga ele próprio ajudara a organizar.

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Abolicionistas...

Luiz Gama (1830-1882)

Nasceu em Salvador, filho de um fidalgo português com a negra Luiza Mahin. Apesar de livre, seu pai o vendeu como escravo em São Paulo. Fugiu. Foi escrivão, poeta, jornalista e "advogado" de escravos, sem diploma - tinha apenas uma provisão do governo. Em 1881, criou a Caixa Emancipadora Luiz Gama para compra de alforrias

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Abolicionistas...

José do Patrocínio (1854-1905)

Filho do padre e dono de escravos João Carlos Monteiro e de sua escrava Justina do Espírito Santo, nasceu em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Farmacêutico, optou pelo jornalismo atuando em periódicos abolicionistas como a Gazeta de Notícias e a Gazeta da Tarde. Com André Rebouças lançou, em 1883, o Manifesto da Confederação Abolicionista, e ao lado de Joaquim Nabuco fundou a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Editor de O Abolicionista, para ele a abolição deveria ser sem indenização aos senhores, mas com educação e trabalho para todos.

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Abolicionistas...

Joaquim Aurélio Barreto Nabucode Araújo (1849-1910)

Filho de um rico jurista e político baiano, José Tomás Nabuco de Araújo, que se radicou no Recife, Joaquim Nabuco se opôs de maneira veemente à escravidão, contra a qual lutou tanto por meio de atividades políticas e quanto de seus escritos. Fez campanha contra a escravidão na Câmara dos Deputados de 1878 e fundou a Sociedade Brasileira Contra Escravidão. Após a derrubada da monarquia brasileira retirou-se da vida pública por algum tempo.

Seu trabalho mais bem conhecido é sua autobiografia Minha formação, publicado em 1900. Ela retrata de maneira vívida a sociedade de escravatura no Brasil do século XIX.

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Abolicionistas...

Francisco de Paula Brito (1809-1861)

Carioca, filho de carpinteiro, nunca foi à escola, mas tornou-se poeta, tradutor, jornalista, editor e livreiro famoso, a ponto de d. Pedro II imprimir todo o material oficial em suas oficinas. Em 1833, publica O homem de cor, considerado um dos primeiros jornais a discutir o preconceito racial.

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José de Alencar (1829-1877), Discursos parlamentares.

A defesa da escravidão

"Senhores, combatendo a idéia da emancipação direta perante o Parlamento, devo repelir uma pecha que os mais

intolerantes promotores da propaganda costuma lançar sobre aqueles que, como eu, têm levantado a voz para

protestar energicamente contra a imprudência e precipitação com que se iniciou esta reforma.Chamam-nos de escravocratas, de retrógrados, de espíritos tacanhos e ferrenhos, que não recebem os influxos da civilização. Procuram assim atemorizar-nos com a odiosidade que de ordinário suscitam as idéias condenadas, os sentimentos egoísticos. [...]

Vós, os propagandistas, os emancipadores a todo transe, não passais de emissários da revolução, de

apóstolos da anarquia. Os retrógrados sois vós, que pretendeis recuar o progresso do país, ferindo-o no

coração, matando a sua primeira indústria, a lavoura. [...] Não vos lembrais de que a liberdade concedida a essas massas brutas é um dom funesto; é o fogo entregue ao ímpeto, ao arrojo de um novo e selvagem Prometeu. "

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Três correntes se definem...

A escravocrata, na defensiva, não almeja eternizar o sistema, mas um fim suave, via lei de 1871 (Lei do Ventre Livre) ou libertação com indenização.

A emancipacionista (que inclui dom Pedro) quer reformas graduais, moderadas, sem afetar a lavoura.

A abolicionista exige libertação já, sem indenização.

Há ainda atitudes intermediárias, nuances e muitas mudanças de posição.

A Campanha Abolicionista, pioneira das campanhas nacionais brasileiras, começa em 1879 e inclui poesia, música, teatro, concertos, livros de ouro, bazares, quermesses, clube feminino, caravanas, muita imprensa. Trava uma luta de idéias inédita no País.

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Lei do Ventre Livre (1871)

A "Lei Rio Branco", mais conhecida por "Lei do Ventre Livre", ou dos

"nascituros", tratava da emancipação dos filhos de

escravos.Ela estabelecia que os "ingênuos", como foram

denominados os libertos pela lei, ficassem em poder dos senhores de

suas mães até os oito anos de idade. A partir dessa idade, os

proprietários tinham duas opções. Poderiam utilizar os seus trabalhos

até os 21 anos, solução normalmente adotada ou, então,

receber uma indenização, paga pelo governo, através de um fundo

de emancipação.

