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DIRECTOR: Serôdio Towo | Segunda-Feira, 08 de Junho de 2020 | Edição nº: 368 | Ano: 08 | Tiragem: 7500 exemplares SAI ÀS SEGUNDAS Dossiers Factos 50Mt www.stpc.co.mz Quatro reclusos morrem na Cadeia Central PRENDER TAMBÉM OS MANDANTES Pag 04 “Há políticos e magistrados envolvidos nos raptos” EM APENAS UMA SEMANA Já faz trabalhos de mecânica na B.O ANIBALZINHO DEIXOU DE SER PERIGOSO Pag 05

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DIRECTOR: Serôdio Towo | Segunda-Feira, 08 de Junho de 2020 | Edição nº: 368 | Ano: 08 | Tiragem: 7500 exemplares SAI ÀS SEGUNDAS

DossiersFactos& 50Mt

www.stpc.co.mz

Quatro reclusos morrem na Cadeia Central

PRENDER TAMBÉM OS MANDANTES

Pag 04

“Há políticos e magistrados envolvidos

nos raptos”EM APENAS UMA SEMANA

Já faz trabalhos de mecânica na B.O

ANIBALZINHO DEIXOU DE SER PERIGOSO

Pag 05

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SEGUNDA-FEIRA08 de Junho de 2020

DossiersFactos&2

Estabelecimentos penitenciários podem ser focos de morte por coronavírus

Pretendemos, nesta edição, virar as atenções para a situação sanitária nos estabelecimentos pe-nitenciários do país, que podem vir a ser um verda-deiro foco de contágios em massa e prováveis per-das de vidas humanas.

A situação nos estabelecimentos penitenciários não é das melhores. As condições de coabitação são das piores, a alimentação é outra dor de cabeça, quer para os reclusos, quer para quem os guarnece e dá comida. Em suma, é uma situação verdadeira-mente calamitosa.

Trata-se de uma matéria complexa, que, para a sua abordagem, requer muita cautela e certeza, pelo que, para elucidar alguns perigos existentes, so-bretudo nas maiores penitenciárias do país, vamos apresentar alguns dados relativos à situação vivida no Estabelecimento Penitenciário da Província de Maputo (Cadeia Central da Machava).

O país e o mundo estão a atravessar momentos delicados, por conta da Covid-19, que está a colocar todas as nações em verdadeiro estado de alerta, sen-do que Moçambique não é nenhuma ilha, havendo deste modo a necessidade de todos contribuirmos para evitar maior propagação da doença.

É dentro deste espírito de contribuirmos para a não propagação da doença, onde quer que este-jamos, que pretendemos lembrar a quem de direi-to que, devido a um conjunto de factores, durante longos anos, o Governo do nosso país não investiu na construção de novos estabelecimentos prisio-nais ou na reabilitação dos já existentes desde a era colonial, e por conseguinte mostram-se bastante degradados.

Para além dos pontos avançados no parágrafo anterior, agrava-se a situação da coabitação dos re-clusos, pelo facto de não ser o forte do nosso Go-verno apetrechar em equipamentos os centros de reclusão visando garantir o mínimo de condições que um ser humano necessita para viver.

Não constitui novidade para ninguém que a actual situação dos nossos estabelecimentos peni-tenciários é deplorável e caracterizada por super-lotação, atrasos na tramitação processual, dentre outros factores que, no final, violam por completo as Regras Mínimas das Nações Unidas relativas ao Tratamento de Reclusos, e ao mesmo tempo estão muito longe de concretizar as recomendações ex-pressas na Declaração de Kampala, especificamente no que diz respeito à promoção de mecanismos de tratamento de reclusos e dos meios alternativos à

EDITORIAL

FICHA TÉCNICA

PROPRIEDADE DA S.T. PROJECTOS E

COMUNICAÇÃO, LDADIRECÇÃO:

Serôdio Towo (Director-Geral)ADMINISTRAÇÃO :

Gércio MataveleRegisto N° 19/GABINFO-DEC/2012

REDACÇÃO, MAQUETIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO: Tchumene 1 | Rua Carlos tembe, Parcela Nº 696, Matola | Telf: 21 72 09 42 | Celular: 82 4753360 | Email: [email protected] | DIRECTOR: Serôdio Towo, [email protected], Cell: 82 4753360 |EDITOR: Reginaldo Tchambule, [email protected], 82 8683866 | REDACÇÃO: Serôdio Towo, Reginaldo Tchambule, Lídia Cossa, Arão Nualane| FOTOGRAFIA: Albano Uahome | ADMINISTRAÇÃO: Gércio Matavele, [email protected], 876162241|GRAFISMO: Arsénio Mário | CORRESPONDENTES: Eng. Aspirina (Xai-Xai) - 84 5140506) | Henriques Jimisse (Pretória) | Anastâncio Chirute (Maxixe), 84 9559209 | PUBLICIDADE e MARKETING : Gércio Matavele, [email protected], 876162241 |EXPANSÃO: Quidero Nhoela, Cell: 84 1065591, [email protected]| COLUNISTAS: Mateus Licusse, Izidoro Mutenda e Sérgio Tinini, Domingos Sithole, Fernando Benzane e Helmano Nhatitima| IMPRESSÃO: Sociedade do Notícia - Matola

privação da liberdade.No meio de todas as contrariedades e irregulari-

dades existentes, urge lembrarmos que a génese do sistema penitenciário no nosso país se assenta no facto de que a função da privação de liberdade dos cidadãos se encontra devidamente articulada com a função da sua reabilitação e reinserção social, ele-mentos que só podem ser consumados quando os reclusos estiverem vivos e com saúde.

É com interesse de contribuir para este direito à vida, que também é constitucionalmente defendi-do pela nossa Constituição da República, que, com dados recentes, levantamos a situação do risco de vida ou da precariedade da saúde a que os reclusos encarcerados na Penitenciária da Província de Ma-puto estão expostos.

O efectivo geral dos reclusos existentes na Pe-nitenciária da Província de Maputo não é menos de 2400, número que representa o triplo da capacidade real de alojamento que aquele centro possui. Estes reclusos estão divididos em 10 pavilhões, cinco dos quais maiores, ou seja, com mais celas em relação à outra metade.

Nos pavilhões maiores, as celas têm dimensões de 2.7/2 metros, sendo que cada uma alberga no mínimo quatro e no máximo seis pessoas. Há que sublinhar que cerca de 60% dos reclusos dormem no chão, sem condições mínimas, ou seja, não têm colchões, e parte destes dorme nos corredores dos pavilhões, exposta a toda brisa das noites e madru-gadas, o que pode, de certa forma, criar problemas de saúde, sobretudo de natureza respiratória.

Este estabelecimento penitenciário, com uma população prisional três vezes acima da média, ac-tualmente está com pouco mais de 800 reclusos que já cumpriram a metade de suas penas, o que signifi-ca que, havendo uma desburocratização processual ao nível dos tribunais e procuradorias, muitos po-deriam deixar de fazer parte desta população, e daí aliviar os serviços.

Para além dos 800 reclusos que referenciamos como tendo já cumprido a metade de suas penas, outros, mais de 300, têm pedidos de pagamento de caução submetidos aos diversos tribunais, aguar-dando já há longa data pelos respectivos despachos dos juízes.

Outra situação que não deixa de ser preocu-pante está relacionada com o número de doentes graves, que ronda a meia centena (50) de reclusos, considerados como estando em fase terminal, e, na

sua maioria, padecendo de doenças crónicas, como HIV-SIDA, associada à Tuberculose.

Na verdade, olhando para o estado de saúde de-les, podemos admitir que são pessoas que a qual-quer momento podem morrer, tal como tem vindo a acontecer nos últimos dias naquele recinto prisio-nal, onde pessoas morrem por doenças não esclare-cidas. Mas entende-se que, antes da morte, poderão contrair o novo coronavírus, e ao mesmo tempo tornar a sua situação cada vez mais complicada, para além de poderem expandir a doença.

Do levantamento realizado ao longo de vários dias, também concluímos que a situação para esta meia centena de doentes e os restantes tantos que padecem de outras enfermidades torna-se mais complexa, devido à alimentação que lhes é servida, que não é suficiente e não tem nenhuma qualida-de. Por exemplo, cada recluso, por dia, tem direito a apenas uma refeição na hora do almoço, antece-dida, nas manhãs, por uma chávena de água quente com açúcar.

Olhando para os dados que fomos avançando ao longo do texto, podemos entender que estão aqui criadas condições para uma maior propagação da Covid-19 no interior daquele estabelecimento pe-nitenciário, daí a necessidade de se prestar maior atenção nestes aspectos, o quanto mais cedo, para se evitar um descontrolo dos casos de contaminação.

O maior risco existente é de, no caso inicia-rem as contaminações dentro da penitenciária, nos próximos dias, aquela casa passar a ser o centro de maior atenção por parte das autoridades sanitá-rias, com maior probabilidade de vir ultrapassar, de longe, os casos de contaminação que nos são re-portados a partir da península de Afungi, em Cabo Delgado, e, em algum momento, os da província de Nampula.

Por conseguinte, sugerem-se algumas saídas provavelmente capazes de evitar um descalabro, quer nesta penitenciária, quer noutras de que não obtivemos dados. A primeira saída para ajudar a aliviar o sufoco, depois dos cinco mil amnistiados pelo PR, seria a desburocratização da concessão das liberdades condicionais, a atribuição do direito ao Termo de Identidade e Residência mediante paga-mento de caução, campanhas de julgamentos em massa e ainda, quem sabe, uma outra Lei de Amnis-tia, que fosse um pouco mais abrangente em termos de penas atribuídas.

[email protected]

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3DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

08 de Junho de 2020DESTAQUE

“É preciso acusar e prender também os mandantes dos raptos”

CAMAL DIZ QUE NÃO BASTA SÓ O RESGATE E PRENDER PEIXE PEQUENO

Um grupo de crimi-nosos que rapta empresários ou seus próximos,

para posteriormente servirem como moeda de troca, envol-vendo avultadas somas em di-nheiro, tem vindo a prosperar no país, há mais de uma déca-da. Tal como a Procuradora--Geral da República já reco-nheceu, em várias ocasiões, grande parte desse dinheiro é lavada através de investimen-tos na indústria imobiliária, mas, apesar dos rastros no sistema financeiro, a actuação das autoridades ainda é inci-piente. Por essa razão, empre-sários defendem que as auto-ridades fiscais e financeiras devem denunciar indivíduos que enriquecem de forma ilegítima, pois ninguém fica endinheirado de um dia para outro. Amade Camal é dos que não se contentam com o esta-do das coisas e advoga a ne-cessidade de a Justiça moçam-bicana arregaçar as mangas e acusar também os mandantes, sejam eles políticos, polícias e/ou magistrados.

A sociedade moçambicana, desde 2009, tem assistido a um tipo de crime que não fazia parte da vida do país. Trata-se de raptos de empresários ou

seus familiares que a cada dia que passa vão se sofisticando e ganhando novos contorno, in-clusive com pedidos de resga-te já na fasquia de milhões de dólares.

