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16.00 h Projeção: A representação do árabe nestes filmes recebe dois tratamentos distintos, o que mostra sua trajetória singular no cinema brasileiro. No primeiro, o estereótipo do mundo árabe de palácios, véus e sultões é anarquizado por Oscarito (Barnabé) e Grande Otelo (Abdula) numa delirante carnavalização às superproduções hollywoodianas, típica das paródias das chanchadas da Atlântida. Na comédia de José Carlos Burle, a popular dupla de comediantes (Barnabé, malandro carioca confundido com o sexto herdeiro de Salomão por ter uma estrela de David tatuada na mão, e Abdula, o abanador-mor da princesa Zuleima) terminam ludibriando o amável Salomão, mascate a quem Barnabé deve dinheiro e que faz apenas breves aparições. No segundo filme, baseado numa história real, o mascate libanês Benjamin Abrahão embrenha-se no sertão para filmar Lampião e seu bando, e o imigrante árabe que até então fizera papéis pequenos, embora marcantes, em filmes como O Cangaceiro e Corisco, o Diabo Louro, torna-se protagonista. Ao colocar em de rasgos árabes… [cara de árabe…] São Paulo, de 2 a 5 de setembro de 2008

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Page 1: na Bienal de Veneza de 2007. Alighiero Boetti trabalhou-as ... Brasil.pdf · filme, baseado numa história real, o mascate libanês Benjamin Abrahão embrenha-se no sertão para

16.00 h

Projeção:

Barnabé, tu és meu / O baile perfumado

A representação do árabe nestes filmes recebe dois tratamentos distintos,

o que mostra sua trajetória singular no cinema brasileiro. No primeiro, o

estereótipo do mundo árabe de palácios, véus e sultões é anarquizado por

Oscarito (Barnabé) e Grande Otelo (Abdula) numa delirante carnavalização

às superproduções hollywoodianas, típica das paródias das chanchadas da

Atlântida. Na comédia de José Carlos Burle, a popular dupla de comediantes

(Barnabé, malandro carioca confundido com o sexto herdeiro de Salomão

por ter uma estrela de David tatuada na mão, e Abdula, o abanador-mor da

princesa Zuleima) terminam ludibriando o amável Salomão, mascate a

quem Barnabé deve dinheiro e que faz apenas breves aparições. No segundo

filme, baseado numa história real, o mascate libanês Benjamin Abrahão

embrenha-se no sertão para filmar Lampião e seu bando, e o imigrante árabe

que até então fizera papéis pequenos, embora marcantes, em filmes como

O Cangaceiro e Corisco, o Diabo Louro, torna-se protagonista. Ao colocar em

na Bienal de Veneza de 2007. Alighiero Boetti trabalhou-as em suas obras têxteis – Maps, Games, etc. – e em

seus textos reconhece-as como a obra de arte mais importante dos anos oitenta. Em 2001 a empresa Moritzu

desenvolveu uma máquina de tricotar que incorporava os padrões das Afghan War Rugs.

de rasgos árabes… [cara de árabe…]

São Paulo, de 2 a 5 de setembro de 2008

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1 Hilal Sami Hilal, Sherezade, 2007

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2 José Tannuri, Fragmentos vermelhos, série EQL, 2006

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IntroduçãoPrólogoSeminárioApresentações

5 13 21 43

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Introdução 5

de rasgos árabes… [cara de árabe…]

São Paulo, de 2 a 5 de setembro de 2008

A Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento

executa o seu trabalho no âmbito da cooperação cultural na América Latina

através de uma rede de Centros Culturais da Espanha que se situam nas

principais capitais desse âmbito regional. Em São Paulo, embora o Centro não

disponha ainda de uma sede definitiva que permita a programação em espaço

próprio, a AECID vem realizando uma intensa programação em associação

com uma ampla gama de instituições locais e organizações da sociedade civil.

Como já vem ficando claro para aquelas instituições e pessoas que

acompanham a nossa programação, a ênfase do trabalho que realizamos não

é a mera promoção da cultura espanhola no nosso país de acolhida, mas o

desenvolvimento de iniciativas, que impliquem atores locais, em assuntos de

interesse comum, especialmente quando estes têm possibilidades de análise

num âmbito regional, como pode ser o espaço MERCOSUL, ou diretamente o

espaço ibero-americano.

É uma prática comum também a produção de projetos em rede,

que implicam vários Centros da cooperação cultural espanhola, como é o

caso deste projeto De rasgos árabes..., no qual estão envolvidos os centros

de Buenos Aires, El Salvador, a Cidade do México, Santiago do Chile e São

Paulo. Quem nos propôs que fizéssemos uma reflexão sobre esse tema

foi justamente a diretora do Centro Cultural em Buenos Aires, comovida

pela explicação da polícia britânica que, na seqüela dos atentados

terroristas de Londres em julho de 2005, justificou seu crasso erro ao matar

o eletricista brasileiro Menezes alegando que este tinha “cara de árabe”

(?!). A reflexão proposta incidiria nesta arbitrária demarcação regional, não

de uma perspectiva acadêmica em sentido estrito, mas da perspectiva

da cotidianidade. Os Centros já citados, todos eles em países com uma

importante presença “árabe” (no sentido que o curador expõe em seu texto

a seguir), acolheram com entusiasmo a proposta.

IntroduçãoPrólogoSeminárioApresentações

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Este projeto não pretende resolver nenhuma incógnita, mas

trabalhar a partir da própria ambigüidade do termo, a partir dos próprios

tópicos, das incertezas, da acumulação de indícios; investigar não para

concluir mas para seguir agregando perguntas, dúvidas, rupturas,

contágios, cruzamentos. Trata-se de um processo de trabalho que prevê,

numa primeira fase, a realização de um seminário inicial, em cada

um dos países participantes, sobre temas específicos de cada país e uma

segunda fase, já em 2009, na qual se montará um programa itinerante,

compêndio dos aspectos mais relevantes que tiverem surgido em cada

país nos diferentes âmbitos. Assim, este seminário que apresentamos

dá continuidade ao realizado em Buenos Aires no começo de julho e

precede os que se realizarão, em ordem cronológica, em El Salvador,

na Cidade do México e em Santiago do Chile.

Isto é, terá um fechamento previsto, como todo projeto, mas

unicamente para acolher outros debates, outras vozes. Por esta razão

escolhemos como diretor do projeto um artista e curador (espanhol),

Pedro G. Romero, que trabalha sempre na corda bamba da pergunta lúcida

e da informação exagerada. Pela mesma razão escolhemos, em cada um

dos países, pesquisadores (Fernando Gerheim no caso brasileiro) não

necessariamente especialistas, mas sim com uma criativa curiosidade,

capazes de estar abertos a todas as possibilidades que o trabalho em

andamento possa suscitar. Trata-se de percorrer um caminho do qual

só sabemos o começo. O mapa que se vier a construir será incompleto e,

talvez, estranho, mas se parecerá um pouquinho com o que em alguma

medida somos.

Ana Tomé

Diretora do Centro Cultural da Espanha em São Paulo

6 de rasgos árabes…Introdução

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de rasgos árabes... é um projeto que tem um marco temporal de três anos,

nos quais pretende-se ativar todos aqueles indicadores que cultural,

social e politicamente vinculam a América Latina com o imaginário que

entendemos por mundo “árabe”.

No campo expandido da prática artística e visual contemporânea

e por meio de diferentes seminários, publicações, ciclos de cinema e

audiovisuais, edições de materiais de diversos tipos, apresentações de

autores e máquinas culturais, ensaios de museografias e pesquisas, funções

de arqueologia e ficção, mostras de músicas e escrituras, porta-vozes de

análises antropológicas e sociais, mesas de estudos e operações culturais,

visualizações de trabalhos de diferentes literaturas e artes, lugares de

arquivos e ações diferentes, práticas textuais e performativas, arquiteturas

e coreografias em seu sentido mais amplo, serão postas em circulação

novas perspectivas e representações sobre o tema, de rasgos árabes...

na América Latina.

Neste segundo seminário de São Paulo queremos apresentar

debates e análises sobre alguns dos indicadores locais que visualizam

de forma mais clara o conflito de representação do árabe, de rasgos árabes...

no contexto brasileiro, seguindo a estrutura da pesquisa que contemplamos,

em: Políticas – os conflitos sociais e simbólicos na zona conhecida como

Tríplice Fronteira entre o Paraguai, o Brasil e a Argentina e suas repercussões

no resto do país; Histórias – as desventuras identitárias da emigração

procedente da desintegração do império otomano desde finais do século

XIX; e Mitologias – o substrato cultural do árabe na polêmica civilização

e barbárie. Uma série de filmes vinculados culturalmente a este fazer do

árabe no imaginário brasileiro ilustrará as diferentes sessões do seminário.

