na arte portuguesa: obras em depósito da secretaria … · fazer artístico e ao nascimento da era...

9
na Arte Portuguesa: Obras em depósito da Secretaria de Estado da Cultura na Coleção de Serralves

Upload: vutram

Post on 08-Sep-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

na Arte Portuguesa: Obras em depósito da Secretaria de Estado da Cultura

na Coleção de Serralves

2 3

Corpo, Abstração e Linguagem na Arte Portuguesa:Obras em depósito da Secretaria de Estado da Cultura na Coleção de Serralves

“Corpo, Abstração e Linguagem na Arte Portuguesa” reúne 30 obras da Coleção da Secretaria de Estado da Cultura (SEC) em depósito no Museu de Arte Contemporânea de Serralves. A exposição repre-senta, por um lado, os primórdios da constituição da Coleção de Serralves e, por outro, uma perspetiva muito singular sobre a arte produzida em Portugal entre as décadas de 1960–80. As obras escolhidas atestam os diversos níveis de diálogo e confluência formais que os artistas portugueses souberam estabelecer entre si e com o contexto internacional a partir do pós-guerra. Uma das parti-cularidades mais notáveis da arte portuguesa neste longo período de consolidação das práticas artísticas em Portugal foi a relativa indiferença ou o recurso instrumental aos aspetos mais concep-tuais e performativos da arte, não obstante alguns artistas se terem dedicado a eles, como Graça Morais, António Palolo e José de Carvalho, ou até terem sido incontornáveis e essenciais em períodos específicos das carreiras de Alberto Carneiro, Ângelo de Sousa e Julião Sarmento. O que esta exposição procura verificar é o modo como a pintura e a escultura enquanto meios resultaram primordiais a todos estes artistas e às suas indagações artísticas e filosóficas.

Quase todos os artistas selecionados para esta mostra estudaram e iniciaram as suas carreiras no difícil ambiente da ditadura portu-guesa em que a censura e a repressão política e cívica conduziu vários deles à prisão, caso de Júlio Pomar e de Nikias Skapinakis, ou ao exílio mais ou menos forçado e permanente, como aconteceu com António Dacosta, Jorge Martins e Paula Rego. A partir da segunda metade dos anos 1950, vários dos protagonistas da arte portuguesa do último terço do século XX tiveram a possibilidade de realizar estudos no estrangeiro, quase sempre em Paris ou Londres, com pontuais estadas em Munique ou Nova Iorque, como foi o caso de Lourdes Castro, René Bertholo, João Vieira, Jorge Martins, Alberto Carneiro, Ângelo de Sousa e Eduardo Batarda. Tal permitiu aos artistas desta geração absorverem as pesquisas modernistas desenvolvidas pelos artistas da geração anterior, como Júlio Pomar, Fernando Lanhas, Nikias Skapinakis e Joaquim Rodrigo, articu-lando-as com os questionamentos plásticos e estéticos que se processavam nos centros artísticos internacionais.

A Coleção de Serralves é uma coleção de referência que oferece um contexto internacional único para a compreensão da arte contemporânea em Portugal.

A Coleção é composta por obras adquiridas pela Fundação de Serralves desde a sua criação em 1989, em conjunto com depósitos públicos e privados. De entre os acertos depositados em Serralves que constituíram pontos de referências para o desenvolvimento da Coleção de Serralves contam-se a Coleção da Secretaria de Estado da Cultura (SEC) e a Coleção da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).

O núcleo da Coleção de Serralves é a arte contemporânea produzida desde os anos 1960 até à atualidade. Arte produzida antes de 1960 pode também ser considerada em função da sua relevância para a Coleção e os artistas nela representados. “Circa 1968”, a exposição inaugural do Museu de Arte Contemporânea de Serralves em 1999, deu particular destaque às décadas seminais de 1960 e 1970, período histórico de mudanças políticas, sociais e culturais a nível planetário, que assistiu à emergência de novos paradigmas do fazer artístico e ao nascimento da era pós-moderna.

Cumprindo o seu programa de pesquisa e desenvolvimento permanentes, a Coleção de Serralves pretende distinguir-se por uma aturada atenção à criação do século XXI, em particular à relação das artes visuais com a performance, a arquitetura e a contempora- neidade no âmbito de um presente pós-colonial e globalizado. Embora repercutindo a arte e as ideias do nosso passado recente, a Coleção tem como objetivo refletir sobre o modo como a arte de hoje também antecipa o seu futuro.

