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QUARTA-FEIRA | 27 NOV 2019 Gaia ganha centralidade Caráter periférico em relação ao Porto esbate-se. Gaia capta mais investimento. SALVADOR CAETANO COM PROJETOS DE ALTOS VOOS GAIA APOSTA EM POLÍTICA FISCAL “AGRESSIVA” negócios é Portugal Informe-se em Publicidade Paulo Duarte

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Page 1: negócios é Portugal · mas cortaram garrafas, não só do vinho do Porto, como dos vinhos de Bordéus, de Bolonha e de outras origens. E, para darem menos espaço de prateleira,

QUARTA-FEIRA | 27 NOV 2019

Gaia ganha centralidade

Caráter periférico em relação ao Porto

esbate-se. Gaia capta mais investimento.

SALVADOR CAETANO COM PROJETOS DE ALTOS VOOS GAIA APOSTA EM POLÍTICA FISCAL “AGRESSIVA”

negócios é Portugal

Informe-se em

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Fonte: Informa D&B, IEFP, INE, Pordata

ila Nova de Gaia é o terceiro maior conce-lho de Portugal em população, a seguir a Lisboa e Sintra. Pos-

sui 299.820 habitantes, ainda que 225.705 tenham mais de 65 anos.

A sua realidade demográfica contrasta, ainda assim, com o en-velhecimento acelerado na Área Metropolitana do Porto (AMP), mantendo-se um concelho jovem e com “saldo natural e migratório muito ligeiramente desfavorável”, segundo o Plano de Desenvolvi-mento Social 2017-2021.

Pisamos “um território enor-míssimo” (168,46 km2 de área),

que acolhe empresas, nacionais e estrangeiras, de pequena, média e grande dimensão e de setores eco-nómicos relevantes, com propen-são natural para acolher conheci-mento e inovação e um elevado perfil exportador (automóvel, vi-dreiro, componentes eletrónicos, material elétrico, agrícola e agroa-limentar, vinho do Porto, hotela-ria, enoturismo, serviços e outros).

O Plano Diretor Municipal (PDM) está em revisão, com o ob-jetivo assumido de se transformar num “instrumento de crescimento económico e, ao mesmo tempo, so-cial”, assume a autarquia. Em pa-ralelo, já está em curso um mapea-

mento de potenciais novas zonas industriais. Graças a uma proativa captação de fundos públicos (QREN e PDR 2020), uma boa execução da receita e idêntica ges-tão da despesa e a uma progressiva redução do endividamento muni-cipal e uma “política agressiva do ponto de vista fiscal” - isenção de

derrama durante três anos com criação de emprego de base local -, o concelho de Gaia emerge do constrangimento orçamental.

Com boas acessibilidades e ra-zoável mobilidade, ganha novo protagonismo e atratividade eco-nómica, fruto de uma enorme mais-valia: “a conciliação entre a escala e a centralidade”. E até o seu caráter periférico em relação ao Porto está a esbater-se, graças, também, à relação pessoal e polí-tica entre os dois autarcas: “abso-lutamente estabilizada e, até, do ponto de vista pessoal, consisten-te”, segundo o presidente da autar-quia, Eduardo Vítor Rodrigues . �

RETRATO

TERESA SILVEIRA RÚBEN SARMENTO Infografia

Gaia liberta-se da dívida e ganha centralidade na periferia. O Plano Diretor Municipal está em revisão, com o objetivo assumido de se transformar num “instrumento de crescimento” económico.

Gaia respira e capta mais investimento

V NOTA: A elaboração do “ranking” resulta da metodologia de análise da Informa D&B. A informação é baseada no balanço e demonstração de resultados individual e respe-tivos anexos financeiros publicados e existentes na base de dados Informa D&B, excluindo-se o setor financeiro e a Administração Pública, assim como as entidades sem em-pregados e as empresas “offshores”. Foram excluídas as empresas que não publicaram ou disponibilizaram a in-formação necessária. São apenas consideradas as em-presas que se encontram ativas.

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rgulha-se de estar há mais de 137 anos em Portugal (desde 1882) e espera “continuar por mais 100 anos”. A

Symington Family Estates, dona de marcas como a Graham’s, Dow’s, Cockburn’s e Warre’s (vi-nho do Porto) ou Altano e Quinta do Vesúvio (Douro DOC), é a maior proprietária de vinhas na Região Demarcada do Douro (26 quintas, 2.255 hectares, dos quais 1.070 plantados com vinha).

Em 2017, alargou horizontes a Sul, adquiriu 207 hectares da Quinta da Fonte Souto, na Serra de São Mamede, parte da sub-re-gião de Portalegre (Alto Alente-jo), onde fez este ano a terceira vindima. E Rupert Symington sabe bem a importância da “diver-sificação”, pelo que não exclui a entrada noutras regiões vitiviní-colas. “Faz sentido ponderarmos sempre outras regiões, mas só en-traremos com projetos de muita qualidade. Tem de ser um projeto que mereça. Não queremos coisas de baixa/média gama”, garante o CEO. Afinal, “o Douro é difícil de igualar”.

