muamuiro, guido - um olhar sobre a epistemologia - citação

Upload: carlo-fuentes

Post on 20-Feb-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao

    1/7

    UM OLHAR SOBRE AEPISTEMOLOGIA

    segunda-feira, 4 de maio de 2015

    A REFORMA DOS CURRICULA ESCOLARES: UM DESCONTINUISMOEPISTEMOLOGICO?

    INTRODUO

    Este trabalho intitulado A Reforma dos curriculaescolares: um descontinuismo

    epistemolgico? responde aos planos curriculares do curso de mestrado em

    Educao/ Ensino de Filosofia. O propsito deste estudo compreender a

    noo de reforma curricular e sua influncia na manuteno dos conhecimentos

    tendo como base as teorias epistemolgicas modernas sobre o progresso do

    conhecimento.

    Por meio de levantamento bibliogrfico tentaremos compreender se a reforma

    curricular garante a continuidade ou descontinuidade dos conhecimentos do

    currculo reformulado. H dois aspectos que iro nortear o nosso estudo: i) as

    noes sobre teorias da reforma curriculares e ii) as abordagens sobre a

    epistemologia moderna.

    O trabalho compreender basicamente trs partes, a saber, i) a reforma

    curricular, ii) aspectos sobre a epistemologia moderna, (com realce ao

    descontinuismo epistemolgico) e, finalmente, a reforma dos curricula

    escolares: um descontinuismo epistemolgico?

    1. A Reforma curricular

    As instituies de ensino, comprometidas com a formao de um Homem ideal,

    tm vindo a reformular seus contedos para torn-los mais adequados s

    exigncias do momento. Esta prtica faz com que seus planos curriculares

    conheam algumas inovaes. Se usarmos a terminologia da epistemologia

    moderna, estas inovaes podem ser analisadas de acordo com as trs

    perspectivas que respondiam a questo sobre a evoluo da cincia, a saber,

    continusmo, descontinusmo e anarquismo, como veremos adiante.

    Quando se engendra uma reforma curricular pretende-se sobretudo renovar os

    saberes escolares e da sociedade em geral. Contudo, muito importante

    reflectir profundamente o sentido da tal reforma, o porqu dessa reforma neste

    momento, bem como as prioridades a ter em conta.

    Vieira (2002) define dois aspectos como estando na origem duma reforma

    curricular: i) caducidade de alguns conhecimentos, o que determina a sua

    reviso continuada e ii) necessidade epistemolgica, pela existncia de

    diversas disciplinas e contedos, como fruto da acumulao de saberes que

    podem originar noutros saberes ou que podem necessitar de se actualizados.

    O currculo deve ser visto como instrumento sem o qual no se orientam todas

    as prticas tendentes formao da sociedade, particularmente das camadas

    jovens isto concorre para que haja a necessidade de todos os currculos serem

    flexveis para responderem ao tipo de homem que se pretende, ao homem ideal

    e por isso mesmo que um currculo deve ser centrado no aluno.

    Quando se faz uma reforma curricular deve-se repensar e identificar nos

    saberes essenciais e julgados necessrios a todos os formados como garantes

    para o homem do amanha. O currculo pode ser o garante para a boa insero

    social do homem. O que se define como contedo para aprendizagem contribui

    para a formao do homem que se pretende ter na sociedade.

    Portanto, a continuidade ou descontinuidade dos contedos na reformulao

    Guido Muamuiro

    Seguir 49

    Mestrando em Educaocom especializao emEnsino de Filosofia Pela

    Universidade Pedaggica de Moambique.Tem a graduao em Ensino de Filosofia(2011) pela UP. Docente da UP- Quelimanedesde 2013.Lecciona as cadeiras de Epistemologia,Filosofia da Pos-modernidade.

    Trabalhou como docente de Introduo aFilosofia.Tem colaborado em Organizaes daSociedade civil nos projectos sobre a defesados direitos humanos, promoo dacidadania.Suas reas de pesquisa so Epistemologia esaberes locais.

    Ver o meu perfil completo

    Acerca de mim

    2015 (2)

    Maio (2)

    A REFORMA DOSCURRICULA ESCOLARES: UMDESCONTINUI...

