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MTE - 109 O ENSINO DE ÉTICA PROFISSIONAL Luiz I. S. Sebenello - [email protected] Universidade Luterana do Brasil - rua Miguel Tostes, 101 - Canoas, RS CEP 92420-280 e mail: [email protected] Resumo. A proposta é debater a experiência desenvolvida na Universidade Luterana do Brasil, relativa à disciplina de Ética e Legislação Profissional, com ênfase para a Ética. São expostos os crítérios utilizados na Disciplina, segundo os quais os alunos tomam conhecimento da função social que exercerão na sua futura profissão; suas responsabilidades perante si mesmos e a coletividade social e profissional, indicando como deverá agir na busca de seus objetivos pessoais, sempre respeitando "Bem Comum". É mostrado que a sociedade estabelece regras de comportamento para o convívio harmônico de comunidades, desde o Código de Hamurabi (2.000 A.C.), que já fazia menção de punição ao mau profissional. Há abordagens, ainda, sobre a atuação do Engenheiro como patrão, empregado, funcionário público, chefe, subordinado e as relações com seus clientes, empregados e subalternos. Por isto, o exercício profissional consciente necessita do conhecimento da legislação e do Código de Ética que regulamentam a futura profissão e que deverão nortear os procedimentos para a tomada de decisões. Para tal, o aluno deve estabelecer seus próprios critérios de discernimento entre o bem e o mal, formando juizo próprio, estabelecendo a sua convicção e adotando decisões fundamentadas no Livre Arbítrio. Palavras-chave: Ulbra, Ética, Cobenge, Sebenello

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  • MTE - 109

    O ENSINO DE TICA PROFISSIONAL

    Luiz I. S. Sebenello - [email protected]

    Universidade Luterana do Brasil -rua Miguel Tostes, 101 - Canoas, RS

    CEP 92420-280

    e mail: [email protected]

    Resumo. A proposta debater a experincia desenvolvida na Universidade Luterana do Brasil,relativa disciplina de tica e Legislao Profissional, com nfase para a tica.So expostos os crtrios utilizados na Disciplina, segundo os quais os alunos tomam conhecimentoda funo social que exercero na sua futura profisso; suas responsabilidades perante si mesmose a coletividade social e profissional, indicando como dever agir na busca de seus objetivospessoais, sempre respeitando "Bem Comum". mostrado que a sociedade estabelece regras de comportamento para o convvio harmnico decomunidades, desde o Cdigo de Hamurabi (2.000 A.C.), que j fazia meno de punio ao mauprofissional. H abordagens, ainda, sobre a atuao do Engenheiro como patro, empregado,funcionrio pblico, chefe, subordinado e as relaes com seus clientes, empregados e subalternos.Por isto, o exerccio profissional consciente necessita do conhecimento da legislao e do Cdigode tica que regulamentam a futura profisso e que devero nortear os procedimentos para atomada de decises. Para tal, o aluno deve estabelecer seus prprios critrios de discernimentoentre o bem e o mal, formando juizo prprio, estabelecendo a sua convico e adotando decisesfundamentadas no Livre Arbtrio.

    Palavras-chave: Ulbra, tica, Cobenge, Sebenello

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    1. OBJETIVO.

    O presente trabalho enfocar a disciplina de tica e Legislao Profissional, com nfase para o ensino da ticae, em especial, aplicao prtica do Cdigo de tica do Engenheiro, do Arquiteto e do Engenheiro Agrnomo,regulamentado pela Resoluo 205 do CONFEA- Conselho Federal de Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia.Nossa proposta de expor e submeter a debate, a experincia desenvolvida na ULBRA, que j se prolonga por mais de10 anos, mostrando os critrios como a tica Profissional lecionada.

    2. PRELIMINARES.

    A disciplina ora abordada relativamente nova no Brasil e, como tal, paga os nus de no possuir tradio e deno apresentar contedos uniformes e consagrados, na relao entre as diversas Escolas de Engenharia do Brasil.O tempo disponvel para o ensino de tica e Legislao Profissional de um semestre e a parte especfica de tica temsido dada com a carga de 16 horas, muito embora, a cada a oportunidade, mesmo ministrando outros contedos, hajareferncias quanto ao comportamento tico-profissional. Esta carga horria insuficiente para expor ao aluno todos oscontedos desejveis, representando, pois, uma limitao ao professor, um condicionante. A partir das limitaes assimimpostas, foi elaborado um programa eminentemente prtico para o ensino da tica, com anlise dos diversos artigos doseu Cdigo e das recomendaes do Guia do Profissional. Por bvio, no foram esquecidos alguns referenciais tericos,entendidos como obrigatrios para o encadeamento do raciocnio e a formulao de concluses.

