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ANO XXIX - N.7/8 - 2011 R$ 15,00 - 5 “Coragem, sou eu. Não tenhais medo” BENTO XVI, ANGELUS, DOMINGO, 7 DE AGOSTO GEORGES COTTIER. Os Padres do primeiro milênio, o Concílio Vaticano II e a luz refletida da Igreja www.30giorni.it MENSILE SPED. IN ABB. POST. Tar. Economy Taxe Percue Tassa Riscossa Roma. ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L. ISSN 1827-627X In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. If undelivered please return to sender, postage prepaid, via Romanina post office, Roma, Italy. En cas de non distribution, renvoyer pour restitution à lʼexpéditeur, en port dû, à: Ufficio Poste Roma Romanina, Italie In caso di mancato recapito rinviare a Uff. Poste Roma Romanina per la restituzione al mittente previo addebito. If undelivered please return to sender, postage prepaid, via Romanina post office, Roma, Italy. En cas de non distribution, renvoyer pour restitution à lʼexpéditeur, en port dû, à: Ufficio Poste Roma Romanina, Italie www.30giorni.it MENSILE SPED. IN ABB. POST. Tar. Economy Taxe Percue Tassa Riscossa Roma. ED. TRENTA GIORNI SOC. COOP. A R. L. ISSN 1827-627X nella Chiesa e nel mondo nella Chiesa e nel mondo Diretor: Giulio Andreotti na Igreja e no mundo Diretor: Giulio Andreotti na Igreja e no mundo

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“Coragem, sou eu. Não tenhais medo”

BENTO XVI, ANGELUS, DOMINGO, 7 DE AGOSTO

GEORGES COTTIER.Os Padres do primeiro milênio, o Concílio Vaticano II e a luz refletida da Igreja

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Diretor: Giulio Andreottina Igreja e no mundo Diretor: Giulio Andreottina Igreja e no mundo

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Na capa: Jesus salva Pedro das águas,mosaico da Catedral de Monreale, Palermo

EDITORIAL

A Democracia Cristã e o fascínio do nome cristão

— por Giulio Andreotti 4

CAPA

ANGELUS

“Unicamente com as tuas forças, não consegues

levantar-te. Segura na mão d'Aquele que desce até ti”

Bento XVI, Palácio Apostólico de Castel Gandolfo,

Domingo, 7 de agosto de 2011 42

NESTE NÚMERO

ECCLESIAM SUAM

A percepção da Igreja como “luz refletida”

que une os Padres do primeiro milênio

e o Concílio Vaticano II

— pelo cardeal Georges Cottier, O.P. 36

IGREJA

São Carlos Borromeu.

A casa construída sobre a rocha

— pelo cardeal Dionigi Tettamanzi 52

AUGUSTO DEL NOCE

A modernidade não é o “inimigo”

Entrevista com Massimo Borghesi — por G. Valente 60

ARTE

Rembrandt comovido pelo rosto de Jesus

— por G. Frangi 64

SEÇÕES

CARTAS DOS MOSTEIROS 6

LEITURA ESPIRITUAL 10

CARTAS DAS MISSÕES 30

CORREIO DO DIRETOR 35

30DIAS NA IGREJA E NO MUNDO 42

330DIAS Nº 7/8 - 2011

São Carlos BorromeuO olhar dirigido a São Carlos. O discurso do arcebispo emérito de Milão no Meeting de Rímini

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS:

Enzo LoVerso: Capa, pp.43,44-45; Giorgio Deganello Editore: pp.6-7,8,10-11,18,19,20-21,22, 23,24,25,26,27,28,29,32,33; Foto Scala, Florença: p.9; Archivi Alinari, Florença: pp.14,17; Getty Images/De Agostini/G.Dagli Orti: p.36; Romano Siciliani: pp.46,49; Associated Press/LaPresse: pp.49,50,51; LaPresse: p.51; Assessoria de imprensa do Meeting Rimini: p.52.

N. 7 /8 ano 2011an

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XIX Sumário

REDAÇÃOVia Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma Tel.+39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95Internet: www.30giorni.it E- mail: [email protected]

Vice-Diretores Roberto Rotondo - [email protected] Cubeddu - [email protected]

RedaçãoAlessandra Francioni - [email protected] Malacaria - [email protected] Mattei - [email protected] Quattrucci [email protected] Valente - [email protected]

GráficaMarco Pigliapoco - [email protected] Scicolone - [email protected] Viola - [email protected]

ImagensPaolo Galosi - [email protected]

ColaboradoresPierluca Azzaro, Françoise-Marie Babinet,Marie-Ange Beaugrand, Maurizio Benzi, Lorenzo Bianchi, Massimo Borghesi, Lucio Brunelli, Rodolfo Caporale,Pina Baglioni, Lorenzo Cappelletti, Gianni Cardinale, Stefania Falasca, Giuseppe Frangi, Silvia Kritzenberger, Walter Montini, Jane Nogara, Stefano M. Paci, Felix Palacios, Tommaso Ricci, Giovanni Ricciardi

Colaboraram neste númeroCardeal Georges Cottier, Cardeal Dionigi Tettamanzi

Escritório LegalDavide Ramazzotti - [email protected]

Secretaria de redaçã[email protected]

3OGIORNI nella Chiesa e nel mondoé uma publicação mensal registrada junto ao Tribunal de Roma na data 11/11/1993n. 501. A publicação beneficia-se de subsídios públicos diretos de acordo com a lei de 7 de agosto de 1990, n. 250

SOCIEDADE EDITORA Trenta Giorni soc. coop. a r. l. Sede legale: Via Vincenzo Manzini, 45 00173 Roma

Conselho de AdministraçãoGiampaolo Frezza (presidente),Massimo Quattrucci (vice-presidente), Giovanni Cubeddu, Paolo Mattei,Roberto Rotondo, Michele Sancioni, Gianni Valente

Diretor responsávelRoberto Rotondo

TipografiaArti Grafiche La ModernaVia di Tor Cervara, 171 - Roma

ESCRITÓRIO PARA ASSINATURA E DIFUSÃOVia Vincenzo Manzini, 45 - 00173 RomaTel. +39 06 72.64.041 Fax +39 06 72.63.33.95E-mail: [email protected] segunda a sexta-feira das 9h às 18he-mail: [email protected]

Este número foi concluído na redação dia 4 de setembro de 2011

Impressão concluída no mês de outubro de 2011

3OGIORNInella Chiesa e nel mondo

Diretor Giulio Andreotti

p. 52

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4 30DIAS Nº 7/8 - 2011

A Democracia Cristã representou pa-ra mim – mas acredito que também

para muitos outros que ali militaram – o convite cons-tante a considerar não ocasional o que acontece diaapós dia, como se fossem muitos fatos desconectadosentre si; mas, ao contrário, a considerar tudo comocorrelacionado, como através de uma teia de aranhaque permite colher o sentido profundo das coisas queacontecem e que passam.

Neste livro, uma sintética releitura de alguns mo-mentos importantes da história democrata-cristã escri-ta por Giovanni Di Capua e Paolo Messa, encontrei ci-tado também o meu primeiro encontro com De Gaspe-ri. Várias vezes tive a oportunidade de contá-lo: eu nun-ca tinha visto De Gasperi e não sabia quem era ele. Eunão provinha de uma família que se dedicava à política.Ao invés, fui notado por De Gasperi, por ser presidenteda Federação dos Católicos Universitários. Um dia euestava na Biblioteca Vaticana revirando os documentosda Marinha Pontifícia para escrever um ensaio, quandoum desconhecido dirigiu-se a mim perguntando se eunão tinha nada melhor para fazer, para depois retirar-secom uma certa frieza. Eu não sabia que aquele senhor

era De Gasperi, mas o teriaconhecido melhor algunsdias depois, quando Giusep-pe Spataro disse-me: “Ve-nha, que De Gasperi quer

encontrar você”. Eu seria exagerado se dissesse que en-tão já imaginava o que aconteceria depois daquele en-contro, mas para nós jovens, ao nosso redor, tudo eranovo e havia um fascínio difícil de explicar na motiva-ção, mas que estava bem presente no nosso espírito.

Os primeiros anos do pós-guerra foram intensos, eé limitante dizer que o único objetivo e o elementoagregador da Democracia Cristã era colocar um freioao perigo comunista. Mesmo havendo essa preocupa-ção de defesa contra o comunismo, o estímulo era decaráter positivo: era o fascínio que o nome cristãoconseguia causar em tudo o que podia ser o desenro-lar-se do dia a dia da vida de cada um de nós.

Uma lição que emerge da história da DemocraciaCristã, e que pode valer ainda hoje, é que sem um pon-to de referência que esteja além do ocasional, o contin-gente, é quase impossível criar um novo sujeito políti-co. O itinerário para a criação de um novo movimentopolítico não pode ser inicialmente organizativo, tantoque os pais fundadores democratas-cristãos partiram

por Giulio Andreotti

A Democracia Cristã e o fascínio do nome cristão

Editorial

Mesmo havendo essapreocupação de defesa contra o comunismo, o estímulo era de caráterpositivo: era o fascínio que o nome cristão conseguiacausar em tudo o que podiaser o desenrolar-se do dia a dia da vida de cada um de nós

O editorial deste número é o prefácio do nosso diretorao livro de Giovanni Di Capuae Paolo Messa, DC. Il partitoche fece l'Italia, [DemocraciaCristã. O partido que fez a Itália] ed. Marsilio, Veneza,2011, 292 pp.

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de ideias, do Código de Ca-maldoli. Se falta a base mo-ral, diria também espiritual,é difícil depois ser capaz deatrair as pessoas e em parti-cular os jovens.

Nos tempos da Demo-cracia Cristã, t ivemosmuitas crises, mas hoje hámenos impulso de caráter teórico e cultu-ral, e maior motivação material. Saber olhar para o al-to era um costume que talvez ao longo do caminho te-nhamos perdido.

No livro de Di Capua e Messa aparece também oproblema das correntes internas da Democracia Cris-tã. Estas também podiam ser um estímulo espiritual ecultural (algumas reformas importantes como a agrá-ria e a lei para favorecer o Sul da Itália devem-se a es-tas correntes), mas dolorosamente podiam ser motivode dramáticas divisões, colocando uns contra os ou-tros. De Gasperi não as queria porque, ao invés de ati-var uma competição positiva, podiam ativar uma con-corrência deletéria, em um espírito “comercial” que éa última coisa que serve neste âmbito.

Apesar da longa militância nunca me senti um es-tranho na Democracia Cristã; era atraído sentimental-mente, além de racionalmente, e jamais pensei que omeu caminho pudesse ser um outro. Havia sempreum estímulo para ir adiante sem se tornar frágil porolhar demais para trás. Ainda hoje acredito que aorientação que deve prevalecer seja a de olhar sempreadiante, ou melhor, sempre alto. Este “olhar alto” per-mite-me fazer uma nota sobre um aspecto que é trata-do no livro: a chave para entender a relação que hou-ve entre a Democracia Cristã e a Igreja está nas pes-soas. É preciso considerar a grandeza de alguns ecle-siásticos com os quais crescemos e caminhamos poralgum tempo. Dos hábitos que tinham, Montini eraum exemplo disso, de saber olhar os problemas nãoapenas no seu âmbito material, contingente. Sabiamolhar acima de nós e justamente por isso estavam umpasso adiante, sabiam olhar alto.

Concluo: repercorrer a história da DemocraciaCristã é muito oportuno, para meditar e não correr orisco de dar hoje como essencial aquilo que é absoluta-mente marginal e vice-versa. Os tempos que passamtrazem sempre novidades, porém jamais se deve con-siderar que se está no início da criação. Há momentosem que meditar serve para não esquecer aquilo quenos trouxe até aqui. q

À esquerda, Andreotti com monsenhor GiovanniBattista Montini na igreja de Santa Maria dos Anjos,Roma, a 5 de outubro de 1947

É preciso considerar a grandeza de algunseclesiásticos com os quaiscrescemos e caminhamos por algum tempo. Dos hábitos que tinham,Montini era um exemplodisso, de saber olhar os problemas não apenas no seu âmbito material,contingente. Sabiam olharacima de nós e justamente por isso estavam um passoadiante, sabiam olhar alto

530DIAS Nº 7/8 - 2011

Abaixo, Alcide De Gasperi com Giulio Andreotti

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BENEDITINAS DA ADORAÇÃO PERPÉTUA

DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Piedimonte Matese, Caserta

Consideramos 30Giornialtamente formadora

Piedimonte Matese, 5 de julho de 2011

Prezado senador,escrevemos mais uma vez ao senhorpara comunicar-lhe nossos mais fer-vorosos agradecimentos pelo envioda revista 30Giorni, que considera-mos altamente formadora do pontode vista cultural e espiritual.

Temos particular apreço pelos artigos relativos àpatrística, ao magistério e à palavra do Santo Padre.

Nós lhe agradecemos pela generosidade com quetrata tantos mosteiros do mundo todo, aos quais per-mite uma atualização contínua não limitada às ques-tões do momento, garantindo, como dizíamos, a “for-mação permanente” que deveria caracterizar a vida decada um de nós, consagrados.

Que o Senhor torne fecunda a obra de apostolado reali-zada por intermédio da revista e seu serviço à verdade, tãodifícil nestes tempos de confusão e de triunfo da mentira.

Unimos à nossa manifestação de gratidão a pro-messa de oração comunitária por suas intenções e pe-las de seus colaboradores.

Com estima,

a prioresa madre Saveria Marra e comunidade

BENEDITINAS DO MOSTEIRO SÃO

JOÃO BATISTA

Roma

Obrigadas pelo CD com os cantos gregorianos

Roma, 5 de julho de 2011

Estimado senador Giulio Andreotti,parece que receber a correspon-dência na Itália está-se tornando umluxo!Acolhemos com gratidão em nossacomunidade a sua revista, formativae informativa.As outras irmãs do mosteiro, sobretu-

do as mais jovens, a esperam e, quando demora, porcausa dos extravios postais, perguntam: “E a 30Gior-ni? Não vai chegar?”. Depois lá aparece ela numa pi-lha de jornais e revistas de uma semana inteira!

O número 4/5 trazia um CD com cantos gregoria-nos. Obrigada!

O gregoriano realmente desafia o tempo. É consi-derado a oração da Igreja por excelência, como o livrodos Salmos. Quando cantamos, essas melodias sacrasfazem pensar no perfume do incenso que sobe até

6 30DIAS Nº 7/8 - 2011

A redação de 30Giorni convida a todos, em par-ticular as pessoas consagradas dos mosteirosde clausura, a rezarem por padre Giacomo Tan-tardini. Há alguns meses ele vem-se tratando deum câncer de pulmão. Que o Senhor concedapedir com confiança o milagre da cura. Aos sa-cerdotes que apreciam e querem bem a 30Gior-ni pedimos para que celebrem a santa missa se-gundo esta intenção. Aos pais pedimos a carida-de de fazerem os seus filhos rezarem.

Convite à oração

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

Anunciação: esta imagem e todas as que ilustram as páginasdas Cartas e da Leitura espiritual foram extraídas do ciclo de afrescos do século XIV do Batistério de Pádua

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Deus: “Dirigatur, Domine, oratio mea, sicut incensumin conspectu tuo”.

Na oração litúrgica, procuramos mantê-lo “in au-ge”, apesar de nos termos tornado um pequeno reba-nho, mas orante e fiel por graça de Deus.

Expressamos novamente a nossa gratidão. Deuslhes tome como mérito o que conseguem realizar paraglória e honra de toda a Igreja.

Em comunhão de oração e de fé,

madre Ildefonsa Paluzzi, O.S.B.,e irmãs da comunidade

BENEDITINAS DA ABADIA NOTRE DAME DE FIDÉLITÉ

Jouques, França

Les chants de la Traditionpara os nossos amigos no Benin

Jouques, 18 de julho de 2011

Prezado senhor,somos cinquenta e sete monjas beneditinas francesase recebemos com grande interesse a sua revista tãoapaixonante. 30Giorni nos põe no coração da Igrejae nos dá as notícias que normalmente não temos pos-sibilidade de receber. Graças ao senhor descobrimos,no último número, a rica personalidade do novo pre-feito da Congregação para os Religiosos.

Recebemos também de presente o livrinho e oCD Les chants de la Tradition e lhe agradecemosde coração.

Para nós, que ainda temos em nossa abadia o can-to gregoriano, isso foi um grande prazer.

Logo pensamos no mosteiro que fundamos naÁfrica, no Benin, onde temos muitos sacerdotes ami-gos da nossa comunidade que procuram cantar oscantos gregorianos. O senhor poderia, na sua bonda-de, presentear-nos com vinte desses CDs e livrinhos,para que os possamos dar a eles?

Estou certa de sua resposta generosa, e a nossamadre abadessa deu-me o encargo de lhe assegurarde nossa intensa oração por todas as suas intenções eem particular pelo sucesso da elevada missão em fa-vor da Igreja realizada por intermédio de sua revista.

irmã Monique, O.S.B.

AGOSTINIANOS DO PRIORADO SAINT THOMAS DE VILLANOVA

Pietà, Malta

Obrigado por Who prays is savede pelo CD de cantos gregorianos

Pietà, 21 de julho de 2011

Prezado senador Andreotti,desejo agradecer-lhe pela revista 30Giorni que foi en-viada a nós, padres agostinianos do Saint Thomas ofVillanova Priory. Obrigado também pelo livro Who

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Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

Natividade

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prays is saved e por seu último presente, sobre o can-to gregoriano. Foi uma ótima ideia propor outra vez ocanto gregoriano, visto que em muitos lugares desapa-receu completamente. Em Malta usamos ainda a Mis-sa de Angelis e outros cantos marianos – em particu-lar durante o nosso retiro anual e nas quartas-feiras,quando, depois das completas, cantamos os cantosmarianos para cada tempo do ano –, além do Venicreator e de muitos outros que vocês foram tão gentisem registrar em seu CD.

Gostaria de perguntar-lhe se vocês pretendem pu-blicar o livro Chi prega si salva em maltês. Nós nos vi-ramos mesmo em outras línguas, mas, se quiserem,estou disposto a traduzi-lo sem custos. Traduzi o livroAugustine day by day [Agostinho dia após dia], dopadre John Rotelle, O.S.A. (já falecido), e é possívellê-lo na rede no site dos agostinianos malteses.

À espera de sua resposta, agradeço-lhe por seuprecioso trabalho. Deus o abençoe.

Gostaria além disso de lhe pedir, se possível, queenvie um exemplar de 30Giorni à Sociedade da Dou-trina Cristã, fundada por São Jorge Preca. É uma as-sociação católica que prepara as crianças para a pri-meira comunhão e para a crisma. Creio que seria umagrande ajuda para eles.

Obrigado. Seu, em Cristo,

padre Paul Aquilina, O.S.A., prior

IRMÃS CONCEPCIONISTAS DO MOSTEIRO DA IMACULADA

CONCEIÇÃO DE MARIA

Piracicaba, São Paulo, Brasil

Agradecemos também o CD com os cantos litúrgicos

Piracicaba, 22 de julho de 2011

Prezado senhor AndreottiSomos Irmãs Concepcionistas da Or-dem da Imaculada Conceição. Agra-decemos profundamente pela gentile-za de enviar-nos esta preciosa revista eo belo CD com os cantos litúrgicos!

Que Deus abençoe o seu trabalhopara a santa Igreja escrevendo artigosmaravilhosos da santa Igreja e domundo!

O mundo de hoje precisa de boas leituras para co-nhecer o amor de Deus e todo o trabalho da santaIgreja. Rezamos muito por sua intenção e agradece-mos muito a sua bondade e gentileza. Que Deus o re-compense com muitas graças e bênçãos para o seutrabalho e família.

Com amizade e gratidão, pela comunidade

madre Maria Celina, O.I.C.

DOMINICANAS DO MOSTEIRO QUEEN OF ANGELS

Bocaue, Filipinas

Who prays is savedpara compartilhar com os nossos amigos

Bocaue, 22 de julho de 2011

Prezado diretor,somos as irmãs dominicanas doQueen of Angels Monastery [mos -teiro Rainha dos Anjos], nas Filipi-nas, e somos muito gratas porsua sábia generosidade ao nosenviar a revista 30Days. Toda

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Adoração dos Reis Magos

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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930DIAS Nº 7/8 - 2011

vez que a recebemos, seus artigos são lidos no refeitó-rio. Agradecemos muitíssimo.

Estamos também interessadas em receber algunsexemplares do seu livrinho Who prays is saved, paradar a cada uma de nossas irmãs e compartilhar tam-bém com outras pessoas. Seria certamente uma formamuito instrutiva de dar a conhecer às pessoas o verda-deiro significado da oração e a sua importância nasnossas vidas.

Seria uma bênção se fosse possível doar ao me-nos cinquenta exemplares do livrinho ao nosso mos-teiro Queen of Angels, para nos permitir depoiscompartilhá-los com os nossos amigos, benfeitores efiéis que todos os dias vêm visitar a capela da adora-ção e, dessa forma, oferecer a eles um guia para quecompreendam o quanto as orações são importantesnão apenas para a vida deles, mas também para ados outros, e que dessa forma salvarão sua alma doinferno.

