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Mardônio de Oliveira Costa MULHER E MERCADO DE TRABALHO: A REALIDADE CEARENSE Fortaleza Instituto de Desenvolvimento do Trabalho 2008

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Mardônio de Oliveira Costa

MULHER E MERCADO DE TRABALHO: A REALIDADE CEARENSE

Fortaleza Instituto de Desenvolvimento do Trabalho

2008

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Estudo realizado pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) - Organização Social Decreto Estadual nº 25.019, de 03/07/98. Editoração eletrônica, capa e layout Antônio Ricardo Amâncio Lima David Tahim Alves Brito Raquel Marques Almeida Rodrigues Revisão: Regina Helena Moreira Campelo Normalização Bibliográfica: Paula Pinheiro da Nóbrega Correspondência para: Instituto de Desenvolvimento do Trabalho - IDT Av. da Universidade, 25 96 - Benfica CEP 60.020-180 Fortaleza-CE Fone: (085) 3101-5500 Endereço eletrônico: [email protected]

C837m Costa, Mardônio de Oliveira. Mulher e mercado de trabalho: a realidade cearense / Mardônio

de Oliveira Costa. – Fortaleza : Instituto de Desenvolvimento do Trabalho, 2008.

62 p. 1. Mulher. 2. Mercado de Trabalho. 3. Realidade Cearense. I.

Título. CDD: 331.4 813 1

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Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT)

Francisco de Assis Diniz Presidente

Antônio Gilvan Mendes de Oliveira Diretor de Promoção do Trabalho

Sônia Maria de Melo Viana Diretora Administrativo-Financeiro

Mardônio de Oliveira Costa Diretor de Estudos e Pesquisas

Análise e Redação

Mardônio de Oliveira Costa

Apoio Técnico

Arlete da Cunha de Oliveira Rosaliane Macêdo Pinto Quezado

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 05 2 A RECUPERAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO NOS ANOS 2000 08 3 A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO CEARENSE 13 4 A EVOLUÇÃO RECENTE DA OCUPAÇÃO E DESEMPREGO, POR GÊNERO 22 5 ESPECIFICIDADES DO TRABALHO FEMININO NO CEARÁ 32 5.1 Formas de Inserção e Precarização no Mercado de Trabalho Feminino 37

6 A REMUNERAÇÃO DO TRABALHO FEMININO 45 7 CONCLUSÃO 52 REFERÊNCIAS 54 ANEXO 56

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1 INTRODUÇÃO

É notória a crescente presença das mulheres no mercado de trabalho, nas

últimas décadas, devido tanto a fatores de ordem econômica quando a aspectos associados às transformações do papel da mulher na sociedade contemporânea, incluindo-se aí a independência financeira, mais autonomia, o papel de chefe de família, realização profissional, a manutenção da família pelo desemprego do cônjuge, a complementação da renda familiar, etc. Tal presença varia de país para país, dependendo do nível de desenvolvimento econômico e social deste.

De fato, as mulheres compõem um segmento populacional importante e significativo para as economias nacionais. Localmente falando, elas respondem por 52% da população residente no Ceará, integram 42% da população economicamente ativa do estado, têm uma representatividade de 51% no exército de desocupados cearenses, além de serem responsáveis pela manutenção de aproximadamente 1/3 dos domicílios particulares cearenses, em 2006.

A partir da década de 1970, intensificou-se a participação das mulheres na atividade econômica em um contexto de expansão da economia com acelerado processo de industrialização e urbanização. Prosseguiu na década de 1980, apesar da estagnação da atividade econômica e da deterioração das oportunidades de ocupação. Nos anos 1990, década caracterizada pela intensa abertura econômica, pelos baixos investimentos e pela terceirização da economia, continuou a tendência de incorporação da mulher na força de trabalho. Contudo, incrementa-se, nessa última década o desemprego feminino, indicando que o aumento de postos de trabalho para as mulheres não foi suficiente para absorver a totalidade do crescimento da PEA feminina. (HOFFMANN; LEONE, 2004, p. 36).

Deve-se salientar que, na segunda metade dos anos 1990, a conjugação de

diversos fatores, principalmente de ordem econômica, como as baixas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), valorização cambial, altas taxas de juro e o processo de reestruturação da empresa nacional, decorrente da intensificação do processo de abertura da economia brasileira ao mercado global, dentre outros, induziram incrementos substanciais nos indicadores de desemprego e fomentaram a ampliação do contingente de trabalhadores com inserção precária no mercado de trabalho. Este também foi um período de crescimento substancial na produtividade do trabalho.

Nos anos 2000, caracterizados pelo aumento da elasticidade emprego/PIB, bom desempenho da economia mundial, taxas de juros em queda, elevação dos investimentos e crescimento econômico e do consumo interno mais robustos nos anos recentes, o que fez com que se processasse uma recuperação da ocupação, notadamente do emprego com carteira assinada, refletindo-se em residuais quedas no desemprego, a intensificação da inserção feminina no mundo laboral teve

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continuidade, fato constatado por diversos estudos sobre a evolução do mercado de trabalho nacional e questões de gênero.

Na realidade, os diferenciais de gênero, mais especificamente no que concerne ao mercado de trabalho, vêm sendo reduzidos, embora de forma lenta, mas gradual. Apesar dos avanços, as mulheres continuam a ser mais susceptíveis ao desemprego e ao desalento, constituem alvos preferenciais de trabalhos de qualidade inferior, são majoritárias em setores associados a atividades tradicionalmente qualificadas como femininas (serviços sociais e trabalho doméstico), são mais assíduas na informalidade e, consequentemente, percebem remuneração inferior, mesmo sendo mais escolarizadas, enfatizando-se que, em inúmeras situações, a necessidade de conciliar a atividade econômica com as responsabilidades para com a família induz a uma inserção precária no mercado de trabalho. Por conseguinte, é oportuno lembrar que a minimização da discriminação, em seus diversos aspectos, leva à inclusão social e à redução da pobreza, além de fortalecer a cidadania.

Portanto,

em um mundo no qual se compreende cada vez mais a importância do trabalho decente

1 e produtivo como única via sustentável para sair da

pobreza, é crucial analisar o papel que as mulheres desempenham no mundo do trabalho. O progresso via um emprego pleno, produtivo e decente, que é uma nova meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, somente será possível se são levadas em conta as necessidades específicas das mulheres nos mercados de trabalho. (OIT, 2007b, p. 2).

Diante do exposto, o presente trabalho tem como finalidade maior analisar

o processo de inserção da mulher no mercado de trabalho cearense, no período de 2001 a 2006, no que concerne a sua intensidade e qualidade, em um contexto de crescimento econômico e de recuperação do emprego, conjuntura bastante diferente da constatada, por exemplo, nos anos 90, com ajuste da empresa nacional e forte impacto no mercado de trabalho. Essa conjuntura mais favorável possivelmente influenciará a forma de inserção das mulheres, dadas as possibilidades de elas encontrarem oportunidades de trabalho que dêem mais qualidade a sua participação na atividade produtiva, elevando a renda e o padrão de vida das famílias.

Para tanto, foram utilizadas diversas fontes de informação. A primeira delas, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, com informações desmembradas para o Estado do Ceará, Região Metropolitana de Fortaleza e área não-metropolitana, com detalhamentos para variáveis como gênero, idade e tempo de estudo, base de dados a partir da qual foram gerados os indicadores de participação, ocupação e desemprego. A segunda, a pesquisa Desemprego e Subemprego, realizada pelo Sistema Nacional de Emprego (SINE/CE) e o Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), na cidade de Fortaleza, com a interveniência da Secretaria do Trabalho e

1 Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), trabalho decente significa um trabalho assalariado ou

por conta-própria, com proteção social básica, que respeita os princípios e direitos fundamentais do trabalho e

com diálogo social. É um trabalho produtivo e adequadamente remunerado, exercido em condições de

liberdade, equidade e segurança, sem quaisquer formas de discriminação, e capaz de garantir uma vida digna

a todas as pessoas que vivem de seu trabalho.

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Desenvolvimento Social (STDS), objetivando a geração de informações mais qualitativas, com foco no perfil da remuneração do trabalho por gênero, na capital cearense, e a terceira, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), com números atinentes à evolução do emprego formal no estado, nos anos 2000.

Além dessa introdução, integrando o primeiro módulo, o trabalho apresenta outros seis. O segundo aborda a recuperação do mercado de trabalho nos anos 2000, destacando-se o impulso na geração de empregos formais e a discreta redução do desemprego nos anos recentes; o terceiro mostra em que medida evoluiu a participação das mulheres no mercado de trabalho local, com abrangência geográfica, em nível de estado, região metropolitana e área não-metropolitana do estado, segundo algumas variáveis selecionadas; o quarto aborda as tendências dos indicadores de ocupação e desemprego nas três áreas citadas, também segundo algumas variáveis; o quinto módulo versa sobre algumas especificidades da ocupação das mulheres, destacando o perfil etário, escolaridade, grupos ocupacionais, categorias ocupacionais, setores de atividade, além de considerações sobre o nível de precariedade do trabalho feminino; o sexto contempla o perfil de remuneração das mulheres, fazendo-se um paralelo com o nível de remuneração dos homens e, por último, algumas considerações finais.

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2 A RECUPERAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO NOS ANOS 2000

Segundo estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

(CAGED), um Registro Administrativo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), ao longo dos anos 2000, presencia-se uma recuperação do emprego com carteira assinada no Brasil. O número de empregos gerados salta de um resultado negativo, em 1999, com o fechamento de 196 mil vagas, para resultados positivos, entre 600 e 760 mil empregos/ano, em 2000/2003, ultrapassando a barreira de 1,2 milhão de novos empregos, no triênio 2004/2006, sendo atingida a marca 1,5 milhão, em 2004.

Por sua vez, o desemprego no país apresentou uma ascensão continuada nos anos de 1995 a 1999, saindo de algo em torno de 6% para próximo de 10%, patamar que voltou a ser registrado nos anos de 2005 e 2006, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (IBGE), demonstrando que o volume de empregos formais gerados no mercado de trabalho brasileiro, nos últimos anos, foi inferior ao crescimento da oferta de mão-de-obra, não sendo o suficiente para propiciar reduções mais substantivas nesse indicador, mas apenas cessar a manutenção da tendência de alta do desemprego observada na segunda metade dos anos 90. Além do mais, o Gráfico 1 a seguir demonstra que os níveis de desemprego, no triênio 2002-2004, superavam a marca dos 10% de 2005 e 2006, assumindo taxas anuais entre 11,50% e 12,00%.

Gráfico 1 – Evolução Mensal do Desemprego Metropolitano – Mar./2002 – Dez./2006 Fonte: Dados Coletados da Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Essa mesma realidade é explicitada ao se considerarem os números da pesquisa de Emprego e Desemprego, da Fundação Estadual de Análise de Dados (SEADE)/ Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), para as seis regiões metropolitanas pesquisadas, comprovando que no biênio

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2005/2006 o patamar de desemprego metropolitano no país era um pouco inferior ao registrado em 2003-2004, conforme ilustrado no Gráfico 2 a seguir.

Gráfico 2 – Taxas Anuais de Desemprego aberto, por Regiões Selecionadas – 2003 a 2006 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego Publicada pelo DIEESE/SEADE.

Tal qual o ocorrido em nível nacional, essa retomada na geração de

emprego formal no Ceará também se processou a partir de 2000, significando um novo patamar de geração de emprego no estado, notadamente nos últimos três anos (2004/2006), tanto em decorrência do crescimento econômico quanto da ação fiscalizadora do MTE.

Em 1997-1999, o saldo de emprego cearense, diferença entre o número de empregados admitidos e desligados, que traduz o total de empregos que são criados na economia, foi de apenas 2.394, contra 180.011 novos empregos, em 2000-2006, dos quais, 64.435 no biênio 2005-2006 (36%). Outro aspecto que reforça a assertiva é que, se no biênio 2000-2001 o número de novos empregos/ano era de pouco mais de 17.000, em 2004-2005 esse número saltou para o patamar de 31.000 vagas com carteira assinada/ano, alcançando 33.560 empregos, em 2006, o que dá uma geração média anual de 25.716 empregos, em 2000 – 2006.

Apesar dos empregos gerados nos anos 2000, a realidade do desemprego no estado não foi alterada, pelo menos em termos de sua magnitude. Números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) quantificam taxas de desemprego de 5,02%, em 1995, e de 6,29%, em 1999, no Ceará. Nos anos 2000, o desemprego anual cearense sempre se situou acima dos 7%, alcançando inclusive pouco mais de 8%, em 2003, e registrando queda em 2006, para 7,52%.

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Observa-se que o desemprego no estado é um fenômeno eminentemente localizado na sua área metropolitana, alcançando taxas de 10,13% (1995) e 13,27% (1999). Esse patamar, acima de 13%, foi também registrado no triênio 2002-2004, declinando nos dois anos seguintes, com taxas de 12,88% (2005) e 12,34% (2006), demonstrando que a geração de empregos formais contribui para uma discreta redução do desemprego somente na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Mais detalhes da evolução do desemprego no Ceará são apresentados adiante.

Essa mudança de patamar nos anos 2000 foi impulsionada pelos empregos criados nos serviços (75.989), indústria de transformação (46.780) e no comércio (46.438), com participações de 42,21%, 25,99% e 25,80%, respectivamente, responsáveis por 94% das novas oportunidades de emprego formal no estado, em 2000-2006. Observar que, nesse período, o volume de empregos gerados na indústria ultrapassou o verificado no comércio, fruto da recuperação do emprego industrial, notadamente em 2002 e 2004, quando surgiram mais de 12.000 vagas formais na indústria de transformação cearense.

Gráfico 3 – Empregos Formais Gerados no Nordeste e no Ceará – 1999 a 2006 Fonte: Dados do CAGED Publicados pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Em 1997-1999, dos nove setores pesquisados, seis eliminaram postos de

trabalho, visto que os desligamentos superaram as admissões e, em 2000-2006, apenas dois setores tiveram saldo negativo (serviços industriais de utilidade pública e construção civil), demonstrando que a recuperação do emprego com carteira no Ceará deu-se de forma descentralizada, setorialmente falando.

Ao se subdividir esse período em três outros, quais sejam, 2000-2002, 2003-2004 e 2005-2006, percebe-se o processo de recuperação do mercado de trabalho formal do Ceará com mais detalhes. Inicialmente, essa evolução do emprego formal cearense mostra que os melhores anos estão associados a períodos de maior

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crescimento do PIB (2000, 2002, 2004 e 2006), quando a economia cearense cresceu a taxas de 4,0%, 2,7%, 4,4% e 4,8%, respectivamente, segundo o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). Nesses quatro anos foi na indústria de transformação que se detectaram os mais expressivos saldos de emprego, isto é, o setor com a maior geração líquida de empregos, com saldos de 8.421, 12.046, 12.138 e 6.597 empregos adicionais. Nota-se ainda que, apesar de positivos, os saldos da indústria de transformação apresentam-se menores, caindo de 18.958 empregos (2000-2002) para 16.618 (2003 – 2004) e 11.204, em 2005-2006, significando dizer que o setor vem gerando cada vez menos empregos, não obstante o número de contratações ainda superar os desligamentos, gerando saldos positivos.

Importante também foi a recuperação do emprego na construção civil, que ocorreu em 2005-2006, minimizando, sobremaneira, o saldo negativo de 2000-2006 (-169 vagas). Construção civil e serviços industriais de utilidade pública detiveram saldos negativos nos três primeiros períodos (1997-1999, 2000-2002 e 2003-2004), sendo que, na construção civil, esse saldo foi mais negativo no segundo período (-4.947 empregos), ao contrário dos serviços industriais de utilidade pública, cujo saldo, embora ainda negativo, foi bem menor (-674 empregos). Ambos apresentaram performance positiva em 2005-2006, com o surgimento de nada menos que 5.165 vagas na construção civil e 661, nos serviços industriais de utilidade pública. Tabela 1 – Saldo do Emprego Formal, por Setor de Atividade – Estado do Ceará, 1997 a 2006

Setor de atividade 1997-1999 2000-2006

2000-2002 2003-2004 2005 -2006 Total

Extrativa Mineral 253 187 -83 -67 37

Ind. Transformação 9.517 18.958 16.618 11.204 46.780

Serv. Ind. Útil. Pública -1.686 -674 -194 661 -207

Construção Civil -2.713 -4.947 -387 5.165 -169

Comércio 842 14.485 13.465 18.488 46.438

Serviços -1.488 32.351 17.996 25.642 75.989

Administração Pública -1.629 543 12 -20 535

Agropecuária -645 4.663 2.429 3.362 10.454

Outros -57 125 29 0 154

Total 2.394 65.691 49.885 64.435 180.011

Fonte: Dados do CAGED Publicados pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Ao contrário da indústria de transformação, comércio, serviços e agropecuária detiveram saldos crescentes em 2005-2006, sendo, no primeiro caso, 18.488 novos empregos, no segundo, 25.642, e no último, 3.362. De fato, 2005 e 2006 foram dois dos melhores anos, em termos de novos empregos nos serviços e no comércio.

