muamuiro, guido - um olhar sobre a epistemologia - citação
TRANSCRIPT
-
7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao
1/7
UM OLHAR SOBRE AEPISTEMOLOGIA
segunda-feira, 4 de maio de 2015
A REFORMA DOS CURRICULA ESCOLARES: UM DESCONTINUISMOEPISTEMOLOGICO?
INTRODUO
Este trabalho intitulado A Reforma dos curriculaescolares: um descontinuismo
epistemolgico? responde aos planos curriculares do curso de mestrado em
Educao/ Ensino de Filosofia. O propsito deste estudo compreender a
noo de reforma curricular e sua influncia na manuteno dos conhecimentos
tendo como base as teorias epistemolgicas modernas sobre o progresso do
conhecimento.
Por meio de levantamento bibliogrfico tentaremos compreender se a reforma
curricular garante a continuidade ou descontinuidade dos conhecimentos do
currculo reformulado. H dois aspectos que iro nortear o nosso estudo: i) as
noes sobre teorias da reforma curriculares e ii) as abordagens sobre a
epistemologia moderna.
O trabalho compreender basicamente trs partes, a saber, i) a reforma
curricular, ii) aspectos sobre a epistemologia moderna, (com realce ao
descontinuismo epistemolgico) e, finalmente, a reforma dos curricula
escolares: um descontinuismo epistemolgico?
1. A Reforma curricular
As instituies de ensino, comprometidas com a formao de um Homem ideal,
tm vindo a reformular seus contedos para torn-los mais adequados s
exigncias do momento. Esta prtica faz com que seus planos curriculares
conheam algumas inovaes. Se usarmos a terminologia da epistemologia
moderna, estas inovaes podem ser analisadas de acordo com as trs
perspectivas que respondiam a questo sobre a evoluo da cincia, a saber,
continusmo, descontinusmo e anarquismo, como veremos adiante.
Quando se engendra uma reforma curricular pretende-se sobretudo renovar os
saberes escolares e da sociedade em geral. Contudo, muito importante
reflectir profundamente o sentido da tal reforma, o porqu dessa reforma neste
momento, bem como as prioridades a ter em conta.
Vieira (2002) define dois aspectos como estando na origem duma reforma
curricular: i) caducidade de alguns conhecimentos, o que determina a sua
reviso continuada e ii) necessidade epistemolgica, pela existncia de
diversas disciplinas e contedos, como fruto da acumulao de saberes que
podem originar noutros saberes ou que podem necessitar de se actualizados.
O currculo deve ser visto como instrumento sem o qual no se orientam todas
as prticas tendentes formao da sociedade, particularmente das camadas
jovens isto concorre para que haja a necessidade de todos os currculos serem
flexveis para responderem ao tipo de homem que se pretende, ao homem ideal
e por isso mesmo que um currculo deve ser centrado no aluno.
Quando se faz uma reforma curricular deve-se repensar e identificar nos
saberes essenciais e julgados necessrios a todos os formados como garantes
para o homem do amanha. O currculo pode ser o garante para a boa insero
social do homem. O que se define como contedo para aprendizagem contribui
para a formao do homem que se pretende ter na sociedade.
Portanto, a continuidade ou descontinuidade dos contedos na reformulao
Guido Muamuiro
Seguir 49
Mestrando em Educaocom especializao emEnsino de Filosofia Pela
Universidade Pedaggica de Moambique.Tem a graduao em Ensino de Filosofia(2011) pela UP. Docente da UP- Quelimanedesde 2013.Lecciona as cadeiras de Epistemologia,Filosofia da Pos-modernidade.
Trabalhou como docente de Introduo aFilosofia.Tem colaborado em Organizaes daSociedade civil nos projectos sobre a defesados direitos humanos, promoo dacidadania.Suas reas de pesquisa so Epistemologia esaberes locais.
Ver o meu perfil completo
Acerca de mim
2015 (2)
Maio (2)
A REFORMA DOSCURRICULA ESCOLARES: UMDESCONTINUI...