É, pois, para já, na Região De-marcada do Douro (produção e vi-nificação) e em Gaia (engarrafa-mento, comercialização e enotu-rismo) que está o cérebro do ne-gócio da família. E é onde são pen-sados os principais investimentos. Como o da construção da nova adega, por exemplo, na Quinta do Ataíde, anunciada em 2018 para estar pronta em 2020, mas que ainda não arrancou. A cifra do in-vestimento “ainda não está fecha-da”. E “muda todos os dias”, por-

que “o custo de construção por metro quadrado subiu brutalmen-te nos últimos anos”, mas não de-verá ser inferior a “oito milhões”.

“Estamos ainda a analisar as primeiras propostas dos emprei-teiros. Estará pronta na vindima de 2021, se Deus quiser”, revela Rupert Symington, sublinhando que “não temos pressas” e que “queremos fazer as coisas bem fei-tas”. Adianta até que fizeram “al-gumas alterações ao projeto ini-cial”, mormente para acomodar

“algumas especificações”, pois há um ponto de honra na hora de in-vestir: “vai ser um projeto susten-tável, com uma certificação inter-nacional de sustentabilidade, para garantir que respeita o ambiente”. Segundo restaurante de luxo em Gaia A megalomania não cabe aqui. “Não vai ser uma adega muito grande”, diz o CEO, apontando para uma capacidade de “75 mil caixas de vinhos Douro DOC re-

serva, mais possivelmente umas 25 ou 30 mil caixas para vinhos de entrada, mais correntes”. Isto, “numa fase inicial, porque haverá espaço para expandir”. Será, con-tudo, “uma adega de vinificação para fazer vinhos de qualidade”, com espaço para armazenamen-to de néctares “a granel e em cas-co”.

Certo é que, nem só da produ-ção, engarrafamento e comercia-lização de vinho vive a atividade da Symington, que sobre o negó-

VINHOS

Symington semeia milhões no Douro e Gaia

TERESA SILVEIRA PAULO DUARTE Fotografia

OOito milhões é o investimento da Symington na nova adega na Quinta do Ataíde, no Douro, para estar operacional em 2021. Em Gaia, está na calha um segundo restaurante de luxo.

A Symington exporta

90% da produção

diretamente para

85 países (120

mercados,

de forma indireta).

Em Gaia concentra as

caves, engarrafamento,

serviços

administrativos

e enoturismo.

cio do vinho do Porto apenas diz ter “esperança de poder vir a ven-der muito mais em valor”.

Na região duriense, e, sobretu-do, nas suas caves em Gaia, o eno-turismo ganha cada vez mais esca-la. Depois de uma primeira parce-ria com o grupo Sagardi, de origem basca, com quem exploram o res-taurante Vinum, nas caves Gra-ham’s, a família quer replicar a ex-periência.

“Aqui em Gaia temos muitas propriedades, algumas ainda com

vinho, mas temos vindo a investir e a transformar a autorização de alguns desses centros de armaze-nagem. Fizemos o centro de visi-tas da Graham’s, o centro de visi-tas da Cockburn’s, fizemos escri-tórios novos aqui na sede, portan-to, andamos constantemente a in-vestir em projetos novos. Depois, em projetos de enoturismo, o res-taurante que fizemos com a Sagar-di há uns anos vai faturar só este ano mais de três de milhões de eu-ros”. Para o CEO da Symington, é

“um exemplo onde fazemos as coi-sas bem feitas”. E com “retorno fi-nanceiro”, que “até foi mais rápi-do do que nós esperávamos”.

Tendo isto por base, “estamos a planear um segundo restauran-te”. Ainda não está programado nem deram conhecimento à Câ-mara, mas “será numa das nossas propriedades e terá os mesmos pa-drões de qualidade”. Rupert Symington está confiante: “esta é uma fórmula de sucesso”. E “é para manter”. �

90 FATURAÇÃO A empresa registou um volume de negó -cios de 90 milhões de euros em 2018.

330 PESSOAS Entre Gaia e o Douro, a Symington emprega 330 pessoas, entre elas cinco tanoeiros.

1.070 VINHA PLANTADA A Symington é dona de 26 quintas no Douro, com 1.070 hectares de vinha.

A indefinição a que o proces-so de saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) tem estado sujeito desde que foi conhecido o resultado (52% a favor) do referendo de 23 de junho de 2016, inco-moda Rupert Symington. So-bretudo pela desvalorização da libra que lhe está associa-da e porque esta “incerteza” gera retração no consumo. “O consumidor tendencial-mente vai consumir menos”, lamenta Rupert Symington.

