nanovacinas direto ao alvo

10
MUNDO DE CIÊNCIA 1 4  CIÊNCIA HOJE  • vol. 41 • nº 243 BIOENGENHARIA Nanov acinas: direto ao alvo P raticamente todos nós esta- mos bastante acostumados com o conceito de vacina. D e for- ma simples, uma vacina intro- duz no organismo uma substân- cia que estimula a produção de anticorpos e de outras defesas naturais para combater elemen- tos agressores externos. A vacina quase sempre contém compostos (ou fragmentos de compostos) tóxicos que, no caso, servem co- mo estimulantes da produção de agentes naturais. Estes, por sua vez, combatem a presença desses compostos intrusos no organis- mo. Por essa razão, as doses das vacinas não podem ser excessiva- mente elevadas, sob pena de in- toxicar o organismo receptor. Além disso, a produção e a puri- ficação desses compostos podem ser bastante dispendiosas, o que também incentiva o uso de peque- nas doses das vacinas. Essas duas características (toxicidade e cus- to) colocam um grande desafio para aqueles que estudam o de- senvolvimento de novas técnicas de imunização: como aumentar Uma feliz conjunção da nanotecnologia, engenharia, química e biologia produziu um novo tipo de vacina que pode ser inoculado em doses muito pequenas e produzido a custos reduzidos. Promissora, essa técnica de imunização, patenteada pelos autores, emprega nanopartículas para carregar o princípio ativo da vacina diretamente a células especícas do sistema imune, evitando que o composto se dissolva em outros tecidos ou órgãos do organismo. O artigo com os resultados dos testes da nanovacina em animais está em Nature Biotechnology  (v . 25, n. 10, pp. 1.159-1.164, 2007) a eficiência do estímulo à produ- ção das defesas orgânicas com doses mínimas dos agentes esti- mulantes? A simples inoculação dos agen- tes estimulantes no organismo re- ceptor na forma de uma solução (como usualmente é feito nas téc- nicas de imunização) não é mui- to eficiente. A razão é simples: os compostos se espalham nos flui- dos orgânicos e não atingem, de forma específica, os elementos responsáveis pela produção dos anticorpos e pelas defesas natu- rais do organismo, ou seja, as cé- lulas dendríticas residentes nos linfonodos (ou gânglios linfáti- cos). Estes são pequenos órgãos que existem em diversos pontos da rede linfática e atuam na defe- sa do organismo, produzindo an- ticorpos. Já as células dendríticas são estruturas que detectam que algo vai mal no organismo, esti- mulando a produção de anticor- pos pelo sistema imunológico. Para atingir essas células em con- centrações suficientemente altas, de modo a que a resposta imuno-     M     U     N     D     O     D     E     C     I      Ê     N     C     I     A P H  O T  O T A K E P H  O T  O  S  /  L  A T I  N  S T  O  C K 

Upload: aquilino-vaz

Post on 13-Apr-2018

225 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Nanovacinas Direto Ao Alvo

7/26/2019 Nanovacinas Direto Ao Alvo

http://slidepdf.com/reader/full/nanovacinas-direto-ao-alvo 1/9

MUNDO DE CIÊNCIA

1 4   • C I Ê N C I A H O J E  • v o l . 4 1 • n º 2 4 3

BIOENGENHARIA 

Nanovacinas: direto ao alvo

Praticamente todos nós esta-

mos bastante acostumados

com o conceito de vacina. De for-

ma simples, uma vacina intro-

duz no organismo uma substân-

cia que estimula a produção deanticorpos e de outras defesas

naturais para combater elemen-

tos agressores externos. A vacina

quase sempre contém compostos

(ou fragmentos de compostos)

tóxicos que, no caso, servem co-

mo estimulantes da produção de

agentes naturais. Estes, por sua

vez, combatem a presença desses

compostos intrusos no organis-

mo. Por essa razão, as doses das

vacinas não podem ser excessiva-

mente elevadas, sob pena de in-

toxicar o organismo receptor.

Além disso, a produção e a puri-

ficação desses compostos podem

ser bastante dispendiosas, o que

também incentiva o uso de peque-

nas doses das vacinas. Essas duas

características (toxicidade e cus-

to) colocam um grande desafio

para aqueles que estudam o de-

senvolvimento de novas técnicas

de imunização: como aumentar

Uma feliz conjunção

da nanotecnologia, engenharia,

química e biologia produziu

um novo tipo de vacina

que pode ser inoculado

em doses muito pequenas

e produzido a custos reduzidos.

