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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X MULHERES CAMPONESAS E TEORIA MARXISTA DA DEPENDÊNCIA: APROXIMAÇÕES DA ANÁLISE SOBRE O PATRIARCADO NO CAMPO NO CONTEXTO DEPENDENTE LATINO-AMERICANO Larissa Carvalho de Oliveira 1 Helga Maria Martins de Paula 2 Resumo: As contradições no espaço agrário brasileiro apresentam-se de modo dinâmico. Entre as possibilidades de leituras sócio-política-jurídicas atualizadas desse contexto, destaca-se uma abordagem sobre a mulher do campo. Camponesas podem ser reconhecidas enquanto um grupo social marcado pela diversidade de características internas, especialmente de fatores étnicos, culturais e etários. Tendem a apresentar, coincidente ou assemelhadamente, práticas comunitárias e desempenho de atividades produtivas para manutenção econômica autônoma. Importa identificar o contexto de luta por direitos, a partir de um olhar acerca do espaço e da lógica campesina, frente o expansionismo globalizante do agronegócio. Objetiva-se delinear como a base familiar e determinada sociabilidade orientam ações contra-hegemônicas das camponesas frente ao modo de produção capitalista e ao patriarcado. Neste estudo, as fontes bibliográficas recebem análise comparativa, sob enfoque crítico e orientação da teoria marxista da dependência. Parte-se da hipótese de que as camponesas integram classe social baixa e se caracterizam pela histórica vulnerabilidade, inclusive decorrente dos conflitos territoriais e ideológicos. Inicialmente, trata-se sobre o cenário camponês brasileiro na conjuntura de dependência capitalista. Em tom conclusivo, são apontados elementos para se discutir a importância da atuação das camponesas quanto à persistência e/ou adaptação de suas tradições e formas de vida. Palavras-chave: Mulheres Camponesas; Campesinato; Teoria marxista da dependência Introdução O campo, em sua construção alicerçada nas relações sociais que marcam a historicidade do Brasil e da América Latina e respectivas particularidades de seu capitalismo dependente, traz a contextualização para a análise central do objeto de pesquisa do presente artigo: a mulher camponesa e sua resistência e protagonismo contra-hegemônico de enfrentamento ao modelo agrícola preconizado com a chamada “modernização do campo” no período inaugurado pelo “desenvolvimentismo”. Esse período, no Brasil e na América Latina, foi marcado pelo ascenso da luta de classes e pelo acirramento dos conflitos no campo, tendo sido o espaço para organização de diversos movimentos camponeses populares, como as Ligas Camponesas no Brasil. As relações sociais tendem a ser construídas de acordo com a época e a espacialidade que 1 Mestra em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil. 2 Professora de Direito Público da Universidade Federal de Goiás, Jataí, Brasil. Doutoranda em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília, Distrito Federal, Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

MULHERES CAMPONESAS E TEORIA MARXISTA DA DEPENDÊNCIA:

APROXIMAÇÕES DA ANÁLISE SOBRE O PATRIARCADO NO CAMPO NO

CONTEXTO DEPENDENTE LATINO-AMERICANO

Larissa Carvalho de Oliveira1

Helga Maria Martins de Paula2

Resumo: As contradições no espaço agrário brasileiro apresentam-se de modo dinâmico. Entre as

possibilidades de leituras sócio-política-jurídicas atualizadas desse contexto, destaca-se uma

abordagem sobre a mulher do campo. Camponesas podem ser reconhecidas enquanto um grupo

social marcado pela diversidade de características internas, especialmente de fatores étnicos,

culturais e etários. Tendem a apresentar, coincidente ou assemelhadamente, práticas comunitárias e

desempenho de atividades produtivas para manutenção econômica autônoma. Importa identificar o

contexto de luta por direitos, a partir de um olhar acerca do espaço e da lógica campesina, frente o

expansionismo globalizante do agronegócio. Objetiva-se delinear como a base familiar e

determinada sociabilidade orientam ações contra-hegemônicas das camponesas frente ao modo de

produção capitalista e ao patriarcado. Neste estudo, as fontes bibliográficas recebem análise

comparativa, sob enfoque crítico e orientação da teoria marxista da dependência. Parte-se da

hipótese de que as camponesas integram classe social baixa e se caracterizam pela histórica

vulnerabilidade, inclusive decorrente dos conflitos territoriais e ideológicos. Inicialmente, trata-se

sobre o cenário camponês brasileiro na conjuntura de dependência capitalista. Em tom conclusivo,

são apontados elementos para se discutir a importância da atuação das camponesas quanto à

persistência e/ou adaptação de suas tradições e formas de vida.

