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Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 1 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia ISSN 2178-1281 NARRATIVAS HISTORIOGRÁFICAS DA ARQUITETURA E URBANISMO EM ANÁPOLIS: REPRESENTAÇÕES, APROPRIAÇÕES E POPULARIZAÇÕES DO MODERNO 1 MARTINS, Lyzandra Machado 2 (UEG) MACHADO, Rodrigo 3 (UEG) RESUMO: Este trabalho discute os resultados de um projeto de pesquisa desenvolvido pelo curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás, que reflete sobre as proposituras da arquitetura modernista em Anápolis. Levando em consideração aspectos históricos como a inserção regional desta cidade quando contribuiu com a construção dos dois maiores marcos urbanísticos e arquitetônicos do Brasil no século XX (a construção de Goiânia em 1933 e Brasília em 1960), identificou-se a existência de um espírito moderno que permitiu a transformação da paisagem urbana através da inserção de edifícios, que por sua limpidez e pregnância, se propagaram por todo o tecido urbano das mais diversas intensidades e escalas. Tendo como referência teorias da arquitetura modernista, da semiótica, etnografia qualitativa do cotidiano e da comunicação visual, organizou-se a produção arquitetônica da cidade em três categorias: “A casa modernista em Anápolis”, “Apropriação dos elementos da arquitetura modernista em Anápolis” e a “Popularização da arquitetura modernista em Anápolis. Como cerne desta discussão, o debate se concentra na apropriação da linguagem da arquitetura modernista e de sua hibridização com a arquitetura vernacular goiana, tendo como objetivo, identificar, aferir e qualificar esta produção. 1. O CONTEXTO DA DISCUSSÃO Desde seu alvorecer, a arquitetura moderna assumiu-se de caráter internacional. Sua universalidade proliferou por todo o globo tipos que, por sua limpidez e pregnância, foram facilmente assimilados, apropriados e reproduzidos nas mais diversas instâncias, tanto do saber erudito quanto do popular. O Brasil foi 1 O presente texto possui como coautor Pedro Henrique Máximo Pereira (PIVIC/UEG) e foi supervisionado pela Profa. Orientadora Ms. Celina Fernandes Almeida Manso, e é parte do resultado de uma pesquisa que conta com a colaboração dos acadêmicos de Iniciação Cientifica PVIC/UEG: Camila Loiola Lima; Camila Caetano; Carinna Sousa; Clara Franzina; Daniela José da Silva; Danillo Souza de Assis; Lyzandra Machado Martins; Nataly Ayala; Pedro Henrique Máximo Pereira; Ranieli Josefine Garcez Costa; Rodrigo Machado Gomes dos Santos; Sócrates Lopes Bernardes de Melo; Stephanie B. Drogomirecki; Thaís Cristina da Silva; Thiago Barcelos; Thiago Duarte; Thiego Soares Silva Ribeiro. Os professores orientadores da pesquisa são, Ms. Celina Fernandes Almeida Manso; Dra. Ludmila Morais , Ms. Marcelina Gorni e Ms. Sandra Catharinne Pantaleão Resende 2 Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás PIVIC/UEG. 3 Acadêmico do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás PIVIC/UEG.

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Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281

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Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e

Psicologia – ISSN 2178-1281

NARRATIVAS HISTORIOGRÁFICAS DA ARQUITETURA E URBANISMO EM

ANÁPOLIS: REPRESENTAÇÕES, APROPRIAÇÕES E POPULARIZAÇÕES DO MODERNO1

MARTINS, Lyzandra Machado2 (UEG) MACHADO, Rodrigo3 (UEG)

RESUMO:

Este trabalho discute os resultados de um projeto de pesquisa desenvolvido pelo curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás, que reflete sobre as proposituras da arquitetura modernista em Anápolis. Levando em consideração aspectos históricos como a inserção regional desta cidade quando contribuiu com a construção dos dois maiores marcos urbanísticos e arquitetônicos do Brasil no século XX (a construção de Goiânia em 1933 e Brasília em 1960), identificou-se a existência de um espírito moderno que permitiu a transformação da paisagem urbana através da inserção de edifícios, que por sua limpidez e pregnância, se propagaram por todo o tecido urbano das mais diversas intensidades e escalas. Tendo como referência teorias da arquitetura modernista, da semiótica, etnografia qualitativa do cotidiano e da comunicação visual, organizou-se a produção arquitetônica da cidade em três categorias: “A casa modernista em Anápolis”, “Apropriação dos elementos da arquitetura modernista em Anápolis” e a “Popularização da arquitetura modernista em Anápolis. Como cerne desta discussão, o debate se concentra na apropriação da linguagem da arquitetura modernista e de sua hibridização com a arquitetura vernacular goiana, tendo como objetivo, identificar, aferir e qualificar esta produção.