Portanto, os números citados ilustram que houve uma ruptura no ritmo de ampliação do emprego formal no Brasil, e em particular, no Estado do Ceará, com um maior volume de empregos com carteira gerados a partir dos anos 2000, sendo gestado em diversos setores de atividade, em decorrência de taxas mais expressivas de crescimento econômico e de um esforço adicional de fiscalização por parte do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), embora insuficientes para propiciar decréscimos mais expressivos no desemprego, apesar das taxas um pouco menores em 2005/2006, mais especificamente, na RMF. Mesmo assim, os resultados alcançados

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retratam uma evolução conjuntural favorável na geração de trabalho e renda, mesmo porque, assumida a visão de que o trabalho possui uma dimensão social que antecede e supera a dimensão estritamente econômica, pode-se asseverar que as ações relativas ao mercado de trabalho são fundamentais para promover a equidade e o bem-estar de uma sociedade. (RAMOS, 2007, p. 7).

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3 A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO CEARENSE

No intento de se aferir a evolução da presença das mulheres no mundo

laboral cearense, em 2001/2006, considera-se, inicialmente, a taxa de participação, ou de atividade, como indicador principal, o qual mede unicamente a pressão sobre o mercado de trabalho. Esta é dada pela relação entre a População Economicamente Ativa (PEA), (ocupados e desempregados) e a População em Idade Ativa (PIA), (pessoas de 10 anos ou mais de idade), a qual será quantificada com base nos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em três níveis geográficos: Estado do Ceará, Região Metropolitana de Fortaleza e área não-metropolitana do estado.

A taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho é um indicador importante para analisar a evolução dos níveis de desigualdade de gênero existentes em uma sociedade. A inserção no mercado de trabalho é um indicador relevante de avanço para as mulheres, já que constitui um fator cada vez mais importante para aumentar o seu grau de autonomia pessoal, assim como seus níveis de bem-estar (próprio e de suas famílias). (ABRAMO, 2003, p. 2).

Em recente estudo sobre a evolução do mercado de trabalho brasileiro,

Lauro Ramos mostra que

enquanto a taxa de participação dos homens declinou de forma praticamente contínua, acumulando uma queda de aproximadamente 4 pontos percentuais (p.p.) - de 75,0%, em 1992, para 71,3%, em 2005 -, a taxa de participação feminina apresentou aumento, também de modo paulatino, de cerca de 7 p.p. no mesmo período, partindo de 42,4% em 1992 e atingindo 49,1% em 2005. (RAMOS, 2007, p. 21).

Portanto, um contexto em que a presença das mulheres no mercado de

trabalho nacional mostra-se em alta,

decorrente da redução de obstáculos de natureza não econômica ao seu ingresso no mercado de trabalho e, também, da necessidade de complementação dos orçamentos familiares, fator que, por certo, influenciou muito a mudança de postura cultural em relação ao trabalho feminino. (RAMOS, 2007, p. 21).

Quanto ao último ponto argumentado, importante mencionar que se as

mulheres eram responsáveis (pessoas de referência) por 28,51% das famílias residentes em domicílios particulares do Estado do Ceará, em 2001, elas chegaram a responder por 787,3 milhões das 2,4 bilhões de famílias residentes em domicílios particulares, em 2006, ou seja, 32,53%, segundo a PNAD, isto é, as mulheres cearenses são responsáveis pela manutenção de quase 1/3 dos domicílios particulares do estado.

Após essas considerações iniciais, deve-se destacar que, em termos locais, a melhora do mercado de trabalho, observada ao longo do período 2000/2006, no Estado do Ceará, com a expansão do emprego formal, por exemplo, não propiciou alterações substanciais nos seus macroindicadores e as alterações que se processaram

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ocorreram, mais nitidamente, entre as mulheres, que lograram uma maior participação, seguindo a tendência nacional, com elevação da ocupação e queda do desemprego, apesar de ser usualmente parcela majoritária dentre os desempregados.

Dessa forma, a evolução da taxa de participação no Ceará, nos anos de 2001 a 2006, assumiu uma tendência de alta, saindo do patamar de 60%, no biênio 2001/2002, para alcançar 62,24%, em 2005, a despeito da redução em 2006, para 61,32%, significando dizer que uma parcela adicional da População em Idade Ativa (PIA), passou a ofertar sua força de trabalho, demandando uma vaga nesse mercado. A PEA estadual, que era de 3.612.209 trabalhadores, em 2001, passou a 4.135.388, em 2006, com um crescimento médio anual de 2,74%. Nesses termos, a PEA do estado é incrementada anualmente em 104.636 trabalhadores.

Tabela 2 – Taxas de Participação, por Nível Geográfico – Estado do Ceará – 2001 a 2006

Ano Estado do Ceará Reg. Met. Fortaleza Área não-metropolitana

Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total

2001 72,68 49,17 60,31 69,90 48,60 58,34 74,50 49,59 61,69

2002 72,72 48,30 59,91 68,45 48,92 57,90 75,63 47,83 61,35

2003 73,90 49,13 61,09 67,68 47,25 56,92 78,22 50,52 64,08

2004 72,88 50,16 61,01 68,66 49,02 58,09 75,77 51,04 63,14

2005 73,06 52,27 62,24 68,95 52,03 59,95 75,92 52,45 63,90 2006 73,04 50,40 61,32 69,78 51,18 59,89 75,17 49,83 62,32

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nos Dados das PNADs de 2001 a 2006.

Essa tendência foi constatada basicamente entre as mulheres, dado que a

referida taxa sai de algo em torno de 49%, no triênio 2001/2003, para 52,27%, em 2005, permanecendo em 50,40%, em 2006, enquanto a participação masculina oscilou próxima a 73%, retratando um contexto de relativa estabilidade. Para fins de comparação, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), quantificou as taxas mundiais de participação masculina e feminina em 78,8% e 52,4%, e na América Latina e Caribe, 79,4% e 52,4%, respectivamente, em 2006, valores que superam as taxas locais. Portanto, enquanto no mundo e na América Latina e Caribe a participação masculina superou a feminina em, aproximadamente, 27 pontos percentuais (p.p.), no Ceará, chegou-se a uma diferença de 23 p.p., em 2006, o que pode ser traduzido como menores níveis de discriminação de gênero no estado, ao mesmo tempo que traduz as dificuldades de inserção no mercado de trabalho de parte das mulheres, notadamente as mais pobres e com menos instrução.

Se há diferenças na participação da mulher na força de trabalho nos diferentes países do mundo – muitas vezes em função de seu nível de desenvolvimento econômico e social – no Brasil, apesar de as regiões terem características diferenciadas, a participação feminina é bastante homogênea. Em todas as grandes regiões, as mulheres correspondem a mais de 40% da PEA, o que demonstra um expressivo movimento de conquista de espaço na atividade econômica. (DIEESE, 2001, p. 104).

A realidade expressa na citação anterior refere-se ao ano de 1999, e chega-

se, em 2006, a uma parcela feminina na PEA nacional ainda maior, de 43,70%, e esta passa a apresentar algumas diferenças quantitativas regionais, em que se constatam menores proporções nas regiões menos desenvolvidas do país. Dados da PNAD/2006

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demonstram que, nas Regiões Sul e Sudeste, as mulheres compõem 45% da PEA regional, nas Regiões Nordeste e Centro-oeste, pouco mais de 42% e, no Norte do país, 40%, números que traduzem a magnitude e importância das mulheres na constituição das forças de trabalho regionais, não se tratando, pois, de um segmento com pouca representatividade, representatividade esta que se mostra crescente.

Ao se calcular a taxa de participação propriamente dita (PEA/PIA), essa constatação é reforçada, na medida em que a taxa mais elevada é a da Região Sul (57,84%), seguida das Regiões Sudeste (53,19%), Centro-Oeste (52,59%), Nordeste (49,89%) e, por último, a Região Norte, com uma taxa de participação de 48,94%, ou seja, regiões menos desenvolvidas parecem estar associadas a menores participações das mulheres no mundo laboral, embora esta seja crescente em todas elas. Por outro lado, a ocorrência de uma taxa de participação feminina mais elevada na Região Sul do país também está associada ao peso da atividade agrícola na região, setor de atividade com uma presença feminina nada desprezível.

Tabela 3 - PEA Total, PEA Feminina e Taxa de Participação das Mulheres, Por regiões Geográficas – Brasil e Grandes Regiões - 2006

Região PEA total

(a) PEA feminina

(b)

Parcela feminina na PEA

(b/a)

Taxa de participação

feminina (PEA/PIA)

Norte 7.193.133 2.900.396 40,32% 48,94%

Nordeste 25.549.154 10.825.590 42,37% 49,89%

Centro-Oeste 6.989.183 2.981.518 42,66% 52,59%

Sudeste 42.350.827 18.953.140 44,75% 53,19%

Sul 15.446.025 6.958.093 45,05% 57,84%

Brasil 97.528.322 42.618.737 43,70% 52,64%

Fonte: Dados da PNAD de 2006.

Tomando-se a diferença entre as taxas masculina e feminina, por região

geográfica, chega-se à mesma conclusão. As maiores diferenças de participação entre homens e mulheres, no mercado de trabalho nacional, são encontradas nas regiões socioeconomicamente menos desenvolvidas, tais como: as regiões Norte e Nordeste, com diferenças de 24 e 22 pontos percentuais (p.p.) a favor da participação masculina, respectivamente, e as menores localizam-se nas regiões Sul e Sudeste, com valores de 18 e 19 p.p., sendo que, em nível nacional, a mesma foi de 20 p.p., em 2006 – Vide Gráfico 4 a seguir.

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Gráfico 4 – Taxas de Participação, por Gênero, Segundo Grandes Regiões – Brasil - 2006 Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada na PNAD 2006.

Em termos estaduais, essa constatação também se mostra verdadeira, na

medida em que, considerando-se a média das diferenças das taxas anuais de participação de homens e mulheres, chegou-se aos seguintes valores: para o Ceará, 23 p.p., na RMF, 19 p.p. e na área não-metropolitana, 26 p.p., isto é, as taxas de participação dos homens são mais expressivas e essa diferença é mais intensa na área não-metropolitana.

Nacionalmente falando, a taxa de participação feminina de 2006 foi de 52,64% e considerando o valor de 52,4% como estatística mundial e da América Latina, de acordo com a OIT, e desprezando-se algumas diferenças conceituais e metodológicas, conclui-se que a realidade de inserção das mulheres no mercado de trabalho do Estado do Ceará é muito similar, posto que as taxas de participação feminina assumem os seguintes valores: 50,40%, no estado, 51,18%, na RMF e 49,83%, na área não-metropolitana, dados de 2006, seguindo a tendência nacional de menores taxas de participação em áreas menos desenvolvidas.

Adicionalmente, além de menores participações das mulheres nas economias menos desenvolvidas, é nessas mesmas regiões que elas tendem a se ocupar em atividades informais com mais intensidade, com relações de trabalho menos regulamentadas e mais fragilizadas, havendo mais trabalhadoras autônomas do que assalariadas, o que concorre para a obtenção de remunerações mais baixas e níveis de precarização do trabalho mais expressivos.

Retomando a análise da realidade cearense, em termos percentuais, a presença feminina na PEA estadual sai de 42,90%, em 2001, para 43,72%, em 2005, permanecendo em 42,52%, em 2006, bem similar às Regiões Nordeste (42,37%) e Centro-Oeste (42,66%). Ela amplia-se de 1.549.460 para 1.758.443 trabalhadoras, com

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um incremento médio anual de 41.797 pessoas, um crescimento médio de 2,56% ao ano, em 2001/2006.

Tabela 4 - Segmentos Populacionais do Mercado de Trabalho – Estado do Ceará – 2001/2006

Segmentos Homens Mulheres Total

2001 2006 2001 2006 2001 2006

Pop. residente 3.652.016 3.995.509 3.993.479 4.242.695 7.645.495 8.238.204

PEA 2.062.749 2.376.945 1.549.460 1.758.443 3.612.209 4.135.388

Ocupados 1.934.498 2.225.323 1.421.464 1.599.283 3.355.962 3.824.606

Desocupados 128.251 151.622 127.996 159.160 256.247 310.782

Fonte: Dados das PNADs de 2001 e 2006.

No Estado do Ceará, havia 75 mulheres para cada 100 homens

economicamente ativos, em 2001, número que passou para 78, em 2005, e chegou a 74, em 2006, segundo cálculos efetuados com base nas estimativas da PEA, por gênero, da PNAD. A OIT estima que, em 2006, essa relação, no mundo, era de 66,9, nas economias desenvolvidas, 81,4, nas economias em transição, 81,0, na Ásia Oriental, 79,3, na África Subsaariana, 74,8, na América Latina e Caribe, 69,5, mas, na Ásia Meridional e no Oriente Médio e África do Norte, os valores estão bem abaixo, 41,8 e 36,7, respectivamente. Obviamente que há diferenças entre os diversos países, precipuamente em função do seu nível de desenvolvimento econômico e social. Assim, descontadas, uma vez mais, algumas especificidades metodológico-conceituais, o número de mulheres economicamente ativas para cada 100 homens na mesma condição de atividade, no mercado de trabalho cearense, mostra-se acima da média mundial, superando diversas regiões do mundo, como a América Latina e Caribe, mas também abaixo de países desenvolvidos, países em transição e da Ásia Oriental.

Essa tendência de crescimento das mulheres é constatada tanto entre as mulheres jovens quanto adultas, em qualquer das áreas geográficas estudadas. Em termos estaduais, no primeiro caso, a taxa de participação sai de 47,22%, em 2001, para 50,87%, em 2005, declinando para 48,79%, em 2006, e entre as adultas, as taxas são de 58,12%, 61,01% e 58,15%, respectivamente.

Tabela 5 - Taxas de Participação Feminina Jovem e Adulta, por Nível Geográfico – Estado do Ceará – 2001 a 2006

Ano Estado do Ceará Reg. Met. Fortaleza Área não-metropolitana

Jovem Adulta Jovem Adulta Jovem Adulta

2001 47,22 58,12 49,48 56,12 45,41 59,61

2002 49,51 55,92 51,03 56,29 48,27 55,64

2003 48,46 56,76 48,65 54,49 48,32 58,49

2004 50,34 58,19 47,84 57,26 52,35 58,92

2005 50,87 61,01 52,78 59,60 49,42 62,12

2006 48,79 58,15 52,27 58,74 46,24 57,71

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

Ressalte-se que, no paralelo entre as áreas metropolitana e não-

metropolitana do estado, esta última apresenta patamares mais significativos de participação, significando dizer que, nos últimos anos, o mercado de trabalho fora da RMF está sujeito a maiores pressões por parte de sua força de trabalho. Tal fato ocorre independente de gênero e escolaridade e acontece notadamente entre os adultos e os

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homens. Na média do período, a participação masculina foi 7 p.p. mais elevada na área não-metropolitana, enquanto a feminina apresentou quase a mesma média, uma participação de 50%. Isto pode estar associado à influência do emprego industrial na região, que tem condições de influir na dinâmica desse mercado, além de ser um trabalho majoritariamente masculino, tratando-se de emprego formal. Em estudo realizado pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho, utilizando-se de informações da Relação Anual de Informações Sociais, de 2005, quantificou-se que 67,27% do estoque de emprego industrial e 70,95% dos estabelecimentos industriais do Estado localizavam-se na Mesorregião Metropolitana de Fortaleza, e que 60,24% desse estoque era composto por homens. (INSTITUTO..., 2007).

Na Região Metropolitana de Fortaleza, a participação masculina vem se recuperando desde 2004, alcançando 69,78%, em 2006, ressaltando-se que somente foi recomposto o patamar de 2001, quando a taxa masculina chegou a 69,90%. Na área não-metropolitana, a exceção do ano de 2003, quando foi estimada em 78,22%, frequentemente assumiu valores pouco acima de 75%, ou seja, a taxa de participação dos homens não apresentou maiores alterações.

No caso das mulheres, nessas duas regiões, repete-se a mesma evolução do estado, isto é, incrementos quase que contínuos até 2005, quando atingem uma participação de mais de 52%, com quedas em 2006, notadamente na área não-metropolitana, mas retratando uma nítida tendência de alta, independentemente de ser jovem ou adulta, principalmente na área metropolitana. Observar que a contribuição da PEA feminina da área metropolitana, na composição da PEA feminina estadual, elevou-se de 41,89% (2001) para 42,62% (2006), ou seja, de uma PEA estadual de 1.758.443 mulheres, em 2006, 749.491 integraram a PEA feminina da RMF.

