música brasileira popular

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Música brasileira popular Primórdios

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Antes de começarmos, é importante defnir o conceito de música popular...

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Msica brasileira popular

Msica brasileira popularPrimrdiosO que msica popular?Antes de comearmos, importante definir o conceito de msica popular. O grande historiador de msica brasileira, Jos Ramos Tinhoro, define o termo no comeo do seu livro Pequena Histria da Msica Popular da seguinte maneira:

Por oposio msica folclrica (de autor desconhecido, transmitida oralmente de gerao a gerao), a msica popular (composta por autores conhecidos e divulgada por meios grficos, como as partituras, ou atravs da gravao de discos, fitas, filmes ou vdeo-teipes) constitui uma criao contempornea do aparecimento de cidades com um certo grau de diversidade social.

No Brasil isso equivale a dizer que a msica popular surge nas duas principais cidades coloniais Salvador e Rio de Janeiro no correr do sculo XVIII, quando o ouro das Minas Gerais desloca o eixo econmico do nordeste para o centro-sul, e a coexistncia desses dois importantes centros administrativos de reas econmicas distintas torna possvel a formao de uma classe mdia urbana relativamente diferenciada.

Modinha e Lundu

A modinha e o lundu so os primeiros gneros de msica popular brasileira. A modinha costuma narrar histrias de amor enquanto o lundu lida com a sensualidade e utiliza-se de ironia e humor.

A modinha com frequncia emprega a tonalidade menor, principalmente na sua primeira parte. Originalmente composta em compasso binrio, a partir do fim do sculo XIX passa a adotar tambm o compasso ternrio. Ela evolui para a moderna seresta, tendo em Slvio Caldas um dos seus principais representantes. Ela continua a fazer parte da cano brasileira, ora como valsa, ora como seresta e segue at a figura de Juca Chaves, por exemplo, e canes como Modinha (Tom Jobim e Vincius de Moraes), At Pensei de Chico Buarque e Serenata do Adeus (Vincius de Moraes).O lundu, frequentemente em tonalidade maior, mais sincopado e embora ele desaparea no comeo do sculo XX, sua caracterstica rtmica vai evoluir para o maxixe e consequentemente para os demais ritmos afro-brasileiros, em especial o samba. Ou seja, o lundu est na gnese de grande parte dos ritmos afro-brasileiros.

Domingos Caldas Barbosa1740-1800Primeiro nome associado msica popular brasileira, filho de portugus com escrava angolana. Foi o responsvel por levar a modinha e o lundu para Portugal na dcada de 1770. Depois esses gneros retornaram ao Brasil com a corte portuguesa em 1808.Modinha (Jos Miguel Wisnik)A palavra vem da "moda" portuguesa, tipo de cano de salo baseada em frmulas meldicas possivelmente italianas. Abrasileirada, ganha uma "sensualidade mole", movimentos sincopados, palavras de gosto tropical e afro-brasileiro, alm de uma carga de linguagem afetiva, a comear do diminutivo aplicado ao prprio nome do gnero - "modinha". Ao introduzi-la com grande efeito em Portugal, na corte de D. Maria I, na altura de 1775, Caldas Barbosa estaria condensando uma tendncia difusa j presente no Brasil de maneira assistemtica, entre "mestios, negros, pndegos, tocadores de viola" (segundo prope Jos Ramos Tinhoro). Durante o sculo XIX, as modinhas so feitas muitas vezes sobre poemas de Gonalves Dias, lvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Castro Alves. No fim do sculo, fixou-se efetivamente como um tipo de cantiga popular urbana, lrica e sentimental, tal como praticada pelos cancionistas Xisto Baa (1841-1894), Laurindo Rabelo (1826-1864), Catulo da Paixo Cearense (1866-1946).

Casinha Pequenina Mrio Pinheiro (1904)Tu no te lembras da casinha pequenina / Onde o nosso amor nasceu / Tu no te lembras da casinha pequenina / Onde o nosso amor nasceu / Tinha um coqueiro do lado / Que coitado de saudade j morreu / Tinha um coqueiro do lado / Que coitado de saudade j morreu

Tu no te lembras das juras e perjuras / Que fizeste com fervor / Tu no te lembras das juras e perjuras / Que fizeste com fervor / Do teu beijo demorado prolongado / Que selou o nosso amor / Do teu beijo demorado prolongado / Que selou o nosso amor

Tu no te lembras do olhar que a meu pesar / Dou-te o adeus da despedida / Tu no te lembras do olhar que a meu pesar / Dou-te o adeus da despedida / Eu ficava tu partias tu sorrias / E eu chorei por toda a vida / Eu ficava tu partias tu sorrias / E eu chorei por toda a vida

