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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 3563 MULHERES EDUCADORAS NO CARIRI CEARENSE: NARRATIVAS SOBRE TRABALHO COM PORTADORES DE DEFICIÊNCIAS. Tania Maria Rodrigues Lopes 1 Charliton José dos Santos Machado 2 Considerações iniciais Uma sociedade que exclui parte de seus membros é uma sociedade empobrecida. As ações que melhoram as condições para as pessoas com deficiência resultarão em se projetar um mundo flexível para todos. O que for feito hoje em nome da questão da deficiência terá significado para todos no mundo de amanhã (Declaração de Madri, 2003). Iniciativas com o movimento educacional e ações voltadas para garantir oferta de educação sempre marcaram o discurso político, tanto em nível da União, como nos Estados, muito embora os dados oficiais revelem que há dicotomias entre discursos, práticas e resultados na história da educação no Brasil. Nesse cenário buscou-se investigar as experiências educacionais desenvolvidas em um tempo distante, com expectativas quanto a localização de fontes, sobretudo porque os documentos se perderam pela ação do tempo ou, pela falta de interesse e investimento, por parte do poder público e/ou dos gestores responsáveis pelas instituições guardiãs. Pesquisar sobre a história da educação não se constitui uma tarefa simples. No Ceará essa história ainda é um universo pouco explorado e revelado, não há pesquisas publicadas sobre experiências de inclusão de deficientes e protagonismo de educadoras no Cariri cearense, razão pela qual o estudo em evidência tornou-se relevante, pela perspectiva de desvelar e revelar outras experiências no contexto da geração de oportunidades em educação, para diferentes públicos na região. Nessa perspectiva, a pesquisa desenvolvida sistematizada no texto foi guiada pelas seguintes indagações: Quem foram as mulheres, que empreenderam esforços e investimentos, para o desenvolvimento da educação e formação da sociedade local? Quem 1 Doutorado em Educação Brasileira FACED/UFC. Professora Adjunta UECE/CECITEC Assessora PROGRAD/UECE. E-Mail: <[email protected]>. 2 Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN (2001). Pós-Doutorado pela Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP (2009). Atualmente é Professor Associado IV e Professor Permanente dos seguintes Programas de Pós-Graduação: PPGE e PPGS, ambos da Universidade Federal da Paraíba. Coordenador Histedbr/Nordeste. E-Mail: <[email protected]>.

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 3563

MULHERES EDUCADORAS NO CARIRI CEARENSE: NARRATIVAS SOBRE TRABALHO COM PORTADORES DE DEFICIÊNCIAS.

Tania Maria Rodrigues Lopes1

Charliton José dos Santos Machado2

Considerações iniciais

Uma sociedade que exclui parte de seus membros é uma sociedade empobrecida. As ações que melhoram as condições para as pessoas com deficiência resultarão em se projetar um mundo flexível para todos. O que for feito hoje em nome da questão da deficiência terá significado para todos no mundo de amanhã (Declaração de Madri, 2003).

Iniciativas com o movimento educacional e ações voltadas para garantir oferta de

educação sempre marcaram o discurso político, tanto em nível da União, como nos Estados,

muito embora os dados oficiais revelem que há dicotomias entre discursos, práticas e

resultados na história da educação no Brasil. Nesse cenário buscou-se investigar as

experiências educacionais desenvolvidas em um tempo distante, com expectativas quanto a

localização de fontes, sobretudo porque os documentos se perderam pela ação do tempo ou,

pela falta de interesse e investimento, por parte do poder público e/ou dos gestores

responsáveis pelas instituições guardiãs.

Pesquisar sobre a história da educação não se constitui uma tarefa simples. No Ceará

essa história ainda é um universo pouco explorado e revelado, não há pesquisas publicadas

sobre experiências de inclusão de deficientes e protagonismo de educadoras no Cariri

cearense, razão pela qual o estudo em evidência tornou-se relevante, pela perspectiva de

desvelar e revelar outras experiências no contexto da geração de oportunidades em educação,

para diferentes públicos na região.

Nessa perspectiva, a pesquisa desenvolvida sistematizada no texto foi guiada pelas

seguintes indagações: Quem foram as mulheres, que empreenderam esforços e

investimentos, para o desenvolvimento da educação e formação da sociedade local? Quem

1 Doutorado em Educação Brasileira – FACED/UFC. Professora Adjunta UECE/CECITEC – Assessora PROGRAD/UECE. E-Mail: <[email protected]>.

2 Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN (2001). Pós-Doutorado pela Universidade Estadual de Campinas/UNICAMP (2009). Atualmente é Professor Associado IV e Professor Permanente dos seguintes Programas de Pós-Graduação: PPGE e PPGS, ambos da Universidade Federal da Paraíba. Coordenador Histedbr/Nordeste. E-Mail: <[email protected]>.