Enquanto as mulheres jovens têm mais presença no mercado de trabalho

da Região Metropolitana de Fortaleza, as taxas de participação das adultas apresentam maiores valores nas áreas não-metropolitanas, o que pode ser explicado, pelo menos em parte, por fatores culturais associados aos residentes de áreas não-metropolitanas, como educação mais rígida, maior controle paterno sobre a família, a noção do homem como o responsável pela manutenção da célula familiar e a existência de outras estratégias de sobrevivência nessas áreas, além do trabalho remunerado, do assalariamento em si. Nesse aspecto, os números são muito esclarecedores, pois enquanto na área metropolitana havia 83 mulheres para cada 100 homens integrantes da PEA, em 2001 e 2006, este número passa para 71 e 68, respectivamente, na área não-metropolitana do estado, ilustrando a menor presença das mulheres no mercado de trabalho dessa área.

O nível de escolaridade de homens e mulheres tem se mostrado um fator relevante no que concerne à obtenção de trabalho, afirmação que é ratificada quando da avaliação das taxas de participação por anos de estudo, pois é percebido que esse indicador cresce com os anos de estudo. A partir dos oito anos de escola, as taxas de participação são cada vez maiores, entre homens e mulheres, o que independe de se tratar ou não de área metropolitana. Ilustrando com números do Estado do Ceará,

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enquanto nas duas faixas superiores (11 anos ou mais), as taxas assumem valores acima de 77%, nas duas inferiores (até 7 anos de estudo), observam-se participações de, no máximo, 58%.

A maior escolaridade das mulheres tem se constituído em um diferencial estratégico para a sua inserção/permanência no mercado de trabalho, contribuindo para amenizar as desigualdades de gênero no mercado de trabalho, conforme comprovam as considerações seguintes. Isto se deve ao fato de que há uma correlação positiva entre o nível de instrução e a diferença de participação por gênero, ou seja, constata-se que quão maior a escolaridade feminina, menor a diferença entre as suas taxas de participação e as dos homens. Em nível de estado, na faixa de 8 a 10 anos, essa diferença chega a 24 p.p., em média, declinando para 15 p.p., na faixa de 11 a 14 anos de estudo e chegando a somente 3 p.p. entre aqueles com 15 anos ou mais. Na RMF, essas diferenças são de 22, 16 e 4 p.p. e na área não-metropolitana, 27, 15 e 4 p.p., respectivamente. Tabela 6 – Taxa de Participação por Gênero, Segundo os Anos de Estudo – Estado do Ceará – 2001 a 2006

Gênero/Anos de estudo

Anos

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Masculino

0 a 3 anos 71,68 71,02 71,85 71,49 71,01 69,54

4 a 7 anos 66,58 66,76 68,17 65,01 64,38 65,46

8 a 10 anos 77,68 76,99 77,64 74,72 76,18 76,20

11 a 14 anos 87,17 85,25 87,38 87,62 88,98 88,61

≥ 15 anos 86,59 91,33 87,19 88,67 86,94 89,44

Feminino

0 a 3 anos 43,71 39,84 41,70 42,39 44,64 40,53

4 a 7 anos 41,37 40,31 40,82 41,06 43,25 40,39

8 a 10 anos 52,84 53,25 52,49 51,15 51,50 51,78

11 a 14 anos 71,00 71,18 72,11 71,77 73,76 71,25

≥ 15 anos 82,48 86,55 82,83 85,82 88,03 84,95

Total

0 a 3 anos 58,26 56,16 57,62 57,57 58,53 56,00

4 a 7 anos 53,01 52,40 53,54 52,25 53,12 52,24

8 a 10 anos 63,79 63,94 64,13 62,10 62,84 63,61

11 a 14 anos 77,26 76,96 78,77 78,62 80,40 78,69

≥ 15 anos 84,19 88,58 84,63 86,84 87,61 86,53

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

Além do mais, ao se quantificar o número de mulheres para cada homem

economicamente ativo, segundo as faixas de anos de estudo, infere-se que esta quantidade é aproximadamente três vezes maior, ao se passar do intervalo de 0 a 3 anos para 15 anos ou mais de estudo, qualquer que seja a área trabalhada. Vide Gráfico 5 a seguir.

Isso significa que as mulheres mais pobres e menos escolarizadas enfrentam importantes dificuldades adicionais para entrar no mercado de trabalho, como conseqüência, entre outros fatores, dos maiores obstáculos que têm de enfrentar para compartilhar as responsabilidades domésticas, em particular o cuidado com os filhos. (ABRAMO, 2003, p 3).

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Assim sendo, a melhor formação escolar das mulheres é uma estratégia que tem propiciado a redução da discriminação de gênero no mundo laboral, na medida em que facilita sua entrada/permanência no mercado de trabalho.

Gráfico 5 – Número de Mulheres para Cada Homem Economicamente Ativo, Segundo o Número de Anos de Estudo, por Região – Estado do Ceará - 2006 Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada na PNAD 2006.

Sobre esse tema, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), destaca

que

a educação é um direito fundamental. É essencial para o desenvolvimento, já que ajuda às pessoas a encontrar soluções para seus problemas e lhes possibilita ter acesso a novas oportunidades. Aumenta as possibilidades de participar nos mercados de trabalho e de buscar empregos mais dignos. (OIT, 2007b, p. 6, tradução nossa).

Enfim,

[...] em todos os países, com maior ou menor intensidade, cada vez mais mulheres passaram a ingressar no mercado de trabalho. Desejo pessoal de realização, necessidade de compor a renda familiar ou a obrigação de assumir a responsabilidade total da família pelo desemprego ou ausência do cônjuge são alguns dos fatores que contribuíram para que, ao longo das últimas décadas do século XX, a taxa de participação feminina seja crescente. (DIEESE, 2001, p. 103).

Na década de 80, por exemplo, anos de estagnação econômica, elevada

inflação e mudanças na estrutura do emprego,

o aumento mais intenso da participação feminina na atividade econômica ocorreu, exatamente, com mulheres que têm uma posição dentro da família

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que dificulta esta participação, sugerindo que ela foi particularmente motivada por necessidade econômica, provocada pela deterioração da situação ocupacional e de renda do chefe, tendo contribuído para evitar uma maior deterioração das condições socioeconômicas das famílias. (LEONE, 1996, p. 153).

Complementarmente,

não é adequado, entretanto, reduzir a questão da participação da mulher na economia a um problema de simples necessidade econômica da família. Outras causas, além da necessidade econômica, explicam o comportamento feminino. Como destacou corretamente Bruschini (1995), essas causas têm a ver com as transformações nos padrões de comportamento e nos valores relativos ao papel social da mulher, intensificadas pelo impacto dos movimentos feministas. (LEONE, 1996, p. 167).

Motivos como estes também fizeram com que, no Estado do Ceará, a

mulher se apresentasse mais ativa no mercado de trabalho local, com indicadores de participação similares às médias mundial, da América Latina e Caribe e do Brasil, quer em nível de região metropolitana ou não-metropolitana, independente de a mulher ser jovem ou adulta, apesar das reduções nas taxas de participação observadas em 2006. Elas representam nada menos do que 42% da PEA estadual, havendo 74 mulheres para cada homem economicamente ativo no estado e com menores diferenças entre as taxas de participação por gênero no Ceará, paralelamente ao mundo e à América Latina, o que não ocorre no paralelo com os 20 p.p. em nível de Brasil. Essa diferença é menor na RMF, comparativamente a área não-metropolitana, ou seja, em termos de mercado de trabalho, a desigualdade de gênero é menor na RMF.

Deve-se salientar que taxas de participação mais expressivas não implicam, necessariamente, que o mercado de trabalho vem evoluindo favoravelmente às mulheres, mesmo porque elas não traduzem as chances de as mulheres estarem trabalhando, nem fazem referência à qualidade dos trabalhos exercidos por elas, visto que elas têm conformado parcela cada vez maior do desemprego, como se percebe adiante. (OIT, 2007b). Por isso, analisa-se como ocorreu a evolução dos indicadores de ocupação e desemprego, notadamente o feminino.

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4 A EVOLUÇÃO RECENTE DA OCUPAÇÃO E DESEMPREGO, POR GÊNERO

Buscando melhor compreender a intensificação da presença das mulheres

no mercado de trabalho cearense, já explicitada por taxas crescentes de participação, passa-se a analisar os indicadores de ocupação e desemprego por gênero, com enfoque na força de trabalho feminina, no intuito de se determinar se a elevação dessa participação foi gestada pelo incremento na ocupação e/ou desemprego, além de alguns paralelos com os indicadores masculinos, no interstício 2001 – 2006, mantida a PNAD como fonte de informação.

O nível global de ocupação no Estado do Ceará, calculado pelo quociente entre o total de ocupados e a PIA, mostrou-se em ampliação no triênio 2003/2005, com a taxa de ocupação chegando a 57,36% (2005), apresentando queda em 2006, para 56,71%. Isto foi ocasionado pela substancial redução verificada na ocupação da área não-metropolitana, que saiu de um patamar de mais de 61% (2001/2002), para algo em torno de 64%, no triênio 2003/2005, registrando 59,63%, em 2006. Por sua vez, a ocupação na RMF, apesar do declínio observado em 2001/2003, apresentou tendência de crescimento nos anos de 2004 a 2006, com uma taxa de 52,50%, nesse último ano, o que significa que tanto a região metropolitana quanto a não-metropolitana têm sido contempladas com o processo de recuperação do mercado de trabalho local, reflexo de uma conjuntura macroeconômica mais favorável, que tem propiciado taxas de crescimento do produto interno bruto, brasileiro e estadual, mais elevadas, gerando mais oportunidades de trabalho e renda, tanto nas regiões metropolitanas quanto fora delas. Tabela 7 - Taxas de Ocupação, Segundo o Gênero, por Nível Geográfico – Estado do Ceará - 2001 – 2006

Ano Estado do Ceará Reg. Met. Fortaleza Área não-metropolitana

Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total

2001 68,16 45,11 56,03 62,59 41,90 51,36 71,82 47,46 61,69

2002 68,15 43,45 55,19 60,55 41,20 50,10 73,33 45,15 61,35

2003 69,15 44,04 56,16 60,04 39,41 49,18 75,48 47,47 64,08

2004 68,36 45,34 56,34 60,79 41,66 50,49 73,55 48,16 63,14

2005 68,35 47,24 57,36 61,32 44,22 52,22 73,24 49,52 63,90

2006 68,38 45,84 56,71 62,09 44,05 52,50 72,50 47,12 59,63

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

Segundo o gênero, a evolução da ocupação nas áreas metropolitana e não-

metropolitana foi bastante diferenciada. A recuperação da ocupação na RMF, em 2004/2006, de modo geral, beneficiou homens e mulheres, em que os primeiros recuperaram o nível de ocupação de 2001 e as segundas conseguiram manter um patamar mais elevado, alcançando mais de 44%, em 2005/2006, contra quase 42%, em 2001/2002. Como conseqüência, a representação das mulheres ocupadas da RMF, na ocupação feminina estadual, oscila de 39,37% (2001) para 40,34% (2006), isto é, do universo de 1.599.283 mulheres ocupadas no Ceará, em 2006, 645.155 trabalham na RMF.

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Por outro lado, a redução da ocupação na área não-metropolitana processou-se também entre ambos, mas com maior intensidade entre as mulheres. Nesse caso, se a ocupação masculina fluiu de 73,24% (2005) para 72,50% (2006), a feminina variou de 49,52% para 47,12%.

Tais evoluções fizeram com que a ocupação masculina, em nível de estado, fosse mantida no mesmo nível, pouco mais de 68%, e a feminina tivesse seu processo de recuperação interrompido em 2006, com uma queda de 47,24% para 45,84%, em 2005/2006, após crescimento contínuo em 2003/2005.

A verticalização da análise em nível de ocupação jovem e adulta, por gênero, possibilita perceber melhor o ocorrido com as tendências da ocupação na área não-metropolitana, em que as mulheres foram mais penalizadas. Inicialmente, os números demonstram que houve queda tanto da ocupação jovem quanto adulta, mas a ocupação jovem vinha em declínio desde 2005 e com mais velocidade, ao passo que a ocupação adulta só caiu em 2006, independente de gênero. Destaque-se que tanto as mulheres adultas quanto as jovens, residentes na área não-metropolitana, experimentaram reduções expressivas da ocupação, em 2005/2006. No caso das adultas, a variação foi de 59,93% para 55,81% e, entre as jovens, de 43,13% para 39,84%.

Resultados mais favoráveis são registrados na RMF, posto que, independente de faixa etária ou de gênero, os números da ocupação apresentam alterações residuais no biênio 2005/2006, demonstrando certa estabilidade desse indicador, inclusive, com crescimento da ocupação adulta masculina, que recuperou o patamar de 2001, acima dos 78%.

Tabela 8 - Taxas de Ocupação Jovem, Segundo o Gênero, por Nível Geográfico – Estado do Ceará - 2001 – 2006

Ano Estado do Ceará Reg. Met. Fortaleza Área não-metropolitana

Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total

2001 63,43 39,09 50,84 52,10 37,29 44,03 70,91 40,54 55,83

2002 65,00 38,88 51,75 51,56 35,45 43,14 74,81 41,68 58,41

2003 64,05 38,17 51,34 48,63 33,59 41,16 75,40 41,69 58,99

2004 63,08 40,25 51,68 47,15 33,88 40,23 74,01 45,36 60,18

2005 63,75 40,17 52,00 50,92 36,28 43,39 72,52 43,13 58,22

2006 62,62 38,25 50,32 50,88 36,08 43,23 70,53 39,84 55,30

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

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Tabela 9 - Taxas de Ocupação Adulta, Segundo o Gênero, por Nível Geográfico – Estado do Ceará - 2001 – 2006

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

Portanto, houve uma melhora da ocupação das mulheres na RMF, que

ocorreu precipuamente entre as adultas, processo que não se constatou no estado como um todo em virtude da redução da ocupação feminina ocorrida na área não-metropolitana cearense, em 2006. Mas apesar dessa constatação, é percebida uma tendência de alta na ocupação feminina, em quaisquer das áreas estudadas, mais explicitamente, entre aquelas de 25 anos e mais de idade, sinalizando uma presença mais vigorosa da mulher no mercado de trabalho, o que contribuiu para taxas de participação mais expressivas.

Ratificando afirmação da influência da escolaridade na obtenção de trabalho, observa-se que as taxas de ocupação realmente são mais elevadas para a mão-de-obra com 11 (onze) anos ou mais de estudo, independente de gênero. Em nível estadual, por exemplo, ela sai de 55,33% (8 a 10 anos) para 82,91% (15 anos e mais), em 2006. Além do mais, fato que merece menção é que o maior número de postos de trabalho criados no Ceará, em 2001/2006, foi na faixa de 11 a 14 anos de estudo.

Nesse aspecto, utilizando dados da Pesquisa Mensal de Emprego (IBGE), Ávila observa que

a ocupação por escolaridade mostra claramente a crescente competição por uma oportunidade de trabalho. A necessidade das empresas por aumento de produtividade para se manterem no mercado, aliada ao crescimento da ocupação insuficiente para absorver todos os entrantes na PEA, formam um filtro natural de seleção da ocupação beneficiando somente os detentores de maior grau de escolaridade. Vale notar que não só as pessoas com menor grau de escolaridade estão perdendo participação na ocupação, mas também outros contingentes com mais tempo de permanência na escola. (ÁVILA, 2007, p. 24).