1. O CONTEXTO DA DISCUSSÃO

Desde seu alvorecer, a arquitetura moderna assumiu-se de caráter internacional. Sua universalidade proliferou por todo o globo tipos que, por sua limpidez e pregnância, foram facilmente assimilados, apropriados e reproduzidos nas mais diversas instâncias, tanto do saber erudito quanto do popular. O Brasil foi

1 O presente texto possui como coautor Pedro Henrique Máximo Pereira (PIVIC/UEG) e foi

supervisionado pela Profa. Orientadora Ms. Celina Fernandes Almeida Manso, e é parte do resultado de uma pesquisa que conta com a colaboração dos acadêmicos de Iniciação Cientifica PVIC/UEG: Camila Loiola Lima; Camila Caetano; Carinna Sousa; Clara Franzina; Daniela José da Silva; Danillo Souza de Assis; Lyzandra Machado Martins; Nataly Ayala; Pedro Henrique Máximo Pereira; Ranieli Josefine Garcez Costa; Rodrigo Machado Gomes dos Santos; Sócrates Lopes Bernardes de Melo; Stephanie B. Drogomirecki; Thaís Cristina da Silva; Thiago Barcelos; Thiago Duarte; Thiego Soares Silva Ribeiro. Os professores orientadores da pesquisa são, Ms. Celina Fernandes Almeida Manso; Dra. Ludmila Morais

, Ms. Marcelina Gorni e Ms. Sandra Catharinne

Pantaleão Resende

2 Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás – PIVIC/UEG.

3 Acadêmico do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás – PIVIC/UEG.

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um dos mais importantes celeiros para as reverberações dessa eminente maneira de se pensar o espaço e a forma arquitetônica, visto que, desde sua incorporação, foi ponto de partida para vislumbrar uma possível identidade nacional.

Os intelectuais brasileiros buscaram associar o país a uma imagem moderna sem perder de vista a cultura brasileira, na tentativa de construir uma identidade puramente nacional. Segundo Bruand4, desde o início fica clara a “dualidade” do modernismo brasileiro, com um caráter ao mesmo tempo, revolucionário e nacionalista. Nesse sentindo foi que em 1927, o russo Gregori Warchavchik construiu a primeira casa modernista brasileira em São Paulo, introduzindo no Brasil um modo de fazer arquitetura que foi largamente apropriado e que resultou em uma grande variedade de possibilidades aos construtores brasileiros.

Nesse sentido, para além das características e tipos da arquitetura moderna (pilotis, fachada livre, janelas em fita, telhado jardim e planta livre), a constituição da força moderna no país levou à utilização de seus tipos nas instâncias mais distantes das suas primeiras manifestações (Rio de Janeiro e São Paulo). O processo de interiorização desta arquitetura permitiu as diversas maneiras de se apropriar destes elementos que deram ao país visibilidade no exterior, principalmente com a construção do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro (1937), o Conjunto da Pampulha em Belo Horizonte (1942 – 1943), entre outros importantes marcos históricos para a história da arquitetura.

Devido este distanciamento dos centros que receberam primeiramente esta nova arquitetura, as técnicas e tecnologias que foram utilizadas nas construções mais interioranas do país adaptaram-se aos existentes nas localidades que alcançaram, fator este que alterou demasiadamente na forma de concepção, execução e resultado final destes objetos.

A cidade de Anápolis, no interior do Centro-oeste brasileiro, recebeu influências desta arquitetura, consequência a priori da vontade política de Vargas que introduziu na região, por intermédio de Pedro Ludovico Teixeira, a nova capital de Goiás (1933-1937), Goiânia, e posteriormente pela vontade de Juscelino Kubitschek ao introduzir a capital federal, Brasília (1957-1960). Ambos os planos que ajudam a narrar, ao mesmo tempo, a constituição moderna no interior do país e a forma de apropriação de seus respectivos territórios, encontraram em Anápolis o respaldo para a concretização deste grande sonho.

