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Mudanças no papel do Estado: o novo contexto do século XXI Biancca Scarpeline de Castro

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Mudanças No Papel Do Estado

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Mudanas no papel do Estado: o novo contexto do sculo XXI

Mudanas no papel do Estado: o novo contexto do sculo XXI

Biancca Scarpeline de CastroMudanas no papel do EstadoAo longo dos anos ocorreram transformaes nas funes do Estado e no papel que ele deveria cumprir perante a sociedade, sendo essas estruturadas por ideias especficas que mobilizaram aes, atores e instituies.Origens do Estado de bem estar social

Muitas mudanas ocorreram no ocidente a partir do final sculo XVIII: a Revoluo Industrial se desenvolveu.Na Revoluo industrial o trabalho agrcola e os mtodos de produo artesanais foram perdendo espao para o trabalho assalariado nas fbricas. Estas ltimas contavam com mquinas que dividiam a produo de mercadoria em pequenos processos especializados. Os trabalhadores perderam o controle do processo produtivo, tendo o conhecimento de apenas uma pequena parte da fabricao do produto final. Alm disso, a revoluo industrial promoveu a criao e a utilizao de novos produtos e processos qumicos, entre eles diferentes processos para a fundio do ferro.

Iderio LiberalNeste perodo os Estados tinham como iderio o liberalismo: o Estado no deveria interferir na economia. os trabalhadores cumprem bem suas tarefas para que possam continuar empregados ganhando bons salrios, o trabalho bem desempenhado gera lucros para o patro, que pode investir na empresa e contratar mais profissionais. A busca por maiores lucros pelo patro e por trabalho e salrio dos empregados geraria o crescimento da economia como um todo. Esse seria um circulo virtuoso gerado pelo auto interesse de cada indivduo, que ao agir livremente buscando o bem para si, beneficia toda a sociedade.

Pouco respaldo emprico do LiberalismoContudo, os resultados da proposta terica do liberalismo no tiveram um respaldo emprico concreto. Ocorreram avanos da industrializao e a urbanizao, mas no garantiram o bem estar da sociedade como um todo.Os operrios, por exemplo, tinham uma condio de vida e de trabalho muito ruim a partir do inicio da Revoluo Industrial.Na falta de aes concretas do Estado para minimizar esses problemas, os ideais socialistas comearam a se disseminar na sociedade. Os empregados das fbricas formaram associaes e sindicatos, que no final do sculo XIX assumiram um considervel nvel de organizao e ideologizao.

Ampliao dos direitos polticosPara tentar conter a proposta revolucionria rumo ao socialismo, os governos de muitos pases ampliaram os direitos polticos da populao, especialmente atravs da universalizao do voto. Assim, diferentes pases europeus e os Estados Unidos, com o intuito de manter o sistema capitalista, permitiram que as classes trabalhadoras mantivessem representantes no governo, que defendessem os seus interesses. Esses representantes e seus representados passaram a demandar do Estado uma qualidade de vida digna populao garantida por meio das aes governamentais. Crise econmica 1929A crise econmica originada pela quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929 foi importante para consolidar o Estado como um agente promotor da qualidade de vida.Neste perodo diferentes pases democrticos abandonaram gradativamente o iderio liberal e acolheram as propostas tericas de John Keynes. Keynes defendia um papel ativo do Estado, no qual o investimento pblico seria responsvel pela gerao de emprego e renda nos pases.

2 Guerra Mundial e Guerra friaO fim da Segunda Guerra Mundial ampliou a necessidade de interveno dos Estados na economia, principalmente com os objetivos de reconstruir os pases atingidos pela guerra e fortalecer as polticas de enfrentamento s ideias socialistas. Neste perodo foi iniciada a Guerra Fria, que se tratava de uma disputa de estratgias e conflitos indiretos entre Estados Unidos e Unio Sovitica por zonas de influncia e pelo desenvolvimento do seu sistema econmico, respectivamente, capitalista democrtico e socialista ditatorial.

Era de ouro do capitalismoA Guerra Fria foi marcada por um amplo crescimento econmico: 30 anos gloriosos Entre 1945 e 1975 houve um crescimento e desenvolvimento econmicos elevados e sustentados em todo o mundo, inclusive na Europa Ocidental e pases da sia Oriental, acompanhados do pleno emprego.Em adio, neste perodo tambm ocorreu um grande avano na dimenso da cidadania nos pases capitalistas democrticos, que alm dos direitos civis e polticos, passaram a oferecer os direitos sociais.