Devido ao aumento do nú-mero de casos e do nível de ousadia dos criminosos, que agora já não operam somen-te em Maputo, tendo alargado o seu campo de actuação para outras capitais provinciais da região centro do país, os em-presários nacionais vivem com medo e pedem maior acção das autoridades.

Em entrevista ao Dossiers & Factos, o empresário Amade Camal não tem dúvidas de que o crime de raptos, nos últimos 10 anos, dilapidou a economia

real moçambicana, pois houve uma grande redução do inves-timento nacional, particular-mente até 2014, devido aos re-ceios que esta prática gerou.

Para Camal, a forma de aca-bar com o “negócio” dos raptos “é indignarmo-nos, colaborar com as autoridades, acabarmos com os ‘candongueiros’ e exi-girmos resultados às autorida-des da PRM, SERNIC, PGR e todo o judiciário”.

De acordo com Camal, não há dúvidas de que este crime, para além de ser transfronteiri-ço, é conexo com tantos outros, como o tráfico de drogas, tráfico de armas, lavagem de dinheiro e terrorismo, por isso defende uma marcação cerrada aos mo-vimentos financeiros e marcas

de enriquecimento ilícito. “Ninguém fica endinheirado

de um dia para o outro, cabe às autoridades fiscais e financei-ras denunciar sinais de riqueza ilegítima. A Justiça deve acusar os mandantes, sejam eles políti-cos, polícias e/ou magistrados”, apelou.

Como que a lançar suspeita sobre alguns agentes que po-dem estar ao serviço do crime organizado, a nossa fonte lem-bra que, há 25 anos, Teodato Hunguana definiu, no Parla-mento, que o crime organizado é uma mistura entre políticos, bandidos e indivíduos de ins-tituições que deveriam garan-tir o cumprimento da lei. Mais tarde, o Juiz Paulino, na mes-ma onda, abordou a questão

do Estado capturado, deixando transparecer que pode existir complô entre os bandidos e as autoridades.

“Os moçambicanos precisam de uma PRM, SERNIC, PGR, tribunais, SISE, FADM e outras instituições relevantes com cre-dibilidade, sem a fama actual de existência de bandidos nas fileiras. Uma grande parte dos crimes, incluindo o terrorismo, tem políticos envolvidos. Mas nunca se viu esses políticos cri-minosos responderem perante a Justiça”, destacou

Já há raptos por resgate de um salário

Fazendo uma radiografia do

crime de raptos no país, Camal disse que, neste momento, nin-guém se sente seguro, porque os raptos também afectam o cidadão comum. “Todos os dias raptam indivíduos pelo resgate de um salário, e o que acontece é que os media só reportam os grandes raptos”, revela.

Apesar disso, o empresário enalteceu o trabalho do SER-NIC, ao nível da província de Maputo, que recentemente li-bertou dois cidadãos de origem asiática, que eram mantidos em cativeiro naquele ponto do país. No seu entender, a Dele-gação do SERNIC de Maputo deve ajudar aos colegas da Bei-ra e Chimoio, onde, nos últimos meses, tem se registado um nú-mero considerável de raptos.

Continua na Pag 16

Amade Camal, empresário

Políticos, polícias e magistrados entre os mandantes, segundo Camal Empresários instam autoridades financeiras a denunciar sinais de riqueza ilegítima “Ninguém fica endinheirado de um dia para outro”

Texto: Arão NualaneD&F

“Sem segurança não podemos desenvolver” – Sheik Aminudin Mohamad

A Comunidade Maometana no país, que congrega grande número de empre-sários de origem asiática e que tem sido alvo preferencial dos bandidos, mostra--se preocupada com a impunidade, que cria um campo fértil para a evolução des-te tipo de crime.

No entender de Sheik Aminudin, presidente do Conselho Islâmico de Mo-çambique e do Conselho das Religiões no país, começa por revelar que a prefe-rência dos sequestradores por um grupo de pessoas com características específi-cas mostra que há discriminação de uma

certa comunidade. “A nossa independência veio para

permitir o desenvolvimento do país e da

população, porque sobre o domínio es-trangeiro não tínhamos direitos naturais, que Deus proporcionou. Contudo, ape-sar de se ter ganhado a independência e a expectativa como nação ter crescido, não há segurança, que deveria resultar da boa actuação da Justiça”, defende.

Segundo ele, essa insegurança está a gerar uma retracção significativa de investimento no país, porque os empre-sários e homens de negócios nacionais e estrangeiros passaram a ter receio de investir no país, e alguns já fugiram do país à procura de países que oferecem se-

gurança para investir e viver. A fonte considera que este tipo de

crime é cometido por meia dúzia de pes-soas que não está consciente de como está a prejudicar o país, porque afugen-ta os investimentos, pensando apenas no seu bolso e na sua barriga. Daí que “hoje estão a vitimar uma classe de gente, mas amanhã se pode alastrar e passar a ser um crime normal, em que qualquer pessoa que sente fome sequestra, porque sabe que sempre terá alguma coisa”.

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SEGUNDA-FEIRA08 de Junho de 2020

DossiersFactos&4 DESTAQUE

Quatro reclusos morreram na Cadeia Central da Machava

Quatro reclusos mor-reram nos últimos 10 dias na Cadeia Central da Macha-

va, vítimas de doença, e outras seis foram levadas a hospitais de fora da cadeia em estado gra-ve. A informação foi-nos facul-tada por funcionários daquele estabelecimento prisional. As fontes dizem que os reclusos estão alarmados com a situa-ção, porque circulam rumores de que as vítimas terão morrido por causa do novo coronavírus, situação que causa agitação no seio da população prisional.

Três das vítimas mortais são indivíduos que já vinham doentes e que estavam alojados numa das laterais reservadas para doentes, no Pavilhão 4, vulgarmente de-signado por enfermaria, e o ou-tro que perdeu a vida na passada quinta-feira, 4 de Junho, estava no Pavilhão C, um dos "aparta-mentos" que mais domiciliados tem.

Funcionários daquele estabe-lecimento prisional disseram ao Dossiers & Factos que o último, à semelhança das restantes três primeiras vítimas, encontrou a morte devido a problemas respi-ratórios. Para além destes quatro, que acabaram sucumbindo por falta de uma assistência adequada e pontual, outras pessoas foram evacuadas de emergência, em estado crítico, para hospitais de fora, sendo que duas delas a sua transferência aconteceu na passa-da sexta-feira, mas ainda se des-conhece o actual estado clínico destas.

Esta informação é apenas do Estabelecimento Penitenciário na Província de Maputo, mas sabe--se que em quase todo o país a situação sanitária nos estabele-cimentos penitenciários não é das melhores, devido às péssi-mas condições de coabitação a que estão expostos os reclusos (internos), caracterizadas por superlotação.

Aliada à desumana situação de coabitação nos estabeleci-mentos prisionais, em especial naquele recinto da Machava, por sinal, um dos maiores do país e que alberga muita gente (2450), está também a precária qualida-de das refeições que os internos consomem.

NO INTERVALO DE APENAS 10 DIAS

Tudo aponta para problemas respiratórios

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Estas mortes acontecem numa altura em que o mundo e o país, em particular, atravessam momentos difíceis por conta da Covid-19, que está a colocar “to-das” as nações em estado de aler-ta, impondo-as profundas medi-das de prevenção e higienização.

Naquela penitenciária da Machava, no município da Ma-tola, está instalado um pequeno centro de saúde, com capacidade para tratar patologias permanen-tes, como são os casos da malária, diarreias, acompanhamento e administração de medicamentos a doentes com HIV-SIDA, Tuber-culose, entre outros.

Em outras ocasiões em que doenças de natureza contagiosa foram registadas naquele esta-belecimento prisional, como é o caso da cólera, as autoridades locais, em colaboração com as da Saúde ao nível da província de Maputo, sempre instalaram no interior do recinto tendas, para servir como enfermarias, e alocaram também equipas médi-cas, o que é esperado que venha a acontecer em caso de se con-firmar a existência de casos de coronavírus.

Os reclusos naquele estabele-cimento penitenciário mostram--se preocupados e receiam que nos próximos dias haja propaga-ção de casos de Covid-19, devido às condições de coabitação, apon-tadas como péssimas, e que não oferecem nenhuma das normas de prevenção da contaminação do novo coronavírus.

Saiba como vivem os reclusos no Estabelecimento Penitenciá-rio da Machava (Cadeia Central

da Machava)

Sabe-se que, devido a um conjunto de factores, durante longos anos, o Governo de Mo-çambique não investiu na cons-trução de novos estabelecimentos prisionais ou na reabilitação da maioria dos já existentes desde a era colonial, e que, por conse-guinte, se mostram bastante de-gradados, numa época em que os níveis da criminalidade subiram, acompanhados por milhares de detenções a cada ano, o que ori-

gina as superlotações.Agrava a situação da má coa-

bitação dos reclusos o facto de não ser o forte do nosso Governo apetrechar em equipamentos os centros de reclusão, com vista a garantir o mínimo de condições que um ser humano necessita para viver num centro.

O efectivo geral dos reclusos na Penitenciária da Província de Maputo não é menos de 2400, número que representa o triplo da capacidade real de alojamento que aquele centro possui. Os re-clusos estão divididos em 10 pavi-lhões, cinco dos quais maiores, ou seja, com mais celas em relação à outra metade.

Dos pavilhões maiores, as celas estão com dimensões de 2.7/2 metros, sendo que cada cela alberga no mínimo quatro e no máximo seis pessoas. Há que sublinhar que cerca de 60% dos reclusos dormem no chão, sem condições mínimas, ou seja, não têm colchões, e parte deles dorme nos corredores dos pavi-lhões, expostos a toda brisa das noites e madrugadas, o que pode, de certa forma, criar problemas

de saúde, sobretudo de natureza respiratória.

Este estabelecimento peni-tenciário, com uma população prisional três vezes acima da mé-dia, actualmente, está com pouco mais de 800 reclusos que já cum-priram a metade de suas penas, o que significa que, havendo uma desburocratização processual ao nível dos tribunais e procurado-rias, muitos poderiam deixar de fazer parte desta população, e daí aliviar os serviços.

Para além dos 800 reclusos que referenciámos como tendo já cumprido a metade de suas penas, mais outros 300 têm pedi-dos de pagamento de caução sub-metidos aos diversos tribunais, aguardando já há longa data pelos respectivos despachos dos juízes.

