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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X MULHERES EM NOTÍCIA: A COBERTURA MIDIÁTICA DA SELEÇÃO FEMININA DE FUTEBOL NAS OLIMPÍADAS DO BRASIL Soraya Barreto Januário 1 Resumo: O futebol foi historicamente naturalizado em estruturas associadas à construção da masculinidade e da virilidade. A própria designação de futebol feminino se torna excludente ao determinar a necessidade de especificar apenas quando o desporto é praticado por mulheres (GOELLNER,2003), o que confere um significado universal ao masculino, em detrimento do feminino. O presente trabalho visa analisar a cobertura realizada pelos portais de notícias brasileiros sobre a seleção de futebol feminino nas Olimpíadas de 2016. Ao compreendermos que a mídia é uma das responsáveis pela (re)produção e concepção de subjetividades. Com efeito,entendemos que as masculinidades e as feminilidades são construções culturais, por vezes "metáforas de poder" (ALMEIDA, 1996), e portanto, hierarquias e modelos hegemônicos. Como aporte teórico utilizamos nos Estudos de Gênero e Esportes de Goellner (2003) e à luz dos Estudos de Gênero as teorias de Butler (2008) e Byerly (2006) . A metodologia proposta foi o estudo de caso descritivo e interpretativo, por meio da análise qualitativa dos discursos e espaços ocupados pelo evento esportivo na mídia. Como resultados, emergiram padrões de representação e discursos no que diz respeito as representações de gênero e das mulheres na mídia e nos esportes. Palavras-chave: Mulher, Futebol, Mídia, Gênero, Olimpíadas Introdução O esporte pode ser percebido, especialmente nos dias de hoje, como um dos grandes fenômenos socioculturais do século XXI, pois é capaz de influenciar diversos segmentos da sociedade, que vão desde a cultura perpassando a economia e imagem de um país. Especialmente se nos ativermos em sua intensa capacidade de fomentar consumo e pertencimento. É entendido pela Sociologia e Antropologia como um fenômeno sociocultural de grande importância para o povo brasileiro e sua identidade nacional (DAMATTA,1985). O estudo deste fenômeno vem ganhando relevância no meio acadêmico nacional nas últimas décadas Com efeito, abarca uma gama de elementos subjetivos nas pessoas, tais como: paixão, emoção, medo, frustração, etc. Tais características subjetivas impõem ao tema futebol uma difícil tarefa de análise e mensuração fiel. O futebol foi naturalizado em estruturas associadas à construção da masculinidade e da virilidade (BARRETO JANUÁRIO, 2015). A própria designação de futebol feminino se torna excludente ao determinar a necessidade de especificar apenas quando o desporto é praticado por mulheres, o que confere um significado universal, mais uma vez, ao masculino, em detrimento do feminino. O recorte de gênero acaba sendo uma categoria conceitual crucial para entendermos a história do futebol e a sua relação com a sociedade. Abarcados nas teorizações pósestruturalistas, é necessário um olhar relacional sobre os gêneros, inaugurado pela historiadora norte-americana Joan Scott (1995). A autora definiu gênero como “um elemento constitutivo de 1 Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco, Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

MULHERES EM NOTÍCIA: A COBERTURA MIDIÁTICA DA SELEÇÃO FEMININA DE

FUTEBOL NAS OLIMPÍADAS DO BRASIL

Soraya Barreto Januário1

Resumo: O futebol foi historicamente naturalizado em estruturas associadas à construção da masculinidade e da

virilidade. A própria designação de futebol feminino se torna excludente ao determinar a necessidade de especificar

apenas quando o desporto é praticado por mulheres (GOELLNER,2003), o que confere um significado universal ao

masculino, em detrimento do feminino. O presente trabalho visa analisar a cobertura realizada pelos portais de notícias

brasileiros sobre a seleção de futebol feminino nas Olimpíadas de 2016. Ao compreendermos que a mídia é uma das

responsáveis pela (re)produção e concepção de subjetividades. Com efeito,entendemos que as masculinidades e as

feminilidades são construções culturais, por vezes "metáforas de poder" (ALMEIDA, 1996), e portanto, hierarquias e

modelos hegemônicos. Como aporte teórico utilizamos nos Estudos de Gênero e Esportes de Goellner (2003) e à luz

dos Estudos de Gênero as teorias de Butler (2008) e Byerly (2006) . A metodologia proposta foi o estudo de caso

descritivo e interpretativo, por meio da análise qualitativa dos discursos e espaços ocupados pelo evento esportivo na

mídia. Como resultados, emergiram padrões de representação e discursos no que diz respeito as representações de

gênero e das mulheres na mídia e nos esportes.

