nessahan alita - 5 o magnetismo nas relações sociais - livro verdadeiro

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  • 1O Magnetismo nas Relaes SociaisA Submisso do Ser Humano atravs de suas Fraquezas

    Por Nessahan Alita

    (Inspirado em um livro de Eliphas Lvi)

    Dados para citao:

    ALITA, Nessahan (2002). O Magnet ismo nas Relaes Sociais: A Submisso do SerHumano atr avs de suas Fraquezas . Edio vir tual independen te de 2008.

    Palavras-chave:

    magnet ismo - a tr ao - encan tamento - paixes - von tade

  • 2O Magnetismo nas Relaes Sociais

    In troduo

    1. As atraes e r epulses

    2. As cadeias magnt icas

    3. A resistncia e a manipulao das cor ren tes

    4. A manipulao e a instrumental izao das crenas

    5. As tendncias de insta lao da crena

    6. A natureza da paixo humana

    7. A apoderao da von tade a lheia

    8. O carter auto-dominatr io da man ipulao

    9. A singular idade compor tamental do elemento passivo

    10. O uso da simpat ia da maior ia dos elos de uma cadeia por homens vis

    11. O magnet ismo nas polmicas

    12. A dinmica psicolgica do encan tamento e da fei t iar ia

    13. Emancipao do compor tamento na conduo das cor ren tes magnt icas

    Concluses

  • 3Introduo

    Neste pequeno ensaio tenho por meta demonstrar a necessidade de

    superarmos nossas fraquezas passionais: os dese jos e os medos.

    Por meio das fraquezas, estamos expostos maldade e manipulao.

    Somos vt imas de vr ias circunstncias pela debilidade de nossa vontade.

    O homem nasce da vitr ia sobre o animal, sobre o inst into. Vencer o

    inst into no enfraquec- lo ou supr im- lo, mas domin-lo, t ranscend-lo,

    dir igi- lo e us- lo em nosso favor. Em uma palavra: assimil-lo.

    A domnio sobre os inst intos requer a morte dos egos, elementr ios,

    agregados psquicos, eus, va lores, complexos ou como queiramos cham-

    los: os nossos defeitos. Nos confere um poder inigua lvel. Entretanto,

    aquele que fizer uso errado ou egosta do poder ser um cr iminoso e ter

    que responder por isso.

    Apenas com a finalidade de dar orientao e permit ir s pessoas que

    se protejam das malignas influncias hipnt icas da vida que forneo esses

    importantes conhecimentos sobre a manipulao do homem.

    Esclareo que os conhecimentos cont idos neste livro no apresentam

    nenhuma relao com as tcnicas hipnt icas e/ou manipulatr ias mas, ao

    contrr io, resultam de reflexes filo s ficas diametralmente opostas. A

    inteno deste t rabalho auxiliar as pessoas a resist irem a mlt iplas

    influncias hipnt icas, sugestes subliminares, influncias ps quicas,

    manipulaes mentais e fascinaes, combatendo as nefastas influncias de

    quaisquer tcnicas e processos de ludibr iao manipulatria que

    int ensifiquem o adormecimento da conscincia. Posiciono-me

    completamente a favor do despertar da conscincia e radica lmente contra o

    seu adormecimento.

    Desejo- lhe a vitr ia.

  • 41. As atraes e repulses

    Em 29 de dezembro de 2002.

    As relaes sociais obedecem a pr incp ios magnt icos como o fazem

    os corpos inanimados.

    Os seres humanos instalam entre si e com o mundo relaes de

    atrao e repulso: so atrados pelo que gostam e repelidos pelo que

    detestam. Quando so irresist ivelmente at rados ou repelidos, atua o

    magnet ismo universal.

    Por trs das influncias magnt icas esto as fascinaes. A qualidade

    das mesmas determinam o que ser at raente ou repelente. Quanto mais

    expostos fascinao est ivermos, mais vit imados pelas c ircunstncias

    seremos.

    Os fluxos magnt icos formam estruturas sociais que vo dos pares de

    casais, famlias ou parcer ias de amigos at a humanidade inteira.

    A fora psquica promove agregaes sociais por afinidade simpt ica

    e desagregaes por efeitos ant ipt icos. A simpat ia se or igina da

    convergncia de desejos e a ant ipat ia da divergncia.

    O sent ido assumido pelo desejo o fluxo da libido. Uma mesma

    pessoa possui mlt iplos e conflitantes fluxos libid inais. Sua linha

    psico lgica pr incipal ser determinada pelos fluxos libid inais

    predominantes, os quais a expem ao per igo da manipulao por um inimigo

    astuto, que tenha exper incia na dominao dos sent imentos alheios.

    Os manipuladores intensificam a simpat ia ou a ant ipat ia por meio da

    excitao dos desejos conscientes e, pr incipalmente, inconscientes de sua

    vt ima, levando-a dependncia, entrega e submisso completas. O

    segredo de seu perverso poder a engenhosa estratgia de ident ificar as

  • 5paixes da vt ima que lhe sero teis, est imul-las e acentu-las. A vt ima

    deste modo induzida, inconscientemente, a ador-lo, tem-lo ou odi-lo.

    A fora magnt ica muito per igosa. Seu poder de atrao pode ser

    muito intenso e nos fulminar. Para moviment-la precisamos de um ponto

    de fixidez, o auto-centramento, o qual obt ido por meio da disso luo dos

    complexos que nos confere liberdade comportamental e o poder de resist ir

    s at raes e repulses fatais do magnet ismo universal.

    sempre conveniente, na medida do possvel, evit ar ant ipat ias mas

    para tanto necessr io disso lver os egos. A ant ipat ia no nos em geral

    favorvel a no ser que disponhamos de intensa dose de simpat ia para lhe

    fazer frente de maneira muito segura. Devemos evitar ao mximo a

    constelao de ant ipat ias.

    Quando mexemos na corrente magnt ica, isto , no fluxo libidina l

    int erpessoal ou intrapessoal, desencadeamos reaes. A prescincia das

    mesmas fundamental para no sermos fulminados.

    O meio para determinar simpat ias e ant ipat ias a observao. Por

    meio da observao o manipulador descobre quais so os objetos de amor e

    de dio. A afinidade simpt ica se estabelece pela correspondncia de

    at itudes, pela convergncia de comportamentos. Se atuarmos contrar iamente

    ao que algum detesta e favoravelmente ao que algum ama, entraremos em

    afinidade simpt ica.

    Para se superar uma grande ant ipat ia prec iso uma dose super ior de

    simpat ia. A supresso de um dio ou mgoa imensos requer a aplicao

    exaust iva do magnet ismo em sent ido contrr io e proporcional host ilidade

    sent ida.

    Somos seres altamente mecnicos. Reagimos aos acontecimentos

    automat icamente e dentro de padres detectveis. Para sermos induzidos a

  • 6aes ou estados de mente e sent imento, basta que o manipulador conhea a

    forma de provoc- los.

    Por exemplo, induzimos algum que sente prazer na oposio gratuita

    a defender nossas idias quando fingimos defender idias opostas s que em

    realidade so as nossas. Induzimos um fo foqueiro a propagar uma not cia

    quando lhe pedimos para ocult- la sob a alegao de ser um grande segredo.

    Assim age o manipulador.

    O pr imeiro passo na manipulao a ident ificao dos

    condicionamentos do outro. O segundo passo descoberta do agente

    desencadeador da ao mecnica. O terceiro passo a instrumentalizao

    desse condicionamento, a descoberta de situaes em que o mesmo t il

    aos nossos propsitos. Ento basta apertar os botes e as reaes se

    desencadeiam.

    O manipulador faz um levantamento dos condicionamentos

    comportamentais e dos objetos que exercem atrao e repulso em sua

    vt ima. Ento os ut iliza conforme as circunstncias.

    Quando as reais intenes do manipulador so percebidas, sua

    imagem sofre um desgaste perante a vt ima. Para recuper-la, este precisar

    agir como se o objeto de seu desejo fosse a ltamente desinteressante e, em

    seguida, dar cont inuidade aos atos encantadores.

    Na manipulao opera-se por alternncia. No se ope fora contra a

    fora mas, ao contrrio, se intensifica e instrumentaliza os fluxos de fora

    existentes. A ins istncia em uma nica direo produz um fluxo de fora

    resistente na direo contrr ia. A lisonja e o car inho cont nuos e excessivos

    conduzem irr it ao e ao fast io . A indiferena e o desprezo cont nuos

    conso lidam a fr ieza e afastamento.

    O manipulador combina dia let icamente os opostos: toma at itudes

    encantadoras ao mesmo tempo em que simula estar des interessado. Ento

  • 7vai acompanhando a evo luo do processo de enlouquecimento de sua

    vt ima.

    Pode-se induzir no outro estados internos por simpat ia ou ant ipat ia.

    Todas as nossas at itudes desencadeiam no outro reaes mecnicas contra

    as quais se indefeso. Para instrumentaliz-las, basta observar os efeitos de

    cada at itude e descobr ir situaes em que ser iam desejveis.

    As pessoas reagem automat icamente ante as circunstncias, de modo

    padronizado. So abso lutamente manipulve is at ravs de um jogo de atrao

    e repulso que corresponde ao fluxo do magnet ismo universal.

    A voz e o olhar so poderosas ferramentas de encantamento. Induzem

    a at itudes de modo facilmente ver ificvel.

    Encarar ou ofender verbalmente um homem de natureza exaltada

    induz- lo, sem chances de defesa, a cr iar um conflito e cair em estados

    psico lgicos negat ivos.

    A simpat ia se est reita e intensifica quando algum toma as idias do

    outro e a desenvo lve e amplifica como se fossem suas at ravs da palavra.

    Ao endossar as frases do prximo, estar cumprindo sua vontade.

    O contato cont nuo mas no desgastante por insist ncias unilaterais

    essenc ial no instalao da simpat ia ou ant ipat ia. A distncia pro longada

    induz ao esfr iamento, neutralidade.

    Em torno de um objeto de desejo ou de dio, pode-se cr iar toda uma

    cadeia magnt ica envo lvendo um nmero infinito de pessoas.

    Obviamente, o desejo est cont ido no dio sob forma de intensos

    impulsos de buscar a distncia ou de ocasionar danos ao objeto detestado.

    Querer afastar-se de uma situao quase o mesmo que querer aproximar-se

    da situao oposta.

  • 8Nos nve is inconscientes da psique, o magnet ismo apresenta liberdade

    de direcionamento e intensidade em seu fluxo. Cont inuamente nos

    influenciamos reciprocamente sem o perceber. Eis o per igo do manipulador

    hbil.

    O manipulador hbil consegue enxergar a parte oculta da psique

    alheia. Ident ifica e instrumentaliza fraquezas que a vt ima desconhece

    possuir para t ransform-la em um fantoche excitando suas debilidades e

    induzindo crenas.

    Os padres de atrao e repulso de cada pessoa apresentam um

    estrato ind ividual, exclusivo dela, e um estrato colet ivo, compart ilhado com

    outras pessoas ou at mesmo com a humanidade inteira.