Outra situação que não deixa de ser preocupante está relacio-nada com o número de doentes graves, que rondam a meia cente-na (50) de reclusos, considerados como estando em fase terminal, e na sua maioria padecendo de doenças crónicas, como HIV--SIDA, associada à Tuberculose. Redacção

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5DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

08 de Junho de 2020DESTAQUE

Anibalzinho, o homem que mais viajou sendo recluso

18 anos depois Anibalzinho rende-se às autoridades

Aníbal dos Santos Júnior (Anibalzi-nho), que cumpre uma pena de 30

anos de prisão, actualmente na B.O, na Machava, em Ma-puto, é tido pelas autoridades dos Serviços Penitenciários como um homem com sinais de estar regenerado, e, con-sequentemente, não constitui muito perigo para o sector, contrariamente ao que acon-tecia antes. Este pode ser re-sultado de longos anos de trabalho coercivo visando a sua mudança de comporta-mento dentro dos estabeleci-mentos penitenciários. Como reconhecimento dos sinais de regeneração que vai transmi-tindo aos especialistas no con-trolo do comportamento dos reclusos, a direcção do Esta-belecimento Penitenciário de Máxima Segurança de Mapu-to (B.O) já iniciou as medidas de relaxamento do isolamento que vem obedecendo desde o ano de 2009, altura em que foi recapturado na África do Sul, depois de mais uma fuga, des-sa vez perpetrada a partir das celas do Comando da Polícia da Cidade de Maputo.

O referido relaxamento con-siste na autorização da Direcção Geral do SERNAP, depois de analisados vários factores, para que a direcção do estabelecimen-to penitenciário iniciasse acções de relaxamento das medidas de máxima segurança impostas a Anibalzinho desde a sua prisão, em 2002, e que foram agravadas pelas sucessivas fugas da cadeia.

Anibalzinho ou “Mecânico do Alto-Maé”, como também era apelidado, é um dos reclu-sos que constam na história como tendo perpetrado mais evasões de cadeias de máxima segurança no país, no intervalo de 1990 a 2015, e que, segundo nos foi reportado, está a mostrar sinais positivos de regeneração relativamente ao seu anterior comportamento, como quem se rende à força do seu oposi-tor e obedece escrupulosamente as orientações que lhe são da-das pelos agentes dos serviços

penitenciários.Em consideração ao com-

portamento positivo que tem vindo a mostrar de um tempo a esta parte, foram instruídas orientações superiores visando deixar Anibalzinho, sempre que se justificar, fazer trabalhos, em função da sua profissão de me-cânico auto, dentro do estabele-cimento penitenciário.

Recorde-se que Aníbal dos Santos Júnior é um dos crimi-nosos condenados por sua parti-cipação no plano e consequente assassinato do jornalista Carlos Cardoso, em 22 de Novembro do ano 2000.

Depois de detido e encarce-rado numa cela isolada na B.O, Anibalzinho viria a evadir-se da cadeia, na noite ou madru-gada de 31 de Agosto de 2002, quando tudo estava a postos para o início do julgamento, e permaneceu fora do país, em parte incerta, até à sua recaptura na cidade de Pretória, África do Sul, em finais do mês de Janeiro de 2003, quando faltava apenas um dia para a leitura da senten-ça por parte do juiz da causa que o condenou a uma pena de 28 anos de prisão maior e seis me-ses de multa.

No entanto, volvido pouco mais de um ano depois de ter sido recapturado na África do

Refira-se que a ocupação pela prática de actividades labo-rais por parte dos reclusos, den-tro dos centros de reclusão, faz parte do processo regenerativo de quem está privado da liber-dade devido ao cometimento de certo crime.

Uma fonte sénior ligada à Direcção Geral do Serviço Na-cional Penitenciário (SERNAP)

disse ao Dossiers & Factos que, “pela avaliação que se faz, tudo leva a crer que Anibalzinho está regenerado, pois, em conversas de rotina com psicólogos e ou-tros técnicos do sector da rein-serção social, mostra sinais de arrependimento e regeneração, mas a última ou próxima ver-são sobre o seu comportamento será dada dentro dos próximos

LÍDER EM EVASÕES DAS CELAS DE MÁXIMA SEGURANÇA

Serviços Penitenciários consideram-no relativamente regenerado

quatro meses”, explicou a fonte, sem dar detalhes da forma como é feita a avaliação pelos técnicos ligados ao sector da reinserção social.

A mesma fonte explicou que Anibalzinho é um dos reclusos mais antigos naquela peniten-ciária, pese embora tenha sido transferido daquele local para outro estabelecimento, devido à sua perigosidade, depois de múl-tiplas evasões, foi sempre consi-derado como do efectivo da B.O.

Ainda na sua explicação, a fonte acrescentou que, para além de ser dos reclusos mais antigos e um dos que têm uma pena mais elevada, é igualmente um dos reclusos que mais anos ficou encarcerado em celas de isola-mento, daí que, ao se notar me-lhoria no seu comportamento, se decidiu-se criar mecanismos para o relaxamento das medidas mais aturadas de encarceramen-to que vinha cumprindo.

“Ele está a mostrar bom com-portamento, de um tempo a esta parte, e eis a razão desta medida de relaxamento, para que, paula-tinamente, possa engrenar numa vida socialmente útil, primeiro, dentro da própria penitenciária, e, depois, na sociedade, quando chegar a altura da sua liberdade.

Aníbal dos Santos Júnior (Anibalzinho), que cumpre uma pena de 30 anos de prisão, actualmente na B.O

Texto de Serôdio Towo

D&F

Sul e extraditado para Maputo, em Maio de 2004, Anibalzinho volta a evadir-se da cela onde es-tava encarcerado, e desaparece sem deixar rastos.

Ainda em meados do mesmo mês de Maio, a Polícia canadiana detinha o foragido Anibalzinho, no Aeroporto Internacional de Toronto Pearson. No entanto, as autoridades moçambicanas solicitaram de imediato a sua extradição, embora não existisse acordo entre os dois países, onde para a decisão final terá contado a pressão de organizações de imprensa internacionais, que apelaram ao governo canadiano para que acelerasse a extradição de Anibalzinho a Moçambique.

Lembre-se igualmente que Anibalzinho tentou travar ju-ridicamente a sua extradição a Moçambique, através de um pedido de asilo político no Ca-nadá, desejo esse que fez com que se retardasse o processo da

sua extradição durante cerca de um ano e meio, para mais tarde as mesmas autoridades canadia-nas o persuadirem a desistir do pedido de asilo em troca de um julgamento justo em Moçambi-que, uma opção juridicamente disponível para qualquer pes-soa que tenha sido condenada à revelia.

No dia 14 de Dezembro do mesmo ano, 2004, as auto-ridades canadianas, depois da confirmação do Estado moçam-bicano em conceder um julga-mento presencial a Anibalzinho, aprovaram a sua extradição, e este finalmente foi deportado para Moçambique, no dia 21 de Janeiro de 2005, para enfrentar o aludido julgamento, que viria a iniciar no dia 1 de Dezembro de 2005, culminando com uma condenação agravada para uma pena de 30 anos de prisão maior.

Mas porque Anibalzinho nunca se conformou com o

cumprimento da pena, e o seu poder de evadir-se das cadeias continuava, no dia 7 de De-zembro de 2008, voltou a fugir, e desta vez a partir das celas do Comando da Polícia da Cidade de Maputo, onde esteve encarce-rado desde a sua extradição do Canadá, em Dezembro de 2004. Nesta sua última fuga, Anibalzi-nho esteve de “férias prisionais” cerca de oito meses, e foi recap-turado novamente na vizinha África do Sul.

Sabe-se, no entanto, que, apesar deste relaxamento de medidas de reclusão de Anibal-zinho, que cumpre na íntegra a pesada pena de 30 anos de pri-são maior, terminado o cumpri-mento da pena, não poderá per-manecer no país, segundo ditou a sentença do juiz de causa. Aní-bal terá de ser expulso do país, para Portugal, atendendo que se apresentou como cidadão de na-cionalidade portuguesa.

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SEGUNDA-FEIRA08 de Junho de 2020

DossiersFactos&6 DESTAQUE

INGC presta apoio a deslocados de guerra

Cerca de 600 crianças necessitam de apoio humanitário em Nampula

Depois dos ciclones Idai e Kenneth, da fome resultante da seca prolongada,

que assolou alguns distritos das províncias da região sul do país, com destaque para os distritos da zona norte da província de Inhambane, o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) é no-vamente chamado a mitigar os efeitos de outras situações, decorrentes da instabilidade militar que se verifica em al-guns distritos da província de Cabo Delgado, onde milhares de famílias foram obrigadas a abandonar suas zonas de resi-dência para lugares seguros.

Com efeito, o Instituto Na-cional de Gestão de Calami-dades (INGC) está no terreno, empenhado na missão de miti-gar o impacto negativo da acção dos insurgentes que aterrorizam parte significante da província de Cabo Delgado, onde matam, incendeiam casas, destroem in-fra-estruturas públicas e priva-das, assaltam estabelecimentos comerciais, entre outros tipos de sabotagem.

Segundo uma nota daquela instituição enviada à nossa re-dacção, as atenções estão maio-ritariamente voltadas para a si-tuação dos deslocados de guerra na província de Cabo Delgado, onde a instituição, só no mês

NAS PROVÍNCIAS DE CABO DELGADO E NAMPULA

de Maio, prestou assistência humanitária a cerca de 165 mil pessoas deslocadas por causa da guerra.

A mesma nota refere ainda que, para se garantir o abrigo de uma parte destes deslocados, já foram abertos, no distrito de Metuge, cinco centros de aco-

São crianças que fazem par-te de um total de 232 famílias que foram forçadas a abando-nar as suas zonas de origem na província de Cabo Delgado, devido à já conhecida acção dos insurgentes. O INGC está no terreno a prestar assistência a essas famílias, que chegaram aos distritos de Nacaroa, Me-conta e cidade de Nampula, para onde se refugiaram em ca-sas de familiares, amigos e pes-soas de boa vontade.

Para além destas e outras ac-ções, o INGC, em coordenação com o Governo da Província de Nampula, no âmbito das políti-cas de prevenção, já identificou

modação, que albergam cerca de 11 mil pessoas provenientes dos distritos assolados pelos ataques.

A mesma nota refere ainda que, para além da assistência a pessoas albergadas nos referidos cinco centros abertos no distrito de Metuge, está a ser igualmente reforçado o abrigo para outros

deslocados que conseguiram refugiar-se em casas de seus fa-miliares, amigos ou pessoas de boa vontade.

Para esta camada, o INGC está a garantir o fornecimento de materiais para construção, compostos por tendas, lonas, rolos plásticos, mantas e redes

mosquiteiras. Para além destes materiais, e visando proteger a saúde dos deslocados, aquela instituição enviou, ao longo dos últimos dias do mês de Maio, aos locais onde existem deslo-cados cerca de uma tonelada de produtos para a prevenção da Covid-19.

duas escolas públicas e um es-paço onde no passado serviu

de estaleiro de uma empresa vocacionada para a construção,

onde poderão ser erguidas ten-das, caso se registe a chegada de

numerosas famílias deslocadas, em busca de apoio e segurança.

Luísa Meque, directora-geral do INGC

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7DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

08 de Junho de 2020

Xintavana: a história de um filho gay (17)D&F

XIPHEFU

Mateus Licusse | [email protected]

- Afinal?! Não soube disso, mas fiquei perplexo naquele dia, agora, a família do tal Rob, o seu namorado, te recebeu da melhor forma? Ques-tionou o primo.