Que o amor pela oração se difunda cada vez mais.Amém!

Mais uma vez agradecemos pela assinatura da re-vista 30Days e antecipadamente pelos exemplares deWho prays is saved.

Lembrando de vocês e de sua missão em nossasorações,

as dominicanas de Bocaue

CLARISSAS DO MOSTEIRO IMMACULATE CONCEPTION

Palos Park, Illinois, EUA

Obrigada por 30Dayse por todos ospresentes que nos dão

Palos Park, 24 de julho de 2011

Prezado diretor Andreotti,parece ter chegado o mo-mento de lhe agradecermais uma vez pelo presenteque é o envio mensal de suarevista 30Days, rica emnotáveis artigos e ima-gens. Gostamos muito dotributo feito na última edi-ção ao beato papa JoãoPaulo II e também ao pa-pa Paulo VI, que pronunciou o Cre-do do povo de Deus. Rezamos para que sua causa, co-mo também a do papa Pio XII, chegue a bom termonum futuro próximo. E não nos esquecemos do amadopapa João Paulo I e dos artigos ricos em reflexões quevocês publicaram sobre ele.

Nós lhes agradecemos também pelos presentesque chegaram com a revista, como a meditaçãosobre a Santa Páscoa que recentemente rece-bemos e lemos juntas em comunidade durante anossa semana de retiro, e que achamos rica empontos de reflexão. E agora, com este número,a belíssima reedição do livrinho Iubilate Deocom os cantos do CD. Eles nos são muito carose continuamos a cantar muitos cantos gregoria-nos, os hinos, o ordinário da missa e os cantospróprios de algumas missas.

Gostamos, além disso, das muitas e belíssimasimagens de obras de arte, particularmente dosmosteiros, como por exemplo os encantadoresoratórios marianos apresentados na edição destemês. Recordaremos suas intenções à nossa madreSanta Clara na novena solene neste ano do oitavocentenário da fundação da ordem.

Com gratidão, em nossa mãe Santa Clara,

a abadessa madre Maria Teresita,P.C.C., e comunidadeApresentação no templo

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

segue na p. 26

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Leitura espiritual/43

Decretum de peccato originali, can. 4

Si quis parvulos recentes ab uteris matrumbaptizandos negat, etiam si fuerint a baptizatisparentibus orti, aut dicit, in remissionem qui-dem peccatorum eos baptizari, sed nihil exAdam trahere originalis peccati, quod regene -rationis lavacro necesse sit expiari ad vitamaeternam consequendam, unde fit conse-quens, ut in eis forma baptismatis “in remis-sionem peccatorum” non vera, sed falsa intel-legatur: anathema sit. Quoniam non aliter in-tellegendum est id, quod dicit Apostolus: «Perunum hominem peccatum intravit inmundum, et per peccatum mors, et ita inomnes homines mors pertransiit, in quoomnes peccaverunt» (Rm 5, 12), nisi quemad-modum Ecclesia catholica ubique diffusa sem-per intellexit. Propter hanc enim regulam fidei,ex traditione Apostolorum, etiam parvuli, quinihil peccatorum in semetipsis adhuc commit-tere potuerunt, ideo in remissionem peccato-rum veraciter baptizantur, ut in eis regenera-tione mundetur, quod generatione con-traxerunt. «Nisi enim quis renatus fuerit exaqua et Spiritu Sancto, non potest introire inregnum Dei» (Gv 3, 5) (Denzinger 1514).

«Confiteor unum baptisma in remissionem peccatorum»

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Decreto sobre o pecado original, cân. 4

Se alguém afirma que as crianças recém-saídasdo ventre da mãe não devem ser batizadas, em-bora nascidas de pais batizados, ou defendeque sejam batizadas para a remissão dos peca-dos, mas que não contraem de Adão qualquerelemento do pecado original que seja necessá-rio purificar com o lavacro da regeneração paraconseguir a vida eterna, do que deriva que a for-ma do batismo “para a remissão dos pecados”não deve ser tomada por verdadeira, mas porfalsa, seja excomungado. De fato, o que diz oApóstolo: “O pecado entrou no mundo por umsó homem e, por intermédio do pecado, a mor-te; e a morte passou para todos os homens, por-que todos pecaram” (Rm 5,12), não deve serentendido de modo diferente do modo como aIgreja Católica espalhada pelo mundo todosempre entendeu. É por essa norma de fé que,por tradição apostólica, também as crianças,que por si mesmas ainda não puderam cometernenhum pecado, são batizadas realmente paraa remissão dos pecados, para que nelas seja pu-rificado com a regeneração aquilo que contraí-ram com a geração. De fato, “se alguém nãonascer da água e do Espírito, não poderá entrarno Reino de Deus” (Jo 3,5).

“Confesso um só batismo para a remissão dos pecados”

Vista do interior do Batistério de Pádua, com a fonte batismal

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Como comentário ao cânon 4 do Decretum de peccato originali do Concí-lio de Trento (Denzinger 1514), em que, seguindo fielmente o Credo

Niceno-Constantinopolitano (“confesso um só batismo para a remissãodos pecados”), afirma-se que o batismo das crianças, as quais não puderamcometer nenhum pecado pessoal, também é para a remissão dos pecados,voltamos a publicar, para conforto da fé e como oração, os trechos do Credodo povo de Deus de Paulo VI em que ele reapresenta essa doutrina de fé.

Sempre nos surpreendeu observar como Santo Agostinho, quando lem-bra o momento em que o diabo é solto (cf. Ap 20,3.7) – é desencadeado, de-sencadeia-se –, indica como sinal da fidelidade do Senhor à Sua Igreja, e por-tanto como sinal de esperança, o fato de os pais cristãos batizarem suascrianças (cf. De civitate Dei XX, 8, 3).

Por isso, ainda como comentário do cânon 4 do Decretum de peccato origi-nali do Concílio de Trento, propomos a leitura de algumas notas extraídasda palestra de padre Giacomo Tantardini sobre esse trecho do De civitateDei de Agostinho. As notas da palestra, proferida na Universidade Livre São

Pio V, de Roma, em 5 de maiode 1999, circularam entre osestudantes numa apostila inti-tulada Convite à leitura de SantoAgostinho. Notas das palestras depadre Giacomo Tantardini naUniversidade Livre São Pio V, deRoma sobre “A cidade de Deus eos ordenamentos dos Estados”,Ano acadêmico 1998-1999 (pro-manuscripto), Associazione SanGabriele, Roma.

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O pecado original e a expulsão do Paraíso terrestre

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Paulo VI, Credo do povo de Deus

Cremos que todos pecaram em Adão; isto significa que a culpa original, co-metida por ele, fez com que a natureza, comum a todos os homens, caíssenum estado no qual padece as consequências dessa culpa. Tal estado já nãoé aquele em que no princípio se encontrava a natureza humana em nossosprimeiros pais, uma vez que se achavam constituídos em santidade e justi-ça, e o homem estava isento do mal e da morte. Portanto, é esta natureza as-sim decaída, despojada de dom da graça que antes a adornava, ferida emsuas próprias forças naturais e submetida ao domínio da morte, é esta que étransmitida a todos os homens. Exatamente neste sentido, todo homemnasce em pecado. Professamos pois, segundo o Concílio de Trento, que opecado original é transmitido juntamente com a natureza humana, “pelapropagação e não por imitação”, e se acha “em cada um como próprio” (cf.Denzinger 1513).

Cremos que Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Sacrifício da Cruz, nos re-miu do pecado original e de todos os pecados pessoais, cometidos por cadaum de nós; de sorte que se impõe como verdadeira a sentença do Apóstolo:“Onde abundou o delito, superabundou a graça” (cf. Rm 5,20).

Cremos professando num só Batismo, instituído por Nosso Senhor JesusCristo para a remissão dos pecados. O Batismo deve ser administrado tam-bém às crianças que não tenham podido cometer por si mesmas pecado al-gum; de modo que, tendo nascido com a privação da graça sobrenatural, re-nasçam “da água e do Espírito Santo” para a vida divina em Jesus Cristo (cf.Denzinger 1514).

Pecado original e batismo das crianças

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O s quatro últimos livros do De civitate Deidescrevem o fim, o termo das duas cida-

des. O terceiro trecho que leremos hoje é extraí-do do vigésimo livro do De civitate Dei: é uma daspassagens mais belas. No capítulo 8 do vigésimolivro1, Agostinho comenta alguns versículos doApocalipse. De modo particular, começa a co-mentar aquele versículo (Ap 20,3) em que lemosque “‘Post haec oportet eum solvi brevi tempore’ /‘Depois dessas coisas, é necessário que ele [odiabo] seja solto, por breve tempo’”. João falados mil anos em que o diabo estivera amarrado;do breve tempo em que o diabo estará solto; dosmil anos em que os santos reinarão sobre a terra.Agostinho faz dessas imagens do discípulo pre-dileto a leitura que a Igreja assumiu como pró-

pria e sempre propôs. É interessante notar quehá toda uma tradição cultural, que parte de Joa-quim de Fiore, contrária à leitura de Agostinho.Há um livro muito interessante de Ratzinger so-bre esse tema2. Agostinho diz que entre a ascen-são do Senhor e Seu retorno glorioso, com a res-surreição dos mortos e o juízo final, existe só otempo da memória. Nesse “breve tempo”3, entrea ascensão do Senhor e o Seu retorno glorioso,nada acontece de diferente4. A memória, de fato,é o acontecimento sempre novo, como novo iní-cio, daquele único e mesmo acontecimento defi-nitivo. Portanto, tanto os mil anos em que o dia-bo está amarrado quanto o breve tempo em queestá solto e os mil anos em que os santos reinampertencem todos a esse tempo da Igreja antes do

“Mesmo quando o diabo for solto,haverá pais tão fortes

que farão batizar suas crianças” (De civitate Dei XX, 8, 3)

1 Cf. De civitate Dei XX, 8, 1-3.2 Cf. Ratzinger, J. San Bonaventura e la teologia della storia. Firenze: Nardini Editore, 1991.3 Agostinho. In Evangelium Ioannis CI, 1.6.4 Concílio Ecumênico Vaticano II, constituição dogmática sobre a divina revelação Dei Verbum, n. 4: “Oeconomia ergo chris-

tiana, utpote foedus novum et definitivum, numquam praeteribit, et nulla iam nova revelatio publica expectanda est ante gloriosam

manifestationem Domini nostri Iesu Christi / A economia cristã, pois, como aliança nova e definitiva, jamais passará e já não há que

esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 1Tm 6,14 e Tt 2,13)”.

Notas da palestra proferida por padre Giacomo Tantardini na Universidade Livre São Pio V, de Roma, em 5 de maio de 1999

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juízo final, são expressões que descrevem condi-ções desse tempo da Igreja. Santo Agostinho su-pera de maneira definitiva o milenarismo. Os milanos em que os santos reinarão sobre a terra nãoserão um tempo diferente do tempo da Igreja.De fato, diz Agostinho numa de suas observa-ções mais belas, reinam já agora, existe esse reinojá agora5. Esse é o contexto em que devem ser in-seridas as palavras de Agostinho. E a interpreta-ção de Agostinho fica ainda mais realista se acei-

tarmos as sugestões que o professor EugenioCorsini nos dá para ler o Apocalipse6, o qual, se-gundo ele, se refere em primeiro lugar à morte e àressurreição do Senhor, àqueles três dias em quese cumpriu de uma vez para sempre “a revelaçãode Jesus Cristo” (Ap 1,1). O tempo da Igreja viveda memória desse acontecimento e da espera desua manifestação definitiva. Portanto, o Apoca-lipse é mais um livro de memória que de perspec-tivas futuras. ¬

5 Cf. De civitate Dei XX, 9, 1; vide adiante, pp. 21ss.6 Cf. de la Potterie, I. O apocalipse já aconteceu. 30Dias, n. 8, set. 1995, pp. 60-61.

A fera que quer devorar o menino que a mulher vestida de sol deu à luz

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Que significa, pergunta-se portanto Agosti-nho, que o diabo será solto por breve tempo?Quando for solto, poderá seduzir a Igreja?

“Absit; / Que isso nunca aconteça; / num-quam enim ab illo Ecclesia seducetur / de fato, ja-mais será por ele [o diabo] seduzida a Igreja,/ praedestinata et electa ante mundi constitutio-nem, / que foi predestinada e eleita antes dacriação do mundo, / de qua dictum est: “NovitDominus qui sunt eius”. / da qual foi dito: ‘O Se-nhor conhece quem são os seus’”.

Na Quaresma de 1995, sugeri imprimir umpequeno cartão com a Oração a São José, o Me-

morare, o Anjo do Senhor e uma das frases maisbelas que Giussani havia dito em janeiro-feverei-ro daquele mesmo ano: “Nós vivemos numa taldegradação universal, que não existe mais nadaque seja receptivo ao cristianismo, a não ser a sim-ples realidade criatural. Por isso, é o momento doinício do cristianismo, é o momento em que ocristianismo surge, é o momento da ressurreiçãodo cristianismo. E a ressurreição do cristianismotem um grande e único instrumento. Qual é ele?O milagre. É o tempo do milagre. É preciso dizerao povo que invoque os santos, porque os santosforam feitos para isso”. Pois, embora outros tam-

A mulher vestida de sol e o menino, detalhe

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bém realizem milagres7, os santos foram feitos pa-ra isso. Contaram-me que segunda-feira passada,durante o programa de tevê Porta a Porta, que ti-nha como tema a beatificação de Padre Pio, dian-te de alguns depoimentos que afirmavam que ossantos são canonizados por sua cultura, Andreot-ti, que estava presente no programa, disse comironia que, se isso fosse verdade, só Santo Tomásde Aquino seria santo. Os santos são o que sãograças aos milagres.

No mesmo cartão para a Quaresma de 1995,mandei escrever três frases. A primeira é extraídado Salmo 5: “Destruís o mentiroso. Ó Senhor, abo-minais o sanguinário, o perverso e enganador”. Asegunda vem do Apocalipse (Ap 13,11.16-17):“Eu vi ainda outra fera sair da terra. [...] Ela fazcom que todos, pequenos e grandes, ricos e po-bres, livres e escravos, recebam uma marca na mãodireita ou na fronte. E ninguém pode comprar ouvender [pode fazer carreira], se não tiver a marcaque é o nome da Fera, aliás, o número do seu no-me”. A terceira frase é extraída da Segunda Cartade Paulo a Timóteo (2Tm 2,19): “No entanto, o só-lido fundamento posto por Deus continua firme,marcado por estas sentenças: ‘O Senhor conheceos que são d’Ele’ e ‘Afaste-se da iniquidade todoaquele que invoca o Nome do Senhor’”. Essa ter-ceira frase é a que Agostinho diz valer sobretudono tempo em que o diabo está solto.

Continuemos a leitura de Agostinho: “Et ta-men hic erit etiam illo tempore, quo solvendus estdiabolus, / No entanto a Igreja existirá nestemundo também no tempo em que o diabo ti-ver sido solto, / sicut, ex quo est instituta, hic fuit eterit omni tempore, in suis utique qui succedunt nas-cendo morientibus / tal como, desde a sua fun-dação, existiu e existirá neste mundo em to-dos os tempos em seus membros, que semprese alternam, nascendo, com aqueles quemorrem”: a Igreja vive nos que são d’Ele. Nãoexiste Igreja abstratamente. Existe a Igreja quevive nos que são d’Ele, que vive de maneira per-feita n’Aquela que foi Sua mãe. Quando dizemosem todas as missas “não olheis para os nossos pe-cados, mas para a fé da vossa Igreja”, a primeirapessoa em que penso é Nossa Senhora. Pois defato quem viveu a fé da Sua Igreja, de maneira ex-celente, humilde e excelente, numa plenitude degraça que é insuperável, foi essa menina. Se nãotivesse existido ninguém que tivesse vivido as-sim, essa oração não seria tão real.

Depois Agostinho comenta outro trecho doApocalipse (20,9ss), em que João diz que todas asnações “cinxerunt castra sanctorum et dilectam civi-tatem, / cercaram em assédio o acampamentodos santos e a cidade que Deus ama, / et descen-dit ignis de caelo a Deo et comedit eos [...] / mas umfogo desceu do céu enviado por Deus e de-

7 Giussani, L. Cristo è tutto in tutti. Appunti dalle meditazioni di Luigi Giussani per gli Esercizi della Fraternità di Comunione e

liberazione, Rimini 1999. Suplemento de Litterae Communionis-Tracce, n. 7, jul.-ago. 1999, p. 54: “Vocês se lembram de quando

Jesus – como o descreve o segundo livro da Escola de Comunidade –, andando pelos campos com os seus apóstolos, viu perto de

uma cidadezinha que se chamava Naim uma mulher que chorava e soluçava atrás do féretro do filho morto? E Ele foi lá; não lhe

disse: ‘Vou ressuscitar o seu filho’. Mas: ‘Mulher, não chores’, com uma ternura, afirmando uma ternura e um amor ao ser huma-

no inconfundíveis! E, com efeito, depois, deu-lhe também o filho vivo. Mas não é isso, pois outros também podem fazer mila-

gres, mas esse, essa caridade, esse amor ao homem próprio de Cristo não tem nenhuma comparação com nada!”.

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vorou aqueles que [...]” estavam para conquis-tar a cidade amada... Agostinho, como eu men-cionava antes, quando comenta essa passagemafirma que a vitória definitiva “iam ad iudiciumnovissimum pertinet / pertence ao juízo final”.

Com relação ao breve tempo em que o diaboestá solto, Agostinho diz: “[...] ne quis existimet eoipso parvo tempore, quo solvetur diabolus, in hac ter-ra Ecclesiam non futuram, illo hic eam vel non inve-niente, cum fuerit solutus, vel absumente, cum fuerit

modis omnibus persecutus / [...] ninguém penseque nesse breve tempo em que o diabo estarásolto a Igreja não existirá sobre a terra, querporque o diabo não a encontrará quando forsolto, quer porque a aniquilará depois de tê-la perseguido de todas as formas”.

Mas, se o diabo é solto, isso significa que esteveamarrado. Que significa estar amarrado? “[...] sedalligatio diaboli est non permitti exserere totamtemptationem quam potest / [...] o fato de o diaboestar amarrado significa que não lhe é permi-tido exercer toda a tentação da qual é capaz,/ vel vi vel dolo ad seducendos homines / pela forçaou pelo engano, para seduzir os homens”, pa-ra dissuadir os homens de viverem a fé. Essa é aexpressão máxima da tentação. Todas as tenta-ções do diabo são tentações, assim como são pe-cados capitais todos os sete pecados capitais8.Mas a tentação a que tendem todas as tentações éaquela que se dá quando o diabo quer destruir afé. Como sempre dizia padre Leopoldo Mandicquando confessava: “O que importa é preservar afé”9. Esse é o critério para os padres, quando con-fessam; e é o fim último pelo qual uma pessoa seconfessa. Assim, é um enorme conforto confes-sar-se de qualquer pecado para preservar a fé. Afé é a raiz de tudo. Assim voltamos a ser inocen-tes, pequenos, puros de coração.

“Pela força ou pelo engano”, o diabo se mobili-za para destruir a fé. “Pela força ou pelo engano”.

“Vi / pela força”. Por exemplo, pela ameaça.Ante as mortes inesperadas que marcaram estesanos, eu algumas vezes disse que, de certo ponto

8 Cf. Quem reza se salva. Roma: 30Giorni, 2009, p. 15: “Os sete pecados capitais: 1. soberba; 2. avareza; 3. luxúria; 4. ira; 5.

gula; 6. inveja; 7. preguiça”.9 Cf. Falasca, S. É o Senhor que opera. 30Dias, n. 1, jan. 1999, p. 55-59.

A fera que emerge do mar

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de vista, para que essas mortes sejam usadas co-mo ameaça contra quem crê, não é importanteque tenham ocorrido por homicídio ou por aca-so (em última instância, não são nunca por acasono desígnio da providência do Senhor). De fato,essas mortes podem ser usadas como ameaçacontra quem crê, mesmo que não sejam realmen-te homicídios. Diante de certas mortes inespera-das, a pessoa pode dizer a uma outra: “Não vá fa-zer o mesmo, senão vai acabar como aquela pes-soa”. Portanto, as mortes inesperadas são usadascomo ameaça, mesmo que não sejam realmentehomicídios, mesmo que sejam mortes, digamosassim, naturais.

“Dolo / pelo engano”. A maior parte das pes-soas é seduzida pelo engano. Para usar termos

modernos, poderíamos falar de homologação,realizada, entre outros fatores, pelos meios de co-municação de massa. Engano midiático. Para en-ganar as pessoas, o diabo se vale do pecado da so-berba. De fato, é aos pequenos e aos simples, ouseja, aos humildes (“Qui sunt parvuli? Humi-les”10) que o Senhor dá a sabedoria. “Vossa pala-vra, ao revelar-se, me ilumina, ela dá sabedoriaaos pequeninos” (Sl 118,130).