    A simpat ia se instala quando uma pessoa considera que outra a

    auxiliar a realizar seus desejos. Ant ipat ia se instala na situao oposta:

    quando a sat isfao do desejo ameaada.

    Opor-se sat isfao do outro torn- lo nosso inimigo e favorec-la

    torn- lo nosso amigo. Dar livre curso aos desejos alhe ios tornar a si

    mesmo de algum modo t il e necessr io ao outro.

    Contra os prprios desejos, a resistncia dos seres humanos comuns

    nula por no terem disso lvido o ego. No se tem not cia da existncia de

    algum que se torne inimigo de uma pessoa por ter sido auxiliado pela

    mesma na sat isfao de seus desejos, sonhos, anelos etc. Depreende-se,

    assim, que este um ponto fraco que nunca se fecha. Tal abertura

    manipulao ut ilizada pelos malfe itores expertos mas pode tambm ser

    aproveitada em casos justos nos quais precisamos nos defender ou ajudar

    algum.

    Uma vez excitada a paixo ou desejo, seu portador se mobiliza para

    sat isfaz- las, at irando-se em direo ao objeto cobiado como uma bala de

    rev lver em direo ao alvo. algo abso lutamente mecnico e irresist ve l.

  • 9O controle deste processo exige do manipu lador a capacidade de influenciar

    sem ser influenciado, de encontrar nos impulsos alhe ios ut ilidades, de

    aceit - los tal como se manifestam e de conhecer as palavras e aes que os

    int ensificam.

    So part icularmente int eressantes os casos em que o elemento

    manipulado acredita estar enganando o manipulador ao ter os seus desejos

    sat isfeitos. As pessoas mais propcias a este t ipo de enganao so as pouco

    evo ludas, muito pr imit ivas e que querem sempre levar vantagem s custas

    do prximo. Obviamente, exigida imensa fr ieza e indiferena por parte do

    elemento at ivo para que r idicular izaes, escrnio etc. sejam suportados

    com tranquilidade.

  • 10

    2. As cadeias magnticas

    Quando as vontades se unem, formam cadeias magnt icas (egrgoras).

    Por afinidade simpt ica, formam-se e propagam-se socialmente espontneas

    cadeias de sent imentos comandadas desde o centro por indivduos

    manipuladores. As cadeias podem ser de teor polt ico, comercial, art st ico,

    religioso etc. A abrangncia temporal e espacial que possuem var ivel.

    As guerras so exemplos de cadeias magnt icas altamente destrut ivas

    e se devem ao choque de cadeias antagnicas.

    No atual mundo globalizado, formam-se cadeias simpt icas de

    abrangncia geogrfica internacional que podem ter como ncleo uma

    empresa, um governo, uma not cia, uma grande produo do cinema ou da

    arte.

    Quanto mais extensa for uma cadeia simpt ica, maior ser sua fora.

    A fora simpt ica se propaga pela comunicao entusiasmada cont nua e se

    desencadeia por prt icas s lidas.

    Os seres humanos comuns necessitam de liderana. Um homem de

    gnio forma sua prpria cadeia para at ingir seus objet ivos. Adquire um

    ponto de fixidez, a imobilidade psquica, e desencadeia em seguida uma

    ao circular perseverante de inic iat ivas. Possui grande fora de ao e

    direo. Se for um gnio do bem, ut ilizar sua fora para ajudar seus

    semelhantes. Se for um gnio do mal, os levar desgraa e ter que

    responder por isso. Hit ler fo i um gnio do mal. Ho je h muitos gnios do

    mal at ivos.

    O movimento do agente magnt ico duplo e se mult iplica em sent ido

    contrr io pois a cada ao corresponde uma reao equivalente (por

    exemplo: o pr ivilgio concedido a algum desencadear a simpat ia do

    beneficiado por quem o concedeu mas, ao mesmo tempo, provocar a

  • 11

    ant ipat ia dos inimigos do beneficiado ao benfe itor). O segredo consiste em

    calcular as reaes antecipadamente e evitar agir por impulso. Aquele que

    no se iso la das correntes magnt icas fulminado por no resist ir

    tentao de sat isfazer seu desejo a despeito das reaes contrr ias e

    per igosas que sua sat isfao possa desencadear. Cada ato cria uma

    sequncia encadeada de efeitos em rede.

    As opinies circulantes influenciam diretamente a fora do agente

    magnt ico formador da cadeia, mot ivo pelo qual preciso avaliar

    cuidadosamente a abrangncia e a pro fundidade das predisposies

    existentes, sob o risco de se desencadear uma catstrofe contra ns mesmos

    ou contra o mundo.

    O amor super ior ao dio por ser intr insecamente simpt ico. Cr isto

    fo i crucificado por estar influenciando a mult ido progressivamente e em

    um sent ido contrr io aos interesses dos centros das cadeias mais fortes de

    sua poca.

    As cadeias esto submet idas a um movimento pendular, evo luem e

    invo luem. Uma cadeia fina lizante sucedida por uma cadeia oposta.

    Atualmente (ano 2003), a cadeia simpt ica mundia l que tem os EUA

    como centro entrou em lento movimento regress ivo. Os democratas

    retardam esse processo histr ico atravs de sua maleabilidade e os

    republicanos, seus antagonistas, o apressam atravs de at itudes unilaterais.

    George Bush acelera a difuso do ant i-americanismo no mundo sem o

    querer e apressa, portanto, a derrocada do impr io dentro da escala

    temporal das idades das naes.

  • 12

    3. A resistncia e a manipulao das correntes 1

    Uma chave ut ilizada pelos manipuladores para o encantamento e o

    enfeit iamento a capacidade de esperar os result ados de antemo e

    acompanh- los lentamente, com pacincia e sem ansiedade por at ingir a

    meta. O pretenso encantador que esteja tomado de paixo fracassar por no

    suportar a espera. O mesmo necessit a ir contra si mesmo, conter-se, para

    acompanhar a evo luo do processo.

    impossve l que algum se ja escravo e senhor ao mesmo tempo, com

    relao a um mesmo fluxo magnt ico. Se uma pessoa est iver imune

    atrao, ser senhor do objeto; se for vit imada pela paixo, ser escrava.

    por isso que aqueles que tentam manipular as foras magnt icas para fins

    pessoais so fulminados mais cedo ou mais tarde.

    Res ist ir s at raes e repulses resist ir s tentaes. Os agregados

    psquicos so os fatores de debilidade. Quando mortos, estamos imunes

    manipulao pois as fraquezas estaro eliminadas. Aqueles que no

    suportam as tentaes co locam a sat isfao dos desejos frente dos efeitos

    co laterais das aes e se que imam ao tentar cr iar cadeias simpt icas que

    atendam aos seus desejos e concupiscncias po is no possuem presc incia

    das reaes sociais que sero liberadas. A pessoa tomada por um dse jo est

    louca, sendo incapaz de julgar e discernir.

    Quanto mais dbil, propensa hister ia, nervosa, impressionvel,

    fascinvel e menos resistente psiquicamente aos acontecimentos for uma

    pessoa, maior ser seu poder inconsciente de concentrao e propagao da

    fora magnt ica e sua atuao como elemento propulsor da cadeia. O

    entusiasmo altamente contagioso.

    1 Existem manipulaes sadias, utilizadas em legtima defesa, que no violentam o livre-arbtrio alheio e noatendem a fins egostas. Seria melhor defin-las como contra-manipulaes. Existem tambm manipulaesegostas e prejudiciais. Estas so ilegtimas e eu as combato.

  • 13

    Atravs de at itudes, o char lato exalta a paixo alheia. Entretanto, a

    paixo concentrada alt amente contagiosa e pode fulminar o pretenso

    manipulador em um movimento retrgrado caso esteja tomado por desejo

    passiona l e no se iso le da corrente magnt ica que concentrou e comeou a

    movimentar. O iso lamento se consegue pela recordao de si e pela morte

    dos egos.

    Quanto mais mortos est ivermos psiquicamente, tanto menos

    condicionados estaremos e tanto maior ser nossa capacidade de nos

    comportarmos de maneira a simpat izar ou ant ipat izar com o outro.

    A disso luo dos egos erradica os condic ionamentos

    comportamentais, nos proporcionando liberdade interna para agirmos tanto

    de uma maneira como da maneira oposta, de acordo com as necessidades

    circunstanc iais. Ao invs de vt imas, nos convertemos em senhores das

    circunstnc ias.

    Para dominar o fluxo dos acontecimentos necessr io, antes de tudo,

    no possuirmos condic ionamentos comportamentais. Os condicionamentos

    comportamentais so fraquezas por onde somos manipulados pelas

    circunstnc ias.

    Aquele que se entrega a uma paixo no pode domin-la po is est

    dominado. O simples aparecimento de um ve lhaco que o tome atravs desta

    paixo o converter em escravo.

    Aquele que est iver imune ao magnet ismo, ou seja, fascinao e,

    consequentemente, sem o condicionamento comportamental correspondente,

    pode influenciar algumas pa ixes do prximo por meio de outras paixes

    que o mesmo possua po is os fluxos libidina is de cada pessoa so mlt iplos

    e conflitantes. Deste modo, podemos fazer com que uma pessoa que nos

    odeia passe a nos amar ou decepcionar algum que nos admira. Toda ao,

  • 14

    at itude ou comportamento exerce em efeito sobre os sent imentos de quem a

    sofre ou presencia.

    Enquanto tenhamos os egos vivos, seremos manipulveis. Se, em um

    dado instante, algum for incapaz de nos manipular, isto se dever

    unicamente ao fato de no estar emit indo os comandos corretos. Somos

    robs viventes, de carne e osso, autmatos que atuam mecanicamente de

    acordo com as circunstncias. Basta que sejam apertados alguns botes para

    que tenhamos certos sent imentos, determinados pensamentos e executemos

    automat icamente as aes correspondentes. O que impede nossa total

    manipulao unicamente o desconhecimento dos corretos comandos por

    parte do manipulador e no nossa resistncia ao fatal poder do magnet ismo

    universal. Este o ponto central a ser compreendido.

    O desconhecimento a causa das tentat ivas de enfeit iamento e

    encantamento que surtem efeitos contrr ios aos almejados. Explica, por

    exemplo, porque um homem que entrega flores de joelhos a uma mulher no

    conquista seu corao ao passo que outro que a ignora ou rejeit a por

    consider- la feia torna-se objeto de sua obsesso. O que ocorre aqui um

    desconhecimento da mecnica do magnet ismo: aquele que entrega flores no

    compreende que seu ato surte um efeito oposto ao esperado.

