o poder das mulheres camponesas no acesso a mercados

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1739 Cubati O poder das mulheres camponesas no acesso a mercados Desde criança a agricultora Solange José de Medeiros vive e convive com as adversidades da região do Seridó Paraibano, na comunidade Capoeiras, município de Cubati. Ela, junto com seus oito irmãos e seus pais, cresceram enfrentando os desafios dos períodos de estiagem e dos limites da agricultura familiar na região. A família de Solange sempre viveu da agricultura, através do cultivo de roçados, criação de pequenos animais e do cultivo de hortaliças próximo aos barreiros, nos períodos de chuva. Atualmente, os pais, ela e seu marido, Aldo, moram na casa, seus demais irmãos seguiram outros destinos. Solange também conta que o pai sempre criou porcos «ele mesmo abatia e ven- dia a carne aqui na comunidade e na cidade». Com a comercialização da carne suína e de ovos de galinha, a família conseguia obter uma renda extra para cobrir suas despesas. No passado, durante os períodos de seca, a família toda se unia para buscar água em ca- cimbas e barreiros de outras comunidades de Cubati. Foi em 2003 que a família recebeu sua pri- meira cisterna de captação da água da chuva, através do Programa Um Milhão de Cisternas. Desde então, Solange diz que não sabe o que é beber água suja de barreiro, “acabou a dificul- dade que a gente tinha com água, a gente nem lembra mais que mora em zona rural”, afirma. Em 2012, a família conquistou a cisterna-calçadão do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), porém desde que foi construída, ainda não choveu na região. No entanto, com a água que Solange colocou logo após a construção, ela conseguiu melhorar a produção de hortaliças. “O P1+2 veio fortalecer minha produção, devido ao caráter produtivo, porque com as cercas e os canteiros econômicos posso plantar minhas hortaliças e não preciso me preocupar com a cri- ação de galinhas, que antes destruíam tudo que a gente plantava ”, fala a agricultora. Setembro/2014 Feira da Agricultura Familiar de Cubati-PB

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Desde criança a agricultora Solange José de Medeiros vive e convive com as adversidades da região do Seridó Paraibano, na comunidade Capoeiras, município de Cubati. Com o apoio das cisternas do P1+2 e P1MC e a união do Grupo de Mulheres da comunidade, ela está conseguindo aumentar a produtividade da família e assim, acessar novos mercado e melhorar sua qualidade de vida.

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Page 1: O poder das mulheres camponesas no acesso a mercados

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1739

Cubati

O poder das mulheres camponesas no acesso a mercados

Desde criança a agricultora Solange José de Medeiros vive e convive com as adversidades da região do Seridó Paraibano, na comunidade Capoeiras, município de Cubati. Ela, junto com seus oito irmãos e seus pais, cresceram enfrentando os desafios dos períodos de estiagem e dos limites da agricultura familiar na região. A família de Solange sempre viveu da agricultura, através do cultivo de roçados, criação de pequenos animais e do cultivo de hortaliças próximo aos barreiros, nos períodos de chuva.

Atualmente, os pais, ela e seu marido, Aldo, moram na casa, seus demais irmãos seguiram outros destinos. Solange também conta que o pai sempre criou porcos «ele mesmo abatia e ven-dia a carne aqui na comunidade e na cidade». Com a comercialização da carne suína e de ovos de galinha, a família conseguia obter uma renda extra para cobrir suas despesas.

No passado, durante os períodos de seca, a família toda se unia para buscar água em ca-cimbas e barreiros de outras comunidades de Cubati. Foi em 2003 que a família recebeu sua pri-meira cisterna de captação da água da chuva, através do Programa Um Milhão de Cisternas. Desde então, Solange diz que não sabe o que é beber água suja de barreiro, “acabou a dificul-dade que a gente tinha com água, a gente nem lembra mais que mora em zona rural”, afirma.

Em 2012, a família conquistou a cisterna-calçadão do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), porém desde que foi construída, ainda não choveu na região. No entanto, com a água que Solange colocou logo após a construção, ela conseguiu melhorar a produção de hortaliças. “O P1+2 veio fortalecer minha produção, devido ao caráter produtivo, porque com as cercas e os canteiros econômicos posso plantar minhas hortaliças e não preciso me preocupar com a cri-ação de galinhas, que antes destruíam tudo que a gente plantava ”, fala a agricultora.

Setembro/2014

Feira da Agricultura Familiar de Cubati-PB

Page 2: O poder das mulheres camponesas no acesso a mercados

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Paraíba

Foi no ano de 2009 que Solange uniu-se a um grupo de mulheres da comunidade para beneficiar as frutas nativas, que naquele momento tinha uma boa safra. Foi a partir daí que elas perceberam a possibilidade de melhorar a renda familiar por meio da comercialização.

O grupo recebeu o apoio do Coletivo Regional das Organizações da Agricultura Familiar e do Patac, participaram de alguns intercâmbios, conhecendo experiências de outros grupos de mulheres da região e de outros estados. Também participaram de oficinas sobre manipulação e armazenamento dos produtos,

fortalecendo o início da experiência com a produção de polpas, doces, geleias, compotas, etc.

Por meio da organização do grupo, as mulheres já conseguiram acessar mercados institucionais, a exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Atualmente os produtos beneficiados pelo grupo e produzidos pelas famílias da comunidade são comercializados através do PNAE Estadual, na Bodega Agroecológica, sediada no município de Soledade-PB, na própria comunidade, nas atividades de formação dos programas P1+2 e P1MC, além da Feira da Agricultura Familiar de Cubati.

Após participarem da Jornada de Inclusão Produtiva, no início desse ano (2014), o grupo percebeu seu potencial para organizar a feira periódica. Desde então, a feira vem sendo realizada todas as últimas quarta-feira do mês. Hoje são doze famílias que levam para feira ovos, queijo, hortaliças, carne, galinha, bolo, polpa, doces, entre outros produtos.

É através da comercialização individual e coletiva que Solange diz ter conseguido melhorar a qualidade de vida de sua família. “Além de garantir a segurança alimentar de minha família, eu tenho conseguido uma renda extra com a venda dos excedentes que eu produzo. Com a renda que consegui com trabalho no grupo, completei o valor que precisava para adquirir minha casa própria”, afirma.

Solange reconhece seu papel enquanto mulher para o fortalecimento da agricultura familiar camponesa. “Temos que dá autonomia a outras mulheres para que elas percebam sua força e capacidade. Temos que estar envolvidos em grupos, participando ativamente de todas as ações de forma coletiva.” conclui a agricultora.

Realização Apoio

Solange e o grupo de mulheres de Cubati

A conscientização e o fortalecimento da ações junto ao grupo de Mulheres