GuidoPaulino MuamuiroA legitimidadedas epistemolo...
Arquivo do blogue
1 mais Prximo blog Criar um blog Login
http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/2015/05/a-redorma-dos-curricula-um.html
http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/https://www.blogger.com/https://www.blogger.com/home#createhttps://www.blogger.com/next-blog?navBar=true&blogID=8362924447826304672https://www.blogger.com/http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/2015/05/guidopaulino-muamuiro-legitimidade-das_3.htmlhttp://guidomuamuiro.blogspot.com.br/2015/05/a-redorma-dos-curricula-um.htmlhttp://guidomuamuiro.blogspot.com.br/2015_05_01_archive.htmlhttp://void%280%29/http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/search?updated-min=2015-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2016-01-01T00:00:00-08:00&max-results=2http://void%280%29/https://plus.google.com/106792130845986844485https://plus.google.com/106792130845986844485http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/ -
7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao
2/7
curricular devem ser repensados para que no sejam postos em causa os
valores do homem que se pretende ter na sociedade. H necessidade de
reflectir quais os conhecimentos que devem orientar o homem que a sociedade
o tenha como homem ideal.
A reforma curricular deve olhar para todos os aspectos que interessam a vida
do homem de uma forma individual ou colectiva. Lopes, citado por Guessa e
Ranguetti (2011:4), defende quepelas mudanas curriculares, o poder central de um pas constri a
positividade de uma reforma visando a sua legitimao as prticas
curriculares anteriores reforma so negadas e/ou criticadas como
desactualizadas de forma a substituir o discurso favorvel ao que serimplementado: mudana nas polticas educacionais visando a constituio de
diversas identidades pedaggicas.
A reforma curricular ou deve ser acompanhada por aquilo que so as
aspiraes de um povo o currculo deve preocupar-se para os aspectos que os
membros de uma sociedade querem ver inseridos no processo de ensino.
Numa reforma nota-se sempre uma tenso entre o conhecimento novo e o
anterior aqui h resistncia dos conhecimentos que se pretendem ultrapassar,
mas h sempre necessidade de examinar os conhecimentos novos, ou seja, as
novas iniciativas.
2. Aspectos sobre a Epistemologia Moderna
Quando nos referimos da epistemologia queremos, basicamente, nos debruar
sobre o estudo da produo de conhecimento. E neste trabalho, quando
falamos sobre a produo de conhecimento ou da cincia olhamos as principais
ideias que aliceraram a epistemologia do sculo XX.
Pombo (s/d: 5) define a epistemologia como o estudo crtico dos princpios, das
hipteses e dos resultados das diversas cincias. A epistemologia trata-se de
um estudo que exige uma constante actualizao e contextualizao, ou seja,
ela fica sempre alicerada nos pressupostos discursivos de uma poca ou de
uma sociedade a epistemologia sempre uma forma de encarar o mundo.
Desta feita, encontramos algum paralelismo entre a epistemologia e a reforma
curricular: quer a epistemologia quer a reforma curricular ambas esto
preocupadas com a constante actualizao e contextualizao do
conhecimento. Trata-se de formas contextualizadas.
dentro do debate da epistemologia moderna que se desenvolve a discusso
sobre os procedimentos para o progresso da cincia. Esta discusso coincide
com o momento em que Thomas Kuhn (descontinusmo), Karl Popper
(continusmo) e Feyerabend (anarquismo) respondem a questo sobre a
evoluo ou progresso da cincia. Estes autores debruaram-se sobre os
procedimentos de aquisio de conhecimentos.
Kuhn ao fazer o seu olhar sobre o progresso da cincia, distanciando-se da
perspectiva acumulativa, defende a perspectiva revolucionria pois no seu
entender a cincia desenvolve-se mediante a ruptura do paradigma.