O talento e a formosura(Catulo da paixo cearense/Edmundo) Mrio Pinheiro - 1904Tu podes bem / Guardar os dons da formosura / Que o tempo um dia / H de implacvel trucidar / Tu podes bem / Viver ufana da ventura / Que a natureza / Cegamente quis te dar

Prossegue embora / Em flreas sendas sempre ovante / De glrias cheia / No teu slio triunfante / Que antes que a morte / Vibre em ti funreo golpe seu / A natureza ir roubando / O que te deu

E quanto a mim / Irei cantando o meu ideal de amor / Que sempre novo / No vior da primavera / Na lira austera / Em que o Senhor me fez to destro / Ser meu estro / S do que for imortal

Terei mais glria / Em conquistar com sentimento / Pensantes almas / De vares de alto saber / E com amor / E com pujana de talento / Fazer um bardo / Ternas lgrimas verter

Isto mais nobre / mais sublime e edificante / Do que vencer / Um corao ignorante / Porque a beleza s matria / E nada mais traduz / Mas o talento s esprito / E s luz

Descantarei na minha lira / As obras-primas do Criador / O mago olor da flor / Desabrochando luz do luar / O incenso dgua / Que nos olhos faz / A mgoa rutilar / Nuns olhos onde o amor / Tem seu altar

E o verde mar que se debrua / Nalva areia a espumejar / E a noite que solua / E faz a lua soluar / E a Estrela Dalva / E a Estrela Vsper languescente / Bastam somente / Para os bardos inspirar

Mas quando a morte / Conduzir-te sepultura / O teu supremo orgulho / Em p reduzir / E aps a morte / Profanar-te a formosura / Dos teus encantos / Mais ningum se lembrar

Mas quando Deus / Fechar meus olhos sonhadores / Serei lembrado / Pelos bardos trovadores / Que os versos meus ho de na lira / Em magos tons gemer / Eu morto embora / Nas canes hei de viver

Lundu Jos Miguel WisnikDana sincrtica baseada nos batuques dos escravos bantos. Pela liberdade corporal que ela supe foi muitas vezes vista como lbrica, licenciosa e indecente. Descries falam em gestos que parecem combinar traos de fandangos ibricos (como o estalar dos dedos) com a umbigada caractersticamente africana. Caldas Barbosa apresenta em Lisboa, em 1775, ao lado de suas modinhas, lundus em que a dana se transforma em cano solista de cunho sensual ou cmico. Desde o fim do sculo XVIII adaptada para seres de corte, o lundu faz fortuna como dana de salo. So variaes do lundu a tirana, a chula, o fado, o miudinho e o baiano. Com a chegada da polca, mais o tango e a habanera, com os quais se funde, o lundu vem a estar na origem do maxixe, o primeiro gnero da msica popular urbana moderna, no fim do sculo XIX e comeo do XX.

Isto bom (Xisto Bahia)O inverno rigoroso / Bem dizia a minha vQue dorme junto tem frio / Quanto mais quem dorme s

Isto bom, isto bom / Isto bom que di...

Se eu brigar com meus amores / No se intrometa ningumQue acabado os arrufos / Ou eu vou, ou ela vem

Quem ver mulata bonita / Bater no cho com o pezinhoNo sapateado a meio / Mata o meu coraozinho

Minha mulata bonita / Vamos ao mundo girarVamos ver a nossa sorte / Que Deus tem para nos dar

Minha mulata bonita / Que te deu tamanha sorteFoi o Estado de Minas / Ou Rio Grande do Norte

Minha viola de pinho / Que eu mesmo fui o pinheiroQuem quiser ter coisa boa / No tenha d de dinheiro

Gravado por Bahiano em 1902, esse lundu foi a primeira gravao feita no Brasil. Eduardo das Neves tambm gravou a msica, mas exceo do refro nem parece a mesma msica.Maxixe Jos Miguel Wisnik

Dana urbana surgida nos bailes populares do Rio de Janeiro por volta de 1875, estendendo-se pelos clubes carnavalescos e teatros de revista. Resulta de uma apropriao da polca europia atravs da sncopa afro-lusitana, com toques de habanera e de tango. Primeira dana popular urbana no Brasil, obtendo alguma repercusso na Europa, na dcada de 10.