Palavras-chave: Mulheres Camponesas; Campesinato; Teoria marxista da dependência

Introdução

O campo, em sua construção alicerçada nas relações sociais que marcam a

historicidade do Brasil e da América Latina e respectivas particularidades de seu capitalismo

dependente, traz a contextualização para a análise central do objeto de pesquisa do presente artigo: a

mulher camponesa e sua resistência e protagonismo contra-hegemônico de enfrentamento ao

modelo agrícola preconizado com a chamada “modernização do campo” no período inaugurado

pelo “desenvolvimentismo”. Esse período, no Brasil e na América Latina, foi marcado pelo ascenso

da luta de classes e pelo acirramento dos conflitos no campo, tendo sido o espaço para organização

de diversos movimentos camponeses populares, como as Ligas Camponesas no Brasil.

As relações sociais tendem a ser construídas de acordo com a época e a espacialidade que

1 Mestra em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil. 2 Professora de Direito Público da Universidade Federal de Goiás, Jataí, Brasil. Doutoranda em Direito, Estado e

Constituição pela Universidade de Brasília, Distrito Federal, Brasil.

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lhes acrescentam elementos, histórias e configurações próprias. Na realidade agrária brasileira os

relacionamentos inseridos no campesinato apresentam feições comunitárias e de cuidado com a

natureza, além de enfrentamento a características próprias das relações sociais do campo, como o

coronelismo e a criminalização de organizações de trabalhadoras/es do campo.

O presente estudo enfatiza o protagonismo das mulheres camponesas na manutenção

tradicional do modelo agrícola contra-hegemônico que se afigura como condição para as suas

práticas de cultivo, seus afazeres domésticos e o costume de compartilhamento de saberes e

materialidades, sendo imprescindível para a manutenção de enfrentamentos efetivos ao modelo do

agronegócio.

Considera-se, por hipótese, que a vulnerabilidade socioeconômica comum às camponesas se

relaciona com os enfrentamentos econômicos, sociais, territoriais, políticos e ideológicos que

caracterizam suas vivências. Camponesas e camponeses predominantemente são pobres, explorados

pelos latifundiários/proprietários dos meios de produção no campo. E elas ainda são alvos das

ofensivas e dos ataques do patriarcado que invisibiliza seus trabalhos e lhes inferioriza em relação

aos homens. No campo, a ofensiva do patriarcado atrela-se à predominância de arranjos familiares

tradicionais que rejeitam qualquer inserção da mulher em espaços que não sejam espaços nos quais

o exercício de seus papéis de esposas e mães estejam presentes.

O objetivo principal do artigo é analisar a importância da atuação das camponesas,

especialmente para a questão agroalimentar no Brasil e na América Latina. Pretende-se ainda

destacar características do espaço e da lógica camponesa, cujos sujeitos lutam por direitos frente à

expansão progressiva e violenta do agronegócio em uma América Latina e Brasil dependentes.

Importa perceber o diferencial da base familiar e dos elementos sociais que pautam ações e

racionalidades contra-hegemônicas das camponesas e dos camponeses frente à lógica do capital no

campo.

Os elementos que caracterizam injustiça socioambiental, com destaque para a tensão entre

campesinato e agronegócio, justificam o desenvolvimento deste estudo que pretende destacar as

camponesas em suas dimensões de centralidade na resistência aos ataques e criminalizações

perpetrados pelo capitalismo. Mulheres que cultivam hortas e lavouras, que criam animais, que dão

o tom da organização comunitária e da ocupação de espaços e papéis para além das determinações

do patriarcado.

