museologia informal e investigação-ação · emancipação social, a proposta de boaventura sousa...
TRANSCRIPT
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 35
Museologia Informal e Investigação-ação
A proposta da museologia informal como campo de investigação-ação1
Este artigo constitui uma reflexão sobre as metodologias de
investigação-ação aplicada na museologia informal.
Iniciamos o artigo com uma reflexão sobre os Horizontes da
emancipação social, a proposta de Boaventura Sousa Santos
apresentada em 2000 no seu livro “Critica da Razão Indolente”, para
de seguida fazermos uma atualização da nossa reflexão sobre a
Investigação-ação aplicada na museologia informal.
Constitui o nosso principal objetivo fazer uma reflexão crítica sobre as
metodologias que temos vindo a testar.
1 Por Pedro Pereira Leite- CES.UC
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 36
Horizontes da emancipação Social: As epistemologias do Sul, o Barroco e a Fronteira
Quanto em 2000, Boaventura de Sousa
Santo Publica a Sua Crítica da Razão
Indolente, o primeiro volume de uma série
de quatro onde o autor se propõe a
construir uma crítica ao paradigma a
racionalidade ocidental e a construir uma
teoria crítica assente na transição
paradigmática, apresenta uma reflexão
sobre os horizontes da emancipação social
(Santos, A Crítica da Razão Indolente:
Contra o Desperdício da Experiencia, 2000).
A análise crítica da mudança paradigmática
que o autor enuncia neste livro é sustentada
na tensão dialética entre regulação e
emancipação que, segundo o autor,
caracteriza a emergência e a hegemonia do
pensamento moderno ocidental. Segundo o
autor o pensamento ocidental é um
pensamento dual, que se vai constituir
como dominante no mundo global é um
pensamento abissal que se caracteriza num
sistema de distinções visíveis e invisíveis. A
componente visível do sistema expressa-se
através da tensão entre a apropriação e a
resistência; e a sua componente invisível
expressa-se através da tensão entre a
regulação e a emancipação social. As
tensões internas do sistema são portanto
reveladas pelo confronto entre a
emancipação e a regulação.
Este pensamento dual expressa-se em
múltiplas representações. Uma dessas
formas é aquilo a que o autor chama a
“cartografia moderna dual”, que se exprime,
na sua componente visível pela cartografia
jurídica e na componente invisível na
cartografia epistemológica (Santos,
Boaventura Sousa & Menezes, Maria Paula,
2009, p. 30). Se a primeira regula o que é
incluindo e o que é excluído, criando os
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 37
termos das “legalidades” e da “ausências”
dos não-lugares e dos grupos humanos
sacrificados; a segunda linha invisível,
determina o que é conhecimento e exclui os
não-conhecimento dos excluídos2.
É uma questão é complexa, sobre a qual já
nos temos vindo a debruçar noutros
trabalhos, sobretudo na sua dimensão
relativa às epistemologia do Sul (Leite,
Cassa Muss-am-ike: O Compromisso no
Processo Museológico, 2011). As
epistemologias do Sul, como já analisámos
em artigo anterior, é uma proposta
epistemológica que o autor propõe logo de
início em “A Gramática do Tempo: para uma
nova cultura política” (Santos, 2006). O
trabalho a que autor se propõe, a de
identificar a emergência dum novo
paradigma, é feito a partir duma reflexão
sobre o atual paradigma. De certa maneira,
o novo ainda não existe e apenas se poderá
ter conhecimento dele através de sinais.
Essa falta de distância e de perspetiva
produzirá certamente, como o autor
reconhece, sérios limites na análise.
O autor reconhece a impossibilidade de
evitar a contaminação do trabalho de
reconhecimento do futuro por formas de
pensamento construídas no paradigma
atual. Mas, como o autor também refere é
necessário efetuar esse esforço de reflexão
para ousar traçar caminhos que a prática do
trabalho científico se encarregará de validar
ou infirmar. É esse ensaio de procurar os
elementos que enunciam a possível
transição da modernidade (a razão
indolente) para uma outra razão
cosmopolita (que integra as diversidades e
as experiencias do mundo) que o autor vai
aprofundar no seu trabalho inicial (Santos,
2000).
2 Uma primeira abordagem desta questão é feita em
(Santos, 2013)
Depois de revisitar os papeis que a ciência e
o direito tiveram na constituição da
modernidade (liberalismo político e
marxismo) e na racionalidade (ciência), o
autor ensaia na segunda parte do livro “as
armadilhas da paisagem”: onde faz uma
crítica à epistemologia do espaço-tempo
através da análise aos sistemas de
representação cartográfica e a crítica da
“epistemologia da cegueira”, que é
responsável pela representação dos limites
do atual paradigma científico. Nesta
proposta analisa a determinação da
relevância, dos graus de relevância, a
determinação da identificação, a
impossibilidade da duração, e a
determinação da interpretação e da sua
avaliação. Esse será o processo que
permitirá o reconhecimento dos limites da
atual “epistemologia da cegueira” e a
emergência duma “epistemologia da visão”.