Ano Estado do Ceará Reg. Met. Fortaleza Área não-metropolitana

Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total

2001 81,43 54,84 67,23 78,56 50,53 63,18 83,37 58,07 70,12

2002 79,99 52,57 65,30 76,06 50,46 61,92 82,71 54,20 67,79

2003 81,44 52,77 66,29 76,57 48,18 61,17 84,81 56,28 70,03

2004 81,64 54,51 67,15 78,25 51,30 63,41 84,01 57,03 69,93

2005 81,14 57,27 68,42 77,81 53,90 64,70 83,50 59,93 71,21

2006 82,05 54,94 67,67 78,52 53,78 65,02 84,40 55,81 69,55

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Tabela 10 - Taxa de Ocupação por Gênero, Segundo os Anos de Estudo – Estado do Ceará - 2001 – 2006

Gênero/Anos de estudo

Anos

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Masculino

0 a 3 anos 69,40 68,46 69,62 69,32 68,78 67,26

4 a 7 anos 61,82 62,47 63,54 60,99 59,86 61,07

8 a 10 anos 68,37 68,65 69,33 66,74 67,51 68,01

11 a 14 anos 78,17 76,81 77,83 78,97 80,92 81,20

≥ 15 anos 83,95 88,54 83,54 83,96 84,28 87,18

Feminino

0 a 3 anos 42,04 37,60 39,50 40,32 42,57 38,66

4 a 7 anos 37,41 36,57 37,13 37,26 39,64 37,50

8 a 10 anos 45,44 44,08 42,25 42,87 42,55 43,40

11 a 14 anos 63,06 61,68 62,43 62,90 63,77 63,05

≥ 15 anos 78,95 83,80 79,66 80,70 86,24 80,60

Total

0 a 3 anos 56,27 53,75 55,41 55,46 56,38 53,91

4 a 7 anos 48,68 48,41 49,42 48,35 49,08 48,63

8 a 10 anos 55,55 55,14 54,78 53,96 54,03 55,33

11 a 14 anos 68,92 67,89 69,15 69,85 71,26 70,83

≥ 15 anos 81,03 85,82 81,26 81,86 85,49 82,91

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

Esta influência parece ter mais impacto entre as mulheres, na medida em que as diferenças das taxas de ocupação por gênero tendem a ser menores quão mais elevado o tempo de escola, isto é, a maior escolaridade das mulheres tem contribuído para reduzir as desigualdades de acesso ao mercado de trabalho no estado. De fato, a relação ocupação feminina/ocupação masculina cresce de 0,55 (0 a 3 anos) para 0,95 (15 anos e mais), em 2002, e, em 2005, passa de 0,62 para 1,02, por exemplo.

Em absolutos, o total de mulheres ocupadas no Ceará passou de 1.421.464 para 1.599.283 pessoas, no período 2001/2006, com uma taxa de crescimento médio anual de 2,39%, abaixo da registrada para a PEA feminina (2,56% a.a.), o equivalente a um incremento médio anual de 35.564 mulheres ocupadas, enquanto a ocupação masculina ampliou-se em 58.165 pessoas/ano, ou seja, para cada nova oportunidade de trabalho/ano criada para as mulheres, houve 1,6 para os homens. Além do mais, as taxas de crescimento médio anual da PEA e dos ocupados homens, de 2,88% e 2,84%, respectivamente, estão muito mais próximas do que no caso feminino, que foram de 2,56% e 2,39%, respectivamente, de onde se deduz que a oferta de trabalho para os homens foi mais compatível com a ampliação de sua PEA, vis-à-vis a situação feminina, no período em apreço, com reflexos no desemprego das mulheres.

Assim sendo, a parcela feminina no total de ocupados do estado manteve-

se na casa dos 42%, sendo 42,36%, em 2001, 42,87%, em 2005, retraindo-se para 41,82%, em 2006. De outra forma, para cada homem ocupado no estado, havia 0,73 mulher, em 2001 e, em 2006, 0,72.

28

Deve-se ter muito claro que taxas mais elevadas de ocupação não expressam, necessariamente, maiores facilidades na obtenção de trabalho, principalmente no caso das mulheres, na medida em que elas historicamente detêm níveis de desemprego mais altos e são maioria entre os desempregados, apesar de serem minoria no mercado de trabalho.

Gráfico 6 – PEA, Ocupados e Desocupados, por Gênero – Estado do Ceará – 2001 a 2006 Fonte: Dados da PNAD de 2001 a 2006.

Quanto ao desemprego, o triênio 2001-2003 foi de elevação no estado, na

RMF e fora dela, ou seja, nos três níveis geográficos analisados, em que o crescimento da procura por trabalho, por parte das mulheres, quer jovens ou adultas, foi determinante, ilustrando sua intensificação na procura por trabalho, fato que se deu de forma ampla, independente de idade e espaço geográfico. Em 2003, o desemprego cearense foi de 8,06%, 13,61%, na RMF e 4,52%, na área não-metropolitana.

Segundo o gênero, enquanto o desemprego masculino basicamente só se eleva na área metropolitana, de 10,46% (2001) para 11,29% (2003), o feminino apresenta expansão nos três níveis geográficos. No estado, sai de 8,26% (2001) para 10,36%, na RMF, de 13,78% para 16,59% e, além das fronteiras da RMF, de 4,28% para 6,04%.

Como se trata de um período de início de recuperação do emprego com carteira assinada, em que foram gerados, no Ceará, 17.081, 30.831 e 18.645 empregos formais, em 2001, 2002 e 2003, respectivamente, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério de Trabalho e Emprego (MTE), acredita-se que essa conjuntura favorável ao emprego funcionou como um indutor da procura por trabalho de homens e mulheres, em um contexto de taxas irrisórias de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), nacional e estadual. A título de ilustração, o Ceará deteve taxas anuais de crescimento do PIB de -1,1%, em 2001, 2,7%, em 2002,

29

e 0,6%, em 2003, segundo o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE).

No triênio 2004-2006, após registrar uma taxa de 8,06%, o desemprego estadual alcança estabilidade no patamar de 7,50%, com uma reversão de tendência do desemprego na RMF, em que este declina para 12,34%, em 2006, e a manutenção do desemprego na área não-metropolitana, com a taxa oscilando em pouco mais de 4%, em 2005/2006. Tabela 11 - Taxas de Desemprego Aberto, Segundo o Gênero, por Nível Geográfico – Estado do Ceará - 2001 – 2006

Ano Estado do Ceará Reg. Met. Fortaleza Área não-metropolitana

Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total

2001 6,22 8,26 7,09 10,46 13,78 11,96 3,61 4,28 3,89

2002 6,28 10,05 7,88 11,55 15,79 13,48 3,04 5,60 4,06

2003 6,43 10,36 8,06 11,29 16,59 13,61 3,50 6,04 4,52

2004 6,20 9,61 7,67 11,47 15,03 13,08 2,93 5,63 4,04

2005 6,45 9,62 7,83 11,06 15,00 12,88 3,53 5,58 4,39

2006 6,38 9,05 7,52 11,02 13,92 12,34 3,55 5,43 4,32

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

Nesse período, a economia cearense cresceu a taxas mais robustas. O PIB do estado cresceu 4,3%, em 2004, 3,6%, em 2005 e 4,8%, em 2006, e a geração de empregos formais foi de 31.240, em 2004, 30.875, em 2005 e, em 2006, 33.560 empregos, uma realidade mais propícia para o mercado de trabalho local, o que justifica o desemprego em queda na RMF, em 2004/2006, dentre outros fatores.

Em síntese, em 2001/2006, o desemprego estadual, tal qual na área não-metropolitana, apresenta pequenas flutuações, em que o primeiro oscila em torno de 7,50% e o segundo em pouco mais de 4,00%. Em outras palavras, a maior oferta de emprego nos últimos anos, inclusive com carteira assinada, não se deu de forma suficiente para reverter o indicador de desemprego no estado. Na RMF, há um movimento ascendente até 2003 e de queda até 2006, com esse indicador retornando ao patamar de 2001.

A tendência de queda do desemprego, de fato, foi mais nítida entre as mulheres, em todas as áreas, especialmente na área metropolitana. No estado, sai de 10% (2002/2003) para 9%, em 2006, na RMF, declina do patamar de 16% para quase 14%, e, fora da RMF, essa redução ocorreu de forma lenta, de 6,04% (2003) para 5,43% (2006). Tais números ilustram também que o desemprego é mais expressivo na RMF, três vezes maior que fora dela, na média do período, independente de gênero e faixa etária e, além do mais, é notória a superioridade feminina nessa condição de atividade. Considerando-se taxas médias anuais de homens e mulheres, para o período 2001/2006, constata-se que se na RMF o desemprego feminino é 35% mais elevado que o masculino, na área não-metropolitana, essa relação é quase o dobro, isto é, 63%, ou seja, os problemas de discriminação de gênero no mercado de trabalho cearense são mais fortes nas regiões interioranas do estado.

30

Gráfico 7 – Taxas de Desemprego de Homens e Mulheres, por Área Geográfica – Estado do Ceará – 2001 a 2006 Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

A constatação de um desemprego feminino 35% superior, em média, é

uma realidade semelhante à verificada nas regiões metropolitanas de São Paulo e Recife e no Distrito Federal, segundo a pesquisa de Emprego e Desemprego (DIEESE/SEADE). Considerando-se os levantamentos realizados no quadriênio 2003/2006, na média do período, as taxas das mulheres são 35,46% maiores em São Paulo, 34,35%, no Distrito Federal e 33,94%, no Recife. Se em Salvador o contexto é mais favorável, com uma superação feminina de quase 25%, em Belo Horizonte e Porto Alegre, a situação é mais séria, em que as diferenças de desemprego entre homens e mulheres chegam a 40% e 45%, respectivamente.

As taxas de desemprego mais elevadas entre as mulheres evidenciam a desigualdade de inserção das mesmas no mundo laboral, perante os homens, explicitando que elas convivem mais intensa e frequentemente com a situação de desemprego. Mesmo que uma parcela das mulheres em idade de trabalhar não esteja disposta a tal, uma elevada taxa de desemprego mostra que muitas delas querem efetivamente trabalhar, porém não conseguem uma vaga no mercado, o que expressa sua dificuldade de inserção nesse mercado.

No que concerne ao desemprego para mulheres jovens e adultas, utilizando-se da média do período, enquanto no Estado do Ceará e RMF o desemprego jovem feminino é aproximadamente três vezes maior que o adulto, na área não-metropolitana, ele é quatro vezes mais expressivo. Isto demonstra que além de as mulheres serem mais afeitas ao desemprego, com taxas mais elevadas na RMF, e principalmente as mulheres jovens, no paralelo jovem/adulto por região, a situação é ainda mais grave na área não-metropolitana.

31

Gráfico 8 – Desemprego Juvenil Feminino, por Área Geográfica – Estado do Ceará – 2001 a 2006 Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

É preocupante que, nas regiões onde as taxas de desemprego feminino são consideravelmente mais altas do que as taxas de desemprego masculino, a tendência também se mantém para a população jovem. Isto provavelmente indica que o diferencial de gênero persistirá na próxima geração. (OIT, 2004, p. 12, tradução nossa).

Deve-se mencionar que a pequena redução do desemprego, em

2004/2006, aconteceu apenas entre os adultos, de 5,48% (2003) para 4,82% (2006), mais especificamente entre as mulheres adultas da RMF, com declínio de 11,59% (2003) para 8,45% (2006). No Ceará, no biênio 2005/2006, o desemprego juvenil situou-se acima de 21%, tal qual em 2002/2003, isto é, não recuou com a maior oferta de oportunidades de trabalho no estado, o que também ocorreu na RMF e fora dela. Tabela 12 - Taxas de Desemprego Jovem, Segundo o Gênero, por Nível Geográfico – Estado do Ceará - 2001 – 2006

Ano Estado do Ceará Reg. Met. Fortaleza Área não-metropolitana

Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total

2001 12,77 17,22 14,60 20,94 24,63 22,69 8,16 10,74 9,11

2002 11,97 21,47 15,85 22,64 30,52 26,24 5,40 13,66 8,49

2003 12,55 21,23 15,93 22,18 30,95 25,99 7,09 13,72 9,48

2004 12,19 20,05 15,42 25,18 29,17 26,99 4,98 13,36 8,21

2005 13,22 21,05 16,41 22,81 31,27 26,69 7,71 12,72 9,58

2006 13,05 21,61 16,55 22,31 30,99 26,31 7,70 13,85 10,00

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

32

Tabela 13 - Taxas de Desemprego Adulto, Segundo o Gênero, por Nível Geográfico – Estado do Ceará – 2001 – 2006

Ano Estado do Ceará Reg. Met. Fortaleza Área não-metropolitana

Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total

2001 4,03 5,64 4,73 6,98 9,96 8,31 2,05 2,59 2,28

2002 4,35 6,01 5,07 7,38 10,37 8,75 2,31 2,58 2,43

2003 4,33 7,02 5,48 7,48 11,59 9,28 2,26 3,78 2,90

2004 4,01 6,83 5,03 6,91 10,42 8,50 2,02 3,21 2,53

2005 4,12 6,12 5,03 7,22 9,56 8,30 1,97 3,53 2,66

2006 4,29 5,52 4,82 7,45 8,45 7,90 2,22 3,30 2,67

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

O comportamento do desemprego segundo a escolaridade apresenta-se como reflexo direto da ocupação. Ele amplia-se até os 10 (dez) anos de estudo, declina um pouco na faixa de 11 a 14 anos, e com 15 anos ou mais há uma queda expressiva, entre homens e mulheres.

Conforme ocorreu na ocupação, os diferenciais de desemprego por gênero também tendem a ser menores na medida em que é mais elevada a escolaridade dos trabalhadores, com mais impacto dentre aqueles com 15 ou mais anos de estudo. Em 2002, essa diferença sai de algo em torno de 1,5, nas faixas de até 10 (dez) anos de estudo, para 1,04 (≥ 15 anos) e, em 2005, a queda é de 1,5 para 0,66, números do estado, ilustrando novamente que a escolaridade vem dando importante contribuição para a redução da marginalidade feminina no mercado de trabalho cearense.

Por fim, o contingente de desempregados do estado cresceu a uma taxa média anual de 3,93%, passando de 256.247 (2001) para 310.782 pessoas em busca de trabalho, em 2006, em outros termos, o total de desempregados no Ceará é acrescido de 10.907 pessoas/ano. Segundo o gênero, enquanto a taxa média anual masculina foi de 3,40%, a feminina chegou a 4,45%, o que fez com que a parcela feminina do desemprego estadual passasse de 50% para 51%, em 2001/2006. Os números demonstram também que enquanto o desemprego masculino amplia-se em 4.674 desempregados/ano, o incremento é 33% maior entre as mulheres, com 6.233 desempregadas/ano.

33

Tabela 14 – Taxa de Desemprego por Gênero, Segundo os Anos de Estudo – Estado do Ceará – 2001 a 2006

Gênero/Anos de estudo

Anos

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Masculino

0 a 3 anos 3,18 3,60 3,10 3,03 3,13 3,28

4 a 7 anos 7,15 6,43 6,78 6,18 7,01 6,71

8 a 10 anos 11,98 10,83 10,71 10,67 11,39 10,74

11 a 14 anos 10,33 9,90 10,93 9,87 9,06 8,36

≥ 15 anos 3,04 3,05 4,18 5,31 3,06 2,53

Feminino

0 a 3 anos 3,81 5,64 5,27 4,87 4,64 4,61

4 a 7 anos 9,57 9,26 9,05 9,26 8,36 7,18

8 a 10 anos 13,99 17,22 19,52 16,18 17,36 16,19

11 a 14 anos 11,17 13,35 13,41 12,35 13,54 11,51

≥ 15 anos 4,28 3,17 3,82 5,96 2,03 5,12

Total

0 a 3 anos 3,41 4,29 3,84 3,68 3,68 3,73

4 a 7 anos 8,17 7,61 7,71 7,47 7,60 6,90

8 a 10 anos 12,91 13,76 14,58 13,10 14,03 13,03

11 a 14 anos 10,80 11,78 12,21 11,16 11,38 9,99

≥ 15 anos 3,75 3,12 3,98 5,73 2,42 4,18

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

Dada a queda do desemprego na RMF, sua fração no desemprego estadual foi reduzida de 67% (2001) para 65% (2006), com 203.451 desempregados, também com uma fatia feminina de 51%, totalizando 104.336 mulheres buscando trabalho, para 99.115 homens, em 2006.

Isso posto, fica constatado que a evolução das mulheres no mercado de trabalho estadual, no transcorrer dos anos 2000, é similar ao ocorrido em nível nacional, na medida em que, entre 1992 e 2005,

as mulheres foram especialmente afetadas pelo desemprego, que entre elas cresceu 126,4%, tendo ficado acima da média nacional em todos os recortes espaciais selecionados. Vale citar que as mulheres também aumentaram a sua presença relativa entre os ocupados – expansão de 47,3% vis-à-vis 22,7% para os homens [...] Segue daí que o maior crescimento do desemprego entre elas é fruto, também, do aumento de sua taxa de participação no mercado. Não obstante a qualificação [...] A taxa de desemprego feminino em 2005 era de 13,6%, quase o dobro dos 7,7% registrados entre os homens. (RAMOS, 2007, p. 29).

Enfim, o desemprego no Ceará passa a declinar no triênio 2004/2006, mais

especificamente na RMF e, apesar de ser mais incidente entre as mulheres, é entre elas que esta queda é mais nítida, principalmente nas mulheres adultas e com mais escolaridade. Outro destaque é que, dado que as mulheres auferem taxas de desemprego mais elevadas, a sua maior escolaridade tem propiciado redução desse patamar perante os homens com mesmo número de anos de estudo.

