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NEOCONSTITUCIONALISMO E SUBCIDADANIA: o projeto “Cartilha
Constitucional” como estratégia pedagógica para o aperfeiçoamento da
Democracia.
Claudio Cyrino da Silva Junior
Mestre em Direito das Relações Sociais – PUC/Sp.
Professor de Direito da Faculdade de Belém – FABEL.
E-mail: [email protected]
RESUMO
O implemento do Novo Constitucionalismo nesta República pressupõe a
superação do status de subcidadania, observado entre a maioria dos brasileiros.
Nossa experiência cultural aponta para uma histórica separação entre Estado e
Sociedade, o que dificulta o aperfeiçoamento da nossa Democracia, que é falha.
A discrepância entre o texto e a realidade constitucional conduz à constatação de
que prescrições do constituinte, inclusive acerca de Direitos Fundamentais, são
meros arranjos simbólicos, dotados de má-fé institucional e elaborados por
agentes do Estado, a fim de conter certos conflitos sociais. No afã de criar
condições para a superação das habituais relações de poder no Brasil, é que se
propaga uma exitosa experiência pedagógica chamada “Cartilha Constitucional”.
Esse projeto implica na interlocução entre especialistas (cientistas da dogmática
constitucional e das ciências da realidade) e não especialistas, no sentido de
constituir os últimos em cidadãos cientes de seus direitos e deveres
fundamentais, bem como de habilitá-los para a crítica e a interpretação das
normas constitucionais, conforme suas vivências. É que se pugna pela ideia de
que os destinatários da realidade constitucional devem ser seus sujeitos, não seus
objetos.
Palavras-chave: Novo Constitucionalismo; Subcidadania; Projeto
Cartilha Constitucional; Indivíduos sujeitos da realidade constitucional.
ABSTRACT
The implement of the New Constitutionalism in our Republic requires
overcoming undercitizenship status observed in most of Brazilians. Our cultural
experience points to a historical separation between State and Society, which
hinders the improvement of our democracy, that is flawed. The discrepancy
between the text and the constitutional reality leads to the conclusion that
prescriptions of our constituent, including those about Fundamental Rights, are
merely symbolic arrangements, endowed with institutional malfeasance and
prepared by State agents in order to contain some social conflicts . In an effort to
create conditions to overcome the usual power relationships in Brazil, it is
disclosed a successful educational experience called "Cartilha Constitutional".
This project involves the dialogue between experts (scientists of constitutional
dogmatic and of human sciences) and non-experts, to constitute these in citizens
aware of their fundamental rights and duties, as well as enable them to criticism
and interpretation of constitutional laws, according to their experiences. It is
strived the idea that the receivers of the constitutional reality should be its
subjects, not its objects.
Keywords: New Constitutionalism; undercitizenship; Project “Cartilha
Constitutional”; Individuals as subjects of constitutional reality.
1. Introdução.
Os quase 200 anos de Estado Constitucional no Brasil, desde o nosso
momento constituinte histórico que culminou na Carta Imperial de 1824,
padecemos para construir uma Democracia plena.
A esse propósito, o departamento de inteligência da revista The Economist
(2016, p. 15), ao divulgar seu boletim anual sobre o indice de Democracia
percebido em diversos Estados, apresentou dados preocupantes sobre o status do
regime brasileiro: houve uma queda significativa da percepção democrática no
Brasil. A publicação usa uma escala de 0 a 10 (do autoritarismo à plenitude
democrática) e nossa nota caiu de 7,38 (nossa melhor média histórica alcançada
em 2014, 2008 e 2006) para 6,96 (o pior desempenho nos últimos anos). (p. 15)
Trata-se de uma publicação internacional que, por mais prestigiada que
seja, oferece uma visão centrípeta das nossas relações institucionais. Assim, é
possivel que essa percepção estrangeira do nosso regime não alcance a
complexidade dele, ao não considerar peculiaridades domésticas melhor
entendidas por nossos cientistas da realidade, da nossa realidade.
Entretanto, cabe ressaltar que nosso Estado Constitucional há muito se
inspira num modelo democrático europeu, portanto, num modelo democrático
ocidental que acabou por se difundir por quase todo o globo. Deste modo,
parece-nos válido considerar como cientistas, constituídos em sociedades
exportadoras do modelo democrático que aqui se pretende, avaliam nosso estado
de Democracia. Por exemplo, entre os cinco critérios invocados para analisar
cada regime, a publicação (p. 06) aponta nosso pior desempenho em quesitos
como funcionamento do governo, participação política e cultura política (6,79,
5,56 e 3,75, respectivamente). Os quesitos processo eleitoral e pluralismo (9,58)
e liberdades civis (9,12) contam com bom desempenho, mesmo porque desde o
impedimento do ex-presidente Collor, em 1992, não há descontinuidade em
nosso processo de condução à Presidência da República e isso é certamente
captado por aqueles que elaboram a publicação. São números que, fora alguns
pormenores, reafirmam a natureza das relações institucionais e das relações entre
(sub)cidadãos e o Estado brasileiro no Estado brasileiro.