O Estado de bem-estar socialo Estado deveria oferecer certos bens e servios pblicos essenciais para os cidados, mas aqueles que tivessem melhores condies de renda poderiam adquiri-los no mercado. Assim, foi estabelecido o Estado de bem-estar social, tambm chamado de Estado Providncia, com o objetivo de interferir na economia para reduzir as falhas de mercado e atender uma srie de reivindicaes da classe operria, mantendo o sistema capitalista funcionando.Para o funcionamento deste Estado foi criado um sistema nacional, universal e gratuito de assistncia, financiado pelo oramento fiscal. Alm disso, os servios sociais esto relacionados regulao da economia e ao alcance do pleno emprego. As medidas propostas eram permanentes.Aspectos sob os quais se estrutura a viabilidade do Estado de bem-estar socialOrdem material e s polticas econmicas. Nesse caso possvel mencionar a difuso da produo e consumo de massa (paradigma fordista); o consenso em torno das propostas Keynesianas; o acelerado crescimento da economia.Acordos internacionais com vistas a estabelecer regras para as relaes comerciais e financeiras entre os pases e gerar uma estabilidade econmica mundial. A atmosfera de solidariedade que se instalou em diferentes pases logo aps a segunda Guerra Mundial (solidariedade entre aliados). O avano da democracia nos pases centrais (Estados Unidos, Inglaterra, Frana) fazendo com que aqueles que quisessem se eleger tivessem que atentar para os anseios dos trabalhadores.Apesar desses aspectos similares existentes em todos os pases que implementaram o Estado de bem-estar social, h tambm diferenas considerveis entre o padro de financiamento, extenso dos servios oferecidos para a populao, sua forma de organizao institucional, entre outros.Enquanto isso, no Brasil...Os primeiros direitos sociais foram concedidos durante o Governo de Getlio Vargas. Ele construiu a legislao social e trabalhista, criou os estatutos e rgos normativos e fiscalizadores do pas, alm de agncias e empresas estatais. Inicialmente, seu governo apresentou alguns avanos em relao aos direitos polticos.Os trabalhadores foram organizados pelo prprio governo em sindicatos que foram absorvidos e cooptados pelos jogos polticos do Estado. Porm, os trabalhadores autnomos e camponeses ficaram sem representao e direitos.Mas a partir de 1937 at 1945 se transformou em uma ditadura, suprimindo a democracia e os direitos civis, ampliando fortemente, contudo, os benefcios sociais e a interveno do Estado na economia.

Nacional desenvolvimentismoDo final da ditadura Vargas (1946) ao golpe militar de 1964, no ocorreram mudanas significativas na administrao pblica ou nos direitos sociais. Os direitos polticos e civis foram novamente institudo e os funcionrios pblicos continuavam sem profissionalizao. Contudo, a preocupao com o desenvolvimento do pas se tornava cada vez mais preeminente, consolidando o Nacional Desenvolvimentismo.Neste haveria a expanso da interveno do Estado. Foram realizados investimentos pblicos em setores considerados estratgicos, como a produo de minrios e energia, e foi organizada uma poltica fiscal e de controle das importaes buscando estimular a produo interna. A industrializao era entendida como o principal caminho para superao do subdesenvolvimento, sendo incentivada a entrada da tecnologia e capital estrangeiros.

Ditadura MilitarNo perodo da ditadura militar, entre 1964 e 1984, mais uma vez se verifica a suspenso de direitos polticos e civis, ao mesmo tempo em que se ampliam direitos sociais. Ocorreu nova expanso da interveno do Estado na vida econmica e social.At meados de 1970, o regime militar implementou um modelo de crescimento baseado na atrao de capital externo (principalmente por meio de emprstimos) e no apoio ao empresariado nacional. Houve um grande estmulo s exportaes, principalmente de produtos agrcolas, e uma intensa importao de mquinas, e equipamentos. Ocorreu uma expanso do sistema de crdito ao consumidor, o que melhorou o acesso da classe mdia aos bens de consumo durveis.Apesar da melhoria dos resultados econmicos os programas sociais no conseguiram reverter a situao de extrema desigualdade social, sendo que as principais razes para isso so o clientelismo, a ineficincia e a corrupo.A manuteno desses fatores foram possveis devido forte centralizao da gesto e dos recursos, e ausncia de participao e controle da sociedade sobre as aes do Estado.A dificuldade de acessar servios e produtos pblicos de qualidade, aumentou a desigualdade social, pois parte da populao optou pelos sistemas privados, garantindo o atendimento das suas necessidades, ao invs de pressionar o governo para a ampliao e melhoria na prestao desses servios.