Corta-Jaca (Chiquinha Gonzaga)Os Geraldos 1904 Embora classificado como tango, isso na verdade um maxixe. Havia sido composta na verso instrumental em 1895 e depois alcana prestgio aps a incluso na revista C e L, de 1904.Cabea de Porco (Anacleto de Medeiros)Banda do Corpo de BombeirosTambm no classificada como maxixe, mas sim polca, embora seja, de fato, um maxixe.Fandanguassu Banda da Casa EdisonTango brasileiro e o maxixeJairo SeverianoSubmetidas desde a chegada a um processo de nacionalizao, as danas importadas seriam fundidas por nossos msicos populares a formas nativas de origem africana, conhecidas pelo nome genrico de batuque. Foi assim que, na dcada de 1870, nasceram o tango brasileiro, o maxixe e o choro, ao mesmo tempo que se abrasileirava a tcnica de execuo de vrios instrumentos, como o violo, o cavaquinho e o prprio piano. Parentes prximos, os trs gneros teriam em comum o ritmo binrio e a utilizao da sncope afro-brasileira, alm da presena da polca em sua gnese.Metade das composies de Ernesto Nazareth so classificadas como tango. Mas o tango de Nazareth estilizado, com forte influncia da polca, do lundu e do maxixe. Mozart de Arajo diz o seguinte:

Para o piano, Nazareth canalizou toda aquela msica que andava dispersa pelas esquinas. O formulrio rtmico e moldico do choro e da seresta carioca, a gria improvisatria do maxixe, tudo isso Ernesto Nazareth captou, refinou, filtrou, transfigurou e condensou na sua obra pianstica. E dos processos que utilizou para abrasileirar os gneros estrangeiros que dominavam o ambiente musical da metrpole, o mais importante creio por seu ineditismo, foi o de transpor para o piano os instrumentos populares brasileiros: a flauta, o violo, o cavaquinho, o offcleide, o bombardino, a percusso. Mozart de ArajoTangoBrejeiro (Ernesto Nazareth) Banda do Corpo de Bombeiros 1904 Tango (na verdade maxixe!)

Odeon (Ernesto Nazareth) 1910 Nazareth e Pedro de Alcntara)

Sofres porque queres (Pixinguinha) Grupo Choro Pixinguinha Violo, flauta e cavaquinhoGneros do sculo XIXEm meados do sculo XIX chega ao Brasil uma srie de gneros e danas importadas, principalmente da Europa. Os principais seriam a polca, o tango, o scottish, a habanera (de Cuba), a mazurca e a valsa.

A polca o mais importante deles e est presente na origem de trs importantes gneros brasileiros surgidos por volta de 1870: o maxixe, o tango brasileiro e o choro. Esses estilos, na verdade nascem de uma combinao em maior ou menor grau de elementos estrangeiros e nacionais, principalmente da polca e do tango (Europa), da habanera (Cuba) e do lundu (Brasil), e acima de tudo de um jeito brasileiro de interpretar essa msica estrangeira.

A figura rtmica preponderante na msica desse perodo, e que se estende at a segunda dcada do sculo XX a sincopa que est presente em grande parte dos acompanhamentos:

E que por sua vez uma variao do chamado paradigma de Tresillo, derivado do ritmo da habanera:

16Polca

Apanhei-te Cavaquinho (Ernesto Nazareth) Grupo O Passos no Choro Choro e poesia (Pedro de Alcntara) - Nazareth, piano e Pedro de A., flautim S para moer (Viriato Figueira da Silva) - Patpio SilvaAtraente (Chiquinha Gonzaga) Grupo Chiquinha Gonzaga Cavaquinho, flauta, violo e pianoValsaPrimeiro Amor Patpio Silva 1904Flor do mal (Santos Coelho) Grupo O Passos no ChoroRosa (Pixinguinha)

Scottish (chotis)Iara (Anacleto de Medeiros)Chave de ouro (Americo Faria) - Quarteto da Casa Faulhaber

Marcha Ai seu M (Freire Jnior e E. Sampaio)Orquestra Pan American do Cassino Copacabana

A conquista do ar (Eduardo das Neves) Bahiano

CanonetaBoceta de rap Mrio Pinheiro

Canes regionais Catulo da Paixo Cearense

Caboca de Caxang (Joo Pernambuco Catulo) Batuque sertanejo, na verdade uma embolada, fez sucesso no carnaval de 1914, desagradando Catulo, que no gostou de ver sua cano sendo depreciada!Luar do Serto (Catulo) Toada de provvel autoria de Joo Pernambuco (contestada por Catulo, que conhecido por no ser dotado musicalmente).Principais compositoresOs trs mais importantes compositores desse perodo inicial da msica brasileira foram Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Ernesto Nazareth (1863-1834) e Anacleto de Medeiros (1866-1907). Chiquinha foi a primeira figura feminina de destaque no seu tempo tendo sido muito popular e compondo principalmente para o teatro de revista; Nazareth foi o estilizador da msica dos chores e tambm do tango brasileiro, o principal segmento de sua obra, que o situa entre o popular e o erudito; Anacleto foi um instrumentista ecltico e regente de bandas, responsvel por belas composies do perodo. Foi o sistematizador do scottish (chtis) brasileiro.