Partimos, então, de uma premissa valiosa para a remediação dessa
realidade: a superação de uma atual democracia falha e a construção de uma
futura democracia plena, demandam a transformação do mero indivíduo em
cidadão, através de uma educação científica, que contemple sua formação crítico-
reflexiva; e uma instrução cidadã, apoiada na assimilação de seus direitos e
deveres fundamentais , bem como de suas responsabilidades na edificação de
uma sociedade livre, justa e solidária. É na defesa desse segundo instrumento,
que discorremos boa parte deste trabalho.
Foi feita uma pesquisa exploratória, a fim de promover a familiarização
com nosso problema-base: a (sub)cidadania brasileira. Foram necessárias breve
análise histórica da questão, aplicação de teses contemporâneas do Direito
Constitucional e afirmação de uma Teoria de Democracia. Finalmente, a
descrição do instrumento pedagógico mencionado, precedida do adequado
levantamento bibliográfico e da análise de exemplos aplicada à nossa proposta,
auxiliou na compreensão dela.
2. O desafio da construção de um cidadão brasileiro sujeito de
direitos, deveres e responsabilidades.
É preciso fazer um breve resgate sobre a (de)formação da sociedade civil
brasileira, mais como em uma anamnese médica e menos como em uma
anamnese platônica; afinal, o nosso processo civilizatório se mostra pouco
saudável - ao menos se comparado aos processos de construção de outros
Estados-Nação.
O Brasil, então Estado recém-soberano, era uma sociedade formada, em
sua maioria, por escravos e homens “livres” incultos e analfabetos, mais
acostumados à condição de cativos e súditos, do que a de homens
verdadeiramente livres, posto o nosso processo de emancipação não ter sido
revolucionário e nem tampouco acompanhado da instituição de uma República
ou uma Democracia. Aqueles indivíduos (e por que não dizer os indivíduos
contemporâneos?) não se percebiam como sujeitos, cujo sucesso e bem estar
estivessem condicionados às políticas de Estado. Alguns mantinham vínculo de
lealdade a potentados, a polícias e a leis locais, cuja contrapartida era a aquisição
de favores e privilégios pessoais. Isto se configurava como um contundente óbice
à construção de um vínculo de pertencimento político de dimensão estatal e
nacional. Assim, nossa gênese enquanto Nação evidencia um povo sem um
sólido vínculo de cidadania com o Estado, um povo que não identifica a devida
coincidência entre o interesse pessoal e o interesse comunitário, pelo contrário.
Já nas primeiras décadas do século XX, diante de um anseio pela
industrialização da nossa economia, pela reforma das nossas relações
socioeconômicas, pela ressignificação da nossa autopercepção que encontrasse
alguma unidade em nossa diversidade, era urgente que um grande salto
civilizatório fosse dado.
Começavam a nascer os mitos de brasilidade, como o mito da mestiçagem
de Gilberto Freyre:
A miscigenação que largamente se praticou aqui corrigiu a distancia
social que de outro modo se teria conservado enorme entre a casa-
grande e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala. O que a
monocultura latifundiária e escravocrata realizou no sentido de
aristocratização, extremando a sociedade brasileira em senhores e
escravos, com uma rala e insignificante lambujem de gente livre
sanduichada entre os extremos antagônicos, foi em grande parte
contrariado pelos efeitos sociais da miscigenação. A índia e a negra-
mina a princípio, depois a mulata, a cabrocha, a quadrarona, a
oitavona, tornando-se caseiras, concubinas e até esposas legítimas dos
senhores brancos, agiram poderosamente no sentido de
democratização social no Brasil (1933, p. 33).
As vicissitudes da nossa diversidade eram negadas pela afirmação de uma
índole pacífica e o encobrimento e a negação de discrepâncias sociais históricas.
O primeiro mito de brasilidade era desenvolvido com o apoio político dos grupos
vencedores da “Revolução de 1930” (leia-se Varguismo). Por sua vez, os
derrotados (leia-se Paulistas) encontraram amparo na criação de outros mitos, o
da cordialidade e o da antítese personalismo-patrimonialismo, ambos de Sérgio
Buarque de Holanda:
A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão
gabadaspor estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um
traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que
permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de
convívio humano, informados no meio rural e patriarcal. Seria engano
supor que essas virtudes possam significar “boas maneiras”,
civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um fundo
emotivo extremamente rico e transbordante. (...) Nossa forma de
ordinária de convício social é, no fundo, justamente o contrário da
polidez. Ela pode iludir na aparência – e isso se explica pelo fato de a
atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica
deliberada de manifestações que são espontâneas no “homem cordial”:
é a forma natural e viva que converteu em fórmula (1936, pp. 146 e
147).