    3. O ENSINO DA TICA PROPRIAMENTE DITO.

    3.1. Pequeno histrico.

    A evoluo do homem, acarretou sua agregao, primeiramente na forma de bandos, depois como aldeias e, maistarde, formando cidades. Consta que os primeiros ncleos urbanos teriam surgido ao redor de 5.000 anos A.C., na regioda Mesopotmia, quando passou a fixar-se terra, alterando seu comportamento nmade.Com as cidades, surgiram conflitos de coexistncia at ento desconhecidos, que passaram a ser objeto de estudos eanlises e que, com o passar do tempo, foram sendo aprofundados, adquirindo carter perene, especialmente em razo datendncia do homem em tornar-se urbano, da busca da qualidade de vida e da evoluo da humanidade. No seudesenvolvimento, as pesquisas do comportamento do homem pelo prprio homem levaram ao estudo do seucomportamento, ao estudo da tica e da Moral e, com estes, o estabelecimento de regras de convivncia.Conforme Aquino et al.[1], na mdia Mesopotmia, os amorritas, vindos do Deserto Arbico, estabeleceram-se em umapovoao, que com o tempo converteu-se em importante centro comercial - a cidade de Babilnia-. Entre os reis edinastias amorritas, destacou-se Hamurbi (2067-2025 a.C.), que formou o Primeiro Imprio Babilnico, que abrangeutoda a Mesopotmia, reunindo diversas cidades sob uma autoridade central.Necessitando estabelecer normas procedimentais, Hamurbi, baseado no cdigo de Dungi, de Ur, criou um dos maisantigos documentos jurdicos conhecidos, o Cdigo de Hamurbi, que dizia respeito a praticamente todos os aspectosda vida da sociedade babilnica: comrcio, famlia, propriedade, herana, escravido, etc., identificando direitos edeveres, sendo os delitos acompanhados da respectiva punio, variando esta conforme a categoria social do infrator eda vtima. Tinha este Cdigo, inicialmente, 282 artigos, muitos perdidos na deteriorao das colunas de pedra ondeestavam escritos em caracteres cuneifrmicos, restando alguns a seguir mencionados:- Se um homem apresenta-se como testemunha de acusao e no prova o que disse, se o processo uma causa devida ou morte, este homem passvel de morte.- Se um homem roubou o tesouro do deus ou do palcio, este homem passvel de morte e aquele que recebeu o objetoroubado, tambm passvel de morte.- Se um homem furar o olho de um homem livre, furar-se-lhe- um olho.- Se ele fura o olho de um escravo alheio ou quebra um membro ao escravo alheio, dever pagar metade de seu preo.- Se um arquiteto constri uma casa para algum, porm no a faz slida, resultando da que a casa venha a ruir ematar o proprietrio, este arquiteto passvel de morte.- Se, ao desmoronar ela mata o filho do proprietrio, matar-se- o filho deste arquiteto.Observe-se que vigorava, ento, a tese do olho por olho, dente por dente.Oito sculos aps Hamurbi, ocorreu a sada dos hebreus do Egito em direo Palestina, sob a liderana de Moiss(1220-1180 A.C.), que recebeu no Monte Sinai, as Tbuas da Lei, que continham os Dez Mandamentos da Lei de Deus.Em 450 A.C. - 1.500 anos aps Hamurbi -, aparece em Roma o primeiro cdigo escrito (romano): A Lei das DozeTbuas. As Doze Tbuas eram de bronze e foram expostas no frum para conhecimento de toda a populao.Representava ela uma grande conquista para a poca, eis que atendia a grande clamor da plebe, pela publicao de leisescritas, j que at ento a justia estava nas mos da aristocracia, a quem cabia o monoplio do conhecimento e dainterpretao dos costumes. Continha dispositivos tais como:- Se algum chamado a juzo, comparea.- Se algum comete furto noite e morto em flagrante, o que matou no ser punido.