Sendo o Reino Unido um dos vossos mercados mais importantes, e apesar de o Brexit andar de adiamen-to em adiamento – a UE a 27 decidiu aceitar a exten-são do prazo até 31 de ja-neiro de 2020 –, que refle-xo é que este processo tem nas exportações para lá? O maior efeito foi a desci-

da bastante forte da libra, com toda a incerteza que co-locou, o que levou a uma quebra de cerca de 10% do preço médio de exportação. Esse foi o primeiro efeito. E, desde aí, oscilou. A quebra é sobretudo em valor. Em quantidade não se sentiu tanto. Há outros fatores que também influenciam muito em Inglaterra, que é a con-corrência interna entre a dis-tribuição moderna.

Como assim? A entrada da Aldi e do Lidl

no mercado britânico [que ti-nham, em meados deste ano, uma quota de, respetivamen-te, 6,2% e 5,9% no Reino Uni-do, de acordo com a Kantar] provocou uma reação das ou-tras cadeias, como a Sains-bury e a Tesco, para tentar enfrentar o desafio da Aldi e

do Lidl. Eles adotaram estra-tégias diferentes, mas algu-mas cortaram garrafas, não só do vinho do Porto, como dos vinhos de Bordéus, de Bolonha e de outras origens. E, para darem menos espaço de prateleira, copiaram mais o modelo Aldi e Lidl, que têm menos referências. Mas isso não resultou nada bem. Per-deram clientes, por não te-rem tanta oferta como antes para oferecer ao consumidor.

E quanto ao Brexit, pro-priamente? O que incomoda mais é a

incerteza. Nós, felizmente, ainda não sentimos, mas en-quanto não há clareza sobre o que vai acontecer, o consu-midor tendencialmente vai consumir menos. Sobre isto faço um comentário: a Ingla-terra já tributa muito o vinho. Há um imposto enorme de importação. O vinho não cir-cula de Portugal para Ingla-terra sem taxas. Em Inglater-ra há um imposto específico de consumo [sobre o ál-cool/bebidas alcoólicas] apli-cado à entrada. Numa garra-fa de vinho, os impostos são quase 2,5 libras. Numa garra-fa que custa sete libras, 2,3 li-bras vão ao charco. �

Brexit gera quebra de 10% no preço de exportação

PERGUNTAS A RUPERT SYMINGTON CEO da Symington

A quebra é sobretudo em valor. Em quantidade não se sentiu tanto. RUPERT SYMINGTON CEO Symington

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| 27 NOV 2019

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Debruçámo-nos no corrimão do varan-dim metálico de um dos pavilhões da Cae-tano Bus, detida em 62% pela Salvador

Caetano (os restantes 38% são da japonesa Mitsui). Naquele chão frio de fábrica que os olhos dali al-cançam, onde, peça a peça, etapa a etapa, qual alfaiataria, dezenas de trabalhadores montam os au-tocarros da companhia, não há es-paço nem para mais um.

A estrutura industrial está reple-ta de veículos, alinhados em filas e ainda em carcaça. Serão termina-dos, pintados e selados noutros pa-vilhões contíguos, prontos para en-tregar por barco ou em camião aos clientes em todo o mundo.

Entre os veículos em produção está o modelo Cobus, a marca pró-pria de autocarros utilizada nos aeroportos que é a “menina dos olhos” da CaetanoBus e que a companhia já exporta para mais de 90 países.

Com isto assimilamos melhor as palavras do CEO da Toyota Caetano Portugal quando nos diz, minutos depois, que só esta unida-de de Gaia faturou “o ano passado 74 milhões de euros” e que este ano “a previsão é de 101 milhões”, fru-to da venda de 440 veículos em 2018 e das 689 unidades que dali sairão até ao fim de 2019.

“Esta fábrica está a atingir o ponto de saturação e está no nos-so horizonte expandir a produção, até porque a fábrica de Ovar tem capacidade neste momento para acomodar também a fabricação de autocarros e estamos a estudar essa ampliação, principalmente agora com o novo modelo de au-

tocarro a hidrogénio que lançá-mos e que está a ter muito êxito”, revela José Ramos.

O CEO fala do H2.City Gold, que estará no mercado em 2020 e que é o novo veículo de transporte coletivo de passageiros (até 87 pes-soas) elétrico a hidrogénio, que uti-liza a mesma célula de hidrogénio do Toyota Mirai. É amigo do am-biente, está equipado com uma cé-lula de combustível Toyota e é re-sultado da “elevada capacidade de engenharia da CaetanoBus”. Gra-

ças ao rápido tempo de carrega-mento (menos de nove minutos) e à elevada autonomia do veículo, “as operações nas cidades não estão comprometidas”, garante a empre-sa. É que o H2.City Gold tem uma autonomia de 400 quilómetros com um só carregamento.

CAER: mais 2000m2 e dois milhões de investimento O CEO confirma que, face ao au-mento das encomendas de auto-carros, vão “usar a fábrica de Ovar

para absorver o aumento de pro-dução”, embora a vertente de “en-genharia” se mantenha “toda aqui” (Gaia). A produção, essa, é que “será dividida entre as duas fá-bricas”. O objetivo é, “em finais de 2020/2021, estarmos já também a produzir em Ovar”.