Palavras-chave: Mulher, Futebol, Mídia, Gênero, Olimpíadas

Introdução

O esporte pode ser percebido, especialmente nos dias de hoje, como um dos grandes

fenômenos socioculturais do século XXI, pois é capaz de influenciar diversos segmentos da

sociedade, que vão desde a cultura perpassando a economia e imagem de um país. Especialmente se

nos ativermos em sua intensa capacidade de fomentar consumo e pertencimento. É entendido pela

Sociologia e Antropologia como um fenômeno sociocultural de grande importância para o povo

brasileiro e sua identidade nacional (DAMATTA,1985). O estudo deste fenômeno vem ganhando

relevância no meio acadêmico nacional nas últimas décadas

Com efeito, abarca uma gama de elementos subjetivos nas pessoas, tais como: paixão,

emoção, medo, frustração, etc. Tais características subjetivas impõem ao tema futebol uma difícil

tarefa de análise e mensuração fiel. O futebol foi naturalizado em estruturas associadas à construção

da masculinidade e da virilidade (BARRETO JANUÁRIO, 2015). A própria designação de futebol

feminino se torna excludente ao determinar a necessidade de especificar apenas quando o desporto é

praticado por mulheres, o que confere um significado universal, mais uma vez, ao masculino, em

detrimento do feminino. O recorte de gênero acaba sendo uma categoria conceitual crucial para

entendermos a história do futebol e a sua relação com a sociedade. Abarcados nas teorizações

pósestruturalistas, é necessário um olhar relacional sobre os gêneros, inaugurado pela historiadora

norte-americana Joan Scott (1995). A autora definiu gênero como “um elemento constitutivo de

1 Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco, Brasil.

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relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos (...) uma forma primária de dar

significado às relações de poder” (1995, p. 86). Louro (1995) e Butler (2003) complementaram que

gênero é uma construção cultural e não natural e biológica. Scott (1995) argumentou também que

não existe um único jeito de vivenciar a masculinidade ou feminilidade, e que tais comportamentos

excludentes em relação a mulher estão abarcados por relações de poder e coerção.

As normativas de convivência sociais são construídas a partir de interesses específicos das

classes dominantes, e portanto, representam os limites dentro dos quais os sujeitos de uma

sociedade podem estabelecer relações pessoais, comerciais, políticas, dentre outras, sem que isso

venha atentar contra determinados valores que garantem a manutenção dos privilégios dessas

classes. Para Bradth (1992) desde a sua origem entre as classes privilegiadas da burguesia inglesa, o

esporte sempre teve como objetivo desenvolver a disciplina e aspectos normativos de conduta nos

jovens estudantes. Era fortemente incentivada à ação coletiva. Com efeito, o esporte contribuiu na

instituição de regras sociais demarcadas também pelo variável gênero quando compreende e

incorpora os ditos papéis sociais na prática ou gosto esportivo. Existe uma evidente relação entre

determinados esportes e o padrão de gênero de quem os pratica. Esportes que carregam um

preconceito característico que os distingue em esportes para homens e esportes para mulheres com

um intenso histórico de proibições e preconceitos (JANUÁRIO, VELOSO e CARDOSO 2016).

Ainda que se possa perceber algumas tentativas bem-sucedidas de superação deste sentimento,

como é o caso recente do futebol com a seleção nacional feminina, ainda é possível notar a

permanência de preconceitos e discursos sociais pejorativos sobre as atletas e sua aparência e

sexualidade.

Segundo Bracht (1992), esse não é um processo neutro, trata-se da repetição de uma lógica e

pensamento dominante socialmente construído. Nessa perspectiva, podemos sugerir que o processo

de socialização através do esporte pode ser considerada uma forma de controle social (BRACHT,

1992, p. 61).Com efeito, as masculinidades e feminilidades construídas, simultaneamente, em dois

campos relativos às relações de poder: nas relações de homem com mulheres (desigualdade de

gênero), e também nas relações dos homens com outros homens (desigualdades baseadas em raça,

etnicidade, sexualidade) sofrem o processo de controle social junto as suas práticas e narrativas. E

por esses fatores, as características impostas ao feminino estiveram tão distantes de arenas

esportivas como a do futebol. Delimitar certos ambientes como impróprios para as mulheres são

claros mecanismos de disciplina, coerção e poder. Segundo Goellner (2003) A participação de

mulheres no esporte moderno é um fenômeno social recente.