O contexto rural sofre as consequências diretas do modelo explorador do agronegócio, cujos

produtos se destinam majoritariamente à exportação. Trata-se de modelo agrícola que constitui uma

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das bases da dependência latino-americana quanto ao capital de empresas transnacionais do setor.

As duas partes deste estudo consideram que a atuação das camponesas está vinculada à

determinada estrutura social, econômica, política, agrária e ideológica. Suas práticas tendem a ser

comunitárias, voltadas para o autoconsumo e em áreas que, predominantemente, são alvos de

disputas territoriais. Na primeira parte do trabalho, observa-se uma caracterização de dois modelos

agrícolas que se destacam na América Latina. Os fatores de desigualdade no tratamento

institucional para cada um deles refletem-se nas condições de vida de seus membros.

As camponesas integram grupo social historicamente marginalizado, conforme se estuda na

segunda parte do texto. A importância de suas atividades é negada e ocultada como condição para a

permanência das formas de opressões da lógica patriarcal capitalista e de todo o mecanismo

explorador/opressor.

Perspectivas sobre o campo: entre resistências e expansões

O espaço rural brasileiro, na atualidade, pode ser percebido a partir de análises acerca de

determinadas características que envolvem as pessoas que nele produzem e sobrevivem. Certos

grupos sociais localizados no campo podem ser identificados mediante os vínculos que possuem

com os modelos agrícolas, especialmente com o campesinato e com o agronegócio.

O campesinato abrange um conjunto de orientações econômicas, estruturais e sociais,

pautadas na permanência sustentável no campo, na forma de uma agricultura predominantemente de

subsistência. Sua base histórica, no Brasil, revela-se com destaque nas tradições de formas de

cultivo de plantas e criação de animais, que primam pela autonomia econômica e social de

camponesas e camponeses (Wanderley, 1996). A autonomia tende a ser valorizada no campesinato

e, por este motivo, não há subordinação irrestrita às determinações do mercado (Abramovay, 1998),

ainda que o cenário hegemônico segregue, criminalize e dificulte cada vez mais as dinâmicas

campesinas.

O desenvolvimento das atividades agrárias, no campesinato, ocorre predominantemente por

meio do trabalho familiar. A prática da policultura é comum, assim como a pecuária, na medida em

que a diversificação produtiva amplia as possibilidades de manutenção independente no campo

(Wanderley, 1996).

A produção para o autoconsumo predomina no campesinato, pois são as necessidades

familiares que determinam o que vai ser produzido (Abramovay, 1998). A variedade da produção

camponesa atrela-se à diversidade dos saberes compartilhados e da perspectiva econômica

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prevalente de subsistência. As relações sociais são influenciadas por modos de racionalidade

integralizante, que ultrapassam os laços consanguíneos para serem comunitários (Wanderley, 1996).

Assim, as tradições são ensinadas a cada nova geração, mas também são incrementadas e

adequadas à contemporaneidade. Esse saber intergeracional e suas características marcantes da

oralidade e do respeito aos saberes que dialogam com as condições materiais postas, é fundamental

para compreensão da divisão dos papéis sociais das/os camponesas/es e sua complexa rede de

relações entre si e com o contexto no qual estão inseridas/os. Por isso, podemos vislumbrar, em um

mesmo espaço, o reforço dos papéis de submissão e restrição a atuação no espaço privado das

mulheres camponesas, determinados pela cultura do patriarcado, e a luta protagonizada pelas

camponesas na manutenção de modos de produção contra-hegemônicos que enfrentam a forma

hegemônica capitalista.

No entanto, a marginalidade tem sido constante na vivência de comunidades que se alinham

ao campesinato. Trata-se de marginalidade espacial/periférica, econômica, política e estrutural, pois

a pressão econômica predominante destina as melhores (e cada mais) terras para o agronegócio.

