narrativas fotograficas sobre ambiente e cultura

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78 Rev. Eletrônica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, dez/2014. Universidade Federal do Rio Grande - FURG ISSN 1517-1256 Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental Revista do PPGEA/FURG-RS Narrativas fotográficas sobre ambiente e cultura 1 Inez Reptton Dias 2 Lucia de Fátima Estevinho Guido 3 Resumo: O presente artigo busca compreender como as ideias sobre ambiente e cultura circulam pelo pensamento de estudantes e de pessoas reconhecidas por uma comunidade como conhecedores de plantas. Trabalhamos com a ideia de hibridação cultural apoiada teoricamente nos Estudos Culturais. A comunidade estudada situa-se em um distrito rural do município de Uberlândia, MG. Os dados foram coletados a partir de um registro fotográfico realizado por um grupo de 15 alunos na faixa etária de 12 a 15 anos da escola local. A orientação para tal registro foi responder, utilizando as imagens a seguinte pergunta: O que é meio ambiente? As imagens registradas foram das árvores, das praças, das casas, dos terrenos vagos, das flores, dos quintais, das pessoas, dos caminhos. A maioria das explicações sobre as fotografias registradas estão vinculadas ao conhecimento escolar. Concluímos que à saída fotográfica, além de propiciar o contato e o aprofundamento dos alunos com os recursos midiáticos e aproximá-los do local onde moram, também proporcionou outros conhecimentos sobre o meio ambiente. Palavras-chave: fotografia; educação ambiental; hibridação cultural. Abstract: This article discusses how ideas about the environment and culture are understood by students and persons recognized by a community as plants experts. We work with the idea of cultural hybridization theoretically supported on Cultural Studies. The community is located in a rural district of Uberlândia, MG. Data were collected from a photographic record held by a group of 15 students aged 12-15 years old of the local school. The guidance for this record was answering questions, and 1 Este Artigo foi originalmente publicado em Numero Especial Premiado: Dossiê Educação Ambiental/ANPED. REMEA - Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, ISSN 1517-1256, Rio Grande/RS, Brasil. Jan/Julh. 2014 2 Professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás- Mestre em Educação. [email protected] . Grupo de Pesquisa Docência e Formação para o Ensino de Ciências. http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0015708V7HOY9J 3 Professora do Instituto de Biologia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia- Doutora em Educação. [email protected]. Grupo de Pesquisa Docência e Formação para o Ensino de Ciências. http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0015708V7HOY9J

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narrativas

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  • 78 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, dez/2014.

    Universidade Federal do Rio Grande - FURG

    ISSN 1517-1256

    Programa de Ps-Graduao em Educao Ambiental

    Revista Eletrnica do Mestrado em Educao Ambiental

    Revista do PPGEA/FURG-RS

    Narrativas fotogrficas sobre ambiente e cultura1

    Inez Reptton Dias 2

    Lucia de Ftima Estevinho Guido 3

    Resumo: O presente artigo busca compreender como as ideias sobre ambiente e cultura circulam pelo

    pensamento de estudantes e de pessoas reconhecidas por uma comunidade como conhecedores de

    plantas. Trabalhamos com a ideia de hibridao cultural apoiada teoricamente nos Estudos Culturais.

    A comunidade estudada situa-se em um distrito rural do municpio de Uberlndia, MG. Os dados

    foram coletados a partir de um registro fotogrfico realizado por um grupo de 15 alunos na faixa etria

    de 12 a 15 anos da escola local. A orientao para tal registro foi responder, utilizando as imagens a

    seguinte pergunta: O que meio ambiente? As imagens registradas foram das rvores, das praas, das

    casas, dos terrenos vagos, das flores, dos quintais, das pessoas, dos caminhos. A maioria das

    explicaes sobre as fotografias registradas esto vinculadas ao conhecimento escolar. Conclumos

    que sada fotogrfica, alm de propiciar o contato e o aprofundamento dos alunos com os recursos

    miditicos e aproxim-los do local onde moram, tambm proporcionou outros conhecimentos sobre o

    meio ambiente.

    Palavras-chave: fotografia; educao ambiental; hibridao cultural.

    Abstract: This article discusses how ideas about the environment and culture are understood by

    students and persons recognized by a community as plants experts. We work with the idea of cultural

    hybridization theoretically supported on Cultural Studies. The community is located in a rural district

    of Uberlndia, MG. Data were collected from a photographic record held by a group of 15 students

    aged 12-15 years old of the local school. The guidance for this record was answering questions, and

    1 Este Artigo foi originalmente publicado em Numero Especial Premiado: Dossi Educao Ambiental/ANPED.

    REMEA - Revista Eletrnica do Mestrado em Educao Ambiental, ISSN 1517-1256, Rio Grande/RS, Brasil.