Promissora, essa técnica

de imunização, patenteada pelos

autores, emprega nanopartículas

para carregar o princípio ativo

da vacina diretamente a células

especícas do sistema imune,evitando que o composto

se dissolva em outros tecidos

ou órgãos do organismo.

O artigo com os resultados

dos testes da nanovacina

em animais está em

Nature Biotechnology  

(v. 25, n. 10, pp. 1.159-1.164, 2007)

a eficiência do estímulo à produ-

ção das defesas orgânicas com

doses mínimas dos agentes esti-

mulantes?

A simples inoculação dos agen-

tes estimulantes no organismo re-ceptor na forma de uma solução

(como usualmente é feito nas téc-

nicas de imunização) não é mui-

to eficiente. A razão é simples: os

compostos se espalham nos flui-

dos orgânicos e não atingem, de

forma específica, os elementos

responsáveis pela produção dos

anticorpos e pelas defesas natu-

rais do organismo, ou seja, as cé-

lulas dendríticas residentes nos

linfonodos (ou gânglios linfáti-

cos). Estes são pequenos órgãos

que existem em diversos pontos

da rede linfática e atuam na defe-

sa do organismo, produzindo an-

ticorpos. Já as células dendríticas

são estruturas que detectam que

algo vai mal no organismo, esti-

mulando a produção de anticor-

pos pelo sistema imunológico.

Para atingir essas células em con-

centrações suficientemente altas,

de modo a que a resposta imuno-

   M   U   N   D   O  D  E  C  I  Ê  N  C  I  A

P H  O T  O T A K E P H  O T  O  S  /  L  A T I  N  S T  O  C K 

Page 2: Nanovacinas Direto Ao Alvo

7/26/2019 Nanovacinas Direto Ao Alvo

http://slidepdf.com/reader/full/nanovacinas-direto-ao-alvo 2/9

MUNDO DE CIÊNCIA

n o v e m b r o d e 2 0 0 7 • C I Ê N C I A H O J E   •   1 5  

lógica possa ser disparada, as

doses de antígenos inoculadas

no organismo devem ser relativa-

mente elevadas.

A idéia básica que um grupo

de pesquisadores da Escola Po-

litécnica Federal de Lausanne

(Suíça) vem explorando para au-

mentar a eficiência das vacinas

(e assim permitir a inoculação de

doses muito pequenas, reduzindo

a toxicidade e o custo) é produzir

estimulantes que possam ser dire-

cionados de forma mais especí-

fica às células dendríticas resi-

dentes nos linfonodos, evitando

a dissolução em outros tecidos e

órgãos do organismo. Para atingir

esse objetivo, propõe-se que o

antígeno seja fixado sobre peque-nas partículas (nanovacinas), de

dimensões nanométricas (o nanô-

metro, cujo símbolo é nm, é a bi-

lionésima parte do metro), que

então são inoculadas como carre-

gadoras do estimulante direta-

mente para o sistema linfático.

Como as partículas têm dimen-

sões bastante superiores às das

dimensões de uma molécula (as

nanopartículas têm diâmetro ca-

racterístico de 25 nm, enquantoas moléculas têm dimensão mé-

dia inferior a 1 nm), elas não se

dissolvem nos fluidos orgânicos.

No entanto, como as partículas

são suficientemente pequenas,

elas são arrastadas pelas corren-

tes fluidas intersticiais (entre te-

cidos e células) diretamente pa-

ra a corrente linfática, atingindo,

de forma mais precisa e eficiente,

as células dendríticas presentes

nos linfonodos. Testes realizados

em animais pela equipe liderada

por Jeff Hubbell e Melody Swartz

mostram que a nova técnica de

imunização é bastante promisso-

ra e pode reduzir significativa-

mente os custos e a toxicidade do

procedimento.

Para que a técnica possa funcio-

nar a contento, são fundamentais

alguns pontos: i) a partícula carre-

gadora tem que ter a correta com-

posição (para que não prejudique

o organismo e permita a supor-

tabilidade do antígeno); ii) a

partícula tem que ter o correto

tamanho (para que seja carre-

gada pelas correntes intersti-

ciais e não se dissolva nos

fluidos orgânicos); iii) a supor-

tabilidade tem que ser eficien-

te (deve ser desenvolvida uma

técnica de imobilização do an-

tígeno sobre a partícula do su-

porte); iv) o antígeno tem que

ser corretamente desenvolvido

(para sensibilizar as células

dendríticas e promover a pro-

dução dos anticorpos e demais

mecanismos de defesa orgâni-

ca). Trata-se, portanto, de um

esforço multidisciplinar, que

deve mobilizar não apenasmédicos e biólogos, mas tam-

bém químicos e engenheiros.