Estruturalmente, a escassez de incentivos governamentais e as dificuldades apresentadas aos

trabalhos camponeses, inclusive quanto à comercialização do que se produz, são alguns dos

obstáculos enfrentados por camponesas e camponeses. A dificuldade de acesso efetivo a

instrumentos relacionados ao plantio e à colheita que permitem uma maior inserção na circulação

daquilo que é produzido, bem como a face da superexploração3 do trabalho rural como forma de

3 Superexploração do trabalho é uma das categorias centrais desenvolvidas no âmbito da Teoria Marxista da

Dependência (TMD). Tendo como principais autoras e autores Vânia Bambirra, Ruy Mauro Marini, Theotônio dos

Santos, entre outros, essa escola teórica de análise da realidade econômica e social do Brasil e da América Latina, surge

nos anos 1960 como resposta à análise predominante na academia e nas políticas programáticas desenhadas para os

Estados à época: a leitura da perspectiva desenvolvimentista e etapista da Comissão Econômica para América Latina e

Caribe (CEPAL), que tinha Celso Furtado como um de seus principais teóricos/elaboradores. A partir do princípio do

desenvolvimento desigual, com o argumento da deterioração dos termos de troca, a CEPAL criticava os postulados da

Escola Clássica, no caso, as ideias de vantagens comparativas, ou seja, as relações internacionais equilibrariam as

desigualdades, estas eram necessárias para o bom funcionamento do mercado mundial – intercâmbio – todos sairiam

ganhando com a especialização no interior dessa nova divisão internacional do trabalho. A Teoria Marxista da

Dependência critica essa perspectiva trazendo a caracterização do capitalismo latino-americano com suas contradições

de classe e percepções das formas concretas de reprodução das relações de dependência dos países periféricos frente aos

centros imperialistas. Superava-se, portanto, o princípio do desenvolvimento desigual e, de acordo com a TMD, o

capitalismo ”sui generis” latino-americano, e sua respectiva dependência, deve ser compreendido tendo por base a

expansão da economia a qual está subordinada, como consequência dessa relação de dependência, há uma deterioração

dos termos de troca na transferência de valores dos países periféricos para os países centrais. Essas características

observadas nos países dependentes levam a um mecanismo de compensação que permite com que a mais-valia, que nos

países periféricos é produzida porém não acumulada, seja compensada pela superexploração do trabalho, isto é, salários

abaixo do valor como elemento estrutural do capitalismo dependente desses países. No caso do Brasil, podemos

expandir essa análise para uma superexploração do trabalho no campo que ultrapassa a caracterização de salários

baixos, resvalando na condição análoga a de escravidão e aprofundando, ainda mais, a dicotomia na relação

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sobrevivência no “campo moderno” são, também, obstáculos concretos observados.

Em termos espaciais, camponeses se apresentam como marginalizados ao serem afastados

dos lugares de interesse do capital. Os não lugares são-lhes destinados, a periferia da periferia do

capitalismo dependente. E a alteração da mirada, do olhar, que transforma em elementos discursivos

periferia/centro, em nada acrescenta efetivamente ao debate de forma a contribuir com os

instrumentos necessários de enfrentamento ao capitalismo por parte de camponesas/es. Os não-

lugares concretos, materiais, são os elementos que interessam à análise, pois o espaço além de físico

é funcional (Santos, 2006). Nesse sentido, os elementos que o compõe são carregados de

significados também. Esses significados são reflexos das relações sociais construídas a partir das

condições materiais e envolvem as ações humanas desenvolvidas em determinada área. O espaço,

portanto, abrange valores e desvalores.

Quanto ao campesinato, por se tratar de modelo diverso do hegemônico, estabelece-se

socialmentemarcado pela desvalorização, inclusive espacial. Ao mesmo tempo, no plano interno,

reconhece-se determinada espacialidade dinâmica, em que as atividades agrárias são diversificadas

e pautadas no interesse de manutenção coletiva sustentável, com respeito à natureza e

predominância da perspectiva de subsistência.