Também concertos e apresentações de trabalhos de artistas e materiais

com de rasgos árabes... serão desdobrados nesses dias na Cinemateca

Brasileira como uma forma de introdução geral do projeto.

Como prólogo a estas jornadas e seguindo o modelo do seminário

de Buenos Aires, onde convidamos o projeto Representações árabes

contemporâneas junto com sua diretora Catherine David, queremos

convidar aqui, antes de prosseguir com as jornadas de México D.F.,

São Salvador e Santiago do Chile, a plataforma Transacciones/FADAIAT

que sobre a fronteira Espanha, Marrocos e Gibraltar produziu UNIA

arteypensamiento sob a direção de Mar Villaespesa. São várias as razões

que tornam a sua presença pertinente: fundamentalmente o entendimento

econômico da fronteira como um lugar de intercâmbio: matérias-primas,

fluxos de informação, endereços culturais. O novo âmbito geopolítico

desta fronteira sul convida a decifrar como esses intercâmbios comerciais

– gás, eletricidade, mão-de-obra imigrante, contrabandos, informação,

Introdução 7 de rasgos árabes…

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delinqüências, terrorismo etc. – marcam formas de aparição cultural na

qual o “árabe” – o traço magrebino é determinante na zona – aparece

com novas formas. Nesse sentido estas novas mutações culturais não

são muito diferentes das que aparecem na Tríplice Fronteira que, ao

sul, estreitam o Brasil, a Argentina e o Paraguai. Estes novos modelos

culturais exigem, porém, novas respostas. A plataforma Transacciones/

FADAIAT só foi possível com um conceito de produção diferente que

trabalhe com a flexibilidade institucional e permita que a resposta

cultural seja disseminada e expandida, concorrendo com a sua mesma

forma estas novas operações comerciais. O projeto será apresentado

aqui por sua produtora BNV Producciones, e estaremos atentos a essas

modificações da produção de sentido no âmbito atual das novas relações

socioeconômicas do capitalismo tardio. Em vários sentidos: a mutação do

“traço” árabe neste novo âmbito de relações, mas também o novo âmbito

expandido da cultura visual, que permite maiores cotas de democratização

horizontal e novos domínios consumistas, mercantis e espetaculares,

o desenvolvimento saudável de uma pirataria em geral ou os novos

banditismos liberais.

Basicamente estas jornadas propõem não só anunciar o projeto

de rasgos árabes..., dar-lhe uma carta de apresentação, como também

estabelecer um vínculo de trabalho, um núcleo de atração para iniciativas,

produções e projetos concomitantes, uma janela por meio da qual é

possível visualizar diferentes olhares sobre o árabe no Brasil e em outras

zonas da América Latina, nas quais iniciamos o trabalho, ser o arranque

da máquina de sentidos na qual se quer constituir de rasgos árabes...

Pedro G. Romero

Diretor do projeto de rasgos árabes...

8 de rasgos árabes…Introdução

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9 José Tannuri, Fragmentos vermelhos, série EQL, 2006

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10 Oscar Brahim, intervención en la vía pública, 2001

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11 Sebastião Miguel, O corpo e as armas, 1982

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12 Rafael Assef, Jogo 3, MJ da série Jogo de Dados, 2005

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IntroduçãoPrólogoSeminárioApresentações

Prólogo 13 Representaciones árabes contemporáneas

Transacciones/FADAIAT

São Paulo, 2 de setembro de 2008

Cinemateca Brasileira

O Estreito de Gibraltar é um espelho simétrico, no qual estão refletidas

duas cidades, Tarifa e Tânger, que há séculos se contemplam, mas que

nunca combinaram as suas imagens. A fronteira entre a Espanha e o

Marrocos é muito mais que uma fronteira política e econômica. O Estreito

é uma fronteira a partir da qual se pode ver e exteriorizar o problema da

“diversidade cultural” ou da “identidade”, conceitos estes sobre os quais o

discurso oficial se empenha em assentar grande parte dos atuais conflitos,

medos e sentimentos defensivos, que induzem a população a apoiar a

moderação, a racionalidade e principalmente a centralidade executiva do

que conhecemos como civilização ocidental.

Disso foi resultado a primeira edição de Transacciones/FADAIAT em

2004, um projeto impulsionado por UNIA arteypensamiento, articulado

em torno a múltiplas células que puseram em funcionamento um conjunto

de ações nas quais criação e ativismo concorreram para estender pontes

(in)visíveis sobre a fronteira que estrangula o Estreito de Gibraltar. O lema

sobre o qual se trabalhou, também simétrico, foi: liberdade de conhecimento/

liberdade de movimento, uma vez que o projeto foi centrado numa micro-

narrativa a partir do excesso transbordante, naqueles dias, dos movimentos

migratórios em tal lugar e de um incipiente trabalho, em ambas as margens,

que permitia multiplicar as redes de cooperação social; processos que

tornavam possíveis novas alianças entre trabalhadores migrantes e produtores

culturais: ativistas, teóricos, comunicadores, hackers e artistas; coletivos

e grupos como Hackitectura, Aljaima, Casa de Iniciativas, Zemos 98 etc.

Em 2005 e 2006 foram realizadas duas novas edições de Fadaiat,

nas quais não foi necessária a participação de UNIA arteypensamiento,

o que faz parte da lógica produtiva desse programa.

Dos trabalhos que se apresentam, Estrecho Adventure pertence ao

arquivo online multimídia Transacciones, e os outros três são uma seleção

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de trabalhos de autores marroquinos que se apresentaram no programa

Extra de vídeo do Laboratório Fadaiat, procedentes dos Arquivos de OVNI

(observatório de vídeo não identificado; www.desorg.org).

PROGRAMA

Terça-feira, 2 de setembro de 2008

17.00 h

Projeção:

Estrecho Adventure

Estrecho Adventure analisa a imigração procedente das costas norte-

africanas e adota o formato visual de videojogo. Numa primeira parte o foco

principal é Abdul, personagem principal que deve superar uma série de

obstáculos para cruzar a fronteira. A segunda parte do vídeo nos mostra as

ruas de uma cidade marroquina onde as crianças brincam com um videojogo.

Cuando los hombres lloran

Documentário rodado na Andaluzia, trata da imigração clandestina dos

marroquinos na Espanha. A clarividência política não é a única virtude deste

filme que narra também, de maneira digna, a impotência e a vergonha desses

homens incapazes de voltar à sua terra e revelar o fracasso de seus sonhos.

Estrecho Adventure (1996),

Valeriano López, 6’25’’

Cuando los hombres lloran

(2000), Yasmine Kassari, 57’

Living in Barcelona (2001),

Zohr Rehihil, 15’

Boujad, a nest in the heat

(1992), Hakim Belabbes, 45’

14 resentaciones árabes contemporáneasPrólogo

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15 Representaciones árabes contemporáneas

Living in Barcelona

Numa pequena oficina realizada em Barcelona, Zohr realizou este vídeo

sobre a imigração marroquina na mencionada cidade, um dos principais

destinos dos imigrantes magrebinos na Espanha.

Boujad, a nest in the heat

Boujad constitui um olhar pessoal e angustiado aos temas da separação,

a independência e o retorno. É a crônica da viagem que o diretor do

filme realizou desde sua casa em Chicago até a sua cidade natal, Boujad

(Marrocos).

19.30 h

Transacciones/FADAIAT: produção, autoria, circulação, conferência de

Joaquín Vázquez.

“Somos mo ros, estamos negros”: as marcas do árabe nas novas

transações culturais, diálogo entre Joaquín Vázquez e Pedro G. Romero.

Pedro G. Romero. Atua como artista desde 1985. Desde finais dos anos

noventa trabalha em dois projetos diferentes, o Archivo F.X. e a Máquina

P.H. No âmbito do Archivo F.X. destacam-se: a produção na Fundació Antoni

Tàpies do projeto La ciudad vacía: (2005-2007) e o primeiro número de

Archivo F.X. Documentos y materiales, um boletim informativo sobre todos os

trabalhos do Arquivo realizado no âmbito do projeto Heterotopias, di/visions

(from here and elsewhere) com curadoria de Catherine David para a Bienal

de Thessaloniki (2007). Entre os trabalhos de Máquina P.H., destacam-se a

direção de Arena (2004), La Edad de Oro (2005), Tabula Rasa (2006) e El final

de este estado de cosas (2007) com o “bailaor” de flamenco Israel Galván;

e as curadorias de projetos como Vivir en Sevilla, Construcciones visuales,

flamenco y cultura de masas desde 1966, apresentado no Centro Andaluz de

Arte Contemporânea em Sevilha, no Centro Cultural da Espanha no México

D.F. e o Conjunto Cultural da Caixa de Salvador na Bahia, Brasil (2005-2006)

e da exposição La noche española: Flamenco, vanguardia y cultura popular

1965-1936, realizada em colaboração com Patricia Molins e apresentada

no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía-MNCARS em Madri e no

Petit Palais em Paris (2008). Foi também curador espanhol e editor de

Un teatro sin teatro no Museu d’Art Contemporani de Barcelona-MACBA

(2006). Desde 2007 colabora na seção nacional dos Arquivos MACBA em

Barcelona e MNCARS em Madri. Faz parte da PRPC (Plataforma de Reflexão

de Políticas Culturais) em Sevilha e é membro da equipe de conteúdos da

UNIA arteypensamiento da Universidade Internacional da Andaluzia.