Para produzir as partículas,

podem ser usadas técnicas (poli-

merização em emulsão) muito

utilizadas para fabricar tintas e

vernizes (entre muitos outros

produtos de dimensão nanomé-

trica). Para posicionar os antí-

genos sobre as partículas, po-

dem ser empregados métodos

(fisissorção e quimissorção) bas-tante comuns na produção de

moléculas biológicas que acele-

ram certas reações químicas

(catalisadores enzimáticos).

A boa notícia para os brasi-

leiros é que essas tecnologias

são dominadas por pesquisa-

dores e técnicos do país, de

maneira que a ciência brasilei-

ra pode se lançar imediatamen-

te aos estudos nessa área.

 José Carlos PintoPrograma de EngenhariaQuímica, Instituto AlbertoLuiz Coimbra de Pós-graduaçãoe Pesquisa de Engenharia(Coppe),Universidade Federaldo Rio de Janeiro

SINTONIA FINAProgramando férias no exterior? Dez locais a evitar, se-gundo a revista norte-americana Scientic American (13/09/07), por serem considerados os mais poluídosdo mundo: 1) Chernobyl (Ucrânia) – anal ninguém queraumentar as chances de ter câncer de tireóide, um res-

quício do pior acidente radioativo do mundo; 2) Dzer-zinsk (Rússia) – por que visitar um local onde a expecta-tiva de vida é de apenas 45 anos, graças aos resíduosinjetados no subsolo?; 3) Kabwe (Zâmbia) – a contami-nação com chumbo pode chegar a 10 vezes os níveisseguros; 4) La Oroya (Peru) – empresas norte-america-nas de mineração deixaram na localidade altas taxas decontaminação de chumbo, cobre e zinco; 5) Linfen (Chi-na) – a menos que o leitor queira car tossindo em fun-ção de pó de carvão acumulado na garganta e saciar asede com água contaminada com o venenoso arsênio;6) Norlisk (Rússia) – não há um pé vivo de grama ou deoutra vegetação em um raio de 30 km da cidade por

causa da poluição atmosférica por metais pesados;7) Sukinda (Índia) – passando por lá, recuse qualqueroferta de água, a menos que interesse a ingestãode carcinogênicos gerados pelas minas de cromo;8) Tianying (China) – não vale a pena, a menos que oviajante esteja querendo conhecer de perto as mazelascausadas pela poluição por chumbo no ar e no solo;9) Vapi (Índia) – cenário formado por resíduos e maisresíduos de cerca de mil indústrias petrolíferas, farma-cêuticas, de pesticidas etc.; 10) nalmente, Sumqayit(Azerbaijão) – graças a taxas de câncer que chegam aser 50% mais altas que a média do restante do país (semcontar a alta incidência de defeitos genéticos e retardomental em crianças), esse ex-pólo petroquímico ganhouo título de cidade mais poluída do mundo, pela mesmaorganização que listou as cidades anteriores, o Institu-to Blacksmith, entidade ambiental de Nova York (Es-

tados Unidos). A lista com detalhes e fotos (a deChernobyl é de uma crueldade ímpar) está em

www.blacksmithinstitute.org/ten.php .

    R    E    U    T    E    R    S    /    R    E    I    N    H    A

    R    D    K    R    A    U    S    E

Linfen, na China,é tida como uma das cidadesmais poluídas do mundo

Page 3: Nanovacinas Direto Ao Alvo

7/26/2019 Nanovacinas Direto Ao Alvo

http://slidepdf.com/reader/full/nanovacinas-direto-ao-alvo 3/9

MUNDO DE CIÊNCIA

1 6   • C I Ê N C I A H O J E  • v o l . 4 1 • n º 2 4 3

 JATO DE LUZ • O cartaz anuncia algumas das vantagens do paco-te turístico: ‘Desfrute suas férias em Marte. Cabines individuais.Espaçonave moderníssima. Refeições incluídas. Tempo de viagem:uma semana’. OK, cção. Mas o objeto com coloração ‘verde mar-ciano’ aí ao lado aproxima esse futuro. É uma turbina à base departículas de luz. Sim, em vez de ar, emite fótons.