1.1. ANÁPOLIS EM CONTEXTO

A relativa proximidade com Goiânia e Anápolis proporcionou a Anápolis grandes possibilidades infraestruturais e socioculturais, tanto no que se refere aos aspectos industriais, comerciais e econômicos, quanto na configuração de uma paisagem moderna por meio desta arquitetura que chegara à cidade por meio das rodovias, ferrovias e aerovias que a ligavam diretamente aos outros centros nacionais. Isso se firma quando Anápolis se torna referência estadual nos primeiros anos após sua emancipação em 1907, quando, o estabelecimento da Ferrovia firma o capitalismo no estado de Goiás.

4 BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2003.

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Este cenário trouxe um inchaço para a cidade, que no período de 1907 a 1935, aumentou cerca de 300% seu contingente habitacional, alterando assim os hábitos dos antigos habitantes da cidade. Em outras palavras, a chegada da ferrovia em Anápolis na década de 1930 trouxe além de novas ordens econômicas, uma nova situação social e uma nova ordem cultural, ou seja, pelos trilhos chegava à cidade a modernidade. Anápolis recebeu muitos imigrantes italianos e japoneses que contribuíram significativamente na produção agrícola do café e arroz.5 A arquitetura neste momento não se deteve à sua forma vernácula e rompeu. Se na década de 20 começava-se a construir casas de alvenaria, a década de 30 foi marcada pela criação de uma paisagem com as raízes francesas do Art Decó

(figuras 1 e 2), estilos em que foram construídos muitos edifícios no Rio de Janeiro e São Paulo no mesmo momento que em Anápolis.6

A definitiva instauração da Ferrovia deu novos horizontes a Anápolis, e a construção da Capital Goiânia, ainda possibilitou um câmbio econômico e deu à cidade mais um eixo de crescimento: a Avenida Pedro Ludovico que liga o centro da Cidade à Goiânia. Neste período, Anápolis ganhou um bairro planejado (Bairro Jundiaí) que foi apresentado à cidade na segunda metade da década de 1940 pelo jornal “O Anápolis”, responsável pela publicação das principais notícias do estado e da cidade. Este bairro, por sua vez, foi locado ao leste do Bairro Central, no outro lado do Córrego das Antas, um importante manancial que interferiu significativamente na morfologia urbana da cidade. O projeto do Engenheiro e Urbanista João Alves de Toledo foi criticado pelo Engenheiro recém-chegado na cidade Engenheiro Toichi Hashigoshi7, que por sua vez descreveu e ao mesmo tempo elogiou o projeto, sendo este uma solução racional, funcional e ambientalmente planejado, visando reforçar à cidade sua ímpar característica progressista.

Outro texto publicado no jornal veio firmar as proposituras de Toichi Hashigoshi. O cenário encontrado no planalto central provocou surpresa, onde Rui Blomem, no artigo intitulado “Anápolis o milagre do Planalto Central”, se referiu à cidade como a Surpresa de Goiaz.

O prédio do hotel não é ali o único de vários andares. Pouco além, outro grande edifício, que parece ser de apartamentos, mas que é o hospital da cidade, bem organizado e bem equipado e serve não só à

5 CHIAROTTI, Tiziano. Evolução Histórica do Município de Anápolis. 2007.

6 POLONIAL, Juscelino. Ensaios sobre a história de anápolis. Anápolis: Associação Educativa

Evangélica, 2000. 7 HASHIGOSHI, Toichi. O nosso principal problema se prende á urbanização. O Anápolis,

Anápolis, 15 de maio de 1949.

Figura 1 - Grupo Escolar, 1926. Fonte: Museu de Anápolis

Figura 2 - Prefeitura Municipal de Anápolis, 1927. Fonte: Museu de

Anápolis

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população de Anápolis, mas também às cidades vizinhas. O movimento, nas ruas, é tão grande quanto uma cidade de bom tamanho no interior paulista. E o comércio – informaram-nos – é estreitamente ligado a São Paulo, para onde manda os produtos locais, sobretudo, os cereais.8

Esta paisagem descrita por Blomem diz muito sobre a estrutura urbana, a arquitetura e a população encontrada na cidade por volta de 1950. Nota-se que, de fato, construir edifícios de múltiplos pavimentos na década de 1940 no Planalto Central, foi uma ousada tarefa dos engenheiros e arquitetos que, por sua vez, ao trabalharem, incorporaram os materiais locais às construções destes edifícios.