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protagonizou a criação de instituições para promover a inclusão de deficientes no Cariri

cearense? As pesquisas revelam fatos que impõem novas buscas, na perspectiva de esclarecer

percursos e processos vivenciados na elaboração da história da educação de um lócus e

tempo, neste caso, o Cariri Cearense.

A história que se pretende narrar como resultado desta pesquisa produzida no pós-

doutorado em Educação, focaliza as experiências de duas cidades localizadas na região do

Cariri3/Ceará, compreendendo “a narrativa do discurso histórico reinscreve no presente uma

experiência temporal passada”, e reabre a análise dos seus impactos por sujeitos do presente

que vivenciaram ou presenciaram a realização (PESAVENTO, 1998, s/p).

O estudo desenvolvido no doutorado em educação colocou, no centro do debate, os

princípios políticos e pedagógicos, que nortearam a formação de professoras na região, tendo

como foco identificar os referenciais e modelos, que inspiraram as formas de

profissionalização do magistério, de forma que os sistemas municipais, em sua incipiência,

reunissem as condições adequadas, observando o marco regulatório da época, para a oferta

de educação básica, nomeadamente, classes do jardim da infância e ensino primário.

Nas primeiras décadas do século XX, a formação para o magistério ficava concentrada

em Fortaleza na Escola Normal do Ceará – ENC, no Colégio Imaculada Conceição – CIC e

Colégio Nossa Senhora do Sagrado Coração – CNSSC se expandiu e se interiorizou para o

Cariri cearense, em 1923, quando se deu a criação do Colégio Santa Teresa de Jesus, sediado

na cidade do Crato e a Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte, em 1934.

Constatou-se que a interiorização da formação viabilizou a participação de um

quantitativo maior de professoras, as quais se envolveram em causas educativas

diferenciadas e especiais, naquela época, ignoradas ou secundarizadas no campo das políticas

educacionais e dos investimentos públicos.

Os sujeitos não enquadrados em padrões de referência intelectual, psicológica, física,

mental, dentre outros, ficaram excluídos de tais políticas, experimentando processos severos

de exclusão. Poucos e raros foram os avanços identificados, nestas políticas,

3 A Região do Cariri está localizada ao sul do Estado do Ceará, compõem-se de 26 municípios sendo dividido em quatro micro-regiões: Cariri (mais conhecida por Vale do Cariri), Chapada do Araripe, Sertão do Cariri e micro-região Serrana de Caririaçu. A primeira abrange os municípios do Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha e Jardim. A segunda, os municípios de: Araripe, Campos Sales, Nova Olinda, Potengi, Santana do Cariri; a terceira abrange os municípios de: Abaiara, Aurora, Barro, Brejo Santo, Jati, Milagres, Mauriti, Penaforte e Porteiras; e a quarta os municípios de: Altaneira, Antonina do Norte, Assaré, Caririaçu, Farias Brito, Granjeiro, Várzea Alegre. A Região do Cariri é equidistante 600 km das principais capitais do Nordeste. Possui uma população estimada em cerca de um milhão de habitantes (748.181, de acordo com o Censo Demográfico de 1996), distribuídos por 15.934 km². Dados da população em 1996 Cf. Contagem da População – 1996. Resultados relativos a sexo da população e situação da unidade domiciliar (IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Divisão de bibliotecas e acervos especiais. vol. 2. Rio de Janeiro: 1997, p. 167-179).

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delineando/definindo ações direcionadas para o atendimento escolar, clínico e de iniciação

profissional para essas pessoas diferenciadas, particularmente, os deficientes, remetidos a

um contexto de abandono, esquecimento, por vezes eliminados pelas próprias famílias em

razão das condições e limitações.

Segundo estudos consultados na exploração bibliográfica da pesquisa, de forma

silenciosa e indiferente, a sociedade legitimava essas ações como sendo normais. Todavia

surgiram pessoas que sensibilizadas diretamente pela deficiência em seu contexto parental

ou, motivado pela situação de abandono dessas pessoas acabaram por se envolver com a

causa, tomando-a para si, defendendo, lutando por sua legalização e, por vezes, até

financiando as ações. No cariri cearense essa história foi materializada pelo trabalho

desenvolvido por duas mulheres, em Juazeiro do Norte, Maria Zuíla e Silva Morais e, em

Barbalha, Minerva Diaz de Sá Barreto.