34

5 ESPECIFICIDADES DO TRABALHO FEMININO

Conforme já explicitado, no Ceará, as mulheres respondem por 42% dos ocupados, totalizando 1.599.583 pessoas, em 2006. No interstício de 2001 a 2006, o perfil etário dessas trabalhadoras não se alterou, em que os dois segmentos mais expressivos referem-se às faixas etárias de 30 a 39 e de 40 a 49 anos, com 45% das mulheres com trabalho. De outro modo, as mulheres que trabalham têm um perfil etário um pouco mais velho do que o dos homens na mesma situação.

Por outro lado, na faixa dos jovens (15 a 24 anos), há relativamente mais homens. Em 2006, estes percentuais foram de 22,60% para a parcela masculina e de 19,57% a feminina, ilustrando que os jovens enfrentam dificuldades de inserção no mercado de trabalho, notadamente as mulheres, e que os homens iniciam mais cedo a busca por trabalho. Ainda com resultados estaduais de 2006, estatísticas adicionais denotam tal fato, posto que enquanto 44,89% dos homens começaram a trabalhar com idade de 10 a 14 anos, chegou-se a 38,07% das mulheres e, para cada 2 (duas) mulheres que começaram a trabalhar com idade na faixa de 10 a 17 anos, há 3 homens.

Na realidade, de modo geral, na análise por gênero, o perfil etário dos ocupados é muito semelhante, observando-se que as mulheres têm maior proporção nas faixas de 30 a 39 e de 40 a 49 anos. Em termos estaduais, foi exatamente nessas duas faixas em que foram geradas mais oportunidades de trabalho no período, ou seja, 67,08% das novas vagas foram ocupadas por mulheres com idade entre 30 e 49 anos, fazendo com que as mulheres jovens tivessem sua presença reduzida no mercado de trabalho estadual, em 2006, em 8,7 mil pessoas.

Complementarmente, a participação daqueles com 50 anos ou mais de idade é algo bem próximo a 19% das mulheres, contra 20% dos homens.

Gráfico 9 – Ocupados, por Gênero, Segundo os Grupos de Idade – Estado do Ceará – 2006 Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

35

Quanto aos anos de estudo, há duas conclusões principais: 1.o nível médio

de escolaridade dos ocupados do estado está mais elevado e 2. as mulheres têm mais escolaridade. Quanto à primeira conclusão, a elevação da escolaridade deu-se em virtude da redução da oferta de postos de trabalho para profissionais com até 3 (três) anos de estudo, em que foram fechados 202 mil postos, equitativamente distribuídos segundo o gênero, fazendo com que a percentagem de homens com esse nível de escolaridade declinasse de 47,82% (2001) para 36,81% (2006) e, entre as mulheres, de 36,56% para 25,82%. Complementarmente, a criação de postos de trabalho no período, em ambos os casos, foi muito concentrada na faixa de 11 a 14 anos de estudo, sendo 221.250 novas ocupações para os homens e 179.261 para as mulheres. Isto fez com que a parcela de trabalhadores com tempo de escola de 11 (onze) anos ou mais passasse de 13,71% (2001) para 22,52% (2006) e, no caso feminino, de 24,08% para 35,47%, o que elevou a escolaridade média da população ocupada cearense.

Gráfico 10 – Oportunidades de Trabalho Gerados, por Gênero, Segundo os Anos de Estudo – Estado do Ceará – 2001 a 2006 Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

Atendo-se à segunda conclusão, esta é ratificada pela constatação de que a

freqüência das mulheres nas duas classes inferiores, até três anos, é inferior a dos homens, ocorrendo o oposto nas três faixas mais elevadas (oito anos ou mais de escola). De fato, números de 2006 ilustram que enquanto 36,81% dos homens ocupados tinham até três anos de estudo, o percentual relativo às mulheres foi bem menor (25,82%), sendo 816.742 homens para 411.058 mulheres, ou seja, a quantidade masculina é duas vezes maior. Na faixa de onze anos ou mais, as participações alteram-se para 22,52% e 35,47%, respectivamente, em 2006, com 499.715 homens e 564.560 mulheres.

36

Portanto, ocorreu uma melhora no nível de instrução dos ocupados,

mesmo porque as novas oportunidades de trabalho concentraram-se nos trabalhadores com tempo de estudo entre 11 e 14 anos, o que elevou substancialmente a participação desse segmento na ocupação total, sendo que as mulheres são, de fato, mais escolarizadas. O problema reside no fato de até que ponto essa escolaridade mais elevada contribui para facilitar a inserção das mulheres no mercado de trabalho e reduzir a precariedade das suas relações de trabalho, tema que é abordado posteriormente. Tabela 15 - População Ocupada, por Gênero, Segundo os Grupos de Anos de Estudo – Estado do Ceará – 2001 - 2006

Anos de estudo 2001 2006

Masculino Feminino Masculino Feminino

Sem instrução; menos de 1 ano 550.700 263.056 467.665 202.504

1 a 3 anos 366.891 249.680 349.077 208.554

4 a 7 anos 512.047 361.288 563.821 386.748

8 a 10 anos 226.257 190.663 338.405 229.723

11 a 14 anos 208.804 266.236 430.054 445.497

15 anos ou mais 54.265 71.452 69.661 119.063

Sem declaração 15.534 19.089 6.640 7.194

Total 1.934.498 1.421.464 2.225.323 1.599.283

Fonte: Dados das PNADs 2001 e 2006.

Fazendo-se uma avaliação da composição dos ocupados por grupos

ocupacionais, segundo o gênero, percebe-se, de início, que a agricultura ainda é um grande gerador de trabalho no estado, provendo ocupação e renda para frações expressivas de homens e mulheres, nas proporções de 36% e 21%, respectivamente, embora, geralmente, não seja um trabalho de qualidade.

Uma percentagem expressiva das mulheres ocupadas é formada por

trabalhadoras dos serviços (26%), bem superior à representação masculina de 11%, significando dizer que, nessa atividade, há 16 mulheres trabalhando para cada 10 homens, tal qual o caso dos profissionais das ciências e das artes. Situação semelhante é encontrada entre os trabalhadores de serviços administrativos, em que há 17 mulheres para cada 10 homens.

Enquanto aproximadamente 27% dos homens trabalham na produção de bens e serviços e na reparação e manutenção, a parcela das mulheres é de apenas 17%, isto é, há 5 mulheres para cada 10 homens trabalhando nesse segmento. Por desenvolverem atividades de produção, pelo menos em parte, estes trabalhadores estão vinculados às indústrias, setor de empregos de melhor qualidade, dado o maior nível de formalização das relações de trabalho.

No outro extremo, referente aos que têm cargo de dirigente, a participação de ambos é baixa, sendo que o percentual masculino supera o feminino, havendo duas vezes mais homens.

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[...] participar da direção e planejamento das empresas ainda é ocupação mais significativa entre os homens do que entre as mulheres. Com freqüência, este tipo de posto de trabalho está relacionado à carreira profissional, que em poucos casos é acessível para as mulheres, pois implica promoções que, muitas vezes, lhe é negada. (DIEESE, 2001, p. 118).

Diante desse quadro, há fortes indícios de que os homens tendem a ocupar

postos de trabalho de mais qualidade, tais como os de direção, planejamento, gerência, etc., e como o posto ocupado traduz um determinado nível de remuneração, com certeza, essa segmentação se reflete na remuneração do trabalho, sendo o acesso a postos de trabalho de mais qualidade, a ocupação mais freqüente de cargos de direção/gerência, uma justificativa para os diferenciais de salário entre homens e mulheres.

Nessa linha de raciocínio, em artigo sobre a inserção da mulher no mercado de trabalho formal brasileiro, com ênfase no saldo de emprego e no salário médio, nos anos de 1996 a 2005, principalmente com as bases de dados do CAGED, Ambrózio (2006, p. 6) conclui que

[...] as mulheres estavam sub-representadas entre as ocupações melhor remuneradas [...] Entretanto, quando se analisam os diferenciais de salário observa-se que o acesso limitado a ocupações mais bem remuneradas explica apenas parcialmente o diferencial de rendimento [...] A conclusão que se chega é que, além do fato de as mulheres terem acesso limitado a cargos de chefia nas firmas, seus salários nesses postos são inferiores.

Além do mais, esta realidade torna-se mais evidente ao se tratar da região

metropolitana, onde o impacto do emprego agrícola é mínimo. O percentual de homens trabalhando na produção de bens e serviços e na reparação e manutenção cresce para 36%, enquanto as mulheres praticamente mantêm os 17%; as trabalhadoras dos serviços passam a contemplar 31% e a fração das trabalhadoras em serviços administrativos cresce para 12%, ao mesmo tempo em que a representatividade das mulheres dirigentes é ampliada para 4%, o que também se processou entre os homens, com uma variação de 3,4% para 5,3%.

Nesse cenário, deve-se salientar que

a situação de segregação das ocupações por sexo está mudando, porém o progresso é lento. Ainda se insiste em esteriótipos do trabalho feminino, como cuidadoras ou trabalhadoras do domicílio. E pode ser que esta situação seja perpetuada até a próxima geração se as oportunidades laborais das mulheres continuarem sendo limitadas, com menores inversões em sua educação, capacitação e experiência. É notável o fato de que estas tendências persistam mesmo quando as mulheres migram. (OIT, 2007b, p. 9, tradução nossa).

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Tabela 16 – População Ocupada por Grupos Ocupacionais do Trabalho Principal, Segundo o Gênero – Estado do Ceará 2002 a 2006

Grupos ocupacionais

Homens Mulheres

2006 2006 2002 2006

(b/a) (%) (%)

Absoluto (a)

(%) (%) Absoluto

(b)

Dirigentes em geral 2,77 3,42 76.179 2,24 2,46 39.375 0,5

Profissionais das ciências e das artes 2,92 2,74 60.920 5,75 6,16 98.449 1,6

Técnico de nível médio 4,76 4,60 102.444 7,19 6,74 107.776 1,1

Trabalhadores de serviços administrativos 3,48 3,81 84.704 7,27 8,31 132.944 1,7

Trabalhadores dos serviços 10,18 11,50 255.911 26,44 26,09 417.179 1,6

Vendedores e prestadores de serviço do comércio 11,13 10,23 227.596 11,95 12,37 197.897 0,9

Trabalhadores agrícolas 36,96 36,29 807.536 21,59 20,91 334.426 0,4

Trabalhadores da prod. de bens e serv. e de reparação e manutenção 27,07 26,63 592.616 17,28 16,91 270.361 0,5

Membros das forças armadas e auxiliares 0,56 0,78 17.417 - 0,04 657 0,0

Ocupações mal definidas ou não declaradas 0,17 - - 0,29 0,01 219 -

Total 100,00 100,00 2.225.323 100,00 100,00 1.599.283 0,7

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2002 e 2006.

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5.1 Formas de Inserção e Precarização no Mercado de Trabalho Feminino

Nas sociedades capitalistas, há diferenças importantes no trabalho – suas condições, remuneração, organização do processo, entre outros – de acordo com o que se chama de posição na ocupação. Ser empregado, empregador ou trabalhador por conta-própria, fazer trabalho familiar, ser ou não remunerado, fazer trabalho doméstico, entre outras posições na ocupação, pode significar inserções sociais e modos de vida bastante diferenciados. (DIEESE, 2001, p. 179).

A respeito dessa temática, Abramo (2003, p. 20) destaca que

a distribuição ocupacional de homens e mulheres, negros e brancos, é muito diferenciada no mercado de trabalho brasileiro, indicando a persistência e a reprodução de uma acentuada segmentação ocupacional de gênero e raça. Essa segmentação, por sua vez, é uma das expressões mais claras de poderosos mecanismos de discriminação, já que está claramente relacionada, mais que a atributos técnicos ou de escolarização dos indivíduos que conformam a força de trabalho, a construções culturais e sociais que atribuem “lugares” e valores diferenciados (e hierarquicamente definidos) ao trabalho realizado por homens e mulheres, negros e brancos.

Assim sendo, a partir da análise das posições na ocupação ou categorias

ocupacionais exercidas por homens e mulheres, pode-se avaliar as formas de inserção destes no mercado de trabalho e se aferir o nível de precariedade dessa inserção e, nesse aspecto, é notório que a força de trabalho feminina se insere no mercado de trabalho de forma mais precária, quando do paralelo com os homens, segundo diversos estudos já realizados. No intuito de se averiguar essa assertiva, no caso do Estado do Ceará, elegeram-se alguns indicadores referentes às categorias ocupacionais, as quais expressam algumas das diversas formas de inserção no mercado de trabalho. Consideraram-se as seguintes proporções de trabalhadores na ocupação total: 1. empregados, exceto o emprego doméstico; 2. empregados com carteira assinada; 3. trabalhadores domésticos; 4. trabalhadores que ganham até um salário-mínimo; 5.trabalhadores na produção para consumo próprio; 6.empregadores e 7.trabalhadores não remunerados.

Para fins analíticos, convencionou-se subdividir tais indicadores em dois grupos, qualificados de positivos e negativos, por auferirem mais ou menos qualidade aos postos de trabalho. Assim, foram considerados como positivos os indicadores de empregados, exceto o emprego doméstico, empregados com carteira assinada e empregadores. Os demais se enquadram no conjunto dos indicadores negativos.

Dessa forma, fica por demais clara a constatação de que as condições de inserção das mulheres no mundo laboral são, de fato, mais precárias, mais fragilizadas, marcadas por expressivos níveis de informalidade, posto que, analisando as participações femininas no conjunto dos indicadores positivos, elas são sempre inferiores às masculinas em todos eles, ocorrendo o oposto com os indicadores negativos, ou seja, quando se trata de formas de inserção que agregam qualidade aos postos de trabalho, como o nível de assalariamento ou a posse da carteira assinada, a

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parcela masculina supera a feminina. Nos casos em que a forma de inserção exterioriza algum tipo de precariedade, a fração das mulheres é maior, conforme ilustram os números a seguir.

Exemplificando, enquanto mais da metade dos homens trabalha como empregados, a fração feminina é de quase 38%; se 15% das mulheres trabalham como empregados domésticos, entre os homens, tem-se o percentual de 1%, na produção para consumo próprio, são 3,20 % dos homens para 9,65% das mulheres e, dentre os não-remunerados, são quase 10% de homens para mais de 13% de mulheres.

Tabela 17 – Indicadores de Precarização do Mercado de Trabalho, por Gênero – Estado do Ceará – 2001/2006

Categorias ocupacionais 2001 2006

Homem Mulher Homem Mulher

Empregados, exceto emprego doméstico 48,63% 34,75% 50,32% 37,87%

Empregados com carteira assinada 17,70% 15,21% 19,80% 17,22%

Trabalhadores domésticos 1,23% 15,69% 1,17% 15,12%

Trabalhadores ganhando até um salário 43,17% 47,84% 51,09% 52,31%

Produção para consumo próprio 2,61% 12,32% 3,20% 9,65%

Empregadores 4,34% 1,34% 4,64% 1,59%

Não remunerados 9,94% 12,20% 9,46% 13,30%

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 e 2006.

Não se deve esquecer que a expressiva parcela de mulheres exercendo

trabalhos domésticos, por conta-própria e não-remuneradas propicia uma boa idéia da dimensão do patamar de informalidade reinante no mercado de trabalho feminino, em que elas não têm acesso a diversos direitos sociais (carteira assinada, licença maternidade, acesso à creche etc.), dificultando tanto a sua permanência no mundo laboral quanto prover melhores condições de vida para seus familiares, notadamente quando a mulher é a maior responsável pelo domicílio.

Números da PNAD/2006, para o Ceará, mostram que há 440.581 homens empregados com carteira assinada para 275.446 mulheres; como trabalhadores domésticos foram estimados 26.075 homens para 241.762 mulheres, ou seja, o trabalho doméstico no estado ainda é predominantemente feminino; há 103.239 empregadores para apenas 25.399 empregadoras e, dentre os trabalhadores para o próprio consumo, são 71.159 homens para 154.399 mulheres.

Quanto ao trabalho doméstico, categoria que mais claramente expressa a discriminação no trabalho, em 2006, no Ceará, foi estimado um total de 267.837 profissionais, dentre homens e mulheres, sendo que apenas 8% tinham carteira assinada (22.069 pessoas), situação que é amenizada um pouco na RMF, dada a elevação desse percentual para 13,64%, com 18.593 pessoas, mas ainda é uma realidade muito aquém da observada na média mundial, na casa dos 25%, segundo a OIT.

