muda perfil da indústria e do trabalhador no abc

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SÁBADO - 30 de abril de 2011 ESPECIAL 4 - Rudge Ramos Jornal Em 2009, número de mulheres na indústria era de 13,7 mil FOTOS: ARQUIVO/RRJ AMANDA SEQUIN q Neste domingo (1º), é o Dia do Trabalho. A data, que será comemorada em São Bernardo e Santo André com diversos shows (veja progra- mação ao lado), tem um sig- nificado especial para o ABC. Indústrias, trabalhadores, sindicatos e greves tiveram um papel importante na história do desenvolvimento da região e chegam a ser considerados fontes de identidade e reco- nhecimento. As primeiras indústrias começaram a ser instaladas na década de 30. De lá para cá, muita coisa mudou. Cri- ses econômicas, mudanças de governo, moeda, alterações no sistema produtivo e nas relações trabalhistas, avanços tecnológicos, entre outros fa- tores, contribuíram para uma mudança no perfil da classe operária. “Atualmente, as fábricas são organizadas em produção em série, baseadas no modelo toyotista. Antigamente, você tinha mais pessoas traba- lhando, porque precisava de um contingente maior. Hoje, também com as tecnologias e as privatizações, o número de trabalhadores diminuiu”, explicou a economista da sub- Muda perfil da indústria e do trabalhador no ABC seção Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Zeíra Camargo de Santana. De acordo com Zeíra, a classe operária na região era muito forte no período anterior a 1989, antes da abertura eco- nômica. No ano em questão, dos 602 mil empregos formais uma alta inflacionária, tam- bém contribuiu para a queda do número de trabalhadores. “Em três anos, eram 113 mil trabalhadores com carteira assinada a menos, só aqui no do ABC, 363 mil eram da indústria de transformação, representando 60% dos em- pregados. A crise durante o governo Collor, de 1989 a 1992, com ABC. Destes, 107 mil foram na indústria. Em 1999, está- vamos com 188 mil empregos. O número caiu praticamente pela metade”, falou. Hoje, a região possui 259,7 mil traba- lhadores na indústria, segun- do o próprio Dieese. PERFIL DO TRABALHADOR Entre os altos e baixos no número de empregos na indús- tria, o perfil dos profissionais que atuam na área também foi alterado. Entre o período da dé- cada de 60, quando as fábricas se firmaram no ABC, e os dias atuais, a profissão deixou de ser apenas para as camadas mais baixas da sociedade. Um exemplo disso foi a me- lhora na formação profissional dos metalúrgicos do ABC. Da- dos divulgados pelo sindicato da categoria mostram que, em 1994, a classe era representa- da por 48% dos trabalhadores com ensino fundamental in- completo. Em 2009, a escola- ridade melhorou, apenas 8% detinham o ensino fundamen- tal incompleto, 42% tinham ensino médio concluído e 20% apresentavam ensino superior completo. Um estudo divulgado em 2010 pela Subseção Dieese mostra que o salário para quem trabalha na indústria tem um valor médio de R$ 2.500. A classe metalúrgica ganha cerca de R$ 3.500. O menor salário na região é o do setor de comércio, em média R$ 1.120. Nas metalúrgicas, a faixa etária acima de 40 anos re- presenta 38,6% do total. Os jovens, até 24 anos, são ape- nas 14%. g q As mulheres têm con- quistado cada vez mais espaço no setor industrial, represen- tam hoje quase 20% do total. Em 2000, havia 10 mil mulhe- res só na classe metalúrgica. Em 2009, o número aumen- tou para 13,7 mil. Elas fica- ram mais jovens e instruídas, chegando a superar os homens em nível de escolaridade. Ainda ganham um salário menor, mas no ABC são melhor remu- neradas do que outras da ca- tegoria, comparadas ao Estado de São Paulo e ao Brasil. Para a coordenadora do Mulheres já são 20% dos trabalhadores da indústria coletivo das mulheres da CUT ABC e diretora do Sindica- to dos Rodoviários do ABC, Cleide Tameirão, o destaque da classe feminina pode ser o re- sultado da vontade de construir uma sociedade mais igualitária. “A nossa luta é justamen- te essa, salário igual para trabalho igual. Mas ainda é um trabalho de formiguinha. A gente busca muito uma política afirmativa, promo- vendo ações, discussões. Em toda oportunidade, nós le- vantamos essa bandeira pela igualdade”, disse. Ainda segundo a coordena- dora, a diferença de salário, en- tre homens e mulheres, depen- de do setor. “No transporte, por exemplo, onde é a minha base de sustentação, não tem essa diferença. O salário é o mesmo para homens e mulheres. Mas em outros ramos existe uma grande desigualdade. Quanto à questão edu- cacional, as mulheres estão na frente. Segundo dados do Dieese, 59,2% possuem en- sino superior completo nas montadoras de São Bernardo. Os homens atingiram 20% no mesmo quesito.Nas empresas de base, com exceção das mon- tadoras, o nível de instrução é semelhante para ambos. Entre 1994 e 2002, o saldo de empregos para mulheres metalúrgicas foi negativo, qua- se cinco mil demissões. No en- tanto, entre 2002 e 2009, foram criados 3,1 mil novos postos de trabalho, um ganho de até 11 milhões na economia. A expectativa pelo espaço da mulher no mercado está ainda maior, com uma presi- dência feminina. “A entrada de uma presidente mulher no governo foi uma alavancada para a sociedade. Isso vai nos ajudar muito, na valori- zação, na autoconfiança. Eu acredito que a presidente Dil- ma Rousseff vá fazer grandes políticas voltadas para mulhe- res”, contou Cleide. (A.S.) g Região conta com 259,7 mil trabalhadores nas indústrias de todos os setores