    GuidoPaulino MuamuiroA legitimidadedas epistemolo...

    Arquivo do blogue

    1 mais Prximo blog Criar um blog Login

    http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/2015/05/a-redorma-dos-curricula-um.html

    http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/https://www.blogger.com/https://www.blogger.com/home#createhttps://www.blogger.com/next-blog?navBar=true&blogID=8362924447826304672https://www.blogger.com/http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/2015/05/guidopaulino-muamuiro-legitimidade-das_3.htmlhttp://guidomuamuiro.blogspot.com.br/2015/05/a-redorma-dos-curricula-um.htmlhttp://guidomuamuiro.blogspot.com.br/2015_05_01_archive.htmlhttp://void%280%29/http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/search?updated-min=2015-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2016-01-01T00:00:00-08:00&max-results=2http://void%280%29/https://plus.google.com/106792130845986844485https://plus.google.com/106792130845986844485http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/
  • 7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao

    2/7

    curricular devem ser repensados para que no sejam postos em causa os

    valores do homem que se pretende ter na sociedade. H necessidade de

    reflectir quais os conhecimentos que devem orientar o homem que a sociedade

    o tenha como homem ideal.

    A reforma curricular deve olhar para todos os aspectos que interessam a vida

    do homem de uma forma individual ou colectiva. Lopes, citado por Guessa e

    Ranguetti (2011:4), defende quepelas mudanas curriculares, o poder central de um pas constri a

    positividade de uma reforma visando a sua legitimao as prticas

    curriculares anteriores reforma so negadas e/ou criticadas como

    desactualizadas de forma a substituir o discurso favorvel ao que serimplementado: mudana nas polticas educacionais visando a constituio de

    diversas identidades pedaggicas.

    A reforma curricular ou deve ser acompanhada por aquilo que so as

    aspiraes de um povo o currculo deve preocupar-se para os aspectos que os

    membros de uma sociedade querem ver inseridos no processo de ensino.

    Numa reforma nota-se sempre uma tenso entre o conhecimento novo e o

    anterior aqui h resistncia dos conhecimentos que se pretendem ultrapassar,

    mas h sempre necessidade de examinar os conhecimentos novos, ou seja, as

    novas iniciativas.

    2. Aspectos sobre a Epistemologia Moderna

    Quando nos referimos da epistemologia queremos, basicamente, nos debruar

    sobre o estudo da produo de conhecimento. E neste trabalho, quando

    falamos sobre a produo de conhecimento ou da cincia olhamos as principais

    ideias que aliceraram a epistemologia do sculo XX.

    Pombo (s/d: 5) define a epistemologia como o estudo crtico dos princpios, das

    hipteses e dos resultados das diversas cincias. A epistemologia trata-se de

    um estudo que exige uma constante actualizao e contextualizao, ou seja,

    ela fica sempre alicerada nos pressupostos discursivos de uma poca ou de

    uma sociedade a epistemologia sempre uma forma de encarar o mundo.

    Desta feita, encontramos algum paralelismo entre a epistemologia e a reforma

    curricular: quer a epistemologia quer a reforma curricular ambas esto

    preocupadas com a constante actualizao e contextualizao do

    conhecimento. Trata-se de formas contextualizadas.

    dentro do debate da epistemologia moderna que se desenvolve a discusso

    sobre os procedimentos para o progresso da cincia. Esta discusso coincide

    com o momento em que Thomas Kuhn (descontinusmo), Karl Popper

    (continusmo) e Feyerabend (anarquismo) respondem a questo sobre a

    evoluo ou progresso da cincia. Estes autores debruaram-se sobre os

    procedimentos de aquisio de conhecimentos.

    Kuhn ao fazer o seu olhar sobre o progresso da cincia, distanciando-se da

    perspectiva acumulativa, defende a perspectiva revolucionria pois no seu

    entender a cincia desenvolve-se mediante a ruptura do paradigma.