Charge: Carlos Eduardo Novaes e César Lobo

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Lei dos Sexagenários (1885)

A Lei Saraiva-Cotegipe, mais conhecida como "Lei dos Sexagenários" foi aprovada em 28 de setembro de 1885.

Ela declarou "livres" os escravos com mais de 60 anos. Entretanto, eles deveriam trabalhar mais cinco anos

gratuitamente para o senhor a título de indenização. A lei ainda estabelecia penas para quem ajudasse escravos

fugitivos.

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Declara extinta a escravidão no Brasil

A princesa imperial regente em nome de Sua Majestade o imperador, o senhor d. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembléia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:

Art. 1º: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.

Art. 2º: Revogam-se as disposições em contrário.

Manda portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.

O secretário de Estado dos Negócios d'Agricultura, Comércio e Obras Públicas e interino dos Negócios Estrangeiros, bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de sua majestade o imperador, o faça imprimir, publicar e correr.

Dado no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67º da Independência e do Império.

Carta de lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o decreto daAssembléia Geral, que houve por bem sancionar declarando extinta aescravidão no Brasil, como nela se declara.

Para Vossa Alteza Imperial ver.

Texto da chamada Lei Áurea (lei no 3353), assinada pela princesa Isabel em 13 demaio de 1888, extinguindo a escravidão no Brasil.

Pena de ouro que a princesa Isabel

usou para assinar a Lei Áurea.

Museu Imperial, Petrópolis (RJ)

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A inferioridade do negro

"O critério científico da inferioridade da Raça Negra nada tem de comum com a revoltante exploração que dele fizeram os interesses escravistas dos norte-americanos. Para a ciência não é esta inferioridade mais do que um fenômeno de ordem perfeitamente natural, produto da marcha desigual do desenvolvimento filogenético da humanidade nas suas diversas divisões ou secções (...) A Raça Negra no Brasil, por maiores que tenham sido os seus incontestáveis serviços à nossa civilização, por mais justificadas que sejam as simpatias de que a cercou o revoltante abuso da escravidão, por maiores que se revelem os generosos exageros dos seus turiferários, há de constituir sempre um dos fatores de nossa inferioridade como povo (...).“

Nina Rodrigues, 1900

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Na tela de Modesto Brocos, Redenção de Cã, 1895, o ideal de branqueamento.

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A defesa da eugenia...“Os nossos males provieram do povoamento, para tanto basta sanear o que não nos pertence”.

Brazil Médico, 1918

A necessidade do branqueamento...“O desaparecimento total do índio, do negro e do mestiço poderia ocorrer, apenas, se toda a miscigenação futura incluir um parceiro extremamente claro (se não branco)”

Sílvio Romero

Uma ideologia do branqueamento compõe o esforço de imigração. Teses racistas levam à convicção de que só o branco, europeu, convém para “melhorar” o sangue “corrompido” por negros e índios. Uma campanha engajando gente ilustre obtém em 1890 a proibição legal de imigração asiática e africana.

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A libertação do capital

A abolição significou a libertação da economia brasileira dos entraves que emperravam seu desenvolvimento. Por isso, escreve José de Sousa Martins, "a noção de liberdade que comandou a abolição foi a noção compartilhada pela burguesia e não a noção de liberdade que tinha sentido para o escravo. Por isso, o escravo libertado caiu na indigência e na degradação, porque o que importava salvar não era a pessoa do cativeiro, mas sim o capital. Foi o fazendeiro que se liberou do escravo e não o escravo que se liberou do fazendeiro".

Rio de Janeiro, séc. XX

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"[...] No dia seguinte, chamei o Pancrácio e disse-lhe com rara franqueza:

— Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida e tens mais um ordenado, um ordenado que...

— Oh! Meu Sinhô! Fico.

—... Um ordenado pequeno, mas que há de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente. Quando nascestes, eras um pirralho deste tamanho; hoje estás mais alto que eu. Deixa ver; olha, és mais alto quatro dedos...

— Artura não qué dizê nada, não, sinhô...

— Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis; mas é de grão em grão que a galinha enche o papo. Tu vales muito mais que uma galinha.

[...]

Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por não me escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Ele continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos.

Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí para cá, tenho lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe não chamo filho do diabo; cousas todas que ele recebe humildemente, e, (Deus me perdoe!) creio que até alegre."