O espaço próprio comum aos camponeses é de pequenas áreas territoriais, inclusive e

principalmente devido aos fatores de ordem classista. Contudo, o fato de se tratar de pequeno

estabelecimento rural não pressupõe que quem o ocupa e nele trabalhe corresponda a um camponês,

nos termos aqui elencados. Considerando-se o ano de 2014, no Brasil:

Em dados absolutos, os estabelecimentos com até 50 hectares, que controlam 6,9% das

terras agrícolas, contribuíram com 41% do valor da produção, enquanto os

estabelecimentos com mais de mil hectares foram responsáveis por 24,8% da receita

agropecuária, apesar de nominalmente controlarem mais que o triplo da área dos primeiros

e terem recebido quase o dobro, em valor, dos créditos obtidos pelos primeiros (PAULINO,

2015, p. 19-20).

Desse modo, o desempenho produtivo em pequenos estabelecimentos agrícolas, incluindo-se

os caracterizados como camponeses, foi maior do que o dos grandes estabelecimentos,

historicamente controlados pelo setor agrícola patronal.

O campesinato se reafirma e reinventa cotidianamente, ao mesmo tempo em que se destaca

por determinada sociabilidade afetiva e se pauta no compartilhamento de valores e saberes. Não há

homogeneidade entre as comunidades camponesas brasileiras (Wanderley, 1996), mas muitas

capital/trabalho e a convivência de formas primitivas de acumulação do capital e suas sociabilidades com o mais

agressivo capitalismo.

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compartilham as características da necessidade da migração decorrente da pressão expansionista do

agronegócio. Por consequência, faz-se comum observar condições de precariedade entre grupos

sociais camponeses.

Em contexto capitalista, o fornecimento de alimentos pelo campesinato à população urbana

(Wanderley, 1996) não é substituído pela produção do agronegócio. Neste modelo agrícola o foco é

a produção de commodities, enquanto produtos da agricultura padronizados e avaliados segundo as

normas do comércio internacional, especialmente para fins energéticos e exportadores.

O agronegócio se constitui como sistematicidade para a produção e comercialização do que

se desenvolve no campo em larga escala, com destaque para a produção em monoculturas (em

especial com os cultivos de soja, milho e cana-de-açúcar) nos latifúndios do capital expansionista

(Delgado, 2012).

A dependência de investimentos estatais (Paulino, 2015) e privados contínuos e progressivos

é pressuposto no agronegócio. Deste modo, o desenvolvimento tecnológico e científico é fomentado

para servir apenas às práticas de ampliação territorial e econômica do modelo agrícola hegemônico.

Quanto ao elemento territorial, importa destacar que o modelo latifundiário foi inserido na

modernidade e se mantém com bases políticas e sociais (Wanderley, 1996). O latifúndio se mantém

por meio da exploração de trabalhadoras e trabalhadores do campo e da natureza. A realidade

latifundiária envolve e concentra poder socioeconômico, político e ideológico, em detrimento de

grupos sociais vulneráveis, como as pessoas inseridas no campesinato. “Controle territorial e

hegemonia são, assim, indissociáveis [...]” (Paulino, 2015, p. 12).

A concentração de terras e a hegemonia do agronegócio no Brasil e na América Latina

tornam explícita a relação de dependência capitalista que prevalece na região, com consequências

nocivas à natureza e às pessoas (Paula, 2010). Trata-se de dependência com países do Norte em

termos estruturais, financeiros, tecnológicos e científicos, cujas práticas são essencialmente

exploratórias e opressivas.

O agronegócio corresponde à face do capitalismo no campo. Assim, prima pelo lucro e pela

apropriação da mais-valia a partir da superexploração do trabalho de mulheres e homens que,

“livremente”, vendem sua força de trabalho. O capitalismo, então, pode ser compreendido como

fenômeno sócio-histórico e político, diferenciado pelo seu modo de produção. Baseia-se na

propriedade privada dos meios produtivos; no trabalho livre e assalariado; no sistema mercantil e

em racionalidades visando à exploração do mercado para se obter lucro. Entre as racionalizações

capitalistas destacam-se as de caráter produtivo, científico e as dos comportamentos humanos

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(Rusconi, 1998).