    Duhem e Popper so os pensadores que olham o progresso do conhecimento

    sob ponto de vista continusta. Mesmo que se admita esta posio continusta

    popperiana, importante compreender como concili-la sua teoria

    falsificacionista tendo em conta que alm de defender o falsificacionismo ele

    advoga a linearidade do progresso do conhecimento, ou seja, ele concilia o

    revolucionarismo do continusmo

    Antes de nos debruarmos sobre a relao entre o continusmo e

    falsificacionismo em Karl Popper necessrio ter presente s 4 diferentes

    formas em que se expe o continusmo, como refere Duhem citado por Leite, a

    saber: epistemolgico, filosfico, metodolgico e historiogrfico.

    O continusmo filosfico est relacionado viso filosfica de histria e trata-se

    de uma concepo segundo a qual o conhecimento em sua evoluo jamais

    conhece saltos bruscos e que nenhuma doutrina criada a partir do nada.

    O continusmo epistemolgico diz respeito continuidade entre conceitos e leis

    na cincia. O continusmo metodolgico visto sob duas perspectivas:

    normativa e descritiva ao nvel normativo definido como norma metodolgica

    que guia o prprio trabalho cientfico sob ponto de vista descritivo entende-se

    que na histria nem sempre houve revolues no mtodo.

    O continusmo historiogrfico trata da possibilidade da existncia de revolues

    cientficas (Duhem Apud Leite, 2012: 256). Assim, entende-se de que forma

  • 7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao

    3/7

    uma revoluo possvel no continusmo. Ora, no entender de Karl Popper, a

    cincia evolui mediante um processo de falsificao de conhecimentos. A

    cincia sendo progressiva resulta de acrscimo de conhecimentos e isto

    processa-se linearmente ao longo do tempo. Contudo, Popper no defende a

    acumulao de conhecimento como critrio do progresso do conhecimento.

    De certa forma o continusmo de Karl Popper est, igualmente, relacionado com

    as revolues cientficas visto que no continusmo defende-se que as

    revolues so, sim, possveis, mas estas so longamente preparadas por um

    lento processo, por um lento esforo. O progresso contnuo para Popper uma

    caracterstica essencial do conhecimento. Embora advogue o continusmo,Popper entende que a evoluo do conhecimento ocorre mediante um lento

    processo de substituio de teorias cientficas por outras cada vez mais

    satisfatrias, ou seja, com maior capacidade explicativa, maior poder de

    previso.

    Chalmers, citado por Massoni, seguindo os ideais de Popper defendia que

    quando nos referimos ao falsificacionismoa cincia comea com problemas e estes problemas esto associados

    explicao do comportamento de alguns aspectos do mundo ou do universo.

    Hipteses falsificveis so propostas pelos cientistas como soluo para o

    problema. As hipteses conjecturadas so ento criticadas e testadas e

    algumas sero rapidamente eliminadas. Outras podem se revelar mais bem-

    sucedidas. Estas devem ser submetidas a crticas e testes mais rigorosos.

    Quando uma hiptese que passou por uma ampla gama de testes rigorosos

    com sucesso eventualmente falsificada, um novo problema emergiu. Este

    novo problema pede a inveno de novas hipteses, seguindo-se a crticas e

    testes renovados, e assim o processo continua indefinidamente.

    Portanto, Duhem, Popper e os outros continustas, entendem que no existe na

    histria rupturas bruscas, como as defendidas pelos revolucionrios Kuhn e

    Bachelard. Na ptica dos continustas, a histria de uma cincia uma

    evoluo e esta evoluo lenta.

    De uma forma geral, os continustas apegam-se tradio, olham no passado

    como um momento de referncia. A ttulo de exemplo, a fidelidade de Duhem

    ao continusmo, deve-se em parte ao respeito tradio como necessidade de

    procurar no passado a filiao das teorias e ainda de ver a continuidade uma

    garantia maior de verdade do que o presente nas ordens casuais (Idem: 268).

    J para Feyerabend o anarquismo que orienta a evoluo da cincia. nasua obra Contra o mtodo onde Paul K. Feyerabend apresenta o seu

    anarquismo epistemolgico como uma contestao da existncia de um mtodo

    que contenha princpios firmes, imutveis e absolutamente vinculantes que

    sejam guia na actividade cientfica, de acordo com Reale e Antiseri (2006: 184).