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Diante do exposto, pretende-se nesse artigo analisar a cobertura midiática realizada pelos

portais de notícia esportiva brasileiros sobre os Jogos Olímpicos realizados no Rio de Janeiro,

Brasil, em 2016. Os Jogos Olímpicos são um evento multiesportivo global que se divide em duas

modalidades: verão e inverno. O evento acontece a cada 04 anos e recebe milhares de atletas do

mundo inteiro. Além disso, ele possui atualmente 28 modalidades de esportes, sendo um deles a

principal paixão do brasileiro: o futebol. Em 2016, a cidade do Rio de Janeiro foi a escolhida para

realizar a 31ª edição do evento, popularmente chamado de Rio 2016. A cerimônia de abertura dos

jogos se deu no dia 05 de agosto, já a de encerramento no dia 21 de agosto.

Com efeito, realizamos uma pesquisa nos principais portais de notícias sobre esportes do

país. Nosso objetivo é observar, analisar e categorizar como esses informes foram tratados na mídia.

Focama na análise das notícias veiculadas sobre o futebol feminino dentro do período de realização

dos jogos. Esta pesquisa faz parte do projeto de extensão OBMÍDIA UFPE (Observatório de Mídia:

Gênero, Democracia e Direitos Humanos).

1.Mulheres e esporte: um histórico de exclusão

DaMatta (1985) discorreu sobre os primórdios do futebol no Brasil, relata que o esporte é

um fenômeno que reúne ao mesmo tempo características de jogo, esporte, ritual e espetáculo, e

conseguiu penetrar no seio de uma sociedade ainda marcada por uma rígida hierarquia e por

resquícios de um regime escravocrata. Witter (1990) argumentou que quando o futebol começou a

fazer parte do cotidiano da população negra e classes populares, a presença feminina foi descartada

com a justificativa de que “Filhas de boa família não devem se misturar com jogadores de futebol”

(WITTER, 1990, p.58). Dessa forma, a mulher foi sendo excluída dos espaços esportivos e de suas

práticas. É pertinente ressaltar que a inserção da mulher em certos esportes possui um longínquo

histórico de restrições e proibições. Segundo Miragaya (2002) desde os primórdios da história do

esporte e dos Jogos Olímpicos, as mulheres foram proibidas de participarem, e portanto, cabia-lhes

apenas a entrega dos louros aos vencedores. Esse ato de entrega das premiações se estendem até

hoje com belas corpos objetificados como parte do prêmio (MIRAGAYA, 2002).

Segunda a educadora física Miragaya (2002) a inclusão das mulheres nas Olimpíadas

ocorreu de forma gradual, pela insistência e luta das próprias mulheres como resultado do seu

desenvolvimento e da conscientização do papel cidadão da mulher na sociedade e também como

reflexo da revolução industrial e inserção da mulher no mercado de trabalho da segunda metade do

século 19 e no decorrer do século 20.

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A pesquisadora argumenta ainda que o primeiro registro dos Jogos Olímpicos da

Antiguidade datam de 776 a.C., no qual somente homens podiam competir, algumas mulheres

tinham apenas permissão para assistir. Essas mulheres eram jovens e solteiras à procura de um

marido (MIRAGAYA, 2002). Elas deveriam observar os corpos fortes, musculados e robustos e

repassar a escolha de atletas para marido aos com seus irmãos ou pai. Salles, Silva e Costa (1996)

advogaram que “Havia então uma ordem implícita inibidora da presença da mulher neste espaço,

ditando códigos excludentes para o sexo feminino” (1996, p.80). Com efeito, fica evidenciado a

estereotipia associada ao “sexo” e a biologia feminina. Torna-se evidente que certos preconceitos

versavam sobre a suposta fragilidade, delicadeza feminina. Este pensamento social demonstra o

quanto a questão do gênero é central na reflexão sobre o esporte no Brasil.

Associa-se a inserção da mulher no esporte a esfera intrinsicamente privada/doméstica, na

qual a escolha do parceiro protetor e da saúde para a maternidade é algo valorizado. Wendy

Weinstein (apud OKIN, 2008) desenvolveu uma analogia entre o conceito de público/privado e as

camadas de uma cebola: segundo ele, esses estão um para o outro tal como em uma cebola, uma

camada se sobrepõe a outra, que por sua vez estará dentro de outra camada e assim sucessivamente.