O fato é que o contraponto feito por Buarque de Holanda, ao criticar a
estrutura personalista e hiperburocratizada do Estado brasileiro, fez parecer que
apenas isso era o que impedia o nosso desenvolvimento civilizatório: um mal de
origem que se resumia na oposição entre um Estado viciado e uma Sociedade
virtuosa. Portanto, a solução estaria na minimização do Estado. Simples.
Acontece que a tese buarquiana era perigosa. Perigo que subsiste até os
dias atuais, pois desincentiva a autocrítica e faz parecer que nossos males se
devem a uma realidade dada e espontânea e não a uma realidade construída; ou
seja, que a responsabilidade não é nossa. Ela, então, consagra a separação entre
Sociedade e Estado, tão arraigada em nossa cultura, e não depõe a favor do
fortalecimento do vínculo de cidadania, já tão incipiente.
Sabe-se que para responsabilizar é preciso empoderar (para usar um termo
em voga, hoje).
Então, partimos da premissa contrária: a construção de um Estado
Democrático, que personifique uma sociedade livre e justa, demanda a formação
do indivíduo não como súdito ou à margem do processo político, mas tampouco
sujeito apenas de direitos e garantias; demanda a formação de um cidadão,
consciente de suas faculdades, mas também de suas funções e deveres
fundamentais. É preciso habilitar o indivíduo para participar dos processos
decisórios que envolvam interesses da comunidade.
Neste caso, se o efetivo poder ascendente, como deveria ser em toda
Democracia plena, se manifesta do povo para o Estado e não o contrário; e se
este poder é prescrito e garantido em nossa Constituição que se pretende cidadã,
é preciso promover uma adequada interlocução entre os especialistas em Direito
Constitucional e os titulares do senso comum. Uma cartilha é o mais primitivo
livro didático, apto a comunicar aos mais neófitos aprendizes.
Mas o que é uma Constituição, afinal?
3. Constituição, Normatividade e a perniciosa
Constitucionalização meramente simbólica.
Não nos cabe, aqui, perscrutar pormenores relativos às distintas acepções
sobre o que seja uma Constituição, mas é devido esclarecer que seguimos a
delimitação conceitual feita por Marcelo Neves (2013), inspirado em Niklas
Luhmann, em sua obra “A constitucionalização simbólica”: uma intersecção
entre dois sistemas, a priori autorreferentes, a política e o Direito, os quais se
diferenciam e se relacionam através dela (NEVES, p. 65).
Dada a complexidade das sociedades modernas, não existe uma moral
universal compartilhada por todos os grupos sociais, de modo que a Constituição
se presta a evitar a manipulação política arbitrária feita por grupos hegemônicos
sobre o Direito.
A questão é que a promulgação de uma Constituição não produz de per si
a norma constitucional, mas apenas emite o texto constitucional. A norma só é
concebida a partir de uma interlocução entre texto e realidade, que materialize
suficientemente o texto, de modo a transformar sua sintaxe em dogma jurídico,
com o mínimo de imperatividade. Se tal concretização não acontece, e às vezes
sequer é possível acontecer, estamos diante de uma Constituição meramente
simbólica.
Na modernidade, a função social das Constituições é a prescrição de
Direitos Fundamentais aos cidadãos do Estado Constitucional. A alta
complexidade das relações sociais contemporâneas, ao impor a coexistência de
interesses e expectativas diversificados e até contraditórios, conduz à necessidade
de constitucionalizar princípios de inclusão e discriminação funcional
(tratamento igual aos iguais e desigual aos desiguais), institucionalizando
efetivamente direitos sociais, liberdades civis e participação política.
Prescreve nosso constituinte revolucionário:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Trata-se de patentes normas programáticas de eficácia limitada, no caso,
os programas fundamentais da nossa República Federativa desde 1988; as
finalidades gerais deste Estado; os fins sociais a permear toda a ordem jurídica
brasileira. Mas a questão é o quanto a construção de uma sociedade justa e
solidária, a erradicação da pobreza e o bem estar geral, livre de discriminações
injustificadas, são realizáveis?
As normas programáticas, agora na contemporaneidade, vinculam a
atividade estatal. Antes, a concretização de seus programas ficava
invariavelmente condicionada à liberdade de conformação do legislador ou à
discricionariedade do administrador, por exemplo. Hoje, diz o ministro Luís
Roberto Barroso (2005, p. 07), as normas constitucionais são dotadas de
imperatividade, que é atributo de todas as normas jurídicas, e sua inobservância
há de deflagrar os mecanismos próprios de coação, de cumprimento forçado. Mas
que mecanismos seriam esses? O indivíduo médio conhece institutos como o
Mandado de Injunção, a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, a
Ação Popular, etc.?