A década de 1950 também representou momentos áureos para a cidade de Anápolis, e no que se refere à inserção de casas modernistas na paisagem urbana da cidade, é nesse período que Anápolis se destaca com edificações de altíssimo esmero projetual, a partir de 1957, com a construção da nova Capital Federal. Aliado a esse contexto, Anápolis se destacou pela sua firmação comercial na região, sendo centro atacadista que, auxiliou no envio de mão-de-obra, produtos tanto para a sobrevivência dos trabalhadores quanto para a execução das obras. Neste contexto, uma importante via de ligação entre Anápolis e a nova Capital Federal foi construída a fim de agilizar as trocas, o que fez com que os construtores, arquitetos e engenheiros, que migraram ao Planalto Central, também contribuíssem para esse novo cenário urbano que alcançou Anápolis.

As décadas subsequentes a esse importante fato para a história da arquitetura e urbanismo brasileiros, em Anápolis, uma série de edificações foram sendo disseminadas pelo ambiente urbano da cidade, principalmente a Região Central, que compreende o Centro e o Bairro Jundiaí. Na segunda metade da década de 70, a criação do DAIA (Distrito Agroindustrial de Anápolis) firmou este perfil moderno que a sociedade Anapolina almejava, onde, posteriormente à estruturação do mesmo na porção sudeste do perímetro urbano da cidade, criou-se também uma plataforma multimodal e um polo farmacêutico, fazendo de Anápolis uma das cidades mais promissoras da região Centro-Oeste do país (Figura 3).

As décadas posteriores à criação do DAIA foram marcadas pela construção de uma série de edificações institucionais, que marcaram a paisagem urbana de Anápolis com uma arquitetura moderna distinta da precedente, conhecida como Brutalista. Este racionalismo esteve muito ligado à história política da cidade, que, assim como nas cidades do restante do país, haviam perdido autonomia eleitoral, subjugadas pelo autoritarismo do militarismo.

Este panorama, de certo modo esclarece uma série de questões relacionadas às transformações na paisagem urbana da cidade de Anápolis, que justificaram o esforço e o empenho na realização desta pesquisa. Primeiramente, visto a localidade geográfica da cidade que por sua vez mediou com o país, a construção de duas cidades novas, com representatividade política que, acompanharam o projeto federal de descentralização e apropriação do interior do país. Em segundo plano, notou-se que este espírito de ruptura e renovação sempre acompanhou o desenrolar da história desta cidade que, ao mesmo tempo em que foi uma cidade com origem neocolonial e intimamente ligada a cidades históricas como Goiás, Pirenópolis, Corumbá entre outras, sempre se manteve alerta às

8 BLOMEM, Rui. Anápolis o milagre do planalto central. O Anápolis, Anápolis, 15 de maio de 1949.

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transformações socioculturais e espaciais que aconteciam no país. Prova disto é a Renovação Urbana que acometeu a cidade nos meados de 1920, quando cidades como Rio de Janeiro, passaram por transformações não na mesma escala, mas com a mesma intensidade.

A terceira e última justificativa está pautada na execução de obras no decorrer desta história na malha urbana da cidade, que registraram seu tempo e são as mais fieis provas de que o espírito da modernidade repousou sobre Anápolis. A construção de Goiânia em 1933, a importante criação da Ferrovia em 1935, a criação de Brasília em 1960 e a criação do DAIA em 1975 são importantes marcos que, condicionaram de certo modo a produção desta arquitetura. Não obstante a isso, ela se disseminou também pelas camadas mais populares da sociedade que

viam nos jornais e outros veículos de informação do período, essa nova arquitetura e urbanismo que chegavam à região.

1.2. A METODOLOGIA EM CONTEXTO

Como se trata de uma Pesquisa Descritiva e Documental pelo fato de não haver precedentes de pesquisas desta natureza em Anápolis, buscou-se inicialmente uma pesquisa prévia de estudos e trabalhos com o mesmo caráter em outras instituições do país, a fim de colher experiências. Uma importante experiência foi a pesquisa desenvolvida pelo arquiteto Ângelo Arruda sobre as edificações modernistas na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, sob a influência da Arquitetura Paulista e Arquitetura Carioca. Além do mais, usou-se largamente as pesquisas do francês Yves Bruand e do brasileiro Hugo Segawa, que revelaram não só ao Brasil mas ao mundo a arquitetura modernista produzida no país.

Incluídas estas referências na Revisão Bibliográfica, que por sua vez estão pautadas nas contribuições da literatura sobre o movimento moderno no mundo e no

Figura 3 - Evolução urbana de Anápolis associada ao desenho da Ferrovia, implantado em 1935. Fonte: Rodrigo Machado, 2011.