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Observar que

[...] nem sempre a posse da carteira indica claramente emprego formal que, além de abranger uma relação de trabalho com formalização contratual, deve envolver um empregador com organização empresarial. Dessa forma, a empregada doméstica com carteira de trabalho a rigor não faz parte do emprego formal [...] (LEONE, 1996, p. 164).

Apesar de tão numeroso, o trabalho doméstico mantém-se como uma das ocupações mais marcadas pela precariedade dos vínculos e pelo não cumprimento da legislação do trabalho. (OIT, 2007a).

Mesmo assim,

para as mulheres, esta tem sido uma ocupação relevante, muitas vezes servindo como porta de entrada no mercado de trabalho para as jovens e mesmo para as de maior idade, que nele ingressam pela primeira vez ou que retornam após períodos de inatividade. (OIT, 2007a).

Verificar também que não é desprezível a proporção de mulheres que trabalham por conta-própria no estado, na casa dos 23%, demonstrando uma tentativa de conciliação da atividade econômica com as responsabilidades domésticas, notadamente no caso de existência de filhos. No outro extremo, tem-se a também significativa parcela das que são empregadas, quase 38%, situação em que essa conciliação se apresenta com maiores dificuldades ou até mesmo inexiste, dificultando sobremaneira a vida familiar.

Tabela 18 - População Ocupada, por Posição na Ocupação e Categoria do Emprego no Trabalho Principal, Segundo o Gênero – Estado do Ceará – 2001/2006

Posição na ocupação e categoria do emprego no trabalho principal

Ano / Gênero

2001 2006

Total Masculino Feminino Total Masculino Feminino

Total 3.355.962 1.934.498 1.421.464 3.824.606 2.225.323 1.599.283

Empregados 1.434.702 940.765 493.937 1.725.402 1.119.735 605.667

Com carteira de trabalho assinada 558.578 342.317 216.261 716.027 440.581 275.446

Militares e funcionários públicos estatutários

134.686 54.659 80.027 183.529 77.224 106.305

Sem carteira de trabalho assinada 741.438 543.789 197.649 825.846 601.930 223.916

Trabalhadores domésticos 246.852 23.789 223.063 267.837 26.075 241.762

Com carteira de trabalho assinada 18.560 6.700 11.860 22.069 4.452 17.617

Sem carteira de trabalho assinada 228.292 17.089 211.203 245.768 21.623 224.145

Conta própria 971.070 634.856 336.214 1.050.792 691.721 359.071

Empregadores 103.023 84.013 19.010 128.638 103.239 25.399

Trabalhadores na produção para o próprio consumo

225.610 50.446 175.164 225.558 71.159 154.399

Trabalhadores na construção para o próprio uso

8.628 7.914 714 3.138 2.919 219

Não-remunerados 365.577 192.215 173.362 423.241 210.475 212.766

Fonte: Dados das PNADs 2001 e 2006.

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Quanto ao número de postos de trabalho que surgiram nos anos de 2001 a 2006, no Estado do Ceará, tem-se que foram gerados 98.264 empregos com carteira assinada para os homens e 59.185 para as mulheres; os números do emprego sem carteira são 58.141 e 26.267, respectivamente; quanto ao emprego doméstico, foram 2.286 vagas para homens e 18.699 para as mulheres; como não-remunerados, 18.260 para os homens e 39.404 novas vagas para as mulheres e, no caso dos empregadores, as oportunidades para os homens (19.226) superam em mais de três vezes as mulheres (6.389), etc., números que enfatizam as formas precárias de trabalho de expressiva parcela das mulheres.

Poder-se-ia adicionar outra variável à análise que reforçaria esse contexto de precariedade mais expressivo entre as mulheres, qual seja, o tempo de permanência no trabalho principal. No Ceará, verifica-se que em todas as faixas relativas aos menores intervalos de tempo (até quatro anos), o peso relativo das mulheres ocupadas supera o dos homens, ocorrendo o contrário nos intervalos superiores. Isto fez com que a relação número de mulheres/número de homens, nas diversas faixas, mostrasse-se decrescente continuamente, à medida que se passa dos menores para os maiores intervalos. Em 2006, por exemplo, ela varia de 0,86 (6 a 11 meses) para 0,89 (1 ano), chegando a 0,64 no tempo de permanência de 10 anos ou mais, sendo, nesse caso, 772.354 homens para 496.098 mulheres.

Em 2006, se 27,13% dos homens ocupados estavam na faixa de até 1 (um) ano no trabalho, essa mesma faixa arrolava 31% das mulheres, sendo que, com 5 (cinco) anos ou mais, registraram-se 52% dos homens e 47% das mulheres, valores muito semelhantes aos de 2001.

Chega-se à conclusão de que as mulheres são submetidas a um tempo médio de permanência no trabalho inferior ao dos homens, o que dificulta seu crescimento profissional na empresa e o acesso a promoções e à qualificação profissional, por exemplo, impossibilitando alcançar cargos mais importantes, o que se reflete na remuneração do seu trabalho. Para maiores detalhes, vide Gráfico 11 a seguir.

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Gráfico 11 – Ocupados, por Gênero, Segundo o Tempo de Permanência no Trabalho Principal – Estado do Ceará – 2001 a 2006 Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 e 2006.

Tabela 19 - Ocupados, por Gênero, Segundo o Tempo de Permanência no Trabalho Principal – Estado do Ceará – 2001/2006

Tempo de permanência

Ano/Gênero

2001 2006

Masculino Feminino Masculino Feminino

Até 5 meses 268.663 183.020 270.627 199.191

6 a 11 meses 128.529 106.434 121.320 104.202

1 ano 158.958 163.156 211.827 189.410

2 a 4 anos 392.613 305.414 470.612 352.971

5 a 9 anos 328.042 226.123 378.583 257.411

10 anos ou mais 657.480 437.317 772.354 496.098

Sem declaração 213 - - -

Total 1.934.498 1.421.464 2.225.323 1.599.283

Fonte: Dados das PNADs 2001 e 2006.

Especificamente no caso de Fortaleza, segundo a pesquisa do SINE/IDT,

investigando o tipo de contrato de trabalho, percebe-se que a proporção de mulheres ocupadas com contrato de trabalho em tempo parcial é praticamente duas vezes maior. Ela passou de 10,69% (2001) para 14,01% (2006), enquanto os percentuais masculinos foram de 6,58% e 7,90%, respectivamente e, setorialmente falando, as maiores parcelas de mulheres com contrato em tempo parcial foram constatadas no setor de serviços: 12,99% (2001) e 17,15% (2006). Tais resultados são indicativos de que a força de trabalho feminina depara-se mais frequentemente com formas precárias de trabalho e estas parecem ser mais corriqueiras nos serviços.

Apesar dessa realidade, e dado o curto período de tempo desse estudo, constataram-se algumas melhoras residuais na qualidade do trabalho obtido pelas mulheres nesse período, acompanhando a maior oferta de empregos formais no

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estado, posto que: elevou-se o nível de assalariamento, de 34,75% para 37,88% da ocupação feminina, e a fração de mulheres contribuintes para a previdência social, de 25,86% para 29,58%, puxado pela maior proporção de empregadas com carteira assinada, que variou de 15,21% para 17,23% do total de ocupadas, e de estatutárias, de 5,63% para 6,65%; houve uma pequena redução do emprego doméstico, de 15,69% para 15,12%, com uma menor fração dos empregados domésticos sem carteira; caiu também o trabalho por conta-própria, de 23,65% para 22,45% e para o consumo próprio, de 12,32% para 9,65%. Por outro lado, a participação das mulheres não-remuneradas se ampliou de 12,20% (2001) para 13,30% (2006).

Isto posto, deve-se ter em mente que

um dos resultados esperados do desenvolvimento econômico é que as pessoas passem de trabalhadores familiares auxiliares ou por conta-própria para o trabalho remunerado e assalariado. O ideal seria que as mulheres se beneficiassem dessa tendência na mesma medida que os homens. (OIT, 2007b, p. 11, tradução nossa).

Em síntese, as formas mais comuns de inserção das mulheres no mercado

de trabalho cearense são: empregada (37,88%), conta-própria (22,45%), trabalhador doméstico (15,12%), não remunerada (13,30%) e trabalhador para consumo próprio (9,65%), sendo estes números de 2006, conformando estratégias de obtenção de trabalho majoritariamente caracterizadas por condições de trabalho mais precárias, mais vulneráveis, com níveis de informalidade mais elevados e, consequentemente, com menores remunerações, apesar de algumas melhoras ocorridas nos últimos anos.

Visando reforçar as argumentações do módulo anterior, breves considerações sobre a composição setorial da ocupação feminina são feitas. Ao se analisar a composição dos ocupados, por gênero, segundo os setores de atividade, é notória a importância do setor de serviços quanto à absorção da mão-de-obra no Ceará, notadamente a feminina. Em 2002, 54,95% das mulheres ocupadas trabalhavam nesse setor, fração que foi ampliada para 56,15%, em 2006, ou seja, mais da metade das mulheres com trabalho desenvolve suas atividades no setor de serviços. Quanto aos homens, essa parcela é bem menor, na casa dos 36%.

Outro aspecto que qualifica os serviços como o maior empregador, principalmente da mão-de-obra feminina, é que, nos anos de 2002 a 2006, foram geradas 206.418 novas oportunidades de trabalho para as mulheres, das quais 132.605 nos serviços, o equivalente a nada menos do que 64,24% das novas vagas.

Ainda com referência à ocupação feminina, alguns ramos dos serviços devem ser destacados, tais como: comércio e reparação, com uma participação de quase 15% do total de ocupadas e a criação de 49.426 vagas para mulheres no citado período; educação e saúde, com uma parcela de 13,12%; serviços domésticos, também com 15%, gerando nada menos do que 38.613 postos de trabalho para elas. O ramo de alojamento e alimentação merece citação, não pela sua participação, que é de apenas 4,33%, mas pelo fato de ter gerado 19.530 vagas para estas, entre 2002 e 2006, no estado.

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Ademais, nos ramos de alojamento e alimentação, educação e saúde, serviços domésticos e outros serviços, a freqüência relativa das mulheres supera a dos homens, ratificando afirmação anterior da importância do setor de serviços como maior empregador da força de trabalho feminina.

Mesmo considerando a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho e alguns outros avanços, tais constatações não deixam dúvidas de que a sua inserção no mundo laboral ainda se dá de forma muito segmentada, com uma participação mais expressiva nos ramos de atividade associados às ocupações tradicionalmente consideradas femininas, tais como: alojamento e alimentação, educação e saúde, serviços domésticos, as quais geralmente auferem menores remunerações.

Gráfico 12 – População Ocupada por Gênero, Segundo o Setor de Atividade – Estado do Ceará – 2002 a 2006. Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2002 e 2006.

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Tabela 20 - População Ocupada, por Gênero, Segundo os Agrupamentos de Atividades do Trabalho Principal – Ceará – 2002 / 2006

Grupamento de atividade do trabalho principal

Ano / Gênero

2002(1)

2006

Total Masculino Feminino Total Masculino Feminino

Total 3.371.813 1.978.948 1.392.865 3.824.606 2.225.323 1.599.283

Agrícola 1.036.596 731.911 304.685 1.149.669 814.966 334.703 Indústria 492.496 219.952 272.544 571.589 261.350 310.329

Indústria de Transformação 473.539 204.003 269.536 552.299 244.526 307.773

Construção 206.154 200.304 5.850 215.101 210.885 4.216

Comércio e reparação 542.841 355.893 186.948 631.640 395.266 236.374

Alojamento e alimentação 106.761 57.088 49.673 143.398 74.195 69.203

Transporte, armazenagem e comunicação 111.974 100.985 10.989 110.934 101.848 9.086

Administração pública 124.786 73.417 51.369 141.100 86.607 54.493

Educação, saúde e serviços sociais 267.060 62.355 204.705 270.530 60.708 209.822

Serviços domésticos 221.936 18.787 203.149 267.837 26.075 241.762

Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 108.395 49.842 58.553 146.587 69.336 77.251

Outras atividades 145.247 102.404 42.843 171.489 119.574 51.915

Atividades mal definidas ou não-declaradas 7.567 6.010 1.557 4.732 4.513 218

Fonte: Dados das PNADs de 2002 e 2006 Nota: Utilizaram-se as informações referentes a 2002 porque os grupos de atividades do trabalho principal de 2001 estavam incompatíveis com os de 2006.

Em segundo lugar, agricultura e indústria estão muito próximas, com

frações entre 20% e 21% da ocupação feminina, havendo uma ligeira superioridade do setor agrícola. Se na agricultura foram quantificadas 30.018 vagas para as mulheres, na indústria, foram 36.061, em 2002/2006.

Quanto às mulheres que trabalham na agricultura, em termos mundiais, a OIT destaca que elas, no geral, ainda constituem um grupo marginalizado, carecem de educação, poder decisório, direitos trabalhistas, têm mais dificuldades de obter boas terras e de acesso ao crédito e aos mercados. Além do mais, um dos seus principais problemas é o fato de que

as guerras, a migração laboral dos homens em busca de trabalhos assalariados e o aumento de mortes em conseqüência de doenças sexualmente transmissíveis têm causado uma elevação no número de mulheres chefes de domicílios, em particular nas zonas rurais do mundo em desenvolvimento. Isto aumenta ainda mais suas responsabilidades. (OIT, 2007b, p. 8, tradução nossa).

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6 A REMUNERAÇÃO DO TRABALHO FEMININO

O mercado de trabalho brasileiro, em particular o cearense, apresenta

inúmeros indícios do grau de discriminação de gênero existente nesse mercado, notadamente no que concerne às formas de inserção, tais como: o emprego doméstico, assalariamento sem carteira assinada, menor tempo de permanência no trabalho, acesso a cargos de gerencia etc., todas com reflexos diretos sobre o nível de remuneração do trabalho feminino, conforme já explicitado anteriormente. Assim sendo, a remuneração auferida pelas mulheres se constitui em um instrumento bastante eficaz para se constatar e avaliar o nível de segmentação no mundo laboral, entre homens e mulheres.

Isto posto, dado que o tema rendimento do trabalho é uma questão de suma importância nas discussões sobre a discriminação no mundo do trabalho, dedica-se um módulo específico para tratar do tema. Assim, analisa-se a seguir o perfil de remuneração do trabalho feminino. Para tanto, utilizam-se informações da PNAD, para a análise estadual, e da pesquisa Desemprego e Subemprego, realizada pelo SINE/ Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), para detalhar essa realidade no município de Fortaleza, atendo-se ao trabalho principal.

Em nível de Estado do Ceará, considerando-se os rendimentos de todos os trabalhos, verifica-se que essa distribuição é muito concentrada nas duas faixas da base da pirâmide dos rendimentos, principalmente entre as mulheres, visto que nelas estão inseridos 59,20% dos homens e 68,52% das mulheres, em 2006. Além do mais, considerando somente os trabalhadores com alguma remuneração declarada, constata-se que havia 16 homens percebendo, no máximo, 1 (um) salário-mínimo (SM) para cada homem ganhando mais de 10 (dez) salários em 2001. Em 2006, essa relação passou para 36, com um incremento de 125%. Quanto à força de trabalho feminina, tais números foram de 37, em 2001, e 90, em 2006, respectivamente, com ampliação de 143%, demonstrando que a distribuição da remuneração das mulheres realmente é mais concentrada nas faixas inferiores, propiciando uma concentração 2,5 vezes maior.

Destaque-se que, independente de gênero, essa concentração agravou-se entre 2001 e 2006, possivelmente em função dos aumentos reais do salário-mínimo e do surgimento de um maior número de empregos com remunerações próximas de 1 SM. Se em 2001, 50,93% dos homens e 64,47% das mulheres percebiam até 1 SM, chega-se a 2006 com percentuais de 59,20% e 68,52%, respectivamente, conforme já citado.

Quanto ao segundo aspecto, matéria do jornal O Estado de São Paulo, intitulada Novo emprego paga salário-mínimo, de dez/2006, destaca que o Brasil está se tornando o país do salário-mínimo. (NOVO..., 2006). Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) revelam que praticamente todos os empregos formais criados nesse ano têm remuneração de até 1,5 salário-mínimo. Entre janeiro e outubro, 1,5 milhão de postos de trabalho com carteira assinada foram abertos. Destes, 1,4 milhão não paga mais que R$ 525,00, correspondendo a 96% das vagas abertas. No mesmo período de 2005, a proporção era de 79%.” No Ceará, a situação é

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bastante similar, mesmo porque, segundo a mesma fonte, das 267.041 admissões ocorridas no mercado de trabalho formal do estado, em 2006, 133.897, ou seja, exatos 50%, tinham remuneração no interstício de 1,01 a 1,50 salário-mínimo. Complementarmente, do saldo de 33.561 empregos gerados nesse ano, 31.324 estavam na faixa de 0,51 a 1,00 salário, nada menos do que 93% de todos os empregos gerados no estado, em 2006.

