nadir nobrega - pos-defesa 1 - ufba · 2018-04-13 · my son my enemy, dancei no chaconne, dancei...
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ANEXO IV - Entrevistas.
Entrevista Clyde dia 26 de julho de 2005 – Horário 10. 27. Local – na sua residência Av. Centenário, apto. 101
Nadir - Suas aulas iniciais de balé. Local, como e quando?
Clyde - Eu comecei a estudar ballet com 18 anos de idade, no Karamu House, em
Cleveland, no estilo Royal Ballet, e o professor não me lembro mais o nome dele, mas
ele era do Royal ballet eera professor da sua própria escola em Cleveland e depois eu
estudei ballet em Nova Yorque com Robert Jofrey Escola de Ballet, estudei também no
Balet Oprhey de Nova Yorque com Alfredo Corvino e estudei no Ballet Russo de Monte
Carlo com Lia Angenilia e madame Swaboda, na universidade de Bennington minha
professora de ballet era Martha Withman. Quando fui para Universidade Madison
Wisconsin como professor eu estudava com Stephan Maurant um francês que era da
escola não lembro se era CHECETTI se foi uma das escolas francesas.
Nadir - Como e quem te leva para a companhia de José Limón? Quando você ingressa?
E se existiu alguém que te convidou?
Clyde - Eu tinha estudado com Jose Limon, em Cleveland, nossa cidade. Eu tinha
vontade de ficar de ser membro da companhia. E enquanto eu estava na pós-graduação
em Benington, eu fui convocado para uma audição no Giuliard School Music onde ele
ensinava. Ele estava preparando uma tournée, e ele necessitava de uns quatro homens,
três ou quatro homens. E a nossa escola em Bennington era uma escola irmã, onde
antigamente foram realizados todos os grandes festivais de dança, The American
Dance Festival. O primeiro foi em Bennington, o segundo foi em Connecticut College e
agora está sendo realizado em Duke University em North Carolina, então em
Bennington meu nome foi citado como possível componente da companhia de José
Limón, eu fui pra o estúdio de Giuliard, fazer a audição e ele gostava muito do meu
trabalho e foi nessa época que eu ingressei na companhia dele.
Nadir -Você tem a relação dos espetáculos que dançou?
Clyde -Tenho
Nadir -E nomes de possíveis escolas que você. Tenha dançado.
Clyde - Na companhia de José Limon eu dançava no coro do Missa Brevis, dancei no
My son my enemy, dancei no Chaconne, dancei no A choreografic offering, no The
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winged, dancei no Un sung, no papel principal de Othelo, no Mdor’s Pavane, dancei no
Lisistrata e em. Psalm.
Fiz excursão com a companhia por vários estados, em Wisconsin, Chicago, Los
Angeles.
Baba Tunde Olantunji, foi o primeiro grupo de dança profissional que eu trabalhava.
Minha experiência de dança africana começou no Karamu House, meu professor
naquela época era William Wingfield e de lá eu fui para Nova Yorque para estudar com
Baba Tunde Olotunji, e na companhia dele eu dancei E, além disso, meu trabalho de
dança incluiu dança com Daniel Nagrin, Anna Sokolow, entre outros e também foi
nessa época que formei minha companhia com a Carla Maxwell. Foi com ela que
excursionei na África, a primeira vez foi em 68/69 e nós excursionamos saindo de Nova
Yorque fomos primeiro para o Senegal, onde conhecemos a National Dance Company,
na Libéria onde nós habitávamos o Cuttington College, fizemos uma temporada na
University of Libéria em Monrovia, a convite de um grupo religioso dos Estados
Unidos estava fazendo parceria com esta escola. Libéria, depois Ghana, Universidade
de Gana Legon, onde nós fizemos uma longa temporada trabalhando com o Grupo
Nacional de Ghana, no National Dance Theater of Ghana, fizemos apresentações em
conjunto e eu dava aula pra eles também.
Nadir -Aulas de quê?