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    - O pai ter sobre os filhos nascidos de casamento legtimo, o direito de vida e de morte e o poder de vend-los.- O escravo a quem foi concedida liberdade por testamento, sob a condio de pagar certa quantia, e que vendidoem seguida, tornar-se- livre se pagar a mesma quantia ao comprador.- Se algum causa um dano premeditadamente, que o repare.- Que no se estabeleam privilgios em lei.- Que a ltima vontade do povo tenha fora de lei.

    2.000 anos depois de Hamurbi e 450 anos aps a Lei das Doze Tbuas, surge Jesus Cristo, com uma revoluo nosconceitos e padres at ento vigentes, dentre os quais destaca-se a introduo do perdo.Partindo do pressuposto de que o homem que agiu erradamente pode ser recuperado e que deve ter tal oportunidade, apregao de Cristo revoga a "lei do olho por olho, dente por dente , como bem demonstram, o perdo a MariaMadalena, uma prostituta; o perdo ao Bom Ladro quando j crucificado; a conhecida frase "... quem nuncacometeu qualquer pecado que atire a primeira pedra". Sua doutrina trouxe grandes alteraes nos preceitos tico-sociais, sentidas at hoje nas leis e na sociedade.Este breve histrico, mostra contextos sociais, desde a antigidade mais remota, que procuraram elaborar normascomportamentais para os seus cidados; da humanidade que evoluiu no estabelecimento destas regras, motivada pelanecessidade permanente de diminuir conflitos e de promover a convivncia harmnica entre as pessoas.Semelhante sociedade como um todo, existe uma outra, especfica, menor, formada por Engenheiros, Arquitetos eEngenheiros Agrnomos, que em seus relacionamentos, predominantemente profissionais, vm-se amide diante dedesentendimentos, fruto da imperfeio humana, por tudo indesejveis.Assim como o todo posui regras, recomendvel que existam recomendaes de normas e procedimentos deconvivncia que atinjam especificamente a esse grupo de profissionais, seja orientando as relaes entre os colegas; dosprofissionais com os clientes e empregados; com outros estratos sociais ou, ainda, com a sociedade global. Estasnormas, devem resguardar as peculiaridades e idiossincrasias das profisses envolvidas e no elidindo as demais regrasgerais de procedimentos. Esta a razo principal de haver o Cdigo de tica Profissional.

    3.2. Conceituao De tica.

    Generalidades.Em tese, o homem um ser livre para fazer o que quiser. Entretanto, ele no uma ilha; no vive isolado. Ao

    viver em sociedade, constata que existem outras pessoas que tambm so livres, podendo, em tese, fazer o quequiserem, porque tambm so livres. Em conseqncia, o uso que um indivduo pode fazer de sua liberdadefreqentemente o coloca em confronto com outra pessoa que tambm quer fazer uso de sua liberdade. Decorre que odesfrute da sua liberdade no to livre e amplo quanto aparenta, eis que a prpria sociedade estabeleceu a uma sriede regulamentos e procedimentos que constituem-se em limitadores do exerccio da liberdade absoluta de cada um.Ao praticar atos livres, no pode o homem causar prejuzos para outrem, que tambm tem a mesma liberdade de agir.Dentre os inmeros regulamentos, destacam-se alguns, didticamente, buscando fundamentar as razes de suasexistncias.Ao morar em um condomnio, seja em um edifcio ou em um condomnio horizontal, as pessoas submetem-se aoRegimento Condominial, que um documento elaborado pelo conjunto dos moradores, aprovado em assemblia geral eque pode, inclusive, ser registrado em cartrio. Dentre seus artigos, estes Regimentos contm dispositivosestabelecendo, por exemplo, o Horrio de Silncio e a proibio de no haver nos apartamentos, animais de porte, etc.O argumento destas limitaes, o do resguardo do sossego do grupo de pessoas daquele condomnio. Veja-se que noh limitao de horrio para que algum entre ou saia de sua casa hora que quiser, assim como no h limitaes todas s liberdades, mas apenas para algumas atividades, ou para certos horrios.Nos clubes, seja para freqentar as piscinas ou para usar as canchas de esporte, comum encontrarem-se determinaesreferentes a horrios, taxas a pagar, forma de vestir, exames mdicos, etc. Estas determinaes constituem-se emnormas de utilizao de espaos e bens patrimoniais, que restringem a liberdade absoluta de sua utilizao. Estasrestries so parciais, podendo qualquer scio adentrar ao clube no horrio de seu funcionamento e geralmente vedadoo acesso aos no associados.Quando pessoas se juntam para formar uma empresa, estabelecem os objetivos sociais da mesma e definem asresponsabilidades, forma e o quantum de participao de cada um dos associados, nas despesas e nos lucros. Numclube, num condomnio ou numa empresa, constata-se a existncia de regras, que no s visam o resguardo dosinteresses comuns das pessoas abrangidas por aquelas comunidades, como definem os direitos e limitaes que asmesmas tm. Representa dizer que as coisas correm como livremente foram acertadas e combinadas entre osinteressados e que consta na redao dos documentos exemplificados.H outras sociedades, de espectro mais amplo do que as anteriormente citadas, que podem ser de mbito nacional ouinternacional e que tambm estabelecem normas para os membros que a elas queiram se integrar. a participao "poradeso", onde a entidade existente, tem suas regras, seu regimento e a ela facultado o ingresso. Dentre estes tipos deentidades, que tm mbito nacional, encontramos os Partidos Polticos, nos quais podem ingressar pessoas, desde queconcordem com as regras estabelecidas, com a sua ideologia. Num grande clube de futebol a coisa assemelhada,