Segundo o inventor, Young Bae, doutor em física pela Univer-sidade da Califórnia e fundador e dono do Instituto Bae, no mesmoestado norte-americano, o propulsor fotônico desenvolvido porele, a partir de ‘sucata’, poderá fazer com que uma nave cruze os100 milhões de km até Marte em cerca de sete dias, a velocidadesque podem chegar à casa dos 100 km/s (360 mil km/h). O propul-sor também é indicado para o posicionamento preciso de satélitese para retrofoguetes de atracação de naves.

O protótipo (que ainda produz apenas um jato relativamentefraco, mas com potencial para ser reforçado) foi apresentado para

especialistas nos Estados Unidos e parece ter impressionado. Oprojeto contou com nanciamento da Nasa (agência espacialnorte-americana). Bae irá publicar os detalhes da turbina fotônicaem Journal of Spacecrafts and Rockets. Mais detalhes (em inglês)em www.baeinstitute.com .

EM FOCO

B A E I  N  S T I  T  U T E 

NEUROCIÊNCIAS

 ALZHEIMER: DIABETES TIPO 3?

 Já se desconava que a doença de Alzheimer pudes-se ser uma nova forma de diabetes. Agora, tudo in-dica, veio a comprovação. Entre os autores, está umapesquisadora brasileira.

Segundo essa recente (e promissora) linha depesquisa, a perda de memória, que é o principal sin-

toma do Alzheimer, pode ser causada por mecanismosque envolvem a recepção defeituosa da insulina pelascélulas nervosas cerebrais (neurônios). A insulina é umhormônio envolvido nas duas formas conhecidas de dia-betes (tipo 1 e 2), um problema em que o organismo temdiculdade para ‘digerir’ açúcares. Na primeira, célulasdo pâncreas são destruídas (ainda não se entende bem oporquê) e, sem fabricar insulina, o organismo não temcomo ‘quebrar’ (metabolizar) as moléculas de açúcar, queagem deleteriamente sobre os tecidos quando seus níveisestão muito altos. Na de tipo 2, mais comum em idosose obesos, o organismo do portador passa a oferecer re-sistência à insulina.

Esse último caso se assemelha ao que ocorre no cé-rebro de um portador de Alzheimer, segundo defendemos autores. A equipe da Universidade Northwestern(Estados Unidos) liderada por William Klein (e da qual

Quando as formas tóxicas da proteína beta-amilóidese ligam aos neurônios (pontos verdes),estes perdem grande parte dos receptores de insulina(pontos vermelhos), que, em uma situação normal,são encontrados em abundância na superfíciedessas células nervosas

K L  E I  N E T A L   . /  F  A  S E B  J   O  U R N A L  

Page 4: Nanovacinas Direto Ao Alvo

7/26/2019 Nanovacinas Direto Ao Alvo

http://slidepdf.com/reader/full/nanovacinas-direto-ao-alvo 4/9

MUNDO DE CIÊNCIA

n o v e m b r o d e 2 0 0 7 • C I Ê N C I A H O J E   •   1 7  

SINTONIA FINA A busca por uma vacina contra a Aids sofreu em setembro últi-mo uma derrota com aquele adjetivo que os comentaristas es-portivos gostam: fragorosa. O chamado teste STEP avaliou apossibilidade de se estimular o sistema imune a reagir de modoagressivo contra o vírus HIV, não para evitar a infecção, mas para,

pelo menos, atrasar a manifestação da doença e diminuir aschances de transmissão. A vacina, denominada V520, da gigan-te Merck, era formada por três genes do HIV inseridos em umvírus atenuado do resfriado. Foi testada em 3 mil pessoas nãoinfectadas da América do Norte e do Sul, bem como da Austrá-lia. Mesmo antes do nal dos trabalhos (os resultados só devemser publicados ano que vem), concluiu-se que os números nãoeram promissores: em um grupo de 741 pessoas vacinadas, 24delas se infectaram, enquanto entre os 762 outros voluntáriosque receberam uma vacina inecaz, 21 pessoas contraíram oHIV, sendo que a quantidade de vírus no sangue dos dois gru-pos era praticamente igual. Há hoje cerca de 30 produtos em

testes clínicos no mundo, sendo que a V520 era um dos candi-datos mais promissores.