O texto objetiva narrar, com base em história oral reconstituídas com ex-professoras de

duas instituições caririenses, como as primeiras experiências no interior do Ceará foram

implementadas e consolidadas, a partir da segunda metade da década de 1960, com a criação

da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE de Juazeiro do Norte e da

Sociedade Pestalozzi de Barbalha, em 1972.

O texto está composto pelas considerações tecidas na introdução, tendo na sequência a

caracterização da metodologia aplicada ao estudo, seguida da apresentação e

contextualização dos achados sobre as protagonistas e respectivas instituições que criaram,

fechando com as considerações finais e referências.

Memórias e narrativa oral – reconstituindo trajetórias de educadoras

Presas em um tempo, as memórias liberam histórias emotivas ou traumáticas.

Representam registros de experiências vividas, preservadas ou publicadas. Normalmente

contribuem na reconstituição de etapas de um passado distante ou mesmo recente. Para

recolhê-las, organizá-las, selecioná-las como fontes e, aplicá-las em situações específicas de

reconstituição de um fato ou fenômeno histórico, torna-se essencial a compreensão sobre

seus fundamentos e técnicas.

A memória é a capacidade humana de reter fatos e experiências do passado e

retransmiti-los às novas gerações, por meio de diferentes suportes empíricos (voz, música,

imagem, textos, dentre outros). Segundo Bosi (1994, p. 14) “O narrador extrai de suas

memórias e conta a experiência – sua própria ou aquela contada por outros. E, de volta, ele a

torna experiência daqueles que ouvem a sua história. [...] conservando no nível de narração”.

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A memória nem sempre é preservada de forma intacta, por vezes se fragmenta ou sobre

ela são produzidas áreas de sombra. A fragmentação ou áreas de sombra constituem-se, em

alguns casos, vivências traumáticas, que ficaram presas, ao serem liberadas produzem

sofrimento. Diante da possibilidade de conter ou evitar a dor e o trauma da lembrança

evocada, o sujeito costuma guardar para si tais momentos. Ele acredita que, ao lembrar

revive, revivendo sofre novamente. “As memórias são tristes e, quase sempre, dolorosas”

(BOSI, 1994, p. 15).

Tomada como documentos produzidos pelo pesquisador, para reconstituir um fato ou

fenômeno, as fontes orais produzidas pelas memórias, segundo Meihy e Holanda (2007, p.

13):

Fonte oral é mais que história oral. [...] é o registro de qualquer recurso que guarda vestígios de manifestações da oralidade humana. Entrevistas esporádicas feitas sem propósito explícito, gravações de músicas, absolutamente tudo que é gravado e preservado se constitui em documento oral. Entrevista, porém, é história oral em sentido estrito.

Ao fazer a história da educação, a narrativa oral tem sido um modo recorrente de "fazer

história". A utilização dessa técnica, por largo tempo, desprestigiada e desprezada pelos

historiadores de tradição, provavelmente pela importância atribuída aos documentos, dentro

da concepção positivista do século XIX, tem sido retomada com muita força, nas últimas

décadas, por suas potencialidades. No Brasil, a história oral sobre a vida e a trajetória de

pessoas e instituições vem sendo tomada como metodologia de investigação científica na área

de Educação nos últimos anos (BUENO ET AL, 2006).

A narrativa oral como fonte representa um conjunto articulado e definido por

procedimentos diversos (elaboração e discussão de roteiro, entrevistas, seleção e organização

das ideias com ênfase sobre o objeto, retomada de diálogos com os narradores para

aprofundamento de questões específicas da memória, dentre outras questões). Para Meihy e

Holanda (2007, p. 15)

História oral é um conjunto de procedimentos que se inicia com a elaboração de um projeto e que continua com o estabelecimento de um grupo de pessoas a serem entrevistadas. O projeto prevê: planejamento da condução das gravações com definição de locais; tempo de duração e demais fatores ambientais; transcriação e estabelecimento de textos; conferência de produto escrito; autorização para o uso; arquivamento e, sempre que possível, a publicação dos resultados que devem, em primeiro lugar, voltar ao grupo que gerou as entrevistas.

As referências orientaram o percurso da pesquisa, com a organização de suas etapas e

foram fundamentais para definir a coleta das narrativas como um processo dialógico entre a

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pesquisadora e as mulheres que conviveram diretamente com as protagonistas desse estudo.

Os contatos foram determinados e os procedimentos tiveram sua execução no período de

março a setembro de 2016, quando as etapas foram cronologicamente executadas.

Percurso e processo da pesquisa

Em meio a algumas indagações, a pesquisa iniciada em março de 2016 enfrentou

alguns desafios e percalços, quando se buscou otimizar as possíveis fontes acessíveis e

existentes em arquivos, bibliotecas, hemeroteca, centros de documentação, memórias de

professores e colaboradores identificados nas instituições criadas pelas educadoras, que

formaram um conjunto de evidências, indispensável à compreensão mais estruturada do

fenômeno em causa.