- Claro, apesar de uma e outra coisa, embora que ainda não tive um encontro sério para conhecer melhor a eles, pois são pessoas mui-to ocupadíssimas e conservadoras. Respondeu Cleya.

- Pois é. Afirmaste que a família do seu namorado te recebeu bem, apesar de "uma e outra coisa", qual é essa uma e outra coisa?

- Tem uma irmã dele que parece não me olhar com bons olhos, é meio cínica e, às vezes, tem me rejeitado quando lhe cumprimento, fingindo que não ouviu, contudo, acredito que ela irá entender como sou, as-sim que também desejo e sonho em ver meu pai aceitar me como sou, que até teve a tamanha coragem de afirmar que o berço em que eu dor-mia na infância, já não pode servir para a minha irmã recém-nascida, alegando que pode carregar o espí-rito de homossexualidade.

- Ele disse isso?- Disse e de viva-voz, mas já não

estou com rancor de ninguém, por-que sempre confiei na fé, que um dia serei reconhecido.

- Com certeza, tenhamos fé que um dia vocês serão reconhecidos. Jurou o primo do Cláudio.

As conversa entre os dois termi-nou. Garantiram-se que continua-riam a trocar impressões, sempre que necessário. Cláudio liga para o Rob vir lhe buscar de volta para casa, o primo da Cleya foi na boleia deles, tendo desembarcado mais a frente.

O senhor Baião convoca a fa-mília para que, definitivamente, o bebé tenha nome. Mais tarde, orga-nizou a cerimónia e invocaram, ao bisavô, o nome de Felícia, a criança não reagiu, chamaram por Eugénia, também nada e, por fim, invocaram vovó Marlizia, o bebé reagiu. As restantes opções de nomes ficaram para trás.

Marlizia é bisavó da avó do se-nhor Baião e, por coincidência, é o mesmo nome que Cláudio havia colocado na lista de escolhas. Que genialidade do Cláudio! O pai ficou boquiaberto, mas tinha de acolher. Realizaram a cerimónia e, tem-

po mais tarde, a criança passou a dormir no novo berçário. O antigo foi levado pelo pai à incineração. Quanta imbecilidade, assim possa se afirmar.

A dona Felismina liga para sua amiga dona Lizete:

- Hiii, comadre, "a kukala", como somes. Afirmou ela.

- "Nikone, comadre". Estou, co-madre. Respondeu a dona Lizete.

- Comadre, tua sobrinha já nas-ceu, é menina

- Parabéns, comadre, domingo venho lhe ver.

- Ok, comadre.A babá da dona Felismina, pela

sua beleza extravagante, deixa Jer-son louco. Eis que ele parte para a conquista. Usando da estratégia de paquera, antes de sair para mais uma partida de basquetebol, ele deixa um bilhetinho no seu quarto, concreta-

mente na cabeceira, com os dizeres: "Olá Sheila, gosto de ti, mas muito mesmo. Beijos". A Sheila, ao entrar para o quarto do Jerson, para os de-vidos efeitos de limpeza, depara-se com seu nome escrito naquele peda-ço de papel, tendo ficado pasma por alguns segundos, contudo, deixou--o no mesmo sítio e continuou com seu trabalho, e na normalidade.

Mais tarde, o Jerson regressa do habitual jogo, porém não encontrou alguma evidência de que o bilhete foi respondido, a não ser o seu quar-to que fora deixado limpo.

Na tarde do domingo, a dona Li-zete vem visitar a Marlizia, ela trou-xe um enxoval constituído por fral-das descartáveis, biberão e algumas roupinhas típicas.

Ao longo da conversa, a dona Li-zete ia perguntando sobre o rumo das coisas e da situação do Cláudio,

concretamente, e se as cerimónias feitas pela pastora surtiram algum efeito ou não.

- Comadre Lizete, a história é longa, antes de eu contar muitas coisa, anteontem, o pai do Cláudio queimou o berçário que Cleya usava quando bebé, alegando que traria, de novo, o mau espírito de homos-sexualidade nesta casa.

A dona Lizete ficou pasma.Importa frisar que Jerson conti-

nua tentando conquistar o coração da Sheila. Enquanto ela está no ba-nho, Jerson invade a sua privacida-de, ela nua, com a morna água do chuveiro a escorrer sobre o seu es-culpido corpo, agarra-lhe pela mão, tenta beijar-lhe, mas sem sucesso, ela empurra-o e diz:

A história continua no próximo capítulo. Saberá o que a Sheila disse ao Jerson, é algo que não esperava.

OPINIÃO

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Sucursais Maputo Matola Xaixai Cumbane Inhacoongo Maxixe Beira Chimoio Tete

Rue Eng Carlos Morgado No 361 Unidade 7 Maputo

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SEGUNDA-FEIRA08 de Junho de 2020

DossiersFactos&8 OPINIÃO

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Com a aprovação da Lei 10/2017, em revogação da 14/2014, pela Assembleia da República, julguei que o país tinha dado passos significativos, rumo ao fim de margi-nalização, fundamentalmente da juventude, que, em algum momento, fora vítima de pro-cessos disciplinares, de cuja sanção terá sido expulsão.

Em acto, visando corrigir erros come-tidos ao longo do processo da construção do estado verdadeiramente moçambicano, pelas entidades que terão instaurado proces-sos contra seus subordinados, alguns desses processos tiveram motivações políticas, até sanções politicamente encomendadas. Se es-tamos a falar da era de reconciliação nacional, não fazia sentido que os bandidos tenham sido concedidos perdão e estejam a trabalhar, e até a fazerem parte de órgãos de soberania, centros de tomada de grandes decisões e a exercerem funções de direcção e chefia nas instituições públicas, e, um pacato cidadão, porque não soube justificar o uso de algum valor, e, por azar, lhe caiu um processo disci-plinar que culminou com sua expulsão, e seja marginalizado.

A bem de todos os infractores, as autori-dades nacionais conceberam revisão da legis-lação que rege a relação laboral no Aparelho do Estado, com nova versão na alínea f) do artigo 94, estabelece que: o afastamento do infractor do aparelho do Estado, podendo ser readmitido decorridos oito (8) anos so-bre a data do despacho punitivo, desde que, cumulativamente:

i) Haja vaga no quadro do pessoal;

ii) haja disponibilidade orçamental; iii) se prove que, através do comporta-

mento, se encontra reabilitado.

Creio que, ao se introduzir a redacção acima, no Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, o legislador tinha em vista a correcção de algumas irregularidades cometidas em processos disciplinares contra alguns cidadãos que, vezes sem conta, foram vítimas de má fé de seus chefes.

Também, o legislador achou ser oportuno para corrigir a aplicação de sanções equipara-das a penas de prisão perpétua a que funcio-nários públicos estavam sujeitos, mal fossem aplicados a sanção de expulsão. Na sua maio-ria, são funcionários que representam força laboral activa e competente que caíram na desgraça desta sanção.

A medida mostra ainda que, comparati-vamente ao investimento feito pelo estado na formação do funcionário, se se tiver em conta que grande parte destes o são, depois de um longo período de formação profissional espe-cífica, podendo citar alguns exemplos, como é o caso do pessoal da saúde e o da educação, particularmente o da carreira docente, daí a boa vontade do legislador, de conceder a esses moçambicanos a oportunidade de provarem que envolveram-se em infracções sem querer, e que se encontram reabilitados para exercício de funções no aparelho do Estado.

A medida em nada beneficiava o Estado, mas sim complicava as contas, uma vez que no lugar de se pensar na formação de pessoal para outras áreas, se investia na formação para o mesmo sector, como também se aumentava o número de desempregados, de marginais e descontentes políticos administrativos.

Os nossos dirigentes a outros níveis não têm em conta os prós do legislador, ao con-ceber este articulado, estranhamente, grande parte dos nossos dirigentes dificultam o retor-no dos então expulsos do aparelho de Estado,

alegando falta de cabimento orçamental. Um argumento que não tem razão de ser, porque, no caso de professores ou para o pessoal da saúde, recrutam constantemente, mesmo em altura de restrições nacional, sãos sectores com prioridade para recrutarem.

São sectores privilegiados, atendendo o seu papel impacto social, a sua aplicação ou desempenho na execução do planificado a vários níveis, tem reflexo substancial no de-sempenho de todo o governo, relativamente aos outros sectores de cujo desempenho . Pelo que, o argumento de falta de cabimento orça-mental é desculpas do mau pagador. Pois, são sectores com possibilidades de fazerem subs-tituições a qualquer altura do ano.

Prescindir reintegrar um funcionário ora expulso, alegando falta de cabimento orça-mental para os sectores da saúde, educação, forças de defesa e segurança, é desvirtuar os objectivos que nortearam a concepção destes direito, e é uma atitude de má-fé, que deve ser repudiada veemente, denunciada e punida por quem de direito, pois enquadra-se na es-tratégia inimiga de sabotagem, para, à distân-cia, apelidarem de país sem leis.

Alguns dirigentes aconselham estes per-doados a concorrerem, contrariando o expos-to no no2, que recomenda que o funcionário demitido ou expulso, ou agente com contra-to rescindido por motivos disciplinares, não havendo vaga na instituição anterior, pode concorrer para ingressar noutras instituições públicas.

Logo, tratando-se do pedido de readmis-são na instituição ou sector onde fora expul-so, não há lugar para o requerente ser sujeito a concurso, pois só se abre concurso quando há cabimento orçamental, independentemente do número de vagas existentes, como proce-

dimento legal vigente no aparelho do Estado, a abertura de concurso para recrutamento e selecção de novos quadros para a função pública.

Há dirigentes que têm coragem de indefe-rir pedidos de readmissão com o fundamento de o requerente ter sido expulso do aparelho do Estado, demonstrando total desconheci-mento da legislação que fixa o período de oito (8) anos, findo os quais, o funcionário, ora ex-pulso, pode requerer a sua readmissão depois da sua expulsão, pelo que, o fundamento de que é porque foi expulso, não tem sustentação legal, aliás, depois do período de oito (8) anos, a lei considera que aquela sanção prescreve, não podendo, por isso, ser chamado à colação no despacho de qualquer dirigente.

Na altura, saudei evasivamente a decisão do governo, afinal era um sonho sem sono, pois, no país, continuamos com dirigentes que resistem arrendodamente às mudanças e não pactuam com as dinâmicas legislati-vas que ocorrem, dificultando, com recurso a argumentos contrários à prática ou reali-dade das instituições de que são dirigentes, na tentativa de tornar os beneficiários do legislado em infractores perpétuos, apesar de essa pena não constar da legislação penal moçambicana.

Com excepção dos impossibilitados, por razões de idade, há muitos cidadãos que ma-nifestaram interesse de reactivar a sua relação laboral com aparelho de Estado, à luz do dis-positivo legal em referência, porém, os gesto-res das instituições de que eram funcionários, em colaboração com os governos distritais, continuam abraçados com o desemprego, porque não podem gozar do direito facultado pela legislação, continuando marginalizados e a cumprirem sanções perpétuas ilegais ainda.