Por isso, quando Agostinho fala dessa persegui-ção observa que a sabedoria é importante. Em ou-tras palavras, é importante a inteligência que seaproveita do momento. Diz isso mais adiante:“Omnes insidias eius atque impetus et caverent sapien-tissime et patientissime sustinerent / para esquivar-se com suma sabedoria das insídias e dos assal-tos [do diabo] e para suportá-los com suma pa-ciência”. Agostinho insiste nessa inteligência, em-bora seja evidente que o fato de permanecermosfiéis na perseguição é um dom de graça particular.Sobretudo quando a perseguição se torna cruenta,como Giussani previu, em abril de 199211.

Continua Agostinho: “in partem suam cogendoviolenter fraudolenterve fallendo / obrigando-os ¬

10 Agostinho. Sermones 67, 5, 8.11 Giussani, L. Un avvenimento di vita, cioè una storia (in-

troduzione del cardinale Joseph Ratzinger), Edit-Il Sabato,

Roma, 1993, p. 104: “Isso mesmo. A ira do mundo, hoje, não

se ergue diante da palavra Igreja, fica quieta até diante da ideia

de alguém se dizer católico, ou diante da figura do Papa como

autoridade moral. Aliás, existe uma reverência formal e até

sincera. O ódio explode – mal se contém, e logo transborda –

diante de católicos que se apresentam como tais, católicos que

se movem na simplicidade da Tradição”. (Cf. trad. em portu-

guês extraída de “Um evento, eis por que nos odeiam”. Trad.

Juliana P. Perez e Francesco Tremolada. In: O eu, o poder, as

obras. São Paulo: Cidade Nova, 2001, p. 220).O anjo que abate a fera com a pedra de moinho

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a vir para o seu lado pela violência ou enga-nando-os pela mentira”. O diabo não tenta oshomens em primeiro lugar para que pequem (em-bora só os possa obrigar a passar para a sua partepela violência e pelo engano por meio do peca-do12), mas para que passem para o seu lado. Este éo objetivo: que passem para o seu lado. Se não per-cebemos isso, não percebemos uma dimensão es-sencial da história da Igreja. Não podemos descre-ver a história da Igreja apenas como história degraça e de pecados. Lembro-me de que uma vez euestava de carro com Giussani em Roma. Antes dechegar à praça Venezia, Giussani me disse: “Veja,três são os fatores da história da Igreja: a graça, opecado e o anticristo. Se não levarmos em conta oanticristo, a relação entre graça e pecados pode serconcebida de um jeito moralista”. O anticristo,por meio do pecado, quer levar você para o ladodele. “In partem suam cogendo violenter fraudolen-terve fallendo / obrigando-os a vir para o seu ladopela violência ou enganando-os pela mentira.”

Pergunta-se Agostinho: por que o diabo é solto?Abro um breve parênteses. Alguém me lem-

brou um sonho de São João Bosco. Dom Boscosonha, se não me engano, com uma aposta entreDeus e o diabo, em que o diabo diz a Deus que écapaz de destruir a fé em um século. E o Senhorlhe teria dito: tudo bem, eu te dou um século, po-des fazer o que quiseres. Veremos no fim se con-seguirás destruir completamente a fé dentro da

minha Igreja. Diante de qualquer profecia parti-cular, como podem ser classificados os sonhos deDom Bosco, somos livres para crer ou não crer.Aliás, propriamente, não cremos nelas, apenaspodemos dar-lhes crédito ou não. Pois não sãoobjeto da fé. As profecias particulares, no entan-to, podem ser hipóteses inteligentes para ler arealidade. As profecias particulares, inclusive asaparições de Nossa Senhora, podem ser suges-tões à inteligência iluminada pela fé para olharpara a realidade. Pensem na profecia de PauloVI em setembro de 197713 e no juízo ainda mais

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12 “Non enim nisi peccatis homines separantur a Deo / De fato, somente pelos pecados os homens se separam de Deus” (De ci-

vitate Dei X, 22); “Non deserit, si non deseratur / Não abandona, se não é abandonado” (Agostinho, De natura et gratia 26, 29);

Concílio de Trento, Decretum de iustificatione, cap. 11: De observatione mandatorum, deque illius necessitate et possibilitate,

(Denzinger 1536-1539, particularmente 1537); Concílio Vaticano I, constituição dogmática sobre a fé católica Dei Filius, (Den-

zinger 3014).13 Cf. Giussani, L. Un avvenimento di vita, cioè una storia. Introdução do cardeal Joseph Ratzinger. Roma: Edit-Il Sabato, 1993,

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dramaticamente realista de Giussani em dezem-bro de 1998 a respeito do pequeno resto14. Umaprofecia particular – na qual não cremos pro-priamente falando, mas à qual simplesmente da-mos crédito, porque a fé nasce apenas por atra-ção da graça15 – pode ser um ponto de partida ex-tremamente útil para olhar com atenção e comaceitação a realidade tal como ela é.

Então, por que o diabo é solto?“Si autem numquam solveretur, minus appareret

eius maligna potentia, / Se nunca fosse solto, fi-caria menos patente a sua força maléfica, /minus sanctae civitatis fidelissima patientia proba-retur, / seria menos posta à prova a fidelíssimapaciência da cidade santa, / minus denique pers-piceretur, quam magno eius malo tam bene fueritusus Omnipotens [...] / mas, sobretudo, ver-se-

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p. 72-73: “Nos últimos anos o senhor tem desejado que sejam repetidas e conhecidas por todos as palavras que Paulo VI disse ao amigo

Jean Guitton, em 8 de setembro de 1977, nas quais o Papa fala de ‘um pensamento não católico’ e da resistência de um ‘pequeno reba-

nho’. Por quê? Luigi Giussani: Porque é isso que está acontecendo. Peço-lhe que me releia essas palavras. Pois bem: ‘Há uma gran-

de perturbação neste momento no mundo da Igreja, e o que está em questão é a fé. Vejo-me obrigado hoje a repetir a frase obscura de Je-

sus no Evangelho de São Lucas: ‘Quando o Filho do Homem voltar, encontrará ainda a fé sobre a face da terra?’. Hoje em dia saem li-

vros em que a fé bate em retirada em relação a pontos importantes, os episcopados se calam, e esses livros não são achados estranhos. Is-

so, para mim, é que é estranho. Releio às vezes o Evangelho do fim dos tempos e constato que neste momento aparecem alguns sinais

desse fim. Estamos próximos do fim? Isso nunca saberemos. É preciso que estejamos sempre prontos, mas tudo pode durar ainda muito

tempo. O que me impressiona, quando considero o mundo católico, é que dentro do catolicismo parece às vezes predominar um pensa-

mento de tipo não católico, e pode acontecer que esse pensamento não católico dentro do catolicismo se torne no futuro o pensamento

mais forte. Mas ele nunca representará o pensamento da Igreja. É preciso que subsista um pequeno rebanho, por menor que seja’”.14 Giussani, L. Cristo é parte presente do real. 30Dias, n. 12, dez. 1998, p. 61: “Hoje o fato de Cristo existir – quem é, onde es-

tá, que caminho percorrer para chegar até Ele – é vivido por pouquíssimos, quase um resto de Israel, e mesmo esses muitas ve-

zes infiltrados ou imobilizados pela influência da mentalidade comum”.15 Tomás de Aquino. Summa theologiae II-II q. 4 a. 4 ad 3: “Gratia facit fidem non solum quando fides de novo incipit esse in

homine, sed etiam quamdiu fides durat / A graça gera a fé não apenas quando a fé nasce numa pessoa, mas por todo o tempo em

que a fé perdura”.

A fera que emerge do mar, detalhe

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ia menos claramente como Aquele que é oni-potente pode usar um mal tão grande para umbem ainda maior [...] / In eorum sane, qui tuncfuturi sunt, sanctorum atque fidelium comparationequid sumus? / Em comparação com os santos efiéis que viverão então [quando o diabo for sol-to], que somos nós?”.

Essa pergunta nascia espontaneamente paraAgostinho, pois ele vivia num tempo em que mi-lhares e milhares de pessoas se tornavam cristãs.Tanto assim, que para Agostinho o milagre eviden-te que leva a crer em Cristo é a multitudo, a multi-dão de pessoas que se tornam cristãs. Agostinhoestava cercado pelo milagre de milhares e milharesde pessoas que se tornavam cristãs. Uma multitu-do de ignorantes e pecadores que encontravam ocristianismo16. Não dá para comparar a evidênciados milagres que confortam a fé17 no tempo deAgostinho com a situação de hoje, em que, comoobservava a 30Diasum bispo de Laos, a Igreja é co-mo uma criança pequena salva das águas18. Agosti-nho podia dizer: “O milagre mais evidente é que osvossos templos e os vossos teatros estão vazios, en-

16 Cf. Ratzinger, J. Popolo e casa di Dio in sant’Agostino.

Milano: Jaca Book, 1971, particularmente p. 33-38: “Deus

fez isso [providenciar uma outra encarnação para a sabedoria

que a conduza também até o olho do tolo] primeiramente

por meio dos milagres, depois por intermédio da multitudo.

Para Agostinho, a multidão dos povos que pertencem à Igre-

ja constitui um sinal divino evidente que realmente só o pró-

prio Deus poderia dar” (p. 35).17 Cf. Concílio Ecumênico Vaticano I, constituição dog-

mática sobre a fé católica Dei Filius (Denzinger 3009).18 Cf. Paci, S. M. Para nós é suficiente uma Ave Maria. En-

trevista com dom Jean Khamsé Vithavong, vigário-apostóli-

co de Vientiane, no Laos. 30Dias, n. 3, mar. 1999, pp. 14-17.

Oração de São MiguelArcanjo

São Miguel Arcanjo,

defendei-nos no combate,

sede o nosso refúgio contra as maldades e

ciladas do demônio.

Ordenai-lhe Deus, instantemente o

pedimos, e vós, príncipe da milícia celeste,

pela virtude divina,

encadeai no inferno a Satanás

e aos outros espíritos malignos,

que andam pelo mundo

para perder as almas. Amém.

O quinto anjo derrama o cálice da ira de Deus sobre o tronoda fera

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quanto as igrejas estão cheias de povo”. Hoje é lite-ralmente o contrário. Por isso me parece possíveller o tempo atual ou momentos do nosso tempocomo tempo ou momentos em que o diabo estásolto. Digo isso de um ponto de vista realista, deconstatação19. A própria oração do papa Leão XIIIa São Miguel Arcanjo, que, antes da reforma litúr-gica, era rezada ao final da santa missa, sugeria essahipótese, ao pedir: “... e vós, príncipe da milícia ce-leste, pela virtude divina, encadeia no inferno a Sa-tanás e aos outros espíritos malignos...”20.

“[...] Usque in illum finem sine dubio converten-tur; [...] / [...] Até o fim [mesmo quando o diabofor solto] haverá aqueles que se converterão;[...] / qui oderint christianos, in quorum quotidie,velut in abysso, caecis et profundis cordibus includa-tur / [e haverá também] aqueles que odiarão oscristãos; na profundidade dos corações ce-gos dos quais o diabo está encerrado todos osdias como no abismo”: creio que dificilmenteAgostinho tenha dado sobre alguém um juízo tãotrágico como esse sobre quem odeia os cristãosenquanto tais, ou seja, aqueles “que se movem nasimplicidade da Tradição”21.

“Immo vero id potius est credendum, / É precisocrer / nec qui cadant de Ecclesia nec qui accedantEcclesiae illo tempore defuturos, / que tambémnesse tempo não faltarão nem aqueles que seafastam da Igreja nem aqueles que a encon-tram, / sed profecto tam fortes erunt et parentes probaptizandis parvulis suis / mas certamente seja ospais que farão batizar suas crianças [essa ob-servação é muito bonita, precisamente como ma-neira de olhar para as coisas que têm ocorridonestes anos] / et hi, qui tunc primitus credituri sunt,ut illum fortem vincant etiam non ligatum, / sejaaqueles que nesse tempo terão acabado de dar os pri-meiros passos na fé serão tão fortes a ponto de vencer aforça do diabo mesmo solto, / id est omnibus, qualibusantea numquam, vel artibus insidiantem vel urgen-tem viribus, et vigilanter intellegant et toleranter fe-rant; ac sic illi etiam non ligato eripiantur / ou se- ¬

19 Cf. Ratzinger, J. A angústia de uma ausência: três medita-

ções sobre o Sábado Santo. 30Dias, n. 3, mar. 1994. pp.37-44.20 Parece que foi depois que ficou profundamente pertur-

bado por uma visão que teve ao final da celebração de uma

missa a que assistia que o papa Leão XIII compôs a oração a

São Miguel Arcanjo, em 1886, e a enviou a todos os bispos, pa-

ra que mandassem os fiéis rezarem-na de joelhos ao final de

cada santa missa (cf. Ephemerides liturgicae 69 [1955], p. 59,

nota 9). A oração foi também incluída num exorcismo espe-

cial que Leão XIII mandou inserir no Ritual Romano (apare-

cia no título XII, na edição de 1954).21 Cf., acima, a nota 11. Cristo no cavalo branco, seguido pelos exércitos celestes

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Page 24: na Igreja e no mundo Diretor: Giulio Andreotti 7-8 BRASILIANA... · Os Padres do primeiro milênio, ... ria e a lei para favorecer o Sul da Itália devem-se a es- ... difícil nestes

ja, que estarão prontos a compreender comatenção e serão capazes de resistir com pa-ciência ao diabo, que, como nunca antes, in-sidiará com todas as artes e assaltará com to-das as forças, a ponto de dele serem liberta-dos, embora não esteja amarrado”: não sãoeles que vencem, mas são eles que pela graça deDeus são arrancados das garras da força queameaça e do engano.

Enfim, no capítulo 9 do vigésimo livro22, Agosti-nho comenta os mil anos em que os eleitos reinamsobre a terra: “Interea dum mille annis ligatus estdiabolus, sancti regnant cum Christo etiam ipsi milleannis, eisdem sine dubio et eodem modo intellegendis,id est, isto iam tempore prioris eius adventus. / Por-tanto, enquanto o diabo está amarrado por milanos, os santos reinam com Cristo também pormil anos, que devem também ser entendidossem dúvida do mesmo modo, ou seja, já nestetempo do Seu primeiro advento. / Excepto quippeillo regno, de quo in fine dicturus est: ‘Venite, benedicti

Patris mei, possidete paratum vobis regnum’, / Pois,para além daquele reino do qual no fim se dirá:‘Vinde, benditos de meu Pai, recebei o reinopreparado para vós’, / nisi alio aliquo modo, longequidem impari, iam nunc regnarent cum illo sanctieius, / se mesmo hoje, neste tempo, ainda que deum modo muito diferente [do Paraíso], não rei-nassem com ele os seus santos, / quibus ait: ‘Ecceego vobiscum sum usque in consummationem saeculi’;/ aos quais o Senhor diz: ‘Eis que estou convos-co até o fim dos tempos’, / profecto non etiam nuncdiceretur Ecclesia regnum eius regnumve caelorum /certamente não se diria que a Igreja já agora éo Seu reino, o reino dos céus”: seus fiéis reinamgraças à Sua presença. Pois, estando já hoje presen-te o Senhor, reinar é como o reflexo no coração enos gestos, ou seja, nas boas obras, da presençad’Ele e da Sua ação.

“[...] Ergo et nunc Ecclesia regnum Christi estregnumque caelorum. / [...] De fato, já agora aIgreja é o reino de Cristo e o reino dos céus. /

24 30DIAS Nº 7/8 - 2011

22 Cf. De civitate Dei XX, 9, 1.

O Cordeiro no trono, entre os quatro seres vivos e os vinte e quatro anciãos

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Regnant itaque cum illo etiam nunc sancti eius, /Também agora, portanto, os seus santos rei-nam com Ele, / aliter quidem quam tunc regna-bunt; / de um modo diferente de como reina-rão então [no Paraíso]; / nec tamen cum illo reg-nant zizania, quamvis in Ecclesia cum tritico cres-cant / mas todavia com Ele não reina a cizâ-nia, embora na Igreja cresça com o trigo”.O que faz a diferença, na Igreja, é justamente oreinar. A diferença é a experiência da surpresaque a Sua presença gera. Ou seja, a diferença éestar ou não estar na graça de Deus23. A cizâniatambém está na Igreja, a cizânia também per-tence à Igreja, a cizânia também pode partici-par dos sacramentos da Igreja, pode estar entreos chefes da Igreja24, mas não reina. Pois reinar ésimplesmente o reflexo no coração e nas boasobras da surpresa da Sua graça: “[...] Postremoregnant cum illo, qui eo modo sunt in regno eius utsint etiam ipsi regnum eius / [...] Enfim, reinamcom Ele aqueles que estão de tal modo emSeu reino a ponto de serem eles mesmos oSeu reino”.

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23 Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II, constituição dogmática sobre a Igreja Lumen gentium, n. 14: “Non salvatur tamen, li-

cet Ecclesiae incorporetur, qui in caritate non perseverans, in Ecclesiae sinu ‘corpore’ quidem, sed non ‘corde’ remanet. Memores au-

tem sint omnes Ecclesiae filii condicionem suam eximiam non propriis meritis, sed peculiari gratiae Christi esse adscribendam; cui

si cogitatione, verbo et opere non respondent, nedum salventur, severius iudicabuntur / Não se salva contudo, embora incorpora-

do à Igreja, aquele que, não perseverando na caridade, permanece no seio da Igreja ‘com o corpo’, mas não ‘com o coração’.

Lembrem-se todos os filhos da Igreja que a condição sem igual em que estão se deve não a seus próprios méritos, mas a uma pe-

culiar graça de Cristo. Se a ela não corresponderem por pensamentos, palavras e obras, longe de se salvarem, serão julgados com

maior severidade (Lc 12,48: “A quem muito foi dado, muito lhe será pedido”. Cf. Mt 5,19-20; 7,21-22; 25,41-46; Tg 2,14)”.24 Cf. Giussani, L. L’uomo e il suo destino: In cammino. Genova: Marietti, 1999, p. 27-28: “Aqui, gostaria de fazer uma obser-

vação. O que dissemos antes a respeito do poder vale como aspecto vertiginoso também para a autoridade, da forma como po-

deria ser vivida na Igreja. Se a autoridade não é paternal, e portanto maternal, pode-se tornar fonte de equívoco supremo, ins-

trumento enganador e destrutivo nas mãos da mentira, de Satanás, pai da mentira (cf. Jo 8,44). Ao passo que sempre, de modo

desconcertante, a autoridade da Igreja em última instância deve ser obedecida, paradoxalmente”.

O Cordeiro no monte Sião e os cento e quarenta e quatro mil eleitos

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AGOSTINIANAS RICOLETAS DO MOSTEIRO SAINT EZEKIEL

MORENO

Bacolod City, Filipinas

Who prays is saved para as crianças das favelas

Bacolod City, 25 de julho de 2011

Prezado senhor Andreotti,saudações em Cristo!Estamos realmente felizes e gratas ao senhor e aseus dil igentes colaboradores pelogrande serviço que prestam à nossaIgreja. Se não estou errada, já faz cincoanos que nos beneficiamos de sua be-névola caridade. Cada número da re-vista nos agrada muitíssimo e somosgratas por seu esforço em destacar damelhor maneira possível o que a nos-sa Igreja faz pelo bem de todos. A suarevista, com seus excelentes artigos,é um farol que resplandece lumino-so, sem nunca desencorajar, mas fa-zendo sempre esperar que ainda se-ja possível encontrar coisas boasnestes tempos de trevas e desorien-tação.

O motivo pelo qual lhe escrevemos não é apenas ode expressar nossa gratidão, mas também para baterhumildemente à porta de seus corações, ou seja, parareceber, se possível, alguns exemplares gratuitos dofantástico livrinho de orações Who prays is saved. To-dos os anos, durante todo o mês de maio, damos aulassimples de catecismo às crianças pobres que vivem emfavelas muito próximas de nosso mosteiro. Nossa in-tenção é dar a elas pelo menos as noções fundamen-tais da nossa fé ou mesmo apenas ensinar como fazercorretamente o sinal da cruz, particularmente às me-nores. Pensávamos que seria de grande ajuda que elesaprendessem de cor também as orações principais.Mas não temos recursos financeiros para levar adianteos nossos projetos. Poder ter cem exemplares desseslivrinhos seria de enorme ajuda para nós e para quemensina a essas crianças.

Senhor diretor, sabemos que tudo isso será possí-vel somente graças à sua solicitude e generosidade.Nós só podemos oferecer nossas incessantes oraçõesdiante do Santíssimo e nossa infinita gratidão.

Com corações gratos, lhe agradecemos,

irmã Maria E. Catalonia, O.A.R.,pela prioresa, irmã Lourdes Eizaguirre, O.A.R.

CLARISSAS DA ADORAÇÃO PERPÉTUA

Cochin, Kerala, Índia

Obrigada por The chants of Tradition

Cochin, 27 de julho de 2011

Caros senhor Andreott i eamigos de 30Giorni,como lhes somos gratas peloCD e pelo livrinho The chantsof Tradition!Sua magnânima generosidadeé fantástica! Que bela revista,rica em cores e imagens, e quepapel de ótima qualidade! E devez em quando também acom-panhada de livrinhos, e tudo da-do de presente por um coraçãotão grande como o seu!

