mudanÇas biodiversidade climÁticas · 2015. 7. 4. · capim-limão. se você nasceu na cidade,...

4
2015 CRISE HÍDRICA A real dimensão da escassez de água para o abastecimento e a geração de energia elétrica BIODIVERSIDADE Como conciliar a preservação dos biomas e a necessidade de produzir mais alimentos MUDANÇAS CLIMÁTICAS Qual o impacto para as empresas no Brasil? Ano 5 – n o 5 – 2015 9 772179 804000 ISSN 2179-8044 02015 R$ 15,00

Upload: others

Post on 08-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: MUDANÇAS BIODIVERSIDADE CLIMÁTICAS · 2015. 7. 4. · capim-limão. Se você nasceu na cidade, tal-vez nunca tenha ouvido falar dessas plantas. Um grupo de hortelões urbanos está

2015

CRISE HÍDRICA A real dimensão da escassez de água para o abastecimento e a

geração de energia elétrica

BIODIVERSIDADEComo conciliar a preservação

dos biomas e a necessidade de produzir mais alimentos

MUDANÇAS CLIMÁTICAS Qual o impacto para as empresas no Brasil?

Ano 5

– n

o 5

– 2

015

9772179804000

ISSN 2179-8044

02015

R$ 15,00

Page 2: MUDANÇAS BIODIVERSIDADE CLIMÁTICAS · 2015. 7. 4. · capim-limão. Se você nasceu na cidade, tal-vez nunca tenha ouvido falar dessas plantas. Um grupo de hortelões urbanos está

CIDADES COMESTÍVEISHORTAS COMUNITÁRIAS OCUPAM TERRENOS ANTES ABANDONADOS NAS

METRÓPOLES E MELHORAM A QUALIDADE DE VIDA DOS MORADORESSistema de irrigação em horta

comunitária criada pela ONG

Cidades sem Fome, em São Paulo

FO

TO

S:

MA

TH

EU

S T

INH

O C

AV

ALIE

RE

Azedinha, bertalha, ba-bosa, capuchinhas e capim-limão. Se você nasceu na cidade, tal-vez nunca tenha ouvido

falar dessas plantas. Um grupo de hortelões urbanos está mudando isso. Espontaneamente, moradores de São Paulo, Rio de Janeiro e Bra-sília se reúnem para plantar verduras, frutas e ervas medicinais em praças

e terrenos baldios das cidades. Aos poucos, os vizinhos dos espaços passaram a ajudar no cultivo, de forma comunitária. Além de abas-tecerem a geladeira com comida saudável, as pessoas estão mudando para melhor espaços públicos antes deteriorados e ajudando a salvar o ambiente das metrópoles.

Em 2012 na região da vila Ma-dalena, zona oeste de São Paulo,

s o c i e d a d e

32

Page 3: MUDANÇAS BIODIVERSIDADE CLIMÁTICAS · 2015. 7. 4. · capim-limão. Se você nasceu na cidade, tal-vez nunca tenha ouvido falar dessas plantas. Um grupo de hortelões urbanos está

Claudia Visoni e um grupo de 25 vizinhos começaram a pôr a mão na terra da praça das Corujas. Atual-mente, os agricultores urbanos vo-luntários da Horta das Corujas são muitos e todo dia surge gente nova. Agora, todos os moradores têm aces-so às plantinhas de nome estranho mencionadas no início desta maté-ria, e também morango, almeirão, manjericão, berinjela... Tudo sem agrotóxico e fresco.

A horta comunitária tem uma es-cala de cuidados apenas para que seja regada constantemente pelos hortelões mais assíduos. “Não temos a

intenção de controlar. Tem gente que vem toda semana, a horta é aberta para todos os moradores e curiosos”, diz Claudia. Ela faz parte de um gru-po do Facebook chamado Hortelões Urbanos, com quase 16 mil partici-pantes. “Não é uma organização; é uma comunidade online que ajuda a conectar pessoas interessadas em hortas urbanas”, explica. Na rede, os participantes trocam informações e dicas de cultivo de plantas.

Em muitas cidades em todo o mundo, a população sofre do que os especialistas chamam de “deser-to alimentar”. O termo em inglês,

“food desert”, é bem conhecido nos Estados Unidos, onde os habi-tantes sofrem de uma epidemia de obesidade fortemente ligada à má qualidade da alimentação, excesso de comida altamente processada e escassez de alimentos naturais. Estima-se que mais de 26 milhões de norte-americanos vivam distantes da produção agrícola, sem acesso a frutas, verduras e legumes frescos.

Com o objetivo de aproximar a produção de alimentos das pes-soas, a ONG Cidades sem Fome já coordenou a instalação de 21 hortas na zona leste de São Paulo.