Sanções perpétuas no aparelho do Estado!D&F

MALWANDLA

Fernando Benzane

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9DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

08 de Junho de 2020OPINIÃO

Quando os Governos da África do Sul, Moçambique e Zimbabwe decidiram juntar o Parque Nacional do Kruger, Limpopo e Gonarezhou respectivamente, num grande parque transfronteiriço, aprendi uma grande lição por mera curiosidade: nunca se transfere os animais predadores de uma zona de um parque para outra. Acompanhava o processo de junção dos parques e notei que a transferên-cia de vários animais, sobretudo do Kruger National park para a parte Moçambicana do Limpopo, nunca incluía os predadores, e em particu-lar o Leão. Até que um dia, numa re-portagem, um jornalista que deveria compartilhar da mesma curiosidade que a minha, decide questionar os técnicos da fauna bravia envolvidos no repovoamento do parque do Lim-popo, ao que o técnico respondeu que a remoção da vedação entre os três parques era suficiente para os predadores povoarem as novas áreas, desde que houvesse caça. Será assim com todos tipos de predadores? Pa-rece que sim, mesmo quando a área geográfica não é comum quanto a dos parques referidos acima. Pelo menos parece o caso dos insurgen-tes, na minha óptica, um dos maiores predadores da Indústria Petrolífera/Gás.

Isto a propósito de uma entre-vista de Alex Vines, sobre os riscos que Moçambique corre de se tornar numa Nigéria, no âmbito do capítu-lo de violência que o país vive, parti-cularmente em Cabo Delgado. Com título “Insurgência: Há risco de Mo-çambique se transformar numa pe-quena Nigéria”, publicado pelo Carta de Moçambique. O Carta transcreve uma conversa mantida com aquele experiente investigador da Chatham House, citando a DW. Certamente, com um título sugestivo, o conteú-do da entrevista, porém, convida mais a reflexão do que a conclusões sobre o sim ou não do paralelismo entre o Boko Haram e os chamados insurgentes de Cabo Delgado. Aliás, mesmo que a mesma indicasse cla-ramente o paralelismo entre os dois contextos, isso não seria mais do que um importante elemento útil para o desenho de uma solução sustentável ao problema.

Um dos méritos da entrevista é, certamente, que o investigador, pri-meiro, mostra como a situação está por compreender e, segundo, que ainda acredita que a situação pode ser revertida, isto é, evitar que saia fora do controle das autoridades moçambicanas.

Há, certamente, algumas partes de penumbra na entrevista, princi-palmente explicitadas pelas cautelas que o entrevistado apresenta na res-posta (ou não resposta) às perguntas de fundo sobre a situação em Cabo Delgado.

Esta pequena reflexão tenta mos-trar os méritos e penumbras daquela entrevista. O objectivo é redireccio-nar a perspectiva informativa da mes-ma para uma perspectiva de reflexão e aprendizagem sobre como podería-mos minimizar os efeitos de um dos maiores predadores da indústria de petróleo e gás: a insurgência! Vamos por partes.

Perguntado sobre a origem da situação em Cabo Delgado, o inves-tigador é cauteloso, evitando respon-der de forma directa perguntas na relação causa e efeito. Por exemplo, o investigador, quando questionado sobre causas, responde com “impul-sionadores”, deixando implícito que as causas são ainda desconhecidas ou omitidas. Os impulsionadores, por ele citados, “pobreza, desigualdade e governança...”, estão presentes por todo Moçambique, pelo que, tem de haver alguma outra razão pela qual os mesmos têm efeito violento em Cabo Delgado, se comparado com outros locais do país.

Quanto a ligação entre o Gás (pro-jectos de Hidrocarbonetos na bacia do Rovuma) e a insurgência, Vines se furta a resposta, refugiando-se em causas históricas de pré-insurgência, a existência de “raiz do desconten-tamento muçulmano” existente no início da última década. Refere-se ao gás como algo que pode vir a ser ca-pitalizado pelos insurgentes.

Mais uma vez, as questões religio-sas, incluindo dentro da comunidade islâmica, por exemplo, sempre exis-tiram, e, para nós, o público, sempre audíveis nas vésperas ou durante as festas religiosas. Coisas como contra-dições sobre as datas de visibilidade

da lua ou no mês do jejum, formas de realização dos cultos, como foram mencionadas no estudo de 2017 do IESE, etc. Porém, isto afecta comu-nidades além da província de Cabo Delgado, o que não pode explicar ou deixa algumas dúvidas sobre as reais causas de por quê tais contradições teriam efeitos violentos, justamente, em Cabo Delgado.

Sobre o paralelismo entre a Boko Haram e a situação de insurgência em Cabo Delgado, Vines é muito breve, somente explicitando a poro-sidade e características geográficas da zona fronteiriça em que ambos conflitos ocorrem, similaridades que acredito que se referem ao Delta do Rio Niger e a Bacia do Rio Rovuma. Note-se que a porosidade das fron-teiras Moçambicanas não é somente geográfica, mas, igualmente, institu-cional. Há estudos que mostram que tanto as fronteiras terrestres, aéreas, quanto as marítimas são porosas e vulneráveis. Aliás, a mesma fronteira, que hoje é porosa para a insurgência, já era porosa para caçadores furtivos do Elefante na Reserva de Niassa, mi-neradores artesanais ou garimpeiros em Lupilichi e Montepuez, madei-reiros, há vários anos. Por isso, urge questionar o porquê dos efeitos da porosidade são mais intensos e mais violentos nesta época do Gás naque-la zona? Aqui, o mérito da resposta de Vines reside em observar que há alguma ligação ou factor externo ou ainda natureza transnacional da in-surgência em Cabo Delgado.

Que lições se podem tirar desta entrevista de um experiente investi-gador e que vantagens podem trazer a resolução do fenómeno “insurgen-tes em Cabo Delgado”.

Primeiro, que uma situação de in-surgência com contornos violentos, como a de Cabo Delgado, precisa ser compreendida como pré-requisito para a sua resolução, seja por via das armas ou por via daquilo que Vines chama de “estratégias de corações e mentes” (acredito que aqui ele se re-fere a estratégia social e/ou não mili-tar para erradicar a insurgência).

Segundo, Vines afirma que a si-tuação está numa fase que se pode controlar e garantir que não escape ao controlo. Mais uma vez, a capa-

cidade de desenhar soluções susten-táveis depende, fundamentalmente, de um entendimento exaustivo da situação, e a urgência de tais soluções é fundamental

Concordo quando o investiga-dor remete a solução do problema aos moçambicanos, mas sugiro que o nosso foco como moçambicanos não deve descurar a determinação de causas EXTERNAS e INTERNAS. Estejamos mais do que claros que o factor Gás, em Cabo Delgado, joga um papel chave no conflito. Lamen-tavelmente, a situação está num ní-vel que o uso exclusivo do diálogo é extemporâneo. A combinação de ganhar corações com operações das FDS é inevitável.

O paralelismo da situação em Cabo Delgado com a situação do Boko Haram na Nigéria, que o arti-go parece realçar, peca por fazê-lo de forma superficial, quando somente aponta questões de natureza geográ-fica e porosidade das fronteiras.

A Relação Gás/Petróleo e Insur-gência é tão natural quanto a relação de animais carnívoros e predadores, e outros animais nos parques e reser-vas, recordando ao parágrafo inicial deste artigo. Os insurgentes são pre-dadores por excelência da indústria de Gás/petróleo. Onde aparece o Gás, sempre aparecerá a insurgência, tar-de ou cedo. Teria sido útil que tivés-semos em conta esta relação muito antes da confirmação da existência de gás e provavelmente de petróleo, e poder desenhar os projectos de ex-ploração com medidas de segurança preventivas incorporadas.

A presença de Gás/Petróleo na zona de conflito, não só confirma o inevitável elemento externo do con-flito, como convida ao equaciona-mento deste elemento no desenho das soluções ao problema. O Desafio, porém, reside no saber as dimensões e profundezas do factor externo no conflito, mas, a prior, fica claro que as multinacionais adjudicadas e explo-radores do projecto de Gás são inte-ressados incontornáveis.

Não caiamos no erro de ignorar o factor externo do conflito em Cabo Delgado, que deve ser bem erradi-cado quanto os factores internos que constituem a causa raiz do problema.

Violência em Cabo Delgado: Haverá algum paralelismo com a Nigéria?

D&F Por Salomão Tirço Mungoi [email protected]

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SEGUNDA-FEIRA08 de Junho de 2020

DossiersFactos&10 OPINIÃO

É inegável que o avanço nas Tecnologias de Informação e Co-municação (TIC’s) tornou o mun-do uma aldeia global, onde a in-teracção entre os diferentes povos afigura-se cada vez mais facilitada, independentemente da localização geográfica dos mesmos. Com efei-to, diariamente, milhares de pes-soas de várias índoles encontram--se conectadas ao mundo virtual, através das redes sociais.

Com o surgimento destes es-paços virtuais, entidades governa-mentais de vários países têm capi-talizado o seu uso na flexibilização da comunicação em diversas áreas, como é o caso da política, onde constituem canais de interacção entre governantes e governados.

A título demonstrativo, a admi-nistração Trump, ao usar, religio-samente, o Twitter para comunicar as diversas decisões tomadas pelo seu governo, está a dar um sinal claro da noção do incontornável papel destes canais, conectados à internet, na facilitação da interac-ção entre os usuários, num mundo em constantes mudanças. De igual modo, localmente, repetidas vezes, o mais alto magistrado da nação tem recorrido à sua página de Fa-cebook para partilhar diversas rea-lizações presidenciais de interesse público, desde visitas à reuniões de Estado.

Os exemplos acima dão provas inequívocas da indiscutível utili-dade das redes sociais, na troca de informações entre os diferentes ac-tores que corporizam um sistema e seus subsistemas. Porém, visto

num outro prisma, é perceptível que as mesmas plataformas vir-tuais podem constituir factor de ci-são social nas comunidades menos preparadas, visto que requerem alguns cuidados quanto aos con-teúdos partilhados entre os seus utilizadores.

Apesar de ser entendimento de muitos que estas estruturas sociais podem influenciar, positivamente, na construção de uma sociedade interactiva, na qual o debate de ideia é a palavra de ordem, vários questionamentos ainda gravitam sobre a pertinência do seu valor so-cial, numa altura em que um passo em falso ou uma acção mal-inten-cionada é susceptível de colocar, nas mesmas plataformas, qualquer cidadão numa exposição sem igual, com particular destaque na rede WhatsApp, um aplicativo de troca de mensagens instantâneas e cha-madas de voz para smartphones.