Sabemos que a resposta é negativa e, parece-nos, é conveniente para os
governantes que assim o seja.
O certo é que a ideia do aparte entre Sociedade e Estado, como um mal
cultural de raiz, nos termos de Sérgio Buarque de Holanda, perpetua-se. O
isolamento dos subcidadãos (a partir daqui, sem colocar em questão o prefixo
‘sub’) do processo decisório relativo às coisas da vida pública, remanesce.
Nossa Constituição de 1988 resgata a identificação meramente retórica
com o modelo democrático do Ocidente e em seus quase trinta anos de vigência
não foi capaz de promover significativa mudança nas relações de poder. Pode-se
dizer que seu texto é utilizado como um álibi, a fim de adiar de modo contumaz
os programas constitucionais para um futuro remoto, sem contudo, comprometer-
se com a construção de uma realidade social favorável ao atingimento dos seus
fins. Aqui, pugnamos pela tese de que a educação de base, neste caso, seria o
gatilho para o empreendimento de profundas transformações nas nossas
estruturas sociais, a viabilizar um ambiente que fosse ao encontro do texto
constitucional. Daí, a parca força normativa das nossas leis constitucionais, dada
a discrepância entre realidade e texto, conforme veremos no capítulo seguinte.
O indivíduo, alienado dos processos da vida pública, é levado a crer que a
não realização dos programas traçados pelo constituinte, se deve às
impropriedades do próprio texto constitucional e não ao voluntarismo político
dos agentes públicos. Nesse sentido, Marcelo Neves (2011) reitera:
Dessa maneira, não apenas se desconhece que leis constitucionais não
podem resolver imediatamente os problemas da sociedade, mas
também se oculta o fato de que os problemas jurídicos e políticos que
frequentemente se encontram na ordem do dia estão associados à
deficiente concretização normativo-jurídica do texto constitucional
existente, ou seja, residem antes na falta de condições sociais para a
realização de uma Constituição inerente à democracia e ao Estado de
direito do que nos próprios dispositivos constitucionais (p. 187).
Confunde-se, assim, a categoria dogmática das normas programáticas,
realizáveis dentro do respectivo contexto jurídico-social, com o
conceito de constitucionalização simbólica, indissociável da
insuficiente concretização normativa do texto constitucional (p. 186).
É que a constitucionalização simbólica se presta à difusão de um modelo
irrealizável sob condições sociais presentes e reais, dispondo normas
pseudoprogramáticas, desprovidas de normatividade, mas dotadas de ideologias
que amparam a retórica constitucional.
A má-fé do Estado-governo se evidencia ao induzir os indivíduos ao erro,
a fim de garantir, inclusive, sua lealdade: os governados confiam nos
governantes, porque estes dissimulam interesse e disposição para resolver
questões e demandas sociais que sabem são insolúveis (pelo menos, sem as
mencionadas transformações contundentes de ambiente). Assim, é até possível
obter-se certa pacificação de conflitos sociais, ao excluir do debate jurídico-
político, certos temas de relevância e urgência, garantindo o silêncio e a inércia
da sociedade.
Aqui, cabe-nos, entretanto, defender a difusão de instrumentos de cultura
dogmática, a fim de viabilizar maior participação cidadã, seja individualmente,
seja através de movimentos e organizações, habilitando nossos pares para se
envolverem de modo crítico com a realização de valores consagrados em nosso
texto constitucional e se integrarem no processo político.
Sendo assim, é possível a construção de uma esfera pública pluralista
que, apesar de sua limitação, seja capaz de articular-se com sucesso
em torno dos procedimentos democráticos previstos no texto
constitucional. (...) Isso se torna tanto mais provável à proporção que
os procedimentos previstos no texto constitucional sejam deformados
no decorrer do processo de concretização e não se operacionalizem
como mecanismos estatais de legitimação (NEVES, 2011, p. 189).
É difícil negar o alto grau de deformação das nossas normas
constitucionais, atualmente. O contexto seria muito fecundo, não fosse má
formação educacional e política do bonus pater familiae brasileiro.
4. Novo Constitucionalismo: por uma sociedade aberta a cidadãos
intérpretes, como estratégia de mediação entre Estado e Sociedade.