 James Lovelock , da Universidade de Oxford (Reino Unido) e autorda hipótese de Gaia (grosso modo, a de que a Terra seria um ‘or-ganismo vivo’), trouxe a público uma idéia radical: instalar nosoceanos tubos com algo entre 100 m e 200 m de comprimento e10 m de diâmetro, para bombear, do fundo para a superfície, al-gas, cuja função seria capturar carbono da atmosfera. Com isso,os autores (ele assina a carta para a revista Nature, de 27/09/07,com Chris Rapley, do Museu de Ciência, de Londres) esperam darum jeito de a Terra se curar da patologia do aquecimento global.Eles admitem que o projeto pode falhar do ponto de vista econô-

mico ou de engenharia, mas que a situação é tão desesperadoraque vale tentar, mesmo que aspectos do impacto da iniciativa ain-da sejam incertos (como a acidicação dos oceanos). Segundoeles, a remoção dos 500 bilhões de toneladas de CO2 da atmos-fera está além do conhecimento tecnológico da humanidade. En-cerram a carta com as seguintes palavras: “Se não podemos ‘curaro planeta’, devemos ser capazes de ajudá-lo a se curar.”

faz parte a pesquisadora visitante Fernanda De Felice,da Universidade Federal do Rio de Janeiro) mostrou queuma forma tóxica da proteína beta-amilóide, ao grudarna superfície dos neurônios, faz com que os receptoresda insulina voltem para dentro dessas células nervosas,onde essas proteínas são fabricadas. Lá, elas começama se acumular perto do núcleo.

Sem seus receptores especícos na superfície doneurônio, a insulina não pode ‘atracar’, cando como umbarco à deriva. Nessa situação, diz-se que o neurôniotornou-se resistente à insulina, de modo semelhante aoque ocorre no diabetes do tipo 2. O problema é que, nocérebro, a conexão entre a insulina e seu receptor éfundamental para a formação de memória e o aprendi-zado (isso explicaria a perda de memória dos portadoresde Alzheimer).

Klein e De Felice acreditam que se possam adaptarmedicamentos usados para tratar o diabetes do tipo 2.E que eles teriam resultados melhores que as drogashoje usadas para Alzheimer. Se isso se mostrar verda-deiro, será um grande avanço tanto no entendimentodesse quadro (ainda misterioso em alguns de seus as-pectos) quanto no seu diagnóstico e tratamento.FASEB Journal, disponível em dx.doi.org com o código

10.1096/fj.06-703com

DA CONVULSÃO PARA O ALCOOLISMO • Boa notícia para pacientes em tratamentopara o alcoolismo. Uma nova droga, usadapara medicar convulsões, fez com que os voluntários de um estudo diminuíssem onúmero de dias em que beberam pesada-mente, bem como a quantidade de álcoolingerida por dia. Além disso, quando com-parados com um grupo que tomou placebo(substância inecaz), o período de abstinên-cia foi maior. Ao todo, 371 homens e mulhe-res participaram da pesquisa, que durou 14semanas. Foram divididos em dois grupos,sendo que só um deles tomou o medicamen-to, denominado topiramato. Porém, todosos voluntários receberam ajuda psicossocialsemanalmente. Alguns efeitos colaterais

apresentados pela droga: parestesia (sen-sações anormais na pele), mudança de pa-ladar, alteração do apetite e diculdades deconcentração. ( Journal of the Amer ican

Medical Association, 10/10/07).

Page 5: Nanovacinas Direto Ao Alvo

7/26/2019 Nanovacinas Direto Ao Alvo

http://slidepdf.com/reader/full/nanovacinas-direto-ao-alvo 5/9

Page 6: Nanovacinas Direto Ao Alvo

7/26/2019 Nanovacinas Direto Ao Alvo

http://slidepdf.com/reader/full/nanovacinas-direto-ao-alvo 6/9

MUNDO DE CIÊNCIA

n o v e m b r o d e 2 0 0 7 • C I Ê N C I A H O J E   •   1 9  

SINTONIA FINA A comunidade cientíca mundial tem sido uma caixa deressonância favorável ao combate do aquecimento glo-bal. Porém, quanto os pesquisadores têm contribuídopara as emissões com suas milhares de reuniões anuaisao redor do mundo? Essa questão torna-se mais premen-

te agora que o Painel Intergovernamental de MudançasClimáticas (IPCC), com cerca de 2 mil cientistas, levou oNobel da Paz deste ano (lembrete: esta seção, na ediçãode dezembro, será dedicada exclusivamente ao Nobel,como já é tradição em Ciência Hoje ). Esse é tema de am-pla reportagem em Science de 05/10/07. A matéria co-meça dizendo que um encontro de grandes proporçõespode emitir, sobretudo em função das viagens aéreas,alguns milhares de toneladas métricas de dióxido de car-bono (algo comparável ao que cerca de 2 mil carros depasseio emitem em um ano). Daí, o texto discorre sobreas várias medidas que as sociedades cientícas norte-