E explica o fato de algo, tido como público em relação a uma determinada esfera, poder ser

considerado privado em relação a uma outra. Existem, assim, múltiplos significados e não o

dualismo associado ao conceito. Nesse sentido, dá-se lugar às dicotomias de Estado/sociedade e

não-doméstico/doméstico (OKIN, 2008, p. 307). Nessa perspectiva, Okin optou por utilizar a

segunda separação, público-doméstico, já que acreditava que é a permanência desta dicotomia que

torna possível aos teóricos ignorarem a natureza política da família e a relevância da justiça na vida

pessoal e, por conseguinte, grande parte das desigualdades de gênero (OKIN, 2008).

As mulheres chegaram a ser prêmios para os vencedores das corridas de biga ou charrete,

mas participaram indiretamente como competidoras em alguns Jogos Olímpicos na condição de

proprietárias de cavalos (MIRAGAYA, 2002). É pertinente observar que as primeiras mulheres

atletas vieram de Esparta, especialmente porque havia a crença entre os espartanos que as mulheres

que eram saudáveis tinham condicionamento físico e se exercitavam regularmente teriam filhos

saudáveis, discurso que foi endossado pela classe médica (GOELLNER, 2003).

Na história do esporte é possível resgatar, inclusive, aspectos jurídicos proibitivos. Em 1941

foi promulgado o decreto-lei nº. 3.199, que até o ano de 1975 estabeleceu as bases de Organização

dos esportes em todo o país, proibindo mulheres das práticas esportivas de contato. Já em 1965, a

Confederação Nacional Desportiva publicou instruções às entidades desportivas do país na

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deliberação Nº 7 sobre a prática esportiva que poderia ou não ser desempenhada pelas mulheres.

Para a nossa pesquisa interessa especialmente o ponto 2, no qual dizia: “Não é permitida a prática

de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, pólo, halterofilismo e

baseball [...]” (DEVIDE, 2003). Só em meados dos anos 80 a CND concedeu o direito à prática de

diversas modalidades esportivas pelas mulheres, incluindo o futebol (CASTELLANI, 1991).

Esse histórico de proibições e de crenças patriarcais corrobora com a visão que se tem das

mulheres nos esportes até a contemporaneidade. As Representações sociais de gênero na mídia

esportiva é engendrada nessas crenças e estereótipos. Contudo, tem sido pauta de debate e reflexão

a (in)visibilidade de mulheres atletas e jornalistas na mídia esportiva (ROMERO, 2004; KNIJNIK;

SOUZA, 2004; DEVIDE et al, 2008; BARRETO JANUÁRIO, 2015; JANUÁRIO, VELOSO,

CARDOSO, 2016). Tais estudos têm identificado que a mídia esportiva, enquanto veículo de

construção das representações sociais, tem reproduzido e legitimado um desequilíbrio no espaço

destinado à cobertura da participação das atletas e dos atletas nos eventos esportivos, caracterizando

uma hierarquia de gênero, que quando aborda o esporte feminino, privilegia a aparência física das

atletas construindo e legitimando um mito da beleza (WOLF, 2008) e a hipersexualização da

mulher atleta, ou destaca suas capacidades atléticas comparadas ao masculino. Nessa perspectiva,

realizamos o monitoramento e análise das matérias veiculadas sobre o futebol feminino nas

Olímpiadas 2016 durante o período de realização do evento esportivo.

2. A análise

O recorte metodológico utilizado foi o estudo de caso descritivo e interpretativo, de ordem

qualitativa. A realização de um estudo de caso descritivo e interpretativo (YIN,2001) nos levou a

desvelar como se deu a cobertura das Olimpíadas 2016. A pesquisa se deu através das buscas de

palavras-chave que remetessem especificamente aos jogos da seleção brasileira. Os termos

utilizados foram: futebol feminino e seleção feminina. A partir disso, recolhemos todas as matérias

desde o dia 05 ao dia 21 de agosto de 2016 (período das Olimpíadas). Os portais pesquisados foram:

Globo Esporte, ESPN, Torcedores.com e Leia Já. Para esta pesquisa, utilizamos o método de estudo

de caso e uma leitura crítica de mídia.

2.1 Os portais

Cada portal abordou a seleção feminina durante os jogos de uma maneira diferente. Uns com

maior visibilidade para a seleção, outros com menor. O portal com maior frequência de acesso e

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mais conhecido entre os amadores de esporte, o ESPN, rede de TV por assinatura e conteúdos

digitais e ligado ao Globo.com, tratou o assunto de forma mais padronizada. Enquanto isso, o portal

independente Torcedores.com procurou discutir um pouco mais a visibilidade do futebol feminino

no país. O Leia Já, do sistema de comunicação Leia Já, por sua vez, pouco abordou o tema. O portal

preferiu cobrir outras modalidades. O Globo Esporte pouco falou dos jogos, abordando temas como

ingressos e o futuro da seleção.