Será na busca dessa nova epistemologia
que o autor fundamentará a pertinência da
sociologia da ausências e das emergências,
que conduzirá à proposta de inclusão das
ecologias do saberes e dos procedimentos
de transição, com que o autor
fundamentará as suas epistemologias do sul
(Santos, 2006).
Mas será ainda nesse livro de 2000 que o
autor aprofundará a proposta apresentada
em 19943incluirá esse sul emergente como
proposta duma constelação tópica onde se
inclui a fronteira e o barroco como topoi
da transição. Ora por razões das nossas
investigações, e das leituras que temos
vindo a fazer do autor, temos vindo a
explorar sobretudo a riqueza teórica destas
“epistemologias do sul”, tendo deixado de
lado a riqueza destes outros elementos
desta constelação tópica. O nosso objetivo
neste momento o de integrarmos a questão
da fronteira nossa reflexão.
3 Apresentado igualmente em (Santos, 2013)
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 38
Revisitemos brevemente esta terceira parte
do livro. Como temos vindo a salientar o
autor procura que as construções destes
novos horizontes estejam ligadas às
práticas sociais. Às lutas emancipatórias,
também elas diversas e distintas. É uma
prática que procura a reconstrução do
conhecimento que recuse a objetivação do
outro, que o conheça reconhecendo a sua
capacidade de, autonomamente, produzir
conhecimento sobre si próprio e sobre nós
mesmos. Um conhecimento crítico que
tenha por base a intersubjetividade (Leite,
2012)
Não procuramos neste artigo dar conta da
riqueza e do esforço crítico desta parte da
obra, mas penas destacar os aspetos mais
relevantes para o projeto de investigação
que estamos e desenvolver no CES da
Universidade de Coimbra4, nomeadamente a
questão da reflexão crítica sobre as
comunidades de fronteira.
Regressando ao trabalho de Boaventura
Sousa Santos Continuar, em “Os horizontes
são humanos: da regulação à emancipação”
(Santos, 2000, p. 239 ss) vale a pena
destacar a sua crítica ao poder, sobretudo a
sua reflexão à teoria de poder em Foucault5,
à qual contrapõe uma cartografia relacional
4 Heranças Globais: A Inclusão dos Saberes das
comunidades no desenvolvimento integrado dos
territórios, (BPD SFRH / BPD / 76601 / 2011).
No nosso trabalho temos vindo, para além da
investigação nos vários espaços, a proceder à
critica dos fundamentos teóricos que presidiram
ao estabelecimentos dos objetivos de
investigação. Como, na nossa perspetiva a
Teoria Crítica não reduz a realidade ao que
existe, tudo é deve ser entendido como o feixe
de possibilidades. A análise crítica deverá então
analisar e avaliar a natureza e o âmbito das
alternativas empíricas. Essa busca da procura
das alternativas ao que existe conduzi-os à
crítica da teoria do desenvolvimento integrado e
à crítica dos conceitos de comunidades, no qual
este artigo se enquadra 5 Em Poder e Conhecimento
dos podres, que formam uma constelação
de espaços e dimensões sociais, em torno
das quais se manifestam outras tantas
relações de poder. É nesse âmbito, na
vontade da ação que emergem as novas
possibilidades de poder social solidário.
A procura dos dispositivos da ação leva
Boaventura Sousa Santos, no sexto e último
capítulo desse livro, a procurar os caminhos
da transição paradigmática. Em "Não
disparem sobre o utopista" (Santos, 2000,
p. 305) o autor (retomando e reformulando
alguma reflexões deita em “Pela mão de
Alice”, (Santos, Modernidade, Identidade e
Cultura de Fronteira, 2013) envereda pela
reflexão sobre as formas da ação possível. É
nesse capítulo, que apresenta as propostas
utópicas com base nos sinais emergentes
dos bloqueios do paradigma da
modernidade. Sinais, que como acima já
salientamos são detetados, nas fronteiras,
no barroco e no sul.
Antes de avançar para a identificação
dessas propostas utópicas, ensaia uma
cartografia da transição paradigmática. O
seu mapa orientador, que parte das
incapacidades de respostas pertinentes para
as questões socialmente relevantes do
paradigma modernos, propõe pontos de
observação. Esses pontos de observação,
que se constituem como pontos de
relevância para os processos de
emancipações social nas suas tensões com
os poderes de regulação social, são
delimitados pelos espaços - estruturais
definidos no capítulo anterior, a saber
(espaços doméstico, de produção, de
mercado, de comunidade, de cidadania, e
mundial), aos quais correspondem formas
de poder (o patriarcado, a exploração, o
feiticismo das mercadorias, a diferenciação
identitária desigual, a dominação e a troca
desigual) que como vimos se relacionam de
formas e intensidades diferentes, daí
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 39
resultado unidades sociais, instituições,
dinâmicas de desenvolvimento, formas de
direito e propostas epistemológicas que
configuram as diferentes formas de
realidade fenomenológica.
A importância do entendimento destas
possibilidades de real constitui o filtro a
partir do qual de pode observar as ações
rebeldes. As ações que visam ultrapassarem
os bloqueios e as opressões na sociedade.