No paralelo entre homens e mulheres, se elas têm uma maior participação relativa nas duas faixas inferiores, em todas as demais - acima de 1 SM, a presença masculina supera a feminina, propiciando uma remuneração média mensal de todos os trabalhos para os homens acima da remuneração das mulheres. Por exemplo, na faixa de mais de 5 (cinco) salários, depara-se com 5,01% dos homens e 3,63% das mulheres.

Gráfico 13 – Distribuição dos Ocupados, por Gênero, Segundo as Faixas de Rendimento Mensal de Todos os Trabalhos (Em SM) – Estado do Ceará - 2006 Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

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Tabela 21 - Ocupados, por Gênero, Segundo as Classes de Rendimento Mensal de Todos os Trabalhos – Estado do Ceará – 2001/ 2006

Anos de estudo 2001 2006

Masculino Feminino Masculino Feminino

Até ½ salário mínimo 348.869 356.329 485.060 433.260

Mais de ½ a 1 salário 486.329 323.737 651.836 403.389

Mais de 1 a 2 salários 438.389 218.081 484.351 232.854

Mais de 2 a 3 salários 140.027 59.468 119.075 60.536

Mais de 3 a 5 salários 108.182 45.448 83.919 46.636

Mais de 5 a 10 salários 65.364 33.500 64.633 35.050

Mais de 10 a 20 salários 37.284 13.642 22.065 7.933

Mais de 20 salários 15.483 4.545 9.482 1.314

Sem rendimento 266.078 360.656 286.541 369.367

Sem declaração 28.493 6.058 18.361 8.944

Total 1.934.498 1.421.464 2.225.323 1.599.283

Fonte: Dados das PNADs 2001 e 2006.

Assim, considerando somente aqueles com rendimento, tanto de um como

de dois ou mais trabalhos, o valor do rendimento médio mensal dos homens evoluiu de R$ 379,00 (2001) para R$ 549,00 (2006), enquanto o das mulheres variou de R$ 265,00 para R$ 428,00, demonstrando que a relação rendimento feminino/rendimento masculino passou de 0,70 para 0,78, significando dizer que o nível de remuneração do trabalho feminino no Ceará é normalmente inferior ao do masculino, aproximadamente 20% menor, e que houve uma redução no diferencial de remuneração média para as mulheres.

No conjunto dos ocupados com um só trabalho, essa relação passou de 0,69 para 0,76 e, dentre aqueles com dois ou mais trabalhos, de 0,86 para 0,87, não havendo redução nesse caso. Em outras palavras, dentre aqueles com um só trabalho, a remuneração média feminina é 24% inferior, e, no caso de dois ou mais trabalhos, essa disparidade chega a 13%, em 2006. No geral, há uma tendência de queda dessa desigualdade, a qual, associada a taxas de participação feminina mais significativas, aproximando-as das taxas masculinas, em virtude da maior presença feminina tanto na ocupação quanto no desemprego, reforça o processo de consolidação da presença da mulher no mercado de trabalho estadual.

Segundo a pesquisa Desemprego e Subemprego (SINE/IDT), o perfil de remuneração do trabalho feminino na capital Fortaleza é também por demais concentrado, em torno do salário-mínimo. Considerando as faixas de ½ a 1 e de mais de 1 a 2 salários, encontram-se 63,41% da população ocupada feminina, em 2001, parcela que foi ampliada para 65,91%, em 2006, com a crescente presença de mulheres com remuneração no intervalo de ½ a 1 SM, que passou de 29,94% para 41,22%. Observar que as sem remuneração foram incluídas nessa distribuição, integrando a população ocupada feminina.

Se a remuneração média nominal do trabalho masculino variou de R$

425,52 para R$ 502,81, entre 2001 e 2006, em Fortaleza, a oscilação feminina foi de R$ 291,22 para R$ 366,13, de onde se conclui que, em 2001, a remuneração média das

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mulheres equivalia a 68% da remuneração masculina, chegando a 73%, em 2006, apresentando uma discreta redução no hiato de remuneração por gênero, tal qual verificado para o estado.

Na categoria dos assalariados, a situação apresenta-se um pouco melhor, posto que tais diferenciais são menores, flutuando de 73% para 81%, números similares aos da remuneração média calculada por hora trabalhada, de 75% e 80%, pois a remuneração média por hora trabalhada dos homens passou de R$ 9,60 (2001) para R$ 11,55 (2006) e a das mulheres, de R$ 7,22 para R$ 9,24, já excluída a influência das diferentes jornadas de trabalho sobre o nível de remuneração. Verifica-se, portanto, uma vez mais, redução da desigualdade da remuneração por gênero, em ambos os casos, com a indicação de que, quando a mulher se insere no mercado de trabalho como assalariada, a desigualdade de remuneração, segundo o gênero, tende a ser menor, conforme as considerações do próximo parágrafo.

Tabela 22 - Rendimento Médio Nominal do Trabalho Principal, Segundo o Gênero – Fortaleza –2001 a 2006

Segmentos/Gênero Ano

2001 2006

Total de ocupados

Homem R$ 425,52 R$ 502,81

Mulher R$ 291,22 R$ 366,13

Total de assalariados

Homem R$ 407,28 R$ 502,81

Mulher R$ 296,99 R$ 406,98

Média por hora trabalhada

Homem R$ 9,60 R$ 11,55

Mulher R$ 7,22 R$ 9,24

Fonte: Dados Extraídos da Pesquisa Desemprego e Subemprego do SINE/IDT.

Um outro indicativo do baixo nível de remuneração das mulheres é a

constatação de que, nos últimos anos, apesar dos baixos salários ofertados pelas empresas, de pouco mais de 1 salário-mínimo, na sua maioria, a remuneração média das mulheres assalariadas (emprego público, doméstico e privado) supera a média da população ocupada feminina como um todo, o que não se processa entre os homens. Isto também demonstra que a forma de inserção mantém forte correlação com o nível de remuneração do trabalho. Em 2006, enquanto a remuneração média das assalariadas foi de R$ 406,98, a do conjunto das ocupadas chegou a R$ 366,13, ou seja, 11% a mais.

Houve avanços no valor da remuneração no citado período, no mercado de trabalho de Fortaleza, independente de gênero, faixa etária, instrução, categoria ocupacional ou tipo de contrato de trabalho, além da constatação óbvia de que a remuneração do trabalho eleva-se com o tempo de escola, para homens e mulheres. O rendimento médio do trabalho dobra ao se passar do nível médio de instrução para o superior, independente de gênero, fato constatado tanto em 2001 quanto em 2006.

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Por outro lado, na capital cearense, parece que a melhoria na escolaridade das mulheres não reduz suas perdas salariais diante dos homens, dado que a remuneração média feminina permaneceu em torno de 67%, em todos os níveis de instrução, em 2006. Para os analfabetos/alfabetizados, a remuneração média masculina foi de R$ 339,45 para R$ 224,37, das mulheres, enquanto para aqueles com instrução superior, tem-se R$ 1.080,29 e R$ 728,94, respectivamente.

Tabela 23 - Rendimento Médio Nominal do Trabalho Principal, por Gênero, Segundo a Idade e a Escolaridade – Fortaleza – 2001/2006 (Em R$)

Variáveis

Ano/Gênero

2001 2006

Masculino Feminino Masculino Feminino

Nível de Instrução

Analfabeto/alfabetizado 255,57 174,07 339,45 224,37

Ensino fundamental 326,84 202,95 419,59 275,29

Ensino médio 474,75 307,76 530,06 372,15

Ensino superior 1.008,34 589,66 1.080,29 728,94

Idade

15 a 24 anos 249,18 205,16 330,87 281,70

25 anos e mais 480,65 319,23 556,21 390,73

Fonte: Dados Extraídos da Pesquisa Desemprego e Subemprego do SINE/IDT. Fazendo-se uma subdivisão dos ocupados, por gênero, em jovens (15 a 24

anos) e adultos (25 anos e mais), chega-se, uma vez mais, à conclusão de que, em ambos os casos, as mulheres ganham menos, mas o fato positivo é que sua perda é menor entre os jovens, significando dizer que, com o passar do tempo, essa diferença de remuneração do trabalho de homens e mulheres parece estar perdendo força, reduzindo a desigualdade. Se entre os jovens, a remuneração média das mulheres equivalia a 82% da média masculina, em 2001, foi estimada uma proporção de 85%, em 2006, enquanto entre os adultos, foram quantificados os valores de 66% e 70%, demonstrando que se entre os adultos a diferença de remuneração por gênero chegou a 30%, em 2006, estima-se que entre os jovens se tenha algo em torno de 15%, o que é uma redução substancial em favor das mulheres mais jovens.

A análise feita por Leme e Wajnman, na perspectiva de coortes, confirma a tendência de aproximação dos rendimentos do trabalho das mulheres e dos homens ao mostrar que o diferencial tende a ser menor para as coortes mais jovens e mais elevado para as coortes mais adultas. (HOFFMANN; LEONE, 2004, p. 31).

Conforme já citado no início desse tópico, a mensuração do rendimento

auferido pelas mulheres trabalhadoras, paralelamente aos homens, é uma estratégia importante para se verificar as desigualdades de gênero existentes no mercado de trabalho, a partir do qual se avaliam os efeitos da discriminação sobre os indivíduos, decorrentes de sua forma de inserção na sociedade. Por falar em formas de inserção, aborda-se a remuneração do trabalho, por gênero, segundo as categorias ocupacionais, as quais se constituem em diferentes formas de acesso ao mercado de trabalho.

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Inicialmente, independente de categoria ocupacional, houve incremento no rendimento médio nominal do trabalho principal em Fortaleza, em 2001/2006, para homens e mulheres, mas, em qualquer categoria, o rendimento médio feminino é inferior ao dos homens, incluso o emprego doméstico, uma atividade eminentemente feminina. Apesar das melhorias no rendimento médio mensal do trabalho de homens e mulheres e da redução das desigualdades remuneratórias, como se mostra a seguir, as diferenças ainda se fazem presentes qualquer que seja a estratégia de acesso ao mercado de trabalho.

Hierarquizando as categorias segundo o patamar de remuneração,

destacam-se os empregados domésticos, em primeiro lugar, e os autônomos, em segundo, dentre aquelas com menor remuneração, quer entre homens ou mulheres. O fato é que a diferença de remuneração entre os autônomos, por gênero, é maior, chegando à casa dos 38%, observada nos anos de 2001 e 2006, isto é, se a remuneração dos autônomos está entre as mais baixas, essa realidade é mais séria entre as mulheres, por ganharem bem menos que os homens que trabalham por conta-própria. No emprego doméstico, houve ligeira ampliação dessa diferença, de 22% (2001) para 26% (2006).

Ainda abordando o emprego doméstico, com 15% das mulheres ocupadas da capital, deve-se salientar que a remuneração média passou de R$ 161,59 (2001) para R$ 252,57 (2006) e, posto que, no universo das mulheres trabalhadoras, a variação foi de R$ 291,22 (2001) para R$ 366,13 (2006), como já citado, isto demonstra uma pequena melhora na remuneração do trabalho doméstico, pois este passou a equivaler a 69% da média feminina, em 2006, contra apenas 55%, em 2001, o que demonstra o óbvio já conhecido por todos, de que, se o trabalho feminino é sub-remunerado, menos ainda percebem as empregadas domésticas.

Mesmo para os profissionais liberais de Fortaleza, apesar da instrução

superior, as diferenças no rendimento médio também foram ampliadas. A remuneração média masculina variou de R$ 1.394,42 (2001) para R$ 2.145,35 e a feminina, de R$ 1.217,39 para R$ 1.588,23, fazendo com que o diferencial duplicasse de 13% para 26%.

Essas diferenças só foram realmente reduzidas em duas categorias:

empregado público e empregado particular (setor privado). No primeiro caso, o diferencial de remuneração ficou em 20% e, no segundo, em 12%, em 2006.

Por último, os tipos de contrato de trabalho podem ser hierarquizados em

trabalho temporário, trabalho em tempo parcial e em tempo integral, segundo uma ordem crescente de remuneração, o que independe de gênero. Uma vez mais, são verificados incrementos nominais da remuneração média mensal do trabalho principal em todos os tipos de contrato, independente de terem sido firmados por homens ou mulheres, e em todos eles, as menores remunerações ficam com as mulheres.

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Tabela 24 - Rendimento Médio Nominal do Trabalho Principal, por Gênero, Segundo a Categoria Ocupacional e o Tipo de Contrato – Fortaleza – 2001/2006 (Em R$)

Variáveis

Ano/Gênero

2001 2006

Homem Mulher Homem Mulher

Categoria ocupacional

Emp. público 743,44 554,42 999,86 800,54

Emp. doméstico 207,65 161,59 343,15 252,57

Emp. particular 362,76 280,42 455,33 398,82

Prof. liberal 1.394,42 1.217,39 2.145,35 1.588,23

Autônomo 419,58 259,22 445,20 275,91

Empregador 1.213,37 835,32 1.574,05 995,31

Tipo de contrato

Temporário 328,03 224,33 425,09 383,84

Parcial 373,54 263,27 471,86 352,43

Integral 413,96 303,75 509,58 419,91

Fonte: Dados Extraídos da Pesquisa Desemprego e Subemprego do SINE/IDT.

Portanto, a realidade de inferioridade das mulheres cearenses e,

particularmente, de Fortaleza, no que concerne à remuneração do trabalho, dada notadamente a sua inserção mais intensa em postos de trabalhos com maior grau de vulnerabilidade, se por um lado é fato concreto no Ceará, conforme ratificado pelas estatísticas apresentadas, por outro não é um privilégio da trabalhadora cearense. Muito pelo contrário, patamares salariais distintos, para profissionais com o mesmo perfil, envolvendo questões de gênero, são uma constante em diversas regiões metropolitanas do país, conforme já atestaram inúmeros estudos, independente de sua abrangência geográfica.

Enfim, oportuno lembrar que a Constituição Federal, no artigo 7º, inciso XXX, cita que são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. (BRASIL, 1988).

Também a Consolidação das Leis do Trabalho, no seu artigo 461 (caput), destaca que, sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade. (CARRIOU, 2005).

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7 CONCLUSÃO

A mudança na política cambial brasileira ocorrida em 1999, com a

desvalorização do Real, e a evolução favorável da economia mundial a partir de 2003, refletiu-se positivamente no mercado de trabalho nacional. Ao longo dos anos 2000, presenciou-se uma recuperação do emprego formal, notadamente no triênio 2004/2006, inclusive com os salários apresentando ganhos reais, mas esse crescimento da oferta de empregos com carteira assinada não propiciou maiores alterações nos macroindicadores do mercado de trabalho, inclusive com reduções ínfimas no desemprego e na informalidade.

No mercado de trabalho cearense, as alterações mais significativas ocorreram entre as mulheres, delineando um contexto de crescente participação feminina e de redução das diferenças de remuneração do trabalho, consolidando sua presença no mundo laboral do estado, apesar de o trabalho feminino ainda estar muito ligado às ocupações tradicionalmente consideradas femininas. Sua taxa de participação estadual é similar à taxa nacional, mundial e da América Latina e, além do mais, o aumento da participação parece não ter sido acompanhado de melhorias qualitativas mais substanciais no trabalho feminino, sinalizando que esse processo aconteceu de forma lenta.

A maior participação das mulheres deve-se tanto a redução de obstáculos de natureza não econômica ao seu ingresso no mercado de trabalho, associada às mudanças culturais sobre o papel das mulheres na sociedade atual, como também a necessidade de complementação da renda familiar e/ou de assumir a responsabilidade pela manutenção da célula familiar, decorrentes dos baixos salários e/ou do desemprego de membros da família, notadamente dos chefes. Dessa forma, não se deve creditar somente a fatores econômicos essa consolidação da presença feminina no mercado de trabalho, mesmo porque, dados os níveis de pobreza e de desigualdade de renda reinantes na sociedade brasileira, a sobrevivência das famílias depende cada vez mais do esforço coletivo de seus membros.

A melhor escolaridade das mulheres tem sido utilizada como uma estratégia para sua inserção/permanência no mercado de trabalho, reduzindo as desigualdades de participação e a descriminação de gênero nesse mercado, notadamente no segmento da força de trabalho mais jovem.

Elas continuam a apresentar elevado nível de informalidade nas suas relações de trabalho, além de serem maioria no exercício de atividades precárias e deterem um menor tempo médio de permanência no trabalho, o que leva a remunerações mais baixas, além de serem mais susceptíveis ao desemprego.