    Jan/Julh. 2014 2 Professora do Instituto de Cincias Biolgicas da Universidade Federal de Gois- Mestre em Educao.

    [email protected] . Grupo de Pesquisa Docncia e Formao para o Ensino de Cincias.

    http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0015708V7HOY9J 3 Professora do Instituto de Biologia e do Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal de

    Uberlndia- Doutora em Educao. [email protected]. Grupo de Pesquisa Docncia e Formao para o

    Ensino de Cincias. http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0015708V7HOY9J

  • 79 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, dez/2014.

    using the images to the following question: What is the environment? The images recorded were the

    ones of trees, parks, homes, vacant land, flowers, gardens, people, roads. Most explanations of the

    photos recorded are linked to school knowledge. We conclude that the photographic experience,

    besides providing contact and deepening knowledge of students with media resources and bringing

    them from where they live, also provided additional knowledge about the environment.

    Keywords: photography, environmental education; cultural hybridization.

    O texto aqui apresentado resultante de uma pesquisa de mestrado em Educao4, que

    investigou a valorizao da cultura de uma comunidade rural, por meio de prticas de

    Educao Ambiental5. Buscou-se compreender de que maneira a relao homem-natureza est

    presente no modo de vida das culturas tradicionais. necessrio, esclarecer que ao propor a

    valorizao da cultura dessa localidade estamos atentas ao fato de que suas prticas culturais

    vm sofrendo transformaes considerveis, tambm devido ao desenvolvimento geogrfico e

    econmico.

    Para pensar sobre a cultura popular trazemos para a discusso a ideia de hibridao

    cultural apoiada teoricamente nos Estudos Culturais. Nesse cenrio, Hall discute as diferentes

    abordagens dadas cultura popular. Chama nossa ateno uma definio atribuda pelo autor

    como a mais descritiva: a cultura popular todas essas coisas que o povo fez ou faz. [...]

    A cultura, os valores, os costumes e a mentalidade do povo [...] seu modo caracterstico de

    vida. (2008, p. 239-240) [grifo do autor]. Definio muito comum em trabalhos de educao

    ambiental e tradio cultural ou populaes tradicionais, pois como diz o autor ela se

    aproxima de uma definio antropolgica do termo [...]. Hall critica esta definio

    justamente por ser meramente descritiva ficando difcil entender aquilo que a cultura popular

    no , afirmando que mais do que uma lista de coisas que o povo faz ou deixa de fazer no

    atende justamente s tenses estabelecidas no campo do popular.

    Desse modo, compreendemos o popular e o rural como construes culturais e

    consideramos neste trabalho a importncia da mdia na divulgao das prticas culturais tanto

    nos espaos urbanos quanto nos espaos mais prximos do campo. A questo originria da

    pesquisa no foi valorizar a cultura popular da comunidade de maneira ingnua, conferindo-

    lhe uma compreenso limitada do conceito de meio ambiente, buscou-se investigar como as

    ideias sobre ambiente e cultura circulam pelo pensamento de estudantes da Escola Municipal

    4 Dias, Inez Reptton. Hibridao cultural e educao ambiental: memrias de uma comunidade rural de

    Uberlndia. 106 f. Dissertao (Mestrado em Educao) - Universidade Federal de Uberlndia, Uberlndia,

    2012. 5 A pesquisa parte do projeto A mdia como elemento articulador entre o conhecimento popular sobre plantas

    e a educao ambiental de jovens e crianas. Parte desta pesquisa foi publicada no livro Ecologias Inventivas: conversas sobre educao (2012, p. 133-146) no captulo intitulado: Causos do Cerrado: a mdia revelando processos de hibridao cultural.

  • 80 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, dez/2014.

    do distrito e das pessoas reconhecidas pela comunidade como conhecedores de plantas. Neste

    texto nos deteremos nos registros fotogrficos realizados por um grupo de alunos da escola

    local, quando durante uma sada fotogrfica eles deveriam responder, por meio das fotos, o

    que o meio ambiente. Na pesquisa, houve a participao de um grupo de 15 alunos, na faixa

    etria de 12 a 15 anos, regularmente matriculados entre o 8 e o 9 ano do Ensino

    Fundamental.

    As imagens registradas foram das rvores, das praas, das casas, dos terrenos vagos,

    das flores, dos quintais, das pessoas, dos caminhos que nos levam at l ou que nos projetam

    para alm das demarcaes geogrficas do local, dentre outros. Aps a o registro das fotos, os

    alunos escolheram algumas imagens e elaboraram legendas que revelasse o que foi capturado

    pela cmera fotogrfica. Em seguida, cada um fez uma breve explicao sobre os motivos da

    escolha da paisagem ou do detalhe registrados. Mesmo com a legenda, a proposta da sada

    fotogrfica baseada em Favero (2009) foi usar o mnimo possvel de palavras privilegiando o

    olhar e a percepo dos alunos.