Prólogo

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16 Representaciones árabes contemporáneas

Joaquín Vázquez*. Co-fundador e membro de BNV Producciones,

empresa de produção de cultura contemporânea que se dedica a produzir

e coordenar exposições, assistir a representantes e/ou artistas, editar

e supervisionar publicações. A BNV foi criada em 1988 e iniciou sua

trajetória dentro das artes plásticas com a exposição El Sueño Imperativo,

representado por Mar Villaespesa, que se apresentou no Círculo de Belas

Artes de Madri em 1991. Produziram outros projetos como Plus Ultra,

o programa UNIA arteypensamiento da Universidade Internacional da

Andaluzia ou Desacuerdos. Sobre arte, políticas y esfera pública en el Estado

español, uma co-produção entre Arteleku-Diputación Foral de Gipuzkoa,

Centro José Guerrero-Diputación de Granada, Museu d’Art Contemporani

de Barcelona (MACBA) e UNIA arteypensamiento.

*Joaquín Vázquez participará também, com suas observações e comentários, do seminário

de rasgos árabes... no Centro Cultural São Paulo durante os dias 3, 4 e 5 de setembro.

Prólogo

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17 Rafael Assef, Cartografia aos 33 anos, da série Atlas, 2004

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18 Lia Chaia, Minhocão, 2006

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19 Lia Chaia, Comendo Paisagem, 2005

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20 Mônica Nador&JAMAC, Paredes pinturas, 2006

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Seminário 21 de rasgos árabes…

de rasgos árabes...

São Paulo, de 3 a 5 de setembro

Cinemateca Brasileira

A máquina de trovar de Menezes

Pedro G. Romero

O assassinato do eletricista brasileiro Jean Charles Menezes pela polícia

metropolitana inglesa em Londres supostamente confundido com um

terrorista por ter cara de árabe…1 merece a nossa atenção. Após os

atentados dos dias 7 e 21 de julho de 2005, a polícia de Londres tacitamente

tomou a decisão de “atirar para matar” em qualquer alvo suspeito. Alegam

tê-lo confundido com Husein Osman, um suposto terrorista islamista.

A informação da Independent Police Complaints Commission explica

como Menezes entrou na estação de metrô de uma maneira tranqüila e

descontraída, chegando inclusive a pegar uma edição do jornal gratuito ali

distribuído; ele foi imobilizado por um policial em um dos vagões do metrô

enquanto estava sentado; foi alvejado onze vezes, sete delas na cabeça,

uma no ombro e três tiros errados. O episódio aconteceu no contexto da

tensão social e política produzida pelos atentados terroristas de Londres.

A mesma que provocou atrasos na investigação. O dramático final da

operação Kratos (força, poder), como a polícia inglesa denominou o seu

dispositivo de segurança, teve, no entanto, um potente poder sociológico.

A tensão política acumulada no corpo social ficou assim aliviada com a

violenta resposta policial. Além do erro – que pretendem reparar com

1. No texto original a expressão de rasgos árabes..., veiculada pelos meios de comunicação

espanhóis a partir dos meios policiais ingleses, não se refere apenas ao significado literal de

traços faciais, mas está carregada de conotações culturais, criando um jogo de palavras que

em parte se perde na tradução. Durante o texto, cara de árabe… se utilizará de forma substan-

tiva enquanto de rasgos árabes… faz referência exata ao projeto.

IntroduçãoPrólogoSeminárioApresentações

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Seminário 22 de rasgos árabes…

a indenização econômica posterior – a polícia considera a sua atuação

satisfatória. Menezes, transfigurado no bode expiatório da grande máquina

política, virou um calmante social e um mal necessário em momentos de

crise, com uma Londres povoada de fantasmas e medos irracionais.

Os medos que a frase cara de árabe… provoca estenderam-se de

tal forma que a cultura árabe, em qualquer de suas manifestações, começa

a ser suspeita e temida. No entanto, a qualidade etnográfica e racista cara

de árabe… citada pela imprensa e pelos informes policiais afeta não só a

maior parte da população espanhola, como também boa parte da americana

desde a chegada dos primeiros colonizadores, com todo o contingente

mourisco da migração hispano-portuguesa. E esses traços não estão

unicamente nos aspectos físicos, mas muito mais profundamente imbricados

nas nossas culturas, as chamadas “ocidentais”, como um traço diferenciador.

Literalmente, num mundo convulsionado pelos conflitos do Próximo Oriente

– Palestina, Iraque, Afeganistão etc. – cuja mundialização via os atentados

de Nova York, Madri e Londres se tornou cotidiana, o conhecimento da cultura

árabe, não só como algo distante mais ou menos exótico, mas como parte

constituinte do que somos, nos é cada vez mais urgente.

Mas ao prestarmos atenção no anedotário da causa policial contra

Menezes e refletirmos no indício cara de árabe… a perspectiva da pesquisa

também nos leva a propor certa metodologia. Desde que em meados do

século XIX o historiador de arte Giovanni Morelli expôs o seu famoso método

– basicamente um sistema para autenticar as obras de arte dos grandes

mestres a partir dos pequenos detalhes: o desenho do dedo mindinho, a

pintura do lóbulo da orelha – são muitos os desenvolvimentos inspirados pelo

seu sistema. O mais famoso é o procedimento dedutivo de Sherlock Holmes,

que o seu autor, Conan Doyle, sempre atribuiu a suas leituras de Morelli. As

ciências policiais primeiro – as pistas digitais, por exemplo – e a antropologia

e a sociologia depois também foram impregnadas pelos seus métodos,

para bem – a interpretação de mitologias – e para mal – a craniometria

racista. Mas a leitura que Aby Warburg e Sigmund Freud fazem de Morelli

é a que mais nos pode ensinar agora. Desde Freud até Lacan toda a

psicanálise desenvolve a sua linguagem separando indícios, sintomas,

significados. Warburg iniciou um sistema de conhecimentos, da iconologia

à semiótica, sem dúvida, preponderantes na História da Arte. Os estudos

visuais pode-se dizer que nascem da conjunção destes dois paradigmas que,

como salientou Carlo Ginzburg, têm em Morelli uma origem comum.

Se me detive por um momento na hora de expor um campo de

atuações metodológico não era só para situá-lo numa correlação evidente

com a casuística do affaire Menezes, mas também para ajudar a situarmos

o campo diverso de atuações que vamos empreender ao tentar reconstruir

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Seminário 23 de rasgos árabes…

este cara de árabe… pela diversidade cultural latino-americana. Vai-se

tratar de um tipo de método indicial corrigido, desde o ponto e a hora em que

assumirmos amplamente os traços, indícios, índices com os quais vamos

trabalhar. Reverter o método indicial é, em parte, assumi-lo. Portanto, vai-se

tratar de reconstruir, com traços grandes e pequenos, o imaginário que o

árabe apresenta na América Latina a partir de uma vertente ampla, flexível,

expandida, transversal, rizomática.

Para isso devemos reduzir algumas perguntas, simplificá-las para

propor as qualidades dos traços que estamos ajudando a visualizar. Para

começar há o assunto do que é árabe, uma qualidade racial, a atribuição

característica de um tipo humano que não deve restringir a nossa cartografia.

Há a língua árabe, a escritura em caracteres arábicos. Há a força do

imaginário, a paisagem cultural comum na qual temos que distinguir mas

que, por isso mesmo, forma um todo cultural. O árabe do imaginário é

mais extenso que as categorias científicas que o restringem. Por exemplo,

iranianos ou turcos não podem ser desligados desse imaginário por mais

que o apelativo cara de árabe… pareça-lhes tão surpreendente como no caso

Menezes. Nosso mapa cultural inclui, portanto, culturas do Oriente Médio,

tal qual o qualificou a ótica colonial britânica, do Marrocos ao Afeganistão,

do Cáucaso à Península Arábica; isso inclui povos semitas e não semitas,

muçulmanos e cristãos, grafias árabes e latinas, línguas como o árabe, o

persa e o turco, mas também o curdo, o armênio, o georgiano ou o berbere.

A exclusão dos judeus representa não poucos problemas

historiográficos, mas a divisão política no imaginário desde a tomada da

Palestina pelos israelenses é clara e não necessita por ora esclarecimentos

por mais que possa ser uma questão que figure como “traços” de modos

muito diversos – por exemplo: a confusão identitária com as migrações

“turcas” em finais do século XIX ou a sua sionização a partir da nova

identidade outorgada pelo Estado de Israel – ao longo de todo o projeto.