Na calha está mesmo “dupli-car a capacidade” de montagem e acabamento destes veículos, ga-rante José Ramos, realçando que a previsão é, daqui a 10 anos, atin-gir as 2.000 unidades. “Na verten-

AUTOMÓVEL

Salvador Caetano voa mais alto

TERESA SILVEIRA PAULO DUARTE Fotografia

A Salvador Caetano está em três con -tinentes e 37 países. Faturou 2,3 mil milhões em 2018 (107.286 veículos) e prevê 2,4 mil milhões em 2019. Emprega 7.217 pessoas (2.300 em Gaia).

te da engenharia não vamos cres-cer muito mais em recursos huma-nos, mas na parte da montagem, sim, vamos precisar de mais 400 a 500 pessoas”.

De pavilhão em pavilhão, e já depois dos túneis da pintura, abrem-se-nos, a dado momento, as portas da mais recente unidade in-dustrial do grupo no concelho de Gaia: a Caetano Aeronautic (CAER). “Faz parte do nosso faro. É indústria, e a indústria é impor-tantíssima para o país e estruturan-

te para criar riqueza”, diz, orgulho-so, o CEO. A sua construção resul-ta de uma “joint venture” (50%/50%) entre os grupos Salva-dor Caetano e Aciturri e onde são fabricadas, desde 2015, peças ma-quinadas em alumínio, titânio e em fibra de carbono para alguns dos principais programas do setor ae-ronáutico. Os principais clientes são de peso: Airbus (“predominante-mente”), Aciturri, Alestis e Ogma.

A CAER emprega 164 cola-boradores, faturou 7,4 milhões

de euros o ano passado e prevê faturar 8,5 milhões este ano. Ex-porta 99% da sua produção. Mas, avisa José Ramos, “ainda esta-mos a começar, estamos em cres-cendo”, revelando que vão “ex-pandir a fábrica”. No ano 2020, a unidade vai ter “pelo menos mais 2.000 metros quadrados” para reforçar a componente me-tálica e dos compósitos. O inves-timento é de dois milhões de eu-ros e implica a contratação de mais 60 pessoas. �

842 FORMANDOS Nos seus sete centros de formação agrega 842 formandos em 2019.

7.217 PESSOAS O grupo tinha 7.217 trabalhadores em 2018. Prevê 7.400 em 2019.

689 AUTOCARROS A CaetanoBus vai fechar 2019 com 689 autocarros vendidos.

12.480 UNIDADES A Toyota Caetano Portugal vendeu 12.480 unidades no ano de 2018.

A estrutura industrial

estava repleta de

veículos, alinhados

em filas e ainda em

carcaça. Serão

terminados para

entregar por barco

ou em camião

em todo o mundo.

O Governo acaba de fixar em 635 euros o salário mí-nimo nacional (SMN) para 2020, mas isso não afeta a Salvador Caetano, que paga “predominantemente aci-ma”. Ao presidente executi-vo do grupo preocupa, sim, “a eficiência e a produtivi-dade”.

Dos vossos sete centros de formação saem cente-nas de jovens. Que per-centagem fica convosco? A taxa de retenção nas

empresas do grupo Salvador Caetano só na área abrangi-da pelo Centro de Formação de Gaia é de 41%. A forma como a formação é dada – a tal cultura a que nós chama-mos “ser Caetano” -, mesmo os que não ficam cá, levam--na. São nossos embaixado-res. Uma das nossas estraté-gias é que queremos que os nossos trabalhadores não venham para o emprego, mas gostem de vir trabalhar. Isto é muito fácil de dizer, mas é preciso ter uma estra-tégia, a começar pelas che-fias. Os líderes aqui têm de ser verdadeiramente líde-res. Têm de se preocupar com os trabalhadores. Em diversas áreas, desde a er-gonomia, o bem-estar, e preocupamo-nos muito com isso. E queremos, portanto, que, quer a produtividade, quer a eficiência venham ao de cima e sejam evidentes.

Quais são os principais constrangimentos que um grupo da vossa di-mensão sente na sua ati-vidade? Deixe-me dizer-lhe: agora,

a propósito da concertação social, fala-se muito no salá-

rio mínimo. A mim não me preocupa o salário mínimo. A mim preocupa-me a efi-ciência e a produtividade. E é uma coisa de que não se fala. Pelo menos, não passa cá para fora falar-se da fle-xibilidade que a indústria precisa.

E não têm flexibilidade? Nós temos acordos com os

nossos trabalhadores. Mas quando se fala em concerta-ção social isto devia ser algo nacional. E não é.

A legislação laboral ainda não é suficientemente flexível? Não. Não é. Mas quando diz que não o preocupa o aumento do salário mínimo nacional é porque pagam acima? Sim, predominantemente.

Quando é que o salário mí-nimo pode ser preocupante? Há certas indústrias em que pode, mas é principalmente nos serviços.