    So fatos interessantes de se observar as provocaes irr itantes que

    visam enfurecer ou as agresses que visam fer ir o prximo. O

    agressor/provocador necessita do sofr imento de sua vt ima e atua de modo a

    alcanar esta meta, tendo por motivao a crena de que seu ato surt ir o

    efeito imaginado. Quando o efeito obt ido com tais at itudes host is oposto

    ao esperado pelo manipulador, este sofre as consequncias do processo que

    cr iou. Isso se chama "efeito especular do feit io". O ve lhaco, ao tentar

    fer ir, est movido pelo desejo de causar so fr imento e, portanto, submet ido a

    uma paixo. Se a psiquismo da vt ima, por sua peculiar idade natural ou

    treinamento espir it ual, repele a fora magnt ica, isto , no aceita a

    influncia, a paixo do agente no sat isfeit a e o mesmo so frer na

  • 15

    proporo dos seus desejos de causar o mal, os quais se convertero em

    verdadeiros parasitas inter iores que o t ragaro vivo. Por isso se diz que o

    feit io repelido retorna quele que o lanou. Exemplos: se um homem tenta

    me r idicular izar ou irr itar e descobre que seu ato provocador me faz bem ao

    invs de mal, por eu considerar sua at itude r idiculamente engraada ou

    agradvel, sent ir em si mesmo os estados emocionais negat ivos que havia

    dest inado a mim; ento se enfurecer com a inteno de me amedrontar para

    que eu so fra com o medo mas, se descobr ir que considero suas ameaas vs

    por serem vis ivelmente ino fensivas, so frer mais ainda. Seu so fr imento ser

    diretamente proporcional sua impotncia em me fazer mal. Seu so fr imento

    somente ir abandon- lo quando conseguir me causar algum dano. O

    fracassado manipulador insist ir dia e no ite na tentat iva de t ransfer ir sua

    dor para mim. Sua situao ser ainda pior se eu no lhe houver dado

    nenhum mot ivo para me odiar. Ento, neste caso, eu terei repelido todos os

    seus fluxos magnt icos, todos os seus feit ios e tentat ivas de hipnot izao.

    Apesar de eu estar aparentemente pass ivo, minha ausncia de reao e meu

    silncio sero sent idos como atos provocadores de mlt iplos sent imentos e

    pensamentos resultantes do t rabalho invo luntr io da mente do inimigo, a

    qual ento ir corro- lo 2. A morte do ego nos t ransforma em um espelho que

    refrata os feit ios. Exemplo: um vendedor que fracassa em encantar o

    cliente, um sedutor que se apaixona miseravelmente por uma mulher que

    tentou encantar etc.

    2 Vale a pena inserir mais um exemplo hipottico. Se A age de modo a tentar provocar a fria de B, A cometeum ato de vontade. Se B se enfurece, B submeteu-se pela paixo vontade de A. Se B, porm, se determina ano aceitar a provocao, B contrape sua vontade vontade de A. Se a vontade de B for mais forte que avontade de A, ser A o submetido e B poder comand-lo. Ao resistir provocao, B poder, se tiver umavontade poderosa e livre das influncias provocativas, chegar at mesmo a cometer atos de benevolncia emrelao a A e vici-lo em tal.

  • 16

    importante emanciparmos a vontade, torn-la livre das influncias

    das circunstncias, o que se consegue por meio da morte dos egos.

  • 17

    4. A manipulao e a instrumentalizao das crenas

    Um dos requis itos para provocar a paixo ocultar esta inteno para

    que o ego da vt ima no reaja manipulao de sua mente. Caso esta

    chegue a tomar conscincia das reais intenes do cr iminoso, reagir com

    indignao ao fato de estar sendo manipulada e usada, compreender que os

    atos falsos e fingidos do manipulador tm como nico objet ivo o controle

    do seu comportamento.

    O char lato hbil faz a vt ima crer que domina a situao e que o est

    enganando. A crena da vt ima em sua autonomia fundamental para evit ar

    reaes contrr ias.

    Os padres individuais ou colet ivos de reaes mecnicas obedecem

    s crenas. Manipu lar crenas manipular significados atribudos e, por

    extenso inequvoca, as reaes correspondentes. Os significados se fazem

    e alteram atravs de at itudes. O manipulador ser tanto mais per igoso

    quanto maior for sua liberdade interna, ou seja, sua capacidade de tomar

    at itudes antagnicas dentro de uma mesma s ituao.

    Por ser capaz de assumir o comportamento que quiser, o espertalho

    induz crenas a seu bel prazer. Atua como santo para que creiam que

    honesto ou como cafajeste para que creiam que desonesto. Atua como

    tmido para que creiam que covarde ou como arrogante para que creiam

    que poderoso.

    A fora magnt ica habilmente instrumentalizada em manipulaes da

    mente alhe ia hipnt ica. Um estado hipnt ico induzido um estado de

    crena. Se o hipnot izado for levado a crer que um co, lat ir. Se for

    levado a crer que seu amigo vai mat- lo, tentar se defender t ravando uma

    luta de vida ou morte.

  • 18

    As crenas possuem int ensidade var ive l, na proporo direta da qual

    influenciam a conduta. Acreditamos fac ilmente naquilo que desejamos ou

    tememos intensamente.

    Induzir crenas operar sobre a imaginao. Se estou convicto que

    fulano um ladro, porque assim o imagino.

    Os combates ideo lgicos, verbais ou corporais so definidos pelo

    poder de induo de crenas. Aquele que for induzido a crer que infer ior

    ao adversr io ser derrotado.

    As crenas e imaginaes definem, portanto, o sent ido fluxional do

    magnet ismo universal.

    Aquele que odeia atua de acordo com o que acredita poder fer ir o

    inimigo, fs ica ou emocionalmente, porque sua inteno prejudicar.

    Aquele que ama atua de acordo com o que acredita poder ajudar ou proteger

    a pessoa amada. O manipu lador pondera previamente a respeito das reaes

    de sua vt ima com a inteno de prev- las e desencade-las. Pergunta-se,

    diante do inimigo: de que maneiras esta pessoa tentar me prejudicar caso

    eu provoque o seu dio? Em seguida busca benefc ios ocultos entre as

    possveis tentat ivas de danificao. Se o ident ifica, calcula as

    probabilidades de que a vt ima reaja exatamente da forma prevista. Em

    seguida aperta os botes. As crenas do odiante condicionam suas aes em

    relao ao odiado. As aes do odiado so como botes psico lgicos que

    at ivam de forma exata certos comportamentos ao serem apertados. Tudo se

    resume em encontrar os botes corretos de acordo com os benefcios que

    busca o manipulador. Um erro de clculo pode ser fatal. O dio um dos

    impuls ionadores mais fortes do comportamento. Aqueles que eliminam o

    ego, eliminam os botes.

  • 19

    5. As tendncias de instalao da crena

    Os homens so to inocentes que acredit am rapidamente em qualquer

    comportamento que os pilantras simulem. Tambm tendem a crer, sem

    duvidar, no que dizem pessoas que admiram ou amam.

    Quando algo dito para algum atravs de palavras diretas, a pessoa

    tende mais facilmente a desconfiar do que quando dito indiretamente,

    at ravs de palavras que tenham o desdobramento desejado pelo manipulador

    ou atravs de comportamentos simulados. Este o mecanismo da

    propaganda subliminar ut ilizada por muitas empresas e desenvo lvidos por

    certos especialistas na arte de ludibr iar os t rouxas.

    Parece-me sobremaneira difc il aos homens duvidarem dos

    comportamentos simulados. Basta que algum simule desafiar um homem,

    r idicular iz- lo ou estar interessado em sua esposa para desviar rapidamente

    sua ateno de alvos que no tenham relao com esses pontos. Ento o

    mesmo se converter em vt ima indefesa.

    Uma mulher incapaz de crer que um homem est fingindo quando

    este simula o lhar para seus decotes ou para suas pernas. Um ind ivduo

    arrogante no consegue desconfiar da autent ic idade do comportamento

    daquele que simula ser submisso ou se envergonhar diante de seus ataques.

    Conduz-se fac ilmente a crena alheia quando se tenta direcion-las no

    rumo de suas tendncias naturais: seus desejos e medos. As pessoas

    acredit am facilmente no que temem e no que desejam 3. Deste modo, suas

    paixes so excit adas.

    Para domar sua vt ima, fundamental ao char lato engan-la,

    fazendo-a crer at ravs de at itudes manipulatr ias. Mas o manipulador

    3 Nossa credulidade menor em relao quilo que nos deixa indiferentes porque neste caso no h paixomas sim sbria imparcialidade.

  • 20

    tambm pode se valer da fala indireta ou da fala direta a um terceiro que

    seja caro vt ima.

    Um dos segredos da manipulao consiste em conseguir ident ificar as

    possibilidades de induo de crena no outro e instrumentaliz-las. O

    manipulador necessita saber em que campo aplic-las e pr incipalmente,

    diante da necess idade, saber qual a melhor crena que poder ser

    induzida. Se o manipulador falhar nesse c lculo, cair no descrdito e seu

    poder magnt ico ficar reduzido.

    A reao ant ipt ica do manipulador forma peculiar de expresso do

    outro dificulta a manipulao. Ao invs de opor fora contra fora, tentando

    forar a vt ima a deixar de ter a at itude ant ipt ica, os mais astutos

    consideram estratgico receber e aceitar a pessoa tal como e lhes chega,

    dir igindo suas crenas dentro das possibilidades fornecidas por suas

    tendncias passionais naturais. No possve l cr iar paixes novas mas

    possvel at iar e excitar paixes latentes previamente existentes. A

    dificuldade est em encontrar as tendncias espontneas do outro que sejam

    teis aos propsitos manipulatr ios.

    Na manipulao, importa mais a capacidade de encontrar sent ido nas

    fraquezas passionais previamente existentes da vt ima do que a capacidade

    de forar sua vontade. Mas para tanto, faz-se necessr io antecipar os

    resultados que a excit ao das paixes provocar e esco lher a paixo

    correta que resultar no result ado almejado. Trata-se de um clculo em que

    um pequeno erro pode ser fatal.

    A miopia em detectar os efeitos de uma paixo excitada pode fazer

    com que os mesmos sejam revert idos contra quem tentou desencade-los.

    Da a importncia, nos casos de legt ima defesa em que devo lvemos os

    feit ios e desart iculamos manipulaes, de termos uma conscincia

    penetrante e envo lvente, que consiga captar os fatos com abrangncia e

    profundidade para minimizar o risco dos efeitos co laterais e, ao mesmo

  • 21

    tempo, sermos altamente resistentes ao contra-impacto magnt ico do

    manipulador que est iver so frendo os efe itos do retorno especular.

    O contra- impacto magnt ico o efeito co lateral da tentat iva de

    fascinao e pode surgir como reao consciente de defesa legt ima por

    parte daquele que est recebendo o contra-feit io. Somente a fort ificao da

    vontade por meio da morte dos egos confere res istncia contra o mesmo.

    Quando o manipulador se depara com uma pessoa resistente ao seu

    magnet ismo, sente-se impotente e at ingido pela ant ipat ia. O caminho para

    no termos nossas crenas manipuladas iso lar o manipulador em suas

    tentat ivas de manipulao, para que ele perca o seu tempo com vs

    tentat ivas so litr ias.

  • 22

    6. A natureza da paixo

    A essncia da paixo a necessidade. Aque le que est apaixonado

    necess ita do objeto de paixo e no suporta a sua falta.

    O objeto de paixo sempre visto como super ior pelo apaixonado e

    jamais como infer ior ou igual. Da sucede que o repdio intens ifica o desejo

    do repudiado.