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Rudge Ramos Jornal - Edição nº 962 Publicada em 30/04/11

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Page 1: Muda perfil da indústria e do trabalhador no ABC

sábado - 30 de abril de 2011especial4 - Rudge Ramos Jornal

Em 2009, número de mulheres na indústria era de 13,7 mil

Fotos: ARQUIVo/RRJAmAndA Sequin

q Neste domingo (1º), é o Dia do Trabalho. A data, que será comemorada em São Bernardo e Santo André com diversos shows (veja progra-mação ao lado), tem um sig-nificado especial para o ABC. Indústrias, trabalhadores, sindicatos e greves tiveram um papel importante na história do desenvolvimento da região e chegam a ser considerados fontes de identidade e reco-nhecimento.

As primeiras indústrias começaram a ser instaladas na década de 30. De lá para cá, muita coisa mudou. Cri-ses econômicas, mudanças de governo, moeda, alterações no sistema produtivo e nas relações trabalhistas, avanços tecnológicos, entre outros fa-tores, contribuíram para uma mudança no perfil da classe operária.

“Atualmente, as fábricas são organizadas em produção em série, baseadas no modelo toyotista. Antigamente, você tinha mais pessoas traba-lhando, porque precisava de um contingente maior. Hoje, também com as tecnologias e as privatizações, o número de trabalhadores diminuiu”, explicou a economista da sub-

Muda perfil da indústria e do trabalhador no ABC

seção Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Zeíra Camargo de Santana.

De acordo com Zeíra, a classe operária na região era muito forte no período anterior a 1989, antes da abertura eco-nômica. No ano em questão, dos 602 mil empregos formais

uma alta inflacionária, tam-bém contribuiu para a queda do número de trabalhadores. “Em três anos, eram 113 mil trabalhadores com carteira assinada a menos, só aqui no

do ABC, 363 mil eram da indústria de transformação, representando 60% dos em-pregados.