4

Para estes artistas bem informados acerca dos caminhos da arte europeia e norte-americana na exploração da diluição das fronteiras entre cultura erudita e popular, no interesse pelas diversas manifestações da realidade e da comunicação mediática, na desma-terialização dos objetos artísticos, a opção pela pintura e pela escultura foi motivada pelo imperativo de desfazer um regime de imagens dependente da propaganda ideológica do Estado Novo, vinculado à representação dos valores conservadores e populares de uma sociedade que se queria estática, e reelaborar novas formas de ver e imaginar a realidade, consonantes com a visão dinâmica de um mundo em transformação.

As obras dos anos 1960 de René Bertholo e João Vieira demonstram, respetivamente, a transformação de objetos banais em símbolos da vida quotidiana e à expressão visual das letras do alfabeto, enquanto Lourdes Castro dá início a uma figuração feita de contornos e sombras que implica um jogo lúdico de formas, cores e relações espaciais sem conotações representativas ou ideoló-gicas. Em Portugal chamou-se Nova Figuração a esta nova maneira de observar e representar o mundo tangível, construída a partir das pesquisas formais em torno da abstração e da figuração que artistas da geração anterior promoveram, como Fernando Lanhas, Júlio Pomar e Nikias Skapinakis.

As obras dos anos 1970 destes últimos artistas, juntamente com as de outros ligados à Nova Figuração dos anos 1960, como Paula Rego e Joaquim Rodrigo, ou empenhados em experiências abstratas informais e geométricas assentes na cor e na linha, como Manuel Baptista, Ângelo de Sousa e António Palolo, demonstram por um lado a pertinência tardia de artistas ativos desde o pós-guerra, mas também a maneira como os artistas portugueses fizeram convergir o interesse pelo fragmento, pela simplificação e pelas cores lisas com a criação de novos corpos investidos dos novos significados inerentes às vivências socioculturais mais esclarecidas, passando pelo desmontar da representação narrativa numa escrita empurrada para os limites do indecifrável e da incomunicabilidade, como acontece com António Sena.

Estas questões tornam-se particularmente férteis na década de 1980, quando a plena afirmação democrática da sociedade portu-guesa e a reorientação artística internacional para os suportes tradicionais da pintura e da escultura resultou na verificação da plena maturidade visual e estética da arte portuguesa. A viragem de Julião Sarmento para a pintura, onde continuou a explorar temas ligados às pulsões eróticas do corpo a que antes se dedicava

Júlio Pomar, Sem título, 1977

6 7

nas mais frias práticas concetuais, ou o retorno à atividade de um surrealista dos anos 1940, António Dacosta, e a pertinência e atualidade dos seus novos trabalhos congregaram em torno de si a recuperação da gestualidade inerente à pintura, o gosto pela explo-ração livre de cores e formas e a sugestão de narrativas e histórias que são visíveis nas pinturas de Pedro Cabrita Reis, José Loureiro, Graça Morais, Álvaro Lapa e Jorge Martins. O diálogo com a tradição e o repensar das disciplinas estáveis da arte, como a pintura e a escultura, permitiram também uma auscultação dos seus modos de funcionamento através da paráfrase, da citação e da ironia, e que nos casos de Nikias Skapinakis, Jorge Martins, Eduardo Batarda, Joaquim Bravo, José de Carvalho e Pedro Calapez, implicou uma revisitação pós-moderna da abstração.

Finalmente, no campo da escultura, Alberto Carneiro reinvestiu nos anos 1980 na aparente manualidade da escultura, com um regresso a técnicas e materiais convencionais após longos anos de pesquisas sobre o corpo e a natureza assentes na fotografia e em textos, e José de Guimarães dedicou-se a um simbolismo de contornos pop da história e da cultura portuguesas, em objetos indiferentemente herdeiros da pintura ou da escultura. Por sua vez, uma nova geração de artistas, como António Campos Rosado, José Pedro Croft e Manuel Rosa, abraçou a escultura através de uma reformulação de técnicas e materiais perenes com o objetivo de questionar tradições escultóricas como o monumento, os objetos funerários, a dimensão representativa e pública da escultura clássica e seu eterno referente primordial, o corpo na sua substância física e na sua imanência espiritual.