Na alvorada do século XXI, nossa dogmática constitucional incorporou de
vez a teoria de Constituição que desde o pós-Segunda Guerra Mundial fazia a
cabeça dos europeus: o Neoconstitucionalismo. A prevalência da Justiça sobre a
Segurança, a consagração dos Direitos Fundamentais considerados a partir do
supremo valor da Dignidade da Pessoa Humana e a juridicização da norma
constitucional (até então era mera norma política), a fim de se evitar eventual
insinceridade do texto constitucional em face de uma realidade social contingente
– são todas características dessa nova teoria sobre o que deve ser uma
Constituição.
Pugna-se pela força normativa da Constituição, a priori. Konrad Hesse
(1991), em ensaio sobre o tema, bem expõe sua tese nesse sentido:
Embora a Constituição não possa, por si só, realizar nada, ela pode
impor tarefas. A Constituição transforma-se em força ativa se essas
tarefas forem efetivamente realizadas, se existir a disposição de
orientar a própria conduta segundo a ordem nela estabelecida, se, a
despeito de todos os questionamentos e reservas provenientes dos
juízos de conveniência, se puder identificar a vontade de concretizar
essa ordem. Concluindo, pode-se afirmar que a Constituição
converter-se-á em força ativa se fizerem-se presentes, na consciência
geral – particularmente, na consciência dos principais responsáveis
pela ordem constitucional –, não só a vontade de poder (Wille zur
Macht), mas também a vontade de Constituição (Wille zur
Verfassung) (p. 07).
Esse novo Constitucionalismo já estava, ao menos simbolicamente,
representado em nossa Lei Magna de 1988. Vejamos, por exemplo, o texto
contido no §1º do art. 5º: as normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata. Dada a natureza redemocratizante do
momento constituinte que antecedeu a promulgação da atual Constituição, data
venia eventual ingenuidade nossa, é possível especular a boa-fé do nosso
constituinte ao prescrever tal comando aos poderes estatais constituídos. Bem
verdade que o adjetivo “imediata” comporta uma noção ainda indeterminada de
tempo, entretanto quase trinta anos após a promulgação daquele comando,
parece-nos que a mora dos agentes estatais, que ainda não providenciaram
aplicabilidade para certos direitos fundamentais, é óbvia.
Segundo o Neoconstitucionalismo, o Poder Legislativo tem diminuída sua
liberdade de conformação na elaboração das leis e se obrigado a realizar os
programas constitucionais. Do mesmo modo, o Poder Executivo tem reduzida
sua margem de discricionariedade e mesmo sobre seus atos ainda discricionários,
cabe controle e eventual invalidação. Por seu turno, o Judiciário deve guardar a
Constituição como parâmetro de validade de atos legislativos, administrativos e
particulares; bem como para interpretar preceitos infraconstitucionais.
Contudo, o que se observa é um baixo índice de regulação das condutas
dos agentes estatais e de orientação das expectativas sociais. A realidade
constitucional é excludente, em vez de includente.
Peter Häberle, em sua tese de Hermenêutica Constitucional (1997), vai
além, afirma que a realidade constitucional não depende somente da articulação
de elementos objetivos presentes na vida social, mas também da inclusão do
povo pluralisticamente organizado no processo de interpretação constitucional:
"Povo" não é apenas um referencial quantitativo que se manifesta no
dia da eleição e que, enquanto tal, confere legitimidade democrática
ao processo de decisão. Povo é também um elemento pluralista para a
interpretação que se faz presente de forma legitimadora no processo
constitucional como partido político, como opinião científica, como
grupo de interesse, como cidadão. A sua competência objetiva para a
interpretação constitucional é um direito da cidadania (...) (p. 37).
Aqueles que experimentam a norma (todos os destinatários dela) devem
atuar, no mínimo, como pré-interpretes. A aproximação entre essa tese de
interpretação e a teoria democrática exige a concepção de um cidadão
politicamente ativo, dotado de potências públicas. Cabe mencionar nossa
experiência com as audiências públicas, ou os exemplos de leis nacionais
deflagradas por iniciativa popular.
Defende o constitucionalista alemão que os critérios de interpretação
constitucional hão de ser tanto mais abertos quanto mais pluralista for a
sociedade. Assim, no processo de interpretação constitucional, além de todos os
órgãos estatais e de todas as potências públicas, todos os cidadãos e grupos, estão
implicados no processo de concretização da norma constitucional, não sendo
possível estabelecer-se um elenco cerrado ou fixado de intérpretes (p. 13).
O diálogo com seu orientador, Hesse (1991) na obra já citada, é inegável:
(...)a interpretação tem significado decisivo para a consolidação e
preservação da força normativa da Constituição. A interpretação
constitucional está submetida ao princípio da ótima concretização da
norma (Gebot optimaler Verwirklichung der Norm). (...) Se o direito
e, sobretudo, a Constituição, têm a sua eficácia condicionada pelos
fatos concretos da vida, não se afigura possível que a interpretação
faça deles tábula rasa. Ela há de contemplar essas condicionantes,
correlacionando-as com as proposições normativas da Constituição. A
interpretação adequada é aquela que consegue concretizar, de forma
excelente, o sentido (Sinn) da proposição normativa dentro das
condições reais dominantes numa determinada situação.