Clyde - Aulas de dança moderna. Com a minha parceira Carla Maxwell, nós tivemos
um repertório de danças, clássicas e modernas que foram contribuídas por José Limon,
Anna Sokolow e Daniel Nagrin. José Limon deu a gente várias danças para solos e
duos, chamadas “There is a time”, “The Exiles” e “Lyric Suíte” dois solos e um duo de
Anna Sokolow, Daniel Nagrin deu um solo para ele chamado Whith my eye and with my
hand. Criamos a coreografia “Olé”. E com esse repertório nós fizemos um intercâmbio
com várias entidades africanas, várias universidades e vários grupos profissionais. Nós
fizemos apresentações e dávamos aulas para eles e eles mostravam as suas danças e
davam aulas para nós. Muitos foram filmados e formou a base do meu trabalho aqui no
Brasil de ensino. Então depois de Ghana fomos para Togo, depois Dahomey -
atualmente chamada Benin, conseguimos o apoio do governo dos Estados Unidos em
vários paises para poder dançar nos auditórios e nas bibliotecas com convidados, com
a comunidade cultural, com a comunidade política social e artística do país, quer dizer
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a embaixada ofereceu seus teatros como o ICBA e o ACBEU, quer dizer eles
ofereceram uma lista de convidados, nós dançávamos. Em Dahomey dançamos no
American Consulate Theater com o Dahomey National Group. Em seguida essas
pessoas levaram nós, fomos levados para o interior dessas regiões para aprender as
danças rurais africanas, fora dos centros urbanos. Nós chegamos na Nigéria e a
Nigéria estava em pé de guerra, estava travada uma guerra de Biafra. Então nosso
movimento na Nigéria foi muito restrito e de um tempo muito curto, e partimos para
África do Leste, para Kenya, foi o primeiro país da África do Leste onde nós fizemos a
temporada naquela região. Kenyia fizemos apresentações no Kenya Polytechnic
Institute, no Jomo Kenyata College, no National Theater of Kenya. Assistimos vários
trabalhos do povo do Kenya, depois do Kenya nós fomos para Uganda, para Makerere
University, Makerere era Universidade principal, dançávamos lá no teatro no
Makerere e também no teatro nacional de Uganda, no centro da cidade - Kampala,
gravamos danças e fomos apresentar danças de um grupo principal “The Heart Beats
of Africa” era um grupo autentico mais também como se fosse porta voz do governo,
quando chegavam dignatários de vários paises eles iam para o aeroporto para dançar,
para recebe-los Então foi um grupo desse tipo - “Heart Beats of Africa de Uganda.
Depois de Uganda fomos para Tanzânia. Eu dava aula na Universidade Tanzânia,
aliás, na Universidade de Dar Es Shalam Theater, na cidade principal. E tivemos o
grande prazer de ser levados para o distrito chamado Iringa, e assistimos duma grande
formatura de alunos dessa região, no Kitwiru School. Tanzânia era um país
comunista/socialista. Educação e Cultura tradicional andavam com mãos dadas, o
processo de construir uma nova nação foi muito forte. Nesse distrito, Iringa, passamos
o dia inteiro, ouvindo os contadores de estória, assistindo danças da escola primária,
procissões, danças também dos velhos e as danças das mulheres eventos distintos e
diferentes mais todos com sua vez de participação neste evento. Depois da temporada
em Tanzânia nós fomos para a Etiópia. Fomos para a Universidade Haille Selassie em
Addis Ababa, ficamos um bom tempo dando aulas em Addis Ababa, na Universidade
Haille Selassie e assistimos o trabalho de um grupo “a orquestra Etiópia”. A orquestra
Etiópia estava sendo preparada para uma tournée Internacional e um membro do
corpo da paz o nome eu não me lembro mais, a responsabilidade dele era de fazer para
que a companhia fosse pronta para fazer excursões no exterior. Foi a primeira vez que
eles fizeram e ele deu um aprimoramento dos trabalhos para ser mais bem visto no
teatro e uma vez que eles chegaram em Nova Yorque, foi mais ou menos 6 meses
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depois, eu assisti o grupo, foi muito bonito, muito bem recebido, a orquestra Etiópia foi
composta de instrumentista, dançarinos e contadores de estória. Depois desse evento
na África nós retornamos a Nova Yorque e conseguimos o patrocínio da Fundação
Cultural de Nova Yorque para apresentar todos os nossos trabalhos de filmes e fazer
palestras sobre essas experiências de excursão e intercâmbio no continente africano. E
foi no ano seguinte que eu com todo esse material cinematográfico que eu trouxe para o
Brasil foi o fundamento que eu utilizava quando dava aulas de dança africana na
UFBA. Eu fiz tanto na escola de dança quanto no CEAO. O CEAO foi o lugar onde a
parte didática foi explorada mais. Na Escola de Dança foi a parte prática mais
explorada. Muitos, o conteúdo dos filmes, eu só consegui estudar aqui no Brasil,
porque no momento de eu fazer estava mais preocupado com a parte técnica da
filmagem e não de estudar as danças, foi realmente de trabalhar como documentarista
e aqui na Bahia eu consegui sentar, olhar bem, repetir as seqüências e trabalhar com o
grupo de dança contemporânea. Isso foi pra mim foi à parte mais legítima de minha
transferência de informação das danças africanas, à parte que eu tinha estudado e
aprendi com Baba Tunde Olantunji eu aprendi na África de primeira mão.