Esta complexidade de traços só pode ser vista como um fator positivo,

pois enriquece a perspectiva da nossa pesquisa. Tampouco poderíamos

aceitar que exista uma identidade própria da América Latina, de modo que

a combinação de todas as variantes contextuais e a diversidade das fontes

migratórias serão uma característica da construção do projeto: somará

materiais frágeis, escassos, raros.

Devemos insistir em que o nosso ponto de partida é que não existe

um “oriente”; culturalmente trabalhamos num contínuo cultural que se

estende da costa do Pacífico americano até o Índico arábico e que os nexos

culturais passam pela colonização hispano-portuguesa e seu legado “mouro”,

as emigrações de finais do século XIX e princípios do XX dos denominados

“turcos” e os exílios políticos que após a Segunda Guerra mundial levam

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24 de rasgos árabes…

palestinos, libaneses e sírios a migrarem aos países latino-americanos.

Não existe um oriente, mas sim a categoria “orientalista”, magistralmente

desmontada por Edward Said justamente no momento em que tal categoria

deixava de ser eficaz do ponto de vista político. Não se trata, neste momento,

de entrar em pormenores sobre o tipo de “orientalismo” que gerou o livro

Orientalismo desde a sua publicação em 1978. No transcurso das diferentes

edições dessa obra, o “outro” árabe ou islâmico mudou. O bárbaro romântico

deu lugar ao niilismo integrista, segundo um estereótipo que no nosso

projeto temos que conjugar. Convém apontar o paradoxo, pois temo que

na construção de uma identidade pan-árabe, pan-islâmica, seja ela qual

for, possa ser necessária a mediação efetiva de categorias que podemos

considerar como orientalistas. O orientalismo é uma construção sofisticada,

e a sua reconstrução só pôde ser feita com as ferramentas que a cultura

acadêmica colocava ao nosso alcance. Num mundo de multidões, estas

categorias flutuam, aparecem e desaparecem, algumas vezes do lado do

poder, outras vezes perdidas em meio à multidão.

Por isso insisto em que o projeto não é sobre os árabes, o Islã,

esse “outro” difuso. Trata sobre nós mesmos, sobre a identidade complexa

que todos somos, sobre a construção de subjetividades específicas e, isto

é importante, o mundo objetivo que conformam. Toda narração, toda história

é uma construção da linguagem, e na linguagem se produz sempre uma

luta de poder entre emissor e receptor, falante e ouvinte. Que nos tenhamos

outorgado um leitmotiv específico, este cara de árabe…, somente tem

valor na medida em que falamos da construção de uma ficção pertinente.

Politicamente aparece-nos como um instrumento efetivo com o qual

podemos abordar problemas de representação e conflitos do imaginário

que estão em jogo em qualquer momento de construção de uma ou várias

comunidades humanas. O lugar político no qual o caso Menezes – um

assassinato de Estado: um crime que é conseqüência do sistema de exclusão

cultural com o qual está construído o poder no ocidente – situa o imaginário

árabe na América Latina, esse desconforto é o que torna a nossa pesquisa

pertinente.

Por isso a atenção a de rasgos árabes... não se baseia em redenção

alguma nem em reivindicações culturais que não nos correspondem. Não se

trata de nenhuma causa bem-intencionada, nem de uma apelação a noções

como o multiculturalismo, a aliança de civilizações ou o mito da convivência

das três culturas. É certo que estes elementos convém sublinhá-los de vez

em quando, uma vez que a sua obviedade nem sempre tem presença na

primeira linha do corpo social. Evidentemente, não podemos esquecer que o

elemento de incentivo para o nosso projeto é o conflito, o acontecimento que

nos dá motivo, o caso Menezes, uma morte violenta. O medo constrói o espaço

Seminário

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25 de rasgos árabes…

público. Dá-se o paradoxo de que uma sociedade mundializada pelos novos

meios de comunicação, uma sociedade cada vez mais pública e publicada,

seja ao mesmo tempo produtora de novos medos, geradora de novas vítimas

propiciatórias. Os meios públicos, os medos públicos. Literalmente: terríveis

episódios de limpeza étnica, ataques massivos contra populações civis e

uma violência impiedosa que freqüentemente se vale das possibilidades

tecnológicas para aumentar a publicidade de suas atrocidades. E é nessa

paisagem que o “árabe”, o cara de árabe…, foi transformado numa espécie de

bode expiatório global.

Este mundo incerto, mundo do incerto, assim como provoca novos

medos abre-se também a uma nova “mediologia”, meios sem fim, novas

formas de circulação das idéias, dos saberes, das identidades. Só aqui

entendemos certa utilidade para o nosso projeto das ferramentas que provêm

do mundo da arte, acostumadas a trabalhar com o incerto, o instável, o

desconhecido. É neste sentido que não quero deixar de indicar uma poderosa

ferramenta assinalada talvez pela primeira vez pelos formalistas russos

– Victor Sklovski, Mikhail Bakhtin, Vladimir Propp – ao analisar numerosas

operações artísticas e culturais, colocando ênfase não tanto no que estas

coisas são, mas em saber como funcionam, não tanto em sua essência, mas

na quantidade de operações culturais que conseguiram estabelecer.

Em 1936, Antonio Machado publicou um escrito de Juan de Mairena

no qual este informava sobre a máquina de trovar de Meneses. Tratava-se

de um dispositivo de criação que somava diferentes vozes, diferentes âmbitos

e com tal soma aparecia o poema. O invento desse jovem poeta, Meneses,

tomava o seu exemplo de foros públicos como as tabernas andaluzas

nas quais a soma de vozes e o vinho construíam o fandango – “fado”, “destino”,

segundo a dicção árabe do latino “fatum”, “fado”, “fandango” – que logo

parecia uma única voz. A máquina também imitava o experimentalismo

vanguardista que desde Mallarmé até os produtivistas russos outorgava

um novo espaço à criação. Enquanto não viessem bons tempos para a lírica

– por acaso alguma vez existiram? – a máquina era o único modo, a única

saída para a construção de linguagens, a refundação do mundo. Digamos

que de rasgos árabes... quereria ser essa máquina de construção, que a

morte infeliz do jovem brasileiro Jean Charles Menezes pôs em marcha.

Uma máquina de construção de sentido, um dispositivo no qual se inclui um

conjunto decididamente heterogêneo de discursos, instituições, instalações

arquitetônicas, meios audiovisuais, figurações, imaginários, medidas

de polícia, proposições filosóficas, morais, filantrópicas, rapidamente o

lingüístico e o não-lingüístico, o dito e também o não-dito, estes são os

elementos do dispositivo. O dispositivo em si mesmo como a rede de relações

que se estabelece entre estes elementos: a máquina de trovar de Menezes.

Seminário

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26 de rasgos árabes…

PROGRAMA 1

de rasgos árabes...: Políticas

Quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Entendemos por políticos aqueles traços relacionados com o árabe, o

muçulmano, como componente dos diversos exílios que, após a Segunda

Guerra Mundial e as diferentes guerras com as quais foi construído o Estado

de Israel, levam os palestinos a estabelecerem-se na América Latina. Estas

migrações ou exílios, que acompanham as diferentes escaladas bélicas da

região do Oriente Médio – desde as guerras libanesas e os conflitos turco-

chipriotas até as guerras do Afeganistão, Iraque etc. –, configuram-se com

uma maior presença identitária e visibilidade, própria das minorias. Também

é destacável, a partir da década de 90, a aparição do Islã como um valor

identitário determinante, que produz certo processo de islamização das

comunidades árabes anteriormente assentadas. As chamadas guerras contra

o terrorismo, ações policiais pontuais e atentados reivindicados por grupos

islamistas também configuram um imaginário próximo. Trata-se, portanto, de

indagar nos trabalhos sobre estas comunidades, mas também de interessar-

se pelo modo como esses conflitos foram lidos no contexto artístico latino-

americano. Nesse sentido, a pertinência de sua presença no nosso projeto é

diversa: grupos, artistas, obras…, mas também trabalhos críticos, produções

da cultura popular, análises culturais, arquivos, meios de comunicação etc.

Dessa maneira, e a modo de exemplo, podemos trazer como obra chave, exógena ao âmbito da exposição, mas

conceitualmente pertinente, as Afghan War Rugs: a elaboração, desde as guerras russas no Afeganistão, de

variantes no desenho dos tradicionais tapetes incluindo, como motivos, fuzis Kalasnikof, helicópteros, pistolas,

tanques, caça-bombardeiros, granadas, mísseis, mapas, bandeiras e outros elementos representativos do conflito.