Na mesma onda de indignação, alguns apontam o uso destes espa-ços virtuais como um perigo decla-rado para a degradação, acentuada, do tecido social, com recurso a divulgação de diversos conteúdos que em nada abonam a marcha progressiva do país. Porém, no sen-tido contrário, cidadãos de várias linhagens sociais contra-atacam e abraçam, de forma unânime, a ideia segundo a qual o grande “ve-neno” das Redes Sociais não reside propriamente na plataforma, mas sim na maneira pouco digna que distintos cidadãos ou mesmo or-ganizações têm direccionado a sua aplicabilidade.

Perante estes pontos de dis-córdias, particularmente, enten-do que num mundo globalizado, onde o recurso às TIC’s se torna indispensável, é escusado discutir o valor social das Redes Sociais, comprovado que, o seu uso pode reduzir a distância entre as enti-dades governativas e as comuni-dades, permitindo que qualquer cidadão participe na construção de uma sociedade cada vez melhor. Igualmente, não se pode negar que o uso racional destas plataformas digitais pode abrir espaço para o cidadão comum participar no de-bate sobre vários assuntos, entre eles, a lógica das decisões mais can-dentes da sociedade, das actuações das elites governativas e do próprio cidadão na gestão da coisa pública, bem como levantar questionamen-tos e possíveis soluções sobre os variados problemas que enfermam o país.

Um dos exemplos mais recentes que atesta o valor, quanto a mim, socialmente incontestável, do bom uso das Redes, particularmente, na discussão de assuntos nacionais é o debate em curso entre os inter-nautas, acerca da suposta proposta de mudança da actual designação “Mambas” para a nossa Selecção Nacional do Futebol. Trata-se de uma manifestação que demons-tra quão a participação popular, através das plataformas virtuais, pode ser exercida e condicionar a tomada de algumas decisões, sem, no entanto, o cidadão fazer parte dos fóruns formais, criados para o efeito.

Portanto, é minha percepção que, para uma sociedade que se preze, o impacto das redes sociais não pode ser avaliado, apenas, pelo conteúdo desabonatório que certas pessoas mediatizam em diferentes plataformas, mas, sim, pelas boas práticas que pessoas do bem, dia após dia, veiculam para informar e formar o cidadão a vários níveis. Contudo, para que isso aconteça, urge a mudança de atitude por par-te dos usuários e pela implementa-ção rigorosa da lei, que criminaliza alguns actos publicados nas plata-formas ora referenciadas, por parte das entidades competentes, segui-do pela respectiva fiscalização.

Por último, entendo que para a grande marcha de mitigar a publi-cação dos conteúdos nefastos, bem como amainar os efeitos resultan-tes do seu uso nas redes sociais, é incontornável a aparição coerente dos líderes de opinião, em espaços virtuais, visto que se trata de indi-víduos munidos de ferramentas e capacidade susceptível de influen-ciar as massas.

Enquanto os líderes de opinião continuarem a levar, para o debate nas redes sociais, agendas incen-diárias, que mais do que desmisti-ficar os calcanhares de Aquiles que imperam para a evolução social, estaremos, como sociedade, numa luta ingrata de projectar uma ima-gem negra das redes sociais, e quiçá de engrossar a lista dos que, incan-savelmente, investem as suas forças no assassinato do carácter do paca-to cidadão e alastramento de ódio entre os vários actores sociais.

Redes Sociais: uma afronta ao progresso social?

D&F

Tamanho Tabloid E-PaperTrimestre 1,500.00 1,800.00Semestre 2,500.00 2,800.00Anual 4,200.00 4,500.00

Contactos: 876162241, 842285835, 823991947

DossiersFactos&TABELA DE ASSINANTES

Fenias Zimba: [email protected]

RETINA SOCIAL

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11DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

08 de Junho de 2020OPINIÃO

- Depois da mana Márcia na AR, Eufémia Amala no MGCAS, é a vez da Autarquia de Quelimane.

- Vamos seguir o exemplo deste Edil … ser diferente é ser normal, e a inclusão começa contigo!

As pessoas são diferentes sim, mas elas têm o mesmo direito. Uma socie-dade que respeita os pergaminhos da diversidade torna-se, a todo custo, justa, coerente e valorizadora da vida humana. As pessoas com deficiência têm sido alvo de inúmeras limitações de participação social e política. Elas não podem exercer, da mesma forma, direitos consagrados na constituição da república, sendo, esta, a principal barreira.

Nas campanhas eleitorais, e com enfoque para as recentes eleições, muitos dos partidos, e pela primeira vez, se não me engano, embandeira-ram-se na promoção do adjectivo in-clusão em suas campanhas. Era fácil ouvir inclusão aqui e acolá, o que, de alguma forma, acabou sendo estra-nho para alguns actores que pregoam no seu dia-a-dia este desiderato. Na poeira da campanha, uma jovem deputada, e com deficiência física, entrou pela porta grande da Assem-bleia da República e certamente será, ela, uma mais-valia na apreciação, aprovação das leis que favoreçam o ambiente de participação social e po-lítico, livre de qualquer forma de dis-criminação ou estigma.

As vozes e formas de promoção deste fenómeno raro nas nossas ac-

ções davam sinais de termos um fi-gurino, talvez, diferente do habitual. Para nós, inclusão seria nada menos que reparar para as diferenças como algo que nos une, e não o contrário. Esperávamos que, na construção do novo aparelho que é responsável pela gestão diária da vida dos moçambica-nos, tivéssemos, no meio destes ges-tores, pessoas e quadros de diferentes tamanhos e formas. Queríamos lá ver pessoas “gordas, altas, baixinhas”, queríamos lá ver, ainda, pessoas da cidade, do campo, do centro, norte, sul e sei lá, outras definições da mãe rosa-dos-ventos.

Inclusão para nós, e na lição para os políticos, é, mesmo, reparar para o cidadão como elemento válido na construção do país, oferecendo espa-ço para que este opine e dê seu con-tributo sem nenhum condicionalis-mo. As pessoas com deficiência já são diferentes de tantas outras, se por aí considerarmos o facto de estas apre-sentarem alguma limitação notável na sua forma de ser e de estar.

No olho do mundo, quem precisa de um dispositivo de auxílio para se locomover, ou seja, quem precisa de ter muletas, cadeira de rodas ou ca-nadianas, na condição de mobilidade, claramente, esta pessoa é diferente de outras. Quem precisa de uma benga-la branca, precisa de óculos auxiliares de vista ou ainda um aparelho audi-tivo, um auxiliar como intérprete de língua de sinais, uma pauta de braille, claro, este indivíduo será considerado

de uma pessoa com restrições, o que não é de negar. Negamos, sim, que se use características individuais das pessoas com deficiência para se impor o que é ou não deve ser de direito. As diferenças estão, talvez, impossíveis de revertê-las, mas comportamento e atitudes discriminatórios, esses, sim, são alvos de qualquer luta de promo-ção e divulgação dos direitos deste grupo social.

São estas características/atitudes que dominam o nosso ego, baseamo--nos nisto para definir quem é quem, e como podemos contar com o po-tencial que advém, o que plenamente discordo. As pessoas com deficiência, mesmo com estas ou aquelas caracte-rísticas, também são seres pensantes, elas têm vontade própria, o que inclui suas escolhas (do bom e do mal), elas têm sentimentos, amam e são parte de qualquer tipo de necessidades que os outros têm.

Esta lição é bem trazida das ban-das de Quelimane, que ao nomear, no presente mandato, um director para área de saúde, que apresenta caracte-rísticas não habituais no olho de mui-tos de nós, vem, isto, mostrar a fór-mula sobre o conceito inclusão. O edil foi contra a regra básica de exclusão. Ele, no meu ponto de vista, ao nomear esta figura, passou a merecer, de mim, maior respeito e admiração, ele não se importou em reparar para compo-sição física do director, mas sim pelo potencial que tem tanto quão técnico.

Manuel de Araújo deu uma gran-

diosa lição, ao mostrar ao mundo que podemos participar, e duma forma activa, no exercício de remoção de barreiras atitudinais, barreiras estas responsáveis pelo fardo elevado de discriminação, exclusão e marginali-zação de pessoas com capacidade de fazer as coisas acontecer.

Bem-vindo senhor director da saúde neste seu novo desafio. O edil, ao dispor-lhe esta pasta, estará seguro da boa e qualitativa contribuição, que você e sua equipe darão para respon-der aos problemas de saúde que afec-tam os munícipes de Quelimane.

Coloque no seu desafio, senhor director, a necessidade de remoção das barreiras físicas e arquitectónicas nos centros de saúde da urbe, mobili-zando parcerias técnicas e financeiras para uma acção mais robusta de au-ditoria de acessibilidade nas unidades hospitalares. Esta auditoria poderá ser seu escudo de negociação de qual-quer tipo de intervenção na remoção de barreiras físicas e arquitectónicas à luz do decreto 53/2008.

No seu mandato, meus parabéns virão ao observar que, pelo menos, 50% das suas unidades hospitalares são acessíveis à todas as pessoas. São acessíveis às pessoas idosas, mulhe-res grávidas, crianças, às pessoas com deficiência física, auditiva, visual e intelectual. Isto não é uma utopia, e querendo, podemos transformar este sonho em realidade.

Bem-haja o edil e munícipe de Quelimane.

Autarquia de Quelimane exibe primeiros sinais da abordagem sobre inclusão

D&F

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DossiersFactos&TABELA DE PUBLICIDADE

Por: NkassanaWaka-Tembe–[email protected]

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SEGUNDA-FEIRA08 de Junho de 202012 Dossiers

Factos&

Jonasse, um bairro votado ao sofrimento da sua população

São vários os problemas que preocupam os re-sidentes dos bairros Jonasse-Sede, A e B,

no posto administrativo da Matola-Rio, distrito de Boane, província de Maputo. Dentre várias necessidades, a popu-lação reclama essencialmente a falta de transporte de pas-sageiros, o que faz com que pessoas de todas as idades per-corram longas distâncias a pé para terem acesso a serviços sociais básicos, como posto de saúde, mercado, incluin-do escola de nível secundário. Os residentes reclamam que, vezes sem conta, mulheres grávidas dão à luz na rua, a caminho do hospital, devido à distância existente entre este e a comunidade.

PANO DE FUNDO

Segundo explicação dada pe-las fontes, esta situação não só constrange aos adultos, porque crianças que atingiram idades e classes para frequentar o nível se-cundário também sofrem quando vão à escola, que dista sensivel-mente sete ou nove quilómetros daquele bairro residencial.

Por exemplo, as que entram no período da manhã são obriga-das a madrugar e expor-se a todo o tipo de riscos, para poderem chegar à escola a horas, visto que o bairro só tem uma escola do primeiro e segundo grau.

‘‘Sinto pelos meus filhos, que, quando vão à escola, têm que ca-

São bairros que, depois da guerra dos 16 anos, que assolou o país de forma gradual, foram conhecendo um crescimento assinalável, caracterizado por construções de casas habitacio-nais, e o consequente aumento da densidade populacional, pe-cando por não ter sido acompa-nhado por instalação de infra--estruturas de serviços públicos, água e energia eléctrica para cer-tas zonas, como é o caso do bair-ro Jonasse “B”

Localizados no extremo sul da capital da província de Mapu-to (cidade da Matola), os bairros Jonasse-Sede, A e B, este último com oito quarteirões, nas quais residem cerca de 700 famílias, a angústia é maior nos residentes, devido à falta de quase todos os serviços básicos para uma comunidade.