Duhem e Popper so os pensadores que olham o progresso do conhecimento
sob ponto de vista continusta. Mesmo que se admita esta posio continusta
popperiana, importante compreender como concili-la sua teoria
falsificacionista tendo em conta que alm de defender o falsificacionismo ele
advoga a linearidade do progresso do conhecimento, ou seja, ele concilia o
revolucionarismo do continusmo
Antes de nos debruarmos sobre a relao entre o continusmo e
falsificacionismo em Karl Popper necessrio ter presente s 4 diferentes
formas em que se expe o continusmo, como refere Duhem citado por Leite, a
saber: epistemolgico, filosfico, metodolgico e historiogrfico.
O continusmo filosfico est relacionado viso filosfica de histria e trata-se
de uma concepo segundo a qual o conhecimento em sua evoluo jamais
conhece saltos bruscos e que nenhuma doutrina criada a partir do nada.
O continusmo epistemolgico diz respeito continuidade entre conceitos e leis
na cincia. O continusmo metodolgico visto sob duas perspectivas:
normativa e descritiva ao nvel normativo definido como norma metodolgica
que guia o prprio trabalho cientfico sob ponto de vista descritivo entende-se
que na histria nem sempre houve revolues no mtodo.
O continusmo historiogrfico trata da possibilidade da existncia de revolues
cientficas (Duhem Apud Leite, 2012: 256). Assim, entende-se de que forma
-
7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao
3/7
uma revoluo possvel no continusmo. Ora, no entender de Karl Popper, a
cincia evolui mediante um processo de falsificao de conhecimentos. A
cincia sendo progressiva resulta de acrscimo de conhecimentos e isto
processa-se linearmente ao longo do tempo. Contudo, Popper no defende a
acumulao de conhecimento como critrio do progresso do conhecimento.
De certa forma o continusmo de Karl Popper est, igualmente, relacionado com
as revolues cientficas visto que no continusmo defende-se que as
revolues so, sim, possveis, mas estas so longamente preparadas por um
lento processo, por um lento esforo. O progresso contnuo para Popper uma
caracterstica essencial do conhecimento. Embora advogue o continusmo,Popper entende que a evoluo do conhecimento ocorre mediante um lento
processo de substituio de teorias cientficas por outras cada vez mais
satisfatrias, ou seja, com maior capacidade explicativa, maior poder de
previso.
Chalmers, citado por Massoni, seguindo os ideais de Popper defendia que
quando nos referimos ao falsificacionismoa cincia comea com problemas e estes problemas esto associados
explicao do comportamento de alguns aspectos do mundo ou do universo.
Hipteses falsificveis so propostas pelos cientistas como soluo para o
problema. As hipteses conjecturadas so ento criticadas e testadas e
algumas sero rapidamente eliminadas. Outras podem se revelar mais bem-
sucedidas. Estas devem ser submetidas a crticas e testes mais rigorosos.
Quando uma hiptese que passou por uma ampla gama de testes rigorosos
com sucesso eventualmente falsificada, um novo problema emergiu. Este
novo problema pede a inveno de novas hipteses, seguindo-se a crticas e
testes renovados, e assim o processo continua indefinidamente.
Portanto, Duhem, Popper e os outros continustas, entendem que no existe na
histria rupturas bruscas, como as defendidas pelos revolucionrios Kuhn e
Bachelard. Na ptica dos continustas, a histria de uma cincia uma
evoluo e esta evoluo lenta.
De uma forma geral, os continustas apegam-se tradio, olham no passado
como um momento de referncia. A ttulo de exemplo, a fidelidade de Duhem
ao continusmo, deve-se em parte ao respeito tradio como necessidade de
procurar no passado a filiao das teorias e ainda de ver a continuidade uma
garantia maior de verdade do que o presente nas ordens casuais (Idem: 268).
J para Feyerabend o anarquismo que orienta a evoluo da cincia. nasua obra Contra o mtodo onde Paul K. Feyerabend apresenta o seu
anarquismo epistemolgico como uma contestao da existncia de um mtodo
que contenha princpios firmes, imutveis e absolutamente vinculantes que
sejam guia na actividade cientfica, de acordo com Reale e Antiseri (2006: 184).