Estas ações sociais rebeldes são as formas
de resistência social contra essas formas de
poder e, na medida em que se organizam
segundo articulações locais ou globais,
constituem-se como campos de ação e
investigação do paradigma emergente.
As diferentes dimensões espaciais do poder
relacionam-se com uma ou várias das
formas que assume, tornadas visíveis pelas
suas expressões simbólicas. As
comunidades cooperativas domésticas, os
processos de produção solidários, os
consumos responsáveis e solidários, as
comunidades amiba (comunidades abertas e
plurais), o socialismo sem fim, as
sustentabilidades democráticas e soberanias
dispersas. Uma transição que segundo
Sousa Santos tem que ser simultaneamente
epistemológica e societal. Isto é que novos
modos de conhecimentos, devem estar
alicerçados em formas de estar, de fazer de
ser e de organização social.
É nesta experiencia, na vivência da função
da experiencia que precede a determinação
do objeto, que radica a pertinência da
observação que desencadeia a ação. Como
tudo o que é observado se relaciona com
tudo, (como identificou John Locke no seu
“Ensaio sobre o entendimento humano”), o
conhecimento produzido pela ciência é ao
mesmo tempo universal e infinito.
Simultaneamente redundante e inovador. A
ultrapassagem desse paradoxo é possível
pelo diálogo processual entre o sujeito e o
objeto. A subjetividade do objeto é
reconstruída na ação. A construção duma
inquietação. A intersubjetividade é uma
destas respostas teóricas que permite
reconstruir, a partir da inquietação formas
de emancipação social.
Os lugares de fronteira
Os lugares de fronteira constituem-se como
formas de sociabilidade privilegiadas para a
observação. As comunidades de fronteira
são espaços onde se cruzam as tradições
locais e as tradições que resultam dos
movimentos de confronto (Santos, 2000, p.
321). São espaço de se reconstituem com
base na mestiçagem, construindo normas e
hierarquias dinâmicas, estabelecem relações
fluidas. São processos onde se confrontam
tempos diferenciados, produzidos em
espaços diferenciados. Há portanto uma
certa instabilidade no ar. As relações
estabelecidas são simultaneamente
horizontais e verticais.
A emergência do novo paradigma nestes
territórios de fronteira, segundo Sousa
Santos deverá ocorrer nas suas margens. A
fronteira do mundo global é o espaço onde
o paradigma dominante encontra as
maiores resistências em se implementar,
sendo dessa resistências que deverá
emergir as novas formas de organização e
conhecimento paradigmático. Será também
nesses espaços afastados dos centros que
deverão ser mais percetíveis as incoerências
das formas de dominação.
Pela sua natureza fluida estes espaços
marginais são espaços difíceis de
caracterizar. Tanto são visíveis formas
estruturais dominantes, como formas de
poder emergentes. São espaços de conflitos
estruturais. É esse conflito que importa
analisar a constituir como espaço de ação.
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 40
Uma ação que tem que ser construída a
partir dos protagonistas da transição.
A fronteira, ou melhor a experiencia dos
limites é um local onde se torna possível a
intensidade da existência. A vivência dos
limites no espaço é uma experiencia
possível em comunidade. Não interessa
neste domínio as experiencia dos limites
individuais, uma vez que essas experiências
não se traduzem em interações sociais. No
entanto, na fronteira há espaço para a
intervenção do individual na inovação. Dada
a instabilidade dos processos nos espaços
de fronteiras, a inovação é um elemento
que permite ultrapassar problemas. A
construção desse novo paradigma é um
esforço de fronteira.
O Barroco
O segundo elemento que Boaventura Sousa
Santo explora nesse capítulo é o Barroco
(Santos, 2000, p. 330). O Barroco como se
sabe é uma forma de expressão artística
que se constitui no sul da Europa no século
XVII, como resposta à iconoclastia
protestante e calvinista do norte da Europa,
e que é posteriormente exportada para as
colónias americanas e asiáticas. Uma
excentricidade da modernidade.
O termo barroco é usado nesse livro como
expressão metafórica duma forma de
cultura capaz de ultrapassar os limites da
forma para procura processos de
emancipação social. Ou seja, segundo
Sousa Santos, a excentricidade desta forma
cultural que surge nos países periféricos do
então centro (o Barroco manifesta-se em
nos espaços do catolicismo, como realºao
ao movimento protestante, num momento
em que a hegemonia do sistama mundo se
desloca do mediterrâneo para o Norte a
Centro da Europa). Como reação ao porque
se reproduz em cada espaço de acordo com
as especificidades de cada lugar, que se
traduz na constituição de formas específicas
desses mesmo lugares, apenas é possível
devido á fragilidade dos centros de poder
colonias. Ou seja é uma manifestação
inversa da tendência hegemónica do centro.
E é nesta asserção que o termo adquire
significância no campo da análise da
emancipação social no âmbito do paradigma
emergente.
O caráter aberto e inacabado do Barroco em
cada espaço é sinónimo metafórico da
criatividade das margens em relação ao
centro. E é essa criatividade inovadora que
Boaventura Sousa Santos procura para
exemplificar, como em termos sociais, a
organização social deverá criar alternativas
às formas hegemónicas da globalização.