    Desejamos aquilo que acreditamos necessitar, mesmo que seja apenas

    para o nosso bem estar. No h desejo sem necessidade, ainda que apenas

    psquica. Quando no desejamos algo, no precisamos daquilo. E se temos

    averso, precisamos do afastamento.

    As mulheres amam alucinadamente os homens r icos, famosos e

    poderosos porque eles no necessit am delas. Os homens desejam

    ardentemente as mulheres lindas porque elas no necessit am deles.

    Sabendo disso, h pessoas que manipulam as paixes alheias e

    submetem o prximo a torturas emocionais. Atravs das at itudes,

    comunicam subliminarmente ao outro que esto em posies vantajosas e

    no necessitam de ningum, inclusive no sent ido afet ivo-ert ico. As

    pessoas que exercem sobre o sexo oposto atraes poderosas comportam-se

    como se t ivessem sua disposio, a qualquer momento, os seres mais

    int eressantes e desejveis do mundo. Deste modo, sugerem sut ilmente, de

    maneira quase invisve l: No preciso de voc porque disponho do amor e

    do desejo de pessoas muito melhores. O inconsciente das vt imas, ento,

    acredit a que estas pessoas alt amente at raentes sejam quase sobre-humanas e

    escondam algum segredo maravilhoso, prazeres inimaginveis e amores

    inefveis. Este o motivo pelo qual as mulheres se lanam com tanta

    determinao na conquista de um homem quando sabem que ele dispe de

    uma companheira maravilhosa, que todos gostariam de ter.

  • 23

    O processo de apaixonamento o processo de instalao de uma

    crena atravs da imaginao exalt ada: a crena de que o outro

    infinit amente super ior a ns e um caminho para a realizao de todos os

    nossos sonhos.

    Portanto, no jogo da paixo vence aquele que possui mais fora

    int erna e no se deixa fascinar.

    A oscilao intencional entre at itudes opostas uma art imanha do

    elemento at ivo, apaixonador, para est imular a paixo da vt ima at a

    loucura; aplicada por meio de estratgias prt icas que var iam

    infinit amente.

    As estratgias consistem, muitas vezes, em enviar sina is opostos ao

    inconsciente do elemento pass ivo de modo a confund-lo e submet-lo.

    Vejamos alguns exemplos:

    1. Marcar um encontro, aparecer e t ratar bem a pessoa de

    modo a encant- la. No dia seguinte faltar e apresentar uma desculpa a

    tempo, antes que o elemento pass ivo se polar ize na averso.

    2. Maltratar levemente o apaixonante e agrad-lo aps

    algum tempo, antes que se po lar ize na averso.

    Aquele que tenta encantar sem ter a fora int erna necessr ia para

    resist ir aos efeitos co laterais do encantamento fulminado pelas foras que

    desencadeou. Se um homem quer fazer-se notar por uma mulher que o

    despreza, basta fazer algo que a desagrada. Ser imediatamente notado e

    marcar a sua imaginao na proporo da ousadia do ato desagradvel. O

    excesso na ousadia de tal ato ou um erro qualitat ivo na direo do mesmo,

    porm, ser destrut ivo a esse homem. Se, alm de fazer-se notar, ele quiser

    aproximar-se dela, ter que contrabalanar o ato desagradvel com atos

    favorveis mulher. A dosagem e a forma como os atos contrrios se

    combinam somente pode ser determinada pe la exper incia, pelo

  • 24

    conhecimento especfico da personalidade sobre a qual se opera e pelas

    circunstnc ias especficas em que se d a operao magnt ica.

    Mulheres e homens exper ientes ou que so freram muit as vezes com o

    apaixonamento, desenvo lvem grande resistncia ao encantamento.

    Administ ram os opostos vontade porque no temem perder o parceiro.

    Dific ilmente caem nas garras de elementos apaixonantes porque esto

    protegidos pelo cet icismo e duvidam do comportamento simulado do

    manipulador.

    A superao da barreira manipu latria imposta pelos jogos de at itudes

    contrastantes alcanada quando o fluxo hipnt ico devo lvido ao emissor.

    A devo luo requer:

    1. que a vt ima apaixonante perceba a int eno das est ratgias do

    outro;

    2. comporte-se como se no t ivesse cincia do que se passa;

    3. conquiste a independncia interna (conseguindo ser indiferente

    tanto s manifestaes de amor como de desprezo);

    4. administ re os sent imentos do apaixonador com suas prpr ias

    estratgias.

    A vt ima apaixonante mant ida constantemente na dvida atravs das

    at itudes contraditr ias do apaixonador. Um mistr io cr iado e mant ido a

    todo custo por meio de at itudes incoerentes e contrastantes.

    As at itudes de afastamento, geradoras de repulso, nunca so

    extremas. So sempre tnues po is as at itudes extremas eliminam a dvida na

    vt ima e a tornam capaz de se decidir, optando pelo afastamento definit ivo.

    O apaixonador luta por no se polar izar em nenhum lado.

  • 25

    O mais desapaixonado o mais apto a jogar com suas prpr ias

    at itudes contrastantes de modo a confundir o outro a respeito de suas

    int enes e manter o mistr io. Ento a vt ima ser incapaz de t irar uma

    concluso definit iva a respeito do que o outro sente e do valor que confere

    relao por no ter parmetros coerentes para julgar.

    As at itudes so tomadas em funo do que acreditamos e se os dados

    forem contraditrios, no conseguiremos acredit ar se a outra pessoa nos

    ama ou nos despreza.

    No obstante, o manipu lador sugere vt ima, sem lhe dar certeza, que

    a ama e no de que a odeia. Excita sua imaginao ao suger ir-lhe que seu

    anelo de ser amado pode ser sat isfeito .

    A ment ira, sagrada lei regente das relaes sociais neste mundo

    tenebroso, se mescla constantemente verdade na fala e no comportamento

    geral do per igoso apaixonador.

    A proteo conseguida preservando-se a cincia de que as at itudes

    do apaixonador formam um conjunto de ment iras misturadas com verdades

    no qual no se pode acreditar e nem tampouco passar ao extremo oposto: o

    da descrena abso luta.

    H uma grande vantagem em sermos desapaixonados porque, deste

    modo, nos tornamos resistentes s tentat ivas de encantamento por parte de

    pessoas desonestas.

  • 26

    7. A apoderao da vontade alheia

    26 de maro de 2003Todo o comportamento humano apresenta reflexos ou reaes no

    outro. Tudo o que algum faz possui a inteno de provocar sent imentos,

    pensamentos e aes nas outras pessoas. Quando cumprimentamos a lgum,

    temos a int eno de faz- lo crer que somos amigveis e de sent ir simpat ia

    ou, pelo menos, evit ar que sint a ant ipat ia. Aquele que escarnece de uma

    pessoa, quer induz- la a se enfurecer ou a se sent ir diminuda. O bandido

    que aponta um rev lver para sua vt ima, quer induz-la a sent ir medo.

    Queremos ostentar luxo para que os demais sint am admirao ou inveja. A

    mulher que exibe seu corpo quer provocar desejo. Todos esses

    comportamentos, e quaisquer outros comportamentos sociais, so

    int encionais e manipulatr ios po is visam forar o prximo a ca ir em estados

    emocionais especficos. O ser humano, ainda inconscientemente, no age

    sem segundas int enes. Isso no , em si, mau, desde que no sirva como

    meio para prejudicar o prximo ou at ingir fins ego stas. As habilidades

    humanas devem ser empregadas para defesa legt ima ou para benefcio do

    prximo.

    A ident ificao dos rumos assumidos pelos fluxos libid inais de

    algum permit e est reitamento da afinidade simpt ica 4. Os fluxos libidinais

    so as fraquezas: amores, dios, anelos e terrores. Uma vez ident ificadas, as

    fraquezas podem ser instrumentalizadas para dominao.

    A instrumentalizao acontece pr inc ipalmente pela fa la, mas tambm

    pela expresso facia l e pelas at itudes.

    Para roubar a vontade alheia, o manipulador precisa falar mal daqu ilo

    que a vt ima detesta, elogiar aquilo que ela ama e dar-lhe segurana contra

    4 Atos de benevolncia, por exemplo, costumam despertar gratido em pessoas de boa ndole e abuso empessoas ms. Enquanto o bom retribui, o malvado se aproveita do benfeitor e abusa dos benefcios.

  • 27

    aquilo que teme. Deste modo, o fluxo libid inal int ensificado pela juno

    de fluxos libidinais equidirecionados e cr ia-se uma cadeia magnt ica.

    A eficcia do poder magnt ico diretamente proporcional vontade

    impressa no ato. Se o manipulador agir com vacilao, o elemento passivo

    no ser magnet izado suficientemente.

    Ao falar-se com int enso sent iment o e concentrao, imprime-se fora

    corrente magnt ica e esta aborve os fluxos da vontade alhia.

    Em geral, aquele que quer se apoderar da vontade de algum, costuma

    primeiramente est reitar sua afinidade simpt ica com esse algum, como

    fazem alguns vendedores. Para obter tal est reit amento, as paixes

    necess itam ser ident ificadas. Em seguida, o espertalho bendiz aquilo que a

    pessoa ama e maldiz o que a mesma detesta a fim de se encaixar

    perfe itamente na estrutura de suas paixes. Assim a afinidade simpt ica se

    estreita e se aprofunda at um ponto per igoso.

    Uma vez que a cade ia esteja at iva, ou seja, que a simpat ia tenha se

    aprofundado o manipulador se defronta com a dificuldade em control-la.

    O controle obt ido ao se fazer o outro crer que realizar seus desejos

    ao adotar os comportamentos desejados pelo velhaco. A palavra joga um

    grande peso nesta etapa.

    Uma vez que a vt ima esteja aberta, em guarda baixa, induzida a

    acredit ar, at ravs do dilogo, nas vantagens das at itudes que o manipulador

    quer que a mesma tome.

    Mas nada disso ser possvel se a vt ima est iver fechada influncia.

    O iso lamento simpt ico atrapalha totalmente este t rabalho e , portanto,

    uma maneira de nos defendermos contra os char lates.

    O desejo mais int enso e profundo da alma de um homem, por mais

    sublime, alt rusta e maravilhoso que seja, seu ponto fraco pr incipal, a

  • 28

    chave para sua perdio. Se um inimigo acenar com a possibilidade de

    sat isfaz- lo, incendiar sua paixo e poder lev-lo aonde quiser,

    enlouquecido. Por este mot ivo, as pessoas que nos agradam podem ser to

    per igosas quanto as que nos desagradam. Pergunte-se: "Quais so os desejos

    mais intensos que possuo?". A resposta ir revelar os meios pelos quais sua

    vontade pode ser capturada e manipulada por um inimigo, tornando-o

    escravo.

  • 29

    8. O carter auto-dominatrio da manipulao

    O processo dominatr io auto-propulsor. Na verdade, no , em

    lt ima instncia, o manipulador que domina o outro: o elemento passivo

    dominado por seus prprios complexos (defeitos ou egos). Ao at ivar suas

    fraquezas passionais, o cr iminoso apenas atua como simples agente

    facilitador e intensificador de um processo que j exist ia.