Se não tiverem o tal cuida-do de melhorar a produtivi-dade e a eficiência, traduz--se num agravamento de custos para a indústria. �

“Preocupa-me a eficiência e a produtividade”

PERGUNTAS A JOSÉ RAMOS Presidente e CEO da Toyota Caetano Portugal

Da flexibilidade não se fala. Não passa cá para fora. JOSÉ RAMOS Presidente e CEO da Toyota Caetano Portugal

Face ao aumento das encomendas de autocarros, vamos usar a fábrica de Ovar para absorver o aumento de produção.

A Caetano Aeronautic (CAER) faz parte do nosso faro. A indústria é importantíssima para o país e estruturante pa -ra criar riqueza. JOSÉ RAMOS CEO da Toyota Caetano Portugal

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VIII | QUARTA-FEIRA

| 27 NOV 2019

Se é dos que ainda pen-sa que os resíduos ur-banos depositados nos aterros não têm utilidade, desengane-

-se. Seguramente algu-ma da energia elétrica que utili-za em casa ou na sua empresa vem da transformação do biogás, um complexo de diferentes gases criados pela ação de micro-orga-nismos dentro dos aterros sani-tários, incolor, corrosivo (contém sulfureto de hidrogénio) e que é composto sobretudo por meta-no (50-60%) e dióxido de carbo-no (30-40%).

É aqui que opera a ENC Energy, empresa que faz a cap-tura eficiente do biogás dos ater-

ros (“landfill gas”), onde os lixos são depositados, e que, através de “tecnologia energética madura e competitiva”, permite a produ-ção estável de energia (24 ho-ras/dia e 365 dias/ano), com me-nores custos de gestão de rede de transmissão e com impactos am-bientais diretos e indiretos posi-tivos. O que também “permite re-duzir dramaticamente o impac-to ambiental da gestão de resí-duos”, uma das atividades em que a emissão de gases de efeito estufa é mais significativa, refere o CEO, Jorge Matos. Faturam 9,7 milhões , empregam 63 pes-soas e têm operação em Portu-gal, Espanha, Brasil, México e Chile. Nos três países da Améri-

ca Latina, o investimento reali-zado e estimado para os próxi-mos três anos ascende aos 60 mi-lhões. Exportaram 8,7 milhões em 2018.

“Muitas estratégias para a re-dução da produção de resíduos têm sido implementadas, mas, ainda assim, a produção de resí-duos é inevitável, o que torna es-sencial criar e implementar no-vos modelos para a reintrodução desses resíduos em ciclos produ-tivos”, diz o CEO, notando que “a mudança de paradigma econó-mico e o ‘shift’ de uma economia linear para um modelo de econo-mia circular está totalmente ali-nhada” com a missão e âmbito de atividade da empresa.

É que, “ao instalarmos cen-trais de valorização energética para biogás de aterro, não só evi-tamos as emissões difusas de me-tano, um dos gases de efeito es-tufa com maior impacto (21 ve-zes superior ao do dióxido de car-bono), como transformamos um efluente gasoso das operações de gestão de resíduos num recurso energético renovável”.

E mais. A evolução tecnoló-gica nesta área “permite-nos fa-lar, não apenas de produção de energia térmica ou elétrica, mas também na produção de com-bustíveis como bioetanol, biome-tano ou hidrogénio, por si só ma-térias-primas que podem ser reintroduzidas em processos produtivos de indústrias do setor energético ou químico”.

Num momento em que “a descarbonização da economia é fundamental e urgente”, é essen-cial “o ‘shift’ para a neutralidade carbónica”. �

ENERGIA

ENC Energy investe 60 milhões na América Latina

TERESA SILVEIRA

A ENC Energy, que produz energia a partir de resíduos urbanos, vai investir 60 milhões de euros no Brasil, México e Chile nos próximos três anos. Sobretudo no Brasil, “o potencial é enorme”.

PRIORIDADE PARA O BRASIL, CHILE E MÉXICO

VOLUME DE NEGÓCIOS ESTÁVEL EM 2019 A ENC Energy registou um vo-lume de negócios de 9,7 mi-lhões de euros em 2018. Para 2019, as perspetivas são “de manutenção do mesmo volu-me”. Exportaram 8,7 milhões de euros no ano passado, es-sencialmente para o Brasil, Chile e Espanha. RECRUTAR E RETER TALENTO “A forma como contornamos a dificuldade em recrutar e re-ter os profissionais bastante disputados - e que parece re-sultar - baseia-se sobretudo na criação de uma cultura organi-zacional coesa, baseada em valores fundamentais com os quais a generalidade das pes-soas se identifica”, diz o CEO da ECN Energy, Jorge Matos. “Criamos condições para o desenvolvimento pessoal de cada colaborador, da organi-zação e da sociedade como um todo; agimos com intenção e ética para concretizar projetos com impacto e significado”, diz ainda o mesmo responsá-vel. AUMENTO DE CAPITAL NO BRASIL Em 2018, foi concretizada uma operação de aumento de capi-tal na ENC Brasil pelo fundo de “private equity” internacional Global Environment Fund. No mesmo ano foi criada a subsi-diária ENC Nordeste em “joint venture” com o fundo de “pri-vate equity” brasileiro Vinci Capital.