Machado de Assis, ‘Bons Dias’. In Diário de Notícias, p. 489-491

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O republicanismo e a crise da monarquia

A República de 1889 chega 70 anos depois de suas irmãs latino-americanas. Enterra um Império decadente que, todos dizem, não sobreviveria a d. Pedro II. A Abolição é o maior, mas não o único catalisador da queda.

Movimentos populares de vários tipos indicam o fim da calmaria social dos anos 1850-1860. Em São Leopoldo (RS) a seita dos muckers (beatos), de João Jorge e Jacobina Maurer (mortos na repressão), reúnefiéis de origem alemã: atacada, resiste um ano (1874). Em Campina Grande, Paraíba, começa (1874) a Revolta do Quebra-Quilo, contra os impostos e o recrutamento forçado que atinge a Paraíba, Pernambuco e Alagoas: grupos correm às feiras quebrando medidas do recém-adotado sistema métrico. No Rio, um aumento do bonde gera protesto de 4 mil diante do palácio imperial. Não atendido, insuflado por Lopes Trovão, o povo apelida o monarca de Pedro Banana e rompe 1880 com a Revolta do Vintém: quatro dias de quebra-quebra e barricadas.

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O republicanismo

O bipartidarismo sofreu o primeiro abalo na década de 1860, com a cisão do Partido Liberal. Os dissidentes formaram o Partido Liberal Radical, pleiteando reformas, como uma maior descentralização, autonomia para as províncias, a extinção do Poder Moderador e abolição da escravidão. Na medida em que aumentavam as dificuldades para a implementação das mudanças, o grupo evoluiu para a formação do Partido Republicano.

Em dezembro de 1870, foi fundado, no Rio de Janeiro, o jornal "A República", dirigido por Quintino Bocaiúva, cujo número inaugural estampava na primeira página o Manifesto Republicano, criticando a centralização política e a monarquia. O documento, inicialmente, teve pouca repercussão. Porém, logo depois, começaram a surgir adesões, especialmente de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Diversos clubes e jornais republicanos foram fundados.

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O republicanismo

Em São Paulo o republicanismo seduz a elite cafeeira, adepta do federalismo e de mais poder para si. Reunidos na Convenção de Itu, em 1873, fundam o Partido Republicano Paulista (PRP): dos 133 presentes, 78 eram cafeicultores.

Entre os presentes estavam Prudente de Morais, presidente da República (1894-1898); Campos Sales, presidente da República (1898-1902); Rodrigues Alves , presidente da República (1902-1906) e Washington Luís, presidente da República (1926-1930).

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O positivismo

O positivismo foi uma corrente filosófica criada pelo francês Auguste Comte (1798-1857) em meados do século XIX. Comte considerava que existiam três estágios na evolução das sociedades: o teológico, o metafísico e o positivo, correspondentes ao escravismo, feudalismo e capitalismo. Ele acreditava que o mundo ocidental tinha ingressado em um período de transição entre as etapas metafísica e positiva, com a Revolução Francesa derrubando a monarquia. Para alcançar a fase positiva, tornava-se necessário o estabelecimento de uma república ditatorial, única forma de atingir a "ordem e o progresso". Em linhas gerais, estas são as principais características do positivismo no que concerne à sua influência no Brasil na segunda metade do século XIX.

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O Exército e o positivismo

Essas idéias foram adaptadas à realidade brasileira e tiveram uma grande influência entre diversos intelectuais, como Miguel Lemos, Teixeira Mendes e Benjamim Constant, que fundaram, em 1876, a primeira sociedade positivista, mais tarde transformada em Sociedade Positivista do Rio de Janeiro. Ela deu origem à "Igreja Positivista do Brasil, em 1881. Os positivistas criticavam a escravidão e defendiam reformas no âmbito do ensino. "Reformar conservando" era o lema dos positivistas vinculado à preservação da "ordem".

A difusão do positivismo no exército foi feita por Benjamim Constant, professor da Escola Militar desde 1873. Nas suas pregações aos "cadetes filósofos" exaltava o papel íntegro dos militares, "puros e patriotas". Assim esses jovens oficiais se sentiram responsáveis por uma "missão salvadora" para arrancar o país do atraso e dos políticos "corruptos, venais e sem nenhum patriotismo". Assim, existia todo um clima, no final do Império, para um golpe militar.