americanas estão fazendo para evitar ou compensar asemissões. Se esse tipo de atitude politicamente corretachegar por aqui, é bom conhecer desde já algumas dasmedidas que estão sendo tomadas por lá: i) evitar copos,sacolas e xícaras de plástico; ii) cortar boletins, folders,panetos, folhetos, trocando tudo isso por comunicadoseletrônicos; iv) trocar menos roupas de cama nos hotéis;v) fazer mais teleconferências; vi) desligar motores dosônibus enquanto esperam; vii) pagar mais pela taxa deinscrição, dinheiro a ser investido em projetos que aju-dam a seqüestrar carbono da atmosfera; viii) e, para osmais radicais, cortar encontros. Mas nem todos concor-dam. E não conseguem imaginar um mundo sem reu-

niões cientícas. Essa ala diz que muitas das idéias oucolaborações nascem de um bate-papo nos corredores,em uma refeição ou no cafezinho.

TESTE DE SANGUEPARA ALZHEIMER

Se não tivesse aparecido quando estaseção estava praticamente fechada (oalerta veio de uma colaboradora da revis-ta), certamente seria o candidato da vezpara o tópico ‘Destaque’. A notícia é dotipo ‘parem as máquinas’: uma equipeinternacional de pesquisadores anunciouum teste sangüíneo que poderá ser usadopara diagnosticar Alzheimer (veja nestaedição outra nota sobre o assunto). Me-lhor: o método, dizem os idealizadores,poderá indicar indivíduos pré-sintomáti-cos, o que possibilitaria iniciar precoce-mente o tratamento.

O teste desenvolvido pela equipe deTony Wyss-Coray, da Universidade Stan-ford (Estados Unidos), é baseado em 18proteínas do plasma sangüíneo que po-dem dar uma ‘assinatura biológica’ de queo quadro geral pode levar ao desenvolvi-mento dessa doença neurodegenerativamarcada pela perda de memória e queatinge com mais freqüência idosos. Outravantagem alegada: o teste poderia dife-renciar o mal de Alzheimer de outros tiposde demência.

Os efeitos maléficos da doença deAlzheimer estão presentes muito antesde sua manifestação. Diagnóstico e tra-tamento feitos antes do aparecimentodos sintomas poderiam evitar esses da-

nos. O diagnóstico da doença é difícil ecaro. Apenas a necropsia dá a respostadenitiva para a questão. Um comunica-do de imprensa da empresa Satoris, deSão Francisco, no estado norte-americanoda Califórnia, diz que 60% dos casos deAlzheimer não são diagnosticados. NosEstados Unidos, esse percentual repre-sentaria quase 2 milhões de pessoas.

A quem interessar possa: Wyss-Corayé co-fundador da Satoris. Sim, o testeprecisa ser reproduzido em estudos delarga escala. Muitas descobertas igual-mente promissoras falharam nessa etapa(ver nota nesta edição sobre a vacinacontra a Aids).Nature Medicine, novembro de 2007

O DOCINHO OU A VIDA? • Uma sobremesa doce depois das refeiçõescai bem para muitos. Mas pode ser que ela tenha um gosto menosagradável depois de o leitor conhecer o resultado de uma pesquisa:

a ingestão de açúcar diminui em 20% a longevidade. Se os resultados,obtidos com vermes, servirem para humanos, isso representaria 15anos a menos de vida, em média. Outra constatação do mesmo estu-do: quando os vermes (modicados geneticamente para não ‘digerir’glicose, um tipo de açúcar) tomaram vitaminas e antioxidantes, elesperderam todas as vantagens metabólicas que levaram ao aumentode vida (no caso, o organismo desses animais desenvolveu defesascontra a ação de substâncias deletérias para a saúde, os radicais li- vres). Quando voltaram ao regime normal (no qual era permitido usaraçúcar como forma de energia), essas defesas, bem como a longevi-dade, permaneceram em parte. Os autores alertam: não joguem foraos frascos de suplementos vitamínicos e antioxidantes (pelo menos,não ainda), porque o estudo foi feito com seres bem diferentes dos

humanos. Também não deixem de comer frutas, porque, além das vitaminas, há nelas muitas outras substâncias benécas para a saú-de. (Cell Metabolism, outubro de 2007)

NEUROCIÊNCIAS

    F    O    T    O    D    E    R    O    M    I    N    A    C    H    A    M    O    R    R    O    /    S    X    C

Page 7: Nanovacinas Direto Ao Alvo

7/26/2019 Nanovacinas Direto Ao Alvo

http://slidepdf.com/reader/full/nanovacinas-direto-ao-alvo 7/9

MUNDO DE CIÊNCIA

2 0   • C I Ê N C I A H O J E   • v ol . 4 1 • n º 2 4 3

PSICOLOGIA 

DANÇA NA FERTILIDADE

Homens podem perceber que as mulheres estão no perío-do fértil. Foi isso o que mostrou uma pesquisa criativarealizada com dançarinas de clubes masculinos nos Esta-dos Unidos. No período fértil, elas ganharam duas vezesmais ‘gorjetas’ que quando estavam menstruadas.