    Na manipulao, o char lato no impe seus capr ichos, ane los e

    metas contra a vontade da vt ima mas, ao contrr io, confere s suas

    vontades, j existentes, uma ut ilidade. No a fora a ir contra si mesma: a

    joga de cabea em seus prpr ios desejos, sonhos e loucuras. Isto sempre

    um cr ime contra a alma e contra o livre-arbt r io que apenas em casos

    especiais de legt ima defesa se just ifica 5.

    Para encontrar sent ido nas tendncias alheias preciso imensa

    exper incia com o t rato humano e conhecimento da singular idade do

    elemento passivo. O manipulador descobre, nas tendnc ias alheias,

    convergncias com suas metas e no tenta impor, a part ir de suas metas, a

    tendncia a ser excitada. Entretanto, tudo depender do objet ivo. Se for sua

    int eno destruir ou abusar do prximo, o que infe lizmente o mais

    comum, a lgumas paixes especficas tero que ser at ivadas. Nos casos em

    que a inteno ajudar, outras sero as paixes excitadas. At ivar o gosto

    pela vida em um candidato a suicida uma boa ao.

    A part ir de certos comandos especficos, as emoes impelem

    necessar iamente as pessoas em certas direes. Para conduz-las

    inconscientemente nessa mesma direo, basta que se conhea os comandos

    corretos e os aplique. A manipulao depende da apt ido de ident ificar as

    tendncias que, inversamente aparncia, levem o elemento passivo ao

    encontro dos objet ivos. Este o ponto mais difcil. Uma vez ident ificada a

    5 Por leg t ima defesa en tenda-se: o a to de desar t icular as man ipulaes de uma pessoamal in tencionada.

  • 30

    tendncia correta, tudo flui facilmente mas o t rabalho de ident ificao nem

    sempre fcil, requer grande exper incia com o t rato humano e

    conhecimento da natureza especfica da pessoa a ser manipulada.

    Os pr incipais paixes determinantes de um processo manipulatrio

    so as averses e os desejos. As averses correspondem a medos e dios; os

    dese jos correspondem s cobias, aos anelos e aos sonhos. Obviamente,

    todos os elementos psquicos se entremeiam. As averses promovem

    ant ipat ia e os desejos promovem simpat ia. A vt ima sempre tende a crer

    mais facilmente naquilo que teme ou deseja.

    Contra as foras int ernas, o homem indefeso. No necessr io,

    portanto, manipul- lo de fora quando se sabe at ivar os elementos internos

    que o levaro meta almejada.

    Respeitar o livre-arbt r io do outro permit ir-lhe o direito auto-

    determinao, deix- lo ser o que e fazer o que quer. respeitar os seus

    dese jos ao invs de tentar faz- los fluir ao contrr io. Cur iosamente, quando

    tal se ver ifica, a pessoa abre a oportunidade de ser dominada atravs de si

    mesma, infelizmente. Vemos ento que os seres humanos esto

    permanentemente vulnerveis e expostos a menos que descubram e

    combatam suas fraquezas.

    Pode-se corromper as pessoas por meio de suas ms inc linaes

    previamente existentes. Para tanto, basta que o manipulador as acenda por

    meio de palavras e gestos. Felizmente, pela mesma via podemos regener-

    las. Entrar em sintonia com aquele que se pretende dominar ser capaz das

    mesmas at itudes e falas s quais o mesmo est inclinado. A maleabilidade

    exigida se consegue apenas por meio da morte dos egos. Aquele que no

    tem paixes no tem expectat ivas fixas, r gidas e previamente estabelecidas

    com relao ao prximo e por isto pode instrumentalizar para seus fins as

    tendncias comportamentais alhe ias. Obviamente, se o ego est iver morto os

    fins no sero egostas e nem passionais.

  • 31

    Por desgraa, muito mais fcil excit ar a paixo alheia para o mal do

    que para o bem po is o mal corresponde s tendncias repr imidas. O mal

    corresponde aos desejos pro ibidos, os quais possuem enorme carga libidinal

    cont ida. O conhecimento da disposio do outro indispensvel e obt ido

    por meio da observao.

    O r igoroso cuidado posto sobre a nossa morte psicolgica nos torna

    imunes aos efeitos hipnt icos e contra-hipnt icos que as operaes

    desencadeiam, nos permit indo fazer frente aos char lates e velhacos

    manipuladores, devo lvendo- lhes influnc ias. Sem a morte dos desejos

    somos vit imados pelas foras fascinatrias que at ivamos ou que tentam

    ativar em ns.

    Ao lidarmos com pessoas extremamente per igosas, complicadas ou

    difceis, temos que aprender a nos mover entre suas paixes. "Colocar-se na

    mesma corrente de pensamentos que um esprito" , como escreveu Eliphas

    Lvi (1855/2001), ser capaz de simular semelhana e convergnc ia de

    propsitos. "Manter-se moralmente acima do mesmo" , estar iso lado da

    mesma influncia e no ser at rado pelo mesmo objeto. Em outras palavras:

    simular um comportamento com o cuidado de no ser absorvido e dominado

    por este comportamento, reforar as idias do outro sem ser magnet izado

    por elas.

    Tudo se resume em estar inter iormente livre para permit ir o curso das

    paixes alhe ias sem ser afetado e nem arrastado pela corrente que se cr ia

    mas, ao contrrio, arrastando-a.

    Os maus necessitam do so fr imento dos bons para se sat isfazerem.

    Empreendem imensos sacr ifcios para prejudic-los e at mesmo se expoem

    a r iscos. Quando no conseguem at ingir este intento, sofrem

    emocionalmente po is a energia maligna que cr iaram dentro de si no

    encontra receptculo fora e retorna ao seu ponto de part ida, podendo

    inc lusive provocar- lhes doenas. deste modo que os bons atormentam os

  • 32

    maus. Logo, uma grande vantagem sermos super iores aos malvados e o

    conseguimos quando somos impenetrveis ao medo, ao dio, aos afetos, aos

    apegos e a todas as paixes. Quando disso lvemos os egos, nos tornamos

    imunes a todo fe it io e encantamento por no sermos mais o plo reat ivo

    contrr io receptor do magnet ismo mas sim emissor. Seremos um espe lho

    que reflet ir e devo lver exatamente aquilo que nos for lanado. Se nos

    lanarem feit ios de dor (insultos, ameaas, impropr ios, dio etc.), no

    sofreremos e esta dor retornar ao seu ponto de part ida. Se nos lanarem

    encantamentos de prazer (tentat ivas mal intencionadas de seduo por meio

    de elogios, manipulaes amigveis, ins inuaes sexua is etc.), no nos

    envo lveremos e nem seremos encantados, fazendo com que o manipulador

    caia na frustrao e so fra por no alcanar seu propsito. Nossa aura

    repelir as pessoas malvadas.

    Do ponto de vista moral, o contra-feit io e o contra-encantamento so

    justos porque so legt imas defesas. No h nada de errado em defender-se

    das invest idas de um manipulador para devo lver-lhe as exatas

    consequncias internas de suas prpr ias at itudes e os decorrentes venenos

    que haviam sido dest ilados e dest inados para ns. O erro est em tomar a

    inic iat iva de enfeit iar ou encantar, ato que sempre se dever cobia e aos

    dese jos ego stas. Eis porque devemos perdoar, resist ir int ernamente s

    influncias hipnt icas e no reagir s provocaes, insultos, humilhaes,

    ameaas, perseguies etc. Entretanto, resist ir s influncias hipnt icas nem

    sempre significa ausncia de ao 6 pois h casos em que impensvel

    manter-se de braos cruzados e compactuar com a injust ia e com o

    massacre dos inocentes e indefesos.

    Se voc for capaz de ir contra si mesmo (suas r gidas est ruturas de

    pensamento e sent imento), aceitando as metas, pontos de vista e aes

    absurdas de seu manipulador sem, entretanto, com elas se ident ificar,

    6 Mas significa exatamente isso muitas vezes. O caminho o ensinado por Gandhi, Budha e Cristo: a no-ao e o boicote maldade.

  • 33

    poder excitar suas paixes e lev- lo a se auto-destruir, como uma pessoa

    que at ingida na cabea pelo prpr io bumerangue que lanou.

  • 34

    9. A singularidade comportamental do elemento passivo

    Em 16 de maio de 2003

    O manipulador toma o cuidado de interagir de acordo com o

    temperamento part icular de cada pessoa po is a tendncia generalizao

    pode lev- lo a erros fatais.

    Observador atento, acompanha os nossos passos e vai compreendendo

    como sent imos, pensamos e ag irmos para nos tomar por nossas loucuras.

    Contempla nossas peculiar idades psquicas na tentat iva de compreender

    nossos padres comportamentais de ao e reao ante os fatos.

    A preocupao com a singular idade comportamental do elemento a ser

    manipulvel se deve a uma necessidade de o manipulador no atrair contra

    si um fluxo imprevisto da corrente magnt ica que pretende desencadear. O

    desconhecimento da singular idade, efeito nefasto da tendncia

    generalizao, impede a prescincia da totalidade das reaes a

    desencadear.

    Quanto mais pro funda e abrangente for a prescincia das reaes a

    serem desencadeadas a part ir de aes do manipu lador, mais exatamente ao

    encontro dos seus int eresses iro os resultados. O poder de manipulao do

    outro ocorre na proporo direta da profundidade-abrangncia do

    conhecimento de suas reaes mecnicas aos acontecimentos. Quanto mais o

    manipulador conhecer sua vt ima, mais poder sobre ela possuir.

    Mas o conhecimento concreto e seguro singular izante, da o cuida do

    com as generalizaes. O manipulador hbil no atua na incerteza a respeito

    de como o outro reagir.

    Para despotenciar e confundir um manipulador hbil e deste modo nos

    defendermos, temos que disso lver os egos. Ao faz-lo, eliminamos as

    reaes mecnicas e padronizadas, induzindo o observador ao erro. Ao nos

  • 35

    estudar, o usurpador de vontades t irar concluses errneas a respeito dos

    nossos padres de ao e reao. Ento ficar surpreso ao perceber que no

    reagimos como ele havia previsto. Tentar repet -lo outras vezes mas

    sempre ficar desconcertado com a ausncia de padres reat ivos.

    Deste modo, ou seja, pela morte dos egos, impedimos o manipulador

    de penetrar em nossa individualidade.

    A observao e a interao com a vt ima permite a ident ificao seus

    temores e desejos especficos e gerais, pr inc ipa is e secundr ios. Uma vez

    ident ificadas tais fraquezas, o manipulador as excitar at nveis

    insuportveis para que suas nefastas consequncias se faam sent ir.

  • 36

    10. O uso da simpatia da maioria dos elos de uma cadeia por homens vis

    As correntes magnt icas so instrumentalizadas habilmente por uma

    categoria especia l de homens vis: os covardes que fogem de todo confronto

    individual so litr io com um r iva l e t ravam embates somente diante da vista

    de vr ias pessoas. Os tenho encontrado em vr ios ambientes.