    Feyerabend entende que se quisermos que a cincia avance, precisamos violar

    as regras do mtodo tais violaes no se tratam de acontecimentos

    acidentais, mas sim necessrios para o progresso cientfico, ou seja, para o

    aumento do saber.

    Portanto, sendo estas perspectivas as que se preocupam em responder o como

    se processa a evoluo da cincia, queremos associar a progresso da cincia

    reforma dos curricula escolares, para avaliarmos qual dos modelos sobre a

    evoluo cincia se aplica a forma como os conhecimentos se adquirem, se porruptura com os anteriores, se por continuao ou ainda se por um processo

    anrquico.

    A ideia de ruptura ou como forma para a progresso do conhecimento fez com

    que Kuhn e Bachelard fossem os epistemlogos modernos mais lidos. Assim, a

    noo de ruptura ou mudana de paradigma (Kuhn) ou ainda de obstculo

    epistemolgico (Bachelard) so as ideias basilares do descontinuismo

    moderno. Com o descontinuismo rompe-se a linearidade do desenvolvimento

    apresentado por Karl Popper.

    Continusmo e descontinusmo na epistemologia moderna tm como

    preocupao fundamental o progresso da cincia. De acordo com os

    defensores continustasa cincia progride sem sobressaltos na medida em que

    cada teoria contm os fragmentos, as bases ou os embries da teoria seguinte.O continusta tende, portanto, a considerar as mudanas qualitativas como

    resultantes de um acrscimo quantitativo, que se constitui de uma forma

    uniforme. Aqui o conhecimento sempre visto numa escala ascendente.

    Portanto, para o continusmo, O progresso ser ento uma lenta e contnua

  • 7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao

    4/7

    aquisio de novas verdades e uma proposio mais recente tem as suas

    razes em teorias mais antigas e, por sua vez, abre para o futuro um leque de

    possibilidades. J para os descontinustas a cincia progride atravs de

    rupturas, por negao de teorias anteriores.

    Estas epistemologias esto, especialmente, atentas s rupturas, no aquilo que

    liga as teorias entre si mas aquilo que as separa. O progresso dos

    conhecimentos cientficos faz-se atravs de rupturas, isto , atravs de grandes

    alteraes qualitativas que no podem ser reduzidas a uma lgica de acrscimo

    de quantidades faz-se atravs de momentos em que se quebra a tradio e em

    que esta substituda por uma nova teoria (cf. Pombo, s/d: 6).Ao relacionarmos a reforma curricular e as propostas epistemolgicas

    modernas pretendemos perceber o que propicia o desenvolvimento do

    conhecimento, se as descontinuidades ou continuidades.

    2. 1. O Descontinuismo epistemolgico

    O descontinuismo epistemolgico representado, dentre outros tericos, por

    Thomas Kuhn e Gaston Bachelard. Para Bachelard, citado por Saito (2013:

    184), o acto de conhecer d-se contra um conhecimento anterior, superando o

    que, no prprio esprito, obstculo espiritualizao assim, aceder cincia

    rejuvenescer espiritualmente e aceitar uma brusca mutao que contradiz o

    passado. A cincia na perspectiva bachelardiano s avana graas s

    contradies com o conhecimento anterior, graas s rectificaes de errosanteriores.

    A noo de obstculo epistemolgico introduz Bachelard ao grupo dos tericos

    do descontinuismo. Buscar obstculos epistemolgicos procurar aquilo que

    pode fazer com que os cientistas desenvolvam o conhecimento cientfico capaz

    de fundamentar suas propostas curriculares e de ensino, conforme refere Saito

    (Idem: 186). Bachelard aparece na histria da epistemologia como o terico que

    valoriza as contradies internas do discurso cientfico.

    Thomas Kuhn apresenta a ideia de ruptura de uma forma mais radical, em

    relao a Bachelard ao defender que as grandes mudanas conceituais

    (revolues cientficas) que acompanham o desenvolvimento do

    conhecimento ou da cincia. muito importante ter presente que a

    Epistemologia kuhniana desenvolveu-se numa altura em que o debate sobre anatureza do conhecimento estava voltado para as questes de ordem

    metodolgica.