Pré-análise

As matérias foram categorizadas de acordo com a abordagem de seu conteúdo. Foram

copiladas 50 notícias e criadas 06 categorias. São elas:

1. Notícias Genéricas – Aqui as notícias são tratadas de modo mais genérico, isto é, falam de

modo breve sobre os jogos e sem muito destaque. Mas não apenas isso, falam também de lesões e

possui apenas 1 matéria falando sobre o futuro da seleção. Totalizou 12 notícias. Todas elas do

portal ESPN. Exceto 01 do portal Torcedores.com.

2. Sonho do Ouro Olímpico – Termo emprestado do portal ESPN. Nesta categoria, todas as

matérias mencionam a “medalha” direta ou indiretamente, seja ela de ouro, prata ou bronze.

Totalizou 10 notícias. 06 do portal ESPN. Torcedores.com e Globo Esporte 01 de cada. 02 do portal

Leia Já.

3. Apoio / Investimento – Já aqui, todas as matérias mencionam e tratam a seleção brasileira

feminina de futebol como carente de investimentos e necessitada de apoio, seja da torcida, com a

ida aos estádios, seja das políticas públicas, requerendo investimentos nessa modalidade. Totalizou

07 notícias. As 03 únicas do portal Sport TV. Globo Esporte e ESPN 02 de cada.

4. Notícias Comparativas – Traçam uma linha comparativa entre a seleção masculina e a feminina

de futebol. Seja através do link Marta-Neymar, seja através da quantidade de público que cada

seleção consegue atrair. Totalizou 07 notícias. ESPN e Torcedores.com tiveram 03 cada e 01 do

portal Leia Já.

5. Destaque Positivo – Nesta categoria as notícias vibram pela atuação das jogadoras. Termos

como “heroína”, “golear” e “melhor do mundo” são encontrados nos títulos de algumas matérias.

Totalizou apenas 08 notícias. A sua maioria do portal ESPN, com 05. Torcedores.com com 02 e

Leia Já apenas com 01.

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6. Outros – Aqui as notícias não abordam os jogos diretamente. Temas como extinção da seleção

feminina, ingressos de partida esgotados e filas enormes para os jogos são alguns dos títulos.

Totalizou 06 notícias. 04 do portal Globo Esporte. 01 do ESPN e 01 do Torcedores.com.

Notícias Genéricas

As matérias desta categoria possuem todas um mesmo padrão. Foram criadas para informar

de uma forma mais genérica sobre os jogos ou sobre as jogadoras. Aqui, quase metade das notícias

comunicam sobre uma lesão que a jogadora Cristiane, uma jogadora das mais importantes da

seleção, sofreu na parte posterior da coxa. Pouco comentam sobre jogabilidade das meninas e

apenas informam os resultados da partida. O conteúdo dessas notícias são repetitivos. Foram 04

notícias (02 de cada dia dos dias 7 e 8 de agosto, do portal ESPN) retratando a possível lesão da

jogadora.

Nesta categoria quase não há notícias que abordem os jogos, e, ainda quando o fazem,

tendem a destacar a jogadora Marta diante das jogadoras restantes, o que acaba criando uma

invisibilidade ainda maior sobre as atletas. Um exemplo claro disso é a possibilidade de

aposentadoria de algumas jogadoras, mas somente ela recebe uma matéria única para noticiar isso.

Essa grande notoriedade que a jogadora tem se dá pelo motivo de ela ter sido eleita por 5 vezes a

melhor do mundo. Isto é, é exigido uma enorme excelência das atletas femininas para se ter algum

destaque na mídia.

Sobre a abordagem dos jogos, apenas uma das notícias, sendo mais específico, aborda o

desempenho da goleira Bárbara, no qual salvou a seleção brasileira defendendo os pênaltis. A

jogadora chega a ser chamada de heroína e tem voz dentro da notícia, muito embora a sua fala seja

reduzida a poucas linhas. Na categoria não foram encontrados preconceitos velado. Porém, é

possível notar uma certa invisibilidade das outras jogadoras que também compõe o time.