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    entretanto, os associados no se conhecem - todos -, muito embora existir, alm do fator ideolgico, um fatordiferenciado, a Emoo.Partidos polticos e clubes de futebol tm suas regras e normas, aplicveis dentro de espaos limitados, definidos,conhecidos.A nvel global, mundial, tambm h grupamentos de pessoas que tm regras para seus participantes ou filiados. Veja-seo exemplo de Igrejas Crists.A forma em que esto estabelecidas e o modo que funcionam estas sociedades religiosas, atendem a princpiosperfeitamente definidos, como ocorre com toda e qualquer sociedade. Tm seus mandamentos, seus dogmas e suasnormas a serem seguidas por seus ministros; padres, pastores, irmos, freiras e fiis. As regras maiores, em geral,permanecem, no impedindo que haja alteraes ao longo do tempo. Tambm, no h impedimentos que uma religioCrist tenha uma regra particular oposta em relao a outra tambm Crist, como ocorre, por exemplo, em relao aodireito ao casamento de ministros religiosos. Ministros catlicos no podem contrair Casamento, vedao que noexiste para ministros de outras Igrejas (Luterana, Anglicana, etc.). Esta contraposio regulamentar exemplificada, norepresenta incoerncia; no faz com que deixem estas religies de serem Crists, nem tampouco altera seus objetivosmaiores. Estes exemplos, mostram grupos de pessoas, que formam entidades, que tm objetivos comuns e regras deconvivncia de mbito universal, limitadas aos seus associados, agregados ou fiis, com espao fsico ilimitado.Uma outra forma de sociedade, particular, a Familiar, por todos conhecida, que tambm segue regras, para seremcompostas e para serem desfeitas, assim como para seus membros.Poderiam ser citados, ainda, os clubes de servio Lyons e Rotary, a Cruz Vermelha e muitos outros exemplos deassociaes e grupamentos de mbito internacional, que tambm tm suas regras e parmetros perfeitamente definidos,de acordo com as suas finalidades e interesses. Estas regras visam estabelecer uma forma de convvio harmnicointerno, de tal modo que melhor sejam atingidos os objetivos das coletividades que representam. As pessoas so livrespara aderir e, uma vez aceitas, condicionam-se a cumprir as regras estabelecidas.Observe-se que os exemplos at agora citados, referiram a grupamentos de indivduos que escrevem as prprias regrasou que aderem a regras pr firmadas por outrem, sem interferncias governamentais diretas.Se para um determinado grupo pode ser relativamente fcil definir os seus interesses e as regras comuns, para asociedade em geral no o . Para ela, os interesses de cada indivduo ou interesses de um determinado grupo de pessoasso secundrios, porque no atendem aos seus objetivos globais. A sociedade busca o estabelecimento do bem-estarsocial ou o bem comum de todos os cidados, independentemente de condies sociais, raas, crenas, nvel intelectual,estratos sociais, influncias de regies e climas, etc., da porque no podem ser considerados predominantes osinteresses individuais ou de determinado grupo de pessoas. Diferenciam-se os