Em outras palavras, uma mudança das relações fáticas pode – ou deve
– provocar mudanças na interpretação da Constituição. Ao mesmo
tempo, o sentido da proposição jurídica estabelece o limite da
interpretação e, por conseguinte, o limite de qualquer mutação
normativa. (...)Uma interpretação construtiva é sempre possível e
necessária dentro desses limites. A dinâmica existente na interpretação
construtiva constitui condição fundamental da força normativa da
Constituição e, por conseguinte, de sua estabilidade. Caso ela venha a
faltar, tornar-se-á inevitável, cedo ou tarde, a ruptura da situação
jurídica vigente (p. 09).
O Neoconstitucionalismo, ao contemplar a força normativa da
Constituição através da expansão da jurisdição constitucional e do
desenvolvimento de uma nova dogmática da interpretação constitucional,
concilia-se com a ideia de alargar o círculo de intérpretes da Lei Fundamental.
Assim, pretende-se que o poder de dicção normativa abarque, não apenas as
autoridades públicas e as partes formais nos processos de controle de
constitucionalidade de atos jurídicos em geral, mas todos os cidadãos e grupos
sociais que, de uma forma ou de outra, vivenciam a realidade constitucional.
5. Educação: um programa constitucional fundamental e a má-fé
institucional.
Vê-se que a grande angústia a motivar esta dicção e o projeto Cartilha
Constitucional, como já indicado antes, é a natureza da parca educação, tanto a
científica como a cidadã, disponibilizada à sociedade brasileira. Sabemos das
experiências curriculares obtidas com disciplinas como Educação Moral e Cívica
e Organização Social e Política do Brasil, bem como do desvirtuamento das suas
finalidades por governos oportunistas. O fato é que as vicissitudes do nosso
sistema educacional são históricas.
Considerando que nossas relações humanas são aperfeiçoadas diante de
um sistema econômico capitalista pautado na competitividade, o conhecimento, a
qualificação e a especialização são as principais ferramentas de desenvolvimento
pessoal, de inclusão social e, consequentemente, de promoção do bem estar. De
tal sorte refletir sobre nosso sistema educacional é preciso.
A formação da Instituição escolar no Brasil foi marcada pela exclusão e
pela seletividade, desde a escolástica dos jesuítas literários à expansão do ensino
de base, iniciada no fim da primeira república e empreendida até os dias atuais,
quando o acesso pode se dizer universal. Ora a exclusão se deu pelo
impedimento do acesso das classes menos favorecidas, ora pelo fracasso da
“ralé” que não consegue êxito perante um sistema de ensino que não fora
pensado para ela. Aqui, invocamos termo difundido por Jessé Souza em sua obra
“A ralé brasileira: quem é e como vive” (2009), em que o sociólogo e seus
colaboradores mostram que a despeito da prestação constitucional imposta ao
Estado, o fracasso de estudantes dessa ralé, cujo habitus familiar e social não cria
condições para o sucesso educacional, é quase certo diante de uma Instituição
não pensada para lidar com o perfil de seus credores.
Vejamos, nossa Constituição Republicana assim prescreve:
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para
todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5
(cinco) anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da
criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do
educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação
básica, por meio de programas suplementares de material didático-
escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público
subjetivo.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou
sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade
competente.
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou
responsáveis, pela freqüência à escola.
Confrontar os deveres positivos assumidos por nossa carta republicana
perante a educação, principalmente o ensino de base, com alguns números de
Censo escolar, revela que a execução da prestação assumida não se mostra
exitosa. Levantamento feito pelo movimento Todos Pela Educação (TPE) aponta
que, em 2013, o Brasil tinha 93,6% da população de 4 a 17 anos na Educação
Básica (TPE, 2015), ao passo que pouco mais da metade dos jovens terminam o
Ensino Médio aos 19 anos de idade: 54,3% (TPE, 2014). O fracasso
experimentado por indivíduos marginalizados é evidenciado por altas taxas de
evasão escolar e de repetência e pode ser explicado pelo fato de a Instituição
escolar desprezar as peculiaridades dos seus destinatários:
(...) sem uma identificação afetiva com o mundo escolar que gere ao
menos uma noção de dever e responsabilidade moral para com os
estudos, sem disciplina, concentração e autocontrole suficientes para
vencer as tentações dos prazeres imediatos em nome de uma
recompensa futura, é muito compreensível que essas crianças prefiram
se entregar aos prazeres imediatos que as brincadeiras de rua oferecem
do que se inclinarem a atividades que exigem delas habilidades que
não lhes foram ensinadas e com as quais não têm nenhuma
familiaridade. Qualquer criança desde cedo percebe qual é o
comportamento que a escola reconhece e premia. No entanto, só
aqueles alunos que reconhecem a autoridade do sistema escolar e já
incorporaram a “disposição para o conhecimento” como parte
fundamental de sua autoestima podem almejar os prêmios que a
instituição oferece àqueles que conseguem cumprir as metas que ela
impõe. E, como vimos, essa adesão afetiva ao aprendizado é fruto de
uma configuração familiar capaz de transmiti-la como herança aos
seus descendentes (FREITAS, 2009, p. 289).