É certo que o Barroco se constitui também
como uma forma de afirmação do poder.
Um poder fraco, diluído, mas um poder
hegemónico. Mas será esse modo de
afirmação que servirá de suporte às ações
emancipatórias que mais tarde surgirão
nesses espaços. Assim, segundo o autor, o
Barroco constituirá a base das narrativas
nacionalistas com que os países da América
enfrentarão os poderes coloniais.
Mas a metáfora tem também um outro
alcance, que o autor procura salientar.
Sendo uma expressão cultural que se
manifesta pela exuberância da forma,
sugerindo a sua incompletude, propiciando
a diversidade dos olhares e dos pontos de
vista, o barroco exemplifica a incompletude
da forma e abre caminho a interrogação, à
busca de alternativas e a novas formas de
expresso. Assim, continuando pelo discurso
metafórico, o paradigma sócio-político
emergente deverá ser encontrado nas
margens do sistema hegemónico. Estamos
portanto praticamente a prenunciar a
emergência das epistemologias do Sul.
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 41
Mas antes disso, interessa ainda explorar a
metáfora barroca na relação da forma como
representação do real. O barroco procura a
ilusão e a aparência. O barroco procura a
subjetividade da aparência. Captar a
transcendência pela pluralidade das formas.
O contrário portanto da objetividade do
conhecimento científico, que procura a
delimitação do objeto. A forma barroca é
uma forma transitiva. Uma forma que
estimula a criatividade do olhar. A
dificuldade em definir os limites, uma das
características da pintura barroca permite
dissimular as transições. As formas
misturam-se, fundem-se criando sombras
passíveis de ser elas próprias outras formas
que se revelam nessa mistura. Anuncia-se
assim a emergência de novas formas de
organização e ação social pela mistura de
formas existentes. O novo paradigma
emergirá das velhas formas. Ele estará já
em formação nessas formas de organização
atual. Importa portanto afinar os
instrumentos de análise para os capturar.
Uma captura de algo que está movimento,
algo que ainda é fluído.
Um derradeiro elemento que o autor
salienta em relação ao Barroco como forma
cultural, é a presença da festa como
primeiro elemento das modernas culturas
de massa. A festa barroca é uma festa
ritualizada, ensaiada, com fortes
investimentos sociais para uma vivência
fulminante. A festa barroca, tais como os
eventos contemporâneos são fenómenos
fugazes. Há um tempo e um espaço de
concentração de energia, que é rápida e
intensamente consumido. Mas é essa
intensidade vivenciada que constitui o
catalisador para as novas manifestações.
Ora esta metáfora aplicada à ação
emancipatória permite facilmente entender
que uma ação social que concentre uma
determinada intensidade de movimento
sociais emancipatórios criará um efeito de
reprodução no tempo. A festa é de certa
forma uma metáfora para a o fenómeno de
catalisação da emancipação social. Ao
contrário do cientista moderno, onde a
investigação está separada da ação, a
investigação do novo paradigma emergente
não pode deixar de ser concebida na própria
ação. Mais do que um comprometimento
com a ação, a investigação constitui-se
comum compromisso com a ação
emancipatória.
Mas a festa barroca transporta igualmente
uma componente de proximidade com a
vida real. Quer o teatro, quer as formas
burlescas, quer as manifestações profanas
que ocorrem em paralelo com as festas
religiosas, constituem como espelhos da
vida. Os problemas retratados são os
problemas vividos diretamente pelas
comunidades. Os seus resultado são visíveis
e imediato. É possível uma apropriação
dessa realidade. Os movimento sociais
emancipatórios deverão também eles estar
em sintonia com os problemas das
comunidade. Deverão dar resultados
concretos para os problemas vividos.
Tomando como exemplo a ação dramática é
de salientar o efeito do riso. A comédia é
uma manifestação dramática que emerge
nos séculos XVI e XVII como espelho
burlesco da sociedade, das suas
personagens e das suas preocupações.
Entre outras manifestações, como noutro
local veremos, o riso6 constitui um espaço
de reflexão sobre o si que as sociedades
indolentes procuraram condicionar e
cercear. A capacidade de rir de si mesmo é
uma unidade de reconhecimento duma
comunidade.
6 Ver a “Oficina do Riso”, mais à frente nesta
Revista
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 42
Como salienta Boaventura Sousa Santos a
partir dos trabalhos de Max Weber, o riso é
ostracizado pela ética capitalista. Ao
desencantamento das sociedades modernas,
contrapõe a festa do movimento
emancipatório. Na tradição das festas
operária, a transição paradigmática também
emerge no riso.
A última característica da festa barroca,
para além da representação do real e do
riso, é o efeito subversivo que se permite
intuir. O carnaval barroco é uma
manifestação subversiva. A transgressão e a
inversão dos papéis sociais que o carnaval
permite, conduzem quer ao reconhecimento
de si, quer ao reconhecimento dos outros. A
inversão das hierarquias, na festa e no
carnaval é um passo para a experiencia da
inovação (também não é por acaso que o
carnaval é um fenómeno mediterrâneo). Da
inversão da hierarquias à vontade da
experiencia de mudança é um pequeno
passo. A festa traduz-se dessa forma como
um imenso potencial emancipatório a
explorar pela ação social. Uma ação que é
primeiramente experimentada e vivencias
pela estética e pela ética do prazer.