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Vocação de Mateus

segue da p. 9

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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Como podemos agra-decer-lhes por tudo o quefizeram por nós? Lançare-mos f lechas de amor aoSantíssimo Coração de Je-sus para que continue a fa-zer chover suas graças sobrevocês e sobre a redação e pa-ra que a obra de bem que co-meçaram prossiga com su-cesso para chegar a tocar asalmas e instigá-las até a con-quista da coroa da santidade.

Nosso Senhor, em sua mag-nificência, os recompense emabundância neste tempo e pelaeternidade!

irmã Mary Denise Nazarethe a comunidade das clarissas da Adoração Perpétua

CLARISSAS DO MOSTEIRO DE ANDOVER

Andover, Massachusetts, EUA

Agradecemos, dos EUA, por The chants of Tradition

Andover, 1º de agosto de 2011

Prezado senhor Andreotti,as palavras não conseguem expressar a nossa grati-dão pelo senhor pelo envio gratuito de 30Giorni, suarevista de extraordinária beleza, e, este mês, por Thechants of Tradition, acompanhado peloCD. O nosso Deus de amor abençoe co-piosamente a sua bondade e generosidade!Como o senhor nos enriquece!

Pedimos à nossa querida mãe SantaClara que una a sua forte oração às nossaspelas necessidades e intenções suas e detodos os seus entes queridos. Abençoe-nostambém com suas boas orações.

Com corações gratos em oração por to-da a bondade que demonstra por nós,

as suas clarissas de Andover

CLARISSAS DO MOSTEIRO DE BELLO

Bello, Antioquia, Colômbia

Trinta e sete monjas que dia e noite rezam diante de JesusSacramentado

Bello, 2 de agosto de 2011

Ilustre senhor Andreotti,receba nossa cordial saudação francis-cana de paz e bem, em Deus nossoPai e em seu Filho Jesus Cristo, quecom a promessa cumprida do Espíri-

to Santo enche as nossas vidas de paz e alegria,de confiança e esperança.

Um sacerdote próximo da comunidade nos em-prestou alguns exemplares da revista 30Giorni; re-conhecemos que é um precioso instrumento espiri-tual que nos atualiza em matéria eclesial e sobre ou-tros temas interessantes, uma vez que nos aproximado mistério de Cristo, visível em nossos irmãos maisnecessitados.

Com esta carta, desejamos pedir-lhe que nos en-vie mais vezes e gratuitamente os exemplares dessarevista maravilhosa e, se possível, um exemplar deQuien reza se salva. É uma ótima oportunidade pa-ra crescer na vida do espírito. Nós o recompensare-mos com a nossa oração assídua diante de Jesus Sa-cramentado; assim, em todos os seus projetos terásempre a luz destas trinta e sete irmãs que dia e noi-te rezam pelo senhor e por seus mais próximos co-laboradores.

Vocação de Pedro e André

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Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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Seremos gratas se puder acolher favoravelmenteesta súplica que lhe apresentamos por intercessãodos nossos seráficos pais, São Francisco e Santa Cla-ra, os pobres de Assis, que do alto dispensarão abun-dantes graças e bênçãos sobre sua vida.

Deus o abençoe e aumente o espírito fraterno e so-lidário com muitas pessoas que usufruem deste mate-rial espiritual.

Em Jesus e Maria,

a abadessa, irmã Margarita María del Sagrado Corazón,O.S.C., e comunidade

CLARISSAS DA ADORAÇÃO PERPÉTUA

Eluru, Andhra Pradesh, Índia

30Days nos mantém informadas para revigorar a nossa oração

Eluru, 4 de agosto de 2011

Prezado senador Andreotti,minhas irmãs da comunidade se unem a mim ao lheagradecer de todo o coração pelo precioso presente

que é a sua revista 30Days, que vocês nos enviamregularmente há alguns anos e que nos mantém in-formadas sobre o que acontece no mundo exterior,para tornar viva a nossa oração e abrir os nossos co-rações aos sofrimentos dos nossos irmãos e das nos-sas irmãs. Obrigada também pelo CD e pelo livrinhocom os simples cantos gregorianos que ficamosenormemente felizes de receber. Esteja certo dasnossas orações pelo senhor e pelo seu trabalho, epor todos os seus colaboradores.

A sua irmã em Nosso Senhor eucarístico,

irmã Maria Teresita

DOMINICANAS DO MOSTEIRO OUR LADY OF GRACE

North Guilford, Connecticut, EUA

A saúde e a paz de Cristo, dos EUA

North Guilford, 21 de agosto de 2011

Prezado senador Andreotti,a saúde e a paz de Cristo!Obrigada pelo presente que nos envia com 30Days, que

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As bodas de Caná

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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considero uma ótima revista pelasua visão da Igreja e do mundo.

Agora, um pedido.Seria possível enviarem um

exemplar da meditação de pa-dre Giacomo Tantardini “TheSon cannot do anything on hisown”?

Obrigada, e que Deus o aben-çoe!

irmã Susan Early, O.P.

DOMINICANAS DO MOSTEIRO

DE SANTA CATARINA

Santorini, Grécia

Quem reza se salvaé uma joia para o nosso tempo

Santorini, 26 de agosto de 2011

Eu lhes seria grata se pudessem enviar-me vinteexemplares em espanhol e um em italiano, portu-guês, francês, inglês e alemão do livrinho Chi prega sisalva: é uma joia para o nosso tempo. O Senhor já osabençoa por este trabalho. Muito obrigada.

Que o Senhor continue a tornar frutuoso o seu trabalho.

irmã María de la Iglesia, O.P.

CARMELITAS DO CARMELO ASHRAM

Vijayawada, Andhra Pradesh, Índia

30Days nos mantém em comunhão com a Igreja inteira

Vijayawada, 27 de agosto de 2011

Prezado senhor Andreotti,afetuosas saudações em oração nopreciosíssimo nome de nosso Se-nhor Jesus Cristo!Com profunda gratidão desejoagradecer-lhe pela extraordinária

revista 30Days, que com tanta generosi-dade e constância há anos o senhor nos envia. Que obom Deus o abençoe e recompense de modo cadavez mais copioso.

Agrada-nos muito essa bela revista, rica em infor-mações importantes e dignas de nota, de grande in-teresse, estímulo e utilidade para nós, irmãs de clau-sura, que não recebemos muitas boas notícias domundo exterior. 30Days nos mantém em comunhãocom a Igreja inteira e o mundo de hoje. Achamos as-sim oportunidade e motivação para oferecer nossasvidas a Deus com maior entusiasmo, como sacrifíciodo doce perfume, pelas necessidades mais instigan-tes da Igreja e do mundo, segundo o nosso carisma.

Somos também muito gratas pelos suplementosque de vez em quando nos envia. Gostamos de modoparticular de The chants of Tradition, com o CD.Nossas jovens irmãs ficaram encantadas ao ouvir pe-la primeira vez o canto gregoriano em latim. Gosta-ríamos de receber a meditação sobre a Santa Páscoa.

Esteja certo das nossas incessantes orações portodas as suas intenções e o seu apostolado rico emfrutos. Que as suas boas obras continuem a ser aben-çoadas por uma abundância de graça e pela inspira-ção do Espírito Santo.

Abençoe-o e o guie a nossa Bem-Aventurada Vir-gem do Carmelo.

Com renovados agradecimentos e apreço peloque o senhor nos faz, sou sua, com afeto, em Cristo,

irmã Emmanuel of Saint Joseph e comunidade

Milagres de Jesus

Cartas dos mosteiros Cartas dos mosteiros

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30 30DIAS Nº 7/8 - 2011

MISSIONÁRIOS JESUÍTAS

Kannur, Kerala, Índia

Chi prega si salva, um livrinho milagroso

Kannur, 20 de junho de 2011

Caríssimo diretor,como aqui há muitos missionários e missionárias queestiveram na Itália, eu lhe seria muito grato se me en-viasse alguns exemplares em italiano de seu milagrosolivrinho Chi prega si salva.

Esses missionários sabem muito bem o italiano.Eu lhe agradeço em nome deles e em meu nome pelogrande bem espiritual que realiza com esses belos li-vrinhos.

Com grande afeto e gratidão, e em união de ora-ções, sou seu para sempre afeiçoadíssimo co-missio-nário,

padre L. M. Zucol, S.J.

Kannur, 22 de julho de 2011

Caríssimo senador Andreotti,agradeço-lhe realmente de coração pelos dois pacotesde seu maravilhoso livrinho Chi prega si salva.

Já comecei a distribuí-lo a muitas pessoas e tam-bém o traduzi em malayalam para dá-lo aos meus no-vos convertidos.

Assim, todas as almas que foremsalvas mediante a leitura e as ora-ções de seus livrinhos rezarão porsuas intenções e obterão de NossoSenhor um elevado lugar no céu.

Nós todos rezamos pelo seugrande apostolado da imprensa,realizado também mediante asua belíssima revista 30Giorni,que leio com grande proveitoespiritual.

Com grande afeto, gratidãoe orações mútuas.

Sou seu gratíssimo co-mis-sionário,

padre L. M. Zucol, S.J.

DON BOSCO TECHNICAL COLLEGE

Adua, Etiópia

30Days na Etiópia

Adua, 5 de julho de 2011

Prezado senhor Andreotti,somos muito gratos ao senhor pelo envio da revista30Giorni.

A nossa comunidade é composta de cinco pessoas,e quatro de nós compreendem melhor o inglês que oitaliano. Perguntamos gentilmente se seria possível re-cebermos a edição em inglês em vez da em italiano.

Obrigado.Saudações da Etiópia,

padre Tesfay Kidane, reitor

MISSIONÁRIOS COMBONIANOS

Lirangwe, Malawi

Interiorizar a fé por meio da oração

Lirangwe, 9 de julho de 2011

Peço-lhes que me enviem, se possível, dois exemplaresdo livrinho Chi prega si salva (no formato pequeno), umem inglês e outro em italiano. Gostaria ainda de lhes pe-dir autorização para traduzir e imprimir esse livrinho emlíngua local (chichewa). Estou certo de que faria uma

imensidão de bem a todos, desde oclero até os cristãos dispersos nos vi-larejos mais distantes. Creio que aatual fase do nosso trabalho missioná-rio seja a de levar os africanos à interio-rização da sua fé, justamente por meioda oração. Vivo há trinta e sete anos naÁfrica e estou convicto de que, se nãocumprirmos, com a graça de Deus, estafase, a África corre o risco de se tornarcomo a América Latina da época de PioXII, com festas triunfalistas de massa, ral-lies, cada vez mais famílias em desagrega-ção, pessoas pertencendo de modo fluidoe superficial a Cristo e à Igreja.

São muitos os católicos que “viram ca-saca”, procurando nas seitas e nas deno-

Cartas das missões Cartas das missões

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minações protestantes um maior alimento de Palavrade Deus e uma fé mais profunda e menos barulhenta.

Digam-me se poderei pagar pelos livrinhos e asdespesas postais da remessa por via aérea.

Recebam meus votos de sucesso cada vez maiorem seu apostolado.

padre Anastasio Tricarico

XAVERIAN HOUSE

Daca, Bangladesh

Peço o livro de Joseph Ratzinger, Lʼunità delle nazioni

Daca, 15 de julho de 2011

Caro senador Giulio Andreotti,desejo renovar-lhe meu muito obrigado pelas con-tribuições tão estimulantes da sua revista. Ao mes-mo tempo, renovo-lhe também meus votos de que,

considerando o peso dos anos, o senhor tenha ainda aleveza necessária para sair-se bem na direção de30Giorni.

No passado recebi alguns de seus livros, que me fo-ram muito úteis. Gosto muito das meditações agosti-nianas de padre Tantardini.

Recentemente, umconfrade meu que traba-lha com os estrangeirosresidentes em Daca mepediu um exemplar daedição em inglês de Chiprega si salva.

Para mim, ousoacrescentar o pedidodo l ivro de JosephRatzinger, L’unitàdelle nazioni.

Um obrigado euma oração,

padre Silvano Garello

Boma, 19 de julho de 2011

Caro diretor,as crianças da nossa paróquia que recebe-ram a primeira comunhão e seus catequistaslhe agradecem pelos exemplares de Qui priesauve son âme, que os ajudaram no ano deformação catequética que acaba de termi-nar. Rogam a Deus que encha de graça e debênçãos o senhor e seus colaboradores. Nóslhe pedimos um número igual de livrinhosem francês para as crianças que começarãosua formação em outubro, no novo ano decatequese.

Queira receber, senhor diretor, a expres-são da nossa gratidão.

P.S. Sou aquele com a camisa amarela na foto.

Roger Phanzu-Kumbu

PARÓQUIA DE LʼASSOMPTIONBoma, República Democrática do Congo

Qui prie sauve son âmenos ajudou para a catequese

Os jovens da primeira comunhão da paróquia L’Assomption,

em Boma

Cartas das missões Cartas das missões

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IRMÃS MISSIONÁRIAS DA CONSOLATA DA NAZARETH HOUSE

Nairóbi, Quênia

Agradecimentos, em particular,pelo CD I canti della Tradizione

Nairóbi, 21 de julho de 2011

Prezado senador Giulio Andreotti,temos uma dívida de gratidão com o senhor pelo pre-sente que é a sua publicação 30Giorni, que recebe-mos regularmente e que lemos com interesse, pelasnotícias e pelos artigos específicos, que de outra for-ma não poderíamos aproveitar.

Aceite nossas congratulações pelo objetivo louvá-vel de sua revista: formar, informar, explicar, e tam-bém louvar e estimar o bem e esclarecer sobre possí-veis erros. Transparece também, nas entrelinhas, asua personalidade, que conhecemos há anos; mas oseu editorial preciso nos permite conhecer ainda me-lhor seus valores pessoais.

Obrigada por essa partilha, não apenas da revis-ta. Agradecemos, de modo particular, pelo CD I can-ti della Tradizione anexado ao número 4/5. Nós oouvimos imediatamente e as vozes do coral, preci-sas, vibrantes, disciplinadas, de estilo e execução en-cantadores segundo a tradição gregoriana, enche-ram o nosso coração. Se na Europa esses cantos ho-je são ouvidos raramente, aqui já nem é possível en-siná-los. Uma música carregada de séculos de devo-ção e tradição não pode apenas ser ensinada: deve

ser sentida e vivida. Se nós, que herdamos esta músi-ca sacra, a perdermos, deixando-a cair em desuso,como poderá ser transmitida? A sua iniciativa, por-tanto, é bem-vinda, artística, instrumento secular deoração, e necessária.

Nós lhe agradecemos por sua generosidade e aten-ção, e ao senhor voltamos nossa oração.

irmã Viviana Zanesco, em nome de toda a comunidade

ARQUIDIOCESE DE PRETÓRIA

Phalaborwa, África do Sul

Foi uma verdadeira maravilha ler 30Days

Phalaborwa, 22 de julho de 2011

Senhor,sou um sacerdote católico romano incardinado na ar-quidiocese de Pretória e no momento atuo em Phala-borwa, no extremo norte do país.

Chegou a minhas mãos a sua revista, embora te-nha sido um exemplar já datado, de 2007. Eu a per-corri, folheando as páginas rapidamente, e no fim a litoda. Foi uma verdadeira maravilha lê-la: os temas tra-tados são de grande relevo e oferecem muitas infor-mações para um católico.

Vocês estão fazendo uma obra notável e de grandeinspiração.

32 30DIAS Nº 7/8 - 2011

A última ceia

Cartas das missões Cartas das missões

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Entusiasmado pela qualidade da revista, pedi infor-mações e gostaria de recebê-la regularmente, masnão tenho os meios financeiros para arcar com as des-pesas de uma assinatura.

Meu humilde pedido é de poder ter uma assinaturagratuita da edição em inglês.

Espero e tenho confiança de que meu pedido sejalevado favoravelmente em consideração e que não se-ja um excessivo ônus econômico.

Agradeço antecipadamente.Cordiais saudações,

padre S. Rangwaga

CASA DO CLERO DE BUENOS AIRES

Buenos Aires, Argentina

Chi prega si salvapara a catequese dos adultos

Buenos Aires, 29 de julho de 2011

Caros amigos, sou um sacerdote argentino e desejopedir-lhes um favor: eu precisaria de 10 exemplaresem espanhol e 3 em italiano de Chi prega si salva.Utilizo o livrinho para a catequese dos adultos.Agradeço muito desde já.

padre Francisco Caggia

3330DIAS Nº 7/8 - 2011

A crucifixão

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Buenos Aires, 18 de agosto de 2011

Caros irmãos,obrigado pelo envio do utilíssimo Quien reza se salva,que comecei a distribuir no mesmo dia em que chegou.Deus lhes conceda as forças e os meios para continuar.De novo muitíssimo obrigado e em união de oração.

padre Francisco Caggia

PARÓQUIA DE SANTO EUSÉBIO

Inhassoro, Moçambique

Alguns exemplares de Quem reza se salvapara os nossoscatequistas

Inhassoro, 4 de agosto de 2011

Prezado diretor,agradeço-lhe de coraçãopelo CD de cantos gre-gorianos: ouvi-los aquina África me levou devolta à minha juventudeno seminário.

Recebemos com prazer a sua revista. Mando-lhealgumas fotos da nossa igreja há pouco consagrada.

Cordiais saudações,padre Pio Bono

P.S. Se puder, nos envie alguns exemplares deQuem reza se salva para os nossos catequistas.

MISSIONÁRIOS COMBONIANOS

Dondi, República Democrática do Congo

São momentos de serenidade aqueles em que leio 30Jours

Dondi, 6 de agosto de 2011

Com a presente, desejo expressar-lhes minha gratidãopela revista 30Jours, que recebo quase regularmentena República Democrática do Congo. Se digo “quase”é pelo mal funcionamento dos correios locais. Embora

não receba todas as edições, a revista me agrada muitopelas notícias, pelos artigos, pelas reflexões e pelas be-líssimas fotos. São para mim momentos de serenidadee distensão aqueles em que tenho a possibilidade depercorrer as páginas de 30Jours.

Creio dar-lhes prazer ao lhes enviar uma de minhas fo-tos, em que estou com alguns catequistas que em marçodeste ano frequentaram um curso de formação no centropastoral e social que dirigimos em nossa missão de Dondi(Watsa), no nordeste da República Democrática do Congo.

Ao expressar-lhes meus senti-mentos de grande estima e o dese-jo de longa vida, apresento-lhes mi-nhas respeitosas saudações e a ga-rantia de minha oração ao Senhor.

padre Giacomo Biasotto

DIOCESE DE SANTIAGO DE CABO VERDE

Praia, Cabo Verde

Cem exemplares de Quem reza se salva

Praia, 8 de agosto de 2011

É com muita alegria e profundo reconhe-cimento que acuso a recepção da bela, ricae importante revista 30Giorni em portu-

guês, fruto de generosidade e espírito de bem servir doseu Diretor e da sua equipe.

Agradeço o envio espontâneo e gratuito dessa inte-ressante revista às Igrejas das missões, assim como osuplemento 4/5 de 2011, contendo o livrinho e o CD“Os Cantos da Tradição”, com músicas gregorianas.Deus vos recompense.

Gostaria também de pedir cem exemplares do livri-nho Quem reza se salva.

Embora eu pessoalmente não o conheça, estouconvencido de que se trata de um livro oportuno, ca-paz de ajudar as pessoas que querem e precisam de re-zar, mas que necessitam de algum suporte. Esses livri-nhos serão distribuídos a essas pessoas.

Com os votos das maiores bênçãos do Senhor,aproveito para apresentar ao ilustríssimo senhor Giu-lio Andreotti os meus respeitosos cumprimentos emCristo Jesus.

Arlindo Gomes Furtado, bispo de Santiago de Cabo Verde

34 30DIAS Nº 7/8 - 2011

Cartas das missões

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Karachi, 25 de julho de 2011

Estimado senhor Andreotti,muito obrigado pela remessa re-gular de 30Giorni/30Days.Além do livrinho Who prays issaved, agora devo agradecer-lhepelo The chants of Tradition. Éum belo presente da parte sua edos seus colaboradores. Obriga-do por tudo o que fazem pormuitíssimas pessoas, particular-mente nas missões. Obrigadopela sua fidelidade à Igreja. Deusabençoe o senhor e os seus cola-boradores na sua obra de amor.

Peço suas orações pela nos-sa Igreja no Paquistão.

Com os melhores votos ebênçãos,

sinceramente seu em Cristo,

Evarist Pinto, arcebispo de Karachi

3530DIAS Nº 7/8 - 2011

CAPELA DE MARIA MÃE DE DEUS

Kuching, Sarawak, Malésia

Sempre li 30Giornicom muito prazer pelos artigos doutrinais e as entrevistas

Kuching, 20 de julho de 2011

Prezado Diretor,há muitos anos recebo regularmente um exemplar debrinde da sua revista. Agradeço-lhe de coração. Sem-pre li com grande prazer, particularmente os artigosdoutrinais e as entrevistas. Agradeço-lhe também poracrescentar, algumas vezes, alguns livrinhos, como omais recente, The chants of Tradition. Rezarei pelosenhor e pelos seus colaboradores, e também peloprosseguimento da revista. Ficaria muito agradecidose continuassem a enviá-la.