Por outro lado, esse estudo constatou algumas melhoras residuais na qualidade do trabalho feminino no Ceará, em 2001/2006, tais como: elevação do nível de assalariamento da ocupação feminina, maior fração de mulheres contribuintes para a previdência social, influenciada pela maior proporção de empregadas com carteira

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assinada, pequena redução do emprego doméstico, redução do emprego doméstico sem carteira, queda no trabalho por conta-própria e para o consumo próprio.

Nesse período, houve também avanços no valor da remuneração independente de faixa etária, instrução, categoria ocupacional ou contrato de trabalho, mas ela é relativamente mais concentrada nas faixas inferiores da distribuição. Verificou-se que houve decréssimos nas diferenças das remunerações de homens e mulheres, principalmente entre os mais jovens. No total dos ocupados, elas passaram a perceber, em média, 80% da remuneração dos homens, em 2006.

Adicionalmente, a forma de inserção mostra-se muito associada ao nível de rendimento do trabalho, praticamente determinando o patamar de remuneração de homens e mulheres, em que o trabalho doméstico e o por conta-própria estão na base da pirâmide.

Deve sempre ser lembrado que as mulheres compõem um segmento populacional importante e significativo para as economias nacionais, inclusive para o Ceará, na medida em que elas conformam 52% da população cearense, integram 42% da sua população economicamente, representam 51% do desemprego estadual, além de serem responsáveis por aproximadamente 1/3 dos domicílios particulares do estado.

Outra constatação é que os problemas de gênero no mercado de trabalho cearense são mais significativos na área não-metropolitana de Fortaleza (interior do estado), seguindo a tendência geral de que nas áreas menos desenvolvidas a participação das mulheres é ainda menor.

Apesar do aparato legal e de inúmeras iniciativas de governos, empresários, trabalhadores e diversos segmentos da sociedade civil, no começo do século XXI a sociedade brasileira, em particular a cearense, ainda convive com um grande défict de equidade de gênero no seu mercado de trabalho. Essa discriminação em particular, ou qualquer outro tipo de discriminação, leva à exclusão social, a qual fomenta a pobreza.

Diante do exposto, dado que o Ceará é um estado pobre, deve-se mencionar que a redução das desigualdades de gênero no mundo laboral, a qual vem se dando de forma lenta, impulsiona a inclusão social, a diminuição da pobreza e o fortalecimento da cidadania, além de propiciar melhores condições de vida às famílias. Assim, faz-se necessário criar oportunidades de trabalho não só em maior quantidade, mas também com mais qualidade para as mulheres, tendo-se consciência de que as suas dificuldades específicas de acesso ao mercado de trabalho necessitam ser especialmente tratadas no âmbito das políticas públicas do trabalho. E para se alcançar esse objetivo é imperativo se inserir/enfatizar a questão de gênero nas políticas públicas de combate à pobreza e de geração de trabalho e renda no Estado do Ceará.

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REFERÊNCIAS

ABRAMO, L. Desigualdades e discriminação de gênero e raça no mercado de trabalho brasileiro. Brasília, DF: OIT, 2003. AMBRÓZIO, A. M. Mulheres conquistam mercado, mas ganham menos. Rio de Janeiro: BNDES, 2006. (Visão do Desenvolvimento, n. 10). ÁVILA, M. de. A evolução do mercado de trabalho metropolitano segundo leitura da nova metodologia da Pesquisa Mensal de Emprego no período de março de 2002 a dezembro de 2006. Rio de Janeiro: IPEA, 2007. BALTAR, P.; KREIN, J. D.; MORETTO, A. O emprego formal nos anos recentes. Carta Social e do Trabalho, Campinas, n 3, p. 3-10, 2006. BOLETIM DIEESE NACIONAL. Mulheres trabalhadoras: discriminação e desigualdade no mercado de trabalho. São Paulo: DIEESE, mar. 2001. Edição especial. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. CARRIOU, V. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. Ribeirão Preto: Saraiva, 2005. 1.322 p. DIEESE. As mulheres no mercado de trabalho. In: ______. A situação do trabalho no Brasil. São Paulo, 2001. 352 p. Cap. 4, p. 103-126. HOFFMANN, R.; LEONE, E. T. Participação da mulher no mercado de trabalho e desigualdade da renda domiciliar per capita no Brasil: 1981-2002. Nova Economia, Belo Horizonte, p. 58, maio/ago. 2004. INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO. Evolução do emprego industrial no Ceará. Fortaleza, 2007.

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LEONE, E. T. Empobrecimento da população e inserção da mulher no mercado de trabalho na região metropolitana de São Paulo na década de 1980. In: OLIVEIRA, C. A. B. de; MATTOSO, J. E. L. (Org.). Crise e trabalho no Brasil. Campinas: Scritta, 1996. 344 p. p. 151-169. ______. A mulher no atual mercado de trabalho. Carta Social e do Trabalho, Campinas, n. 3, p. 30-32, 2006. NOVO emprego paga salário mínimo. O Estado de São Paulo, São Paulo, dez. 2006. OIT. Global employment trends for youth. Genebra, 2004. ______. Igualdade no trabalho: enfrentando desafios: notas: suplemento nacional. Brasília, DF, 2007a. ______. Tendências mundiales del empleo de las mujeres: resumen. Genebra, 2007b. RAMOS, L. O desempenho do mercado de trabalho brasileiro: tendências, fatos estilizados e padrões especiais. Rio de Janeiro: IPEA, 2007. 44 p. (Texto para discussão, n. 1.255). SANTOS, A. L. dos. Recuperação do emprego formal e baixo crescimento: impactos sobre o mercado de trabalho. Carta Social e do Trabalho, Campinas, n. 3, p. 22-29, 2006.

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ANEXO

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Tabela 25 - Segmentos Populacionais do Mercado de Trabalho – Região Metropolitana de Fortaleza – 2001/2006

Segmentos Homens Mulheres Total

2001 2006 2001 2006 2001 2006

Pop. residente 1.440.985 1.572.735 1.661.379 1.753.651 3.102.364 3.326.386

PEA 786.081 899.152 649.142 749.491 1.435.223 1.648.643

Ocupados 703.873 800.037 559.691 645.155 1.263.564 1.445.192

Desocupados 82.208 99.115 89.451 104.336 171.659 203.451

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 e 2006.

Tabela 26 - Taxa de Participação por Gênero, Segundo os Anos de Estudo – Região Metropolitana de Fortaleza - 2001 – 2006

Gênero/Anos de estudo

Anos

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Masculino

0 a 3 anos 63,03 60,84 58,65 60,99 59,15 -

4 a 7 anos 62,35 58,09 58,32 56,99 57,22 58,11

8 a 10 anos 75,83 73,94 72,57 71,90 74,31 71,94

11 a 14 anos 86,19 85,21 85,14 85,43 86,76 88,39

≥ 15 anos 84,55 88,63 84,81 86,19 84,53 87,40

Feminino

0 a 3 anos 36,02 33,66 31,20 33,76 36,15 -

4 a 7 anos 39,80 38,01 33,95 38,26 39,69 36,25

8 a 10 anos 51,18 52,50 52,49 48,67 52,58 51,58

11 a 14 anos 67,71 69,73 70,42 68,46 73,02 70,38

≥ 15 anos 80,07 81,94 79,44 82,67 84,25 84,63

Total

0 a 3 anos 49,49 47,00 45,02 46,89 47,48 -

4 a 7 anos 50,19 47,27 45,39 46,96 47,94 46,59

8 a 10 anos 62,11 62,33 61,82 59,46 62,71 61,42

11 a 14 anos 75,35 76,28 77,23 76,07 79,25 78,46

≥ 15 anos 82,06 85,02 81,72 84,08 84,36 85,73

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006. Nota: Não foi calculada a taxa de participação da faixa de 0 a 3 anos de estudo devido a problemas nas estimativas de PEA, ocupadas e desocupadas da RMF com esse tempo de escola.

62

Tabela 27 - Taxa e Participação por Gênero, Segundo os Anos de Estudo – Área Não-Metropolitana de Fortaleza - 2001 – 200

Gênero/Anos de estudo

Anos

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Masculino

0 a 3 anos 74,48 74,33 76,50 75,15 75,00 73,13

4 a 7 anos 69,84 73,39 75,34 70,48 69,82 70,49

8 a 10 anos 80,29 81,46 83,60 77,92 78,19 80,32

11 a 14 anos 89,44 85,32 91,76 91,48 92,61 88,97

≥ 15 anos 93,33 100,00 94,28 97,06 94,60 95,23

Feminino

0 a 3 anos 46,50 42,24 45,95 46,14 48,08 42,82

4 a 7 anos 42,59 42,02 45,68 43,00 45,89 43,21

8 a 10 anos 55,12 54,26 52,49 53,96 50,39 51,98

11 a 14 anos 76,51 73,48 74,58 76,67 74,77 72,43

≥ 15 anos 87,72 95,45 91,23 91,58 95,29 85,45

Total

0 a 3 anos 61,26 59,40 62,37 61,73 62,60 59,37

4 a 7 anos 55,19 56,28 59,38 55,88 57,01 56,08

8 a 10 anos 66,14 66,18 66,83 65,09 62,99 65,76

11 a 14 anos 80,88 78,09 81,33 82,69 82,11 79,02

≥ 15 anos 89,66 97,00 92,39 93,02 95,08 88,04

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006. Nota: Não foi calculada a taxa de participação da faixa de 0 a 3 anos de estudo devido a problemas nas estimativas de PEA, ocupadas e desocupadas da RMF com esse tempo de escola.

Tabela 28 - Taxa de Ocupação por Gênero, Segundo os Anos de Estudo – Região Metropolitana de Fortaleza - 2001 – 2006

Gênero/Anos de estudo

Anos

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Masculino

0 a 3 anos 58,35 54,63 53,94 56,42 54,56 -

4 a 7 anos 55,44 51,65 51,20 49,76 50,62 53,85

8 a 10 anos 64,07 62,62 61,68 60,92 62,76 63,00

11 a 14 anos 77,06 75,41 74,92 75,10 76,67 80,28

≥ 15 anos 81,11 84,97 81,85 80,97 81,89 85,18

Feminino

0 a 3 anos 32,09 28,94 27,44 30,64 32,64 -

4 a 7 anos 33,94 32,91 28,32 31,66 34,74 32,58

8 a 10 anos 42,35 40,37 39,26 38,15 40,91 41,82

11 a 14 anos 57,89 58,37 58,94 57,99 59,65 60,68

≥ 15 anos 74,91 77,77 75,70 76,49 81,53 80,73

Total

0 a 3 anos 45,19 41,55 40,78 43,07 43,44 -

4 a 7 anos 43,84 41,55 39,06 40,07 42,21 42,64

8 a 10 anos 51,97 50,57 49,68 48,73 51,09 52,05

11 a 14 anos 65,82 65,58 66,33 65,66 67,37 69,47

≥ 15 anos 77,67 81,09 78,31 78,27 81,68 82,49

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

63

Tabela 29 - Taxa de Ocupação por Gênero, Segundo os Anos de Estudo – Área Não-Metropolitana de Fortaleza - 2001 – 2006

Gênero/Anos de estudo

Anos

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Masculino

0 a 3 anos 72,98 72,96 75,15 73,82 73,57 70,10

4 a 7 anos 66,74 70,74 72,53 68,65 66,89 66,01

8 a 10 anos 74,45 77,48 78,31 73,35 72,62 72,87

11 a 14 anos 80,74 79,37 83,52 85,8 87,86 82,75

≥ 15 anos 93,33 100,00 88,57 94,12 91,90 92,85

Feminino

0 a 3 anos 45,66 40,96 44,38 44,54 46,60 40,50

4 a 7 anos 40,11 39,30 43,36 41,14 43,27 40,84

8 a 10 anos 49,72 49,10 45,7 48,24 44,23 44,95

11 a 14 anos 71,75 66,92 67,56 70,19 69,43 66,30

≥ 15 anos 87,72 95,45 89,47 88,42 95,29 80,41

Total

0 a 3 anos 60,07 58,07 60,92 60,27 61,15 56,67

4 a 7 anos 52,42 53,59 56,84 54,03 54,24 52,71

8 a 10 anos 60,55 61,54 60,73 59,91 57,10 58,52

11 a 14 anos 74,79 71,76 73,82 76,54 77,01 72,85

≥ 15 anos 89,66 97,00 89,13 89,92 94,26 83,70

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

Tabela 30 - Taxa de Desemprego por Gênero, Segundo os Anos de Estudo – Região Metropolitana de Fortaleza - 2001 – 2006

Gênero/Anos de estudo

Anos

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Masculino

0 a 3 anos 7,41 10,22 8,04 7,50 7,77 -

4 a 7 anos 11,09 11,08 12,21 12,68 11,53 7,33

8 a 10 anos 15,51 15,31 15,01 15,27 15,55 12,42

11 a 14 anos 10,59 11,50 12,01 12,09 11,63 9,18

≥ 15 anos 4,06 4,12 3,48 6,06 3,13 2,54

Feminino

0 a 3 anos 10,91 14,03 12,03 9,23 9,72 -

4 a 7 anos 14,72 13,41 16,59 17,24 12,47 10,12

8 a 10 anos 17,27 23,11 25,20 21,61 22,19 18,93

11 a 14 anos 14,51 16,29 16,31 15,29 18,31 13,79

≥ 15 anos 6,44 5,09 4,70 7,49 3,23 4,61

Total

0 a 3 anos 8,69 11,61 9,41 8,15 8,52 -

4 a 7 anos 12,64 12,09 13,95 14,67 11,94 8,47

8 a 10 anos 16,31 18,87 19,64 18,05 18,53 15,25

11 a 14 anos 12,66 14,03 14,11 13,68 14,99 11,46 ≥ 15 anos 5,35 4,62 4,17 6,90 3,19 3,77

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

64

Tabela 31 - Taxa de Desemprego por Gênero, Segundo os Anos de Estudo – Área Não-Metropolitana de Fortaleza – 2001 – 2006

Gênero/Anos de estudo

Anos

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Masculino

0 a 3 anos 2,02 1,84 1,77 1,77 1,90 4,15

4 a 7 anos 4,44 3,61 3,72 2,59 4,20 6,36

8 a 10 anos 7,27 4,88 6,33 5,86 7,12 9,28

11 a 14 anos 9,73 6,97 8,98 6,21 5,13 6,99

≥ 15 anos 0,00 0,00 6,06 3,03 2,86 2,50

Feminino

0 a 3 anos 1,81 3,04 3,42 3,48 3,09 5,41

4 a 7 anos 5,83 6,47 5,09 4,34 5,72 5,50

8 a 10 anos 9,80 9,52 12,93 10,61 12,21 13,52

11 a 14 anos 6,22 8,93 9,42 8,45 7,14 8,47

≥ 15 anos 0,00 0,00 1,92 3,45 0,00 5,89

Total

0 a 3 anos 1,94 2,24 2,33 2,36 2,32 4,56

4 a 7 anos 5,02 4,77 4,29 3,31 4,85 6,01

8 a 10 anos 8,45 7,02 9,12 7,97 9,35 11,00

11 a 14 anos 7,53 8,10 9,22 7,44 6,21 7,81

≥ 15 anos 0,00 0,00 3,53 3,33 0,86 4,92

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

65

Tabela 32 - População Ocupada por Grupos Ocupacionais do Trabalho Principal, Segundo o Gênero – Região Metropolitana de Fortaleza – 2002/2006

Grupos ocupacionais

Homens Mulheres

2006 2006 2002 2006

(b/a) (%) (%)

Absoluto (a)

(%) (%) Absoluto

(b)

Dirigentes em geral 4,42 5,33 44.402 3,61 3,99 26.470 0,6

Profissionais das ciências e das artes 5,39 4,99 41.562 7,94 8,71 57.753 1,4

Técnico de nível médio 8,60 7,59 63.222 8,32 8,84 58.628 0,9

Trabalhadores de serviços administrativos 7,10 7,25 60.381 11,67 12,34 81.821 1,4

Trabalhadores dos serviços 17,63 19,04 158.613 32,66 30,95 205.220 1,3

Vendedores e prestadores de serviço do comércio 13,87 12,19 101.505 15,21 14,65 97.130 1,0

Trabalhadores agrícolas 5,93 5,88 49.003 3,20 2,67 17.720 0,4

Trabalhadores da prod. de bens e serv. e de reparação e manutenção 35,53 36,00 299.724 16,94 17,72 117.472 0,4

Membros das forças armadas e auxiliares 1,20 1,73 14.437 - 0,10 657 0,0

Ocupações mal definidas ou não declaradas 0,33 - - 0,45 0,03 219 -

Total 100,00 100,00 832.849 100,00 100,00 663.090 0,8

Fonte: Elaboração Própria do Autor Baseada nas PNADs de 2001 a 2006.

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