Sonho do Ouro Olímpico

O Brasil, popularmente conhecido por ser o país do futebol, é um dos vários países que não

possuem uma medalha de ouro olímpica no futebol, seja na seleção feminina, seja na masculina. Por

isso, a pressão sobre as duas seleções em busca dessa medalha é grande. Nesta categoria, todas as

notícias citam alguma medalha no título ou no corpo do texto. No caso da atuação da seleção

feminina no Rio 2016, a de ouro e a de bronze. As notícias tratam as jogadoras (antes de serem

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eliminadas na semi-final) como encarregadas de realizar o “sonho do ouro olímpico”, termo usado

na matéria do ESPN no dia 18 de agosto.

A aposta do ouro foi ainda maior na seleção feminina, que teve uma atuação melhor do que

a masculina nesta Olímpiadas. No entanto, um dos motivos pelo qual as atletas não conseguiram

realizar este sonho é resultado da categoria que está por vir. As notícias das derrotas contra a

Suécia, nos pênaltis, e, contra o Canadá, não conseguindo nem a medalha de bronze, passam a ser

mais frias e com menos vozes. Não há entrevistas ou fala de alguma jogadora nas reportagens. Foi

possível verificar também na matéria do dia 16 de agosto do portal da ESPN o termo “Marta e cia”

que, por sua vez, substitui o termo seleção feminina e, mais uma vez, cria uma invisibilidade sobre

as outras atletas, que tem igual importância no time.

Nessa categoria é notável também uma maior avaliação acerca dos jogos e do desempenho

das jogadoras. Foi notado também o aparecimento de fichas técnicas nos finais das reportagens.

Apoio / Investimento

Nesta categoria foi observado que as 07 notícias que a compõe tem algo incomum: todas

elas mencionam o termo apoio, apoiar ou investimento. Pudemos observar que a atuação da seleção

feminina de futebol na Rio 2016 foi brilhante se comparada à seleção masculina, embora ambas não

levaram nenhuma medalha no evento. A diferença, portanto, se dá nos investimentos que cada uma

recebe. Enquanto a masculina é tradicionalmente apoiada pela CBF, não só através de

investimentos, mas nos campeonatos regionais, nacionais, etc, a feminina precisa recorrer às mídias,

quase que pedindo socorro para o categoria.

Nestas notícias o termo “apoio” significa também o suporte que a torcida brasileira deu nas

partidas pela Rio 2016. Títulos como “Marta faz apelo a torcedores: ‘Não deixem de apoiar o

futebol feminino’” e “Brasileiras veem apoio da torcida como legado do futebol feminino” são

exemplos do uso do termo. É possível verificar que as jogadoras têm voz para expressar o

sentimento de abandono que a categoria feminina sofre. Além disso, outras atletas além de Marta

puderam opinar, tal como a goleira Barbára, a zagueira Monica e a meio de campo Formiga, como

mostra a reportagem do Globo Esporte do dia 20 de agosto.

O tema é tão importante que a discussão não se limitou às jogadoras da seleção brasileira. O

narrador Milton Leite, o comentarista Paulo Cesar Vasconcellos, o técnico da seleção masculina de

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futebol, Carlos Alberto Parreira, e até a capitã da seleção do Canadá, Christine Sinclair, discutiram

o assunto. Todos eles e ela concordam no mesmo ponto: a seleção brasileira feminina de futebol

precisa de apoio e investimentos.

Comparativos

Esta é, de longe, a categoria mais polêmica. Aqui estão agrupadas as notícias que fazem

comparações entre as seleções feminina e masculina, procurando semelhanças e diferenças. As

notícias fazem comparações entre Marta e Neymar, entre a audiência televisiva do jogo da seleção

feminina na Rio 2016 e um jogo do Corinthians pelo Brasileirão, entre o ranking de medalhas

masculinas e femininas nas Olímpiadas, mas apenas uma delas realmente discute a questão do

sexismo no futebol.

Uma notícia publicada pelo portal ESPN usou o termo “se irritou” ao falar da declaração de

Marta quando foi comparada com Neymar. A jogadora afirmou: “Marta é Marta, Neymar é

Neymar.”. A fala representa muito bem a realidade das duas seleções: totalmente diferente. Seja nos

aspectos econômicos, isto é, nos investimentos que cada uma recebe, nas diferenças gritantes de

salário pelo mesmo êxito obtido, seja nas habilidades de cada atleta, a comparação é a mesma:

injusta. Em um dos casos, uma matéria do Leia Já, cujo título é “Torcedores: raça e dedicação

valorizam a seleção feminina” é possível ver uma foto comparativa entre os dois jogadores, na qual

Neymar se encontra na parte superior da foto e, consequentemente, Marta se encontra na parte

inferior. Além disso, o título reforça que, para a seleção feminina ter algum valor, é necessário

partidas extraordinárias e jogadoras muito habilidosas, situação semelhante a de Marta.