Feyerabend entende que se quisermos que a cincia avance, precisamos violar
as regras do mtodo tais violaes no se tratam de acontecimentos
acidentais, mas sim necessrios para o progresso cientfico, ou seja, para o
aumento do saber.
Portanto, sendo estas perspectivas as que se preocupam em responder o como
se processa a evoluo da cincia, queremos associar a progresso da cincia
reforma dos curricula escolares, para avaliarmos qual dos modelos sobre a
evoluo cincia se aplica a forma como os conhecimentos se adquirem, se porruptura com os anteriores, se por continuao ou ainda se por um processo
anrquico.
A ideia de ruptura ou como forma para a progresso do conhecimento fez com
que Kuhn e Bachelard fossem os epistemlogos modernos mais lidos. Assim, a
noo de ruptura ou mudana de paradigma (Kuhn) ou ainda de obstculo
epistemolgico (Bachelard) so as ideias basilares do descontinuismo
moderno. Com o descontinuismo rompe-se a linearidade do desenvolvimento
apresentado por Karl Popper.
Continusmo e descontinusmo na epistemologia moderna tm como
preocupao fundamental o progresso da cincia. De acordo com os
defensores continustasa cincia progride sem sobressaltos na medida em que
cada teoria contm os fragmentos, as bases ou os embries da teoria seguinte.O continusta tende, portanto, a considerar as mudanas qualitativas como
resultantes de um acrscimo quantitativo, que se constitui de uma forma
uniforme. Aqui o conhecimento sempre visto numa escala ascendente.
Portanto, para o continusmo, O progresso ser ento uma lenta e contnua
-
7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao
4/7
aquisio de novas verdades e uma proposio mais recente tem as suas
razes em teorias mais antigas e, por sua vez, abre para o futuro um leque de
possibilidades. J para os descontinustas a cincia progride atravs de
rupturas, por negao de teorias anteriores.
Estas epistemologias esto, especialmente, atentas s rupturas, no aquilo que
liga as teorias entre si mas aquilo que as separa. O progresso dos
conhecimentos cientficos faz-se atravs de rupturas, isto , atravs de grandes
alteraes qualitativas que no podem ser reduzidas a uma lgica de acrscimo
de quantidades faz-se atravs de momentos em que se quebra a tradio e em
que esta substituda por uma nova teoria (cf. Pombo, s/d: 6).Ao relacionarmos a reforma curricular e as propostas epistemolgicas
modernas pretendemos perceber o que propicia o desenvolvimento do
conhecimento, se as descontinuidades ou continuidades.
2. 1. O Descontinuismo epistemolgico
O descontinuismo epistemolgico representado, dentre outros tericos, por
Thomas Kuhn e Gaston Bachelard. Para Bachelard, citado por Saito (2013:
184), o acto de conhecer d-se contra um conhecimento anterior, superando o
que, no prprio esprito, obstculo espiritualizao assim, aceder cincia
rejuvenescer espiritualmente e aceitar uma brusca mutao que contradiz o
passado. A cincia na perspectiva bachelardiano s avana graas s
contradies com o conhecimento anterior, graas s rectificaes de errosanteriores.
A noo de obstculo epistemolgico introduz Bachelard ao grupo dos tericos
do descontinuismo. Buscar obstculos epistemolgicos procurar aquilo que
pode fazer com que os cientistas desenvolvam o conhecimento cientfico capaz
de fundamentar suas propostas curriculares e de ensino, conforme refere Saito
(Idem: 186). Bachelard aparece na histria da epistemologia como o terico que
valoriza as contradies internas do discurso cientfico.
Thomas Kuhn apresenta a ideia de ruptura de uma forma mais radical, em
relao a Bachelard ao defender que as grandes mudanas conceituais
(revolues cientficas) que acompanham o desenvolvimento do
conhecimento ou da cincia. muito importante ter presente que a
Epistemologia kuhniana desenvolveu-se numa altura em que o debate sobre anatureza do conhecimento estava voltado para as questes de ordem
metodolgica.