João Vieira, Sem título (La Chair est triste), 1966

8 9

Lourdes Castro*Sombras projectadas de Marie e José Manuel Simões (Paris), 1964Tinta acrílica sobre tela. 130 x 89,3 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

René BertholoUm exemplo por dia, 1965Óleo sobre tela. 100 x 73 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

João VieiraSem título (La Chair est triste), 1966Óleo sobre tela. 161,4 x 129,5 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Joaquim RodrigoSevilha - Cartaia, 1969 Tinta acrílica sobre platex.97 x 146 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Álvaro Lapa*Buraco quase lírico, 1971Esmalte acrílico sobre aglomerado. 53 x 71,8 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Manuel BaptistaRelevo, 1973Pintura, desenho e colagem sobre tela. 130 x 100,7 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Fernando LanhasO49–73/75, 1973–75Óleo sobre tela montada em aglomerado (tríptico)154,8 x 402,5 cm (total)Col. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

António PaloloSem título, 1973Óleo sobre tela (tríptico).150 x 110,5 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1993

Ângelo de SousaSem título, 1973–74Tinta acrílica sobre tela.169,5 x 199,5 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Paula RegoA grande seca, 1976Tinta acrílica e têmpera sobre papel montado sobre tela.121 x 151,5 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

António Sena707, 1976Tinta acrílica sobre tela (tríptico). 121 x 273 cm (total)Col. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Júlio PomarSem título, 1977Colagem e tinta acrílica sobre tela. 146,2 x 96,8 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

10 11

António Campos RosadoSem título, 1986Mármore azul de Cascais.130 x 155 x 96,5 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

José de GuimarãesInês de Castro, 1986Tinta acrílica sobre pasta de papel. 230 x 90 x 30 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Nikias SkapinakisMapa-Mundo, 1986Carvão sobre papel montado sobre tela. 120,5 x 577 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

José Pedro CroftSem título, 1985Calcário. 200 x 28,3 x 28 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Alberto Carneiro18 citações tiradas de “A memória do corpo sobre a terra”, 1985–86Madeira de tola. 300 x 200 x 250 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Julião SarmentoMemória do túnel, 1985Acetato polivinílico e pigmentos sobre tela de algodão não preparada. 255 x 188 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1991

Pedro Cabrita ReisO desejo do eterno, 1984Esmalte acrílico sobre tela.175,5 x 240,3 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

António DacostaA chuva de oiro, 1984Óleo sobre tela. 147,2 x 70,5 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1991

Álvaro Lapa*Museu I, 1984Óleo sobre aglomerado de madeira. 109 x 136 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Jorge MartinsLabirinto, 1984Óleo sobre tela. 232 x 162 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Eduardo BatardaReprodução, 1985Tinta acrílica sobre tela. 200 x 161 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Joaquim Bravo*La mer, 1985Tinta acrílica sobre tela. 110 x 89,5 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

1312

Manuel RosaSem título (Barco), 1986Calcário. 35 x 241,3 x 18 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Manuel BaptistaSem título, 1987Colagem e pintura sobre tela.160 x 130 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Pedro CalapezSem título, 1987Tinta acrílica e carvão sobre tela. 250 x 174,5 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

Graça MoraisAlda, espelho do mundo, 1987Tinta acrílica sobre tela.207 x 237,5 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

José de CarvalhoSem título, 1988Tinta sobre serapilheira (díptico). 170,2 x 197 cm (total)Col. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

José LoureiroDuas pessoas encostadas, míscaros, 1988Óleo sobre tela. 98 x 150 cmCol. Secretaria de Estado da Cultura, em depósito na Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea, Porto. Depósito em 1990

* Obra não exposta / Work not on display

Body, Abstraction and Language in Portuguese Art: Deposits from the Secretary of State for Culture in the Serralves Collection

‘Body, Abstraction and Language in Portuguese Art’ presents 30 works from the Secretary State for Culture (SEC) Collection on deposit in the Serralves Museum of Contemporary Art. This exhibition represents both the founda-tions of the Serralves Collection and a singular perspective on the Portuguese art context of the 1960s and 1980s. The works displayed express the various dialogues and formal confluences that Portuguese artists were able to establish both with each other and the global art context in the post-war period. One of the most remarkable aspects of Portuguese art of these decades is the relative indifference to the most conceptual and performative aspects of art, or simply using them as a means. Some artists did use them, for instance Graça Morais, António Palolo and José de Carvalho; and they were absolutely essential at specific times in the careers of Alberto Carneiro, Ângelo de Sousa and Julião Sarmento. In contrast, what this exhibition aims to show is the way in which painting and sculpture have been fundamentally important to all these artists and their artistic and conceptual explorations.