Outra matéria que nos chamou atenção foi uma publicação do blogueiro Mauro Cezar no

portal do ESPN. O escritor compara o salário de algumas das jogadoras da seleção feminina com o

salário dos jogadores dos times brasileiros, afirmando que elas ganham mais que 96% dos homens.

Nessa publicação há uma comparação sexista entre as seleções masculina e feminina que descredita

a atuação das atletas quando afirma que a seleção feminina só “virou xodó” por causa da péssima

atuação da masculina. O blogueiro ainda afirma, posteriormente, que o time feminino joga de forma

bem mais simples, é tecnicamente muito inferior e sem comparação, nas palavras dele. É possível

notar, ainda na mesma matéria, uma clássica frase munida de preconceito velado: “Nada contra as

mulheres praticando, muito pelo contrário, mas...”, como disse Mauro Cezar.

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As únicas matérias que, de fato, discutem o sexismo no futebol são duas publicações do

portal Torcedores.com. Em uma delas, é feita uma análise comparativa entre a audiência que as

partidas da seleção feminina teve na Rio 2016 com os jogos do Corinthians pelo Brasileirão e a falta

de visibilidade que essa categoria nos dias restantes, ainda que em canais multiesportivos de TV por

assinatura como Sport TV, ESPN, Fox Sports, etc. Mas é apenas uma delas, de título “OPINIÃO: O

FUTEBOL FEMININO E O PRECONCEITO SOCIAL” que usa o termo sexismo no seu texto.

Vale salientar que o Torcedores.com é um site colaborativo, e a escritora da matéria, uma mulher.

Destaque Positivo

As notícias dessa categoria estão agrupadas no mesmo lugar porque todas elas falam da

mesma coisa: o bom desempenho das jogadoras e o resultado das partidas. Isso até o momento de

elas serem eliminadas pela Suécia. Não foi descoberta nenhuma notícia que pudesse ter preconceito

velado nos textos. Apenas uma das 08 notícias não aborda o jogo diretamente, todas as outras

comentam o jogo e o desempenho das jogadoras. Todas as fotos dessas matérias são relacionadas a

vitória da seleção, por isso, é notável fotos das jogadoras sorrindo, isso quando não a própria Marta

sorrindo. Pôde-se encontrar também frases como “seleção feminina honra camisa nacional”,

“Formiga foi exuberante”, “boa atuação”, “show no Engenhão, etc, que exemplificam muito bem a

categoria em questão. No que se refere aos textos, apenas 03 deles trouxeram a fala das jogadoras.

Todos os outros são narrativas dos jogos.

Outros

As notícias dessa categoria não são diretamente relacionadas ao jogo, ao desempenho, ou a

situação da seleção feminina de futebol, ou seja, não se encaixam em nenhuma das outras

categorias. Das 06 notícias que se encontram aqui, 01 delas aborda os ingressos esgotados na

partida contra a África do Sul, outra aborda a aglomeração de gente ao lado de fora do estádio na

partida da semifinal contra a Suécia, ambas notícias justificam a popularidade que as meninas

ganharam na Rio 2016.

Devido a tamanha popularidade da seleção feminina, o Globo Esporte teve uma matéria

exclusiva no dia 04 de agosto para divulgar o público dos jogos que assistiram às meninas, público

esse que ultrapassou os 16 mil no estádio. Contudo, a matéria se limita a 3 parágrafos e traz dados

comparativos aos outros jogos, como da seleção francesa contra a colombiana. Foi encontrada

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também uma matéria que cujo título diz que a seleção feminina corre “risco de extinção”. Porém,

não há texto de apoio. O que há é um redirecionamento para um outro site.

Considerações Finais

Ao compreendemos que a mídia é uma da estruturas sociais e pedagógicas (LOURO, 1995)

responsáveis pela (re)produção, legitimação e concepção de subjetividades reforçamos a

importância do seu papel social e de suas representações. E ainda, considerando o destaque que o

tema “empoderamento feminino” teve entre os anos de 2015 e 2016, a explosão do debate,

especialmente, nas peças publicitárias comprovaram a afirmação e reforçam a ideia de “uma

“Primavera Feminista” estava elevando as mulheres, mais uma vez, ao “status” de sujeito

político.”(BARRETO JANUÁRIO, VELOSO, 2017. p. 175).