SITUADO A 15 QUILÓMETROS DA MATOLA

Texto: Hélio de CarlosD&F

Fontes com as quais a nossa Reportagem conversou, contam que, naquele bairro, não existe mercado, centro de saúde, água potável, nem energia eléctrica, e ainda consideram que a falta de transporte público de passageiros é o que lhes agrava o sofrimento.

As fontes do Dossiers & Fac-tos contam que, devido à falta de transporte para aquela zona, os residentes são obrigados a per-correr cerca de sete quilómetros a pé para encontrar um transpor-te público, e uma distância muito superior a esta para chegar a um posto de saúde.

‘‘Havia dois autocarros, mas depois das eleições retiraram”

Madalena Fabiano Massana é uma das residentes daquele bair-ro, e disse à nossa Reportagem

que o caricato é que, alguns me-ses antes da realização das últi-mas eleições gerais, em Outubro passado, o Governo alocou dois autocarros, que faziam o trans-porte público de passageiros, obedecendo o percurso Baixa--Jonasse, gesto que minimizava o sofrimento da população daque-le bairro e não só.

Sucede, porém, segundo a mesma fonte, que alguns meses depois das eleições, os autocar-ros foram retirados de circu-lação, alegadamente porque a estrada que liga o Posto Policial de Chinonanquila ao Terminal de Jonasse, num troço de sensi-velmente seis quilómetros, está degradada.

Trata-se de uma via que, por muitos anos, beneficiou de ma-nutenção rotineira, que era feita por uma empresa privada que se dedica ao transporte e venda de areia, pedra e outro tipo de ma-teriais de construção. Isto deve ter criado mimos ao Governo Distrital, que, aparentemente, se esqueceu do seu papel.

De um tempo a esta parte, a referida empresa deixou de fazer a manutenção daquela rodovia abrindo, deste modo, lugar para uma degradação acentuada da estrada, e, como consequência, nem os operadores privados de transportes semi-colectivos de passageiros se atrevem a me-ter seus carros naquele troço, o que resulta em verdadeiro mar-tírio diário, para quem pensa em sair de casa e depende desse transporte.

minhar durante quase ou pouco mais de uma hora até ao posto administrativo da Matola-Rio, na famosa zona da Tubiacanga, onde devem apanhar transporte que lhes leve à escola’’, lamentou a fonte.

A situação dos alunos que frequentam o ensino secundário

Crianças em idade escolar não escapam deste martíriopiora para os que, por diversos motivos, estudam no curso noc-turno, pois também são sujeitos a estas longas caminhadas, perante todo o tipo de riscos imagináveis, o que faz com que muitos alunos, em especial as raparigas, desis-tam de estudar.

Ainda sobre os riscos a que

‘‘Falta de transporte agudiza amargura dos residentes’’

os alunos que estudam no cur-so nocturno se expõem quando regressam da escola, no longo percurso feito a pé, uma outra residente daquele mesmo bairro sugere que as autoridades criem condições para que a escola pri-mária existente no bairro tenha salas anexas para o ensino secun-

Madalena Fabiano Massana, uma das residentes

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13DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

08 de Junho de 2020PANO DE FUNDO

Luís David Maches, chefe de um dos quarteirões daquele bair-ro, e por sinal membro da comis-são dos residentes, que foi criada sob orientação de uma equipa de trabalho da empresa Electricida-de de Moçambique (EDM), com o intuito de facilitar e acelerar o processo de instalação da corren-te eléctrica naquele bairro, disse à nossa Reportagem que, desde 1992, ano do fim da guerra de desestabilização, os moradores de Jonasse “B”, procuram sem sucesso ter ligação de energia eléctrica.

Durante estes cerca de 28 anos submetendo documentos pedindo a ligação de energia eléctrica na-quela comunidade, nunca tiveram resposta satisfatória, sendo que só no ano passado, altura em que se aproximava a campanha eleitoral, é que foram montados postes para a expansão da corrente eléctrica.

Segundo a mesma fonte, com a colocação dos postes, trabalho feito às correrias, a EDM encheu

de esperança os residentes daque-

Outra preocupação que é levantada pelos residentes do bairro Jonasse B é a falta de um centro de saúde com maternida-de nas imediações. As fontes di-zem que são vários os casos em que mulheres chegam a dar à luz em pleno caminho para o hospi-tal, devido à distância que existe, sem meios de transporte.

‘‘Mulheres dão à luz na rua, a caminho do hospital’’

Comissão para expansão da rede eléctrica não tem detalhes do projecto

la comunidade, que viam uma luz no fundo do túnel, depois de muitos anos, mas depois que pas-saram as eleições, o projecto pa-rou por completo, sem nenhuma explicação.

“ Ninguém sabe ao certo os porquês daquele trabalho ter sido iniciado e depois ser interrompido sem nenhuma satisfação. Para nós, olhando para a forma como traba-

lharam connosco, era impensável

que pudéssemos chegar ao final do ano passado sem se iniciarem as baixadas para as residências, pelo que nos sentimos enganados por motivações políticas”, disse um residente.

A mesma fonte acrescentou que, em conversa com o delega-do da EDM ao nível do distrito de Boane, Eng. Cremildo, este prometeu que até ao mês de Mar-ço findo já estariam instalados os Postos de Transformação, (PTs) e os cabos de corrente eléctrica tam-bém montados, mas nada disso está a acontecer.

Alguns residentes já fizeram instalações internas, aguardando apenas o próximo passo da EDM. ‘‘Para congelar produtos ou carre-gar telemóveis, temos que recorrer aos vizinhos que têm painéis sola-res”, disse outra fonte.

Projecto será retomado a qual-

quer momento

Uma fonte da empresa Elec-tricidade de Moçambique disse ao Dossiers & Factos que o projecto da montagem de postes e electri-ficação do bairro Jonasse “B” , e não só, não foi interrompido por questões políticas, tal como erra-damente alegam alguns residentes.

A mesma fonte explicou que tudo tem a ver com a questão da reprogramação das actividades, e que está em curso a efectivação do projecto, que decorre em toda

a província de Maputo, sendo que, para aquele bairro em especial, as actividades poderão ser retomadas

dentro de curto espaço de tempo.

São dois centros de saúde aos quais as populações daqueles bairros recorrem, sendo que um, que é considerado ligeiramen-te próximo, se localiza perto do posto administrativo e dista sen-sivelmente quatro quilómetros dos bairros em alusão. O outro, maior que o primeiro, está mais distante, concretamente próxi-

mo à fábrica de alumínio Mozal.Praticamente, uma mulher

grávida está “proibida” de sentir dores do parto de noite naque-les bairros, sobretudo no Jonasse “B”, onde, em caso de não conse-guir boleia de pessoas de boa fé, a solução é transportar a mulher com dores do parto num carri-nho de mão (txova), para per-

correr as distâncias já descritas, o que faz com que, muitas vezes, as mulheres acabem tendo o parto a caminho do hospital.

Mas porque o azar não vem só, dizem as fontes que na época chuvosa o transporte de doentes com recurso a txovas não serve, porque, para chegar a este bair-ro, atravessa-se uma zona baixa,

que na época das chuvas, carri-nhos de mão não podem passar, tornando assim mais complica-da a situação. ‘‘Já estiveram cá elementos ligados ao Governo da Província de Maputo, para se inteirar das nossas dificulda-des, mas nunca mais tivemos qualquer tipo de resposta’’, esclareceu.

dário geral do curso nocturno.Descrevendo minimamen-

te o quão é complicado para os alunos que frequentam o ensi-no secundário, quer no período diurno, quer no nocturno, a fonte explica: ‘‘para as crianças que es-tudam no período da manhã, en-trando às 6:45 horas, são sujeitas a acordar pela madrugada (4:00), para se prepararem, saem de casa antes das 5:00 horas, e caminham até à paragem, onde devem che-gar às 6:00 horas, e esperar pelo transporte que lhes leve à esco-

la. Este cenário só não é pesado quando chega o verão, porque o

dia nasce mais cedo, mas quando for o período de inverno, a situa-

ção fica ainda mais complicada”.A mesma fonte explica ainda

que para os que vão no período da tarde, o cenário fica compli-cado quando na época do ve-rão, porque devem começar a caminhar numa altura que o sol estiver no pico, com altas tem-peraturas, podendo até contrair doenças.

No entanto, para os do curso nocturno, o cenário é o já descri-to anteriormente, nomeadamen-te a exposição aos malfeitores, que pululam pelas ruas, assal-

tando e até violando sexualmen-te as meninas, apesar de ter sido montado um posto policial ao longo da estrada ora degradada. Ora, o mesmo não pode suportar a demanda, atendendo que são muitos bairros para apenas uma única unidade policial.

A mesma fonte afirma que lhe custa conceber que crianças com 14, 15, 16 ou 17 anos de idade es-tudem de noite, passando a che-gar à casa às 23:00 horas ou mes-mo à meia-noite, regressando da escola” lamentou.

De lembrar que recente-mente, o delegado da EDM em Boane, Crimildo Elias, disse ao jornal Dossiers & Factos que a instituição está numa fase de finalização dos trabalhos no bairro Jonasse “A”, onde tem postes implan-

tados, sem cabos e, agora estão a coloca-los.

Na altura em que Elias falou à nossa equipa de reportagem assegurou que a previsão é de três meses para terminar os trabalhos naquele ponto, para atacar outras zonas do distrito de Boane.

O delegado da EDM salientou também que a empresa se ressente da pandemia da covid-19,

que de alguma forma afectou o plano de trabalho. Outro dado avançado pelo delega-do é que a EDM está a cum-prir um plano do Governo, mas houve imprevistos que forçaram a paragem.

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SEGUNDA-FEIRA08 de Junho de 2020

DossiersFactos&14

neste período do estado de emer-gência não estão a estudar, não estão inclusas na rádio escola, nem telescola.

“Para o caso de crianças com deficiência, falando de todo o tipo de deficiência, há necessida-

NACIONAL

Governo exclui pessoas com deficiência no combate à Covid-19

“Pessoas com deficiência mais expostas à Covid-19”

As medidas adoptadas pelo Governo para conter a propagação do novo coronavírus

não são inclusivas. Os cidadãos moçambicanos com deficiência demandam medidas específi-cas, contudo, nada sobre isso está previsto no decreto presi-dencial que determina o estado de emergência, num contexto em que, não raras vezes, esta ca-mada social depende de tercei-ros e objectos para fazer alguma actividade ou para se locomo-ver, o que por si só já os expõe ao risco.

Na sequência da declaração do estado de emergência, pror-rogado pela segunda vez em 28 de Maio pelo Presidente da Re-pública, Filipe Nyusi, o Governo adoptou medidas para conter a propagação da Covid-19.