Foram recrutadas 18 dançarinas da região de Albu-querque, no Novo México (Estados Unidos). Por doismeses, elas registraram em uma página na internetquantas horas trabalharam, quanto ganharam e em queperíodo estavam menstruadas. O tipo de dança que elasexecutam basicamente é girar sobre o colo dos clientes,que permanecem sentados. Por isso, são chamadas lapdancers ( lap, em inglês, signica colo).

Ao todo, Geoffrey Miller, psicólogo evolucionista

da Universidade do Novo México, e colegas registraram296 jornadas de trabalho (cada uma delas durava emmédia cinco horas), globalizando 5,3 mil sessões dadança (que, em geral, dura cerca de três minutos). Osclientes escolhem entre as várias dançarinas disponí-veis no momento e pagam pela dança (na verdade, dão‘gorjetas’, porque é proibido pagar por sexo no NovoMéxico). Na média, uma dançarina fatura US$ 14 (cer-ca de R$ 25) por dança. Uma jornada de trabalho duramais ou menos cinco horas, e elas executam algo emtorno de 15 danças.

Das 18 recrutadas, 11 delas tinham o ciclo menstrualnormal (as outras tomavam pílula). As primeiras ga-nharam, em média, US$ 335 por jornada na fase fértil;US$ 260 na fase em que o útero está se preparando para

a menstruação; e US$ 185 durante a menstruação (um

ZOOLOGIA 

Vespa orientalcom ‘casaco’de plásticopara evitarque suas placasdorsais se fechem.À direita,abelhas cipriotas

formando uma‘bola de asxia’em torno davespa oriental

 ABELHAS ASFIXIANTES

Uma vespa chega à colméia de abelhas no Chipre. Eminstantes, o predador é envolto por uma ‘bola’ viva for-mada por suas presas. Minutos depois, ele está morto.

Sufocado.Essa foi a tática desenvolvida pelas abelhas melíferas

da espécie  Apis mellifera cypria, comum nessa ilha doleste do mar Mediterrâneo e em regiões locais. A tática

de sufocação do inimigo funciona pelo fato de a vespaVespa orientalis respirar por pequenos orifícios (espirá-culos) em seu abdômen. Para abri-los e respirar, é preci-so estar com as placas que formam o abdômen livres.

 Já se conhecia uma estratégia semelhante de uma

espécie de abelha japonesa. No caso, elas formam umabola em volta do predador e o matam por aquecimento,pois seus ferrões não podem penetrar a ‘armadura’ dasvespas. Elas vibram vorazmente seus corpos, criando

P A P A  C H R I   S T  O F   O R  O  U E T A L   . /   C  U  R  R E N T B I   O L  O  G Y  (   1  8  /   0 9 /   0 7 )   