Recuando no tempo, nessa busca persistente pelo passado encontrei a história das duas

educadoras envoltas em questões judiciais, inseridas em uma crônica de responsabilização

financeira sobre as instituições que criaram e dirigiram durante a vida, caracterizando-as

como condutas marcadas por desvios e responsabilidades quanto à gestão de recursos e

investimentos públicos.

Essa realidade foi inicialmente encontrada por ocasião da exploração da produção

escrita sobre narrativas sobre a vida, profissão e ação benemérita das educadoras. A

exploração recorreu aos bancos oficiais de órgãos vinculados a pesquisa, assim como nas

bibliotecas de teses e dissertações de Programas de Pós-Graduação do Ceará e de outros

Estados. Nenhuma tese, dissertação ou monografia foi localizada sobre as educadoras.

Escassas notícias recuperadas em blogs e páginas de publicações em média4 digital e

impressa da região do Cariri cearense registraram, sobretudo, crônicas e homenagens pelo

falecimento de ambas.

As narrativas sejam de parentes (filhas) ou professores e colaboradores objetivaram

desconstruir alguns dos registros documentais oficiais, como atitude não apenas de gratidão,

sobretudo uma tentativa de reconhecer, após-morte, o que as páginas oficiais, a imprensa, os

gestores públicos e a própria sociedade local, por meio de suas instituições, não conseguiu

fazer durante a vida das mesmas.

4 (www.portaldejuazeiro.com; blogdogeso.blogspot.com/2013/05/juazeiro-do-norte-ce-morre-dona-zuila.html ; juazeirodonorte.apaebrasil.org.br www.miseria.com.br/index.php?page=noticia&cod_not=100679 natxysampaio.blogspot.com/2011/05/2-tarefa-da-gincana-visatar-apae.html www.diariodocariri.com › Notícias › Barbalha https://www.melhorescola.net/.../centro-de-atendimento-educacional-especializado-).

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Assim, o arcabouço de entrevistas foi composto de dois momentos distintos e

complementares: 1) grupo focal com ex-professoras e colaboradoras da Sociedade Pestalozzi

de Barbalha, para explorar a história de vida e trabalho de Dona Minerva Diaz, na sequência,

entrevistas individuais com parentes (filhas), ex-professoras e colaboradoras das instituições

criadas por ambas.

As entrevistas individuais foram agendadas previamente, guiadas por um roteiro

objetivo apresentado às recordadoras. Tanto o grupo focal como as entrevistas individuais

foram devidamente gravadas e arquivadas em mídia eletrônica, de forma a garantir sua

qualidade e preservação. A etapa seguinte foi à transposição do oral para o escrito

produzindo, assim, documento material, legitimando que a “história oral não se faz sem a

participação humana direta, sem o contato pessoal” (Meihy e Holanda, 2007, p. 22).

As narrativas foram coletadas e gravadas em vídeo e áudio, com apoio de equipe

especializada, devidamente orientada sobre objetivos e procedimentos da atividade da

pesquisa, de forma a não intervir na qualidade da ação. As narrativas foram arquivadas em

mídia, para posterior transcrição, análise e transcriação para produção deste relatório.

Oralidades e Narrativas: sistematizando escrita sobre história mulheres e deficiência no Cariri cearense

Nesse estudo, as entrevistas foram aplicadas às ex-professoras e colaboradoras das

educadoras, na perspectiva de aprofundar e ampliar questões sobre a história de vida e

trabalho como gestoras das instituições, APAE de Juazeiro do Norte e Sociedade Pestalozzi

de Barbalha. O grupo focal, realizado em três dias viabilizou a coleta de dados sobre a vida e o

labor de Dona Minerva, todavia as entrevistas individuais ampliaram e revisitaram

momentos para aprofundá-los.

Sobre Dona Zuíla, foram coletadas 09 narrativas orais de mulheres, com idades que

variavam entre 45 e 73 anos de idade. Todas são professoras, com escolaridade superior e

curso de pós-graduação lato sensu, em sua grande maioria vinculada ao trabalho, que

desenvolveram na APAE, à época da atuação profissional. As narrativas foram coletadas em

momentos definidos pelas memorialistas, compreendendo o período de março a setembro de

2016. Todas as narrativas foram devidamente gravadas e arquivadas. Algumas narradoras se

deixaram fotografar, mas solicitaram que as fotos não fossem divulgadas.