    Na anlise das fotografias, a pesquisa buscou compreender as narrativas imagticas

    nos domnios da cultura popular, uma vez que na relao dos indivduos com o meio ambiente

    identificamos traos caractersticas dos costumes de um determinado grupo de pessoas. Nesse

    contexto, alargamos nosso entendimento sobre cultura popular ancorado nas palavras de

    Michel de Certau quando ele afirma que no possvel prender no passado, nas zonas rurais

    ou nos primitivos os modelos operatrios de uma cultura popular (2003, p. 87). Ou seja, as

    prticas sociais de uma comunidade esto em constante renovao, tanto pelas influncias

    externas recebidas, quanto pela prpria transformao do modo caracterstico de vida das

    pessoas. Segundo o autor a cultura popular no pode ser considerada um corpo estranho

    pela simples reproduo de uma determinada situao imposta aos vivos.

    No entanto, em determinados contextos existe uma distoro do que vem a ser a

    cultura popular. Para Canclini isso ocorre porque considera-se como popular o que no

    prprio da atualidade, ou os fatos associados ao pr-moderno e ao subsidirio. Assim, o

    patrimnio cultural marca as diferenas entre grupos sociais e a hegemonia dos que se

    destacam na produo e distribuio dos bens, uma vez que esses setores dominantes no

    apenas definem o que superior e merece ser conservado, mas tambm detm os meios

    econmicos e intelectuais necessrios ao refinamento dos bens culturais. (2008, p. 195)

    Os costumes prprios de um determinado grupo social que esteja margem dos

    grandes centros urbanos, por questes geogrficas ou no, podem ser estereotipados como

    tradicionais, conferindo-lhes um carter popular que tende a ser sobrepujado pela cultura

  • 81 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, dez/2014.

    moderna e o desenvolvimento tecnolgico. Todavia, o problema no se reduz a conservar e

    resgatar tradies supostamente inalteradas. Trata-se de perguntar como esto se

    transformando, como interagem com as foras da modernidade. (CANCLINI, 2008 p. 216).

    Em relao a tradio, Hall (2008) define-a como elemento vital da cultura. Para o

    autor tradio no uma simples persistncia das velhas formas e nem ao menos se apresenta

    fixa para sempre. Portanto, ao relacionarmos cultura e tradio, possvel pensarmos o

    processo histrico pelo qual a cultura se modifica e passa a no ser apenas mais um privilgio

    de algumas classes sociais. O autor apresenta uma definio atual sobre o estado de

    indeterminao do conceito de cultura. Primeiramente, assegura que cultura a soma das

    descries disponveis pelas quais as sociedades do sentido e refletem suas experincias

    comuns, no tendo mais um sentido antigo da perfeio. J, sob o aspecto antropolgico,

    cultura refere-se s prticas sociais, ou seja, a cultura pode ser compreendida mediante o

    estudo das relaes entre elementos em um modo de vida abrangente e no apenas como a

    descrio dos costumes de um determinado povo.

    interessante observar as caractersticas da cultura popular de uma sociedade como

    produto de uma constante renovao e adaptao. Isso porque no podemos afirmar que a

    cultura est ou foi esquecida por uma comunidade e, nem tampouco, que ela renegue sua

    cultura tradicional em vista do que a tecnologia ou outras opes da modernidade lhes

    oferecem. Na anlise das narrativas imagticas apresentada neste texto buscamos traos

    caractersticos do processo de hibridao cultural. Este processo tambm denominado por

    alguns autores como hibridismo ou hibridizao, considera as riquezas culturais presentes em

    diversas expresses sociais de uma comunidade, como na msica, na arte, no modo de viver e

    de se relacionarem entre si, considerando tanto o que reconhecido como tradicional quanto

    as questes presentes na atualidade.

    A hibridizao compreendida por Canclini como processos socioculturais nos

    quais estruturas ou prticas discretas, que existam de forma separada, se combinam para gerar

    novas estruturas, objetos e prticas (2008, p. XIX). Este mesmo autor comenta que a

    expanso urbana uma das causas que intensificaram a hibridao cultural. Zona urbana e

    rural se articulam pela mdia eletrnica. Para o Canclini a questo no voltar s denncias

    que culpavam a modernizao da cultura massiva e cotidiana de ser um instrumento dos

    poderosos para explorar mais (2008, p. 308). preciso entender como o desenvolvimento

    tecnolgico remodela a sociedade, reforando os movimentos sociais ou contradizendo-os. No

    entanto, nem sempre a ressignificao das prticas sociais contradiz as culturas tradicionais e

    as artes modernas.

  • 82 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, dez/2014.