A crise durante o governo Collor, de 1989 a 1992, com

ABC. Destes, 107 mil foram na indústria. Em 1999, está-vamos com 188 mil empregos. O número caiu praticamente pela metade”, falou. Hoje, a região possui 259,7 mil traba-lhadores na indústria, segun-do o próprio Dieese.

PERFIL DO TRABALHADOREntre os altos e baixos no

número de empregos na indús-tria, o perfil dos profissionais que atuam na área também foi alterado. Entre o período da dé-cada de 60, quando as fábricas se firmaram no ABC, e os dias atuais, a profissão deixou de ser apenas para as camadas mais baixas da sociedade.

Um exemplo disso foi a me-lhora na formação profissional dos metalúrgicos do ABC. Da-dos divulgados pelo sindicato da categoria mostram que, em 1994, a classe era representa-da por 48% dos trabalhadores com ensino fundamental in-completo. Em 2009, a escola-ridade melhorou, apenas 8% detinham o ensino fundamen-tal incompleto, 42% tinham ensino médio concluído e 20% apresentavam ensino superior completo.

Um estudo divulgado em 2010 pela Subseção Dieese mostra que o salário para quem trabalha na indústria tem um valor médio de R$ 2.500. A classe metalúrgica ganha cerca de R$ 3.500. O menor salário na região é o do setor de comércio, em média R$ 1.120.

Nas metalúrgicas, a faixa etária acima de 40 anos re-presenta 38,6% do total. Os jovens, até 24 anos, são ape-nas 14%. g

q As mulheres têm con-quistado cada vez mais espaço no setor industrial, represen-tam hoje quase 20% do total. Em 2000, havia 10 mil mulhe-res só na classe metalúrgica. Em 2009, o número aumen-tou para 13,7 mil. Elas fica-ram mais jovens e instruídas, chegando a superar os homens em nível de escolaridade. Ainda ganham um salário menor, mas no ABC são melhor remu-neradas do que outras da ca-tegoria, comparadas ao Estado de São Paulo e ao Brasil.

Para a coordenadora do

Mulheres já são 20% dos trabalhadores da indústria

coletivo das mulheres da CUT ABC e diretora do Sindica-to dos Rodoviários do ABC, Cleide Tameirão, o destaque da classe feminina pode ser o re-sultado da vontade de construir uma sociedade mais igualitária. “A nossa luta é justamen-te essa, salário igual para trabalho igual. Mas ainda é um trabalho de formiguinha. A gente busca muito uma política afirmativa, promo-vendo ações, discussões. Em toda oportunidade, nós le-vantamos essa bandeira pela igualdade”, disse.

Ainda segundo a coordena-dora, a diferença de salário, en-tre homens e mulheres, depen-de do setor. “No transporte, por exemplo, onde é a minha base de sustentação, não tem essa diferença. O salário é o mesmo para homens e mulheres. Mas em outros ramos existe uma grande desigualdade.

Quanto à questão edu-cacional, as mulheres estão na frente. Segundo dados do Dieese, 59,2% possuem en-sino superior completo nas montadoras de São Bernardo. Os homens atingiram 20% no mesmo quesito.Nas empresas de base, com exceção das mon-tadoras, o nível de instrução é

semelhante para ambos. Entre 1994 e 2002, o saldo

de empregos para mulheres metalúrgicas foi negativo, qua-se cinco mil demissões. No en-tanto, entre 2002 e 2009, foram criados 3,1 mil novos postos de trabalho, um ganho de até 11 milhões na economia.

A expectativa pelo espaço da mulher no mercado está ainda maior, com uma presi-dência feminina. “A entrada de uma presidente mulher no governo foi uma alavancada para a sociedade. Isso vai nos ajudar muito, na valori-zação, na autoconfiança. Eu acredito que a presidente Dil-ma Rousseff vá fazer grandes políticas voltadas para mulhe-res”, contou Cleide. (A.S.) g

Região conta com 259,7 mil trabalhadores nas indústrias de todos os setores