    3. A Reforma dos curricula escolares: um descontinuismo

    epistemolgico?

    Ao abordarmos os aspectos sobre a epistemologia moderna entendemos que

    existe nela um discurso sobre como os conhecimentos progridem, e que, de

    certa forma, pode favorecer o entendimento sobre os conhecimentos mantidos

    depois de uma reforma curricular. Numa reforma curricular h aspectos que

    transitam do antigo para o novo currculo, como tambm h aspectos que a

    sociedade os retira julgando-os desajustados.

    Neste ensaio pretendemos reflectir sobre a continuidade ou descontinuidade

    nos conhecimentos dos planos curriculares de ensino. Falar da descontinuidade

    dos planos curriculares , sobretudo, inserir as abordagens bachelardianas e

    kuhnianas no debate sobre a ruptura nos contedos numa reforma curricular.

    Pinho (2013: 21) refere que ruptura e continuidade destacam-se na elaborao

    dos currculos pelo facto de nele distinguirem-se aspectos de continuidade

    (aspectos que devem permanecer) e outros de descontinuidade (aspectos que

    devem ser ultrapassados) tendo em conta o homem que a sociedade quer.

    As ansiedades do homem de uma determinada sociedade so as que devem

    basear a reformulao dos curriculaescolares e nos curriculaescolares onde

    deve constar aquilo que o homem considera ideal para o seu tempo e para a

    sua sociedade. Um currculo deve ser adequado escola.

    Uma reforma curricular acompanhada por uma gama de aces: mudana de

    leis, mudana nas formas de financiamento, mudana na forma de gesto

    escolar, formas de avaliao, formao de professores, entre outras ora, todas

    estas aces so de uma forma hbrida pelo facto de sempre haver algo dos

    currculos passados que passa para o novo. Apesar deste hibridismo, nota-se

    uma mudana nas polticas educativas pela preocupao que se tem num

  • 7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao

    5/7

    determinado currculo: formar um homem ideal e competente. por isso que o

    currculo aparece como sendo o centro, o elemento chave para todo o processo

    educativo.

    Num currculo h seleco e produo de saberes nele encontramos vises e

    valores de uma cultura tidos como os imprescindveis para a educao, pois

    como refere Lopes (2003: 4), toda a poltica curricular uma poltica cultural

    pelo facto de o currculo ser uma seleco de saberes de uma cultura e, ainda,

    um campo conflituoso da produo da cultura, o embate entre sujeitos,

    concepes de conhecimentos, formas de entender e construir o mundo.

    Sob o ponto de vista das teorias tradicionais de educao e do currculo, atransmisso dos conhecimentos no rigorosamente problematizada pelo facto

    de se reconhecer a eficcia e segurana dos contedos ensinados ou

    curriculares. Ainda assim, h o entendimento segundo o qual nem todo o

    conhecimento deve ser ensinado deve-se, pois, ensinar o essencial para

    garantir a herana cultural.

    Taba, citado por Lopes (1999:88), divide os que discutem a funo social da

    educao em dois grupos:

    a) os que consideram a herana cultural como foco principal argumentando que

    as tradies culturais possuem razes de continuidade dos saberes requeridos

    s novas geraes, elaborados no passado, apoiados na razo e na

    experincia. Esta perspectiva, sem excluir a criatividade e mudana para os

    novos conhecimentos, funda-se num pressuposto continusta eb) os que fundamentalmente olham no papel criativo e de mudana da

    educao so aqueles que defendem a formao para o progresso, para a

    mudana e resoluo de problemas imediatos.

    Nestas duas perspectivas (de continuidade e de mudana) h uma seleco de

    contedos a serem ensinados e tais conhecimentos devem sempre responder

    aos objectivos previamente definidos.