Nadir – O movimento negro norte americano, ele, influencia muito os movimentos
negros na Bahia, principalmente o Ilê Aiyê. Ele tem uma importância muito
grande.Gostaria de saber a sua opinião desse movimento negro americano e se você fez
parte de algum grupo político.
Clyde – Um grupo político, assim político não. A minha participação no mundo
artístico sendo negro e sendo uma pessoa de alta visibilidade e de uma educação, como
se diz? Uma educação que me levou a vários encontros acadêmicos e artísticos é em si
não deixa de ser uma participação política, a própria presença, mas minha... Meu foco
principal sempre foi a dança e coreografia, envolvencia com os grupos profissionais, a
maioria dos casos. Eu acho que o grupo de Baba Tunde Olantunji era composto
exclusivamente de africanos e norte americanos. A minha participação de quase em
todos os outros grupos eu era a minoria, às vezes o único negro do grupo, então tendo
essas oportunidades e tendo a possibilidade de mostrar o meu talento e colaboração
com os outros artistas em si é uma espécie de depoimento político, social e artístico que
eu posso dizer que eu fiz parte. Mais de grupos políticos, não. De movimentos políticos,
não.
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A influência do negro no espaço cultural dos brasileiros vem a partir de várias coisas,
a música popular que é muito forte, a nossa música religiosa “Spiritual”, nossa
presença no cinema americano, na televisão americana. O fato é que o americano
negro participou de tantos eventos bélicos no mundo inteiro. Levou o afro americano
de ser internacional, de ser conhecido mundialmente. O negro participou em quase
todas as guerras desde o princípio desde os tempos da fundação dos Estados Unidos, o
negro tinha participação, desde o momento que eles fizeram a primeira revolução
contra a Inglaterra e até a nossa atual guerra do Iraque. Todas as guerras de Coréia,
Vietnã, primeira e segunda guerra mundial o negro fez parte e tinha uma postura e
conhecimento internacional muito forte a bela parte da história é que o negro ganhou
visibilidade e conhecimento de eventos políticos de saber que a voz americana negra
tinha repercussão no mundo inteiro. Agora os brasileiros, receberam o impacto de
nossa luta pela mídia, os eventos de protestos nas ruas, a dinâmica da música black, o
movimento do black power, e black is beautiful, tudo isso tinha repercussão não só na
Bahia mais também no Rio de Janeiro e outras partes até no norte, Maranhão, Minas
Gerais com certeza e São Paulo, como resultado de migrações de negros do norte indo
para o sul. Quando eu cheguei no Brasil eu senti também uma certa resistência, no Rio
de Janeiro principalmente, pessoas com medo que eu vinha trazendo uma política e
uma dinâmica da para inflamar, para incentivar algo, mais minha postura era
simplesmente postura de um artista bem sucedido e era o exemplo daquilo que é
possível dado as condições de educação e treinamento de ser um sucesso no campo,
mais de partir para discurso político, inflamado não era bem minha praia, não era
minha postura. Eu nunca fiz isso. Eu não vim ao Brasil pra fazer a cabeça de ninguém,
eu vim ao Brasil, para eu refazer a minha própria cabeça. E dar o exemplo de sucesso.
Eu acompanhei o trabalho de Ilê Aiyê porque eu estive aqui desde o princípio, eu
presenciei a reconstrução dos Filhos de Gandhi, eu vi de perto a criação do grupo
Olodum. Então isso faz parte da minha consciência. Mais o meu trabalho tem sido
sempre trabalho de dançarino e coreógrafo. Não sou antropólogo, não sou grande
historiador de dança, realmente isso não me interessa, Eu vejo danças e as danças dos
outros como fonte de inspiração. Eu sou artista contemporâneo no momento com a
minha ancestralidade me apoiando.
Nadir – Qual a sua relação com os movimentos sociais na Bahia. Sua relação com o Ilê
no momento?