Deixei o meu cargo em 2003, mas continuo a pra-ticar ativamente o ministério sacerdotal, oferecendo aminha ajuda a paróquias e às pessoas. Agradeço ao

Senhor pela minha saúde e pela ajuda por não perdero espírito sacerdotal.

Com os melhores votos, agradecido no Senhor,

Peter Chung Hoan Ting, arcebispo emérito de Kuching

DIOCESE DE SAN ANGELO

San Angelo, Texas, EUA

Agradeço de coração pelo CD e o livrinho de cantos gregorianos

San Angelo, 28 de julho de 2011

Caros e estimados amigos,agradeço-lhes de coração pelo CD e o belo livrinho decantos gregorianos. Aprecio muito este presente espe-cial e anexo uma doação para exprimir a minha gratidão.

A paz de Deus esteja convosco.Sinceramente em Cristo e Maria,

Michael D. Pfeifer, O.M.I., bispo de San Angelo

Correio do DiretorARQUIDIOCESE DE KARACHIKarachi, Paquistão

Obrigado pela sua fidelidade à Igreja

As capas de Who prays is saved e The chants of Tradition

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No já próximo 2012 vão se comple-tar os cinquenta anos do início do Concílio VaticanoII. Meio século depois, esse que foi um aconteci-mento maior na vida da Igreja continua a suscitar de-bates – que provavelmente se intensificarão nospróximos meses – a respeito de qual é a interpreta-ção mais adequada daquela assembleia conciliar.

As disputas de caráter hermenêutico, emboracertamente importantes, correm o risco de se tor-nar controvérsias para especialistas. Ao passo quepode interessar a todos, sobretudo no momento

presente, descobrir qual foi a fonte inspiradora queanimou o Concílio Vaticano II.

A resposta mais comum reconhece que aqueleevento era movido pelo desejo de renovar a vida inte-rior da Igreja e também adaptar sua disciplina às no-vas exigências, para voltar a propor com novo vigorsua missão no mundo atual, atenta, na fé, aos “sinaisdos tempos”. Mas, para ir mais a fundo, é precisoperceber qual era o rosto mais íntimo da Igreja que oConcílio se propunha a reconhecer e a representarpara o mundo, em seu intento de atualização.

O título e as primeiras linhas da constituição dog-mática conciliar Lumen gentium, dedicada à Igreja,são iluminadores, nesse sentido, em sua clareza esimplicidade: “Sendo Cristo a luz dos povos, este Sa-crossanto Sínodo, congregado no Espírito Santo,deseja ardentemente anunciar o Evangelho a todacriatura e iluminar todos os homens com a claridadede Cristo que resplandece na face da Igreja”. No in-cipit de seu documento mais importante, o últimoConcílio reconhece que o ponto de origem da Igrejanão é a própria Igreja, mas a presença viva de Cristo,que edifica pessoalmente a Igreja. A luz que é Cristose reflete, como num espelho, na Igreja.

A consciência desse dado elementar (a Igreja é,no mundo, o reflexo da presença e da ação de Cris-to) esclarece tudo o que o último Concílio disse sobrea Igreja. O teólogo belga Gérard Philips, que foi oprincipal redator da constituição Lumen gentium,evidencia justamente esse dado no início de seu mo-numental comentário ao texto conciliar. Segundoele, “a Constituição sobre a Igreja adota desde o iní-cio a perspectiva cristocêntrica, perspectiva que seafirmará com insistência ao longo de toda a exposi-ção. A Igreja está profundamente convencida disto:a luz dos povos se irradia não dela, mas de seu divinoFundador; ao mesmo tempo, a Igreja sabe muito

36 30DIAS Nº 7/8 - 2011

A percepção da Igreja como “luz refletida” que une os Padres do primeiro milênio e o Concílio Vaticano II

¬

pelo cardeal Georges Cottier, O.P.teólogo emérito da Casa Pontifícia

O portal central da Catedral de Chartres,

séculos XII-XIII, França

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R E F L E X Õ E S S O B R E O M I S T É R I O E A V I D A D A I G R E J A

30DIAS Nº 7/8 - 2011 37

O último Concílio reconhece que o ponto de origem da Igreja não é a própriaIgreja, mas a presença viva de Cristo, que edifica pessoalmente a Igreja.A luz que é Cristo se reflete, como num espelho, na Igreja

A Transfiguração, mosaico da primeira metade do século XI do mosteiro de Hosios Loukas, Chaidari, Atenas

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bem que, refletindo-se em seu rosto, essa irradiaçãoalcança a humanidade inteira” (La Chiesa e il suomistero nel Concilio Vaticano II: storia, testo e com-mento della costituzione Lumen gentium. Milano: Ja-ca Book, 1975, v. I, p. 69). Uma perspectiva que Phi-lips retoma até as últimas linhas de seu comentário,em que repete que “não nos cabe profetizar sobre o

futuro da Igreja, sobre seus insucessos e desenvolvi-mentos. O futuro desta Igreja, que Deus quis fazer oreflexo de Cristo, Luz dos Povos, está em Suas mãos”(ibid., v. II, p. 314).

A percepção da Igreja como reflexo da luz de Cris-to aproxima o Concílio Vaticano dos Padres da Igre-ja, que desde os primeiros séculos recorriam à ima-

38 30DIAS Nº 7/8 - 2011

Ao mesmo tempo, devemos perceber como um dado objetivo acorrespondência entre a percepção da Igreja expressa na Lumen gentiume a já compartilhada nos primeiros séculos do cristianismo. Em outras palavras, a Igreja não deve ser pressuposta como um sujeitofechado em si mesmo, preestabelecido. A Igreja se atém ao dado de que a sua presença no mundo floresce epermanece como reconhecimento da presença e da ação de Cristo

A missão dos apóstolos, afresco do século X, Tokali Kilise, Göreme, Turquia

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gem do mysterium lunae, o mistério da lua, para su-gerir qual era a natureza da Igreja e a ação que lheconvém. Como a lua, “a Igreja resplandece não porluz própria, mas pela luz de Cristo” (“fulget Ecclesianon suo sed Christi lumine”), diz Santo Ambrósio.Para Cirilo de Alexandria, “a Igreja é iluminada pelaluz divina de Cristo, que é a única luz no reino das al-mas. Há, portanto, uma só luz: nessa única luz res-plende todavia também a Igreja, que não é porém opróprio Cristo”.

Nesse sentido, merece atenção a opinião dada re-centemente pelo historiador Enrico Morini, num arti-go publicado no site www.chiesa.espressonline.it, deSandro Magister.

Segundo Morini – que é professor de História doCristianismo e das Igrejas na Universidade de Bolo-nha –, o Concílio Vaticano II pôs-se “na perspectivada mais absoluta continuidade com a tradição do pri-meiro milênio, segundo uma periodização não pura-mente matemática, mas essencial, uma vez que o pri-meiro milênio de história da Igreja foi o da Igreja desete concílios, ainda indivisa [...]. Promovendo a re-novação da Igreja, o Concílio não pretendeu introdu-zir algo novo – como desejam e temem, respectiva-mente, progressistas e conservadores –, mas retornarao que se havia perdido”.

A observação pode gerar equívocos, se for con-fundida com o mito historiográfico segundo o qual oitinerário histórico da Igreja é uma progressiva deca-dência e um distanciamento crescente de Cristo e doEvangelho. Também não é possível dar crédito a con-traposições artificiosas, segundo as quais o desenvol-vimento dogmático do segundo milênio não seriaconforme à Tradição compartilhada durante o pri-meiro milênio da Igreja indivisa. Como evidenciou ocardeal Charles Journet, apoiando-se também nobeato John Henry Newman e em seu ensaio sobre odesenvolvimento do dogma, o depositum que rece-bemos não é um depósito morto, mas vivo. E tudo oque é vivo se mantém vivo desenvolvendo-se.

Ao mesmo tempo, devemos perceber como umdado objetivo a correspondência entre a percepçãoda Igreja expressa na Lumen gentium e a já compar-tilhada nos primeiros séculos do cristianismo. Em ou-tras palavras, a Igreja não deve ser pressuposta comoum sujeito fechado em si mesmo, preestabelecido. AIgreja se atém ao dado de que a sua presença no mun-do floresce e permanece como reconhecimento dapresença e da ação de Cristo.

Às vezes, também em nossa mais recente atualida-de eclesial, essa percepção do ponto de origem daIgreja parece para muitos cristãos ofuscar-se, e pareceacontecer uma espécie de reviravolta: de reflexo dapresença de Cristo (que com o dom de Seu Espíritoedifica a Igreja), passa-se a perceber a Igreja como uma

realidade material e idealmente empenhada em ates-tar e realizar por si mesma sua presença na história.

Desse segundo modelo de percepção da naturezada Igreja, que não é conforme à fé, derivam conse-quências concretas.

Se a Igreja percebe-se no mundo como reflexo dapresença de Cristo, como deve ser, o anúncio doEvangelho só pode acontecer no diálogo e de modolivre, renunciando a qualquer meio de coerção, quermaterial, quer espiritual. É o caminho indicado porPaulo VI em sua primeira encíclica, Ecclesiam Suam,publicada em 1964, que expressa perfeitamente oolhar para a Igreja que é próprio do Concílio. O modocomo o Concílio encarou as divisões entre os cristãose, depois, entre os fiéis de outras religiões reflete amesma percepção da Igreja. Assim, o pedido de per-dão pelas culpas dos cristãos, que surpreendeu e ge-

rou discussões no corpo eclesial quando foi apresen-tado por João Paulo II, também é perfeitamente con-soante com a consciência de Igreja que até aqui des-crevi. A Igreja pede perdão não por seguir lógicas deetiqueta mundanas, mas porque reconhece que ospecados de seus filhos ofuscam a luz de Cristo, que elaé chamada a refletir em seu rosto. Todos os seus filhossão pecadores chamados pela ação da graça à santi-dade. Uma santificação que é sempre dom da miseri-córdia de Deus, que deseja que nenhum pecador –por mais horrível que seja o seu pecado – seja acor-rentado pelo maligno na via da perdição. Assim, po-demos compreender a fórmula do cardeal Journet: aIgreja é sem pecado, mas não sem pecadores.

A referência à verdadeira natureza da Igreja comoreflexo da luz de Cristo têm também implicações pasto-rais imediatas. Infelizmente, no atual contexto, regis-tramos a tendência de alguns bispos a exercerem seu

30DIAS Nº 7/8 - 2011 39

Os apóstolos Paulo, João, Tiago Maior,

Tiago Menor e Bartolomeu,

portal sul da Catedral de Chartres

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40 30DIAS Nº 7/8 - 2011

Talvez, no mundo atual, fosse mais simples e reconfortante poder ouvirpastores que falam a todos sem dar a fé por pressuposta. Como reconheceuBento XVI durante sua homilia em Lisboa em 11 de maio de 2010, “muitas vezes preocupamo-nos afanosamente com as consequências sociais, culturais e políticas da fé, dando por suposto que esta fé existe, o que é cada vez menos realista”

Pentecostes, mosaico da primeira metade do século XI do mosteiro de Hosios Loukas, Chaidari, Atenas

magistério por meio de pronunciamentos pela mídia,em que frequentemente se dão prescrições, instruçõese indicações sobre o que devem ou não devem fazer oscristãos. Como se a presença dos cristãos no mundofosse o produto de estratégias e prescrições e não sur-gisse da fé, ou seja, do reconhecimento da presença deCristo e de sua mensagem. Talvez, no mundo atual,

fosse mais simples e reconfortante poder ouvir pasto-res que falam a todos sem dar a fé por pressuposta. Co-mo reconheceu Bento XVI durante sua homilia em Lis-boa em 11 de maio de 2010, “muitas vezes preocupa-mo-nos afanosamente com as consequências sociais,culturais e políticas da fé, dando por suposto que esta féexiste, o que é cada vez menos realista”. q

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Curtas Curtas Curtas Cu

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Palácio Apostólico de Castel GandolfoDomingo, 7 de agosto de 2011

Estimados irmãos e irmãsNo Evangelho deste domingo, encontra-mos Jesus que, retirando-se sobre o mon-te, reza durante a noite inteira. Separadotanto da multidão como dos seus discípu-los, o Senhor manifesta a sua intimidadecom o Pai e a necessidade de rezar em soli-dão, ao abrigo dos tumultos do mundo. Noentanto, este seu afastar-se não deve serentendido como um desinteresse pelaspessoas, nem como um abandono dosApóstolos. Pelo contrário – narra são Ma-teus – pediu que os discípulos entrassem nabarca a fim de “O preceder na outra mar-gem” (Mt 14, 22), para os encontrar de no-vo. Entrementes, “já a uma boa distânciada margem, a barca era agitada pelas on-das, pois o vento era contrário” (v. 24), eeis que “pela quarta vigília da noite, Jesusveio até eles, caminhando sobre o mar” (v.25); os discípulos ficaram transtornados e,pensando que se tratava de um fantasma,“soltaram gritos de terror” (v. 26), pois nãoO reconheceram, não compreenderamque era o Senhor. Mas Jesus tranquiliza-os:“Coragem, sou eu. Não tenhais medo!” (v.27). Trata-se de um episódio, do qual os

Padres da Igreja hauriram uma grandiosariqueza de significado. O mar simboliza avida presente, a instabilidade do mundo vi-sível; a tempestade indica todos os tipos detribulação, de dificuldade que oprime o ho-mem. A barca, ao contrário, representa aIgreja construída por Cristo e norteada pe-los apóstolos. Jesus deseja educar os discí-pulos a suportar com coragem as adversi-dades da vida, confiando em Deus,n’Aquele que se revelou ao profeta Elias nomonte Horeb, no “murmúrio de uma bri-

ANGELUS

“Unicamente com as tuas forças, não consegues levantar-te. Segura na mão d'Aquele que desce até ti”

¬

Santo Agostinho, imaginandoque se dirigia ao apóstolo,comenta: o Senhor “humilhou-se e pegou-te pela mão. Unicamente com as tuas forças, não consegueslevantar-te. Segura na mãod'Aquele que desce até ti”(Enarrationes in Psalmos 95, 7),e diz isto não apenas a Pedro,mas di-lo também a nós

Capa

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urtas Curtas Curtas Curtas3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO

Jesus salva Pedro das águas, mosaico da Catedral de Monreale, Palermo

30DIAS Nº 7/8 - 2011 43

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Curtas Curtas Curtas Cu3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUN

44 30DIAS Nº 7/8 - 2011

sa ligeira” (1 Rs 19, 12). Depois, este tre-cho continua com o gesto do apóstolo Pe-dro que, tomado por um impulso de amorpelo Mestre, pediu para ir ao seu encontro,caminhando sobre as águas. “Mas, redo-brando a violência do vento, teve medo e,começando a afundar, gritou: ‘Senhor, sal-va-me!’” (Mt 14, 30). Santo Agostinho,imaginando que se dirigia ao apóstolo, co-menta: o Senhor “humilhou-se e pegou-tepela mão. Unicamente com as tuas forças,não consegues levantar-te. Segura na mãod’Aquele que desce até ti” (Enarrationesin Psalmos 95, 7), e diz isto não apenas aPedro, mas di-lo também a nós. Pedro ca-minha sobre as águas não pelas suas pró-

prias força, mas pela graça divina, na qualcrê, e quando se sente dominado pela dú-vida, quando deixa de fixar o olhar em Je-sus e tem medo do vento, quando nãoconfia plenamente na palavra do Mestre,quer dizer que, interiormente, se está aafastar dele, e é então que corre o risco deafundar no mar da vida, e é assim tambémpara nós: se olharmos unicamente paranós mesmos, tornamo-nos dependentesdos ventos e já não conseguimos atraves-sar as tempestades, as águas da vida. Ogrande pensador Romano Guardini es-

O grande pensador Romano Guardini escreveque o Senhor “está semprepróximo, dado que seencontra na raiz do nossopróprio ser. Todavia, temosque experimentar o nossorelacionamento com Deusentre os polos da distância e da proximidade. Pela proximidade somosfortalecidos, pela distância,postos à prova”

Jesus salva Pedro das águas, detalhe

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30DIAS Nº 7/8 - 2011

urtas Curtas Curtas CurtasNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO 3ODIAS NO MUNDO

creve que o Senhor “está sempre próximo,dado que se encontra na raiz do nosso pró-prio ser. Todavia, temos que experimentaro nosso relacionamento com Deus entreos polos da distância e da proximidade. Pe-la proximidade somos fortalecidos, peladistância, postos à prova” (Accettare sestessi, Brescia 1992, p. 71) [Em portu-guês, A aceitação de si mesmo, Ed. PalasAthenas].

Caros amigos, a experiência do profetaElias, que ouviu a passagem de Deus, e adificuldade da fé do apóstolo Pedro levam-

nos a compreender que o Senhor, aindaantes que O procuremos ou invoquemos,é Ele mesmo que vem ao nosso encontro,abaixa o céu para nos estender a sua mãoe nos elevar à sua altura; Ele espera unica-mente que nos confiemos de maneira totala Ele, que seguremos realmente a suamão. Invoquemos a Virgem Maria, mode-lo de confiança plena em Deus para que,no meio de tantas preocupações, proble-mas e dificuldades que agitam o mar danossa vida, ressoe no nosso coração a pa-lavra tranquilizadora de Jesus que nos diz,também a nós: Coragem, sou eu, não te-nhais medo! , e aumente a nossa fén’Ele.culdades que agitam o mar da nossavida, ressoe no nosso coração a palavratranquilizadora de Jesus que nos diz, tam-bém a nós: Coragem, sou eu, não tenhaismedo!, e aumente a nossa fé n’Ele.

Invoquemos a Virgem Maria,modelo de confiança plenaem Deus para que, no meiode tantas preocupações,problemas e dificuldades queagitam o mar da nossa vida,ressoe no nosso coração a palavra tranquilizadora de Jesus que nos diz,também a nós: Coragem, sou eu, não tenhais medo!, e aumente a nossa fé n'Ele

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IGREJA/1Primeiro milênio.Notas de método

Settimo cielo, o blog do vatica-nista Sandro Magister para a re-vista L’Espresso, apresentou umdebate sobre a Tradição católica eo Concílio Vaticano II. Este é o in-cipit de um escrito do professorEnrico Morini, professor de His-tória do cristianismo e das Igrejasjunto à Universidade de Bolonha,publicado em 15 de julho: “O pro-blema já não é o que se entendapor tradição, mas se houve ummomento em que no Ocidente te-nha acontecido alguma coisa pelaqual este fluxo vital, que nunca seinterrompeu – não quero por na-da colocar em dúvida esta fidelida-de da minha Igreja à tradição! –,tenha-se, assim por dizer, turva-do. Na minha opinião, isso acon-teceu de modo relevante justa-mente no final do primeiro milê-nio, donde a minha individuaçãode um critério hermenêutico doConcílio Vaticano II precisamentena volta à experiência comum daIgreja indivisa. Também a Ortodo-xia seria igualmente necessitadade uma tal “reforma” da sua vidaeclesial – mesmo se em medidasensivelmente menor em relaçãoao Ocidente católico-romano –,sempre seguindo o mesmo crité-rio. Aliás, já começou a fazê-la(pode-se pensar na ‘volta aos Pa-dres’ iniciada pela teologia russada emigração) e na eventualidadede que este retorno à própria tra-dição chegasse também às fontesda eclesiologia ortodoxa – liber-tando-a dos elementos impró-prios acumulados em séculos depolêmicas – então até mesmo ogrande problema do primado ro-mano seria talvez suscetível a so-luções ainda hoje não imaginá-veis. Neste âmbito da Igreja Cató-lica ainda há muita estrada a serfeita [...] isso foi demonstrado al-guns dias atrás na preconizada su-cessão da cátedra episcopal mila-nesa: sem a menor objeção sobrea qualidade da escolha – conside-rada a elevadíssima personalidadedo eleito – o método deixou-me

atônito. Transferir um bispo deuma grande Igreja que conta comraízes apostólicas (Aquileia – Gra-do – Veneza) a uma outra grandeIgreja, que conta, ao lado de umgrande presente, igualmente umgrande passado (é suficiente pen-sar na tradição ambrosiana) re-corda com muita proximidade atransferência de um funcionário,merecedor, de uma prefeitura auma outra mais prest igiosa e

comprometedora. O episódio pa-receu-me o sintoma de um grandedesequilíbrio eclesiológico”.