Ferrovia

Centro

Jundiaí

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Brasil, constatou-se a necessidade de sistematizar tal conhecimento a partir das peculiaridades encontradas na arquitetura moderna brasileira, visto que ela possui algumas especificidades se comparadas à arquitetura moderna originada nos países Europeus.

Tabela 1 – Elementos característicos da arquitetura moderna no mundo e no

Brasil. Fonte: Pedro Henrique Máximo Pereira, 2011.

Movimento Moderno Internacional Movimento Moderno Brasileiro

Fachada livre; Planta Livre; Função como regedora da Forma; Uso de Pilotis; Terraço Jardim; Janelas em Fita;

Formas livres e flexibilidade de volumes; Brise-soleil; Curvas e estrutura com intenção plástica; Edificação solta no lote; Presença de jardim; Pilares aparentes; Azulejos no revestimento; Platibanda escondendo o telhado; Teto borboleta; Varanda; Composição em prisma retangular e; Pergolado

Diversos teóricos constataram estas especificidades, sendo que, na maioria

dos casos, estes elementos foram inseridos na práxis arquitetural por adequação aos condicionantes socioculturais e geográficos das mais diversas localidades do Brasil. Tendo analisado uma série destes exemplares, usou-se a técnica da Amostragem, onde, como consequência a uma série de derivas pelo sítio urbano historicamente definido, as mais diversas possibilidades da Técnica da Observação (sistemática, em equipe e individual), foram utilizadas para diagnosticá-los. A Coleta de Dados deu-se em decorrência à deriva de reconhecimento e diagnóstico do sítio por meio de registros fotográficos (sítio que por sua vez foi definido pela relevância histórica, sendo que contem quantidade considerável de casas modernistas), levantamento documental e nos acervos históricos da cidade, além de entrevistas com pesquisadores locais.

Determinados o Bairro Central e o Bairro Jundiaí como sendo os espaços que sustentam este debate (Bairro Central, pois vivenciou e protagonizou as metamorfoses tanto do espaço urbano quanto da arquitetura no início do século XX, e o Bairro Jundiaí que foi planejado em 1945 utilizando um desenho de Cidade Jardim), e feito o reconhecimento destas áreas, notou-se em hipótese que o movimento moderno ocorreu na cidade de Anápolis em no mínimo três instâncias: Arquitetura Moderna legítima sendo sua relevância na produção de casas, pensadas e executadas por arquitetos e engenheiros; Arquitetura Moderna apropriada, visto que os elementos se repetem sem o esmero erudito dos profissionais, mas que no entanto são claramente reconhecíveis na paisagem urbana; e a Arquitetura Moderna popularizada, que por sua vez se deu pelo espraiamento dos elementos que caracterizam esta arquitetura de forma aleatória e arbitrária.

Determinadas as edificações a serem estudadas, o passo subsequente foi o levantamento técnico destas edificações e a espacialização destes exemplares, e posteriormente a confecção das peças gráficas assistidas por computador. Adotou-

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se o método de análise dos registros fotográficos. Os materiais colhidos foram as superfícies (fachadas) destas edificações, bem como sua relação com o lote e com a rua. Para tal, usaram-se as análises relacionadas à Gestalt, que por sua vez, contribuem significativamente para o reconhecimento de estruturas formais descontextualizadas. Em outras palavras, a Gestalt, que se relaciona com a psicologia da percepção, vem sido largamente pesquisada a fim de entender as faculdades mentais e sua respectiva capacidade de reconhecer objetos.

A ciência da Gestalt desenvolveu uma sistemática metodologia que pode ser aplicada no estudo do objeto e de suas características morfológicas. Para tal utilizou-se como fundamental referência os escritos de João Gomes Filho em “A Gestalt do Objeto”, e de Donis Dondis, “Sintaxe da Linguagem Visual”. Estes organizam um a série de conceitos de análise da imagem. Com isso, as edificações modernas assinaladas e destacadas na paisagem, diante do estudo da Gestalt, permitiu o reconhecimento não somente dos elementos morfológicos da Arquitetura Moderna em Anápolis, mas do esmero projetual e plástico somente alcançado pelas mãos do profissional.

1.2.1. Divisão da área

A divisão da área foi feita de forma estratégica, pois, levaram-se em consideração os percursos históricos que marcaram os anos de consolidação do tecido urbano da cidade. O cerne da discussão sobre a modernidade da cidade não poderia deixar o desenho urbano de lado, visto que a partir dele, puderam-se identificar os possíveis locais onde seriam encontradas estas obras arquitetônicas.