Most of the selected artists studied and began their careers in the difficult environment of the Portuguese dictator-ship, where censorship and political and civic repression led to imprisonment (as with Júlio Pomar and Nikias Skapinakis), or to what amounted to forced and permanent exile (as happened with António Dacosta, Jorge Martins and Paula Rego). In the second half of the 1950s, several Portuguese artists who would become leading figures in the last third of the twentieth century were able to study abroad, usually in Paris or London, with occasional stays in Munich or New York, as was the case with Lourdes Castro, René Bertholo, João Vieira, Jorge Martins, Alberto Carneiro, Ângelo de Sousa and Eduardo Batarda. This contact with the international context allowed them to combine the modernist research of

artists of the previous generation, such as Júlio Pomar, Fernando Lanhas, Nikias Skapinakis and Joaquim Rodrigo, with the visual and aesthetic preoccupations of new artistic centres.

These artists were well aware of how European and American art explored the blurring of boundaries between high and popular culture; the interest in the various manifestations of reality and media communication and the demate-rialization of the art object. Their choice of painting and sculpture was motivated by the imperative need to undo a regime of images dependent on the ideological propaganda of the Estado Novo (New State), linked to the representation of the conservative and popular values of a society that wanted to be static, and create new ways of seeing and imagining reality, in keeping with the dynamic vision of a changing world.

René Bertholo and João Vieira’s works focus, respectively, on turning ordinary objects into symbols of everyday life, and the visual expression of language. Lourdes Castro, on the other hand, used contours and shadows implying a playful game of forms, colours and spatial relations without representative or ideo-logical connotations. In Portugal, this new way of observing and representing the tangible world was called New Figuration, and was based on formal research into abstraction and figuration promoted by a previous generation of artists that included Fernando Lanhas, Júlio Pomar and Nikias Skapinakis.

Works from the 1970s by these artists, along with those associated with the 1960s New Figuration, principally Paula Rego and Joaquim Rodrigo, or those engaged in informal and geometri-cal abstract experiments based on colour and line, as for instance Manuel Baptista, Ângelo de Sousa and António Palolo, demonstrate the relevance of artists active since the post-war period. They also show the way in which Portuguese artists have focused their interest in the fragment, simplification and single colours in the creation of new meanings, as well as the dismantling of narrative represen-tation in writing pushed to the limits of the indecipherable and incommunicable, as in the work of Antonio Sena.

1514

These interests became particularly important in the 1980s, when Portuguese society became fully democratic and the international reorientation of the tradi-tional support of painting and sculpture led to a visual and aesthetic maturity of Portuguese art. Julião Sarmento turned to painting, but continued to explore themes related to the erotic instincts of the body. Antonio Dacosta, a surreal-ist from the 1940s, returned to activity, with the pertinence and contempora-neity of his new work bringing together the recovery of the gestural inherent in painting, as well as the taste for the free exploration of colours and forms. It brought, moreover, the suggestion of narratives and stories, which is also to be seen in the paintings of Pedro Cabrita Reis, José Loureiro, Graça Morais, Álvaro Lapa and Jorge Martins. The dialogue with tradition and the rethinking of the stable disciplines of art, such as painting and sculpture, also allowed for questioning its modes of functioning through paraphrase, quotation and irony. In the cases of Nikias Skapinakis, Jorge Martins, Eduardo Batarda, Joaquim Bravo, José de Carvalho and Pedro Calapez, this implied a re- visiting of abstraction.

Finally, in the 1980s, Alberto Carneiro reinvested in the apparent manual quality of sculpture, returning to conventional techniques and materials after long years of research on the body and nature based on photography and texts. José de Guimarães focused on pop symbolism outlining Portuguese history and culture, producing objects that could be the heirs of painting or sculpture. In turn, a new generation of artists, such as António Campos Rosado, José Pedro Croft and Manuel Rosa, embraced sculpture through a reformulation of perennial techniques and materials questioning sculptural traditions such as the monument, funerary objects, the representative and public dimension of classical sculpture and its eternal primary reference: the body in its physical substance and spiritual immanence.

Paula Rego, A grande seca, 1976

The Serralves Collection is a collection of reference that offers a uniquely international context in which to understand contemporary art in Portugal.