Ao analisarmos as matérias, pudemos fomentar algumas considerações. Primeiramente, diante da

importância que Jogos Olímpicos tiveram para o Brasil e para o mundo, e da importância que o

futebol tem para a nossa cultura, capaz de mover milhões de reais e até parar o país inteiro com uma

partida, concluímos que a quantidade média de notícias por cada portal pesquisado – cerca de 12, 5

notícias – seja escasso, uma quantidade consideravelmente baixa. Isso se comparado a toda

cobertura que a mídia faz quando se trata da modalidade masculina chega a ser ainda mais injusto.

Percebemos uma diferença desproporcional de quantidade de matérias por cada portal. A

ESPN chega ater quase o triplo de notícias em relação ao portal do Torcedores.com, o que já era

esperado, afinal, a ESPN é uma rede internacional e específica em esportes, embora o

Torcedores.com também o seja. A dificuldade para encontrar as matérias se deu em todos os

portais. Porém, o Leia Já foi o mais complicado, ao ponto de termos que procurar notícias pela

centésima página do portal. Além disso, o Leia Já foi o portal com menos notícias entre eles, com

apenas 04. É válido ressaltar também que durante a análise algumas notícias antes coletadas foram

descartadas pois não haviam relação nenhuma com a seleção feminina de futebol ou sequer com os

Jogos Olímpicos.

No geral, as matérias com conteúdo de preconceito velado, ou até descaradamente sexistas

foram poucas. As que encontramos se encaixaram na categoria “Comparativas”, uma vez que a

comparação entre as seleções (masculina e feminina) e até mesmo entre os atletas (Marta e Neymar)

são desproporcionais e não perfazem um recorte real. Apenas uma matéria (e que merece destaque)

discutiu as mulheres da seleção brasileira a partir do ponto de vista do preconceito social que a

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categoria e as próprias atletas sofrem. Embora publicada, ela não foi de um grande portal como o

Globo Esporte ou ESPN. Outro aspecto observado foi a voz que as próprias jogadoras tiveram

dentro das matérias, o que concluímos que foi tão escassa quanto a representatividade das outras

jogadoras da seleção.

O sexismo está mais presente na estrutura – ou na falta dela – que o futebol feminino tem

atualmente, ou melhor, que a seleção feminina tem do que nas próprias reportagens. Isso é bastante

evidenciado nas matérias que estão dentro da categoria “Apoio / Investimento” na qual foi

necessário o pedido, inclusive, de uma jogadora estrangeira aos responsáveis administrativos pela

seleção, que não faltasse apoio e que investisse mais na modalidade.

Ao estudar as relações sociais, e particularmente as relações de poder presentes nos

discursos associados aos esportes e especialmente ao futebol, percebemos que há a necessidade de

uma maior visibilidade da prática do esporte por mulheres na cobertura da mídia e de uma

representação mais realística e assertiva. Com efeito, disseminar um discurso mais equânime acerca

da participação de homens e mulheres em um esporte que se configura como fenômeno social,

como o futebol, é também promover uma mudança na cultura e na sociedade.

Referências

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BARRETO JANUÁRIO, S. Modos de Ver: a (in)visibilidade feminina enquanto profissional do

esporte. XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação - Intercom (São Paulo), Rio

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Women in news: media coverage of women's soccer selection at the Brazilian Olympics

Astract: Football has historically been naturalized in structures associated with the construction of

masculinity and virility. The very designation of women's football becomes exclusionary when

determining the need to specify only when sport is practiced by women (GOELLNER, 2003),

which confers a universal meaning to the masculine, to the detriment of the feminine. This paper

aims to analyze the coverage made by the Brazilian news portals on the selection of women's

football in the 2016 Olympics. We understand that the media is one of the responsible for (re)

production and conception of subjectivities. In fact, we understand that masculinities and

femininities are cultural constructions, sometimes "metaphors of power" (ALMEIDA, 1996), and

therefore hierarchies and hegemonic models. As theoretical contribution we use in the studies on

Gender Studies and Sports of Goellner (2003) and in the light of Gender Studies of Butler (2008) e

Byerly (2006). The methodology proposed was the descriptive and interpretative case study,

through the qualitative analysis of the speeches and spaces occupied by the sports event in the

media. As results, patterns of representation and discourse emerged with regard to gender and

women representations in the media and in sports.

Keywords: Woman, Football, Media, Gender, Olympics