Lorena Freitas, colaboradora de Souza na obra citada acima, expõe valiosa
análise de um malfadado processo educacional disponibilizado pelo Estado aos
seus credores, o qual faz parecer que o fracasso da Instituição é fracasso
individual, insucesso daqueles que se não desempenham bem, o fazem por
incompetência subjetiva, quando na verdade, as chances de êxito no contexto em
que os excluídos vivem são de antemão remotas:
A crueldade da má-fé institucional está em garantir a permanência da
ralé na escola, sem isso significar, contudo, sua inclusão efetiva no
mundo escolar, pois sua condição social e a própria instituição
impedem a construção de uma relação afetiva positiva com o
conhecimento. (...) O grande feito da má-fé institucional foi lhes
mostrar o caminho por excelência do sucesso pessoal e do
reconhecimento social em uma sociedade capitalista competitiva
como a nossa, o conhecimento, apenas para fazê-los descobrir que as
portas desse caminho estão irremediavelmente fechadas para eles. E
pior: que se trata de um fracasso individual, e não de um processo
histórico que reproduz uma classe inteira (FREITAS, 2009, pp. 301 e
303).
Sem perder de vista os objetivos fundamentais traçados em nossa
Constituição, os quais se configuram como fins sociais gerais a permear todo e
qualquer ato estatal, sejam leis, políticas públicas ou sentenças judicias; é
possível negar a má-fé institucional da política educacional nacional, que pouco
faz para remediar e reverter números negativos contumazes?
Infelizmente, a discrepância percebida entre compromissos programáticos
constitucionais e o implemento deles através de leis regulamentadoras e políticas
públicas concretizadoras é comum em nossa ordem jurídica: o problema da
constitucionalização simbólica já apresentado no capítulo anterior.
6. O projeto “Cartilha Constitucional”: breve relato de um
instrumento pedagógico de formação cidadã e de dogmatização da
Constituição.
Ao entendermos que o estudo da Constituição Federal possibilita a
articulação de ações de desenvolvimento intelectual-reflexivo com vista ao
desenvolvimento e sustentabilidade política, social, econômica, ambiental e
cultural, no âmbito da Faculdade de Belém – FABEL foi instituído o Projeto de
Extensão “CARTILHA CONSTITUCIONAL” propondo como pressuposto
essencial que o estudo dos direitos e deveres fundamentais da pessoa humana,
presentes na Constituição Federal, no contexto de seus princípios e objetivos
estruturantes, fosse ministrado como conteúdo da matriz curricular no ensino
fundamental e médio, incluindo o tema em consonância com a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nº 9.394/96.
O projeto de extensão “Cartilha Constitucional” teve suas origens fincadas
na constatação da necessidade de contribuir na preparação para o exercício da
verdadeira cidadania na busca da realização de uma das finalidades da educação
nacional como forma de transformação social, ou seja, a democratização dos
conhecimentos científicos e outros de nosso cotidiano social encontrados na
Constituição Federal. Assim, ao visar transmitir aos educandos, os
conhecimentos e os princípios basilares da interdisciplinaridade e da
transdisciplinaridade da Constituição Brasileira e o enfoque da educação
ambiental, possibilitando suas assimilações em práticas de cidadania através do
saber-ser, saber-fazer e do saber participar, entendemos ser pertinente a
compreensão sobre as possíveis contribuições que o referido projeto oportunizou
aos sujeitos envolvidos em sua realização.
Inicialmente, as ações de extensão na Faculdade de Belém – FABEL
pretendem fortalecer a sua relação com a comunidade na perspectiva de suprir o
cenário local de atividades voltadas para a sustentabilidade e ações sociais, neste
sentido foi implantado o Projeto de Extensão “Cartilha Constitucional” com o
objetivo de promover a interação da Faculdade de Belém – FABEL com a
sociedade local, visando também contribuir para o desenvolvimento da Região.
Em sua essência pedagógica e extensionista, o projeto visa transmitir aos
educandos os conhecimentos e os princípios basilares da interdisciplinaridade e
da transdisciplinaridade da Constituição Brasileira.