The Serralves Collection is comprised of works acquired by the Serralves Foundation since its creation in 1989, together with long-term deposits from private and public collections. Deposits that have served as points of reference for the development of the collection include the Collection of the Portuguese Secretariat of State for Culture and the Collection of the Luso-American Development Foundation (FLAD).

The focus of the Serralves Collection is contemporary art produced from the 1960s to the present day. The inaugural exhi-bition of the Serralves Museum of Contemporary Art in 1999, ‘Circa 1968’, served to highlight the 1960s and 70s, a historic period of political, social and cultural change that took place around the world, as seminal decades out of which emerged new paradigms in art making and the beginning of the post-modern era.

As part of a continued research and development of the Collection in the twenty-first century, the Serralves Collection aspires to further distinguish itself through its focus on contemporary art's relationship to performance, architecture and contemporaneity in relation to a post-colonial and globalized present. While resona-ting with the art and ideas of our recent past, the Collection aims to reflect on how the art of today also anticipates its future.

Ler/Read

Edward T. Hall, A dimensão oculta, Lisboa: Relógio d’Água, 1986. Yve Alain Bois, Painting as Model, Cambridge, MA: MIT Press, 1991. René Bertholo, cat. exp., Porto: Fundação de Serralves, 2000.João Vieira: Corpos de letras, cat. exp., Porto: Fundação de Serralves, 2002. António Sena, cat. exp., Porto: Fundação de Serralves, 2003. Paula Rego, cat. exp., Porto: Fundação de Serralves, 2004. Álvaro Lapa, Lisboa: Assírio & Alvim, 2007. Eduardo Batarda: Outra vez não!, cat. exp., Porto: Fundação de Serralves; Assírio & Alvim, 2011. Alberto Carneiro: Arte vida / vida arte, cat. exp., Porto: Fundação de Serralves, 2013. Jorge Martins: A substância do tempo, cat. exp., Porto, Lisboa: Fundação de Serralves, Fundação Carmona e Costa, Sistema Solar/Documenta, 2013. António Dacosta, 1914–2014, cat. exp., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenian, 2014. Júlio Pomar: Notas sobre uma arte útil, Parte escrita I (1942–1960), Lisboa: Documenta, 2014. Body of Art, Londres: Phaidon Press, 2015. Catarina Rosendo, Serralves: A história da Coleção, Porto: Fundação de Serralves, 2016.

Ver/See

Busby Berkeley, Gold Diggers, 1935. Peter Greenaway, Drowning by Numbers, 1988. Stanley Kubrick, Eyes Wide Shut, 1999. Manoel de Oliveira, Palavra e utopia, 2000. Gabriela Cerqueira, Quadros pintados por letras: João Vieira, 2003. Catarina Mourão, Lourdes Castro: Pelas sombras, 2010.

Ouvir/Listen

Arnold Schoenberg, Five Orchestral Pieces, Op. 16, 1909. John Cage, 4’33, 1952. The Beatles, The Word, 1965. Brian Eno, Discreet Music, 1975.Heróis do Mar, Heróis do Mar, 1981. Talking Heads, Naked, 1988. Telectu, Camerata Elettronica, 1988. Laurie Anderson, Language is a Virus, 1986. Mler Ife Dada, Zuvi Zeva, 1987. António Pinho Vargas, Os jogos do mundo, 1989. René Bertholo, Um argentino no deserto, 2000.

ExposiçãoConceção do programa de itinerâncias: Marta Moreira de Almeida e Ricardo NicolauCuradoria: Marta Moreira de AlmeidaOrganização: Fundação de Serralves —Museu de Arte Contemporânea, Porto

PublicaçãoTexto: Catarina Rosendo Conceção gráfica: Maria João Macedo Coordenação: Maria Burmester Tradução: Michael Greer Créditos fotográficos: Filipe Braga, © Fundação de Serralves, Porto; Rita Burmester, © Fundação de Serralves, PortoImpressão: Empresa Diário do Porto

Apoio institucional

Fundação de Serralves Rua D. João de Castro, 210, 4150–417 Porto

www.serralves.pt [email protected] Informações: 808 200 543

Centro de Cultura Contemporânea de Castelo BrancoCampo Mártires da Pátria, S/N (Devesa) 6000–097 Castelo BrancoTel: 272 348 170Email: [email protected]

Horário da exposição:Ter–Dom: 10h00–13h00; 14h00–18h00