A nova tradição continuou prosperando em relação à atualidade com as guerras do Iraque, os atentados da Al-

Qaeda, o ataque às Torres Gêmeas em Nova York etc. Andreas Fogarasi tematizou-as em seu Culture and Leisure

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Barnabé, tu és meu (1952),

José Carlos Burle, 90’

O baile perfumado (1997),

Paulo Caldas e Lírio

Ferreira, 93’

27 de rasgos árabes…

na Bienal de Veneza de 2007. Alighiero Boetti trabalhou-as em suas obras têxteis – Maps, Games, etc. – e em

seus textos reconhece-as como a obra de arte mais importante dos anos oitenta. Em 2001 a empresa Moritzu

desenvolveu uma máquina de tricotar que incorporava os padrões das Afghan War Rugs.

16.00 h

Projeção:

Barnabé, tu és meu / O baile perfumado

A representação do árabe nestes filmes recebe dois tratamentos distintos,

o que mostra sua trajetória singular no cinema brasileiro. No primeiro, o

estereótipo do mundo árabe de palácios, véus e sultões é anarquizado por

Oscarito (Barnabé) e Grande Otelo (Abdula) numa delirante carnavalização

às superproduções hollywoodianas, típica das paródias das chanchadas da

Atlântida. Na comédia de José Carlos Burle, a popular dupla de comediantes

(Barnabé, malandro carioca confundido com o sexto herdeiro de Salomão

por ter uma estrela de David tatuada na mão, e Abdula, o abanador-mor

da princesa Zuleima) terminam ludibriando o amável Salomão, mascate a

quem Barnabé deve dinheiro e que faz apenas breves aparições. No segundo

filme, baseado numa história real, o mascate libanês Benjamin Abrahão

embrenha-se no sertão para filmar Lampião e seu bando, e o imigrante árabe

que até então fizera papéis pequenos, embora marcantes, em filmes como

O Cangaceiro e Corisco, o Diabo Louro, torna-se protagonista. Ao colocar em

Seminário

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28 de rasgos árabes…

meio à ficção as próprias cenas filmadas por Abrahão em 1936 o filme

de Paulo Caldas e Lírio Ferreira subverte o “gênero” do cangaço e questiona

os limites entre a realidade e a representação.

19.30 h

Apresentação geral do projeto de rasgos árabes... por Ana Tomé, Pedro

G. Romero, Michel Sleiman e Fernando Gerheim.

Árabes e muçulmanos na Tríplice Fronteira: construções discursivas

e formações identitárias, conversa entre Silvia Montenegro, Fernando

Rabossi e Paulo Hilu da Rocha Pinto (mediador).

A Tríplice Fronteira é a zona de encontro de diferentes culturas formada

pelas cidades de Foz do Iguaçu, no Brasil, Ciudad del Este, no Paraguai,

e Puerto Iguazú, na Argentina, e tem como principal marca a presença

de novos imigrantes libaneses e palestinos saindo de uma situação de

conflito no Oriente Médio, que são atraídos para a região pela

possibilidade de prosperar com o comércio e pela comunidade de

imigrantes já estabelecida na área.

Esse espaço, que se organiza em circunstâncias muito particulares,

teve sua complexidade ampliada após o 11 de setembro de 2001, quando,

por sua alta concentração de imigrantes árabes oriundos dos conflitos

bélicos recentes no Oriente Médio, foi incluído na agenda norte-americana

de “luta contra o terrorismo global” e tornou-se foco da atenção dos meios

de comunicação internacionais. Assim, os fluxos migratórios transnacionais,

os fatores locais e internacionais o tornam um espaço paradigmático para

a discussão das representações do árabe.

O diálogo entre nossos convidados refletirá sobre a fronteira

como espaço de negociação constante de práticas e tradições diversas,

analisando os processos de formações identitárias e construções

discursivas que criam as representações do árabe e do muçulmano em

meio aos seus entrecruzamentos culturais, sociais e políticos.

Fernando Gerheim. Escritor, artista e professor de literatura, cinema

e artes, publicou Linguagens inventadas – palavra imagem objeto: formas

de contágio (Ed. Zahar, 2008) e realizou os curtas em vídeo digital

Urubucamelô (2002), Filme de uma imagem só (2006) e Tomada do Mundo

(2007). Doutor em literatura comparada e mestre em literatura brasileira

pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), formou-se em

Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC – RJ).

Tem publicado artigos e contos em revistas de arte e cultura.

Seminário

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29 de rasgos árabes…

Paulo Hilu da Rocha Pinto. Professor do Departamento de Antropologia

e coordenador do Núcleo de Estudos sobre o Oriente Médio (NEOM) da

Universidade Federal Fluminense (UFF – RJ). Doutor em Antropologia pela

Boston University, mestre em Antropologia e graduado em História pela

UFF. Atua principalmente nos seguintes temas na área de Antropologia,

com ênfase em Antropologia Urbana: Antropologia da Religião, Síria/Oriente

Médio, Curdos/Árabes e Ritual e Experiência Religiosa. Desenvolve os

projetos de pesquisa “Entre o local e o global: identidades muçulmanas no

Brasil e no Oriente Médio” e “Processos culturais e fluxos transnacionais:

comunidades e identidades muçulmanas no Brasil e no Oriente Médio”.

Publicou, entre outros artigos sobre o tema, “Ritual, Etnicidade e Identidade

Religiosa nas Comunidades Muçulmanas no Brasil”.

Silvia Montenegro. Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do

Rio de Janeiro, UFRJ. Pesquisadora do Conselho Nacional de Investigações

Científicas e Técnicas (CONICET, Argentina). Professora do Departamento

de Antropologia Social da Universidade Nacional de Rosário, Argentina.

Participou como pesquisadora do Projeto “Comunidades Árabes na América

Latina”, do Centre for Arab Unity Studies, de Beirute, Líbano, abordando

os casos de Paraguai, Brasil e Argentina. Atualmente participa do Projeto

“Diásporas Palestinas na América Latina. Estudos horizontais”, do Palestinian

International Institute, de Amã, Jordânia. Realizou trabalho de campo sobre

a diversidade religiosa e cultural na “Tríplice Fronteira” e sobre a imigração

árabe-muçulmana nos períodos 2000, 2002 e 2004-2008, dentro de

projetos do CONICET. Publicou diversos artigos sobre as identidades árabes

e muçulmanas e, recentemente, o livro: A Tríplice Fronteira: Globalização e

construção social do espaço.

Fernando Rabossi. Doutor em Antropologia Social pela Universidade

Federal do Rio de Janeiro, onde atualmente ensina e pesquisa como Professor

Visitante no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu

Nacional. É graduado em Ciências Antropológicas pela Universidade de

Buenos Aires e Mestre em Migrações Internacionais e Relações Étnicas

pela Universidade de Estocolmo. Publicou sobre o tema, entre outros textos,

“Árabes e muçulmanos em Foz do Iguaçu e Ciudad del Este: notas para uma

re-interpretação” (2007); “Dimensões da espacialização das trocas – a

propósito de mesiteros e sacoleiros em Ciudad del Este” (2004); “En las calles

de Ciudad del Este. Una etnografia del comercio en la frontera” (no prelo).

Michel Sleiman. Professor de Língua e Literatura Árabe no Departamento

de Letras Orientais da Universidade de São Paulo. Estudioso de Literatura,

Seminário

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30 de rasgos árabes…

particularmente da poesia árabe, colabora com revistas especializadas em

poesia e arte e, desde 2003, edita o periódico anual Tiraz – Revista de Estudos

Árabes e das Culturas do Oriente Médio. É autor de A poesia árabe-andaluza:

Ibn Quzman de Córdova (2000) e A arte do zajal. Estudo de poética árabe

(2007). Tem participação em obras coletivas como A literatura doutrinária na

corte de Avis (2001), Muwashshah – Proceedings... (SOAS, 2004), As cidades no

tempo (2005). É diretor fundador do Instituto da Cultura Árabe, em São Paulo.

PROGRAMA 2

de rasgos árabes...: Histórias

Quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Entendemos por históricos aqueles traços relacionados com o árabe,

o muçulmano, como componente das emigrações sobretudo ao Brasil, o

Chile, a Colômbia, a Venezuela, o México, a América Central e o Caribe,

de cidadãos de procedência síria, libanesa, armênia etc., isto é, procedentes

da desintegração do império otomano – daí o genérico “turcos” como

denominador comum – durante os séculos XIX e XX. Todas estas comunidades

de grande arraigo – dez milhões de descendentes de libaneses no Brasil, dois

milhões de descendência síria e libanesa no México, por exemplo – e forte

presença política – de procedência sírio-libanesa são os presidentes Julio

Cesar Turbay na Colômbia, Carlos Menem na Argentina, Abdalá Bucaram

no Equador e o empresário Carlos Slim no México – integraram-se nas

diferentes comunidades sem marcar freqüentemente os traços culturais de

sua procedência. É muito significativo que romances chaves dos diferentes

construtos canônicos nacionais tenham como protagonistas estes árabes.