IGREJA/2Como nos dias do assassinato de Aldo Moro. (9 de maio de 1978)

No Corriere della Sera de 28 deagosto, Alberto Melloni reflete

A Basílica patriarcal de Santa Maria Assunta em Aquileia

A descoberta do cadáver de Aldo Moro na Via Caetani em Roma, a 9 de maio de 1978

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sobre a introdução do “8 pormil” (a contribuição do Estadoitaliano para a Igreja): “O dinhei-ro dado à CEI (Conferência Epis-copal Italiana), de fato, foi gasto(quase sempre) muito bem: colo-cou em ordem um patrimônioque a Fundação de edifícios deCulto do Ministério do Interiornão podia manter, financiou mui-ta solidariedade. Não faltam assombras: certamente financiouinteresses e comprou consensosà venda, deu confiança a incom-petentes em finanças e em cultu-ra, protegeu operações mesqui-nhas (por outro lado, como expli-cava um grande cardeal italiano,em assunto de dinheiro “os pa-dres criminosos confiam sempreem criminosos, porque eles mes-

mos são criminosos; os padresbons confiam nos criminososporque são bons”). [...] Porémaquele dinheiro corroeu algumacoisa mais profunda para a Igrejaitaliana: foi a sua fé na pobreza

como caminho necessário daIgreja, segundo o límpido ditadoda constituição conciliar Lumengentium, 8. Porque – como ensi-nou o emergir dos crimes de pe-dofilia – cada conselho evangéli-co pode ser vivido de modo ex-trínseco ou profundo: e como asuperficialidade exalta as imora-lidades, a sinceridade mesmo fra-ca aumenta as virtudes. Assim apouca confiança, pode-se dizerassim, na pobreza subtraiu àIgreja uma credibilidade da qualhoje teria necessidade, para par-ticipar na virada que estamos vi-vendo como um fator de unidadeprofunda do país. [...] Algumacoisa que seja límpida e não polí-tica como um tal ato de fé – comtodas as consequências de rigor e

de transparência que isso com-porta – daria aos bispos ou mes-mo acrescentaria aquele créditodo qual eles, espectadores de la-mentos e de lutas de carreiraeclesiástica despudoradas, ne-

cessitam e do que mais precisa opaís. Nos dias mais difíceis da suahistória pós-fascista – 8 de se-tembro de 1943 e 9 de maio de1978 – a Itál ia encontrou naIgreja um apoio insubstituível enaqueles gestos de coragem aIgreja ganhou uma credibilidadeque foi capitalizada por décadas.Ninguém pode excluir que dias,felizmente diferentes na forma,mas não menos comprometedo-res na substância, estejam atual-mente diante do país”.

IGREJA/3Messori: o primeiro milênioe a Igreja que não é nossa mas Sua

Vittorio Messori, no Corriere del-la Sera de 31 de agosto, refletesobre a queda de vocações que in-vestiu várias congregações reli-giosas. Essa foi a sua conclusão:“Certamente é doloroso assistirao declínio de instituições bene-méritas e mães de tantos santos econstatar a dor dos cristãos quederam a vida a Famílias que ama-vam e que, agora veem extinguir-se. Mas, na perspectiva de fé, nãopode existir nada realmente preo-cupante. A Providência que guiaa história (e muito mais a Igreja,próprio corpo de Cristo) sabe oque faz: ‘Tudo é Graça’, repetin-do as últimas palavras do cura dacampanha de Bernanos. A Igrejanão é um fóssil, mas uma árvoreviva onde, sempre, alguns ramostornam-se áridos, enquanto ou-tros desabrocham e florescem.Quem conhece a sua história sabeque nela, a exemplo do Fundador,a morte é seguida pela ressurrei-ção, muitas vezes em formas hu-manamente imprevistas. Não de-ve ser esquecido que no primeiromilênio cristão havia apenas pa-dres seculares e monges: todas asfamílias religiosas apareceramapenas a partir do segundo milê-nio. Frades e irmãs não existirampor muitos séculos, portanto,mesmo deixando uma recorda-ção gloriosa e nostálgica, pode-riam não mais existir no futuro

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Paulo VI durante a missa de sufrágio de Aldo Moro, a 13 de maio de 1978,

na Basílica de São João de Latrão

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(é uma hipóteses extrema) ou, aomenos, ter sempre menos peso einfluência. A certeza é que, em ca-da geração, em muitos cristãoscontinuará a se acender a necessi-dade de viver o Evangelho sineglossa, na sua radicalidade. Qualnovo rosto assumirá a vida consa-grada por inteiro ao aperfeiçoa-mento pessoal e a serviço do pró-ximo? Bem, o conhecimento dofuturo nos é impedido, é monopó-lio d’Aquele que, através de po-bres homens, guia uma Igreja quenão é nossa, mas Sua”.

SAGRADO COLÉGIOA morte dos cardeais Noè,Ambrozic e Deskur

No dia 24 de julho faleceu o car-deal italiano da região da Lombar-dia, Virgilio Noè, 89 anos, arci-preste emérito da Basílica de SãoPedro no Vaticano. No dia 26 deagosto faleceu o cardeal canaden-se Aloysius Matthew Ambrozic, 81anos, arcebispo emérito de Toron-to. No dia 3 de setembro faleceu ocardeal polonês Andrzej MariaDeskur, 87 anos, presidente emé-

rito do Pontifício Conselho para asComunicações Sociais. Naqueladata, o Sagrado Colégio resultavacomposto por 193 membros dosquais 114 eleitores.

SANTA SÉ/1Bertello e Sciacca na cúpulado Governatorato vaticano

No dia 3 de setembro, Bento XVIaceitou a renúncia do cardeal Gio-vanni Lajolo, 76 anos, do cargo depresidente da Pontifícia Comissão

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O Corriere della Sera de 25 de agosto fez a re-censão de um minucioso estudo de Roberto Car-tocci sobre o catolicismo na Itália publicado pelaeditora Il Mulino. As estatísticas do estudo mos-tram uma Itália dividida em um Norte descristiani-zado e um Sul no qual a devoção católica ainda es-tá presente. Eis a recensão do jornal: “Cartocci re-leva também que à secularização acompanha-seum processo oposto, pela presença de movimen-tos que reforçariam o catolicismo italiano, garan-tindo à Igreja um peso político decisivo. É assimmesmo? A pesquisa indica uma aceleração da se-cularização na metade da década de 1980. NoCongresso de Loreto de 1985, a Igreja italianadeslocou o baricentro das tradicionais associaçõesque tinham como base a paróquia (Ação Católica,Acli, Scout) para os novos movimentos (Comu-

nhão e Libertação, Santo Egídio,entre outros). Deu-se fim assim, aum período de grande articulaçãodo catolicismo italiano, que, pa-gando o preço de alguns conflitos,cobria um amplo espectro de sensi-bilidades e, pela dimensão nacio-nal das associações, toda a penín-sula. Os movimentos mostram, aoinvés, um arraigamento geográficolimitado, não influenciando nasparticularidades da Igreja meridio-

nal relevadas por Cartocci. Se por um lado criou-se a impressão de força do núcleo firme do catoli-cismo italiano, por outro, a redução da sua articu-lação interna levou à aceleração da secularizaçãojustamente nas áreas nas quais é mais forte a pre-sença dos movimentos (indicativo o caso de Co-munhão e Libertação e da Lombardia). Contrastara secularização não é fácil, provavelmente nemmesmo possível. É legítimo perguntar-se se esco-lhas diferentes teriam atenuado a fratura denun-ciada por Cartocci”.

João Paulo II discursa no Congresso eclesial “Reconciliação cristã

e comunidade dos homens”, Loreto, abril de 1985

Roberto Cartocci, Geografia dell'Italia cattolica

[Geografia da Itália católica], ed. Il Mulino,

Bolonha, 2011, 182 pp.

RESENHAMovimentos e descristianização

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para o Estado da Cidade do Vatica-no e presidente do Governatoratodo mesmo Estado, “solicitandopara que permaneça no cargo atédia 1º de outubro de 2011, comtodas as faculdades inerentes a taisofícios”. Ao mesmo tempo o Papanomeou como sucessor de Lajoloo arcebispo da região do PiemonteGiuseppe Bertello, 69 anos, desde2007 núncio Apostólico na Itália ena República de San Marino, “oqual assumirá os citados ofícios dia1º de outubro próximo”. Ainda nodia 3 de setembro Bento XVI no-meou como secretário do Gover-natorato, elevando-o à sede epis-copal titular de Vittoriana, monse-nhor Giuseppe Sciacca: nascidoem Catânia 56 anos atrás, consa-grado sacerdote em 1978 peladiocese de Acireale, desde 1999Sciacca era prelado auditor do tri-bunal da Rota Romana.

SANTA SÉ/2O’Brien pró-grão-mestre da Ordem do Santo Sepulcro

No dia 29 de agosto o Papa acei-tou as demissões do cardeal JohnPatrick Foley, 76 anos, do cargode grão-mestre da Ordem Eques-tre do Santo Sepulcro de Jerusa-lém e nomeou como pró-grão-mestre monsenhor Edwin Frede-rick O’Brien, 72 anos, que desde2007 era arcebispo de Baltimore.

ORIENTE MÉDIO/1Israel e o terror da paz

“Os políticos israelenses estão ter-rorizados pela paz. Tremem, como terror da possibilidade da paz.Porque sem guerra e sem mobili-zação geral, não sabem como vi-ver. Israel não vê como um mal ab-soluto os mísseis que caem sobreos vilarejos ao longo da fronteira.Ao contrário: os políticos ficariampreocupados, até mesmo alarma-dos, se não caísse esse fogo”. Es-tas são as palavras de ZygmuntBauman, judeu polonês que sofreuo horror do Shoah e do grande ex-purgo de Stálin, em uma contro-

versa entrevista concedida à revis-ta polonesa Politika e retomada,na Itália, pelo Corriere della Serade 2 de setembro.

ORIENTE MÉDIO/2Grossman, o messianismo e o estreito caminho da paz

“‘A guerra não é o nosso desti-no’. Com um caloroso apelo, oescritor israelense David Gros-sman continua a pensar que exis-

ta um estreito caminho para apaz, mesmo agora que os ventosde guerra voltaram a soprar for-te. ‘Hoje parece-nos muito difícilimaginá-lo porque significariaaceitar compromissos doloro-sos’. [...] ‘Obviamente’, conti-nua, ‘sempre existirá o risco denovos fanáticos de um lado comode outro que farão de tudo paraacabar com a paz em nascimen-to’”. Este é o incipit de um artigopublicado no La Repubblica de21 de agosto que prossegueapresentando uma outra refle-xão do escritor israelense: “Seformos bastante inteligentes, co-rajosos e afortunados para che-gar à paz, o mundo ficará surpre-so em ver como os israelenses eos palestinos podem trabalharjuntos e utilizar seus talentos pa-ra começar uma vida normal”.Depois, falando sobre a situaçãointerna do seu país, o escritorconcluiu: “Há uma constante re-troação da democracia. Um gru-po de judeus messiânicos seques-trou o Estado inteiro. Uma pe-quena minoria impõe o nossosistema de valores, a nossa políti-ca, o nosso futuro. [...] Não te-nho confiança na boa vontadedos países árabes. Mas o exércitonão pode ser o único meio parapermanecer aqui”.

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Crianças palestinas em Gaza

Giuseppe Bertello

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FINANÇAS/1As finanças e a criminalidade organizada não querem vínculos

“Os Estados sempre se fundamen-taram em duas bases: o poder (ouseja, fazer as coisas) e a política (ouseja, imaginá-las e organizá-las). Aglobalização move-se sem política.Precisa de rapidez. Odeia vínculos.Mais ou menos como o banditis-mo. As regras são um obstáculo.Por isso no mundo, os mercadosmais prósperos são os criminosos eos financeiros. Não importa se se-jam sujos ou limpos. Isso não nos

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Quarenta e dois milhões de dólares. É o valor quesete fundações americanas teriam concedido nosúltimos dez anos para financiar a fábrica do medodo islã, uma rede de atividades destinadas a desa-creditar os muçulmanos e a gerar no público umverdadeiro e próprio terror dos seguidores de Mao-mé. A acusação está presente em um relatório de

138 páginas escrito parao “Center for AmericanProgress”, por uma equi-pe de seis pesquisadores.O relatório denuncia acrescente is lamofobiaamericana, definida como“o excesso de temor, oódio e a hostilidade contrao islã e os muçulmanos,perpetrados através de es-tereótipos negativos dosquais nascem o precon-ceito, a descriminação, amarginalização e a exclu-são dos muçulmanos davida social, política e civilamericana”. Exemplos clamorosos, as

campanhas contra as mesquitas e a Sharia, a lei is-lâmica. Segundo o relatório, as faces da “FearInc.”, da “Medo Corporation” seriam cinco: os fi-nanciamentos, os especialistas islamófobos, as or-ganizações de militantes em grande parte ligadas àdireita religiosa, a mídia e os políticos”. Notícia pu-blicada no Corriere della Sera de 29 de agosto.

A Mesquita Azul,

visitada por Bento XVI

em 30 de novembro de 2006,

Istambul

MUNDOConstrutores do inimigo islâmico

Uma sede da Lehman Brothers

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faz refletir? Palavras de ZygmuntBauman, sociólogo e filósofo nojornal La Stampa de 7 de agosto.

FINANÇAS/2O New York Timese as dúvidas sobre as agências de rating

Logo depois do rebaixamento dorating dos Estados Unidos por par-te da agência Standard & Poor’s,que teve consequências trágicaspara a economia mundial, PaulKrugman, prêmio Nobel para aeconomia e respeitável colunistado The New York Times, escre-veu: “O enorme déficit de balançodos Estados Unidos é antes de maisnada o produto da recessão econô-mica que seguiu à crise financeirade 2008. Com as suas parceiras –as outras agências de rating – S&P

teve um papel determinante na ati-vação desta crise, estabelecendoum rating AAA para asset garanti-dos por financiamentos hipotecá-rios que se revelaram em seguidaum lixo tóxico. Mas as suas avalia-ções erradas não se limitam a isso.Sabe-se que S&P deu um rating Apara Lehman Brothers – cuja falên-cia causou pânico em nível global –até o próprio mês da sua quebra. Ecomo reagiu a agência de ratingquando faliu esta sociedade à qualtinha dado um rating A? Fazendouma declaração oficial com a qual

desmentia ter cometido qualquererro. Portanto são essas as pessoasque agora se pronunciam em méri-to de confiabilidade creditícia dosEstados Unidos da América?”. Oartigo foi republicado no La Re-pubblica de 9 de agosto.

ESTADOS UNIDOSQuando o Estado tutela os mais fortes

“Enquanto a maior parte dos ameri-canos têm dificuldade de chegar aofim do mês com seu salário, nós su-per-ricos continuamos a gozar defacilidades fiscais extraordinárias.[...] Essas e outras vantagens noscaem do céu, graças aos legislado-res de Washington, que se sentemobrigados a proteger-nos, quase co-mo se fôssemos corujas malhadasou outras espécies em via de extin-ção”. É um trecho do discurso domagnata americano Warren Buffetno The New York Times, republi-cado no La Repubblica de 17 de

agosto, que provocou vários deba-tes nos Estados Unidos e no mundo.

DIPLOMACIA/1Relações diplomáticas entre a Santa Sé e a Malásia

No dia 27 de julho foi anunciadaoficialmente a decisão da Santa Sée da Malásia de estabelecer plenasrelações diplomáticas.

DIPLOMACIA/2Novos núncios em Cuba e no Japão

No dia 6 de agosto o arcebispo ita-liano da região da Apúlia, BrunoMusarò, 63 anos, foi nomeadonúncio em Cuba; desde 2009 erarepresentante no Peru. Em 15 deagosto o arcebispo indiano Jo-seph Chennoth, 68 anos, foi no-meado núncio no Japão; desde2005 era representante pontifíciona Tanzânia. q

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Polêmicas de verão sobreFrancesco Totti. Em um arti-go publicado no Corriere del-la Sera, Giovanni Bianconiescreveu, explicando porqueo capitão do Roma não é ape-nas um jogador, mas tambémum símbolo do Roma e de Ro-ma, “um pouco Pasquino, umpouco Marquês del Grillo. Eum pouco como Catão, oCensor interpretado por Vit-torio Gassman, que adverteMarcello Mastroianni no pa-pel de Cipião Africano: “Estanão é a República de Platão,mas a lamacenta cidade deRômulo. É preciso que teacalmes um pouco”. O artigofoi publicado em 4 de setem-bro com o título: De Catão aPasquino. Porque Totti nãoé apenas futebol. Francesco Totti

CULTURATotti não é apenas futebol

Warren Buffet

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Tudo é graça: o olhar dirigido a São CarlosSim, “tudo é graça”. Também essenosso encontro. Sinto sobre mim amão da providência de Deus. É es-ta providência que fez com quemeu último ano como guia pasto-ral da diocese de Milão coincidissecom o IV centenário da canoniza-ção de São Carlos Borromeu,ocorrida em 1º de novembro de1610 com o papa Paulo V. Sintoque devo agradecer ao Senhorporque este foi um ano muito in-tenso, rico de iniciativas de grandesignificado espiritual, pastoral ecultural para a Igreja ambrosiana.

Permito-me assinalar apenasalguns fatos, recordando antes detudo o início deste centenário queteve como importante evento acarta apostólica de Bento XVI Lu-men caritatis, de 1º de novembrode 2010, no mesmo dia do aniver-sário da canonização, evento im-portante e para mim particular-mente feliz pela possibilidade deler e apresentar a carta do Papa

Cardeal Dionigi Tettamanzi

Igreja

SÃO CARLOS BORROMEU

A casa construídasobre a rocha“Tudo o que São Carlos fez e realizou, o edificou sobre a rocha indestrutível que éCristo, na plena coerência e fidelidade aoEvangelho, no amor incondicionado pela Igrejado Senhor”. O discurso do arcebispo eméritode Milão no Meeting de Rímini

O cardeal Dionigi Tettamanzi

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aos fiéis ambrosianos na solenida-de de São Carlos, dia 4 de novem-bro do ano passado. Na, carta oSanto Padre delineia em síntese al-guns aspectos fundamentais dasantidade de Borromeu.

Gostaria de recordá-los.O primeiro aspecto recorda a

sua obra como bispo reformador.São Carlos, colocando em açãocom sabedoria e originalidade osdecretos do Concílio de Trento, re-formou a Igreja que ele amava pro-fundamente; aliás, justamente por-que a amava com um amor sincero,quis renová-la, contribuindo paradar-lhe novamente o seu rosto maisbelo, o da Esposa de Cristo, umaesposa sem manchas e sem rugas.

Um segundo aspecto da santi-dade de Carlos Borromeu: foi umhomem de oração, de oraçãoconvicta, intensa, prolongada, re-forçada e florescente na sua vidade pastor. Se São Carlos foi apai-xonado pela Igreja, o foi porqueantes ainda fora apaixonado peloSenhor Jesus, presente e operan-te na Igreja, na sua tradição doutri-nal e espiritual, presente na Euca-ristia, na Palavra de Deus. Princi-palmente foi apaixonado por Cris-to crucificado, como nos docu-menta a iconografia que, não poracaso, é-nos transmitida com aimagem deste santo em contem-plação e em adoração da Paixão eda Cruz do Senhor.

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Acima, São Carlos visita e cuida dos pestilentos, Giovanni Battista Crespi, chamado o Cerano, Catedral de Milão. No hino da liturgia em honra de São Carlos,Urbis parentem Carolum, fala-se da caridade materna do bispo ao se dedicar aosdoentes de peste: «Dum saevit annus letifer, ut mater aegris assidet / Enquanto infúria o ano da peste, como uma mãe cuida dos doentes»

São Carlos salvo milagrosamente do atentado, Giovanni Battista della Rovere,chamado o Fiammenghino, Catedral de Milão

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Enfim, Carlos Borromeu foisanto – recorda-nos o Papa – por-que soube encarnar a figura do pas-tor zelante e generoso, e pelo o re-banho que lhe fora confiado aosseus cuidados estava pronto a sacri-ficar toda a própria vida: São Car-los foi realmente “onipresente” nadiocese de Milão, com suas visitaspastorais, foi preocupado de ma-neira profética e incisiva com osproblemas do seu tempo; princi-palmente, como os grandes bisposda Idade Média, foi autenticamentepater pauperum, pai dos mais po-bres e dos mais fracos: é suficientepensar no que soube realizar tam-bém do ponto de vista caritativo eassistencial durante os dramáticosmomentos de carestias e da pestede 1576. A carta do Papa intitula-se justamente Lumen caritatis,porque refere-se de modo explícitoà caridade pastoral que diariamen-te e de maneira heroica São Carlossoube viver e praticar.

Na verdade, assim como Cris-to deu sua vida pela nossa salva-ção, São Carlos literalmente “dis-solveu” a própria vida na carida-de pastoral. Desde o momentoem que se tornou bispo de Milão,de modo programático e sistemá-tico ele antepôs a causa do Evan-gelho e o bem da Igreja a tudo: àspróprias comodidades, aos inte-resses particulares e pessoais, aosinteresses da família ou do círculode amizades, ao próprio tempo li-vre, a tal ponto que não tinhamais tempo para si mesmo, vistoque todo o tempo à disposição deum bispo – dizia o próprio SãoCarlos – deve ser usado para a sal-vação das almas.