3. A Reforma dos curricula escolares: um descontinuismo
epistemolgico?
Ao abordarmos os aspectos sobre a epistemologia moderna entendemos que
existe nela um discurso sobre como os conhecimentos progridem, e que, de
certa forma, pode favorecer o entendimento sobre os conhecimentos mantidos
depois de uma reforma curricular. Numa reforma curricular h aspectos que
transitam do antigo para o novo currculo, como tambm h aspectos que a
sociedade os retira julgando-os desajustados.
Neste ensaio pretendemos reflectir sobre a continuidade ou descontinuidade
nos conhecimentos dos planos curriculares de ensino. Falar da descontinuidade
dos planos curriculares , sobretudo, inserir as abordagens bachelardianas e
kuhnianas no debate sobre a ruptura nos contedos numa reforma curricular.
Pinho (2013: 21) refere que ruptura e continuidade destacam-se na elaborao
dos currculos pelo facto de nele distinguirem-se aspectos de continuidade
(aspectos que devem permanecer) e outros de descontinuidade (aspectos que
devem ser ultrapassados) tendo em conta o homem que a sociedade quer.
As ansiedades do homem de uma determinada sociedade so as que devem
basear a reformulao dos curriculaescolares e nos curriculaescolares onde
deve constar aquilo que o homem considera ideal para o seu tempo e para a
sua sociedade. Um currculo deve ser adequado escola.
Uma reforma curricular acompanhada por uma gama de aces: mudana de
leis, mudana nas formas de financiamento, mudana na forma de gesto
escolar, formas de avaliao, formao de professores, entre outras ora, todas
estas aces so de uma forma hbrida pelo facto de sempre haver algo dos
currculos passados que passa para o novo. Apesar deste hibridismo, nota-se
uma mudana nas polticas educativas pela preocupao que se tem num
-
7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao
5/7
determinado currculo: formar um homem ideal e competente. por isso que o
currculo aparece como sendo o centro, o elemento chave para todo o processo
educativo.
Num currculo h seleco e produo de saberes nele encontramos vises e
valores de uma cultura tidos como os imprescindveis para a educao, pois
como refere Lopes (2003: 4), toda a poltica curricular uma poltica cultural
pelo facto de o currculo ser uma seleco de saberes de uma cultura e, ainda,
um campo conflituoso da produo da cultura, o embate entre sujeitos,
concepes de conhecimentos, formas de entender e construir o mundo.
Sob o ponto de vista das teorias tradicionais de educao e do currculo, atransmisso dos conhecimentos no rigorosamente problematizada pelo facto
de se reconhecer a eficcia e segurana dos contedos ensinados ou
curriculares. Ainda assim, h o entendimento segundo o qual nem todo o
conhecimento deve ser ensinado deve-se, pois, ensinar o essencial para
garantir a herana cultural.
Taba, citado por Lopes (1999:88), divide os que discutem a funo social da
educao em dois grupos:
a) os que consideram a herana cultural como foco principal argumentando que
as tradies culturais possuem razes de continuidade dos saberes requeridos
s novas geraes, elaborados no passado, apoiados na razo e na
experincia. Esta perspectiva, sem excluir a criatividade e mudana para os
novos conhecimentos, funda-se num pressuposto continusta eb) os que fundamentalmente olham no papel criativo e de mudana da
educao so aqueles que defendem a formao para o progresso, para a
mudana e resoluo de problemas imediatos.
Nestas duas perspectivas (de continuidade e de mudana) h uma seleco de
contedos a serem ensinados e tais conhecimentos devem sempre responder
aos objectivos previamente definidos.