Cada narrativa colhida foi situada e datada, com informações complementares para

indicar o tempo vivido no interior do tempo histórico. As indicações de lugares e de datas

foram relevadas, considerando as fragilidades das lembranças, que ora fluem continuamente,

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ora se isolam, como recurso de preservar informações que poderiam revolver tensões,

conflitos, disputas ou mesmo emoção.

Em algumas narrativas vieram à tona o discurso vigoroso de gratidão e reconhecimento

pelo trabalho das educadoras, sobressaindo certo desconforto e insatisfação daquele público,

pelo silenciamento e indiferença das lideranças políticas, autoridades públicas, famílias

beneficiadas e a sociedade de um modo geral, em reconhecer e dar publicidade a relevância

do trabalho e seus impactos positivos na vida dos deficientes.

Segundo estudos coordenados pelo professor Saviani et al (2014), no livro O legado

educacional do século XX, este legado estruturou-se no contexto de um discurso da

legitimidade do saber perante uma sociedade desigual, em que era preciso focalizar

prioridades sociais, com base na concretização de um projeto de escola pública, obrigatória,

gratuita, democrática e laica.

Muito embora sejam reconhecidos alguns avanços no “pantanoso terreno da

desigualdade, da opressão e da desumanização” o legado herdado aponta reconhecida

importância para o desenvolvimento da sociedade brasileira, todavia não atendeu com

qualidade e equidade a população em situação de vulnerabilidade social. Destaca o autor que,

nesse legado foi identificado o acesso da mulher aos processos de instrução e formação para o

magistério, tornando o exercício da profissão majoritariamente por mulheres, produzindo o

fenômeno da ‘feminização do magistério’. Outra referência importante foi a criação dos

grupos escolares como “pilares e sustentáculos das atividades didáticas em qualquer nível de

ensino”. A formação de professores para uma atuação qualificada do processo de ensino e

aprendizagem é outra importante conquista (SAVIANI, 2014, p. 7).

No centro desse legado encontramos as histórias do Cariri cearense, mediante a criação

de instituições escolares para instruir mulheres e torna-las responsáveis pela educação de

crianças e jovens, em 1923 e 1934, respectivamente, assim como, a história de lideranças

femininas na estruturação de modelos educativos, sobretudo o pioneirismo e protagonismo

na criação de instituições educacionais voltadas para diversos interesses e públicos.

Assim, na perspectiva de reconstituir propostas de inclusão, no tecido desse legado

caracterizado por Saviani, fomos em busca dos fatos e personagens perdidos no tempo,

aparentemente esquecidos, responsáveis por possibilitar vez e voz aos deficientes,

incapacitados, abandonados e esquecidos, normalmente ignorados nas políticas educacionais

implantadas durante o longo século XX.

Segundo estudos desenvolvidos por Facó (1965, p. 73), no século XX, a “evolução do

Nordeste, caracterizava-se por sua extrema lentidão, própria de uma sociedade em estágio

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econômico seminatural, com uma rígida divisão de classes” que polarizava ricos e pobres,

normais e anormais, capazes e incapazes.

Na tessitura dessa sociedade, muitos foram chamados, poucos foram incluídos, a

maioria, sobretudo os pobres foram excluídos. De acordo com estudos desenvolvidos no

campo da História, da Sociologia, da Economia e na educação, é exatamente no seio da

pobreza, onde se manifestaram os mais expressivos índices de pessoas portadoras de

deficiências, sobretudo em razão das condições de vida, alimentação, acesso aos

equipamentos de saúde e educação, privados dos escassos benefícios produzidos pelo Estado.

Não se trata, nesse estudo, de debater as políticas no campo da inclusão de pessoas

portadoras de deficiência ou mesmo tratar de questões teóricas e/ou metodológicas sobre o

tema. O foco será revelar experiências de duas mulheres educadoras, destacadas dentre os

milhares de outras mulheres, por terem dedicado suas vidas às causas sociais voltadas para a

inclusão dos esquecidos, ignorados, excluídos.

Maria Zuíla e Silva Moraes e os excluídos na “terra da fé e da oração, Juazeiro do Padre Cícero”

A criação de instituições voltadas para a inclusão de pessoas portadoras de deficiências

aconteceu no Cariri cearense, precisamente na cidade de Juazeiro do Norte, em 25 de abril de

1971, quando a professora ruralista Maria Zuíla e Silva Moraes fundou a Associação de Pais e

Amigos dos Excepcionais – APAE. Narrativas de ex-professoras, que trabalharam com a

citada educadora afirmam que seu interesse foi impulsionado pelo desejo de ajudar seu filho

portador da Síndrome de Down.