O centenário de Milão a RíminiPara mim é uma grande alegriaque o centenário de São Carlos,iniciado com a palavra do Papa,em um certo sentido se concluaaqui em Rímini, com este eventoque se apresenta com sua duplaface; cultural e espiritual.

Sem qualquer dúvida há o as-pecto cultural: com efeito, hoje éinaugurada uma mostra didáticasobre a vida e a obra pastoral deCarlos Borromeu; há painéis, le-gendas, materiais de multimídia;há um catálogo com contribuiçõescientíficas. Tudo isso é importan-

te, porque permite que se conhe-ça sempre melhor, além das mui-tas simplificações e outras leiturasparciais ou até mesmo ideologica-mente preconceituosas, a verda-deira face deste grande bispo, au-têntico intérprete da reforma tri-dentina da Igreja.

Pessoalmente, faço questão deevidenciar principalmente o as-pecto espiritual da iniciativa, co-mo claramente emerge no títuloescolhido pelos organizadores pa-ra esta mostra: “A casa construí-da sobre a rocha”. A referência é àcélebre página que conclui o Dis-curso da Montanha, com a pará-bola dos dois homens que cons-troem a sua casa, o primeiro sobre

a areia, e o outro sobre a rocha. Oresultado é obviamente previsível:a casa do primeiro, diante das pri-meiras adversidades da vida e àstempestades da história, desabainexoravelmente; a casa do segun-do, apesar das dificuldades da vidae dos transtornos da história ficaem pé e resiste. E a rocha sobre aqual a casa foi construída é CristoSenhor, é o seu Evangelho de ver-dade e de vida (cf. Mt 7, 24-27).

Na verdade essa parábola podeser referida de modo particular aSão Carlos e à sua obra: tudo o queele fez e realizou, o edificou sobre arocha indestrutível que é Cristo, naplena coerência e fidelidade aoEvangelho, no amor incondiciona-

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Igreja

O milagre de Carlino Nava, Giulio Cesare Procaccini, Catedral de Milão

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do pela Igreja do Senhor. Por issoo que São Carlos edificou resistiuàs tempestades dos seus tempos;resistiu também às intempéries dosséculos que passam, como teste-munha o fato de que hoje mui-tas das suas intuições, muitasdas soluções pastorais e insti-tucionais propostas por ele ouprefiguradas conservam umasua permanente validade, umasua incisiva atualidade, nãoapenas para a diocese de Milão,para também para toda a Igreja la-tina ocidental.

Um santo atual ou inatual?Não falo por acaso de “atualida-de”, porque devo confessar a vo-cês que muitas vezes, durante estecentenário, perguntei-me, repas-

sando os aspectos salientesda santidade de Carlos Bor-romeu, se ele ainda hoje érealmente um santo“atual”: ou seja, se tem al-guma coisa de grande signi-ficado para dizer ao nossopresente, se ainda hoje épara nós – como foi quatro-centos anos atrás – um mo-delo de vida evangélica nãoapenas para admirar, mastambém de várias maneiraspara imitar.

Talvez seja uma pergun-ta meio desnecessária, àqual podemos sem dúvidaresponder positivamente:sim! Ainda hoje São Carlosfala a nós, ainda hoje paranós é um válido modelo desantidade. E a carta do Pa-pa da qual nos inspiramos,a própria mostra organiza-da aqui em Rímini, as inicia-tivas de vários tipos queconstelaram este ano “ca-rolino”, provam isso de ma-neira irrevogável.

Certamente não pode-mos correr o risco de cairem algum anacronismo,porque devemos reconhe-cer abertamente que muitascoisas na Igreja e no mundode hoje mudaram com rela-ção à situação da Igreja e dasociedade do final do séc.XVI. Devemos também re-conhecer que alguns aspec-

tos da ação pastoral de São Carlos– assim como alguns aspectos doseu estilo de vida (pensemos prin-cipalmente à sua rigorosíssima as-cese penitencial) – não são mate-rial e automaticamente reproponí-veis hoje sem necessárias e ade-quadas mediações.

Mas, apesar desta óbvia consta-tação, que por outro lado vale sem-pre quando nos referimos aos per-sonagens do passado, há algunspontos salientes da santidade deCarlos Borromeu que, no seu sig-nificado mais profundo e evangéli-co, realmente têm um valor pere-ne. E portanto um valor tambémpara a nossa vida de cristãos doterceiro milênio, na medida emque também nós, hoje como elequatrocentos anos atrás, quere-mos “construir a nossa casa sobrea rocha”, como “homens sábios”.

E ainda assim, deste ponto devista, a figura de São Carlos émuito provocatória, porque colo-ca em crise muitos aspectos domodo de pensar e de viver do mun-do atual. É por isso que durante ocentenário, reunindo algumas ex-periências e recordações pessoaisdo meu aproximar-me e do entrarem relação com a figura de Borro-meu, decidi escrever também umlivro com um título sugestivo e esti-mulante: São Carlos, um refor-mador inatual.

Gostaria de deter-me um pou-co nesse adjetivo. “Inatual”, comefeito, contrapõe-se imediata-mente a “atual”. Porém, são doistermos que só aparentemente secontrapõem, porque um pode fa-cilmente traspassar no outro. As-sim, se por exemplo por “atual”entende-se “segundo a moda domomento”, “segundo a mentali-dade do tempo presente”, “se-gundo a opinião partilhada pelamaioria”, é claro que São Carlos é“inatual”. Já dissemos isso e que-remos sublinhar para uma melhorcompreensão da atualidade-ina-tualidade: os tempos de Borro-

meu não são os nossos; o seumodo de ler os problemas e

de resolvê-los não é o nos-so, nem mecanicamentepodemos tomar algumasdas suas soluções e aplicá-las ao nosso mundo, “atual”precisamente.

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SÃO CARLOS BORROMEU. A casa construída sobre a rocha

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O anel episcopal de São Carlos, Museu da Catedral de Milão

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E vice-versa: se por “inatual”entende-se aquilo que se enraízanos valores fundamentais da tradi-ção cristã, se por “inatual” enten-de-se ficar ancorados àquela rochaque é Jesus Cristo e que dá verda-deira firmeza à toda a construçãoda casa, se tudo isso é julgado ina-tual apenas porque não se adaptaàquilo que hoje é considerado “po-liticamente correto”, devemos en-tão perguntar-nos se a inatualida-de de São Carlos não se transfor-ma em uma singular e urgente“atualidade” de reconsideração,de reavaliação das nossas medidasde juízo, de reforma do nosso mo-do de viver e de conviver.

A inatualidade profética e benéfica para o nosso tempoNessa linha, tomando-os da biogra-fia de São Carlos, apresento trêsexemplos, procurando aplicar-lhesaos nossos tempos “atuais”.

O primeiro refere-se à fidelida-de ao dever do próprio estado devida como forma própria da iden-tidade do cristão. Borromeu teve aconsciência muito viva do que po-deria significar ser bispo de uma im-portante diocese em tempos difíceisde transição, de reforma e demudança: e justamentepor isso procurou sem-pre adequar as suasescolhas e as suasações a uma verda-deira “deontolo-gia”, à qual perma-neceu fiel de ma-neira heroica ediante da qual soubesacrificar todo o resto.

São Carlos solicitavaeste sentido de dever tam-bém aos seus padres, pelos ofí-cios que estes deveriam cumprir;e o solicitava aos fiéis leigos,homens e mulheres, segundoa sua condição. Era o primeiroque não aceitava os meios-ter-mos e os acomodamentos,com um fácil rebaixamentoem nome de uma pálida me-diocridade.

Os historiadores nos re-cordam que quando era jovem

cardeal em Roma, antes da suachamada “conversão”, tinha vivi-do um “cristianismo sem infâmiase sem louvores”. Este é justamen-te o risco que todos nós cristãoscorremos, os próprios padres ebispos: contentar-se de uma vidacristã insípida, na qual evita-sejustamente o mal “macroscópico”(que poderia causar-nos infâ-mias), mas que se reduz ao míni-mo indispensável para colocar emordem a própria consciência, semmuitos abalos.

Hoje, quando todos nós senti-mo-nos já prontos e não queremossaber de muitos desassossegos, fa-lar de “conversão” poderia, justa-mente, parecer “inatual”, ou pelomenos inoportuno. Ao contrário oexemplo de São Carlos é atualíssi-mo e particularmente urgente,porque sempre na Igreja os cris-tãos, todos os cristãos, de todos osníveis, são chamados a “converte-rem-se” de um cristianismo “seminfâmia e sem louvores”, de umcristianismo incolor e insípido (ouseja, sem a luz e o sal do Evange-lho), a uma vida cristã convicta, lú-cida e vigilante, no exercício fiel dopróprio dever sempre e em todos

os lugares, à busca de um cami-nho de perfeição que nos

conforma sempre maisao modelo de toda aperfeição: Cristo Je-sus, nosso Senhor.É exatamente oque São Carlos fezde modo progra-mático e sistemáti-co: o seu exemplo

não nos permite descul-pas ou diversivos. Ele érealmente sempre atual,porque chama os cristãosde todos os tempos, cha-ma também a nós cris-tãos do terceiro milênioà perene e irrenunciá-vel necessidade de noscolocarmos em discus-são. Particularmentedevo dizer que da leiturados escritos de São Car-los e das suas indica-

ções pastorais tive bemclara a impressão de queele vivesse com uma gran-de inquietude a distância –que por outro lado sempre

existe – entre a meta altíssima àqual o Senhor nos chama (a santi-dade) e a nossa concreta resposta.Se São Carlos sentia-se em falta –e disso nascia a sua inquietude, oseu não sentir-se com a consciên-cia tranquila –, o que nós podemosdizer ou fazer? Então surge umapergunta à qual não podemos nossubtrair: onde, em quais âmbitosda nossa vida, do nosso dever deestado, devemos ainda “converter-nos”, imitando São Carlos, parasair de uma vida cristã medíocre,“sem infâmia e sem louvores”?

Carlos Borromeu é atual tam-bém por um outro aspecto: a for-midável capacidade de saberconjugar de modo equilibrado aação e a contemplação. Todos co-nhecemos as muitas imagens deSão Carlos absorvido na oração,principalmente diante do Crucifi-xo, imerso em verdadeiras e pró-prias experiências místicas. Mas aforte dimensão contemplativa queele sempre soube incutir à própriavida jamais afastou-o do própriodever de pastor de almas. Ao con-trário, podemos afirmar que eletornou-se um dos grandes mode-los de bispo e de pastor justamenteporque a sua atividade pastoral eraprofundamente permeada de ora-ção e de contemplação. São Car-los “fez” muito na sua vida, foraminúmeras as obras que levou a ter-mo; aliás perguntamo-nos maravi-lhados como fazia para encontrartempo e forças para fazer tudo oque fez. Vem-nos espontâneo di-zer que tudo o que fez tem algo mi-lagroso: é isso mesmo! Realmentehá algo milagroso porque tudo erapleno de oração, de conversa comDeus, permeado de contemplaçãoamorosa dos mistérios da salvaçãode Cristo, começando pela Suapaixão, morte e ressurreição. Essaé a mensagem sempre atual quenos vem de São Carlos: a comu-nhão com Deus, a oração, a con-templação não nos arrancam dahistória, mas nela nos imergem emprofundidade, dando-nos a forçade fazer também milagres no mun-do e para o mundo. No entanto onosso é um tempo adoecido peloativismo, frenético em fazer, com-prometido em produzir bens e ser-viços se não se quer desperdiçá-lo.Desse modo o nosso tempo acaba

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O báculo de São Carlos, Museu da Catedral de Milão

Igreja

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por avaliar a pessoa não pelo que émas pelo que produz. Em seme-lhante contexto, não se deve talvezfalar de contemplação, de medita-ção, de oração e de silêncio, comoo que de mais “inatual” o nossotempo poderia experimentar? Po-rém a verdade é exatamente o con-trário. São Carlos apela para quenão nos deixemos enganar por es-

sa espécie de droga, mas para quereportemos ordem na nossa vida,recuperando o primado de Deussobre tudo, na certeza de que o res-to virá como consequência. É amesma advertência do Senhor:“Buscai em primeiro lugar o Reinode Deus e a sua justiça, e todas es-sas coisas vos serão dadas poracréscimo” (Mt 6, 33).

E se há um aspecto de atividadepastoral de São Carlos que mais doque outro impressionou os seuscontemporâneos a ponto de quejustamente por isso começaram aconsiderá-lo excepcional, foi a suaatividade caritativa. Principalmen-te durante a terrível peste de 1576ele privou-se literalmente de tudo,dos bens de família, dos bens pes-

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O milagre de Virginio Casati, anônimo lombardo, Catedral de Milão

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soais, não apenas das coisas supér-fluas, mas mesmo das coisas indis-pensáveis desde que pudesse ajudaro povo de Milão atingido pela epi-demia. E não se prodigou apenasnos momentos de emergência, fezcom que algumas instituições carita-tivas se mantivessem além do daemergência da peste, consciente deque a pobreza, a necessidade, amarginalização, a degradação so-cial e moral são uma emergência desempre, de todos os momentos. Defato, em todos os momentos SãoCarlos brilhou como paterno socor-redor dos pobres, de cada pobre, dequalquer um que estendesse a mãopara pedir-lhe ajuda. E foi também– para usar uma terminologia danossa cultura atual – um “santo so-cial”: soube ler à luz do Evangelhoos problemas sociais do seu tempo,indicou algumas soluções concre-tas, não teve nenhum medo de de-nunciar as pragas da sociedade, co-mo a corrupção pública, a práticada usura, os privilégios de algumascastas, a falta do que hoje chamaría-mos “consciência cívica” ou “aten-ção ao bem comum”.

Mas há ainda um outro aspectoda santidade de Borromeu que me-

rece ser evidenciado: é a dimen-são ascética da sua vida. Nesteponto ele foi muito rigoroso, aponto de causar fortes críticas emal-entendidos entre os que vi-viam ao seu lado. Foi pobre, casto,humilde, penitente, praticava comgrande seriedade o jejum, prolon-gava a oração nas horas noturnaspara não diminuir o tempo diurnodos compromissos pastorais, redu-zia seu repouso ao mínimo, aliás ti-nha a tendência de não repousarpor nada. Sabemos que os médi-cos sempre o repreendiam pornão cuidar-se suficientemente, eele, como resposta, dizia que, se al-guém obedece aos médicos, nãopode ser um bom bispo! A mortechegou quando tinha apenas 46anos, selou uma vida que se tinhaconsumido literalmente nas práti-cas ascéticas. Esse é um aspectoque nos deixa maravilhados, comoficaram seus contemporâneos quejustamente perguntavam-se seSão Carlos fosse imitável nestasvirtudes devido a seu caráter de he-roicidade. E hoje também nós nosperguntamos, porém sem cair nainsídia de julgar excessivo o exercí-cio das virtudes ascéticas assim co-mo as viveu São Carlos, ou seja,julgá-lo “inatual” segundo os parâ-metros da nossa sensibilidadeatual. Semelhante juízo não pode-ria ser um modo tranquilizante deautoeximir-se da tarefa de imitá-lo? É-nos solicitando, antes demais nada, a honestidade de des-cobrir nisso um aspecto de grandeatualidade: com efeito, falar hojede “ascese”, de “penitência”, de“renúncia”, expõe-nos ao risco desermos zombados e julgados pes-soas fora do tempo e do mundo,justamente pertencentes a ummundo de muitos séculos atrás. Eno entanto, exatamente nós temosnecessidade de uma chamada in-tensa para purificar o nosso estilode vida e torná-lo mais sóbrio, a re-descobrir o autocontrole e o domí-nio dos sentidos, dos instintos edas paixões incontroladas: comocaminho de uma liberdade interior

que nos torna donos de nós mes-mos e do nosso autêntico caminhopara o verdadeiro, o bem, o justo eo belo.

O anel, o báculo, o cáliceConcluo voltando a falar da mostraque hoje é inaugurada, chamandoa atenção a uma parte original. Nocentro da mostra estão expostas

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São Carlos se prepara à morte no Sacro Monte de Varallo, detalhe,

Giovanni Battista della Rovere, chamadoo Fiammenghino, Catedral de Milão

Igreja

O cálice de São Carlos,Museu da Catedral de Milão

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não três obras de arte, mas três au-tênticas relíquias, que de algummodo revelam a personalidade deSão Carlos, são uma epifania doseu coração, uma manifestação doseu segredo espiritual.

Antes de tudo encontramos oanel de Borromeu. E o anel de umbispo fala-nos simbolicamente dasua ligação esponsal com a Igreja

que lhe foi confiada. Portanto é osinal do amor pastoral, da fidelida-de ao ministério, da própria dedi-cação total.

Depois encontramos o bastãopastoral: é o símbolo da autorida-de e do governo do bispo. Mas,como sabemos, está em questãouma autoridade que não poderájamais ser atuada como puro

exercício de poder. A imitação deCristo – o Bom Pastor por anto-nomásia – o exercício do governopastoral coincide com a oferta daprópria vida até a plena consuma-ção de si. Assim fez Cristo, assimfizeram os santos pastores, comoCarlos Borromeu.

Enfim pode-se ver o seu cálice,o que foi usado por ele para cele-brar o sacrifício eucarístico. Estecoloca-se como testemunho da vi-da de oração que o bispo deve ter;como chamada que, em últimaanálise, é o sacrifício de Cristo so-bre a cruz, são a sua palavra e osseus sacramentos – nos quais épresente e eficaz a sua ação de sal-vação – a edificar a Igreja, a ilumi-ná-la, animá-la e guiá-la.

Como eu dizia no início, com oIV centenário da canonização deSão Carlos cheguei à conclusãodo meu mandato pastoral na Igre-ja de Milão. Pois bem, devo con-fessar que estes três “símbolos”expostos (o anel, o báculo e o cáli-ce de São Carlos) acendem emmim uma profunda alegria espiri-tual, ao pensamento de que comoos recebi dos meus predecessoreslogo também eu os transmitirei aomeu sucessor.

É o belíssimo mistério da “tradi-tio”, da tradição viva da Igreja, que– como nos ensinou São Carlos – éverdadeiramente “a casa construí-da sobre a rocha”! Sim, “caiu achuva, vieram as enchentes, osventos deram contra a casa, mas acasa não desabou, porque estavaconstruída sobre a rocha” (Mt 7,25). Isso vale para a Igreja que nosantecedeu no tempo, para a Igrejaque estamos vivendo agora, para aIgreja que se abre ao futuro: umaIgreja sempre cheia da graça e doamor do seu Esposo e Senhor. Éentão que sem nenhum medo, mascom a inalterável e sobrepujanteconfiança que nos vem de Cristo,que todos juntos somos chamadosa prosseguir o nosso caminho paraa santidade, ouvindo a sua palavrae tornando-a experiência cotidia-na de vida: “Portanto, quem ouveestas minhas palavras e as põe emprática é como um homem sensa-to, que construiu sua casa sobre arocha” (Mt 7, 24).

Que São Carlos possa nos aju-dar! q

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SÃO CARLOS BORROMEU. A casa construída sobre a rocha

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C hegou há pouco às livrariasitalianas o ensaio de Massi-mo Borghesi, Augusto

Del Noce. La legittimazione cri-tica del moderno [Augusto DelNoce. A legitimação crítica da mo-dernidade] (Marietti 1820). São370 páginas que documentamdensamente a aventura intelectualdo grande filósofo católico.

Massimo Borghesi é professortitular de Filosofia Moral na Uni-versidade de Perúgia.

Professor, mais de vinteanos após a morte de AugustoDel Noce (1910-1989) conti-nuam a ser escritos livros so-bre ele, um dos maiores inte-lectuais italianos do séculoXX. Qual é a novidade desteúltimo livro, que acaba de sairpela Marietti?

MASSIMO BORGHESI: Háessencialmente duas novidades.Do ponto de vista historiográfico,é a primeira vez que alguém tentareconstruir organicamente o de-senvolvimento do pensamento deDel Noce, no intervalo de tempoque vai de 1943 a 1978, numaprofunda conexão entre o mo-mento filosófico e o histórico-polí-tico. Normalmente, a abordagemque faziam desse autor privilegiavao tratamento de blocos temáticosdistintos, sem que ficasse clara arelação entre eles. A segunda no-vidade é de cunho interpretativo.A finalidade desse livro, como o

Il Mulino, editora laica de Bolonha, consagrou o filósofo católico Augusto Del Noce como autor nacional italiano, mostrando a fecundidade de seu ponto de vista. Uma demonstração de abertura crítica para o moderno, que antecipava o Concílio Vaticano II. Entrevista com Massimo Borghesi, professor titular de Filosofia Moral

Augusto Del Noce

A modernidade não é o “inimigo”

por Gianni Valente

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subtítulo deixa bem claro, é evi-denciar “a legitimação crítica domoderno” realizada por Del Noce.Trata-se de uma leitura que de fatoliberta o filósofo do estereótipo depensador, certamente genial, masvoltado para o passado, críticoconservador do tempo presente.Uma etiqueta que pesou por muitotempo sobre Del Noce, e que foiacolhida acriticamente tambémpor muitos católicos.