O Bairro Central, principal localidade da cidade, por ter passado por este processo de forma mais intensa nos primeiros anos da cidade, concentra o maior número de casas que possuem a linguagem da arquitetura moderna. Para os fins de pesquisa de campo para levantamento documental, dividiu-se o Bairro Central em Centro-Norte e Centro-Sul, separados pela importante Avenida Goiás.

A imagem figura 4 contextualiza as áreas de estudo na cidade de Anápolis E destaca a região Centro-Sul, campo de estudos para o desenvolvimento desta

Figura 4 - Mapa com a localização das áreas estudadas em Anápolis e em destaque a Área Centro Sul. Localização das residências no tecido urbano. Fonte: Pedro Henrique Máximo Pereira, 2011.

Jundiaí

Centro-Norte

Centro-Sul

N

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pesquisa.

2. A CASA MODERNISTA EM ANÁPOLIS: CENTRO-SUL

Foi à casa (tradicional) que Rino Levi, segundo Marão9 atribuiu todo a significação da arquitetura brasileira. A generosa distribuição espacial, a grande simplicidade tanto da concepção quanto da execução e a primorosa lição de insolação e ventilação, dão à arquitetura brasileira qualidades próprias e bem marcadas. A casa moderna brasileira, por sua vez, deu continuidade à história da casa tradicional e adequou-se “aos princípios culturais e técnicos do período em que fora produzida... buscando uma nova função representativa do período para o qual estava sendo proposta dando-lhe um caráter voltado aos novos fatores técnicos e artísticos...”10. A casa moderna brasileira adquiriu importantes lições dos grandes mestres da arquitetura moderna como Gregori Warchavchik, Le Corbusier entre outros, e foram contextualizadas ao panorama brasileiro por arquitetos como Lúcio Costa, Niemeyer, Reidy, Lina Bo Bardi, Rino Levi entre outros, que ressignificaram as características primeiras da casa moderna. O desenrolar da história de Anápolis encontrou na “casa” o ambiente propício para manifestar de maneira livre e ímpar, as características mais literais da arquitetura moderna. Em Anápolis, como observado em derivas pelas ruas dos bairros Centro e Jundiaí, pôde-se notar quantidade considerável de casas com essas características modernas, e, que por sua vez, merecem atenção diante de suas características que as fizeram dialogar com todo o panorama nacional durante o século XX. Diante disso, objetivou-se nesta linha de pesquisa, examinar as proporções e proposições da casa modernista na cidade de Anápolis, verificando em sua espacialidade, plástica e função, o cerne da discussão sobr.e a casa moderna que acometeu o panorama nacional. Em outras palavras, objetivou-se analisar sua estrutura formal, e aferir e evidenciar que (se) de fato houve um espírito moderno em Anápolis que se manifestou sobre as casas. Os resultados apontaram que as “casas modernas referenciadas” surgidas na cidade foram construídas “tardiamente” (cerca de 20 anos) se comparadas às primeiras manifestações do país. Influenciada pelos arquitetos que vieram de São Paulo e Rio de Janeiro que construíram as principais edificações nas Cidades de Goiânia e Brasília a partir da década de 1950, Anápolis, na década de 60, começou a construir uma paisagem moderna, com edificações que na maioria eram residências.

9 MARÃO, Jorge. A casa. São Paulo: Eduel, 2003, p.28.

10 Ibid., 2003, p. 28

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Como exemplo, tem-se a residência Hanna Hajar (1970 – 1972) que, segundo Arruda e Pereira (2009, p. 13) foi projetada pelo arquiteto Lúcio Pinheiro. Localiza-se na Rua Engenheiro Portela na qual se destaca pela sua força volumétrica, a casa também é um dos mais importantes objetos modernos na paisagem da cidade.

Nota-se uma forte influencia da arquitetura paulista, onde um prisma pesado de base retangular se ergue no terreno. Este prisma está solto no terreno, onde as massas são acentuadas pelos planos horizontais de concreto. O acesso principal está marcado por planos verticais delgados de concreto aparente que se sobressaem da face determinada pelos sólidos horizontais, alcançando uma alta tensão entre o vertical e o horizontal e o bruto e o camuflado. Estes conduzem o olhar do observador ao eixo central do volume que por sua vez é simétrico e

estabiliza o sólido. (Figura 5 e 6) A função da casa está aliada à organização plástica da mesma, sendo que,

impressão de que ela se eleva é assegurada pela vedação em vidro do pavimento térreo, onde se encontra toda a parte social (Figura 7). O setor íntimo, por sua vez, se encontra no primeiro piso, elevado e encerrado pelas duas lâminas de concreto. O corpo da casa se resguarda ante os avanços das lajes que por sua vez estão em balanço, reforçando a ideia de varanda e alpendre, espacialidades características da casa brasileira.