Dona Zuíla, como era popularmente conhecida ingressou no Grupo Escolar Padre

Cícero, onde cursou todo o primário (de 1931 a 1934). Transferiu-se para a Escola Normal

Rural, onde cumpriu os dois anos complementares (entre 1935 e 1936), sequenciando

mediante ingresso no Curso Normal Rural, que tinha a duração de três anos (de 1937 a 1939),

diplomando-se professora normalista rural.

Seu trabalho como educadora teve início após a conclusão do curso normal rural na

ENRJN, quando, em 1952, fundou e passou a dirigir o Instituto Domingos Sávio, considerada

a primeira escola de ensino médio de Juazeiro do Norte. Dentre várias outras iniciativas por

ela adotada, para desenvolver a educação em Juazeiro merece destaque: a fundação e a

direção da Escola Parque Dr. Joaquim de Figueiredo Correia, em 1963, mais conhecida como

Escola de Artes Industriais; a fundação e a direção do Instituto Psicopedagógico Eunice

Damasceno, em 1967; antecedendo a criação da APAE, iniciando o atendimento

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especializado, educacional e profissionalizante de crianças e jovens portadores de

deficiências. Em 1980 fundou o Centro de Reabilitação do Cariri “Luís Moraes Correia”,

objetivando assegurar atendimento especializado aos portadores de deficiência de todas as

idades.

Por seu protagonismo e dinamismo como educadora, atuou diretamente como

organizadora e/ou apoiando a realização de inúmeros eventos integrados às instituições que

criou e dirigiu. Seu interesse pelas questões relacionadas ao atendimento e escolarização

especializada para portadores de deficiência levou-a a participar de vários congressos de

APAEs pelo Brasil, de outras iniciativas congêneres.

A fala de ex-professoras anuncia que a busca pelo conhecimento especializado foi um

fator determinante no trabalho desta educadora, impulsionando-a a participar de diversos

eventos de natureza pedagógica, na perspectiva de qualificar os serviços e atendimentos

educacionais das instituições que estava fundando em Juazeiro do Norte.

As experiências apresentadas nos vários eventos no campo da educação e os primeiros

movimentos em prol da implantação da modalidade educação especial motivou-a a interagir

com outras instituições congêneres, na busca de subsídios para a efetivação de seu grande

projeto e futuro legado: a fundação da APAE.

Assim, em 1970 criou também o primeiro curso de Classes Especiais, denominando-o

de Lar-Escola Helena Antipoff, instituição anexa ao Instituto Domingos Sávio. A experiência

era absolutamente pioneira no campo da pedagogia moderna (educação especial), com a

inclusão de atendimentos psicoemocionais especializados em uma Clínica, denominada Leão

Sampaio.

Narrativas de ex-docentes da APAE revelaram que a estrutura médica e de outros

atendimentos especializados em Juazeiro era precária, fazendo com que Dona Zuíla

importasse dos grandes centros urbanos profissionais da saúde, como médicos (pediatras,

neurologistas, psiquiatras), bem como, outros profissionais essenciais ao atendimento

especializado aos portadores de deficiência: assistentes sociais, psicólogas, orientadoras

educacionais, técnicos em educação física, dentre outros.

O trabalho tomou amplitude e, crianças antes esquecidas, ignoradas ou trancadas em

“quartinhos apertados no fundo da casa” passaram a ser identificadas, na perspectiva de

serem percebidas e tratadas como seres humanos. A literatura sobre o tema revela que, em

tempos remotos, as pessoas com deficiência não eram sequer consideradas seres humanos,

sendo rejeitadas pela sociedade e, por vezes, exterminadas por seus próprios pais, ao serem

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percebidas diferentes das demais. Outras eram simplesmente abandonadas em lugares

ermos, muitas das quais não sobreviviam.

Com base no seu próprio caso familiar, Dona Zuíla passou a estimular as famílias a

assumir, conviver e oportunizar atendimentos especializados aos deficientes nas instituições

que estava criando em Juazeiro, incluindo escolarização e profissionalização.

A escolarização em classes especiais demandava a preparação diferenciada do

professorado. Para alcançar tal finalidade, a educadora celebrou convênios com instituições

de educação especial renomadas do Sul e Sudeste do País, de onde vinham os profissionais

especializados objetivando desenvolver formações específicas para professores, técnicos e

auxiliares, de forma a garantir excelência no atendimento àqueles sujeitos.

Com ideias absolutamente inovadoras e a frente do tempo que corria lento na “terra da

fé, oração e trabalho”, Dona Zuíla viajou pelo Brasil com suas ideias e sonhos,

transformando-os em projetos pedagógicos e de desenvolvimento social e profissional

destinados a incluir os excluídos por suas diferenças físicas, emocionais, psicológicas, visuais,

de linguagem, dentre outras limitações.