De que modo a sua revisãoatinge esse objetivo?

Em primeiro lugar, esclarecen-do qual é o ponto genético da re-flexão delnociana. Para Del Noce,o verdadeiro ponto de início, emsentido especulativo, é 1943, oano da queda do regime fascista,um evento que o provoca a pen-sar sobre o tempo histórico. Éaqui que a obra de Jacques Mari-tain, o grande filósofo católicofrancês, se revela decisiva. DelNoce, como ele mesmo lembravana entrevista que deu a 30Giorniem abril de 1984, leu o Humanis-me intégral de Maritain assimque saiu na França, em 1936. Es-

se foi o ano da guerra italiana con-tra a Etiópia, um evento que mar-caria o período de maior consen-so em torno do regime fascista, eque provocaria em Del Noce, aocontrário, um sentimento de re-pulsa e de oposição moral a Mus-solini e ao fascismo, consideradocomo mero reino da força, deuma força brutal sem justiça. Épreciso que se diga que essa opo-sição tinha um ponto de referên-cia importante em Aldo Capitini –o futuro organizador das marchaspela paz Perúgia-Assis, que DelNoce conheceu em 1935, justa-mente em Assis. Lido nesse con-texto, o livro de Maritain esclare-ceu a Del Noce a inconciliabilida-de ideal entre catolicismo e totali-tarismo. Isso, de fato, libertava oscatólicos da utopia “medievalis-ta”, antimoderna, que impeliamuitos deles a uma adesão ao fas-cismo, entendido, erroneamente,como uma força conservadora,uma espécie de precioso aliado naluta contra a modernidade.

Mas o encontro com Mari-tain serviu para Del Noce ape-

nas como antídoto para o cle-ricofascismo?

Maritain foi quem, entre 1943 e1945, libertou Del Noce do “com-plexo” de Benedetto Croce, se-gundo o qual os católicos, enquan-to católicos, não podiam, em ra-zão de sua fé (integralista e autori-tária), ser liberais e antifascistas co-mo os leigos. Maritain demonstra-va, ao contrário, que só a perspec-tiva religiosa podia preservar a li-berdade e os direitos da pessoa.Para isso precisava, porém, distin-guir entre cristianismo e cristanda-de, entre a fé e suas realizações his-tóricas, sempre contingentes. Nis-so se incluía também a cristanda- ¬

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Paulo VI e Jacques Maritain durante a cerimônia de encerramento do Concílio Ecumênico Vaticano II, em 8 de dezembro de 1965

Massimo Borghesi. Augusto Del Noce.La legittimazione critica del moderno.Genova - Milano: Marietti 1820, 2011,368 pp.

Para Maritain, nisso seguido por Del Noce, a modernidade, que vem depois das guerras de religião e da divisão da Igreja, já não pode pressupor a fé como “a priori”, como paradigma comum jáprefixado e pacificamente acolhido. O moderno é o tempo em que a verdade pode e deve ser buscada e proposta na liberdade

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de medieval, assumida como mo-delo por aqueles cristãos que olha-vam com desconfiança para todo omundo moderno e contrapunhamverdade e liberdade, acabando pordesposar qualquer possível autori-tarismo clerical. Para Maritain, nis-so seguido por Del Noce, a moder-nidade, que vem depois das guer-ras de religião e da divisão da Igre-ja, já não pode pressupor a fé co-mo “a priori”, como paradigmacomum já prefixado e pacifica-mente acolhido. O moderno é otempo em que a verdade pode edeve ser buscada e proposta na li-berdade. Essa convicção é o pontofundamental que está na origem da“legitimação crítica do moderno”de Del Noce. Nos escritos de1943-1946 há afirmações que an-tecipam, com grande lucidez, asconclusões do Concílio Vaticano IIsobre a liberdade religiosa. O pon-to mais significativo é que Del No-ce põe suas afirmações num hori-zonte que retoma Santo Agosti-nho: se a fé é, segundo a doutrinacristã, obra da graça, então nãopode ser imposta de forma coerci-tiva. A prioridade da graça leva aoreconhecimento do momento in-substituível da liberdade, até emsentido político. Daqui vem tam-bém a superioridade da democra-cia, concebida, com Capitini, co-mo lugar do “convencimento” e danão violência.

Como se articula o projetode Del Noce para estabelecerum encontro positivo entre ocatolicismo e liberdades mo-dernas?

Esse projeto se desenvolve emdois planos: um político e um filo-sófico. No plano político, nós o ve-mos empenhado ao longo de toda

a década de 1950 na tarefade revestir teoricamente oprojeto de Democracia Cristãformulado por Alcide De Gas-peri, a sua concepção do qua-dro democrático girando em tor-no da aliança entre católicos, lei-gos e socialistas democráticos.Del Noce tem a secreta ambiçãode ser o “filósofo de De Gasperi”.Para dar fôlego ao projeto políticodo estadista, era preciso sair do in-tegrismo reacionário e de seuoposto especular, o modernismo,um e outro herdeiros da filosofia dahistória do século XIX, marcada,para os católicos, pelo medievalis-mo e pela oposição ao moderno.Só assim a Democracia Cristã po-dia conciliar democracia e cristia-nismo. Para tanto, e esta é a se-gunda linha de investigação da in-tensa reflexão delnociana, era pre-ciso desconstruir todo o quadro dopensamento moderno: aquelequadro codificado por Hegel e peloidealismo, aceito pelo marxismo ecompartilhado, ainda que em for-ma de oposição, pela neoescolásti-ca tomista. Para esse pensamento,o moderno é o tempo da seculari-zação (ou do ateísmo), em que aemancipação e a liberdade do ho-mem caminham pari passu com oseu distanciamento de Deus e dafé. Entre 1954 e 1958, Del Nocesubverte essa perspectiva.

De que modo?Reconhecendo que a moderni-

dade não é una, é “dupla”. Nãoparte de Descartes apenas o filãodo racionalismo que culmina emHegel e Marx. De Descartes partetambém um filão agostiniano,cristão-moderno, que passa porPascal, Malebranche, Vico, e cul-mina em Antonio Rosmini, o pen-

sador em que catolicismo e liber-dade encontram sua síntese. Erao filão personalista do moderno,que liga a liberdade do homem àexistência de Deus, contrapostoao espinoziano-hegeliano, emque panteísmo e ateísmo culmi-

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Augusto Del Noce

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Acima, as capas das primeiras edições de duas obras de Augusto Del Nocepublicadas por Il Mulino: Il problemadell’ateismo, de 1964,e Riforma cattolica e filosofia moderna,volume I: Cartesio, de 1965

Augusto Del Noce

Para dar fôlego ao projeto político do estadista, era preciso sair do integrismo reacionário e de seu oposto especular, o modernismo, um e outro herdeiros da filosofia da história do século XIX, marcada, para os católicos, pelo medievalismo e pela oposição ao moderno. Só assim a Democracia Cristã podia conciliar democracia e cristianismo

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nam no totalitarismo político.Tratava-se de uma verdadeira des-coberta, graças à qual a posiçãoreacionária era definitivamentesuperada e o encontro entre cris-tianismo e democracia liberal epersonalista podia, enfim, obterlegitimação.

Em seu livro, todo um capí-tulo é dedicado à relação en-tre Del Noce e a editora Il Mu-lino. Trata-se, certamente, deum capítulo original.

Del Noce colaborou assidua-mente com a editora de 1957 a1965. Ali, publicou, além de mui-tos ensaios na revista Il Mulino,duas de suas obras mais impor-tantes: Il problema dell’ateismo,em 1964, e Riforma cattolica efilosofia moderna, volume I:Cartesio, em 1965. Il Mulino ti-nha nascido na esteira do diálogoe do confronto de posições entrecatólicos, leigos e socialistas. DelNoce entrou em sintonia particu-larmente com Nicola Matteucci eLuigi Pedrazzi. Os pontos de con-tato eram a valorização do quadri-partido de De Gasperi, a supera-ção das tendências integristas,presentes tanto entre os católicosquanto entre os leigos, e tambéma passagem do antifascismo ideo-lógico – promovido pelo PartidoComunista – para o pós-fascismo.A época de Il Mulino é extrema-mente fecunda. Não só a editoraconsagra Del Noce como um au-tor nacional, mas ele tem a opor-tunidade de pôr à prova a fecundi-dade do seu ponto de vista, se-gundo o qual o catolicismo é origi-nal só quando não é subalterno,ou seja, quando não parte da con-traposição a um adversário na de-finição de si mesmo. Por isso, tan-to a posição reacionária quanto amodernista fracassam. Como elemesmo escreveria em 1968: “Aoposição à sociedade do bem-es-tar não pode ser feita do ponto devista reacionário, e isso simples-mente porque a oposição entreprogressivo e reacionário é inter-na a sua linguagem”.

O que significa isso, espe-cificamente, na relação entrecristianismo e modernidade?

Significa, para Del Noce, quenão é possível valorizar a tradição,quer a filosófica, quer a religiosa,

permanecendo numa perspectivareacionária. E a valorização da tra-dição, de suas “virtualidades”, co-mo as chama Del Noce seguindoNewman, permite encontrar asexigências mais autênticas do mo-derno. É nesse sentido precisoque a sua perspectiva coincidiacom a do Vaticano II.

Um aspecto interessante einédito levantado pela sua pes-quisa é que na década de 1960Del Noce reatou relações comFranco Rodano, o autor comquem tinha compartilhado aexperiência católico-comunis-

ta durante a fase de “resistên-cia”, entre o outono de 1943 ea primavera de 1944.

É verdade. Sempre salientam,e com justiça, a crítica de Del No-ce a Rodano contida em Il cattoli-co comunista , publ icado em1981. Mas se esquecem de quedo início da década de 1960 até oCongresso de Lucca, em 1967,Del Noce e Rodano tinham reata-do relações por meio de uma cor-respondência, infelizmente aindainédita. A noção de “sociedadeopulenta”, que está no centro doensaio de 1963 Appunti sull’ir-religione occidentale, contidoem Il problema dell’ateismo, de-rivou de Franco Rodano. O ano

de 1963 marca o início de umanova fase da reflexão de Del No-ce. De fato, ele percebe que umaépoca estava-se concluindo: a erapós-bélica da reconstrução, a eracrociano-degasperiana, marcadapelo encontro entre as compo-nentes laico-liberais e as cristãs. Anova sociedade do bem-estar jánão precisava das forças religio-sas para se opor ao comunismo.O novo Ocidente já era capaz devencer pela dilatação da socieda-de do bem-estar. Uma sociedademarcada pelo primado da razãoinstrumental, mais irreligiosa queo ateísmo comunista, vitoriosa nopróprio terreno do comunismo, odo materialismo. Assim, em 1963Del Noce intui, também à luz deRodano, o novo adversário da féna era pós-marxista. Em outraspalavras, ele vislumbra um tempoem que a relativização de qualquerideal virá a se encontrar com umavisão tecnocrática do mundo. Éessa perspectiva que lhe permitevalorizar, em 1975, a lição de PierPaolo Pasolini, como mais lúcidointérprete do novo totalitarismoda dissolução.

Em relação a essa perspec-tiva, bastante dramática, oDel Noce da década de 1960vislumbra alguma saída?

Ele enxergava possibilidades,sem, todavia, poder indicar positi-vamente onde desembocariam. Omomento histórico expunha duasquestões que conflitavam entre si.De um lado, a crise do marxismo –embora este viesse a conhecer uminesperado revival depois da con-testação de 1968 – dava lugar a umretorno ideal do pari, da apostapascaliana: no exato momento emque o ateísmo perdia seu revesti-mento científico, a possibilidade deuma revitalização da opção religio-sa voltava a ser atual. Mas era ape-nas uma possibilidade, não neces-sariamente algo efetivo. Del Nocenunca deduziu filosoficamente anecessidade da opção religiosa. Deoutro lado, havia o triunfo da socie-dade opulenta, e portanto o da irre-ligião ocidental sobre o marxismo,que esvaziava qualquer possível re-nascimento religioso. Duas dinâmi-cas conflitantes, que o Del Noce dadécada de 1960 não pôde nemqueria solucionar. q

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Franco Rodano

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Em julho de 1656, Rem-brandt, à beira da bancarro-ta, decidiu leiloar todos os

bens conservados na grande casade Jodenbreestraat. Como partedo procedimento, em 24 e 25 da-quele mês foi realizado o inventá-rio pela Desolate Boedelskamer deAmsterdã. Um inventário extre-mamente longo, no qual a certa al-tura são listadas três tábuas compinturas do rosto de Cristo. Umaem particular é definida nestes ter-mos: “Cristus tronie nae’t leven”.Literalmente: “Cabeça de Cristo apartir do real”. O que indicava essaespecificação “a partir do real”? Oprimeiro estudioso que publicouesse inventário, em 1834, pensouque se tratasse de um deslize domagistrado holandês, e não achounada melhor para fazer senão fin-gir que não era nada e suprimir es-sa nota. Dois anos depois, um ob-servador atento notou essa censu-ra e, para resolver o enigma, pro-pôs uma interpretação decidida-mente forçada: “em tamanho na-tural”. Mas, em holandês, esse“nae’t leven”, contração de “naarhet leven”, não deixa espaço paraambiguidades: significa “tomado apartir do real”, ou seja, de modelovivo. Por que o anônimo inventa-rista teria sentido a necessidade deespecificar isso, quase como se setratasse de um traço identificadordessa série de pequenas cabeçasde Cristo? Para responder a essapergunta, o Louvre e os museus daPhiladelphia e de Detroit uniramforças para organizar uma dasmais extraordinárias mostras dosúltimos anos. A mostra, que emParis é intitulada Rembrandt e afigura de Cristo – e que nas etapasamericanas da Filadélfia (até 30 deoutubro) e de Detroit (de novem-bro a fevereiro de 2012) terá um tí-tulo muito mais direto: Rem-

Arte

Rembrandt comovido pelo rosto de Jesuspor Giuseppe Frangi

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MOSTRA. Rembrandt e o rosto de Cristo

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brandt e o rosto de Cristo –, vemacompanhada por um belíssimocatálogo, publicado por uma edito-ra italiana (Officina Libraria).

O coração da mostra, que reu-niu algumas obras-primas absolu-tas, como as variantes que Rem-brandt pintou sobre o tema daCeia de Emaús, é constituído pelasala em que as três cabeças citadasno inventário foram reunidas e ou-tras quatro, todas em tábua, que acrítica com o tempo recuperou. Aimportância particular desses qua-dros para o pintor é demonstradapelo fato de que dois deles, segun-do o inventário, estavam pendura-dos em seu quarto de dormir: masisso não bastou para convencer a

crítica de sua autografia. Assim, oRembrandt Research Project, umainstituição que é chamada a “certi-ficar”, entre a imensa massa deobras atribuídas ao mestre holan-dês, as que são seguramente desua mão, chegou a suprimir as setetábuas do catálogo. Hoje, o traba-lho desse time de críticos, apoiadotambém em análises científicasrealizadas sobre as obras, voltou agarantir a autografia de quatro des-sas Cabeças, deixando para as ou-tras uma atribuição “no ateliê deRembrandt”. Nesse meio-tempoapareceram também alguns exem-plares que certamente documen-tam uma série de outros originaisperdidos. Sinal de que esse era umtema de grande importância paraRembrandt, e de que muitos o pe-diam a ele.

Mas qual é o motivo de um tãosutil ostracismo da crítica peranteessas obras? Certamente tem a vercom aquele “nae’t leven” que dei-xou confusos os estudiosos portanto tempo. Rembrandt vivia nu-ma sociedade já solidamente pro-testante, em que também a con-cepção da arte tinha mudado pro-fundamente. Décadas antes, em1566, o conflito com o catolicismodesembocara numa violenta cam-panha iconoclasta, com a destrui-ção de muitíssimas obras nas igre-jas dos Países Baixos. Ao sul do rioEscalda, os católicos tinham reto-mado o controle da situação, vol-tando a encher as igrejas de An-tuérpia graças à energia fluvial dePieter Paul Rubens; ao norte, aocontrário, a história foi mudadapara sempre. Os artistas tinham-sedesviado para cenas da vida coti-diana, alimentando um mercadoque já não era caracterizado porgrandes encomendas, mas poruma nova classe de ricos compra-dores. Os temas religiosos tinham-se rarefeito muito, com um claro ¬

O grande artista holandês pintou uma série de “retratos” do Senhor,fazendo posar como modelo um judeu de Amsterdã. Para chegar o maispróximo possível da verdade. Pela primeira vez essas obras, geralmentepouco consideradas pela crítica, foram reunidas numa bela mostra, que,depois de passar por Paris, chegou aos Estados Unidos

Rembrandt,A ceia de Emaús, 1648, Museu do Louvre, Paris; abaixo, o detalhe do rosto de Cristo

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prevalecimento de cenas do Anti-go Testamento. A imagem de Je-sus estava no centro de um debateacalorado: um dos alunos de Rem-brandt, Jan Victors, chegou mes-mo a afirmar que havia o risco deuma “idolatria”.

Nesse contexto, no entanto,Rembrandt agiu com absoluta liber-dade. É claro que sua produção cir-culava privadamente, quando nãoficava restrita a ele mesmo. Mas éevidente que ele sentia uma necessi-dade profunda, quase insuprimível,de estar frente a frente com a figurade Cristo. A experiência de Cara-vaggio, que tinha tirado as repre-sentações da vida de Jesus da pers-pectiva idealista e as levara a um ho-rizonte de credibilidade realista, for-neceram a Rembrandt uma referên-cia essencial. Rembrandt vai alémnesse caminho, lidando com o con-texto em que se encontrava. Estavamuito atento às fontes, pelos por-menores concretos que podiam for-necer. Tinha estudado a história deFlávio José, como demonstra umagravura de 1659, São Pedro e SãoPaulo à porta do Templo, em queo edifício é desenhado seguindo asindicações extraídas das Antiguida-des judaicas.

O “nae’t leven” de que fala o in-ventário sugere, nesse sentido, umelemento essencial. Rembrandt,como escreve Lloyd DeWitt, umdos curadores da mostra, procurouum modelo na comunidade judaicade Amsterdã, um pouco para con-firmar as boas relações que o liga-vam àquela comunidade, mas so-bretudo para ter diante de si um ti-po humano “etnograficamentepróximo de Cristo”. Isso represen-tava “uma recusa tanto dos este-reótipos iconográficos quanto daidolatria, por meio do realismo”.Não é por acaso que a mostra e asdescobertas relacionadas foramamplamente destacadas pela im-prensa israelense. De modo parti-cular pelo jornal Haaretz, que pu-blicou um artigo de título muito sig-nificativo: “Rembrandt’s Jewish Ie-sus”.

Segundo outro crítico, WillemAdolph Visser’t Hooft, “à primeiravista, o retrato parece o de um ra-bino, o mais profundo e delicadopossível. Mas percebemos logoque há qualquer coisa de misterio-

so. Esse Cristo está longe de nosimpressionar por sua majestade.Ao contrário, é ‘sem forma nembeleza’, não ‘eleva a voz’”. Nessasobservações está a substância dasimagens de Cristo pintadas porRembrandt. “Sem forma nem be-leza” indica a ausência de qualquerretórica, de qualquer idealismo es-tético. Cristo nos surpreende numcontexto de absoluta normalidade,tanto na ambientação quanto nacalma reflexiva de sua atitude. E“não eleva a voz”, pois Rembrandto imagina num instante de diálogo

profundo e amigável com quem es-tá à sua volta. Cristo é imaginadonum momento de intimidade, nosbastidores da sua aventura pública.Um Cristo anti-heroico, verdadei-ro na paixão do seu olhar e na ter-nura do vínculo que instaura comseu interlocutor. São imagens quese inseriam em continuidade am-biental em relação aos lugares aque eram destinadas, como se su-blinhassem sua contemporaneida-de. É isso que provavelmenteRembrandt buscava, antes de tudopara si, mas depois também parauma pequena comunidade de pes-soas que não se rendia àquele va-zio que o protestantismo tinha im-posto. Hoje suas Cabeças de Cris-to convencem justamente porqueem sua elementaridade iconográfi-ca não precisam de chaves de in-terpretação, não requerem uma“preparação” particular. Pedemapenas que sejam olhadas. q

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Acima, Rembrandt, Cabeça de Cristo,aproximadamente 1648, Museum Bredius, Haia, Países Baixos; à esquerda, Rembrandt, Retrato do bustode um jovem judeu, 1663, Kimbell ArtMuseum, Fort Worth, Texas, EUA

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Estou muito contente, portanto, com o fato de 30Giorni fazer uma nova edição destepequeno livro que contém as orações fundamentais dos cristãos, amadurecidas ao longodos séculos. Elas nos acompanham durante todas as vicissitudes da nossa vida e nos aju-dam a celebrar a liturgia da Igreja rezando. Faço votos de que este pequeno livro possa setornar um companheiro de viagem para muitos cristãos.

da apresentação do cardeal Joseph Ratzinger(eleito Papa em 19 de abril de 2005 com o nome de Bento XVI)

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