interesses das corporaes e os dasociedade.A sociedade est estruturada atravs de seus rgos governamentais, estratificados nos Poderes de Governo: Executivo,Legislativo e Judicirio, que no mbito de suas atuaes, tambm seguem regras comportamentais, que valem para asinstituies e para todos os cidados. Estas regras eso formadas pelas Leis, Decretos e outros instrumentos jurdicos,que, teoricamente, partem do seio da prpria sociedade e visam o seu bem estar geral.A abrangncia de uma lei ou de qualquer instrumento legal, bem mais ampla do que os regimentos de empresas ouassociaes privadas, eis que devem atender a um universo de pessoas, que no se conhecem, inominadas, que podemguardar entre si profundas diferenas sociais e de costumes e cujo limite uma fronteira politicamente estabelecida.Decorre da, que a legislao estabelece Direitos e Deveres para TODAS as pessoas do seu universo de abrangncia,visando a harmonia de convvio entre todos os cidados, de tal modo que melhor sejam atingidos os seus objetivos.Exemplificando e particularizando: as pessoas que no fumam, molestadas pelas que fumam, reclamaram peloincmodo, acarretando a legislao especfica que probe fumar em certos locais. Inicialmente nos nibus, estaproibio foi ampliada e h bem pouco tempo, surgiu lei federal sobre este assunto, englobando o transporteinterestadual de passageiros, avies e o fumar em ambientes fechados. Sem adentrar no mrito desta regra, constata-seque uma norma, geral, surgiu do interesse pblico e que, por ser lei, todos devem cumpri-la.Para Engenheiros, Arquitetos, Engenheiros Agrnomos, h uma lei, de particular interesse, qual seja, a Lei Federal5.194/66 que, complementada por outros instrumentos jurdicos, regulamenta o exerccio profissional destas atividades.Esta , atribui ao CONFEA- Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia a competncia de emitirResolues com vistas ao seu melhor entendimento e aplicao. Dentre as Resolues, destaca-se a de n 205 de 30 desetembro de 1971, segundo a qual foi adotado o Cdigo de tica elaborado pelas entidades de classe da Engenharia, daArquitetura e da Agronomia. Para seu estudo e melhor compreenso de seus contedos, inicialmente necessria aanlise de algumas caractersticas extremas do comportamento do ser humano, quais sejam: Egosmo e Altrusmo. Estasso palavras que se contrapem. Representam comportamentos antagnicos, que nos seus extremos, referem-se apessoas que s pensam em si mesmas (ego) ou pessoas que s pensam nos outros (altro). Os limites definidos peloegosmo e pelo altrusmo tm a mesma dimenso da faixa de variao vulgarmente chamada de "entre 8 e 80".Mostram, egosmo e altrusmo parmetros extremos, que, como extremos, no representam o comportamento mdio docidado.Como indivduos, todos buscam crescer, melhorar. Querem progredir no emprego, querem melhorar profissionalmente,querem aumentar ganhos; trocar de carro; comprar apartamento, enfim, MELHORAR. A busca individual pela melhora, produtiva, inerente ao ser humano e gera progresso. Entretanto, esta "busca" est condicionada a regras, especialmente