Crise do Estado de Bem-Estar SocialA crise do Estado de bem estar social foi deflagrada com os choques do petrleo de 1973/75. Contudo, mesmo antes desta data as criticas ao seu funcionamento j estavam em voga.Conservadores apontavam para a falncia do modelo intervencionista devido ao seu tamanho e custos, as novas esquerdas passaram a criticar o Estado de bem estar social por considerar que esse funcionava como uma forma de cooptao e desarticulao da classe trabalhadora. Ao mesmo tempo, o esgotamento econmico do modelo gerava inflao, endividamento do Estado e a ineficincia dos servios oferecidos para a populao.Emergia um novo paradigma: o neoliberalismo.

NeoliberalismoO neoliberalismo propunha a liberdade de ao do mercado e a restrio interveno estatal sobre a economia, s devendo esta ocorrer em setores imprescindveis e num grau mnimo. caracterizado por:O desmantelamento dos sindicatos e do movimento dos trabalhadores;A desregulamentao do mercado de trabalho;A privatizao de empresas e servios sociais oferecidos pelas Estatais;Reformas do Aparelho administrativo do Estado;Reduo dos programas e polticas de proteo social;Atribuio ao indivduo pela responsabilidade sobre si mesmo (auto assistncia atravs do mercado).Paralelamente s mudanas proporcionadas pelo iderio neoliberal ocorreram transformaes sociais que impulsionaram ainda mais as alteraes no papel dos Estados: globalizao.

GlobalizaoCom a globalizao os Estados tem sua capacidade de lidar com as adversidades reduzida, pois os problemas passam a no respeitar as fronteiras nacionais e so imprevisveis.J as empresas adquirem grandes vantagens, como melhores opes de mobilidade, podendo se estabelecer nos pases que lhes oferecerem encargos menores e condies melhores, reduzindo os custos de seus produtos.A globalizao e o neoliberalismo trouxeram ganhos para a populao. Esses fenmenos foram fundamentais para o aprofundamento da democracia e por facilitar a difuso e o desenvolvimento dos meios de comunicao.

GlobalizaoPor outro lado, essas mudanas aumentam o desemprego, diminuem a capacidade de arrecadao tributria e tornam os governos vulnerveis no que se refere manuteno de seus gastos e investimentos sociais. Aqueles que no podem agir como consumidores ou que esto alijados da incluso digital, so os perdedores do processo de globalizao.Apesar da tentativa dos Governos de reduzirem ao mximo os gastos sociais e de transferir aos cidados a responsabilidade por sua prpria proteo, os gastos e direitos sociais adquiridos dificilmente vo se encerrar. Desta maneira, uma sada para a prestao dos servios sociais em meio a restries econmicas, seria a utilizao com eficincia dos recursos e a racionalizao dos processos de gesto, tornando mais eficazes os gastos pblicos: reforma do Estado.

Reforma do Estado no BrasilNo Brasil, com o declnio da ditadura militar a partir do final dos anos 1970, foi iniciado um processo de redemocratizao e de rompimento com o modelo do nacional desenvolvimentismo. H poca, o contexto politico e econmico eram marcados por crises internas e estrangeiras, avanos da globalizao, colapso do socialismo e pelo fim da guerra fria.Nesse sentido, algumas organizaes internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetrio Internacional (FMI), a partir do Consenso de Washington, passaram a pressionar os pases latino-americanos para implementar uma reforma no Estado, readequando suas prticas ao iderio neoliberal.

Reforma do Estado no BrasilA reforma sugerida pelo consenso de Washington ao governo brasileiro foram marcadas por:Redefinio na agenda pblica, Reformas polticas para a implementao da democracia,Programas de estabilizao econmica,Reformas orientadas pelo mercado (privatizaes e abertura externa da economia),Integrao na ordem mundial globalizada,Polticas monetrias ortodoxas (polticas fiscais e monetrias contracionistas, onde o governo deveria reduzir os gastos para conter a demanda global),Metas de estabilizao e ajuste fiscal,Fim da agenda social.

O movimento de aceitao do consenso de Washington no Brasil foi aprofundado nos anos 1990 com a implementao da reforma gerencial do Estado orquestrada pelo ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira a partir do Ministrio da Administrao e Reforma do Estado (MARE).