    Momo (2010, p. 79) considera que os significados culturais so estabelecidos por

    meio de prticas sociais como a prpria representao, ou seja, as narrativas e imagens

    produzidas e veiculadas pela mdia possibilitam a formao de uma cultura comum, ajudam a

    tecer a vida cotidiana, modelam opinies, formas de pensar, comportamentos e fornecem

    parmetros para as pessoas, forjam suas identidades. Para a autora, o que veiculado na

    mdia domina a vida cotidiana das pessoas.

    Portanto, uma vez que os significados culturais so estabelecidos por intermdio de

    prticas sociais e que essas prticas so atravessadas por artefatos miditicos, possivelmente,

    hbridos como as festividades, o esporte, a religio, a msica e a linguagem, nos pautamos

    tambm nas consideraes de Peter Burke que prope as formas hbridas, as quais devem ser

    percebidas como o resultado de um nico encontro, quer encontros sucessivos adicionem

    novos elementos mistura, quer reforcem os antigos elementos (2010, p. 31).

    Nesse contexto, as imagens fotogrficas foram analisadas na pesquisa, destacamos a

    importncia dos trabalhos de Salgado (2011) e Wunder (2008) que nos orientaram a olhar, a

    mexer, revirar as fotografias. Dentre os vrios tericos trabalhados pelas autoras vale destacar

    Barthes (1984), pela aprecivel relao que este autor estabelece com a linguagem imagtica.

    As fotografias apresentadas, na pesquisa que nos possibilita a escrita do captulo desse livro,

    foram produzidas como registro da compreenso do meio ambiente por um grupo de alunos

    de uma escola de zona rural. Porm, no transcorrer da pesquisa no houve uma restrio na

    decodificao dos conceitos elaborados pelos alunos, mas um balizamento do que vem a ser

    naturalizado e at mesmo corriqueiro quando se pensa em representaes sobre natureza e

    ambiente.

    Muito mais do que uma atividade de educao ambiental, na sada fotogrfica

    preparada a partir da pesquisa de Favero (2009), as imagens tornam-se dispositivos para se

    investigar a maneira como os alunos percebem o distrito onde vivem. Neste sentido, entender

    que as fotografias podem ser pensadas como a juno entre o que ser fotografado e a

    inteno de quem fotografa apresentar a fotografia como possibilidade inventiva para a EA

    no tanto por si prpria, mas pelos efeitos que ela capaz de surtir em cada pessoa na

    medida em que nos encontramos com as imagens (SALGADO, 2011 p.79).

    A autora complementa que as fotos produzidas ou observadas como uma atividade

    de educao ambiental pode propiciar uma experincia esttica onde o saber de diferentes

    sujeitos compartilhado sem a necessidade de produzir um consenso, pelo contrrio,

    deixando que as diferentes vises apaream e ganhem voz. (idem). Assim, a educao

    ambiental apresentada na pesquisa, no se apressou em discutir, to somente, as questes

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    ambientais e os registros fotogrficos do distrito, mas em entender o significado das

    fotografias, extraindo as relaes que os estudantes estabelecem com o meio ambiente, bem

    como aproxim-los da linguagem visual.

    Nessa perspectiva, Krelling (2010, p. 107) escreve sobre as possibilidades de se

    repensar o mundo quanto preservao ambiental. A autora averiguou em sua pesquisa, as

    afinidades na tessitura das relaes entre humanos e o ambiente, entre humanos e no

    humanos. Tambm foi importante a leitura de Wunder quando ela aponta que a conciliao

    entre conservao da natureza e garantia da vida digna (2008, p. 37) perpassa a diversidade

    sociocultural. Ou seja, a concepo sobre meio ambiente, bem como as questes relativas ao

    tema devem abarcar a diversidade cultural e histrica da humanidade.

    Em outro trabalho, Wunder et al., apresenta-nos a necessidade de desnaturalizar

    alguns conceitos: aquilo que nos parece natural so de fato, culturais; feitas e dadas por ns

    mesmos (2007, p. 68). Portanto, o meio ambiente no pode ser concebido como sinnimo de

    natureza; e nem mesmo atribuir ao ser humano um lugar externo ou responsabiliz-lo por toda

    degradao ambiental. Em algumas situaes, o discurso miditico propaga e legitima a ideia

    de que a natureza est sempre sujeita a ao humana depredatria, eliminando os aspectos

    histricos, sociais e culturais que deveriam impregnar as discusses ambientais.

    Momo afirma que a mdia tem modificado os processos de produo, circulao e

    consumo de significados, compondo uma cultura distinta da cultura de outras pocas. Na

    contemporaneidade, os recursos miditicos representam uma das principais produtoras de

    significados reconhecidamente divulgados. A autora considera que os significados culturais

    so estabelecidos atravs de prticas sociais e complementa: nas sociedades ocidentais

    contemporneas, a mdia tem sido uma das principais produtoras das representaes que

    compartilharmos (2010, p.79).