A ECN Energy tem 16 anos de ati-vidade. O grupo é especializado em soluções para a geração de energia a partir da valorização de resíduos.

TOME NOTA

Paulo Duarte

“Mercado dos resíduos é enorme no Brasil”, diz Jorge Matos.

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QUARTA-FEIRA | 27 NOV 2019

| NEGÓCIOS É PORTUGAL

| IX

De Caracas (Venezue-la) para Gaia (Portu-gal). Javier Ramírez, engenheiro, 43 anos, era o diretor da Câ-mara Venezuelana

de Comércio Eletrónico e geria várias empresas de tecnologia de informação naquele país da Amé-rica Latina. Até que, empurrado pela crise do país, decidiu vir para Portugal e potenciar o negócio da Nemobile Applications e a inter-nacionalização para a Europa a partir do nosso país.

No início deste ano, o CEO montou um plano de negócios e criou aquilo que diz ser “um pro-jeto inovador” centrado no de -senvolvimento de aplicações web e móveis baseadas em inteligên-cia artificial. A empresa está, para já, instalada na Associação para o Centro de Incubação de Base Tecnológica de Gaia (InovaGaia) e emprega quatro pessoas. Na Venezuela ainda mantém oito colaboradores, mas “a ideia é fe-char a operação” no país de Ni-colás Maduro e incorporar todos os profissionais aqui. São, ao todo, 12, sete venezuelanos, três italianos e um português. Estão “a tramitar” todo o processo com o Serviço de Estrangeiros e Fron-teiras (SEF) para que a vinda dos restantes colaboradores para Portugal seja possível.

Em dezembro vão abrir um escritório em Valência para ex-plorar o mercado espanhol. Se-rão criados quatro postos de tra-balho. “Temos cerca de 100 pes-soas interessadas em vender os nossos produtos em Espanha e estão todos baseados na região de Valência”, revela Javier Ramí-rez. Daí a decisão de internacio-nalizar para o país vizinho a par-tir daquela cidade espanhola si-tuada a algumas centenas de qui-lómetros de Madrid e Barcelona. “A primeira fase da nossa expan-são na Europa é Portugal e Espa-

nha; depois queremos explorar outros países, como França, Ale-manha ou Itália, que são merca-dos muito importantes que esta-mos a analisar”.

A participação, no início de novembro, na quarta edição da maior cimeira de tecnologia e empreendedorismo do mundo organizada em Lisboa por Paddy Cosgrave – o Web Summit – deu-

-lhes o impulso final. “Foi um abrir de portas total”, assume o CEO da Nemobile, cujo negócio se desenvolve através de três pro-dutos principais: a SIDIS (inte-ligência artificial para aplicação a qualquer negócio) baseada na pesquisa inteligente, análise e previsões; a Smart Real Estate, uma plataforma tecnológica cria-da para dar mobilidade a empre-sas ou empreendedores na área imobiliária com vista a impulsio-nar o negócio com o uso da tec-nologia; a Smart Dealership, um CRM (“customer relationship management”) para gestão de concessionários e através da qual já estão a iniciar negócio com a Volkswagen, Audi, Seat e Skoda.

O objetivo do CEO da Nemo-bile é ambicioso, mas “realista”: “em cinco anos contratar 40 pes-soas e atingir os 10 milhões ”. �

TECNOLOGIA

“A participação na quarta edição do Web Summit deu-nos o impulso final. Foi um abrir de portas total.”

Nemobile quer faturar 10 milhões em cinco anos

TERESA SILVEIRA

A inteligência artificial é o futuro, mas nem todas as empresas têm meios para aderir. Ciente disso, a SIDIS da Nemobile quer ser “o condutor inteligente” da sua empresa.

NEMOBILE VALE INCUBAÇÃO DO NORTE 2020

SIDIS GARANTE PRESENÇA NO COLLISION O projeto de inteligência ar-tificial aplicado à indústria concebido pela Nemobile foi um dos projetos selecionados pelo programa Startup Por-tugal. Por via disso, a empre-sa, através do produto SIDIS, foi convidada a representar Portugal no Collision, um dos maiores eventos de tecnolo-gia na América do Norte. NEGÓCIOS EM SEIS PAÍSES De Gaia para o mundo. A Ne-mobile ocupa um pequeno es-critório da InovaGaia, mas de senvolve soluções para clientes em seis países (Por-tugal, Espanha, Suíça, Esta-dos Unidos da América, Co-lômbia e Venezuela). Está em Portugal desde março e, em menos de um ano, vai inter-nacionalizar o negócio. Em dezembro, vai abrir o primei-ro escritório fora de Portugal: (em Valência, Espanha). PESQUISA INTELIGENTE, PREVISÕES E ANÁLISE A solução SIDIS da Nemobile – inteligência artificial para aplicação a qualquer negócio – é baseada na pesquisa rá-pida e inteligente, na previ-são de elementos quantitati-vos e qualitativos da empre-sa ou de clientes seus e na análise, através da identifi-cação e reconhecimento dos indicadores-chave, de de-sempenho.