    Portanto, se o currculo trata-se de um conjunto de conhecimentos previamente

    seleccionados que garantem a manuteno cultural, h o que se chama

    tradio selectiva, isto , processo mediante o qual a cultura dominante

    transmitida como o que traz o conhecimento universal sistematizado, como

    refere Lopes, citando Williams:

    as instituies educacionais so em geral os principais agentes detransmisso de uma cultura dominante efectiva, e esta agora uma

    importante actividade econmica, bem como cultural na verdade as duas

    simultaneamente. Alm do mais, a um nvel filosfico, ao verdadeiro nvel da

    teoria e ao nvel da histria das diversas prticas, h um processo que chamo

    tradio selectiva: o qual, nos termos de uma cultura dominante efectiva,

    sempre dissimulado como tradio, o passado significativo. Mas a questo

    sempre a selectividade, a forma em que, de todo um campo possvel do

    passado e presente, escolhem-se como importantes determinados

    significados e prticas, ao passo que outros so negligenciados e excludos.

    De modo ainda mais decisivo, alguns desses significados so reinterpretados,

    diludos ou colocados em formas que apoiam ou ao menos no contradizem

    outros elementos dentro da cultura dominante efectiva. O processo de

    educao, os processos de uma formao social muito mais ampla em

    instituies como a famlia, as definies e a organizao prtica do trabalho,

    a tradio selectiva a um nvel terico e intelectual: todas essas foras estoimplicadas num contnuo fazer e refazer de uma cultura dominante efectiva, e

    delas, enquanto experienciadas, enquanto integradas em nossa vida, depende

    a realidadeLopes (Idem: 88).

    H sempre uma entidade que se assume como o garante da seleco dos

    contedos e os julga pertinentes ou indispensveis para a sociedade essa

    entidade sobretudo dominante, cabendo a ela escolher as prticas educativas

    necessrias e negligencia outras, e assim, vo se fazendo as reformas dos

    currculos escolares.

    O actual currculo aparece como sendo o que de uma forma determinada se

    alicera na construo de competncias contudo, de uma forma geral, um

    qualquer currculo tem como fundamento criar competncias aos formados. Se

    a finalidade de qualquer processo educativo formar o homem ideal, esta

    preocupao acompanhada pela formao de competncias. Contudo, nosactuais currculos quando nos referimos a um currculo baseado em

    competncias pretendemos descrever o modelo de educao apenas baseado

    ou que responde s tendncias construtivistas. As abordagens construtivistas

    centram-se no educando e no em objectivos (como no modelo educativo

  • 7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao

    6/7

    tradicional).

    Embora as teorias epistemolgicas descontinustas se fundamente na negao

    do conhecimento anterior, isto no implica rigorosamente o abandono total

    daquele conhecimento. O descontinusmo uma forma de reordenar o

    conhecimento anterior como forma de reintroduzir uma nova racionalidade.

    Desta forma, a filosofia do no, a que se circunscrevem as filosofias

    descontinustas, trata-se de uma nova racionalidade que limita a razo anterior,

    mas que necessariamente no implica o seu abandono. Admite-se, pois, a

    convivncia plural das diferentes teorias num determinado currculo.

    Portanto, num currculo h sempre conciliao e/ou reformulao entre oscontedos curriculares anteriores e os do currculo em vigor. A reforma

    curricular no nega em totalidade os contedos, mas, sim, os reformula tendo

    em conta as novas exigncias da sociedade.

    Com Thomas Kuhn e Gaston Bachelard percebemos que a noo de ruptura do

    conhecimento uma nova de assumir e compreender toda os procedimentos

    da construo do conhecimento a partir da recorrncia histrica, isto , o

    conhecimento desenvolve-se passando por constantes rupturas.

    CONCLUSO

    Continusmo e descontinusmo epistemolgico nos curricula escolares?- eis a

    questo que nos colocamos partida. Depois de analisarmos as propostas

    tericas sobre a reforma curricular entendemos que se regista um hibridismo,ou seja, h aspectos de continuidade e outros de ruptura ou mudana que

    ocorrem aquando da reforma curricular.