    Nesse panorama, a sada fotogrfica foi importante para pontuar a relao da mdia

    na discusso ambiental. No captura das imagens e elaborao das legendas, os alunos foram

    acompanhados por um grupo de pesquisadores. Eles foram separados em pequenos grupos e

    percorreram as ruas do distrito rural no perodo de uma hora. Aleatoriamente, cada grupo se

    encaminhou para uma regio do distrito. Talvez por esse motivo, as paisagens fotografadas

    no se repetiram. Contudo, foi possvel notar uma nfase no enquadramento dos seres:

    rvores, animais e flores. Em relao s legendas produzidas, cada aluno escolheu uma de

    suas fotos para ser legendada e outra de um colega, tambm para legendar. Para conferir aos

    alunos a autoria de suas imagens e legendas, os sujeitos da pesquisa foram citados segundo

    uma lista de cdigo, a fim de preservar suas identidades. Apresentamos a seguir algumas fotos

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    escolhidas pelos alunos e outras selecionadas por ns, todas foram analisadas na pesquisa

    originria desse texto.

    A fotografia como memria e expresso de um tempo

    No contexto das pesquisas em educao, refletimos sobre a possibilidade de se

    utilizar imagens no desenvolvimento de atividades de educao ambiental. No obstante,

    percebemos dois pontos interessantes. O primeiro corrobora com Garcia a respeito das

    imagens que quase sempre ilustram algum texto. A autora evidencia o paralelo que se

    estabelece entre o que se v e o que propriedade dos modos de validar o conhecimento na

    perspectiva moderna (2005, p.41). Ela caracteriza a imagem como algo incontestvel, que

    habilmente demarca acordos naturalizados que provoca o rompimento do cnone do ver

    para crer, justificado por questes culturais prprias do imaginrio de quem olha para a

    imagem e para outras questes referentes ao conhecimento escolar.

    O segundo ponto, confere a imagem fotogrfica a capacidade de suscitar as

    lembranas e vivncias de um grupo de pessoas, quer sejam membros da mesma famlia, da

    mesma comunidade, ou frequentem a mesma escola. Lvi-Strauss (1994) assegura que a

    fotografia estabelece-se como memria da coletividade e serve de material de pesquisa. Nessa

    perspectiva, Bosi (2003) afirma que um trabalho sobre o tempo vivido, conotado pela

    cultura e pelo indivduo. A autora acredita que, na atualidade, os ritmos temporais foram

    subjugados pela sociedade industrial, que dobrou o tempo a seu ritmo, racionalizando as

    horas de vida (p. 53). um tempo da mercadoria que comprime os momentos da

    convivncia humana nas dimenses afetiva, familiar e religiosa, assegura a autora.

    Iniciamos a apresentao dos registros fotogrficos pelas imagens da praa central e

    das rvores da localidade estudada. Essas imagens abrem possibilidades de dilogo com o

    cotidiano. No sabemos ao certo se a preferncia dos alunos por essas fotos ocorreu por ser a

    praa um dos pontos de encontro da populao, ou por ser as rvores caractersticas marcantes

    da localidade. No primeiro plano das fotografias vemos rvores frondosas, enquanto, os

    outros elementos da praa ficam sempre em segundo plano. Mesmo considerada como um

    local de encontro das pessoas, o foco das fotografias indica que h uma inteno de registrar a

    natureza, uma vez que as pessoas ou outros elementos prprios da vida humana nem sempre

    foram fotografados.

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    Podemos ver nessa foto grandes rvores que atravs

    da fotossntese purificam todo o ar da comunidade.

    (Foto e legenda aluno Al 08)

    As rvores e as outras plantas so apresentadas pelos alunos por sua importncia para

    a comunidade e para o meio ambiente, uma vez que, nas legendas so mencionados alguns

    processos qumicos que ocorrem na natureza e normalmente so ensinados na escola. Nesse

    sentido, as legendas das imagens se delimitam na tica do conhecimento escolar. Barioni e

    Amorim, em pesquisa realizada em um bosque da cidade de Campinas- SP; questionaram as

    prticas de educao ambiental que valorizam o ambiente natural, enfatizando at que ponto

    esse um ambiente natural, de natureza intocada, vivida como ausncia do humano (2009,

    p. 191).