O Norte 2020 apoiou a Nemobile com um vale incubação de 10 mil euros. “Foi muito importante. Permitiu-nos abrir portas de ou-tros financiamentos”.

TOME NOTA

Javier Ramírez, engenheiro, 43 anos, lidera a Nemobile.

Paulo Duarte

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X | QUARTA-FEIRA

| 27 NOV 2019 QUARTA-FEIRA

| 27 NOV 2019

| NEGÓCIOS É PORTUGAL

| XI

NACIONAL 222 METROBUS É SOLUÇÃO DE FUTURO Depois da pedonização da avenida Diogo Leite junto ao Douro “de-volvendo espaço público às pessoas” (1,2 milhões de euros), Gaia lan-çou um concurso público (três milhões de euros) para a primeira li-nha metrobus em Portugal. Um “instrumento auspicioso” que vai servir a EN 222 (2,5 quilómetros), desde a Quinta da Seara à Aveni-da da República. A solução já existe em mais de duzentas cidades em todo o mundo e “não exige o brutal investimento do carril”. Até “por-que o país não vai poder expandir o metro a todo o sítio”. Haverá via-gens de 10 em 10 minutos, com veículos de dupla carruagem que cus-tarão entre 650 e 700 mil euros cada e que terão capacidade para 150 pessoas. A solução é “24 vezes mais barata que o metro”.

GASTRONOMIA VINHO DO PORTO E BROA DE AVINTES É na Região Demarcada do Douro que é produzido desde 1756, mas é nas caves em Gaia que o vinho do Porto é armazenado, comercia-lizado e dado a provar a milhões de turistas de todo o mundo. E vai sempre bem. Pode ser bebido sozinho, como aperitivo (acompanha com azeitonas, pinhões, castanhas ou amêndoas torradas), ao almo-ço ou ao jantar ou, ainda, como digestivo (harmoniza muito bem com pudim, doce de ovos, gelado, chocolate ou queijo). Gaia é também o berço da Broa de Avintes, cujas origens remontam ao século XVIII, quando a moagem de cereais era a principal ativida-de na freguesia. Tem formato cilíndrico e é fabricada com pão de mis-tura de farinha de milho branco e de centeio. Tem cor escura, é ligei-ramente húmida, quase sem côdea e com um gosto específico. Hoje há apenas seis padarias certificadas a produzir.

DA PEDONIZAÇÃO DAS RUAS À CRIAÇÃO DO METROBUS

EX-LIBRIS

O concelho de Vila Nova de Gaia possui 299.820 habitantes. Do total, 225.705 têm mais de 65 anos. A população entre os 15 e os 64 anos é de 32.756 pessoas.

entre Gaia e o Porto, ou seja, uma relação entre duas cidades que, do ponto de vista funcional, se têm ar-ticulado muito”. Nos transportes, nas atividades de lazer ou nos grandes eventos.

“As pessoas percebem que não há fratura na passagem do rio”, fri-sa o edil. Quase como uma cidade só, Porto e Gaia? “Sim. Do ponto de vista de quem nos visita, isso é inquestionável”, assume o autar-ca. Até porque “as caves estão do lado de Gaia e são vistas como do

vinho do Porto”. Não há dúvidas: a Gaia inte-

ressa, “não tanto ter complexos re-lativamente a essas questões, mas contribuir o melhor que pode e sabe para que a região cresça”. PDM revisto no verão de 2020 Ainda assim, há constrangimen-tos. Desde logo, o financeiro. “Só no último ano é que eu consegui ter um conjunto de instrumentos financeiros que não tinha antes,

porque o município estava basica-mente a tentar voltar a respirar”. O autarca fala de “dois tipos de instrumentos”, mas, desde logo, “um, mais proativo, que é nós en-volvermo-nos no processo, finan-ceiramente, através da infraestru-turação do território e desonerar os investidores desse processo”.

Para isso, diz Eduardo Vítor Rodrigues, “é preciso ter recur-sos e nós, na verdade, andáva-mos a tratar do urgente não do importante. A certa altura era mesmo gestão de tesouraria. E só no último ano é que Gaia con-seguiu instrumentos financeiros para se libertar”.

Em suma, “antes, a autarquia de Gaia estava “basicamente a tentar voltar a respirar”.

O Executivo aposta agora numa “política agressiva do pon-to de vista fiscal”, como a isenção total de derrama durante três anos, desde que com criação de emprego de base local.