Em Gabriela cravo e canela de Jorge Amado no Brasil ou em Crónica de una

muerte anunciada de Gabriel García Márquez na Colômbia. Mas digamos

que atenderemos aqui a um deslocamento conceitual que já não necessita

“tematizar” o árabe, mas sim compreender certas vinculações em suas obras

– por exemplo, escritores como o brasileiro Milton Hatoum ou o argentino

Juan José Saer –, sem nenhuma necessidade explícita de vinculação com

os mundos árabe ou muçulmano. Claramente falamos de um jogo de

identidades nas quais alguns traços necessariamente mascaram outros

traços. A variedade de aparições é, portanto, grande. Para seguir no âmbito

da literatura: personagens protagonistas de romances, local da história,

origem do escritor etc., isto é, atenderemos a um perguntar-se pela identidade

sem que, necessariamente, se trate da identidade árabe.

Seminário

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16.00 h

Projeção:

Noite Vazia / Navalha na Carne

Noite Vazia e Navalha na Carne mostram duas visões distintas do amor

e do erotismo em universos antagônicos: a alta burguesia e o submundo

da prostituição e da marginalidade. Walter Hugo Khoury narra a história

de dois amigos da elite paulistana que terminam a noite com prostitutas

de luxo (Norma Bengell e Odete Lara) depois de rodarem as boates da

cidade buscando fugir em vão de suas existências vazias. O filme, com

produção da Vera Cruz e indicado à Palma de Ouro de Cannes em 1965,

mostra o estilo próprio, de alto rigor estético, criado por Khoury, diretor

31 de rasgos árabes…

Dessa maneira, e a modo de exemplo, podemos trazer como obra chave, exógena ao âmbito da exposição,

mas conceitualmente pertinente, Autômata turco, uma série de gravuras, fotografias, desenhos e relatos

– desde Edgar Allan Poe até Walter Benjamin – que descreve a máquina de jogar xadrez de Von Kempelen,

projetada em finais do século XVIII, com a qual depois Maelzel recorreria a Europa e a América. O

aparelho mostrava uma engenhoca mecânica com a qual um jogador turco te enfrentava numa partida

de xadrez, na realidade a máquina continha um pequeno espaço interno a partir do qual podia-se

manejar o turco. De Paris a Nova York ou a Havana, as exibições do Autômata turco foram um prodígio

que deslumbrou Franklin, Napoleão ou Beethoven. Conforme mencionado, Poe e Benjamin colocaram-no

como centro de suas pesquisas ensaísticas iluminando com seu exemplo alguns dos paradoxos – éticos,

políticos, identitários – da modernidade. A moderna ciência cibernética o considera um precedente claro

assumindo ainda a ficção que habitava na máquina.

Seminário

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32 de rasgos árabes…

Navalha na carne (1970),

Braz Chediak, 89’

Seminário

singular no panorama da época dominado pelo Cinema Novo e por

preocupações sociais. Em Navalha na Carne, adaptação da peça homônima

de Plínio Marcos, Braz Chediak mostra uma visão do amor e do erotismo no

sórdido universo da marginalidade por meio da história da prostituta Neusa

(Glauce Rocha), do cafetão Vado (Jece Valadão) e do homossexual Veludo

(Emiliano Queiroz). Louvado pela crítica e considerado o melhor filme de

Chediak, é também uma obra singular no início da década de 1970, época

do cinema marginal e do começo das pornochanchadas. Estes dois filmes

dirigidos por descendentes de libaneses são marcos da cinematografia

brasileira.

19.30 h

Apresentação do projeto de rasgos árabes... no Brasil por Michel Sleiman

e Fernando Gerheim.

Imigração, memória e orientalismo, diálogo entre Milton Hatoum e Alberto

Mussa.

O contigente que chegou ao Brasil no final do século XIX e início do século

XX, proveniente em sua maioria do Líbano e da Síria, é a principal referência

de imigração árabe no país. Por ter aportado com passaporte do recém-

desmantelado Império Turco-Otomano, ficou conhecido como “turco”.

Isso diz muito sobre a representação desse grupo, associado de início

à atividade do mascate e à venda à prestação, e sobre o modo como ele

Noite vazia (1964),

Walter Hugo Khoury, 93’

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33 de rasgos árabes…

Seminário

se integrou no novo país. Em sua maioria cristãos, a religião não impôs

dificuldades de adaptação a esses imigrantes, que estabeleceram-se em

comunidades nas mais diversas regiões. Apesar da atividade comercial

tê-los identificado com zonas da cidade – SAARA no Rio de Janeiro e Rua

25 de Março em São Paulo –, eles foram ganhando ao longo das gerações

posição de destaque em outros setores da sociedade como a política,

a medicina e a arte. Em meio à representação do árabe como exótico e

sinônimo de muçulmano e à representação do árabe como “turco”, num país

que tanto buscou e discutiu a própia identidade, surge a perguntra: o que é o

“árabe” para os brasileiros descendentes daquelas levas de imigrantes? Os

convidados desta mesa são dois destacados escritores que ao refletir sobre

a tradição, suas transformações e as representações do árabe farão refletir

também sobre os processos de construção identitária e as representações

do próprio Brasil.

21.30 h

Concerto:

Artificial, de Kassin

Concerto pop eletrônico programado por Kamal Kassin no Game Boy, um

jogo eletrônico portátil primitivo que o músico usou para compor quando

excursionava pelo interior dos Estados Unidos em 2002 e não tinha estúdio

para gravar. Kassin criou o projeto Artificial e nomeou o álbum Free USA.

Neto de turco muçulmano e filho de norte-americano, ele tem passaporte

dos EUA e compôs Free USA, com letras em inglês, sob o impacto da reação

norte-americana ao atentado de 11 de setembro. O volume muito alto em

que é executado constitui parte integrante do concerto, que é fruto daquela

vivência e uma visão pessoal do músico sobre a experiência da diáspora no

mundo contemporâneo.

Milton Hatoum. O escritor estreou em 1989 com Relato de um certo Oriente,

seguido de Dois irmãos (2000), ambos ganhadores do prêmio Jabuti de

melhor romance e traduzidos para diversos idiomas. Por Cinzas do Norte

(2005) recebeu seu terceiro Jabuti e os prêmios Bravo!, Associação Paulista

de Críticos de Arte (APCA) e Portugal Telecom de Literatura de 2006. Nascido

em Manaus em 1952, ensinou literatura na Universidade do Amazonas e na

Universidade da Califórnia, em Berkley.

Kamal Kassin. Compositor, instrumentista e produtor musical, o leque

pop experimental dos trabalhos de Kassin vai desde a Orquestra Imperial,

com repertório de sambas de gafieira, passando pelo projeto +2, com

Moreno Veloso e Domenico Lancellotti, em que a cada álbum dois deles

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34 de rasgos árabes…Seminário

acompanham o trabalho solo do outro, até a produção dos CDs de Caetano

Veloso, Jorge Mautner, Vanessa da Matta e Los Hermanos, entre outros.

Kassin lançou pelo selo Ping-Pong, com Hiromi e Berna Ceppas, “Senhor

Coconut”, “Chelpa Ferro”, Arto Lindsay, os três CDs de +2 e Free USA,

trabalho assinado por Artificial lançado também no Japão e na Europa,

onde saiu ainda em vinil.

Alberto Mussa. Com O enigma de Qaf (2004), o escritor ganhou os prêmios

Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) em 2004 e Casa de Las

Américas em 2005. Traduziu diretamente do árabe Os Poemas Suspensos

(2006), poemas pré-islâmicos da tradição oral dos beduínos. Escreveu

ainda o romance O movimento pendular (2006), com o qual obteve o prêmio

Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, e voltou a ganhar prêmio da

Associação Paulista de Críticos de Arte. Publicou ainda O trono da rainha

Jinga (1999) e o livro de contos Elegbara (1997). Nasceu no Rio de Janeiro

em 1961.

PROGRAMA 3

de rasgos árabes...: Mitologias

Sexta-feira, 5 de Setembro de 2008

Entendemos por mitológicos aqueles traços relacionados com o árabe, o

muçulmano, como componente das colonizações espanhola e portuguesa

numa fase que, no tempo, inclui também os tráficos de escravos, os traços

próprios das culturas ibéricas, o componente mourisco, as lendas sobre

os descobridores árabes ou os avanços técnicos em navegação,

incorporados pelos reinos mouros, o que possibilitou o desenvolvimento

de uma vanguarda naval. Teremos, portanto, um conjunto de trabalhos

bem amplo, que apelam a componentes universais das culturas árabes

e muçulmana e a suas próprias mitologias, mas também, atendendo à

definição de mitologia dada por Barthes, a outros traços, por exemplo,

o imaginário de um Rodolfo Valentino baseado em suas interpretações

fisionomicamente capitais, sucessivamente, do gaúcho na Pampa, o

alcaide do deserto e o toureiro na arena. Operamos então com elementos

culturais que excedem a datação histórica e cujo devir político é ambíguo,

para atermo-nos à definição de Barthes. Estamos falando então do

Mudéjar americano ou os Bailes de Mouros no México ou no Peru, também

do furor pelas academias de dança do ventre ou de fenômenos televisivos

como Los Pincheira ou O Clone.