    Quando os alunos representam o meio ambiente, utilizando-se de imagens

    fotogrficas associadas aos conceitos escolares, concordamos com os autores mencionados

    acima que ocorre uma perda evidente da pluralidade cultural. Neste contexto, os espaos

    semelhantes aos parques e bosques tornam-se um espao de conhecimento, cincia e

    aprendizado. J no se pode visit-lo apenas a passeio. Ao sair de l, preciso ter aprendido

    algo (idem, p. 180). Em muitos projetos de educao ambiental, por exemplo, ou em locais

    considerados naturalizados, os participantes e/ou visitantes so obrigados a um

    aprendizado, a partir de uma proposta biologizante que desconsidera qualquer outra

    informao, mesmo os dados histricos sobre o local (p. 183). Sendo assim, perceptvel a

    mediao da escola quanto ao olhar das crianas sobre o mundo.

    Se caracterizarmos a natureza circunscrita basicamente em parmetros escolares,

    dificilmente, reconheceremos no meio ambiente as relaes que o homem estabelece com os

    elementos naturais, conforme suas vivncias culturais. Dessa forma, as questes ambientais

    fixam ncora em debates sobre a sustentabilidade, reciclagem ou catstrofes climticas,

    temticas normalmente discutidas no ambiente escolar, mas podem no abranger discusses

    Essa uma pequena amostra do ecossistema

    presente no distrito. Podemos ver que a foto

    mostra desde plantas pequenas como a grama at

    rvores grandes como o coqueiro.

    (Foto e legenda aluno Al 08)

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    sobre o consumismo exagerado ou o crescimento desenfreado do planeta, ou questes que

    abrangem o medo ecolgico6.

    O que se destaca, na pesquisa que apresentamos, o fato de que os alunos estavam

    livres para fotografar o que desejassem e depois elaborar as legendas. No entanto, eles se

    concentram, de maneira considervel, em uma representao conceitual de meio ambiente. A

    pesquisa no aponta que fazer tal registro dentro dos limites do que ensinado na escola seja

    errado. No entanto, destacamos as concepes de meio ambiente associadas apenas biologia

    como disciplina escolar, negando o aspecto cultural e histrico do local. Esta preocupao se

    acentua uma vez que na legenda de vrias fotos os alunos expressam um conhecimento

    biolgico.

    Wunder, em sua tese elucida que mesmo sob forte influncia do saber cientfico

    (2008, p. 38), necessrio buscar alternativas de desenvolvimento compatveis s

    necessidades e cultura da localidade na qual a pesquisa est inserida. Parafraseando a autora,

    deparamo-nos com as indagaes da pesquisa que suscitou esse texto, tais como: como a ideia

    de meio ambiente pode ligar-se s questes culturais? Ou seja, de que maneira os autores

    dessas fotos percebem a relao entre natureza e cultura? Ser que os alunos ao retratarem a

    compreenso sobre meio ambiente, o fazem mostrando o distrito, as pessoas e suas tradies?

    Em resposta a esses questionamentos, as imagens registradas transparecem a cultura

    daquela comunidade. Fato este identificado ao observarmos que as fotografias e legendas no

    apenas registram um pouco da natureza presente no distrito, mas exibem um meio ambiente

    de flores delicadas e coloridas, de ruas largas e asfaltadas, com pouco movimento de veculos

    mas com extensas faixas de sombra devido s rvores nas caladas das casas, de pedaos de

    terra nua ou ainda de muro de tijolos no rebocados com cimento, de lugares que parecem to

    calmos e por vezes distantes do tempo real.

    A pesquisa indica em um primeiro olhar que raro a presena de seres humanos nas

    fotografias. Isto porque nas poucas imagens que aparecem pessoas, se destaca o registro de

    um senhor que est sentado na frente de uma casa, nos permitindo pensar, utopicamente, que

    ele se deixa levar por seus pensamentos ou est espera de um acontecimento trazido nas

    palavras de quem passa pela rua... como se a vida por l seguisse tranquilamente. A

    calmaria do local pode ser associada caracterstica tpica de pequenas regies afastadas dos

    centros urbanos; entretanto, autores, como Mauro Guimares (1995), criticam a relao que

    6 No livro Equvoco Ecolgico, os autores ao se referirem s Catstrofes ecolgicas abordam o termo medo

    ecolgico.

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    vincula o meio urbano a uma condio de natureza degradada e, ao contrrio, a zona rural a

    uma natureza menos alterada.

    No exerccio de ver e rever as fotografias apresentadas na pesquisa, percebemos,

    contudo, que nem sempre so registradas as pessoas, mas que as imagens denotam a presena

    humana no distrito, ao rasgarem a paisagem silenciosa do distrito. Assim sendo,

    compreendemos que o ser humano foi de certa forma registrado no como pessoa real, mas

    por suas marcas presentes na propaganda de um comrcio, nas placas indicativas de regras de

    boa convivncia ou de localizao e ainda nos fios de transmisso de energia eltrica. Alis,

    esses no so apenas aspectos da presena humana, mas, sobretudo indicam que a populao

    est posicionada na contemporaneidade, por justamente usufruir de algo to moderno como a

    eletricidade e a comunicao telefnica. Nesse caminhar de apreciao das fotografias nos

    possvel a demarcao do uso das imagens como dispositivo.