Não sendo um fator decisivo para que uma empresa se localize, “são sempre fatores de… pondera-ção”, diz o autarca. E é “um cari-nho para com quem nos visita”, até porque há “uma competição forte entre municípios como Gaia, Matosinhos e mesmo a Maia”.

É por isso que também o PDM, cuja revisão estará concluí-da “no verão do próximo ano”, há de fazer ainda mais a diferença. E ser “fator de crescimento econó-mico”.

Em curso está “um mapea-mento de potenciais novas zonas industriais”. Esse cadastro “é muito importante para que quem nos procura possa ter um portefólio”. �

Gaia orgulha-se de ser um dos concelhos da Área Metropolitana do Porto (AMP) que melhor aproveitou os fundos do QREN

2007-2013. E não quer ficar atrás no atual ciclo de fundos europeus (2014-2020).

Eduardo Vítor Rodrigues as-segura: “não há nenhum eixo das prioridades de intervenção (PI) a que não tenhamos concorrido”. Assim como “não há nenhuma candidatura que tenhamos deixa-do de assinar por ausência de comparticipação nacional”.

A um ano do fim do período de programação do Portugal 2020, o autarca tem contas feitas: “já te-mos 25 milhões de euros de pro-jetos candidatados e aprovados”. E não há muita margem de mano-bra: “2020 não vai ser um ano de grandes candidaturas . Vai ser de execução” e de “gestão do ‘over-booking’” a nível dos fundos co-munitários. QCA 2021-2027: os transportes como prioridade Para 2021-2027, tudo tem de ser diferente. E, “quer enquanto Câ-mara de Gaia, quer enquanto Área Metropolitana do Porto [AMP], o que está estabilizado entre todos é que o novo quadro comunitário de apoio (QCA) deve assumir os transportes como prioridade”. Com tudo o que lhes está implíci-to: infraestrutura, rede e equipa-mentos. E não esquecendo “o cumprimento das metas que assi-námos no Acordo de Paris” quan-to à descarbonização.

Depois, é preciso “flexibilida-de” por parte do QCA 2021-2027.

“O país tem de ter respostas diver-sificadas para problemas diversi-ficados”, sublinha Eduardo Vítor Rodrigues, lembrando que se nas áreas metropolitanas os transpor-tes são “prioridade absoluta”, no interior pode haver “outros eixos prioritários”. E “o QCA tem de ser suficientemente flexível para aco-modar as disparidades, diversida-des e prioridades regionais”.

De outra forma, diz, e “por muito que se façam programazi-nhos de ajuda ao interior”, “o país

vai continuar em desigualdades. “Escala conciliada com a centralidade” Gaia é o terceiro maior concelho do país. Beneficia de “um territó-rio enormíssimo, quase cinco ve-zes a área do Porto”, e acolhe, des-de ‘call centers’ (Altran e Teleper-formance empregam, respetiva-mente, 500 e 300 colaboradores), a empresas de setores industriais relevantes. Entre eles o vidreiro, o automóvel (só a Salvador Caeta-

no dá emprego a 2.300 pessoas no concelho), os componentes ele-trónicos, a agricultura e a indús-tria agroalimentar, o vinho do Por-to, a hotelaria ou o enoturismo.

Eduardo Vítor Rodrigues nem hesita: “quando ‘vendemos’ a mar-ca Gaia a investidores, nacionais ou estrangeiros, é claramente pela escala conciliada com a centrali-dade”. Isso é “o que tem permiti-do que muita gente nos procure, porque observa as dinâmicas so-ciais – e políticas e económicas -

EDUARDO VÍTOR RODRIGUES PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE GAIA

Gaia acelera nos fundos comunitários

O QCA 2021-2027 tem de ser suficientemente flexível para acomodar as prioridades regionais.

ENTREVISTA

TERESA SILVEIRA

Os transportes são a prioridade no próximo ciclo de fundos europeus. Na hora de atrair investimento, Gaia concilia “escala e centralidade”, frisa Eduardo Vítor Rodrigues.

Paulo Duarte

Da Sociologia para a política

PERFIL

Até assumir a presidência da Câma-ra de Gaia, em 2013, Eduardo Vítor Rodrigues era professor no Depar-tamento de Sociologia da Faculda-de de Letras da Universidade do Por-to. A 3 de novembro de 2017 foi elei-to presidente do Conselho Metropo-litano do Porto, órgão deliberativo da AMP constituído pelos presiden-tes das 17 câmaras dos municípios que integram o organismo. Aquan-do da eleição, elencou a área dos transportes como "determinante” para a região. Militante do PS e de-fensor da “descentralização”, fez, no entanto, questão de vincar que tal não poderia implicar "um alijar de responsabilidades da parte do Governo para os municípios sem o respetivo envelope financeiro".

Page 8: negócios é Portugal · mas cortaram garrafas, não só do vinho do Porto, como dos vinhos de Bordéus, de Bolonha e de outras origens. E, para darem menos espaço de prateleira,

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