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35 de rasgos árabes…Seminário

Dessa maneira, e a modo de exemplo, podemos trazer como obra chave, exógena ao âmbito da exposição,

mas conceitualmente pertinente, Los Plomos del Sacromonte, uma série de configurações geométricas,

desenhos e gráficos, indecifrável fruto de uma ficção histórica pela qual mouriscos de alta posição social

na Granada de finais do século XVI tentaram tornar compatíveis Cristianismo e Islã, para induzir uma paz

social que evitasse a sua inexorável expulsão final. O historiador Julián Gállego foi o primeiro a destacar o

caráter artístico destes traços situando-os como obra chave do maneirismo espanhol. Ignacio Gómez de Liaño

realizou uma pertinente leitura conceitual – como verdadeiras máquinas da memória – destes, alinhando-os

anacronicamente com o experimentalismo poético e as artes concretas da segunda metade do século XX.

17.00 h

Projeção:

Madame Satã

A Lapa boemia do Rio de Janeiro da década de 1930, em que o homossexual,

negro e analfabeto João Francisco dos Santos (Lázaro Ramos) se recusa

a submeter-se à opressão é o tema do filme de Karim Aïnouz, baseado

em um personagem real. João revolta-se contra sua condição de exclusão,

seja com a capoeira ou com a arma de fogo, e alterna temporadas na

prisão com a vida “em família” com a prostituta Laurita e o também negro

homossexual Tabu; o caso com o amante que o trai e entrega-o à polícia; e

michês com homens que o procuram furtivamente. Neste mundo em que

erotismo, violência e exclusão se confundem, ele acaba conseguindo realizar

o sonho de ser um artista transformista subindo ao palco improvisado do

bar Danúbio Azul, e cria para o carnaval a emblemática fantasia de Madame

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36 de rasgos árabes…

Satã, título de um filme de Cecil B. de Mille. As cores noturnas que evocam

a sensualidade desse mundo de amores proibidos, por vezes com imagens

desfocadas e fora do “raccord”, fazem com que o filme do cineasta cearense

de origem berbere Karim Aïnouz ecoe em seu alto teor erótico Un chant

d’Amour, filmado por Jean Genet no norte da África.

19.30 h

Apresentação do projeto de rasgos árabes... na América Latina por Pedro

G. Romero.

O Islã Africano na Diáspora: Tates-Corongos, Insurreição e Resistência

Negra no Brasil Imperial, conferência de Rogério de Oliveira Ribas.

Na primeira metade do século XIX, uma grande inquietação tomava conta

da classe senhorial brasileira diante da crescente onda de rebeldias negras

em todo o país. A principal delas foi o “Levante dos Malês”, em 1835, em

Salvador, Bahia, encabeçada por escravos muçulmanos. Os sobreviventes

da insurreição esmagada pela polícia se dispersaram. Nesse contexto,

surgiu na zona cafeicultora, no estado do Rio de Janeiro, uma sociedade

secreta rebelde impregnada por um sincretismo peculiar, chamada por

alguns de “maçonaria negra”. Essa conferência abordará a sociedade

Tates-Corongos, que engendrou, em 1848, uma conspiração que produziu

um grande impacto na classe senhorial cafeicultora do Vale do Paraíba.

Seminário

Madame Satã (2002),

Karim Aïnouz, 105’

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37 de rasgos árabes…

Esse movimento insurrecional assentava suas bases em uma mescla

de culturas que combinava tradições bantu, cristãs e, principalmente,

islâmicas. É esse capítulo pouco conhecido do movimento rebelde escravo

no Brasil imperial, que aparece como uma manifestação do Islã africano

na diáspora, que será apresentado pelo autor convidado.

21.30 h

Concerto:

A moura encantada - Os árabes na tradição musical luso-brasileira,

concepção de Anna Maria Kieffer, com Anna Maria Kieffer (mezzo-soprano),

Sami Bordokan (voz e alaúde árabe), Cláudio Kairouz (qanoun), William

Bordokan (percussão), Sebastião Marinho e cantador repentista.

A relação entre a tradição de duelos poéticos árabes e os repentes dos

cantadores nordestinos e entre o hábito de contar histórias no Oriente

Médio e a poesia de cordel evidenciam a parcela árabe das raízes da música

brasileira. O concerto concebido por Anna Maria Kieffer, com arranjos

próprios e de Sami Bordokan, refaz essa trajetória desde a Idade Média até

nossos dias, mostrando como a presença moura ao longo de oito séculos

na península ibérica foi trazida para o Brasil pela colonização portuguesa,

incorporou-se à nossa formação cultural e pode ser encontrada na música

que se faz hoje. O concerto se origina de uma pesquisa realizada pelos

músicos e compila peças dessas várias épocas, algumas executadas com

instrumentos tradicionais. A fábula “A moura encantada” alude à essa

presença através dos tempos.

Anna Maria Kieffer. Cantora e pesquisadora, concebeu e coordenou

entre 2002 e 2004 o projeto “Cancioneiro da Imigração”, sobre a

memória musical de 15 comunidades de imigrantes na cidade de São

Paulo.É responsável pela edição em CD-livro da série “Memória Musical

Brasileira” que aborda a música no Brasil desde o século XVI. Na área

de música contemporânea participou como cantora e colaboradora na

criação dos seguintes trabalhos em CD e DVD: Fata Morgana, ópera de

Jocy de Oliveira; Espaços habitados, ópera de Conrado Silva e Haroldo

de Campos; Fugitives Voix, de Daniel Teruggi; A Pedra de Guilherme Vaz;

Ways of the Voice, de Leo Kupper. Foi curadora de música de duas Bienais

Internacionais de São Paulo, da 3ª Bienal Internacional de Arquitetura,

da implantação da seção de música e da primeira programação do Itaú

Cultural. Realiza trilhas sonoras para exposições e filmes, entre os

quais O Retorno, de Rodolfo Nanni, prêmio de melhor direção no Cine PE

– Festival de Recife 2008. É associada ao Studio de Recherches Electro-

Seminário

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38

acoustiques et Auditives, em Bruxelas e membro da Electronic Music Foundation,

em Albany/Nova Iorque e da Sociedade Brasileira de Musicologia.

Rogério de Oliveira Ribas. Professor do Departamento de História da Universidade

Federal Fluminense e especialista no estudo da sociedade arábico-muçulmana.

Entre as publicações sobre o tema destacam-se: “Cide Abdella: um marabuto na

Inquisição portuguesa dos quinhentos”, “O Islã na diáspora: práticas religiosas

mouriscas em Portugal nas fontes inquisitoriais quinhentistas”, “Festas

mouriscas e identidade cultural nas fontes inquisitoriais portuguesas” e “Tates-

Corongos: insurreição e resistência negra no início da modernização do Estado

escravista brasileiro”.

Seminário 38 de rasgos árabes…

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39 Mônica Nador&JAMAC, Casa do joaz, 2006

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40 Clara Zappettini, La otra tierra: Árabes en Argentina, 2000

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41 Lucia Koch, Matemática Espontânea, 2006

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42 Frente 3 de Fevereiro, Brasil negro salve, 2005

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Apresentações 43 de rasgos árabes…

Lucia Koch

Conjunto K, 2008

Intervenção com padrões recortados a laser; fundo refletor; piso iluminado;

sistema tuboLED

O trabalho de Lucia Koch nos sugere, em seu tratamento da luz e na

utilização da arquitetura como linguagem, a mesma pergunta que surge a

partir da morte do brasileiro Menezes: aonde está o árabe? Ela apropria-se

de elementos de influência mourisca que se adaptaram e se incorporaram

à arquitetura brasileira e aproximam os trópicos do oriente – esses dois

modelos “periféricos” de civilização. Para a artista, o elemento árabe que

está, por assim dizer, na corrente sangüínea da cultura brasileira, aparece

como fator de continuidade, produzindo o efeito Moebius de espaços

permeáveis: o que separa torna-se superfície de contato entre dentro e

fora, privado e público, físico e simbólico, sempre perturbado por padrões

cambiantes. A herança construtiva brasileira parece encontrar também

uma continuidade em seus trabalhos com elementos literalmente de

construção– cerâmica vazada, muxarabis – “de origem árabe”, que foram

recuperados pela arquitetura moderna e persistem na arquitetura popular

na periferia das grandes cidades. No trabalho que ora apresenta – a

intervenção no espaço evidencia a atmosfera cambiante e a arquitetura

mourisca da Cinemateca; a intervenção com refletores e lâmpadas de LED

responde ao concerto Artificial –, o centro está no entorno de luz e som que

a obra a um tempo assimila e diferencia.