Deste modo, observa-se que o campesinato e o agronegócio não são modelos agrícolas

isolados entre si ou inflexíveis. Mas se mantêm na realidade complexa do campo, agregando

diversas estruturas socioeconômicas, históricas e políticas. São modelos que coexistem em tensão

ou em reais práticas opressivas e exploratórias.

No campo, a exploração e a desigualdade são intensas. Nele estão 75% das pessoas pobres

do mundo e a maioria delas realiza atividades agrárias (World Bank; FAO; IFAD, 2012). Entre as

pessoas pobres, as mulheres são ainda mais vulneráveis do que os homens.

As/os teóricas/os da teoria marxista da dependência já afirmavam, ainda nas décadas de

1960/1970 que no cenário do capitalismo “sui generis”, dependente, latino-americano “o

campesinato, do qual vários setores são progressivamente deslocados para as zonas urbanas-

expulsos do campo pelo monopólio da terra e pela crise provocada, por um lado, pela introdução de

máquinas e, por outro, pela decadência de setores agrícolas tradicionais-, tende a se proletarizar ou a

aumentar as filas dos vastos setores marginais.” (Bambirra, 2015, p. 208).

Na América Latina, a pobreza rural aparece nos discursos hegemônicos como consequência

do atraso e da falta de modernidade no setor agrícola. Nesta região, especialmente desde 1980,

observaram-se processos de privatização e de abertura das economias ao capital estrangeiro com

efeitos diretos na agricultura. Tais investidas aprofundaram a desigualdade social e a concentração

de terras (Brasil, 2006). Este cenário de injustiças sociais se arrasta até a contemporaneidade, de

modo a contribuir para a vulnerabilidade socioeconômica de inúmeras camponesas.

Mulheres camponesas e atividades agrárias

As mulheres que desenvolvem práticas e se relacionam socialmente sob orientação do

campesinato podem ser identificadas como camponesas. Nesse sentido, trabalham ao lado de seus

familiares, em atividades agrárias voltadas para o autoconsumo e predominantemente sustentáveis,

de modo a restringir as atividades econômicas ao suprimento das necessidades locais.

Reconhece-se que o termo “camponesas” pode abranger mulheres indígenas, quilombolas,

pescadoras, quebradeiras de coco, seringueiras, ribeirinhas e extrativistas localizadas em espaço

rural. Contudo, no presente texto, a palavra “camponesas” é utilizada como referência às mulheres

do campo vinculadas ao campesinato, no sentido apresentado acima. O grupo social composto pelas

camponesas é internamente diverso, em especial por conta de fatores culturais, étnicos, etários,

religiosos e geográficos.

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Camponesas são significativamente afetadas pela privatização da natureza promovida pelo

modelo agrícola hegemônico. Até porque, a redução da disponibilidade de elementos da natureza

estreita a variedade genética de vegetais e animais em cada região, causando a diminuição do acesso

aos alimentos por parte das comunidades.

A crítica construída em torno da dependência do setor agrícola brasileiro quanto às

tecnologias e insumos de padrão internacional faz-se ainda mais enfática quando se parte de

reflexões acerca da realidade vivenciada pelas camponesas. Tal ênfase se relaciona à

vulnerabilidade socioeconômica que atinge a maioria das camponesas, na medida em que afetadas

pela divisão sexual do trabalho, tendo que realizar atividades produtivas, reprodutivas e de cuidado

para com os membros da família.

O debate de gênero com destaque para as peculiaridades vivenciadas pelas camponesas

constitui-se com importância na questão agrária brasileira. Afinal, as camponesas têm mais

dificuldade de acesso aos créditos rurais, à titulação da terra, à capacitação em técnicas agrícolas e

às oportunidades de comercialização do que produzem se comparadas aos homens. Além disso, a

responsabilidade por cuidar de crianças e idosos tende a lhes ser atribuída com quase exclusividade

(Naciones Unidas, 2008). Há, portanto, uma divisão social e sexual do trabalho no campo que

reitera a vertente do patriarcado de designar papéis restritivos às esferas privadas às mulheres,

excluindo-as das esferas/espaços políticos decisórios, além da dinâmica estrutural de afastá-las de

forma permanente da assunção dos meios de produção no campo.