Os conhecimentos dos princípios básicos constitucionais e da educação
ambiental foram desenvolvidos por meio de abordagens gerais sobre os direitos e
garantias individuais e coletivas, a biodiversidade, o desenvolvimento
sustentável, a economia e a política, de modo a desenvolver a capacidade dos
educandos em entender, compreender e agir sobre o meio social, político,
econômico e ambiental onde estão inseridos. Os temas abordados se utilizaram
de instrumentos didático-pedagógicos elaborados para tal fim, necessários e
suficientemente adaptados à realidade do público-alvo, conforme os programas
escolares e as disciplinas das referidas escolas da rede Municipal de ensino,
atendendo as especificações do Ministério da Educação, contidos na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação - Lei 9.394/1996.
A Extensão Universitária pode ser entendida como prática acadêmica que
expressa a interação Universidade-Sociedade, por meio da articulação de
atividades de ensino e pesquisa com demandas sociais mais abrangentes, por
outro lado, a extensão, como trabalho social, passa a aparecer nas práticas
desenvolvidas no Ensino Superior. Esta relação entre as instituições de ensino
superior e as comunidades externas fortalece as atividades de Extensão,
constituindo- a como um trabalho social útil sobre a realidade, realizando-se
como processo dialético de teoria e da prática dos envoltos nesse trabalho,
externando um produto que é o conhecimento novo, cuja produção e
aplicabilidade possibilitam o exercício do pensamento crítico e do agir coletivo.
Ao se pensar a extensão universitária como trabalho, vê-se que este
trabalho não se exerce, apenas, a partir da mera participação dos membros da
comunidade universitária, isto é, docentes e estudantes. Na sua dialeticidade,
exige a dimensão externa à universidade, que é a participação de pessoas da
comunidade ou mesmo de outras instituições de ensino, no caso, a escola. A
relevância das atividades de extensão no ensino superior tem sido foco de
inúmeros estudos, especificamente no sentido de consolidá-la como um
importante espaço voltado á busca de solução para os problemas sociais, daí a
recomendação do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior para que a
extensão venha pautar-se em valores educativos, primando por sua integração
com o ensino e a pesquisa, reforçando a necessidade da transferência do
conhecimento produzido nas IES e sua interferência no desenvolvimento regional
e nacional. As políticas de extensão devem cumprir os preceitos estabelecidos
pela missão da instituição, considerando a importância social de suas ações para
o desenvolvimento e promoção da cidadania.
É preciso que as ações extensionistas mantenham uma articulação entre os
setores público, produtivo e o mercado de trabalho, contribuindo para que o
aluno desenvolva, no processo de aprendizagem, o espírito crítico próprio da
formação cidadã, conforme destaca Carbonari (2007, p.27), A extensão,
enquanto responsabilidade social faz parte de uma nova cultura, que está
provocando a maior e mais importante mudança registrada no ambiente
acadêmico e corporativo nos últimos anos. Parcerias entre o poder público,
empresas, organizações não governamentais e voluntários poderão dar
abrangência aos projetos sociais, garantir perenidade e enfrentar os enormes
desafios que ainda temos pela frente. Outro ponto importante da articulação das
atividades de extensão no ensino superior está vinculado pelo envolvimento
direto dos estudantes de diferentes cursos em tais atividades, oportunizando aos
mesmos o contato com a realidade e o cotidiano das comunidades, ainda no
processo de formação profissional.
7. Considerações Finais.
Uma democracia não se aperfeiçoa apenas a partir da delegação de
responsabilidade formal do Povo para os órgãos estatais, seja mediante eleições
ou mediante subordinação às decisões do último intérprete formalmente
"competente", a Corte Constitucional – o Supremo Tribunal Federal. Numa
sociedade aberta e plural, ela se desenvolve, também, através instrumentos de
mediação do processo público e pluralista da política e da práxis cotidiana. Ela se
consolida mediante o fortalecimento das leis constitucionais capazes de filtrar os
interesses políticos, especialmente particularizados em nossa sociedade.
A legitimidade dos atos estatais melhor se consubstancia, quando do
advento de uma Constituição que estruture o Estado, a sociedade e até os setores
da vida privada, sem instrumentalizar as forças sociais.
Indivíduos, seja em sua dimensão “Povo”, seja em sua dimensão pessoal,
não podem ser destinatários da norma constitucional como objeto, mas sim como
sujeito. Sujeito-princípio e sujeito-fim desse Direito.
Acreditamos que o projeto “Cartilha Constitucional” é uma iniciativa
pedagógica necessária para a transformação das nossas relações de poder, que
vise resgatar o brasileiro médio da sua condição de subcidadão.
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