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A Questão Religiosa: a Igreja contra o Império (1872-1875)

As relações entre a Igreja e o Império começaram a entrar em crise quando o Frei Vital Maria, bispo de Olinda, decidiu colocar em prática, em 1872, a bula Sylabbus, publicada pelo papa Pio IX oito anos antes. O documento proibia a ligação entre católicos e maçons, amplamente praticada no país, inclusive pelos principais personagens políticos do período. Abala-se a longa coexistência Igreja-Maçonaria.

Para agravar a situação, o bispo do Pará, D. Antonio Macedo Costa, imitou as iniciativas de Frei Vital. D. Pedro, maçom e autoridade

eclesiástica pelo poder do padroado, ordena o fim da interdição.

Os bispos negam, são presos, condenados a trabalhos forçados. O caso divide o País. Republicanos defendem o cetro contra o báculo; teatros ridicularizam o clero; o bispo do Rio é apedrejado no púlpito. Uma missão de paz em Roma fracassa. Ao fim, d. Pedro anistia os bispos (17/9/1875) e abafa o caso, mas a Igreja não o perdoa.

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A Questão Militar: a Exército contra o Império (1883-1889)

A Questão Militar , longa série de incidentes, gira em torno do veto ao envolvimento de oficiais em polêmicas públicas. O cel. Sena Madureira homenageia, na Escola de Tiro, o jangadeiro-abolicionista Francisco José do Nascimento; é exonerado. Outro artigo leva a dois dias de prisão o cel. Cunha Matos. A oficialidade indignada hostiliza o ministro da Guerra, autor das punições.

No Rio Grande do Sul, faz assembléia com aval do mal. Deodoro da Fonseca, herói do Paraguai. Sucedem-se as insubordinações, artigos, punições. Deodoro, cada vez mais envolvido, é exonerado, o que só eleva seu prestigio; 200 oficiais reunidos no Teatro Recreio Dramático, Rio (1887), elegem-no porta-voz de moção a d. Pedro contra as punições. Sitiado, o governo cede, demite o ministro, cancela as punições, mas não cai, o que cria no Exército o temor de "uma pérfida vingança". O general Floriano Peixoto, em carta a um amigo, prega a ditadura militar face à "podridão que vai por esse pobre País".

A crise ressurge com a punição de Benjamin Constant por um discurso (outubro de 1889) na Escola Militar.

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O prestígio do Império se desvanece. D. Pedro, enfermo desde 1887 (correm boatos de que está louco ou senil), apaga-se. A herdeira, apesar da Lei Áurea, é tida como uma beata manipulável por seu consorte, conde D'Eu, o Francês. Este tem fama de cruel, na Guerra do Paraguai e na gestão de seu imenso cortiço, o Cabeça de Porco, morada de 4

mil famílias do Rio. A Câmara de São Borja, Rio Grande do Sul, propõe

(1887) plebiscito sobre a República, face a perspectiva

de ter no trono "uma mulher obcecada por uma

educação e casada com um príncipe estrangeiro".

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As reformas do Gabinete Ouro Preto

O governo imperial, através do Gabinete do Visconde de Ouro Preto, percebendo a difícil situação política em que se encontrava, apresentou, numa ultima tentativa de salvar o Império, à Câmara dos Deputados um programa de reformas políticas, do qual constavam:

• A autonomia para as províncias;

• A liberdade de voto;

• Abolição do Senado vitalício;

• Reforma da Lei de Terras, democratizando a posse da terra;

• A liberdade de ensino e seu aperfeiçoamento;

• A liberdade religiosa.

Era tarde...

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O último baile

O Baile da Ilha Fiscal (9/11/1889), ofertado pelo imperador aos oficiais do cruzador chileno Almirante Cochrane, absorve em refinados preparativos toda atenção da corte imperial, que nem suspeita do que está por vir. Consome 800 kg de camarão. Criticado e caricaturado à farta, torna-se o símbolo do esbanjamento e imprevidência de um regime em agonia.

Dançou-se muito no baile da Ilha Fiscal, mas o que os convidados não imaginavam, nem o imperador D. Pedro II, é que se dançava sobre um vulcão. Mal sabiam o visconde de Ouro Preto, o imperador e os convidados ilustres que o baile, em vez de pavimentar a suposta solidez do Império, marcaria o seu último.

Carta de vinhos servida no Baile

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O último baile

À mesma hora em que se acendiam as luzes do palacete para receber os milhares de convidados engalanados, os republicanos reuniam-se no Clube Militar, presididos pelo tenente-coronel Benjamin Constant, para maquinar a queda do Império. "Mais do que nunca, preciso sejam-me dados plenos poderes para tirar a classe militar de um estado de coisas incompatível com sua honra e sua dignidade", discursou Constant na ocasião, tendo como alvo justamente o Visconde de Ouro Preto.