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    naquilo que se refere a bens materiais . H limites.Para ao melhor entendimento destes limites, veja-se o que estabelece a Filosofia, no estudo do comportamento humanoe, posteriormente, comparem-se estes limites com que estabelece Cdigo de tica.

    Moral Particular e Moral Social.Segundo Jolivet, [2], a Moral Particular a parte da Moral que estuda a aplicao dos princpios universais da

    moralidade s diversas situaes da existncia e s relaes do homem c/ o prximo. Divide os deveres do homem emtrs partes: Deveres para com Deus, Deveres para Consigo e Deveres para com o Prximo.Santos [3], no estudo da Moral Particular, define-a como "A Cincia dos Deveres", dividindo estes em dois grandesgrupos: deveres do homem como ser pessoal - tratados na Moral Pessoal - e deveres do homem como ser social, tratadosna Moral Social. Este autor, inclui, ao final destes ttulos, os deveres do homem para com Deus.Ambos autores citados tratam dos mesmos deveres, que traduzem os limites que o homem deve respeitar, na busca desua realizao, conforme seguem:Deveres do homem para consigo mesmo.Deveres Corporais. Resultam da obrigao do homem com a conservao e o desenvolvimento de seu corpo, amanuteno da vida, da sade e defesa da sua integridade fsica. Incluem o exerccio normal e organizado das funesorgnicas e psquicas, evitando excessos de alimentao, bebida e sexualidade; resguardando normas higinicas epreservando-se de vcios que comprometam a sade e a Interdio ao Suicdio. Parte do princpio de que a ningum dado o direito de se matar, porque o suicdio viola o direito natural, em face de que o homem no o criador nem odono de sua vida.Deveres Espirituais. Resultam do fato de ser o homem dotado de inteligncia, de sensibilidade e de vontade,precisando desenvolver estas faculdades para que possa atingir a plenitude de sua natureza. Estes deveres Incluem aInstruo, que a aquisio de conhecimentos que permitem ao homem a cincia da realidade que o envolve emespecial a da Inteligncia e a Vontade. Envolvem a Educao, definida como a aquisio de hbitos teis e sadios,ajustando o homem aos quadros da vida e tambm a Cultura, que a aquisio e a realizao de ideais, segundo osquais o homem aperfeioa sua personalidade, por valores que dignificam a vida..Deveres do homem para com o prximo.Os autores referidos descrevem os deveres do homem para com os outros como:Respeito Vida Alheia. No admite o homicdio, o duelo, a agresso e a mutilao (afora a operao cirrgica), porserem atos que envolvem a fora bruta, por isso irracionais, e porque no se resolvem questes de direito pela fora.Respeito liberdade alheia. Decorre do direito do homem livre ao e, em conseqncia, a condenao escravido.Respeito ao Pensamento Alheio. Do direito liberdade de pensamento, resulta o dever de respeitar a opinio doprximo. Decorre deste princpio, a condenao da mentira, que a alterao consciente e deliberada da verdade.Respeito reputao Alheia. Condena a calnia, a maledicncia, que decorrentes do desrespeito reputao dosoutros.Respeito Propriedade Alheia. Resulta esta obrigao do Direito Propriedade. A Justia resguarda o direito deguardarmos aquilo que legitimamente adquirimos, usando e desfrutando de nossos bens - com excluso de outrem-dentro dos limites estabelecidos.Respeito ao Trabalho Alheio. Todo o homem tem o direito e o dever de trabalhar, com a inteligncia ou com as mos,a menos que se entregue a uma atividade nociva a outrem ou ao bem comum. Do direito ao trabalho, resulta o deverde respeitar o trabalho do prximoDever de Beneficncia. Envolve o auxlio e o socorro do homem aos seus semelhantes, independentemente de laos deparentesco, interesse pessoal ou coao.Dever de Amizade. uma forma de afeio especial que nos liga a outrem, impondo-nos partilhar de suas dores,alegrias e idias, quando elevadas e dignas.Dever de Solidariedade. Partindo do princpio que todos buscamos o bem comum, existe a interdependncia natural deinteresses entre todos os membros da comunidade, da o dever do homem em contribuir para o bem do prximo,renunciando ao prprio interesse, quando este colidir com o interesse e o bem-estar da comunidade.Finalmente so referidos os deveres do homem para com Deus, que se exprimem pelo Culto e pela Orao.A anlise dos Deveres enunciados mostra estarem moralmente definidos os limites da individualidade de cada um e osinteresses do todo formado pelo conjuntos destes mesmos indivduos. Mostra que o limite do exerccio da liberdade dealgum, estabelecido pelo direitos decorrentes da liberdade alheia e que, ao cumpri-los, o homem estar buscando oequilbrio entre Egosmo e Altrusmo. A propsito, seguem abaixo alguns dos conceitos de Liberdade, segundo Ferreira[4]:Liberdade.- 1.- Faculdade de cada um de decidir ou agir segundo sua prpria determinao. 2.- poder agir, no seio deuma sociedade organizada, segundo a prpria determinao, dentro dos limites impostos por normas definidas. 3.-faculdade de praticar tudo o que no proibido.Constata-se, pois, que a Filosofia estabelece os limites do comportamento do homem, analisando-o ora como indivduo,ora como ser social. Mostra que o exerccio pleno e absoluto da liberdade individual no vivel para um ser social,evidenciando que h uma Moral Individual - fundamentada no homem como pessoa - e uma Moral Social, baseada no

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    interesse coletivo.