    Ao debruarmos nosso olhar sobre essas fotos, compreendemos o que Salgado, nos

    apresenta em relao interpretao dos problemas ambientais ser diferente para cada

    pessoa, processada atravs de representaes e tambm de seus conhecimentos que podem

    vir permeada por outras formas de saberes como o saber tnico e o saber popular (2011,

    p.49). Talvez as imagens que trazem aspectos ligados degradao ambiental apareceram em

    menor nmero, pois os alunos quiseram registrar as belezas do local e uma relao mais

    harmoniosa com o meio ambiente. Isso porque a ideia de meio ambiente est intimamente

    conectada ao que belo e encanta. No entanto, nas imagens que registram a degradao

    ambiental, parecem querer mostrar o descaso de algumas pessoas com o espao pblico,

    condio essa registrada no acmulo de lixo e entulho no passeio.

    Gonalves (1989, p. 23) afirma que toda sociedade, toda cultura cria, inventa e

    estabelece uma determinada ideia sobre a natureza. No entanto, a relao de diferentes grupos

    sociais com o mundo natural diversificada, uma vez que o ambiente est em contnuo

    processo de transformao. Pesquisadores apontam que o conceito de natureza, diferente de

    natural. Ou seja, afirmar que meio ambiente sinnimo de natureza excluindo o ser humano

    no uma das melhores opes ao propormos ou discutirmos prticas de educao ambiental.

    Corroboramos com Meyer (2008, p. 72) quando ela afirma que no existe uma nica

    natureza, natural, intocada; a natureza continuamente vem se construindo pela insero do

    elemento humano como parte do mundo natural e como produtor de cultura.

    De acordo com Salgado (2011), compreender o meio ambiente como sendo a prpria

    natureza no apenas uma questo de conscincia individual. Para a autora, preciso lembrar

    que as escolhas e entendimentos pessoais exprimem as prticas sociais compartilhadas em

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    determinados momentos histricos. Ao retirarmos o homem da compreenso do significado

    de meio ambiente, incidiremos no erro de conferir o predomnio humano sobre os recursos

    naturais. Mas se, pelo contrrio, o ser humano for compreendido como um dos elementos

    integrantes da natureza, apesar das diferenas entre os seres, no ser mais concebida a

    posio de superioridade espcie humana.

    Nesse parmetro, Meyer considera a natureza como um sujeito. Ou seja, estabelece-

    se outra relao sociocultural, fundamenta na igualdade, em que o ser humano intervm

    socialmente no ambiente e principalmente, tece novas formas de apropriao dos recursos

    naturais, onde a economia e a ecologia se alinham na procura de outros estilos de consumo e

    [...] modos de vida (2008, p. 100). Formas que no apenas naturalizem um lugar pela

    abundncia de fauna e flora, mas que considerem tambm os aspectos culturais ali presentes.

    Procuramos tambm olhar as fotografias produzidas abordando os enquadramentos

    que os estudantes buscaram. Uma das imagens apresentadas na pesquisa mostra o detalhe em

    detrimento da imagem panormica revelando o contexto no qual a imagem foi realizada. O

    que fica evidente, nas imagens escolhidas pelos alunos, pois quando aproximam a lente da

    cmara da delicadeza das flores ou dos frutos como se quisessem, que, ao olhar, pudssemos

    ser inebriados por seus perfumes. Este fato evoca-nos o sentido esttico da fotografia, alm

    das narrativas imagticas reveladas na escrita deste captulo. Com as fotografias, construiu-se

    na pesquisa um texto sem palavras, porm abundante em detalhes. Com o qual nos deparamos

    na iminncia de ler e reler, ou seria ver e rever?

    Segundo Wunder e Dias a esttica da fotografia no aporta apenas no estar ou no

    de acordo com o que se v e fotografa, mas em que subsiste em uma certa forma de lidar com

    o sentido e com a linguagem, na busca de um dizer/ pensar que se aproxime do imprevisvel

    (2010, p. 173). As autoras apostam na desvinculao da fotografia da funo de representar

    para que se faa proliferar a vida e o pensamento em meio demolio das estruturas,

    afirmando a abertura, a indeterminao, a impossibilidade de totalizaes e

    substancializaes. (p. 159)

  • 89 Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. E - ISSN 1517-1256, V. Especial, dez/2014.

    No trabalho de anlise das fotografias de artistas brasileiros Wunder e Dias (2010),

    afirmam que o fotgrafo o manipulador: o que provoca alteraes, o que mistura coisas, o

    que adultera, torna falso (p. 164). Complementando a ideia de manipular a imagem, a

    pesquisa apresenta para a discusso o pensamento de Barthes, ao questionar: [...] a quem

    pertence a foto? ao sujeito (fotografado)? ao fotgrafo? A prpria paisagem no passa de uma

    espcie de emprstimo feito junto ao proprietrio do terreno? (1984, p. 26).