Page 8: Nanovacinas Direto Ao Alvo

7/26/2019 Nanovacinas Direto Ao Alvo

http://slidepdf.com/reader/full/nanovacinas-direto-ao-alvo 8/9

Page 9: Nanovacinas Direto Ao Alvo

7/26/2019 Nanovacinas Direto Ao Alvo

http://slidepdf.com/reader/full/nanovacinas-direto-ao-alvo 9/9

MUNDO DE CIÊNCIA

2 2   • C I Ê N C I A H O J E  • v o l . 4 1 • n º 2 4 3

Cássio Leite VieiraCiência Hoje/RJ

FONTES: SCIENCE, NATURE, NATURE MEDICINE, NATURE BIOTECHNOLOGY, NATURE GENETICS, NATURE

IMMUNOLOGY, NATURE NEUROSCIENCE, NATURE NEWS, NATURE MATERIALS, GENE TH ERAPY, PHYSICS NEW

UPDATE (THE AMERICAN INSTITUTE OF PHYSICS), PHYSICAL REVIEW FOCUS (AMERICAN PHYSICAL SOCIETY),

PHYSICS WEB SUMMARIES (INSTITUTE OF PHYSICS), PHYSICAL REVIEW LETTERS, SCIENTIFIC AMERICAN,

PROCEEDINGS OF THE NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, JOURNAL OF THE AMERICAN MEDICAL

 ASSOCIATION, EUREKALE RT EXPRESS, THE PROCEEDI NGS OF THE ROYAL SOCIETY, BBC SCIENCE/ NATURE,

NEW SCIENTIST, NANOTECHWEB NEWS ALERT, FOLHA DE S. PAULO, AGÊNCIA FAPESP, CELL PRESS,

CHANDRA DIGEST, ASTROPHYSICAL JOURNALS, GRAVITY PROBE B UPDATE, INTERACTIONS NEWS WIRE,

MEDICAL NEWS TODAY, ALPHAGALILEU, ROYAL SOCIETY LATEST UPDATE, SCIDEV.NET, UNIVERSO FÍSICO,

SCIDEV.NET WEEKLY UPDATE, PICKED UP FOR YOU (H. WACHSMUTH / CERN)

MEDICINA 

 ACUPUNTURA E DOR NAS COSTAS

Dor lombar? Talvez seja melhor apelar para a acupuntu-ra e deixar de lado o tratamento convencional. Isso foi oque mostrou um estudo sobre esse tipo de dor nas par-tes mais baixas das costas. A lombalgia é o segundo tipode dor mais comum nos consultórios médicos e uma dasprincipais causas de incapacidade física temporária e defalta ao trabalho.

Um grupo de 1.162 pessoas (média de 50 anos deidade), com pelo menos oito anos de reclamação de dorlombar crônica, foi dividido em três subgrupos. O primei-ro foi submetido a sessões de acupuntura tradicionalchinesa (denominada verum e na qual as agulhas sãoenadas em várias partes do corpo e a profundidadesque vão de 5 mm a 40 mm). O segundo fez sessões deacupuntura sham (que só espeta as agulhas supercial-

mente na região lombar). O último recebeu tratamentoconvencional (medicação, sioterapia e exercícios).

ÔMEGA 3 E DIABETES • Resultados preliminares: a gordura ômega 3pode diminuir o risco de diabetes do tipo 1 em crianças propensas adesenvolver esse quadro. Entre 1994 e o ano passado, foram acompa-nhadas 1.770 crianças com risco elevado para a doença. Questionáriosrevelaram o que elas comeram com mais freqüência a partir de umano de idade. Aquelas cuja alimentação incluiu ômega 3 (muito pre-sente em peixes) apresentaram 55% a menos de risco quando com-paradas às que geralmente não ingeriam esse tipo de gordura.O diabetes do tipo 1 (também denominado melito) é uma doençaauto-imune na qual ocorre, por fatores desconhecidos, a destruiçãodas células beta do pâncreas, responsáveis por fabricar a insulina,um hormônio com papel importante na ‘digestão’ de açúcares.( Journal of the American Medical Association, 26/09/07)

 AMAZÔNIA MAIS VERDE... NA SECA • Mais umdaqueles conitos entre dados experimentais emodelos. Dessa vez, tem a ver com a oresta ama-zônica, cuja folhagem perene cou mais verde naseca de 2005, diferentemente do que previam al-guns modelos. Os autores (entre eles, HumbertoRibeiro da Rocha, da Universidade de São Paulo)mediram, entre julho e setembro daquele ano, noperíodo de seca, o quão verde estava a copa dasárvores. Os resultados indicam que, pelos menosem curto prazo, a Amazônia pode ser mais ‘robusta’do que indicam as previsões feitas com base emmodelos que incluem clima e ciclo de carbono. Osautores, que pedem a incorporação desses resulta-dos aos modelos para a Amazônia, ressaltam, po-rém, que esses dados não devem ser usados comoargumento para justicar uma pretensa ‘robustez’da oresta aos constantes ataques (entenda-se,queimadas e desflorestamento) a que ela vem

sendo exposta. ( Science, 21/09/07)

Todas as sessões duravam 30 minutos, realizadas duas vezes por sema-na. Os que alegavam resultados parciais ganhavam sessões extras. Os au-tores estabeleceram um critério comum para avaliar a resposta às três tera-pias. Seis meses depois (e segundo esse critério), a taxa de resposta foi aseguinte: 47,6% na acupuntura verum; 44,2% na sham; 27,4% no métodoconvencional. Segundo os autores, “a acupuntura mostrou-se um tratamen-to efetivo e promissor para a dor crônica lombar, com poucos efeitos colate-

rais e baixo nível de contra-indicação”. Archives of Internal Medicine, 24/09/07