Portanto, se o currculo trata-se de um conjunto de conhecimentos previamente
seleccionados que garantem a manuteno cultural, h o que se chama
tradio selectiva, isto , processo mediante o qual a cultura dominante
transmitida como o que traz o conhecimento universal sistematizado, como
refere Lopes, citando Williams:
as instituies educacionais so em geral os principais agentes detransmisso de uma cultura dominante efectiva, e esta agora uma
importante actividade econmica, bem como cultural na verdade as duas
simultaneamente. Alm do mais, a um nvel filosfico, ao verdadeiro nvel da
teoria e ao nvel da histria das diversas prticas, h um processo que chamo
tradio selectiva: o qual, nos termos de uma cultura dominante efectiva,
sempre dissimulado como tradio, o passado significativo. Mas a questo
sempre a selectividade, a forma em que, de todo um campo possvel do
passado e presente, escolhem-se como importantes determinados
significados e prticas, ao passo que outros so negligenciados e excludos.
De modo ainda mais decisivo, alguns desses significados so reinterpretados,
diludos ou colocados em formas que apoiam ou ao menos no contradizem
outros elementos dentro da cultura dominante efectiva. O processo de
educao, os processos de uma formao social muito mais ampla em
instituies como a famlia, as definies e a organizao prtica do trabalho,
a tradio selectiva a um nvel terico e intelectual: todas essas foras estoimplicadas num contnuo fazer e refazer de uma cultura dominante efectiva, e
delas, enquanto experienciadas, enquanto integradas em nossa vida, depende
a realidadeLopes (Idem: 88).
H sempre uma entidade que se assume como o garante da seleco dos
contedos e os julga pertinentes ou indispensveis para a sociedade essa
entidade sobretudo dominante, cabendo a ela escolher as prticas educativas
necessrias e negligencia outras, e assim, vo se fazendo as reformas dos
currculos escolares.
O actual currculo aparece como sendo o que de uma forma determinada se
alicera na construo de competncias contudo, de uma forma geral, um
qualquer currculo tem como fundamento criar competncias aos formados. Se
a finalidade de qualquer processo educativo formar o homem ideal, esta
preocupao acompanhada pela formao de competncias. Contudo, nosactuais currculos quando nos referimos a um currculo baseado em
competncias pretendemos descrever o modelo de educao apenas baseado
ou que responde s tendncias construtivistas. As abordagens construtivistas
centram-se no educando e no em objectivos (como no modelo educativo
-
7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao
6/7
tradicional).
Embora as teorias epistemolgicas descontinustas se fundamente na negao
do conhecimento anterior, isto no implica rigorosamente o abandono total
daquele conhecimento. O descontinusmo uma forma de reordenar o
conhecimento anterior como forma de reintroduzir uma nova racionalidade.
Desta forma, a filosofia do no, a que se circunscrevem as filosofias
descontinustas, trata-se de uma nova racionalidade que limita a razo anterior,
mas que necessariamente no implica o seu abandono. Admite-se, pois, a
convivncia plural das diferentes teorias num determinado currculo.
Portanto, num currculo h sempre conciliao e/ou reformulao entre oscontedos curriculares anteriores e os do currculo em vigor. A reforma
curricular no nega em totalidade os contedos, mas, sim, os reformula tendo
em conta as novas exigncias da sociedade.
Com Thomas Kuhn e Gaston Bachelard percebemos que a noo de ruptura do
conhecimento uma nova de assumir e compreender toda os procedimentos
da construo do conhecimento a partir da recorrncia histrica, isto , o
conhecimento desenvolve-se passando por constantes rupturas.
CONCLUSO
Continusmo e descontinusmo epistemolgico nos curricula escolares?- eis a
questo que nos colocamos partida. Depois de analisarmos as propostas
tericas sobre a reforma curricular entendemos que se regista um hibridismo,ou seja, h aspectos de continuidade e outros de ruptura ou mudana que
ocorrem aquando da reforma curricular.