O alcance da sua obra educacional aponta para a promoção sócio educacional da

juventude juazeirense, pois contribuiu e promoveu ações significativas direcionadas a

organização do sistema de educação de Juazeiro, criando instituições, estimulando o

intercâmbio interinstitucional e interestadual entre APAEs e instituições responsáveis pelo

atendimento aos portadores de deficiência, incentivou a criação do Lions Clube, do

Movimento Bandeirante e da instalação do primeiro curso de língua inglesa com a fundação

do Instituto Brasil-Estados Unidos.

Minerva Diaz de Sá Barreto “a mãe dos pobres”

Dona Minerva Diaz de Sá Barreto chegou silenciosamente na cidade de Barbalha, em

meados dos anos de 1960, produziu uma grande revolução na estrutura de atendimento à

população em situação de vulnerabilidade econômica, social, educacional e de saúde. Uma

mistura densa de sentimentos foi encontrada, por esta pesquisadora, ao adentrar o universo

das instituições que a educadora criou, nas conversas informais com pessoas humildes da

periferia, no mais puro sentimento de saudade de professoras e ex-colaboradoras.

Iniciou um amplo trabalho social logo que chegou a Barbalha. Buscou parcerias

públicas e privadas, estabeleceu relações internacionais com instituições sediadas na Europa

e Estados Unidos, por meio do Fundo Cristão para Crianças. Era início dos anos 1970, em

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uma terra esquecida, de pessoas abandonadas, rostos desfigurados pela desnutrição, corpos

marcados pelo abandono e violência.

Dona MINERVA foi a segunda filha do casal Thomas Diaz Adorno e Juanita Ruiz

Torres. Cidadã Americana Del Estado livre de Puerto Rico. Fez escola superior em Trujillo

Alto, cidade onde nasceu. Estudou em Puerto Rico Junior College, cursando Artes Liberais.

Posteriormente foi aos Estados Unidos, onde aperfeiçoou seus estudos na American

University (Secretariado) e George Washington University (Assistência Social) tendo, por

esta ocasião, sido uma das convidadas do Presidente Kennedy a fazer parte do primeiro

grupo de voluntários da paz, para trabalhar no nordeste brasileiro, desenvolvendo a

juventude rural da Paraíba, cidades de Serrarias e Bananeiras (fragmento do Memorial

Sociedade Pestalozzi de Barbalha, 1985).

Ao retornar para sua terra, trabalhou como Auditiva no Departamento de Anomalias

orofaciais da Escola de Odontologia de Puerto Rico. Em 1964, retornou ao Brasil contraindo

núpcias com o engenheiro agrônomo Dr. Antonio Inaldo de Sá Barreto, cidadão e política

barbalhense com que teve três filhas: Dâmaris, Desirée e Thasis Cidália.

Quando chegou a cidade dos ‘verdes canaviais’, de um recente matrimônio com um

engenheiro agrônomo e político daquela cidade, começou a olhar para as necessidades e

vulnerabilidades aparentes da população. Carência de toda natureza era visível ao primeiro

contato. Os serviços públicos precários e a escassez de assistência social, saúde e educação

chamavam a atenção. As pessoas pareciam abandonadas a própria sorte, a pobreza, miséria,

exclusão, negação de direitos, segundo narrativas recuperadas pelas professoras que

conviveram com Dona Minerva.

Seu empenho pessoal, articulações políticas e sua penetração no cenário internacional,

por ter cumprido atividades em programa financiado pelo governo dos Estados Unidos

contribuíram, de algum modo para compreender as tramas políticas, os fluxos de fomento e a

estrutura dos projetos de interesse do governo brasileiro. As experiências desenvolvidas nas

cidades paraibanas permitiram que conhecesse os percursos e vieses dos projetos de

assistência social brasileiros. A cidade de Barbalha, em termos de estrutura política,

econômica, administrativa, de assistência social não era diferente de outras partes do

esquecido Nordeste do Brasil.

Fatos que marcaram sua história de vida: eleita pelo Pres. Kennedy como uma das

melhores voluntárias destacadas no Brasil, do qual conserva uma carta até hoje como mérito;

ser convidada pelo Pres. Lyndon Jonhson para ajudar a escrever sobre os passos dos

voluntários no Brasil; outro foi ser convidada pelo Presidente José Sarney para ir ao Palácio

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tratar de assuntos sobre deficientes e o outro foi o apoio que recebeu no 1º ano de governo do

seu esposo da Irmã Ideltrath Lech (Hospital São Vicente). Semeou exemplo de coragem, fé,

perseverança e inteligência (Memorial, s/autor, s/d).