    Conceitos de tica.Para que seja feita a comparao antes proposta, conveniente buscar-se a conceituao de tica, que no se

    resume a uma s expresso. Alguns autores diferenciam tica de Moral, outros no. A Ref. [4] conceitua:tica: Estudo dos juzos de apreciao que se referem conduta humana, suscetvel de qualificao do ponto de vistado bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto.Moral: Conjunto de regras de conduta consideradas como vlidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo oulugar, quer para grupo ou pessoa determinadaV-se que este Autor diferencia tica de Moral, como se a Moral - conjunto de regras de conduta-, decorrese da tica- estudo dos juzos de apreciao que se referem conduta humana ...Na Ref. [3], temos:tica ou Moral o estudo da ao humana enquanto livre e pessoal. Sua finalidade traar normas vontade, nasua inclinao para o bem. Pode portanto ser definida como a cincia que trata do uso que o homem deve fazer da sualiberdade para atingir seu fim ltimo.Define ainda:A tica uma cincia normativa porque estuda os princpios que devem governar a ao humanaComplementa, dizendo que trs condies so necessrias ao exerccio da vida moral: a Razo, o Livre-Arbtrio e aInclinao para o bem.Na Ref. [2], encontramos:...foram propostas numerosas definies de moral (chamada tambm tica) . Vrias destas definies no podem sermantidas por no acentuarem com bastante clareza o carter essencial da moral.A Moral a Cincia do Homem (Pascal).A Moral a cincia dos costumes (Drkheim, Lvy,Brhl).... A Moral a cincia que define as leis da atividade livre do homem; a cincia que trata do uso que o homem devefazer de sua liberdade, para atingir seu fim ltimo. a cincia do bem e do mal. a cincia dos deveres e dasvirtudes.Observa-se que, tanto a Ref. [2] quanto a Ref. [3], tm tica e Moral como sinnimas, mostrando aspectos comuns nosconceitos apresentados, dentre os quais os que se relacionam ao Juzo que o homem capaz de fazer em relao ao beme o mal; Liberdade que o homem tem para a tomada de decises, e a busca de seu Fim ltimo. Tambm v-se que hautores que diferenciam Moral e tica e outros que as tm como sinnimos.Desinteressa no presente trabalho, discutir se Moral e tica so, ou no, sinnimos, eis que esta uma abordagempreliminar que visa melhor entender o Cdigo de tica. Importa, isto sim, constatar que a anlise dos contedos e dosconceitos acima, indica a necessidade de que cada indivduo tenha Conscincia do que deseja, que estabelea seusobjetivos de vida e que tenha Vontade de atingi-los. A busca destes objetivos, acaba sendo a busca da satisfao dosanseios e das aspiraes de cada um, ou seja, a busca de um Padro de Felicidade, ou da prpria Felicidade. Apropsito, a Ref. [3] ensina:A atividade voluntria aquela em que o "eu" se sente "causa"...VONTADE o poder que tem o esprito de se determinar, com conscincia e reflexo, a uma ao de sua escolha. Eisporque devemos considerar a inteligncia e a liberdade comoas caractersticas essenciais do ato volitivo.A compreenso dos conceitos colocados (e de outros que possam ser aduzidos), mais a sua anlise comparativa com osDeveres do Homem, so peas importantes para a melhor compreenso do Cdigo de tica Profissional.

    4. CDIGO DE TICA DA ENGENHARIA, DA ARQUITETURA E DA AGRONOMIA .

    O Cdigo de tica do Engenheiro, do Arquiteto e do Engenheiro Agrnomo foi elaborado pelas Entidades deClasse e formalizado pela Resoluo n 205 do CONFEA, de 30.09.1971, em atendimento ao disposto na Lei Federal5.194 de 24.12.1966. Esta Resoluo agrega ao mesmo o Guia do Profissional, tambm elaborado pelas entidadesprofissionais, o qual contm algumas explicaes complementares sobre as exigncias e recomendaes, expressas naforma de deveres.O Cdigo de tica e o Guia do Profissional so ministrados aps a explanao do contedo deste trabalho. Isto feitocom o intuito de mostrar ao aluno que o mesmo um ser social e, como tal, tem compromissos consigo prprio e com asociedade como um todo; que a evoluo da sociedade feita em busca da sua organizao e do bem comum. Dentrodesta sociedade global, existe uma outra parcial, formada pelos profissionais engenheiros que buscam ser felizes e,como tal, realizarem-se pessoal e profissionalmente. Para tal, importante a busca de valores materiais o que noprescinde dos valores espirituais como a satisfao interior e o legtimo orgulho profissional.. Ainda, mostrado que oCdigo de tica vale como se lei fosse, eis que uma Resoluo do CONFEA que decorreu da Lei 5.194.Sendo o curso da ULBRA noturno, a maioria dos alunos vm escola aps um dia de trabalho. Alguns residem em