Para o continusmo, um conhecimento provm do outro, por adequaes ou
correces contnuas. As teorias continustas so sobretudo conservadoras. O
que fundamenta os currculos escolares a formao de um homem ideal e
competente, aspectos sempre diferentes de uma poca para a outra, de uma
sociedade para a outra. A noo de ruptura no desconstri a ideia de
acumulao de conhecimentos e no rompe necessariamente com as noes
de linearidade na construo do conhecimento. Numa reforma curricular, o
passado traz uma referncia a aceitar ou a questionar para a construo do
novo conhecimento e ser sempre o ponto de partida que dar um novo
significado aos contedos. Portanto, mudana e novidade confluem noscontedos ora reformulados. Numa reforma curricular h aspectos que
transitam do antigo para o novo currculo, como tambm h aspectos que a
sociedade os retira julgando-os desajustados.
BIBLIOGRAFIA
GUESSA, Vernica e RANGUETTI, Diva S. O currculo e o ensino superior:
princpios epistemolgicos para design contemporneo. Revista e-curriculum.
So Paulo v 7 Agosto de 2011.
LEITE, Fabio Rodrigo. Um estudo sobre a Filosofia de Histria e sobre a
historiografia da cincia de Pierre Duhem. Tese de doutoramento em Filosofia.
Universidade de So Paulo. So Paulo. 2012
LOPES, Alice R. Casimiro. Conhecimento escolar: cincia e quotidiano. Ed
Uerj. Rio de Janeiro. 1999.
LOPES, Alice R. Casimiro. Continuidade ou mudana de rumos? 26 Simpsio
anual de ANPEd. In Revista Brasileira de Educao. 2003
PINHO, Rita Patrcia Gomes. Professor de dupla Habilitao: (Des)
continuidades entre 1 e 2 ciclos do Ensino Bsico.Dissertao ao Mestrado.
Porto 2013.
POMBO, Olga. Apontamentos sobre o conceito e enquadramento da
diversidade das concepes da cincia. s/d. Acesso em
categorias%20da%epistemologia.htm em 09 de Fevereiro de 2015, pelas
21horas e 30 minutos.REALE, Giovanni e ANTISERI. Dario, Histria de filosofia: de Freud actualidade. Vol 7.S.Paulo, Ed. Paulinas, 2006.
SAITO, Fumikazi. Continuidade e descontinuidade: o processo de construodo conhecimento cientfico na histria da cincia. Revista de REFEBA-
Educao e contemporaneidade. Salvador v.22 n 39 pp 183-194, Janeiro
Junho 2013
VIEIRA, Maria Manuel. Nova Reforma Curricular e do ensino secundrio:
-
7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao
7/7
Mensagem antigaPgina inicial
Subscrever: Enviar comentrios (Atom)
Publicada por Guido Muamuiro (s) 08:18
questes para um debate. Actas do Encontro Temtico Intercongresso. APS:
Oeiras. 2002.
+1 Recomendar este URL no Google
Introduza o seu comentrio...
Comentar como: Conta do Goo
Publicar
Pr-visualiza
Sem comentrios:
Enviar um comentrio
Modelo Simple. Tecnologia do Blogger.
https://www.blogger.com/https://www.blogger.com/share-post.g?blogID=8362924447826304672&postID=1139149326341884744&target=pinteresthttps://www.blogger.com/share-post.g?blogID=8362924447826304672&postID=1139149326341884744&target=facebookhttps://www.blogger.com/share-post.g?blogID=8362924447826304672&postID=1139149326341884744&target=twitterhttps://www.blogger.com/share-post.g?blogID=8362924447826304672&postID=1139149326341884744&target=bloghttps://www.blogger.com/share-post.g?blogID=8362924447826304672&postID=1139149326341884744&target=emailhttp://guidomuamuiro.blogspot.com.br/2015/05/a-redorma-dos-curricula-um.htmlhttps://plus.google.com/106792130845986844485http://guidomuamuiro.blogspot.com/feeds/1139149326341884744/comments/defaulthttp://guidomuamuiro.blogspot.com.br/http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/2015/05/guidopaulino-muamuiro-legitimidade-das_3.html