O Sul
O último topos tratado por Boaventura
Sousa Santo nesse livro é o Sul (Santos,
2000, p. 340). Já dele falamos mais acima
nesta revista. Resta salientar que para o
autor este constitui um meta-topos, ou seja
um lugar que preside à “constituição dum
novo senso comum ético. O sul é também
ele uma metáfora cultural para uma
“arqueologia da modernidade”. Como o sul
é o espaço de colonização do outro, dos
outros, das margens do sistema mundial,
ele próprio é um mundo de fronteiras e
barroco, de hierarquias e subordinações.
Sendo a transformação da modernidade
construída na base duma dupla dicotomia,
entre Norte-Sul e Ocidente-Oriente, sendo
que a primeira tem uma conotação
fundamentalmente sócio-económica e a
segunda sócio-cultural, rapidamente as
relações na globalização de fundem. No
século XIX deixa de ser possível esta ma
delimitação geográfica, porque em todo o
lado há uma dominação do outro e uma
subordinação dos mercados e das formas de
produção aos interesses do centro.
Mas será nesse sul que durante o século XX
emergirão as forma de consciência dos
outros, da violência dos sistemas de
dominação, será neles que emergirá a
vontade de rebelião, a consciência do
sofrimento humano. Segundo o autor é no
sul que existe a experiencia de luta por um
mundo alternativo.
A vontade de emancipação social sairá
segundo Sousa Santos, da conjugação
destas três tipologias tópicas: dos
fenómenos de fronteira, com características
barrocas, nos espaços do sul. Três formas
metafóricas de entender que se deverão
relacionar para evitar o esvaziamento do
potencial emancipatório. Esta condição
defrontará o paradigma da modernidade nos
seus espaços estruturais. O paradigma
emergente continua uma incógnita, mas
Ester trabalho é um importante contributo
teórico para a investigação ação.
----------------------------------------
1. A Metodologia de
investigação-ação
Há uma longa tradição nas ciências sócias
na utilização de metodologias qualitativas,
nas quais se insere a metodologia da
investigação-ação. A propósito desta
questão já nos debruçamos na nossa tese
de doutoramento, onde procuramos refletir
a museologia a partir das práticas da teoria
da conscientização, proposta por Paulo
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 43
Freira (Leite, 2011). No cerne desta
questão, como então notávamos estava a
relação entre o sujeito e o objeto, um dos
axiomas da ciência moderna.
Posteriormente desenvolvemos essa
reflexão em “Objetos Biográficos” (Leite,
2012), onde procuramos apresentar a
proposta da poética da intersubjetividade
como metodologia na museologia. Uma
metodologia qualitativa de investigação-
ação. Uma metodologia que procura, na
sequência das propostas de Boaventura
Sousa Santos, olhar a partir do Sul, da
Fronteira e do Barroco (Santos, 2013) e
(Santos, 2002).
A questão da dissolução do objeto de
investigação no sujeito dessa investigação
onde assenta onde assenta o paradigma da
ciência moderna permite intuir as
possibilidades de emergência de padrões de
inteligibilidade intersubjetiva. O
conhecimento construído a partir do sul
emerge na relação entre as dimensões
subjetivas dos indivíduos que criam õu
estabelecem constelações de compromissos
e consensos, através dos quais se vão
desenvolvendo as diferentes ações sociais.
Algumas dessas constelações cristalizam-se
em formas organizacionais, outras nem
tanto. Em todas elas encontramos formas
de estruturação, mais ou menos formais,
formas simbólicas e de legitimação.
Ao traçar os objetivos da investigação ação
no âmbito desta postura, o investigador
para além de procurar o outro7 não pode
deixar de se procurar a si mesmo. O
7 Como temos vindo a trabalhar nas questões da memória e
do esquecimento, a alienação do outro é uma forma de esquecimento do eu. Ou seja, a teoria crítica ao afirmar que a ciência moderna o estabelecer a distinção entre sujeito e objeto cria uma alienação do objetos (que explica o fetichismo da mercadoria), estabelece igualmente a alienação do sujeito. Uma arrogância epistemológica que é um resultado do auto-esquecimento ( (Santos, 2013, p. 293)
conhecimento que vai produzir, os seus
objetivos de conhecimento, não pode
constituir-se como a validação do que já
está adquirido (gerando a redundância),
mas adotar uma postura dialogante, de
procura de informação original acerca de
situações ou de atores em processo. A
produção dos conhecimentos teóricos
deverá ser obtida através de um processo
de diálogo (entre o investigador e os
membros representativos das comunidades
que vivenciam as situações ou problemas
investigados.
Por outro lado, a Investigação-ação não
procura um conhecimento teórico sobre um
determinado fenómeno. Ela procura
produzir guias ou regras práticas para
resolver os problemas e planear as
correspondentes ações de resolução através
da implicação e da participação daqueles
que são afetados por esses problemas.