Incentivou e apoiou a criação de Institutos Pestalozzi em Missão Velha, Milagres e

Campos Sales, apadrinhando estas entidades no que se refere a total orientação para seu

funcionamento. (Boletim Informativo Nº. 01/Instituto Pestalozzi de Barbalha, s/d).

Destacou-se como pioneira das Pestalozzis com o apoio da senhora Eunice barroso

damasceno que fundaram outros institutos em cidades caririenses.

Ensaio de uma conclusão que demanda outros olhares

Para Alberti (1990, p. 05), a narrativa oral privilegia a “recuperação do vivido conforme

concebido por quem viveu”, reconstituindo, assim, uma versão do passado específica de uma

experiência, um lugar, um protagonismo pessoal e as repercussões sobre o coletivo. O retorno

ao passado feito pelas ex-professoras da APAE, assinalaram o período de convivência com

Dona Zuíla, indicando experiências que foram ressignificadas em momentos decisivos para a

instituição, particularmente, as articulações da educadora para qualificar a equipe

pedagógica e técnica. As memórias revelam um protagonismo de superação, considerando a

escassez de políticas afirmativas e garantia efetiva de recursos. Ao percorrer as etapas

constatou-se a falta de interesse, por parte das autoridades e instituição, pela recomposição

das memórias da fundadora da APAE.

Algumas conquistas podem ser assinaladas, no Brasil como um todo e nos estados, no

caso do Ceará, que avançou com a oferta de educação para os deficientes, em meio às crises

de natureza política, econômica e social, graças ao interesse individual, motivado por

questões de ordem pessoal/familiar ou mesmo, como campo de disputas políticas. Ambos os

casos foram identificados no percurso desta pesquisa. Movidas por razões que se ora se

assemelham, ora se diferenciam, importante registrar o empenho e envolvimento pessoal das

protagonistas pesquisadas.

Dona Zuíla é considerada por muitos juazeirenses como a “mãe dos deficientes”,

enquanto Dona Minerva é lembrada no imaginário barbalhense como “mãe dos pobres”.

Ambas se envolveram com suas capacidades intelectuais, profissionais e políticas, em defesa

da causa. Os percursos se fazem e refazem sob o olhar de quem viveu diretamente, de quem

foi beneficiado, dos que tiveram vez e voz com o trabalho desenvolvido pelas duas

educadoras.

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O movimento de profissionalização foi uma realidade constatada em ambas as

experiências, porque àquela época, as licenciaturas, o curso normal pedagógico e outras

oportunidades formativas, ainda se constituía em nível de políticas de formação, se clara

definição de estudos e métodos para o magistério especializado, como era o caso dos

professores atuantes nas APAEs e Instituto Pestalozzi.

Durante o longo século XX, as políticas em educação foram sendo redefinidas,

acompanhando as demandas socioeconômicas e políticas. Nesse contexto, a formação

docente foi se adequando ao perfil de aluno almejado segundo os referenciais. Todavia,

pensar e redefinir estratégias pedagógicas para a educação como um todo, implicou olhar as

demandas da educação especial, sobretudo em seu marco regulatório, Planos Nacionais de

Educação (PNEs), parâmetros e diretrizes curriculares para os níveis e modalidades de

ensino.

Alguns avanços anunciaram progressivo desenvolvimento da formação de recursos

humanos para a educação especial a partir da segunda metade do século XX. A formação

desses recursos observara a capacidade de oferecer atendimento aos educandos especiais nas

creches, pré-escolas, centros de educação infantil, escolas regulares de ensino fundamental,

médio e superior, bem como, em instituições especializadas. Não havia como ter uma escola

eficaz quanto ao atendimento, desenvolvimento e aprendizagem dos deficientes sem que seus

professores, demais técnicos, pessoal administrativo e auxiliar não fossem preparados para

atendê-los adequadamente (GARCIA, 2013).

As narrativas observam que, os esforços públicos para oferta e custeio de formação

especializada, para trabalhar com o deficiente era precária, secundarizando a sua

importância para a qualidade dos serviços e seus resultados. Da mesma forma que fomentar

regularmente as instituições, cujo discurso anunciavam ora escassez, ora redução, ora falta de

recursos, igualmente era complexa a oferta de formações para os professores, sobretudo a

formação em serviço, em que os profissionais identificam suas limitações e necessidades e

sinalizam no contexto de trabalho, como um pedido de apoio.

Referências

ALBERTI, V. Indivíduo e biografia na história oral. Rio de Janeiro: CPDOC, 1990.

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