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    municpios fora da Regio Metropolitana, percorrendo diariamente mais de 100 km. para assitir as aulas. Preocupadoscom estes dados, procuramos tornar as aulas atraentes e agradveis.Assim, todos os contedos ministrados so expostos de forma integrada, vinculando a tica com o bem comum e com asleis em vigor, mesmo porque a disciplina tambm envolve contedos de legislao.Para tornar a matria atrativa, ela ensinada como se fosse tica Aplicada, a partir de transparncias do Cdigoprojetadas em tela, cujos textos recebem interpretaes do professor. Nesta interpretao mostra-se o "jogo de palavras"e as decorrentes interpretaes errneas que podem ser feitas. Para cada artigo referido algum caso prtico podendo este ser trazido pelo professor ou pelos alunos, que soestimulados a relatarem as suas experincias profissionais. Citam-se julgados de tribunais sobre matrias que envolvemas diversas modalidades de engenharia e casos que surgem nos jornais como os acidentes com obras e as mortes deoperrios.Estimula-se o debate evidenciando-se a desuniformidade dos raciocnios e das maneiras de pensar. Com estas, a eenfatiza-se a necessidade de haver o respeito pessoal entre os colegas - respeito profissional -, assim como o respeitocom todas as pessoas envolvidas na profisso e para com a Sociedade. Nos debates, d-se nfase especial Liberdade,ao Livre Arbtrio e ao respeito liberdade alheia; mostra-se a importncia destas para as opes de vida e para os"juzos de bem e mal". Discute-se o fato de que o profssional um ser humano, que tem as suas convenincias e queestas devem ser condicionadas para o acatamento do Cdigo de tica.Nas anlises de casos, recomendado aos alunos que os relatos sejam feitos sem identificao de nomes decircunstantes e que sejam discretos na sua profisso. So referidos o "segredo industrial" e a "importao detecnologia", que acarretam ao engenheiro a a necessidade de serem reservados e, com isto, merecer a confiana queneles depositada. Procura-se, ainda, identificar as alternativas e opes de procedimentos que tinham os profissionaisnos casos discutidos e as escolhas possveis.Tambm, referido que o Cdigo encerra recomendaes de procedimentos extremamente convenientes de seremseguidos - independentemente de seus cocntedos ticos -, podendo ser vistas como conselhos de um pai ou de umirmo mais velho. Nesta condio, por exemplo, usamos a linguagem chula de "no fala o que no sabe" paraexemplificar uma das recomendaes encontradas.Reitera-se, sempre, que a busca dos valores materiais e espirituais que envolvem a profisso tem limites, e que estes soimpostos pelo Cdigo de tica Profissional.Finalmente, refere-se que, deixando de respeitar o Cdigo, o profissional poder incorrer em penas por descumprimentoda Lei 5.194 e, acessoriamente, em responsabilidades previstas no Cdigo Civil e no Cdigo Penal, na parte aplicvel Engenharia, o que representa a exposio a riscos dos mais variados tipos. citada a pena imposta pela conscinciaEsta forma de ensino decorre do fato de que esta disciplina uma oportunidade mpar de mostrar ao aluno aspectoshumansticos da profisso e entendemos no haver momento melhor para tal.

    Porto Alegre, setembro de 2001

    O autor.

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    5. REFERNCIAS.

    [1] R.S. L. Aquino, de et alii- Histria das Sociedades - Das sociedades primitivas s sociedades medievais, Rio deJaneiro, 1984, p.114,262.[2] R. Jolivet, em Curso de Filosofia, So Paulo , 1965.[3] T. M. Santos, - Manual de Filosofia- So Paulo, 1958, p. 319/348.[4] A. B. de H. Ferreira, -Novo Dicionrio Aurlio- So Paulo,p. 591, 835, 944.