Reforma do Estado no BrasilA reforma gerencial do Estado reorganizava as funes e a estruturas do Estado, que deveria utilizar de forma eficiente e satisfatria seus recursos no atendimento dos cidados. Sua proposta no eram as polticas universais, mas sim aquelas focalizadas, e a transferncia para a sociedade de uma srie de aes antes implementadas pelo Estado. O Estado gerencial gerou uma srie de criticas e questionamentos sobre a convenincia de seu estabelecimento. Entre elas: questionou-se a utilizao acrtica dos mtodos de administrao privada na administrao pblicao fato de que ao imitar a administrao do setor privado, a administrao pblica inibiria a elaborao de ideias, modelos e prticas administrativas que atendessem s especificidades do Estado. esse mtodo de gesto, focado na eficincia e na manuteno das decises do Estado nos ncleos estratgicos, ignora a dimenso democrtica e a proposta de participao social nas decises do Estado.

Estado societalMesmo antes da ditadura militar j havia uma presso por parte da populao para a sua participao no processo poltico. Movimentos sociais como os da Direta j, exigiam no apenas o direito ao voto secreto e direto nas eleies para os polticos do Brasil, como alertavam para o maior interesse da populao em decidir os rumos da poltica no pas. Apesar da enorme presso os deputados federais da poca no se sensibilizaram mediante os enormes apelos populacionais. Com isso, o Brasil manteve o sistema indireto para as eleies de 1985, sendo as primeiras eleies diretas para presidente realizada no Brasil em 1989, para a qual concorreram 22 candidatos, tendo vencido Fernando Collor. No entanto em 1988 durante a assembleia constituinte a presso da populao fez diferena e instituiu uma srie de propostas, como a participao social e a descentralizao dos servios pblicos para Estados e Municpios.

Estado SocietalExperincias como os mutires de casas populares e hortas comunitrias, os conselhos de gesto constitudos por membros do Estado, da sociedade civil e empresas, as comisses de planejamento e o Oramento Participativo foram sendo instauradas ao longo da dcada de 1990 A partir de 2003, com a eleio de Luiz Incio Lula da Silva, esse se tornou um projeto poltico mais abrangente, com aes mais participativas.Nesse momento foi iniciado a proposta de substituio do Estado gerencial pelo Estado societal, o que ainda se encontra em desenvolvimento. Essa nova concepo de Estado se prope a implementar um projeto poltico que procura ampliara participao dos atores sociais na definio da agenda poltica, criando instrumentos para possibilitar um maior controle social sobre as aes estatais e desmonopolizando a formulao e a implementao das aes pblicas.Conselhos GestoresEntre as iniciativas mais importantes esto a formao e consolidao dos Conselhos gestores. Os conselhos so espaos no qual se concretiza uma nova relao entre Estado e sociedade na gesto pblica. Sua novidade consiste em intensificar e institucionalizar o dilogo entre governo e sociedade.Atualmente existem nos municpios brasileiros mais conselheiros que vereadores, o que evidencia a importncia dessas estruturas como forma de participao popular.

Participao SocialOs conselhos e as propostas de participao tm diferentes significados sociais:A participao passa a adquirir o significado de participao da sociedade no governo, disputando espao tanto no aparato governamental quanto na definio das polticas pblicas. Significa pr em questionamento o monoplio do Estado como gestor da coisa pblica. Significa construir espaos pblicos no estatais, afirmando a importncia do controle pblico sobre o Estado.A participao representa tambm a explicitao de diferenas e conflitos, com a possibilidade inclusive de discutir e problematizar o que justo e injusto.Significa a construo de uma cultura participativa, que admite, reivindica e valoriza a participao social.

Participao societalA vertente societal apresenta alguns problemas: H uma tendncia em sobrevalorizar a experincia focada na organizao local e no na esfera federal. H tambm a dificuldade em qualificar a populao para participar desses processos mais democrticosAlm disso, ela no apresenta uma proposta para a organizao do aparelho do Estado. Ou seja, o Estado societal criou canais e mecanismos de participao, mas a estrutura e organizao governamental a mesma da vertente gerencial. De qualquer forma, possvel dizer que o Estado societal, atravs de mecanismos participativos, tenta substituir a gesto centralizada da vertente gerencial sem ter processos administrativos que possam realizar essa transio. Assim, ambas vertentes tm estado em voga no Estado brasileiro tentando equilibrar processos participativos e democrticos com processos gerenciais que presam pelos resultados, eficincia e pela centralizao das decises.