A Investigação-ação permite analisar as
possíveis generalizações a estabelecer a
partir de várias pesquisas semelhantes.
Cada processo em que o investigador
participa é um enriquecimento pessoal,
assim como o é para os membros das
comunidades envolvidas.
Os processos de investigação-ação
aumentam o envolvimento das pessoas em
causas que lhe são próximos, desenvolve o
interesse das pessoas e dos grupos em
processos de mudança social.
Um investigador envolvido num processo de
investigação-ação envolve-se com a
comunidade em que trabalha. Dispoõe por
isso duma distância muito reduzida em
relação aos outros. Um bom pesquisador
não pode deixar de ser aceite pela comum
idade.
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 44
Este envolvimento com as comunidades e
com as suas causas não deve impedir o
investigador de publicar os resultados das
sua pesquisa. Para alem de assegurar que
os resultados da investigação não se
restringem a um pequeno grupo de
pessoas, a publicação dos resultados da
investigação também deverá assegurar a
filtragem entre o que é socialmente
partilhado.
A investigação ação gera mudança social
com base em elementos concretos da vida
dos grupos. Estas ações são filtros que
permitem adequar as ideias e os projetos às
condições sociais de intervenção e permitem
ao investigador verificar ou não a utilidade
do seu trabalho.
O procedimento metodológico da
investigação-ação, como método qualitativo
implica a formalização de um conjunto de
regras que permitam a recolha da
informação em diferentes momentos do
processo, para que a sua análise seja
possível e acessível em qualquer momento
da investigação. O ciclo de diagnóstico,
planeamento, ação experimental e
validação/descrição do conhecimento, é pois
um ciclo aberto, em que a cada momento se
utilizam procedimentos dos momentos
anteriores.
A questão que nos interessa neste momento
refletir, é a adequação desses
procedimentos de Investigação ação no
âmbito do nosso projeto “Heranças Globais:
A inclusão dos saberes das comunidades no
desenvolvimento integrado dos territórios”.
No estabelecimento dos objetivos de
investigação deste projeto, afirmávamos
que íamos procurar analisar as tensões na
memória social das comunidades através
dum conjunto de procedimentos que
evidenciava a adesão à metodologia da
investigação ação. Vamos agora refletir
sobre a atualidade do uso desta
metodologia a partir dos diferentes
instrumentos de trabalho, e dos mais
recentes contributos.8
O seminário realizado no CES em Coimbra,
em dezembro do ano passado foi útil para
reproblematizarmos a questão da
Investigação-ação no contexto dos
movimentos sociais. É sabido a reflexão que
tem vindo a ser feita sobre esta questão a
partir das experiencias sociais na Europa9,
sobretudo nos campos da sociologia urbana.
Como Sérgio Rodriguez Gravitto nos
recorda, não menos relevantes são os
legados das das décadas de 60-70 com os
trabalhos de Orlando Fals Borda10 na
Colômbia e Paulo Freire11 no Brasil, este
último já acima referenciado.
Desde essa altura, as metodologias da
investigação-ação tem vindo a ser aplicadas
em diferentes latitudes, em diferentes
campos do saber procurando aplicar a
investigação académica no campo das
diferentes disciplinas. Ele tem constituído
um importante instrumento de intervenção
e negociação no âmbito da formação das
políticas públicas, através das quais os
8Para este trabalho baseamo-nos na utilizamos
os contributos do Seminário “Investigation-ación
2.0” feito por César Rodriguez Gravitto na
Cátedra Boaventura Sousa Santos em 11 de
Dezembro 2012, Faculdade e Economia da
Universidade de Coimbra. 9 Veja-se nomeadamente (Guerra, 2007).
10 Orlando Fals Borda (1925-2008), Colombia.
Em 1959, junto con Camilo Torres Restrepo,
fundou a primeira Faculdade de Sociologia da
América Latina na Universidade Nacional, na
qual foi o decano. Foi um dos fundadores dea
Investigação-ação Participativa (IAP), método de
investigación qualitativa que pretende con hecer
as necessidades sociaies de uma comunidade, e
juntar esforços para transformar a realidade
com base nas necessidades sociais 11 Paulo Freire (1921-1997) . É o criador da
Pedagogia do Oprimido e influencia a pedagogia
crítica
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 45
diferentes movimentos sociais vão
procurando garantir processos
participativos.
A investigação-ação tem-se vindo a tornar
num saber aplicado nas lutas sociais. Busca
um saber produzido com as comunidades e
fundamenta-se no pensamento com os
atores sociais. A IA é hoje aplicada numa
escala local mas continua a ser trabalhada
numa escala muito próximo das
comunidades, criando compromissos na
ação.
A investigação-ação como instrumento de
sua aplicação no local é um bom desafio
para localmente pensar o global. Como tal é
uma metodologia que tem vindo a ser usada
nas universidades populares, nas escolas
dos movimentos sociais.
Localmente, na comunidade, na cidade ou
nos estados a IA mostra-se hoje como um
processo adequado à formação das políticas
públicas. Nos novos modelos de governação
democrática12, as políticas públicas são
estabelecidas por negociação. A organização
em grupos e cidadão revela-se como um
instrumento eficaz para intervir na
comunidade, para captar recursos e para
disseminar modelos de intervenção.