3. A APROPRIAÇÃO DOS ELEMENTOS DA ARQUITETURA MODERNISTA EM

ANÁPOLIS: CENTRO-SUL

Figura 7 - Plantas à esquerda do pavimento térreo e à direita do primeiro pavimento. Desenho: Rodrigo Queiroz. Fonte: Arruda e Pereira, 2009.

Figura 5 - Fachada da Residência Hanna Hajar. Fonte: Rodrigo Machado, 2011.

Figura 6 - Linhas que determinam o jogo de volumes. Fonte: Pedro Henrique Máximo

Pereira, 2011.

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A categoria da Arquitetura Moderna apropriada abrange os exemplares onde os tipos da arquitetura moderna foram reproduzidos sem a preocupação com a criação de uma composição formal, os elementos foram apropriados e os modelos repetidos. Percebe-se uma mescla entre a erudição modernista, a construção vernácula e as características tecnológicas, econômicas, culturais e sociais do lugar, numa composição que mesmo não possuindo a unidade formal percebida nos exemplares legítimos consegue ser ainda mais harmônica que os exemplares classificados como popularização.

Os construtores da cidade de Anápolis, sejam eles profissionais ou não, se sentiram aptos a reproduzir as formas da arquitetura modernista e os cidadãos comuns, movidos pelo modismo da época, tiveram em si desperto o desejo de possuir suas casas e edifícios com as características modernas. Assim, a quantidade de exemplares que se encaixam na categoria de Arquitetura Moderna apropriada, é bem mais numerosa do que os exemplares legítimos. Essa superioridade numérica se justifica pelo fato de que os exemplares da apropriação são obras muitas vezes construídas sem a elaboração de projetos arquitetônicos, tornando-as construções acessíveis a uma parcela maior dos cidadãos.

Analisando os exemplares pertencentes à categoria da Arquitetura Moderna apropriada é possível identificar alguns dos principais elementos que foram difundidos pelos profissionais e leigos que produziram a arquitetura moderna em Anápolis. Um modelo que se repete largamente na tipologia residencial é a do edifício encimado pela platibanda desenvolvendo-se em um único volume onde o cheio e o vazio são marcados respectivamente pela massa da edificação e pela área da garagem. A maioria dos exemplares residências segue esse modelo com algumas variações na forma das esquadrias, ou com a inserção de outros elementos como, por exemplo, brises e circulação vertical externa.

A Casa verde na Av. Pedro Ludovico, n º 666 (Figuras 8 e 9 está localizada em uma quadra triangular, inserida em um lote também triangular. O edifício, de apenas um pavimento, ocupa grande parte do lote e está alinhado a rua, porém ele se separa ligeiramente do terreno elevando-se da linha natural do mesmo, numa apropriação que remete ao vão livre, um elemento comum as obras modernistas. Com isso o acesso ao edifício é feito por escada, que no modernismo são normalmente sustentadas por uma viga central e apoiada nas extremidades. A massa construída é encimada por uma platibanda que cobre o telhado e se desenvolve tanto sobre a massa construída, quanto no vazio, da varanda e da garagem, exemplificando o modelo largamente difundida na arquitetura modernista anapolina.

Figura 8 - Casa Verde. Fonte: Lyzandra Machado, 2010.

Figura 9 - Linhas da fachada principal da edificação. Fonte: Lyzandra Machado,

2011.

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Outras características e outros elementos que também aparecem nos edifícios analisados são o telhado borboleta, os brises, a edificação que se desenvolve acima do nível da rua, a janela em fita, planos de vidro, pilares circulares e uma diversidade de revestimentos, principalmente o azulejo e o gesso. A platibanda é sem duvida o elemento mais difundido, por vezes funcionando apenas como elemento compósito e em outros casos funcionando como proteção solar reforçando a relevância das características do sítio na apropriação dos elementos.

