não pode-ser na seringa tem que ser no muque: masculinidades e práticas corporais de hipertrofia...

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NÃO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRÁTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE Humberto Luís Cesaro Alex Branco Fraga

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  1. 1. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE Humberto Lus Cesaro Alex Branco Fraga
  2. 2. INTRODUO Este artigo resulta de uma pesquisa realizada numa academia de Porto Alegre com o objetivo de compreender os processos de produo das masculinidades entre homens praticantes de musculao de grupos populares.
  3. 3. Mostraremos como o rechao utilizao dos esteroides anabolizantes, uma prtica comum em vrias academias, revela uma percepo da honra ligada disciplina, perseverana e fora de vontade como caractersticas mais importantes do que a produo de um corpo forte e conforme aos padres estticos vigentes. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE
  4. 4. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE Os ltimos anos do sculo XX e os primeiros do sculo XXI tm visto uma transformao das pedagogias vigentes sobre os corpos masculinos com a atribuio de novos significados a antigas prticas e a incorporao de alguns cuidados inditos ao menos na cultura ocidental nos ltimos sculos.
  5. 5. O QUE SER MASCULINO ?
  6. 6. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE Ser masculino consequncia de processos que acontecem dentro da cultura e que variam de uma para outra e tambm dentro de uma mesma cultura ao longo do tempo. (Chad States, 2008)
  7. 7. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE No h somente uma masculinidade, existem vrias, tantas quantas forem as formas de viver a experincia de ser homem, pois a masculinidade uma configurao de prtica em torno da posio dos homens na estrutura das relaes de gnero. (CONNELL, 1995, p.188)
  8. 8. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE Dentre as diversas maneiras de estruturar a pesquisa definiu pela construo das masculinidades entre grupos populares, uma vez que a literatura aponta para um conservadorismo quanto aquisio de novos hbitos, principalmente no que diz respeito linguagem, ao vesturio e aos usos dos corpos, entendidos como demonstraes da virilidade ou de aburguesamento.
  9. 9. CONSIDERAES METODOLGICAS Pesquisa etnogrfica; Academia na zona sul de Porto Alegre; Pblico predominantemente masculino;
  10. 10. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE A escolha dos colaboradores da pesquisa obedeceu ao critrio de frequncia academia: foram convidados todos os homens que treinam pelo menos cinco vezes por semana, num total de 27 e, destes, 22 participaram da pesquisa.
  11. 11. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE As visitas academia aconteceram entre julho de 2011 e fevereiro de 2012, duas vezes por semana, sempre variando os dias e horrios para tentar manter contato com o maior nmero possvel de colaboradores.
  12. 12. ANLISE E DISCUSSO preciso lembrar que a Antropologia , sempre, uma comparao. (Aug, 2012)
  13. 13. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE A originalidade e as formas especficas atravs das quais estes homens produzem suas masculinidades
  14. 14. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE Destinam-se a complementar uma alimentao deficiente em nutrientes ou ento suplement-la, oferecendo ao organismo uma quantidade de macro e micronutrientes muito superior s necessidades dirias.
  15. 15. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE Mesmo sendo substncias de uso proibido sem receita mdica, elas podem ser compradas via internet em lojas virtuais estrangeiras, ou ento contrabandeadas de diversas formas. (Chaves, 2010)
  16. 16. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE Decadurabolin; Durateston; Winstrol; Hemogenin; Deposteron; Equipoise; Equifort.
  17. 17. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE Depoimento recolhido por Csar Sabino numa academia do Rio de Janeiro: De que adianta viver muito e ser um fracassado? Um infeliz que no pega mulher, no consegue ser respeitado, no consegue se olhar no espelho? melhor viver pouco e feliz do que muito e desgraado. Se o diabo aparecesse para mim e dissesse: cara, vou te dar tudo que voc quiser, mas vou deixar voc viver s mais dez anos eu ia topar na hora! (idem, p.102-3).
  18. 18. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE Na Academia da Vila, a utilizao das bombas no faz parte dos interesses ou das prticas dos frequentadores. Aqui ningum usa, diz o Nicolas, pelo menos no dentro da Academia (Entrevista, janeiro de 2012).
  19. 19. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE Hermes tambm afirma desconhecer o uso de substncias ilcitas por parte dos frequentadores da Academia: - Voc j viu algum daqui tomando bomba? - Cara, acho que aqui ningum toma no. Tem um pessoal que s vezes faz perguntas, querem saber como funciona, se tem problemas. - Perguntam porque voc professor de Educao Fsica? - , querem saber se eu j usei, se eu sei como funciona, se tem perigo mesmo. Eu digo que deixa broxa [rindo], nunca mais perguntam nada. (Hermes, entrevista em 24/10/12).
  20. 20. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE O que leva os homens da Vila a recusarem a utilizao de um recurso que poderia potencializar seus esforos e reduzir o tempo para alcanar seus objetivos de hipertrofia muscular? Trs parecem ser os fatores: Um logstico e dois ticos.
  21. 21. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE Um terceiro fator, tambm ligado tica e do meu ponto de vista contundente, a questo do esforo e do merecimento. Como fica evidente numa das falas do Michel: Se quiser ficar forte, tem que suar, no tem nada de graa no, tem que vir todos os dias, puxar muito ferro, levantar muito peso. No pode ser na seringa, tem que ser no muque. [...] Esses guri querem vir um ms dois e ficar grando, assim no t certo. pra toda vida, tem que vir sempre [...] Como um vcio (Dirio de Campo, setembro de 2011).
  22. 22. CONSIDERAES FINAIS Essas particularidades que a musculao assume na Vila servem para apontar outros caminhos de pesquisa e a compreenso dos papis que as prticas corporais podem assumir na contemporaneidade.
  23. 23. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE Na escala de valores dos homens que frequentam a Academia, ter o corpo mais forte, msculos maiores e mais definidos no vale muito se esse corpo no for construdo atravs do esforo e do merecimento de cada um.
  24. 24. NO PODE SER NA SERINGA, TEM QUE SER NO MUQUE: MASCULINIDADES E PRTICAS CORPORAIS DE HIPERTROFIA NUMA ACADEMIA DE PORTO ALEGRE preciso ter disciplina e persistncia, mostrar esforo para merecer atingir os resultados. nisso que reside a honra.