    A presena de um grupo expectador previamente e inconscientemente

    cooptado fornece refgio e nutr io energt ica ao covarde. O significado

    que sua figura possui para a co let ividade funciona como uma arma que pode

    ser instrumentalizada para endossar seus ataques contra uma infeliz vt ima

    desconhecida entre a mult ido. Sua posio privilegiada (por ser um lder

    ou uma autoridade, ainda que de modo no assumido) lhe permit e dispor do

    fluxo energt ico da maior ia dos presentes para endossar a fora de seus

    golpes.

    Esse reforo conseguido pela simpat ia. O covarde especialista em

    combater sob observao dos outros sugere mult ido, de modo

    impercept vel, que as idias que ele defende convergem perfeit amente com

    as idias da co let ividade presente. Deste modo, h um reforo no substrato

    energt ico emocional da fala pela ident ificao inconsciente das pessoas

    presentes com o que o velhaco defende. Uma rpida observao permite

    flagr- lo no ato de dar a entender aos ignorantes que suas id ias e as destes

    lt imos so exatamente as mesmas. Assim advm um incremento art ificia l

    da energia.

    Alm disso, se valem da preocupao da vt ima so lit r ia com sua

    prpria auto-imagem. Jogam com esta fraqueza todo o tempo e a dominam

    desviando sua ateno para a preservao da auto-imagem ao faz-la a

    sent ir que a mesma est sendo arranhada ou destruda. Podem se valer de

    vr ias ferramentas para induzir seus oponentes t imidez e ao medo

    (erudio, meno a nomes de obras literr ias ou autores consagrados pelo

    grupo presente, meno a t tulos, a cargos, a nomes de alguma famlia

  • 37

    importante qual pertena, amizades que possua com figuras importantes

    da sociedade etc. etc. etc.) e no consenso colet ivo de que as mesmas so

    sinais de super ior idade, sabedor ia e conhec imento verdadeiros.

    Em geral, essa c lasse de eunucos do entendimento foge aterrorizada

    de embates individuais. Sozinhos, so raqut icos e indefesos. Quando os

    desafiamos, tentam a todo custo t razer a luta para a esfera co let iva, seu

    terreno, pois no possuem fora prpr ia, se valendo apenas das foras

    alheias para int eragirem com r iva is.

    Um modo de despontenci- los sermos mais simpt icos do que eles

    com a massa de pessoas hipnot izadas. Alm disso, podemos for-los a cair

    em descrdito at raindo-os, at ravs de suas paixes, para alguma at itude que

    quebre a simpat ia da imagem sobre a qual seus poderes repousam ( induzi-

    los a perder o controle e a nos atacar fur iosamente, por exemplo).

    Um modo de atorment- los a nve is insuportveis sermos super iores

    a eles em pro fundidade e nobreza de esprito , fluxo de idias e so fist icao

    da palavra. Se agirmos assim e tais at r ibutos forem simpt icos

    comunidade que lhes d sustentao, os foraremos a cair em desespero

    devido perda de um ponto de apoio e fonte de alimentao. Eles ento

    comeam a at ingir a si mesmos.

    Em qualquer cadeia magnt ica os encontramos. So sempre aqueles

    que conseguem se apoderar rapidamente da vontade dos demais sem serem

    detectados. Os fantoches, manipulados, acreditam que possuem vontade e

    at itudes prpr ias mas, na verdade, simplesmente atendem aos interesses do

    manipulador.

  • 38

    11. O magnetismo nas polmicas

    24 de novembro de 2002

    Nos vr ios dilogos que t ive com certos t ipos de intelectuais 7

    observei que o poder dos mesmos se encontrava mais na induo de

    insegurana, ira e confuso no outro do que na coerncia das idias que

    defendiam. Observei tambm que tendem a relutar em ir para o confronto

    direto, incisivo e concentrado, prefer indo desconcertar o inter locutor com

    indiretas que o deixem na dvida a respeito de estar ou no sendo atacado.

    As armas mais proeminentes que ver ifiquei foram o sorriso cnico

    associado calma e fala debochada no assumida. So elementos que

    parecem sustentar-se na sensao auto-induzida de se estar no controle da

    situao e que possuem grande poder magnt ico de induo e grande

    impacto emocional em pessoas abertas e indefesas.

    Ao ser o inter locutor forado a cair em estados emocionais

    desfavorveis, seu fluxo de idias so fre uma interrupo, o que o leva a

    girar em crculos procura da melhor reao, das melhores frases a serem

    ditas e das melhores idias a serem expressas.

    Para nos protegermos e refratarmos esse fluxo de fora

    imprescindvel mantermos a calma ao mximo, relaxando enquanto

    aplicamos uma sobreposio concentrada de nossa idia com descarte total

    das ludibr iadoras idias e falas alhe ias. Assim raptamos ao intelectual a

    sensao de controle e firmeza que induziu a si mesmo como ponto de

    apo io.

    O fundamento da sobreposio concentrada da idia a co locao do

    nosso ponto de vista durante as pausas no mon logo que o intelectual

    pretende instalar aliada manuteno de uma ausncia total de reao

    7 Refiro-me a velhacos sofistas e no aos estudiosos sinceros.

  • 39

    int erna s suas tentat ivas indutrias e hipnt icas. A grande dificuldade

    manter a mente quieta e sem interrupo do nosso fluxo de idias.

    O melhor momento para desfer ir os ataques durante as pausas que o

    oponente realiza para respirar ou para organizar as idias. Entretanto, se o

    velhaco do intelecto for muito louco, daqueles que gr itam sem pausas,

    talvez tenhamos que cortar sua fala ao meio, falando simultaneamente.

    Segundo a compreenso mdia, comum e corrente, aquele mais ataca

    durante uma discusso o vencedor. Os leigos pressupem que aquele que

    fala muito sabe mais e possui mais informaes do que o oponente, ainda

    que fale apenas besteiras. Entretanto, a prt ica de muito falar desgastante.

    O melhor deixar que o oponente fale bastante para se cansar e, de tempos

    em tempos, atac- lo fulminantemente em suas pausas. Use um tom de voz

    imperat ivo, dominante. No corra at rs dos erros e enganos de seu oponente

    e nem tampouco alimente a iluso de poder lev-lo a reconhecer seu erro.

    No perca tempo na defensiva. Se qu iser exp licar suas razes faa-o de

    forma direta, sem perseguir a fala de seu inimigo.

    Devemos desenvo lver a capacidade de encontrar as respostas a serem

    ditas sem preparo prvio, como se faz no Jeet Kune Do com os movimentos

    do corpo, no Jazz e no Flamenco com as frases musicais.

    A parada psquica result a da tendncia em ficarmos procurando a

    melhor resposta ou reao ao momento. O caminho da superao o de

    inic iarmos emit indo respostas errneas ao mesmo tempo em que as vamos

    corrigindo progressivamente. Para tanto, convm encontrar situaes de

    treino altamente realistas nas quais os erros possam ser comet idos

    ilimit adamente mas sem r isco real para nossa int egr idade (para o boxeador

    ser ia o sparr ing, para o msico ser iam os ensaios).

  • 40

    As respostas corretas existem previamente em nossa ps ique

    inconsciente. A dificuldade reside em extra-las po is, durante as discusses,

    nos paralisamos ao tentar cr i- las.

    Nas discusses h um forte substrato emocional que preponderante

    na definio de seus desfechos. Ao contrr io das aparncias em que todos

    acredit am, o que determina quem as vence a convico de estar com a

    razo e a capacidade de ser mais fr io , direto e objet ivo do que o outro.

    Preocupe-se em ser super ior ao seu oponente em calma e fr ieza. Deixe que

    ele enlouquea. Esteja presciente contra reaes vio lentas e as receba com

    naturalidade. No se deixe ser at ing ido por gritos ou tentat ivas de

    humilhaes.

    As discusses so jogos: cada uma das partes tenta at ingir a outra ao

    mximo e ser at ingida ao mnimo.

    H vr ios egos que nos tornam vulnerveis: a preocupao com o que

    o outro pode estar pensando, o desejo de faz-lo reconhecer seus erros, o

    medo de sermos expostos ao ridculo, a impacincia ante suas rajadas de

    palavras etc. etc. etc. Todos nos vulnerabilizam e conduzem parada

    psquica.

    Os defensores de idias absurdas, velhacos que odeiam a verdade e

    amam a ment ira, t rabalham com a desconcentrao: impedem que o

    pensamento do inter locutor oponente se concentre. Ao impedir a

    concentrao do pensamento, desart iculam a anlise concentrada,

    fragmentando-a. Para induzir a desconcentrao fragmentadora da an lise,

    abordam muitos assuntos simultaneamente sem nenhuma pro fundidade.

    por isso que muitas vezes a pessoa que defende a idia mais coerente a

    que perde a discusso.

    O poder magnt ico da fala do char lato atrai a ateno do inter locutor

    oponente e arrasta seu pensamento para mlt iplos temas que nenhuma

  • 41

    importncia possuem para a compreenso do ponto especfico levantado mas

    que so efic ientes para confundir a anlise e cr iar no outro a necessidade de

    se explicar, de tentar corrigir erros, desfazer mal-entendidos etc. Ao "correr

    atrs" das bobagens dit as pe lo espertalho, o oponente sincero cai em uma

    armadilha: at rado para a anlise fragmentada e superficia l que aborda

    simultaneamente muitos pontos sem penetrar em nenhum. ass im que as

    falhas lgicas, incoerncias, falcias e so fismas se preservam. ass im que

    perguntas desaparecem sem terem sido respondidas. o caos dialgico, o

    pandemnio de idias, a confuso que favorece a ment ira, o engano.

    Combatemos esta art imanha com a concentrao da ateno e do

    pensamento na anlise que estamos realizando, sem nos deixar desviar u

    dist rair, a despeito de todas as provocaes, desafios etc. Costuma dar

    resultado o procedimento de ignorar totalmente as asneiras que o oponente

    diz e ir co locando nossa idia aos poucos, como se fssemos abso lutamente

    surdos s tentat ivas de induo de desconcentrao, desvios e dist raes.

    Jamais corra at rs do que lhe for dito, na v esperana de que erros do

    velhaco possam ser reconhecidos. Quando as rajadas de palavras forem

    disparadas, deixe-as sair, aguente e aguarde calmamente. No perca seu

    tempo correndo atrs delas po is isso o que seu oponente deseja para

    confund- lo. Obviamente, ele ter que parar para respirar e, neste momento,

    voc faz suas co locaes, as quais devem ser incis ivas, sintt icas, diretas,

    curtas e fulminantes. Nos casos extremos em que o manipulador fala e gr ita

    como uma cachoeira, sem interrupes, podemos falar simult aneamente. Em

    algumas situaes, podemos cal- lo somente o lhando fixamente em seus

    olhos de forma determinada, quase ameaadora, se conseguirmos instalar o

    estado interno correto. O olhar e a voz possuem enorme peso na emisso e

    na devo luo dos feit ios e encantamentos por serem hipnt icos e ant i-

    hipnt icos ao mesmo tempo.

  • 42

    Algumas poucas (muito poucas!) vezes, voc pode extrair do lixo dito

    por seu adversr io a lguma idia para tecer um comentr io destrut ivo e

    confund- lo.