    Se a foto pertencesse apenas ao fotgrafo, no teramos a possibilidade e nem talvez

    a permisso para apresentarmos a primeira imagem mostrando a rvore, tampouco para

    focalizarmos nos detalhes, como fizemos na ltima imagem desse agrupamento. No entanto, a

    propsito do detalhe, na apresentao das imagens que compem o trabalho final da pesquisa,

    com o uso de recursos grficos por compreendermos, os detalhes tornam-se grandiosos na

    foto, permitindo que outros significados flussem.

    Prosseguindo, nessa tica, a imagem a seguir revela alm do detalhe capturado, o

    contraste. Um cachorro dorme na frente de um caminho. O que ser que o autor da imagem

    quis mostrar com essa cena? Barthes escreve que a fotografia repete mecanicamente o que

    nunca mais poder repetir-se existencialmente (1984, p. 13). O aluno-fotgrafo percebe e

    quis registrar o distrito em sua aparente calmaria, prpria de muitas comunidades afastadas

    geograficamente dos grandes centros? Ou o contraste entre a calmaria e o caminho que,

    mesmo imvel, representa o barulho, o trnsito, o comrcio que existe no local? J o motivo

    da escolha da foto para compor a escrita da pesquisa marca o diferente, o detalhe e o contraste

    tanto para o fotografo quanto para o olhar do pesquisador e ainda para o olhar do leitor.

    Na pesquisa, percebemos certo consenso, por parte dos alunos em retratar o meio

    ambiente, o que no impediu dezenas de fotografias registrando diversos espaos e elementos

    (Foto registrada por um dos alunos.)

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    presentes na localidade, especialmente quanto a sua utilidade e importncia para o meio

    ambiente. Por mais que tenha sido apresentado vrias fotos, ainda nos causa surpresa a

    maneira como os alunos percebem o local onde vivem. As casas, a igreja, o cachorro

    dormindo, o senhor sentado em frente casa podem representar a cultura do local?

    No trabalho de pesquisa, no h respostas para tal pergunta, mas a foto a seguir,

    representa para ns o contraste existente na maneira como esses sujeitos de pesquisa

    percebem o meio ambiente. Utilizamo-nos das palavras de Guimares: nem toda interrupo

    potente para produzir pensamentos sobre o lugar em que se vive, sobre o que fao de mim

    mesmo nos lugares onde estou vivendo (2010, p.75).

    Quanto sada fotogrfica, alm de propiciar o contato e o aprofundamento dos

    alunos com os recursos miditicos e aproxim-los do local onde moram, tambm foi possvel

    apresentar lhes outro conhecimento sobre o meio ambiente diferente do que trabalhado na

    escola ou divulgado na mdia. Contudo, no foi possvel, afirmarmos se as discusses sobre as

    fotografias e suas respectivas legendas fizeram com que os alunos mudassem de opinio

    quanto compreenso de meio ambiente, at mesmo porque essa no era a inteno da

    pesquisa. As palavras de Salgado justificam a ideia de que no temos propriedade de mostrar

    para as outras pessoas como o lugar em que eles vivem (2011, p.84).

    Nesse sentido, reportamo-nos s palavras de Wortmann sobre a necessidade de

    focalizar melhor a dimenso explicativa do conceito de hibridao, pela considerao das

    ideias de movimento, de trnsito e de provisoriedade de hibridao que devem ser associadas

    a esse conceito quando o entendemos como um processo (2010, p. 29). A autora coloca o

    conceito de hibridao sob rasura ao estend-lo para o conceito de identidade segundo

    (Foto registrada pelo aluno Al 01)

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    Stuart Hall (2000). Ela afirma ser possvel que a hibridao, quando tomada como um

    processo que serve para explicar uma variada gama de encontros interculturais, no pode ser

    pensada exclusivamente em seu significado antigo, de conotaes biolgicas. (WORTMANN,

    2010 p. 30).

    Portanto, a educao ambiental proposta na pesquisa fundamentou-se em outro olhar,

    uma outra discusso que foge dos apontamentos do que certo ou errado, para se embrenhar

    em diversas possibilidades de descobrir como as pessoas que habitam a comunidade se

    relacionam com a natureza. Com a linguagem miditica, representada pela cmera

    fotogrfica, recorremos a Guimares (2009), para asseguramos que os artefatos miditicos

    arquitetam os dispositivos necessrios para se discutir a relao entre natureza e cultura,

    expressa nas formas como os sujeitos enxergam o local onde vivem.

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