As comunidades camponesas muitas vezes se localizam em áreas que apresentam condições

desfavoráveis de fertilidade, clima e de acesso à água, aos mercados consumidores, à infraestrutura

e aos serviços públicos. As terras de melhor qualidade custam caro e tendem a ser concentradas

pelo agronegócio (Paulino, 2015).

Em contexto de hegemonia do agronegócio capitalista, as atividades realizadas por mulheres

tendem a ser desvalorizadas, assim como o seu desempenho produtivo – incluindo-se o agrário –

marginalizado ou invisibilizado (Saffioti, 2013).

No entanto, as atividades realizadas com quase exclusividade por mulheres, no interior das

casas se inserem na economia (Butto, 2009) e correspondem ao pressuposto para a realização de

outras atividades sociais.

Entende-se que as camponesas não correspondem à totalidade das mulheres localizadas na

zona rural brasileira. No entanto, os dados coletados – oriundos de fontes secundárias – não se

pautam nas especificidades que caracterizam o campesinato, conforme acima delineado e, portanto,

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não se diferenciam de acordo com tal critério. Apesar disso, destaca-se a relevância de trazê-los

para apresente análise na medida em que as camponesas se inserem no contexto rural que é

dinâmico e complexo.

Quanto às atividades agrárias, em 2006, das mulheres inseridas no setor agropecuário

brasileiro, 46,6% trabalhavam para o autoconsumo. Neste setor e no mesmo ano, 33,7% das

mulheres não eram remuneradas no exercício de suas funções (Butto, 2009). As atividades em

lavouras e na pecuária abrangem a maior parte das mulheres não remuneradas no campo (Brasil,

2006).

Muitas camponesas brasileiras trabalham com horticultura e floricultura, além de investirem

seus esforços na criação de pequenos animais e aves. A despeito de parte do que produzem destinar-

se ao comércio, a ausência de remuneração para as camponesas é constante (Brasil, 2006). O

trabalho em lavouras é comum entre as camponesas e, nos últimos anos, a exploração florestal vem

crescendo como atividade rentável (Butto, 2009).

De acordo com informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de

2013, realizada sob orientação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase

metade das mulheres da zona rural trabalham para o consumo ou sem remuneração. 14,9% delas

trabalham por conta própria, cerca de 10% exerce atividades laborais com carteira assinada e 10%

sem carteira assinada. Além disso, somente 0,7% das mulheres rurais são empregadores, enquanto

entre os homens o número é três vezes maior (Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2015).

Predomina socialmente determinada perspectiva discriminatória que aponta as atividades

agrárias das camponesas como ajuda aos trabalhos dos homens. Nesse bojo, tem-se uma

desqualificação das atividades domésticas e agrárias realizadas por mulheres em espaço externo à

casa, como se não fossem trabalho, mas contribuição, obrigação ou fardo feminino, decorrente da

própria condição de mulher.

Observa-se que a autonomia econômica das camponesas é um desafio. As posições

subalternas são-lhes destinadas historicamente, como um ranço da lógica patriarcal que intensifica a

vulnerabilidade socioeconômica das camponesas ainda na atualidade.

O patriarcado tende a atribuir sentido de produtivo aos trabalhos masculinos e de

improdutivo aos femininos. A materialidade das relações sociais engendradas, bem como sua

respectiva e consequente dimensão simbólica cumprem funções especiais no campo, pois algo é

produtivo ou improdutivo a partir de determinado parâmetro, por vezes não declarado. O poder de

se atribuir sentidos sociais é detido pela modernidade capitalista que, em âmbito rural, atende pelo

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nome de agronegócio.

Reconhece-se, no setor agrícola, que o modelo patriarcal capitalista predomina. O

patriarcado afigura-se como sistema ideológico pautado na exploração e dominação de mulheres.