    O que importa, aqui, no faz- lo compreender nada mas sim cumprir

    nossa parte, esclarecendo nosso ponto de vista (ato que pode ter o efeito de

    confund- lo), po is somente podemos fazer compreender erros queles que

    dese jam compreend- los e no queles que desejam defender suas idias.

    perda de tempo tentar fazer um po lemizador compreender algo. Divirta-se

    em v- lo perdido e estonteado.

    Para resist ir rajada de palavras, importante no se ident ificar com

    as mesmas. Resista ao magnet ismo fatal da voz humana.

    Antes de tudo, necessr io um estado interno correto que se

    caracter iza por fr ieza, incis ibilidade, objet ividade, impiedosidade,

    adaptabilidade, flexibilidade e calma. O estado interno correto vem antes

    mesmo dos argumentos.

    Em po lmicas, os intelectuais sempre costumam impedir a exposio

    das idias opostas s suas por meio de segu idas intervenes que afastam o

    pensamento do ncleo da anlise, evitando seguir o curso do raciocnio que

    expomos, nos interrompendo a todo momento com observaes e perguntas

    que embaralham as idias etc. Esta prt ica tem como efeito confundir.

    Falam e pensam rpido, para confundir. Reje itam totalmente a anlise calma

    e imparcial. Temem se exporem ao confronto sozinhos e necessit am da

    segurana proporcionada pelas cadeias magnt icas que cr iam e comandam.

    A estratgia que ut ilizam para vencer as discusses levar o oponente a se

    perder na confuso de sent imentos cat icos, induzindo-o a ficar possesso

    por emoes como ira, medo, vergonha etc. Para venc-los, sempre t ive que

    faz- lo psico logicamente, dominando-me, ou seja, vencendo a mim mesmo

    para em seguida venc- los por extenso.

  • 43

    Podemos sintet izar os mecanismos sabotadores de anlise nas

    polmicas do seguinte modo:

    int ervenes que afastam a ateno e o pensamento da questo

    pr incipal em discusso;

    int ervenes que tem o efeito de at ingir o sent imento,

    confundindo ;

    int ervenes mlt iplas, cont nuas e rpidas que no permit em que

    o pensamento do inter locutor seja exposto e acompanhado ;

    utilizao de voz alta para provocar medo;

    aluses a aspectos delicados da vida pessoal do inter locutor;

    tentat ivas de diminuir e envergonhar o intelocutor mediante o

    apelo a t itulaes e fatos econmicos.

    Precisamos ser abso lutamente impenetrveis a todas as formas de

    feit io apontadas cima. Nenhuma deve ser capaz de afetar nosso nimo. Se

    nos mant ivermos firmes e inacessve is como uma rocha enquanto expomos

    nossas idias, ignorando totalmente as falas inteis do manipulador, seu

    feit io ser lanado de vo lta, pela lei do movimento especu lar, at ingindo-o.

    Ento o veremos surtar loucamente at ingido pelo dio, pela vergonha, pelo

    medo e por outros estados internos mal ficos que haviam sido dest inados a

    ns mas que repelimos.

    Uma conjunctio de fr ia e ca lma se faz indispensvel. A

    destrut ividade do espr ito de combate necessita ter seu lugar na alma, do

    mesmo modo que a amabilidade e a doura. Todas so funes psquicas

    que no podem ser dispensadas. Em po lmicas graves, um dos segredos

    uma espcie de raiva intensa porm controlada e direcionada. Olhe seu

    oponente nos o lhos com fr ia, sem medo, como em um combate. Porm

  • 44

    sempre avalie as consequncias posteriores que tal confronto possa ter.

    Nunca saudvel ter inimigos porque, se os vencemos, eles no nos

    esquecem e prosseguem nos perturbando, reunindo foras contra ns etc.

    Certos char lates mater ialist as dogmt icos, ct icos unilaterais,

    ortodoxos conservadores, fant icos relig iosos e outros sofistas inimigos da

    verdade 8 rejeitam o estudo metdico por inquir io em est ilo socrt ico.

    Tentam convencer confundindo ao invs de buscarem convencer

    esclarecendo porque vencer as discusses sua meta nica e maior, pela

    qual esto apaixonados. No almejam estudar e compreender em comunho

    com o inter locutor. Rechaam o estudo sincero imparcial e a compreenso

    dos temas sob o ponto de vista alheio. Quando os pontos nevrlg icos de

    suas teorias so tocados por perguntas incis ivas, lanam mo de estratgias

    ludibr iadoras para dist rair o inquir idor: falam muito ou lanam vr ios

    quest ionamentos recheados por termos provocat ivos com o intuito de

    desviar a ateno dos pontos fracos de suas hipteses para assim mant-los

    ocultos. Quando encurralados, se enfurecem para amedrontar (caracter st ica

    animal). Em lt ima instncia, esto compromet idos em defender as prpr ias

    idias e no se interessam em estudar.

    A disposio que os so fistas possuem para o estudo verdadeiro

    apenas parcia l, relat iva, po is a sustentam somente at o momento em que as

    falhas lgicas nos pontos nevrlgicos de suas teorias so expostas. A part ir

    da a disposio para o estudo termina. No possuem preparo psico lgico

    para os desconfortos da anlise e carecem de uma capacidade fundamental

    em qualquer analista: a de t rocar de ponto de vista cont inuamente.

    Infelizmente, no meio acadmico de muitos pases eles ainda so

    maior ia. Acredit am-se donos da cinc ia e rejeit am a filo so fia e a relig io,

    ignorando que filo so fia, cincia e religio se tornam desvios aberrantes

    quando divorciados. Como dominam os aparatos oficiais de elaborao de

  • 45

    conhecimento e contam com a legit imao do poder, desde tal posio

    difundem a ignorncia sob disfarce de sabedor ia na sociedade. Alis, a

    pr ior izao de seus compromissos po lt icos e econmicos em detr imento da

    verdade provm desta posio.

    Podemos concluir, assim, que os so fistas char lates defendem suas

    ment iras por serem estupidamente ignorantes ou talvez, na pior das

    hipteses, por serem terr ivelmente mal- intencionados. Assim opera neles o

    magnet ismo.

    Observemos como se discute com char lates em geral. Devemos nos

    ater ao ponto nevrlgico que d or igem discusso e resist ir a toda

    invest ida fascinatria que possa nos dist rair e desviar o rumo da anlise.

    Os char lates necessit am, pela prpr ia natureza de seus objet ivos

    desonestos, impedir a anlise esclarecedora e instalar a confuso, j que

    somente assim que ment iras e hipteses mal elaboradas podem resist ir . Para

    tanto, costumam pr incipiar a discusso em torno de um ponto e em seguida

    inserem, propositalmente, muitos outros pontos na discusso para torn-la

    cat ica. Estes pontos inser idos astuciosamente aparentam ter ligao com o

    tema estudado mas na verdade apenas se dest inam a dist rair e confund ir o

    pensamento, gerando o que chamo de caos dialgico. Este caos dialgico

    ento camufla as incoerncias e falhas lgicas dos raciocnios falaciosos

    fazendo as ment iras parecerem verdades e as verdades parecerem ment iras.

    por esta razo que os juzes no permitem discusses em tr ibunais,

    mas apenas inquir ies, po is sabem muito bem que as piores pessoas

    costumam ser as melhores na arte de ludibr iar. pela mesma razo que os

    filso fos ant igos decid iam antecipadamente quem ir ia perguntar e quem ir ia

    responder.

    8 Refiro-me a fanticos extremistas e no aos representantes sensatos e lcidos das vrias correntes depensamento materialista ou espiritualista existentes. Em ambos os lados h pessoas conscientes e insensatas.

  • 46

    Combate-se facilmente tais art imanhas por meio da concentrao e da

    recordao de si mesmo. Pr imeiro: deve-se capturar o ponto nevrlgico da

    discusso e no larg- lo de maneira alguma. Segundo: deve-se resist ir a

    todas as tentat ivas de induo de fascinao e dist rao. indispensvel

    jamais correr atrs dos equvocos manifestados pelo opositor na tentat iva de

    faz- lo compreender e admit ir seu erro pois exatamente isso o que ele

    quer. Ao perder o tempo tentando convenc-lo, voc se dist rai e deixa de

    aprofundar o ponto que o espert inho quer manter oculto.

    Os char lates so fist icam-se na arte de fascinar e dist rair. Enquanto

    esto conseguindo fascinar, esto no comando, manipulando as crenas,

    sent imentos e pensamentos do opositor. Se, entretanto, este se torna

    refratr io s fascinaes, isto , se passa a ignor-las totalmente e cont inua

    em seu pensamento, a tentat iva de induo de sent imentos fracassa

    totalmente. Ento acontece algo cur ioso: o velhaco at ingido pelo fluxo de

    energia fascinatr ia que cr iou na mesma proporo de seus esforos para

    nos fascinar. Quanto maiores os esforos para manipular nossos

    sent imentos, maior a frustrao ao no consegu-lo. Ento vr ios

    sent imentos negat ivos o invadem, do mesmo modo que ser amos invadidos

    caso no houvssemos fechado a passagem ao fluxo magnt ico.

    .

  • 47

    12. A dinmica psicolgica do encantamento e da feitiaria

    Em 25/07/00, 31/07/00 e 09/11/00

    O que os superst iciosos chamam de enfeitiamento corresponde,

    psico logicamente, fascinao da conscinc ia. Ambos sero considerados

    aqui como uma s coisa e no como duas co isas anlogas.

    O enfe it iamento uma forma de fascinao extremada, exarcebada.

    Por isso os feit iceiros necessitam da crena de suas vt imas em seu poder de

    matar ou fazer adoecer.

    Uma pessoa abso lutamente ct ica imune ao poder de um feit iceiro.

    Se um ct ico for enfeit iado, isso indica que seu cet icismo no fo i abso luto,

    que houve uma vacilao inconsciente.

    O mesmo processo se ver ifica na seduo. Uma mulher invulnervel

    ao poder de um sedutor quando no cr que ele tenha algo que lhe interesse

    e, por extenso, o poder de atra- la.

    Entretanto, algumas vezes cremos estar invu lnerveis ao poder de

    algum em um pr imeiro momento e, em outra situao, o surgimento de

    algo novo e ainda no conhecido por ns faz a convico anter ior ruir.

    Ento ficamos vulnerveis.

    O encantamento requer o conhecimento prvio das debilidades de

    quem vai ser encantado. No possvel que algum seja encantado em uma

    direo contrr ia de suas fraquezas.

    O encantamento apenas ocorre na direo das fraquezas previamente

    existentes, sejam elas conscientes ou inconscientes. Trata-se, portanto, da

    instrumentalizao ou aproveitamento de impulsos que j exist iam: uma

    forma perversa de se aproveitar das fraquezas do prximo e vio lentar seu

    livre arbt r io .

  • 48

    O encantador ident ifica e excita os impulsos e inst intos em sua vt ima

    at lev- la a um estado alterado de conscincia. A pro fundidade da

    alterao depender da natureza de cada um e do grau de exposio.