    Para o continusmo, um conhecimento provm do outro, por adequaes ou

    correces contnuas. As teorias continustas so sobretudo conservadoras. O

    que fundamenta os currculos escolares a formao de um homem ideal e

    competente, aspectos sempre diferentes de uma poca para a outra, de uma

    sociedade para a outra. A noo de ruptura no desconstri a ideia de

    acumulao de conhecimentos e no rompe necessariamente com as noes

    de linearidade na construo do conhecimento. Numa reforma curricular, o

    passado traz uma referncia a aceitar ou a questionar para a construo do

    novo conhecimento e ser sempre o ponto de partida que dar um novo

    significado aos contedos. Portanto, mudana e novidade confluem noscontedos ora reformulados. Numa reforma curricular h aspectos que

    transitam do antigo para o novo currculo, como tambm h aspectos que a

    sociedade os retira julgando-os desajustados.

    BIBLIOGRAFIA

    GUESSA, Vernica e RANGUETTI, Diva S. O currculo e o ensino superior:

    princpios epistemolgicos para design contemporneo. Revista e-curriculum.

    So Paulo v 7 Agosto de 2011.

    LEITE, Fabio Rodrigo. Um estudo sobre a Filosofia de Histria e sobre a

    historiografia da cincia de Pierre Duhem. Tese de doutoramento em Filosofia.

    Universidade de So Paulo. So Paulo. 2012

    LOPES, Alice R. Casimiro. Conhecimento escolar: cincia e quotidiano. Ed

    Uerj. Rio de Janeiro. 1999.

    LOPES, Alice R. Casimiro. Continuidade ou mudana de rumos? 26 Simpsio

    anual de ANPEd. In Revista Brasileira de Educao. 2003

    PINHO, Rita Patrcia Gomes. Professor de dupla Habilitao: (Des)

    continuidades entre 1 e 2 ciclos do Ensino Bsico.Dissertao ao Mestrado.

    Porto 2013.

    POMBO, Olga. Apontamentos sobre o conceito e enquadramento da

    diversidade das concepes da cincia. s/d. Acesso em

    categorias%20da%epistemologia.htm em 09 de Fevereiro de 2015, pelas

    21horas e 30 minutos.REALE, Giovanni e ANTISERI. Dario, Histria de filosofia: de Freud actualidade. Vol 7.S.Paulo, Ed. Paulinas, 2006.

    SAITO, Fumikazi. Continuidade e descontinuidade: o processo de construodo conhecimento cientfico na histria da cincia. Revista de REFEBA-

    Educao e contemporaneidade. Salvador v.22 n 39 pp 183-194, Janeiro

    Junho 2013

    VIEIRA, Maria Manuel. Nova Reforma Curricular e do ensino secundrio:

  • 7/24/2019 MUAMUIRO, Guido - Um Olhar Sobre a Epistemologia - Citao

    7/7

    Mensagem antigaPgina inicial

    Subscrever: Enviar comentrios (Atom)

    Publicada por Guido Muamuiro (s) 08:18

    questes para um debate. Actas do Encontro Temtico Intercongresso. APS:

    Oeiras. 2002.

    +1 Recomendar este URL no Google

    Introduza o seu comentrio...

    Comentar como: Conta do Goo

    Publicar

    Pr-visualiza

    Sem comentrios:

    Enviar um comentrio

    Modelo Simple. Tecnologia do Blogger.

    https://www.blogger.com/https://www.blogger.com/share-post.g?blogID=8362924447826304672&postID=1139149326341884744&target=pinteresthttps://www.blogger.com/share-post.g?blogID=8362924447826304672&postID=1139149326341884744&target=facebookhttps://www.blogger.com/share-post.g?blogID=8362924447826304672&postID=1139149326341884744&target=twitterhttps://www.blogger.com/share-post.g?blogID=8362924447826304672&postID=1139149326341884744&target=bloghttps://www.blogger.com/share-post.g?blogID=8362924447826304672&postID=1139149326341884744&target=emailhttp://guidomuamuiro.blogspot.com.br/2015/05/a-redorma-dos-curricula-um.htmlhttps://plus.google.com/106792130845986844485http://guidomuamuiro.blogspot.com/feeds/1139149326341884744/comments/defaulthttp://guidomuamuiro.blogspot.com.br/http://guidomuamuiro.blogspot.com.br/2015/05/guidopaulino-muamuiro-legitimidade-das_3.html