A utilização deste modelo permita ao
investigador criar uma agenda de
investigação no âmbito de intervenções
públicas e conciliar o processo de
investigação com o ativismo público. O
ativismo do investigador torna-se um
processo de cidadania no âmbito de
construção de instituições. Tanto mais
relevante é esta questão, quanto sabemos,
que por tradição, as universidades,
enquanto centros de saber hegemónico
12
Na formulação de políticas públicas joga-se hoje a capacidade de afirmação dos sistemas de poder democrático. (Pasquino, 2007, p. 287)
criadas na modernidade, são estruturas
hierárquicas, filtrando e reproduzindo as
formas de saber hegemónicas. A
participação do investigador nos processos
de cidadania é ela própria uma possibilidade
de inovação social na construção de
instituições de saber
A investigação-ação é um processo
metodológico que permite transformar a a
imagem social em imaginação pública. Ao
desenvolver intervenções públicas com base
na participação, a permite um entendimento
do real mais consistente e uma abordagem
construída a partir de diferentes ângulos de
entendimento. Aumenta com isso o
envolvimento dos atores nos movimentos
sociais, e permite escolher as relevâncias
nos processos. A investigação-ação, por
estar mais próxima dos processos, está
numa sintonia mais elevada em relação às
questões relevantes para cada comunidade
a cda momento. Uma das críticas feitas à
investigação tradicional, feita com base no
paradigma moderno, é a de quando formula
os problemas, já eles estão ultrapassados.
Enquanto a investigação tradicional, por
norma chega tarde aos fenómenos que
procura explicar, a investigação-ação
constitui uma forma de ultrapassar os risco
de falta relevância na ação.
Finalmente uma última vantagem nos
processos de investigação-ação para o
investigador. A proximidade e a participação
nos processos de investigação cria um efeito
efeito emocional, que facilita a motivação. A
ação é uma presentça constante. Há claro o
risco de um envolvimento excessivo, quer
com atores, quer com os processos. Uma
situação em que apenas a experiencia e a
maturidade dos investigador@s permite
ultrapassar a calibrar.
Há contudo alguns dilemas que a
investigação-ação continua a enfrentar. Não
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 46
há um caminho único, nem um caminho
linear para a construção do presente. A
Utopia é diversificada e polissémica.
Sabemos que o mundo em que vivemos
continua a ser contraditório, injusto e
problemático. A investigação-ação não
procura resolver todos os problemas das
relações desiguais, do modelo energético
com base no carbono, dos diferentes
conflitos no mundo, do modelo económico
com base na fetichizarão da mercadoria, da
economia predadora dos recurso naturais. É
no entanto uma metodologia que contém na
sua formulação os elementos necessários
para trabalhar sobre a transição
paradigmática.
A investigação-ação é um instrumento
adequado para trabalhar na construção da
transição paradigmática. Na América Latina,
um continente que enfrenta hoje uma forte
pressão para explorar os seus recursos
naturais, gerando diferentes conflitos e
alimentando uma espiral de procura de
recursos, alimenta o modelo económico que
deixou de se basear na indústria para se
centrar na venda de matérias-primas. A
América Latina centra-se na exploração das
últimas fronteiras terrestres.
Os processos de investigação-ação têm
vindo a evidenciar a necessidade de intervir
e denunciar um conjunto de ações, ao
mesmo tempo que contribui para a criação
de novas sociabilidades e novos sentidos de
comunidade. À ocupação dos territórios
indígenas da amazónia, a sua inclusão nos
processos de produção extrativista da
economia global, tem vindo a produzir
denuncia de violação dos direitos humanos.
A criação desta relação tem favorecido a
criação de instituições e ações comuns nos
movimentos indígenas.
Este envolvimento nas lutas sociais e nos
processos de ação e na construção de
instituições comuns constitui um dos
principais desafios que a investigação-ação
enfrenta na atualidade.
Será a investigação-ação uma empresa
quixotesca? Uma forma de solucionar os
problemas do mundo. É claro que a
resposta é negativa. A investigação-ação é
um instrumento de trabalho. Uma forma de
intervir para solucionar problemas. É
necessário não esquecer que a investigação-
ação composta riscos. Não podemos estar
envolvidos com o objeto de investigação
durante demasiado tempo sem sermos
contagiados por esse mesmo objeto. Há
portanto que balizar bem o tempo de
intervenção. Ultrapassar o tempo de
investigação, é de certa forma deixar de ser
investigador e assumir a uma condição de
ator cidadão. A fronteira entre ambos é
difícil de distinguir.
Um outro risco da investigação-ação é o
voluntarismo. A participação nos processos
sociais e o ativismo social é absorvente. A
implicação nos processos sociais absorve a
ação do investigador. Esse envolvimento
pode conduzir ao abandono dos princípios e
objetivos iniciais da investigação ou a uma
acomodação aos ritmos do mundo. A
investigação é prática, mas não dispensa
uma reflexão, individual e em grupo sobre
os resultados que a cada momento vão
sendo obtidos, bem como dos processos que
a cada momento se devem tomar.