“Fala-se muito de orgânicos, mas pouco se produz dentro das cidades”,

diz o fundador Hans Dieter Temp. A entidade busca espaços públicos e privados abandonados ou subu-tilizados, como a área embaixo das torres de eletricidade, para formar as hortas. Consegue as autorizações, organiza cursos de capacitação sobre técnicas de cultivo de orgânicos para os moradores dos bairros e seleciona os interessados em tocar as hortas.

Atualmente, 115 moradores estão envolvidos no cultivo e manutenção dos espaços. A produção excedente é comercializada, o que gera uma renda média de um salário míni-mo para cada família participante. Quase 700 pessoas são beneficiadas. A zona leste, uma das mais populosas

Cultivo de hortaliças em terreno antes degradado: envolvimento dos vizinhos recupera o espaço público e melhora até o ar

Hortas como a das Corujas, na vila Madalena, em São Paulo, são abertas à comunidade

Em muitas cidades em todo o mundo, as

populações sofrem com a escassez de alimentos naturais, situação que afeta

cerca de 26 milhões de pessoas apenas nos

Estados Unidos

Em São Paulo, as 21 hortas criadas pela ONG Cidades

sem Fome fornecem alimentos para 665 pessoas. A

comunidade Hortelões Urbanos conta com 16 mil participantes

TH

INK

STO

CK

PH

OTO

S

5

s o c i e d a d e

4

Page 4: MUDANÇAS BIODIVERSIDADE CLIMÁTICAS · 2015. 7. 4. · capim-limão. Se você nasceu na cidade, tal-vez nunca tenha ouvido falar dessas plantas. Um grupo de hortelões urbanos está

AS ESCOLAS DA SAÚDE

Mais da metade da população brasileira está acima da faixa de peso considerada saudável pelo Ministério da Saúde. Parte do problema está associada à má qualidade dos alimentos disponíveis nas cidades e à carência de educação nutricional. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a agricultura urbana é uma das maneiras de garantir a segurança alimentar da população mundial – tanto para aqueles que sofrem com a fome quanto para a fatia que enfrenta problemas de saúde causados pelo consumo de produtos altamente processados e de baixa qualidade, como obesidade, desnutrição e deiciência de nutrientes. Para melhorar o que entra no prato de famílias de baixa renda, a ONG Cidades Sem Fome está começando com as crianças e jovens. A entidade desenvolve também o projeto Hortas Escolares em 17 unidades da rede pública na capital paulista. O primeiro impacto causado é na merenda escolar servida aos alunos. Tudo que é consumido nessas escolas deve ser comprado por meio de licitações públicas. Por conta dos prazos do processo, elas recebem muito produto não perecível, a maioria composta de industrializados, secos e enlatados. “As escolas não têm refrigerador e capacidade para armazenar muitos alimentos frescos, a merenda ica restrita”, explica o fundador da ONG, Hans Dieter Temp.A entidade coordena a implantação de hortas escolares em regiões de vulnerabilidade social com o objetivo de complementar a alimentação oferecida aos alunos. A merenda passa a contar com frutas, verduras e legumes frescos cultivados pelos próprios estudantes. O contato direto com a terra leva ainda a uma mudança de habito mais profunda entre a comunidade escolar. “Os alunos trabalham na terra, semeiam, fazem a colheita, aprendem sobre sistemas de reciclagem e composto orgânico”, conta o fundador. “Criamos jovens mais sensíveis às questões ambientais e que levam esse aprendizado para a família.” Quase 5 mil alunos são atendidos pelo projeto, atualmente, mas ele acaba impactando também a vida dos professores e outros funcionários envolvidos.

da capital paulista, é também uma das que mais sofre os efeitos do desemprego. “As hortas empregam quem mais encontra dificuldade no mercado, como pessoas acima dos 50 anos, com baixa escolaridade e donas de casa”, conta Hans.

Para ajudar na troca de informa-ções sobre agricultura urbana, o Instituto Árvore Viva promove pique-niques de troca de sementes em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Os moradores compartilham mudas e informações. As iniciativas independentes estão fazendo a di-ferença. “Agora, precisamos que as hortas urbanas façam parte de polí-tica pública”, afirma a horticultora Claudia Visoni. Segurança alimentar, conservação de espaço público com a diminuição de violência nos locais, melhoria da qualidade do ar e de vida dos moradores do entorno são só os benefícios mais visíveis das hortas estabelecidas em praças e terrenos baldios. Para começar uma horta urbana, basta ter um terreninho desocupado perto de casa e vontade de pôr a mão na terra. n

O Instituto Árvore Viva promove piqueniques de troca de sementes em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Os moradores compartilham plantas, mudas e informações

Alunas de uma das

17 instituições de ensino da rede

pública atendidas pelo projeto

Hortas Escolares, em São Paulo:

elas comem o que plantam

7

s o c i e d a d e

6