    Todos temos fraquezas. Essas fraquezas correspondem nossa

    fascinao louca por algumas co isas em detr imento de outras. Os objetos

    dessa fascinao so os instrumentos de submisso a um inimigo astuto.

    Os cr imes e as matanas que asso lam o mundo se devem fascinao

    da conscincia por um objeto, um alvo, uma meta. o maior per igo

    psquico que pode nos acometer porque a debilit ao da vontade levada ao

    extremo.

    O poder do feit iceiro consiste em fazer com que sua vt ima entre em

    um estado alterado de conscincia at ravs do medo 9. Seus r itos visam

    aumentar o poder de impressionismo e impactar psiquicamente o inimigo 10.

    O poder intensificado quando o bruxo se entrega a uma possesso por

    complexos autnomos altamente densos.

    Aps inmeras crueldades e tormentos infling idos a si prpr io e a

    outras pessoas ou animais, o bruxo realiza dentro de si o mal. Ento,

    possesso, comunica a sua vt ima o que fez por canais conscientes ou

    inconscientes. Sua expresso, entonao vocal, gestos corporais e at itudes

    horr veis impactam a vt ima emocionalmente e debilitam sua razo e

    vontade. A mesma se abre a suas influncias "diab licas" e so fre

    igualmente uma possesso por elementos psquicos inumanos que jaziam em

    seu inconsciente. Ocorre um choque psicossomt ico. A pessoa somat iza

    vio lentamente o medo e morre ou adoece.

    9 Temores que tenhamos so aberturas por onde nossa imaginao pode ser ferida.10 Nos casos em que a vtima est distante, o cerimonial do feitio atua de forma direta somente sobre avontade do operador. Este, por meio da concentrao e da vontade, cria formas mentais e em seguida as envia,atravs do espao, at os inimigos distantes. um processo por meio do qual o feiticeiro se auto-envenenapara ferir e matar. Caso a fora destrutiva gerada seja repelida pelo alvo, retornar para quem as enviou.

  • 49

    A pr imeira so luo para no ser vulnervel bruxar ia no tem-la.

    Por isso os relig iosos devotos so invulnerveis. Entretanto, se esse os

    mesmos forem fant icos, sero vulnerveis aos encantos e maldies de sua

    religio, podendo ser por eles encantados, manipulados e at ing idos.

    A fascinao brutal da conscincia corresponde aos perish of soul

    estudados por Jung. A pessoa perde sua "alma" habitual e possuda por

    outra "alma" demonaca, ou melhor, um pedao fragmentado e autnomo de

    alma que aguardava nas profundidades de sua prpr ia psique para se

    manifestar. A conscinc ia vio lentada por um pr imit ivo e grotesco

    agregado psquico do inconsc iente.

    No h nisso nada de mst ico, fantst ico ou mgico. So fenmenos

    empir icamente constatve is.

    Em pequena esca la, o encantamento est presente em nosso cot idiano

    a todo momento.

    As palavras que emit imos, as roupas que usamos e tudo o que

    fazemos possuem o poder de provocar nos demais determinados sent imentos

    dos quais no podem fugir. A palavra, os assuntos abordados e conversas, a

    entonao vocal, as at itudes e os olhares so meios de instalao de

    afinidade simpt ica com e lementos psquicos que habitam o inter ior da

    psique e aguardam por uma oportunidade de expresso.

    Todos somos, de um modo ou de outro, vt imas das circunstncias.

    Elas definem o que iremos sent ir e pensar e at fazer. Isso prova que somos

    enfeit iados a todo instante.

    Quando algum nos ofende, no temos normalmente o poder de no

    nos sent irmos ofendidos: estamos enfeit iados.

  • 50

    A fascinao ocorre sempre com a co laborao inconsciente da

    vt ima. Ela a so fre por no saber como se iso lar das foras hipnt icas do

    outro.

    Quando duas pessoas com desejos do mesmo t ipo se unem, a de maior

    vontade absorve e manipula a vontade da mais fraca e a domina. O mesmo

    fenmeno se ver ifica em crculos sociais de vr ios t ipos. Sempre h uma

    hierarquia de poder na absoro da vontade alheia. Esses so outros modos

    de encantamento.

    Todo ato fascinador e hipnt ico porque provoca efe itos na psique

    do prximo. O poder das caras feias e palavras host is em causar desconforto

    uma prova disso.

    H uma dinmica hipnt ica nas relaes sociais. Os homens tendem a

    reagir mecanicamente uns aos outros. No so poucas as vezes em que

    somos forosamente induzidos a ter emoes indesejveis. Contra a nossa

    vontade, somos lanados, a part ir de at itudes alheias, a certos estados de

    sent imento.

    A loucura e a exaltao passional so formas de embriagus

    fascinatr ia.

    Observando uma pessoa podemos saber em que direo flui sua

    libido. nessa direo que se d a queda da pessoa em uma loucura.

    Entretanto, nem todo encantamento mau. H casos em que ele

    benfico. Ex: converso relig iosa de malfeitores.

    Quando t rabalhamos a nossa psique, o efeito fascinatrio das imagens

    externas e internas diminu i pouco a pouco sua influnc ia. Ento a fora

  • 51

    vampir izada 11 nesse processo, desperdiada em co isas inteis ou at

    per igosas, pode nos servir para auto-curas e auto-regenerao interna.

    Encantamento, enfeit iamento, fascinao e hipnose so vr ios nomes

    dados a uma s coisa e no a coisas dist intas e anlogas.

    Quando detestamos algo ou algum estamos, sem o saber,

    negat ivamente fasc inados ou hipnot izados por imagens ligadas a tais

    elementos.

    Existe uma relao analgica entre os procedimentos mgicos e os

    seus result ados. Os r itos de feit iar ia e seus impactos sobre as vt imas

    possuem uma similar idade simblica demonstrvel pela anlise cuidadosa.

    Isso aponta para a relao psquica que h entre ambos. Ela se d, em sua

    maior parte, em nveis inconscientes. Muitas vezes, o enfeit iador e o

    enfeit iado no se do conta da complexa rede energt ica que os envo lve

    atravs de palavras, sent imentos, pensamentos e at itudes. E justamente

    isso que d magia uma aparncia sobrenatural e mst ica po is aqu ilo que o

    homem no percebe objet ivamente se torna altamente at raente para a

    imaginao fantasiosa. Mas, na verdade, a magia uma manipulao de

    foras naturais inerentes ao homem.

    11 Os seres humanos so vampiros inconscientes. Os fortes atraem a fora dos fracos, levando-os a se sentiremainda mais fracos em sua presena; os inteligentes absorvem a inteligncia dos ignorantes, levando-os a sesentirem estpidos; as mulheres lindas fazem como que as demais se sintam inferiores. A culpa no somentede uma das partes envolvidas no processo, mas de ambas, j que a pessoa vampirizada tambm colabora ao sedeixar fascinar. O caminho para resistir a esta vampirizao no se deixar fascinar pela superioridade,paralisando a mente, mantendo-se a conscincia focada em si mesmo e no se identificando com a presenado outro. Quebra-se, assim, a dinmica da rivalidade e escapa-se da cadeia.

  • 52

    13. Emancipao do comportamento na conduo das correntes

    magnticas

    Aquele que se co loca acima dos puer is sent imentalismos bons e maus

    escapa do alcance do entendimento e se torna incompreensvel e

    imprevisve l. Ao ser invulnervel ira, ser capaz de beneficiar e proteger

    quem o maltrata. Ao ser invulnervel ao medo, ser capaz de afrontar quem

    o ameaa. Ao ser invulnervel ao desejo, ser capaz de rejeit ar as tentaes

    que lhe forem oferecidas. E tudo isso ser realizado somente quando a razo

    o determinar como conveniente. Estar no controle de si e de sua conduta.

    No ser manipulvel, apesar de muit as vezes assim parecer. No ter

    amigos ou inimigos: estar alm dos pares de opostos. Ter a capacidade de

    fazerapenas o que lhe parecer acertado e no se deixar levar pelos

    impulsos.

    Esses so os at ributos da vontade livre: a capacidade de auto-

    domnio, de comandar a si prpr io e de no ser comandado inter iormente

    pelas situaes exter iores. Se a liberdade da vontade for exercitada at

    extremos, a pessoa ult rapassa os limites humanos normais e capaz de

    at itudes inimaginadas e singulares, que ningum poder ia nem mesmo imitar.

    Uma pessoa assim no teme o sexo oposto, no o ido latra e nem o

    odeia. Seus sent imentos no podem ser manipulados por outras pessoas e,

    desta maneira, chega mesmo a comand- las sem que elas percebam. Se for

    um homem, poder, por exemplo, ralhar ou repreender uma mulher, po is no

    temer o seu ju lgamento desfavorvel, e simult aneamente ser capaz de

    cuidar dela e de auxili- la, po is no se deixar tomar pela ira e nem ser

    afetado pelas suas at itudes desagradveis e provocat ivas, vingat ivas ou no.

    Ser desconcertante e, portanto, mister ioso.

    No se polar izar na relao como bonzinho, malvado, autoritr io,

    democrt ico, dominador, submisso, fr io , romnt ico etc. Estar alm dos

  • 53

    plos e dos jogos de opostos. Surpreender com frequncia, j que quebra

    os prprios padres.

    Essas capacidades somente conseguimos com a disso luo do eu e a

    consequente liberao da vontade, antes condicionada sob a forma de

    dese jos.

    A conduo da fora magnt ica depende diretamente de do is fatores:

    Do conhecimento das aes corretas e das reaes que lhes sejam

    correspondentes consoante os objet ivos que se tenha;

    Da capacidade de se levar a termo tais aes, a despeito das

    influncias magnt icas emanadas que tentem nos arrastar para outros

    padres comportamentais. Em outras palavras: a conduo consiste em fazer

    o que se deve e no o que se sente impelido a fazer.

    O poder de auto-domnio nos confere poder sobre as correntes

    magnt icas que saturam o sistema nervoso das pessoas e provocam fortes

    compulses passionais. Ao no permit irmos que as correntes nos dominem,

    somos capazes de tomar at itudes que as contrar iam em situaes nas quais,

    normalmente, ser amos obr igados a ag ir de forma oposta. Ento quando

    conseguimos provocar no outro sent imentos que em situaes normais nos

    ser iam impossveis. Mas isso requer antes de tudo emancipao da vontade

    e tal poder somente pode ser exercido na proporo direta desta lt ima.

    Quanto mais condic ionada for a vontade, mais condicionado ser o

    comportamento. Quanto mais condicionado for o comportamento, mais

    condicionada ser a induo de sent imentos no prximo. Uma pessoa

    condicionada a t rapacear os outros est condicionada a at rair o dio sobre

    si. Uma pessoa condic ionada a somente fazer o bem est condic ionada a

    atrair abusos e explorao sobre si, j que no capaz de sa ir deste

    condicionamento. Uma pessoa livre de ambos condicionamentos ser capaz

  • 54

    de agir tanto de uma forma como de outra, conforme as necessidades que se

    apresentarem.

    Se a conduo no for legtma e justa, o operador ser fulminado

    cedo ou tarde.

  • 55

    Concluses

    As paixes tornam o ser hum