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O caminho do golpe

Deodoro, que sempre fora monarquista e era amigo do imperador, só adere à República em 11/11/1889, indisposto com o gabinete Ouro Preto devido às novas punições. Enquanto isso oficiais do 1° e 9° Regimentos de Cavalaria, 2° de Artilharia de Campanha e Escola Superior de Guerra comprometem-se a seguir Benjamin Constant "até a resistência armada".

Existiam dúvidas a respeito do encaminhamento do golpe militar. A conspiração que derrubou a monarquia não foi preparada de maneira hábil e cuidadosa. Ficou restrita a conversas entre poucos que tinham receios sobre o rumo dos acontecimentos. Só no dia 11 de novembro, Benjamim Constant convidou civis para participar das conversações secretas conspirativas.

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“O povo assistiu àquilo bestializado...”

Na madrugada de 14-15 de novembro, as unidades fiéis a Constant (20% do total) se rebelam e marcham para o campo da Aclamação (hoje Praça da República), com Deodoro no comando. No QG do Exército, o governo tenta organizar a resistência, travada pelo mal. Floriano, ajudante-geral do Exército. O min. da Marinha, barão de Ladário, troca tiros diante do prédio, no único episódio sangrento de 15 de novembro. Deodoro diz aos ministros que o gabinete está dissolvido; podem todos ir para casa, exceto Ouro Preto e o titular da Justiça, que ficam presos. Depois, desfila a tropa pela cidade. Até aí não se fala em República. “O povo assistiu àquilo bestializado, sem saber o que significava, julgando tratar-se de uma parada" (Aristides Lobo, 18/11).

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Revolução em nome da ordem

A proclamação da República ocorre à tarde na Câmara Municipal. As províncias passam a estados federais. Exército e Armada, "em nome da nação", formam o governo provisório com Deodoro à frente. No paço, o monarca deposto nomeia em vão um novo governo imperial. Intimado a deixar o País, à noite, reclama que não é "negro fugido" para escapar às escondidas. Recusa subsidio de 5 mil contos e embarca (17/11) para o exílio na França, onde morre em 1891.

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O fim...

A derrubada da monarquia foi produto das suas próprias dificuldades em lidar com as mudanças econômico-sociais ligadas à crise do escravismo e o início de relações capitalistas. Outras adversidades eram: a falta de apoio de

parte das elites fundiárias, que se sentiram traídas pela abolição; as críticas da imprensa republicana e de uma parcela da intelectualidade urbana, além das chamadas "questões" "religiosa" e

"militar", especialmente os conflitos envolvendo militares.

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E o povo...

Este quadro não era percebido pelo homem comum no Brasil do final do século XIX. Quando a monarquia foi derrubada, o Imperador e a Princesa Isabel gozavam de imenso prestígio junto à população mais humilde, principalmente entre os ex-escravos da cidade do Rio de Janeiro. Assim, nada mais natural que no dia 22 de novembro de 1889, na Rua do Ouvidor, no centro da capital, um grupo de negros e mulatos gritassem "viva à monarquia e morte aos republicanos". Essas manifestações provocaram uma repressão, no Rio de Janeiro, contra os "vadios" e as "classes perigosas". Em dezembro de 1889, muitos foram exilados para Fernando de Noronha. A "República", no seu sentido etimológico como "coisa pública", não estava presente na cabeça da maioria dos conspiradores. Estes receavam uma participação popular. O lema positivista "Ordem e Progresso" caracteriza a permanência de uma sociedade excludente e hierarquizada.

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“E depois este sistemático desdém pelo povo, declarado incompetente para fazer a escolha de seus representantes políticos e açoimado de vícios no manejo desse direito...é nada menos do que a pretensão desairosa e extravagante de dividir ainda e sempre a maioria válida de uma nação em dois grupos - de um lado os privilegiados, os possuidores sem monopólio das luzes e da dignidade moral, e de outro lado, os ineptos e viciados, os incapazes de qualquer ação política acertada! Àqueles, o governo, a direção, o mando, aos outros a eterna tutela, a minoridade, a incompetência perpétua. É o regime do privilégio na sua mais recente edição, porém sempre o privilégio, queremos dizer o abuso e a compressão.”

Silvio Romero, 1893

Em 21/4/93, o plebiscito fixado pela Constituição de 1988

ainda conta 10,2% de adeptos da monarquia.