Verifica-se também que o investigador em
ação corre também o risco de criar
dependências em relação aos atores com
que se envolve. A criação de cumplicidades,
de redes de solidariedade é normal no ser
humano em processo. No entanto
dificilmente resistem à quebra de laços e de
compromissos criados. Quando o
investigador enfrenta o dilema da escolha
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 47
entre a razão e a emoção a decisão é quase
sempre problemática.
Finalmente, o investigador em ação corre
também o risco de esgotamento. A prática
de investigação ação é esgotante. O
envolvimento permanente e as exigências
sociais são cansativos. O investigador, a
cada momento tem que se adaptar aos
contextos de investigação. Sair de sí para
procurar o outro é um exercício que obriga
também o reconhecimento de sí. Isso pode
conduzir a conflitos individuais ou sociais
que obrigam o investigador a tomar opções.
Visto as condições de aplicação da
metodologia, há que avaliar os processos
onde a metodologia de investigação-ação
pode ser usada. Temos vindo a defender o
seu uso em torno dos conflitos de memória.
Determinar quem fala, como fala e quando
fala e de onde fala é um dos objetivos da
oficina “cartografia das memórias”.
Mas como temos vindo a defender, o mundo
atual apresenta uma diversidade de modos
de produção de conhecimento, de escritas
científicas e de modos de produção de
conhecimentos e saberes, que a
investigação-ação não pode olvidar. Implica
isso que a produção de instrumentos de
investigação seja mestiços.
A escrita científica, produzida na academia
tem uma gramática própria, ancorada na
tradição. Há outras formas de escrita,
plurais. Os suportes das escritas e a
formação de redes são também plurais. A
investigação-ação 2.0, tal como propõe
Servgio Rodriguez Gravillo, é também uma
proposta de intervenção na produção de
escritas mestiças. É necessário utilizar as
diferentes formas de narrativa. As
jornalísticas, as literárias, as académicas a
partir do rigor das ciências sociais.
Mas na atualidade é a produção de
multimédia o grande espaço de
oportunidade que é necessário aproveitar. O
multimédia tem vindo a constituir-se como
uma espaço emergente na construção de
narrativas, de plataforma colaborativa para
trabalho em rede, incluindo a criação de
redes de investigação.
É nesse sentido que temos vindo a
aprimorar e a aperfeiçoar os processos de
disseminação dos conhecimento e dos
resultados. Criamos para isso diferentes
plataformas de intervenção, procurando
agtravés dos procedimentos de tradução,
aplicar e refletir sobre os diversos sentidos
produzidos nos diferentes espaços, nas
diferentes comunidade.13 Esse espaço
constituem também eles espaços de
intervenção em rede14 estando ainda em
processo de maturação e desenvolvimento.
Em suma as metodologias de investigação-
ação que temos vindo a aplicar resultam
duma necessidade de criar uma maior
empenhamento na construção dum mundo
sustentável. Parte da constatação de que é
necessário alterar os mapas e os roteiros da
investigação. Uma investigação empenhada
numa cultura dos saberes produzidos a
partir da proposta das epistemologias do sul
e dos territórios da fronteira. Alterar o ponto
de projeção. Projetar a ciência a partir do
sul a partir da construção de processos
participativos que favoreçam a construção
de ações coletivas.
Tem sido a partir dessa premissas que
temos vindo a construir as nossas oficinas
de participação: A cartografia das
memórias, a oficina biografia, a aula do riso
13
Veja-se em http://globalherit.hypotheses.org/ 14
Veja-se a página de museologia informal no Face Book em www.facebook.com/groups/investigacaosociomuseologia/, ou os blogos desenvolvidos em http://globalheritages.wordpress.com/
Revista de Praticas de Museologia Informal nº 2 Spring 2013 Página 48
e as estratégias de mediação. Elas visas
responder às perguntas de se saber o que
se faz, através de quem faz, como fazem e
de onde fazem. Um caminho para criar uma
clínica de Direitos Humanos como projeto
que a seu tempodesenvolveremos.
Bibliografia:
Guerra, I. (2007). Fundamentos e Processos de Uma
Sociologia de Acção. Principia: Celta.
Leite, P. P. (2011). Casa Muzambique: O compromisso no
processo museológico. Ilha de Moçambique: Marca d'Água.
Leite, P. P. (2012). Objetos Biográficos: A Poética da
Intersubjectividade em Museologia. Ilha de
Moçambique/Lisboa: Marca D' Água.
Pasquino, G. (2007). Curso de Ciência Política. Oeiras:
Principia.
Santos, B. S. (2002). A Crítica da Razão Indolente: Contra o
desperdício da Experiencia. Porto: Afrontamento.
Santos, B. S. (2013). Modernidade, Identidade e Cultura de
Fronteira. In B. S. Santos, Pela Mão de Alica: O social e o
político na pós-modernidade (pp. 139-161). Coimbra:
Almedina.
Santos, B. S. (2013). O norte, o sul e a utopia. In B. S. Santos,
Pela Mão de Alice: O Social e o Plítico na Pós-modernidade
(pp. 235-305). Coimbra: Almedina.