Luiz Fernando Carvalho

Que teus olhos sejam atendidos, 2000.

Emissão contínua do documentário em um monitor, 171 min

São Paulo, del 2 a 5 de setembro de 2008

Cinemateca Brasileira

IntroduçãoPrólogoSeminárioApresentações

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Apresentações 44 de rasgos árabes…

Ao ser lançado em 1975, Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, torna-se

imediatamente um clássico da literatura brasileira. Em 1998, decididido a

transformá-lo em filme, Luiz Fernando Carvalho vai ao Líbano com o escritor

e de sua pesquisa surge o documentário Que teus olhos sejam atendidos,

expressão árabe para desejar a alguém que realize seus desejos. Nassar,

abandona em Lavoura Arcaica a imagem com que até então eram vistos de

modo geral na literatura brasileira os descendentes de imigrantes libaneses

e cria um estilo narrativo que põe essa representação em registro universal.

A epígrafe que aparece na segunda parte do romance, retirada de uma

passagem do Alcorão, diz: “Vos são interditadas: vossas mães, vossas filhas,

vossas irmãs”. A história do filho desgarrado André, que volta à casa e, ao

contrário do que ocorre na parábola do filho pródigo, encena na família o

eterno embate entre a liberdade e a tradição, parece dizer que no impossível

retorno ao idêntico a volta à origem é antes uma revolta – e um renascimento.

Ao fazer o retrato das aldeias do Líbano e de seus habitantes nas imagens e

depoimentos de Que teus olhos sejam atendidos, Carvalho revela o envolvimento

do olhar de um cineasta brasileiro sobre as aldeias em que busca ecos da

sensualidade transbordante e da volúpia de imagens da literatura de Nassar.

Frente 3 de Fevereiro

A morte de Flavio Sant’ana / Trilogia das bandeiras

Série de 2 múltiplos em formato de postal (10cm x 15cm; 4 x 1) para reprodução.

Coletivo formado por 21 pessoas, entre artistas plásticos, músicos, atores,

cineasta, cenógrafo, designer gráfico, historiador, socióloga e advogado.

Suas ações sempre políticas são planejadas para o espaço público e

freqüentemente para uma escala de massa, infiltrando-se no circuito

midiático. O coletivo incorpora ainda o legado da arte que leva a ponto crítico

o objeto, usando todas essas ferramentas para tornar visível o racismo e

seus mecanismos. Ele concebe seu trabalho como “cartografia”, entendida

como uma escrita em sentido amplo, que afirma uma postura diante de

um mundo de transformações velozes em que também a identidade deve

passar por um processo de atualização permanente. Além de decompor o

fio histórico que revela a herança escravocrata na experiência cotidiana,

avisam, é preciso passar da reatividade à invenção de novas maneiras de

ler e escrever os desejos e a novas formas de sociabilidade. Quando o jovem

negro Flávio Sant’Anna, formado em odontologia, foi confundido com um ladrão

e assassinado pela polícia no dia 3 de Fevereiro de 2004, a Frente nasceu e

começou a realizar ações chamando a atenção para o racismo policial. Agora

o coletivo, multiracial, mostra um desdobramento de suas ações numa edição

em cartão postal que traz outra face de seu comprometimento sóciopolítico.

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45 Frente 3 de Fevereiro, Onde estão os negros / Zumbi somos nós, 2005

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DIREÇÃO

Pedro G. Romero

PROJETO LOGOTIPO E CONCEITO GRÁFICO

Nieves y Mario Berenguer Ros

COORDENAÇÃO EDITORIAL

BNV producciones

Centro Cultural da Espanha em São Paulo

DIRETORA

Ana Tomé

COORDENADOR DO PROJETO NO BRASIL

Fernando Gerheim

PRODUÇÃO

Simone Dussán

CONSULTORIA E TRADUÇÃO

Michel Sleiman

Centro Cultural da Espanha em Buenos Aires

DIRETORA

Lidia Blanco

COORDENADORA DO PROJETO NA ARGENTINA

Guillermina Fressoli

Centro Cultural da Espanha em El Salvador

DIRETOR

Juan Sánchez

COORDENADOR DO PROJETO NA AMÉRICA CENTRAL

Eduardo Araujo

Centro Cultural da Espanha em México

DIRETOR

Jesús Oyamburu

COORDENADORA DO PROJETO NO MÉXICO

Alejandra Gómez

Centro Cultural da Espanha em Santiago do Chile

DIRETOR

Andrés Pérez Sánchez-Morate

COORDENAÇÃO DO PROJETO NO CHILE

Fundación Ideas

AGRADECIMIENTOS

GNT/Globosat, Galeria Vermelho - Lia Chaia, Mônica Nador & JAMAC, Galeria Triângulo - Lucia Koch, Galeria Marília Razuk - Hilal Sami Hilal, José Tannuri, Sebastião Miguel, Rafael Assef, Frente 3 de Fevereiro, Cabelo, Paula Ribeiro, Ernani Heffner, Luiz Felipe Miranda, Antônio Leão, Braz Chediak, Karim Aïnouz, Dib Lutif, Sérgio Ricardo, Tempo Glauber, Ana Lúcia Rocha, Alice Gonzaga, João José Reis, Laura de Melo e Souza, Daniela Calainho, Tatiana Salem Levi, Vera Chaia, Salim Miguel, Oswaldo Truzzi, Susane Worcman, Ana Maria Mauad, Emir Sader, Ricardo Ventura, HP Galeria, Mamede Jarouch, Safa Jubran, Luiza Braga, David Cury, Clarice Tarran, Marcia Cabreira, Sociedade Beneficente do Rio de Janeiro, Arthur Bernardes do Amaral, Humberto Giancristofaro, Suely Farhi.

de rasgos árabes... é um projeto organizado e produzido pela Red de Centros de Cooperación Cultural, da Agencia Española de Cooperación Internacional para el Desarrollo-AECID, com a participação dos Centros Culturais da Espanha em Buenos Aires, El Salvador, México, Santiago do Chile e São Paulo.

CENTRO

CULTURAL

SÃO PAULO

EMBAJADA

DE ESPAÑA

EN BRASIL

Colabora:

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49 Cabelo, sem título, 2005.

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São Paulo, de 2 a 5 de setembro de 2008

Local: Cinemateca BrasileiraLargo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino

Terça-feira, 2 de setembro

Transacciones/FADAIAT

17.00 h Projeção:

Estrecho Adventure (1996), Valeriano López, 6’25’’

Cuando los hombres lloran (2000), Yasmine Kassari, 57’

Living in Barcelona (2001), Zohr Rehihil, 15’

Boujad, a nest in the heat (1992), Hakim Belabbes, 45’

19.30 h Transacciones/FADAIAT: produção, autoria, circulação, conferência de Joaquín Vázquez

“Somos moros, estamos negros”: as marcas do árabe nas novas transações culturais, diálogo entre Joaquín Vázquez e Pedro G. Romero

Quarta-feira, 3 de setembro

de rasgos árabes...: Políticas

16.00 h

Projeção:

Barnabé, tu és meu (1952), José Carlos Burle, 90’

O baile perfumado (1997), Paulo Caldas e Lírio Ferreira, 93’

19.30 hApresentação geral do projeto de rasgos árabes... por Ana Tomé, Pedro G. Romero, Michel Sleiman e Fernando Gerheim

Árabes e muçulmanos na Tríplice Fronteira: construções discursivas e formações identitárias, conversa entre Silvia Montenegro, Fernando Rabossi e Paulo Hilu da Rocha Pinto (mediador)

Quinta-feira, 4 de setembro

de rasgos árabes...: Histórias

16.00 h

Projeção:

Noite vazia (1964), Walter Hugo Khoury, 93’

Navalha na carne (1970), Braz Chediak, 99’

19.30 hApresentação do projeto de rasgos árabes... no Brasil por Michel Sleiman e Fernando Gerheim

Imigração, memória e orientalismo, diálogo entre Milton Hatoum e Alberto Mussa

21.30 hConcerto:

Artificial, de Kassin

Sexta-feira, 5 de setembro

de rasgos árabes...: Mitologias

17.00 hProjeção:

Madame Satã (2002), Karim Aïnouz, 105’

19.30 hApresentação do projeto de rasgos árabes... na América Latina por Pedro

G. Romero

O Islã Africano na Diáspora: Tates-Corongos, Insurreição e Resistência Negra no Brasil Imperial, conferência do Rogério de Oliveira Ribas

21.30 hConcerto:

A moura encantada, de Anna Maria Kieffer

Del 2 a 5 de setembro

Apresentações de Lucia Koch, Que teus olhos sejam atendidos e Frente 3 de Fevereiro

PROGRAMA

Entrada livre até esgotar a lotação

CENTRO

CULTURAL

SÃO PAULO

EMBAJADA

DE ESPAÑA

EN BRASIL