Mantém formas de desigualdade que privilegiam os homens, estimulando práticas de controle e de

medo a que as mulheres são submetidas (Saffioti, 2015).

A luta das camponesas pela manutenção dos próprios meios e condições de sobrevivência,

com as suas tradições, corresponde a formas de resistência face ao modelo expansivo do capital

agrícola. Resistem à imposição das estruturas exploratórias. Resistem às injustiças socioambientais.

Ao resistirem constroem direitos, desde o campo e pelas margens.

Considerações finais

A partir da realização deste estudo, percebe-se que o espaço camponês atende funções

variadas, construídas pelas suas relações materiais inseridas na conjuntura econômica e política

nacional e internacional. A afirmação ideológica do campesinato demonstra ser contra-hegemônica,

inclusive por valorizar a natureza que o capital agrário não hesita em explorar e destruir. Mas não só

isso: também é contra-hegemônica no sentido de resistência e de ser protagonista dos momentos de

ascenso da luta de classes na América Latina e no Brasil.

As inúmeras atividades das camponesas contribuem para a preservação de determinada

organização social, historicamente sustentável, cuja sociabilidade valoriza o afeto e a subsistência

como base econômica. A sustentabilidade se vincula à produção e cultivo da biodiversidade, desde

os quintais das casas das camponesas.

Observa-se ser lucrativo ao capitalismo que as camponesas não sejam remuneradas na maior

parte dos trabalhos que realizam. Por este e outros fatores, faz sentido identificar esse sistema como

patriarcal capitalista.

A autonomia econômica das camponesas é basilar para que tenham oportunidade de

melhorar sua qualidade de vida e de sua família e para que possam se estabelecerem como

responsáveis pelos seus meios de produção e reprodução da vida nas relações familiares e na

própria comunidade.

Nesse sentido, a questão agroalimentar foi considerada desde a atuação das mulheres no

campo. Elas integram e significam o espaço camponês, lutam para que seja mantido e resistem à

expansão do agronegócio que corresponde à expansão de processos de destruição da vida e de um

modelo de produção coadunado com a exploração das/os trabalhadoras/es do campo.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

As abordagens estabelecidas acima reuniram determinados pontos de toque entre questões

sexuais, espaciais e classistas. O debate sobre modelos agrícolas no contexto latino-americano

desdobra-se em características de dependência econômica com efeitos sobre as pessoas, políticas,

conjunturas nacionais e internacionais e a biodiversidade. E o olhar sobre as camponesas expressa a

preocupação quanto à posição que ocupam nesse cenário.

Em suma, resta a curiosidade para que o debate iniciado nos tópicos acima seja

aprofundado, especialmente para se incentivar que a realidade das camponesas paute as reflexões e

políticas sobre conflitos agrários, terra e biodiversidade.

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Peasant women and Marxist dependence theory: Approximations of the analysis of patriarchy

in the countryside in the context of Latin America

Abstract: The contradictions in the Brazilian agrarian space present themselves dynamically.

Among the possibilities of updated socio-political-juridical readings of this context, we highlight an

approach on rural women. Peasant women can be recognized as a social group marked by the

diversity of internal characteristics, especially ethnic, cultural and age factors. They tend to present,

coincidentally or similarly, community practices and performance of productive activities for

autonomous economic maintenance. It is important to identify the context of the struggle for rights,

based on a look at space and peasant logic, in the face of the globalizing expansion of agribusiness.

The objective is to delineate how the family base and determined sociability guide counter-

hegemonic actions of peasant women in the face of capitalist mode of production and patriarchy. In

this study, the bibliographic sources receive a comparative analysis, under a critical approach and

orientation of the Marxist dependence theory. It is based on the hypothesis that the peasant women

integrate low social class and are characterized by the historical vulnerability, also resulting from

the territorial and ideological conflicts. Initially, it is about the Brazilian peasant scenario in the

conjuncture of capitalist dependence. In a conclusive tone, elements are pointed out to discuss the

importance of peasant women performance in the persistence and/or adaptation of their traditions

and ways of life.

Keywords: Peasant Women; Peasantry; Marxist dependence theory