4. A POPULARIZAÇÃO DOS ELEMENTOS MODERNISTAS EM ANÁPOLIS: CENTRO-SUL

A popularização dos elementos da arquitetura moderna, visou identificar os

elementos modernistas em expressões arquitetônicas de caráter vernacular, nativo ou popular. Sendo esta a linha de pesquisa com mais números de exemplares encontrados, entendeu-se a priori que, pelos poucos, mas significativos exemplares referenciados, os elementos utilizados em suas respectivas construções foram disseminados pelo tecido urbano sendo apropriados à medida que essa imagem estava sendo aliada a um sentimento progressista e visionário.

No levantamento das edificações estudadas pelo grupo de pesquisa pode-se perceber que a apropriação dos elementos modernistas (difusão dos elementos da arquitetura Moderna de forma aleatória e arbitrária), se fez muito mais na utilização das tecnologias da platibanda, azulejos, cobogós, janela em fita e etc, do que na forma em si. As apropriações das residências tentam evocar uma modernidade, porém sem nenhum rigor compositivo entre forma e tecnologia.

A popularização dos elementos modernos em Anápolis se deu conforme a citação do exemplar abaixo:

Figura 10 - Edifício “Eletronápolis”. Av. Pedro Ludovico, n 395 com telhado

borboleta. Fonte: Lyzandra Machado, 2010.

Figura 11 - Edifício “Super Colchões”. Av. Goiás esq. Rua E.

Oliveira com detalhes em cobogós. Fonte: Lyzandra Machado, 2011.

Figura 13 - Linhas de força que estruturam a composição formal da fachada. Fonte:

Rodrigo Machado, 2011.

Figura 12 - Imagem da Edificação Rua 15 de Dezembro. Fonte:

Rodrigo Machado, 2010

Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281

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A residência localizada na rua 15 de Dezembro, por exemplo, tem em sua composição formal a figura de um prisma, composição esta quebrada pela não utilização correta da platibanda, onde o telhado de cerâmica fica aparente, mostrando assim o não domínio da técnica construtiva. Um dos elementos que caracteriza a arquitetura moderna brasileira é a utilização de azulejos na fachada, considerando assim o equilíbrio harmônico entre a forma e a utilização deste material. Na residência em questão o uso de azulejo torna a fachada “poluída” para os padrões de composição modernos. A residência também não utiliza os afastamentos necessários para a possível inserção de um jardim, sendo os limites da residência tangente a testada do lote.

5. À GUISA DE CONCLUSÃO

Longe deste tema se esgotar, este trabalho procurou trazer, de certo modo,

a inquietação concernente a algumas obras percebidas empiricamente ao peregrinarmos pelas ruas da cidade de Anápolis. Sendo assim e antes de qualquer coisa, esta pesquisa procurou revelar as proposituras arquitetônicas surgidas nesta cidade durante o transcorrer do século XX, principalmente no que tange à sua pertinência urbana e ligação regional com as duas primeiras capitais planejadas brasileiras. Esta proximidade e relações estabelecidas trouxeram pra Anápolis um espírito moderno, visto tanto na forma de apropriação do espaço urbano e arquitetônico, quanto no comportamento de seus cidadãos. Desde muito cedo, Anápolis tem sido uma cidade visionária e de imensa representatividade cultural, econômica, política e artística, e a arquitetura produzida em seu tecido urbano expôs e ainda expõe os anseios de seus cidadãos.

Este vislumbramento da modernidade encontrou na arquitetura, em três instâncias principais (todas elas com valores igualitários de representatividade do contexto), como vimos no tecer deste texto, sua forma mais visível de manifestação. Uma forma “referenciada” chegou à cidade pelos arquitetos do sul e sudeste do país, e que foram sendo apropriadas e popularizadas de forma a rechear a paisagem urbana da cidade com arquiteturas híbridas. Somadas as expressões eruditas e populares, o moderno e o vernáculo, o novo e o arcaico, temos uma arquitetura contextualista, que visionou ser moderna, mas que não deixou seu contexto sociocultural e climático se perder.

De todas estas categorias, a diferença entre elas está no padrão de execução e organização plástica dos elementos, onde encontramos mais esmero quando se trata das obras referenciadas (Casas modernistas), geralmente feitas por profissionais. A apropriação desta linguagem modernista pode ser entendida como o ponto de diálogo entre o popular e o erudito, e a popularização, como observado anteriormente, se deu por difusão pela pregnância visual das formas da arquitetura moderna.

Diante deste quadro, a arquitetura moderna instaurada em Anápolis teve um papel simbólico extremamente importante: deu para sua sociedade uma imagem moderna, progressista e visionária, inserindo-a assim nos debates sobre a arquitetura moderna no Brasil.