Sectorialmente, o Ministério do Género, Criança e Acção So-cial (MGCAS) anunciou medi-das a serem tomadas nas unida-des sociais e na implementação dos programas de assistência social no contexto da Covid-19. As mesmas visam proteger os cidadãos moçambicanos em si-tuação de vulnerabilidade, mas não tomam em consideração as necessidades específicas das pes-

soas com deficiência.Esta situação preocupa a

Associação dos Deficientes de Moçambique (ADEMO), que entende ser necessário que me-

didas específicas sejam tomadas para proteger as pessoas com de-ficiência da pandemia. O Censo Geral da População de 2017 constatou que a prevalência da

Farida Gulamo, da Associa-ção dos Deficientes de Moçam-bique (ADEMO), olha para a não inclusão das pessoas com deficiência com uma certa preo-cupação, porque essas pessoas acabam estando expostas aos ris-cos, principalmente de infecção pela Covid-19.

Farida Gulamo lamenta o facto de este grupo social com necessidades especiais não estar incluso em nenhuma parte do decreto presidencial.

“O decreto não fala das pes-soas com deficiência, em nenhu-ma parte cita esse grupo social, e isso é preocupante, porque so-mos um dos grupos vulneráveis, precisamos sempre do auxílio de alguém para nos movimentar, fazer alguma tarefa, mas a reco-mendação é de distanciamento e evitar aperto de mãos, o que para nós é quase impossível”.

Gulamo disse que mesmo as crianças com deficiência, que

Texto: Lídia CossaD&F

MEDIDAS NÃO SERVEM PARA TODOS

deficiência em Moçambique é de 2,6 por cento.

As pessoas com deficiência não são apontadas como um grupo de risco nos esforços do

combate à Covid-19, contudo, esta pandemia pode ter um im-pacto desproporcional significa-tivo neste grupo populacional, segundo a ADEMO, porque existe uma grande probabilidade de que elas sejam portadoras de doenças subjacentes relaciona-das à função respiratória, função do sistema imunológico, doen-ças cardíacas, diabetes, entre outras.

Por reconhecer esta situação de vulnerabilidade a que as pes-soas com deficiência estão ex-postas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu um con-junto de recomendações a este respeito, para a consideração dos governos nacionais. Igualmente, a International Disability Allian-ce, uma instituição que repre-senta as organizações de pessoas com deficiência a nível global, emitiu directivas e criou uma página específica com recursos sobre como incluir as pessoas com deficiência durante a pan-demia, o que não é observado no nosso país.

Por essa razão, o Fórum das Associações Moçambicanas de Pessoas com Deficiência enviou uma carta aberta ao Presidente da República, Filipe Nyusi, ape-lando para a inclusão de pessoas com deficiência nas acções de prevenção e resposta ao novo coronavírus em Moçambique.

Farida Gulamo, directora de Lobby e Advocacia na ADEMO

de de usar a língua de sinais, lín-gua local e até legenda, se neces-sário, para alcançar a todos, mas, nessas aulas, através da televisão

ou da rádio, não há essa inclusão; essas crianças estão excluídas do ensino a distância, porque não se

criou condições antes da tomada de decisões”, destacou.

Para a fonte, urge a necessi-dade de tomar medidas mais in-clusivas e aplicáveis a esse grupo social.

“Mostra-se urgente a adop-ção de material para orientar e informar as pessoas com defi-ciência. É preciso assegurar uma comunicação acessível a pessoas com deficiência, através do uso da linguagem de sinais e tecno-logia específica, e a comunicação social deve adoptar uma aborda-gem que inclui a situação parti-cular das pessoas com deficiên-cia”, destacou

O acesso à informação útil e credível para as pessoas com deficiência tem sido, segun-do a nossa fonte, um calcanhar de Aquiles na actual resposta à Covid-19.

“O Ministério da Saúde tem assegurado a difusão da informa-ção em língua de sinais, durante

as conferências de imprensa de actualização do estado da pan-demia no país, mas é importan-te recordar que as pessoas com deficiência não são um grupo homogéneo, e por isso a infor-mação deve ser difundida em formatos alternativos acessíveis para todas as pessoas com defi-ciência”, advoga.

No entanto, Gulamo advoga que aquela associação tem to-mado medidas, como o trabalho rotativo, lavagem constante das mãos e, por vezes, a desinfecção das superfícies que são frequen-temente tocadas, como forma de evitar a propagação da Covid-19.

“Estamos a fazer o que está ao nosso alcance, temos na entrada um balde com água e sabão e também não trabalhamos todos nos mesmos dias, implementa-mos o trabalho rotativo. De vez em quando, desinfectamos as su-perfícies frequentemente tocadas aqui dentro”, terminou.

“Por essa razão, o Fórum das Associações Moçambicanas de Pessoas com Deficiência enviou uma carta aberta ao Presidente da República, Filipe Nyusi, apelando para a inclusão de pessoas com deficiência nas acções de prevenção e resposta ao novo coronavírus em Moçambique

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15DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

08 de Junho de 2020NACIONAL

O facto foi revelado pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, através da sua página oficial na rede social Facebook, um dos seus principais canais para a interacção com diversos segmentos da sociedade.

“O primeiro-ministro felici-tou a segurança moçambicana pelo facto de, em muito pouco tempo, ter devolvido ao conví-vio normal o cidadão de origem indiana que tinha sido raptado em Maputo”, escreveu o Presi-dente da República.

Recorde-se que Rizwan Adatia foi resgatado de um es-conderijo no bairro de Mulota-ne Bili, na localidade de Matola--Rio, na província de Maputo, ao fim de 21 dias de cativeiro, onde era mantido em condições deploráveis.

O empresário praticamente radicado em Moçambique e que se vem notabilizando, nos últi-mos anos, pelas suas acções de filantropia, havia sido raptado no dia 30 de Março por quatro indivíduos armados, quando saía de um dos seus estabeleci-mentos, na zona de Fomento, na cidade da Matola.

Através da Rizwan Adatia Foundation, uma organização sem fins lucrativos focada na

Por via uma chamada telefónica, o primei-ro-ministro da Ín-dia, Narendra Modi,

endereçou, semana finda, ao Chefe do Estado, Filipe Nyusi, uma mensagem de felicitação às autoridades do nosso país pelo resgate do empresário e filantropo de origem indiana, Rizwan Adatia, ao fim de mais de 20 dias de cativeiro.

Governo indiano congratula Moçambique pelo resgate de Rizwan Adatia

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redução de desigualdades na educação, saúde e desenvolvi-mento económico em comuni-dades da Ásia e África, o em-presário já atingiu milhares de moçambicanos. Entre as suas acções, consta a distribuição de kits escolares para mais de 18 mil beneficiários, campanhas de cirurgia ocular com incidência para a remoção da catarata, que já beneficiaram mais de 2850 moçambicanos.

Ainda na área da saúde, aquela fundação devolveu a es-perança de recuperar a audição a milhares de moçambicanos, incluindo crianças, com campa-nhas de tratamento e distribui-ção de aparelhos auditivos, que

permitiram que perto de 900 pessoas tivessem a oportunida-de de ouvir ou voltar a ouvir.

Igualmente, Rizwan Adatia, através da sua fundação, lançou um projecto de furos de água nas comunidades, que benefi-cia mais de 50 mil pessoas, para além de um projecto de micro--finanças que beneficia mais de 2400 pessoas.

Uma das suas principais marcas tem sido as feiras de

saúde, que já escalaram várias províncias do país, impactando

directamente na melhoria da qualidade de vida de mais de 13

mil pessoas, pois se beneficia-ram de tratamentos em servi-ços que quase nunca chegam às comunidades.

Aquando do ciclone Idai, a Fundação Rizwan Adatia foi uma das instituições que mais se destacou no apoio aos ne-cessitados, distribuindo kits ali-mentares e outros tipos de apoio a milhares de pessoas afectadas.

Na província de Maputo, a fundação tem um centro de for-mação vocacional que beneficia mais de cinco mil pessoas da ci-dade da Matola, tendo apoiado alguns dos beneficiários, através da aquisição e distribuição de mais de 600 máquinas de costu-ra, o que transformou a vida de muitas famílias.

Texto: Dossiers & Factos

D&F

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SEGUNDA-FEIRA08 de Junho de 2020

DossiersFactos&16 NACIONAL

Município da Matola remove barracas e fortifica mercados

“Mandantes e raptores devem ser punidos exemplarmente”

VISANDO REPOR A POSTURA MUNICIPAL E PROTEGER OS MUNÍCIPES

No início, sob o comando do Ministério Público a nível da pro-víncia, a acção era para ser de ime-diato. Contudo, o município deu prazo de duas semanas, e a partir do início do mês de Maio foi comu-nicado que no dia 16 começaria a remoção.

Houve distribuição de pan-fletos que explicavam claramente o que iria acontecer e quando iria acontecer. Houve ainda diálogo com as comissões representantes desses vendedores informais, onde alguns se retiraram voluntariamen-te e uma parte que não acatou.

Tal como fez saber o porta-voz do Conselho Municipal da Cidade da Matola, Firmino Guambe, esta acção consiste, em primeiro lugar, na remoção ou transferência para dentro dos mercados de vendedo-res que estão a exercer essa activida-de em locais impróprios.

Para os vendedores que colabo-raram com as autoridades munici-

O município da Ma-tola está a levar a cabo um trabalho de reorganização

dos mercados, removendo bar-racas e retirando vendedores informais das ruas e bermas da estrada. A acção iniciou na pri-meira semana de Maio, antece-dida por campanhas de sensi-bilização e retirada voluntária de alguns proprietários. Como sempre acontece nesse tipo de processo, há uma parte que não colabora com as autoridades e é retirada à força.

pais e saíram dos locais impróprios, seja nas vias públicas, nos passeios, nos quintais ou em locais não desti-nados para tal, procedeu-se ao seu enquadramento dentro dos merca-dos, porque há espaços disponíveis e outros que foram abandonados.

Alguns vendedores tomaram a iniciativa de remover as suas bar-racas, mas também houve aqueles que acharam que não, e preferiram desobedecer a acção do município.

“Para além da necessidade de acabar com a venda informal nas ruas, também estamos num perío-do não muito bom, dada a pande-mia que temos, e uma das medidas é essa de reorganizar, portanto, em sede da Covid-19, mas também para conferir um pouco mais de dignidade a esta actividade, falo concretamente da questão da se-gurança, porque as pessoas estão expostas a vários riscos nos locais onde exercem essa actividade, como os atropelamentos, mas tam-bém a questão da higiene para com os produtos que comercializam,

que vão manuseando e colocando à disposição dos clientes, por isso há necessidade de serem enquadrados em mercados”, explicou.

Guambe explicou ainda que

tiveram equipas que trabalharam com as comissões que dirigem os vendedores informais, explican-do o que ia acontecer e quando ia acontecer. A fonte sublinhou que o processo decorre em estrita obser-vância da lei.

“No início, distribuímos até

Dando a entender que as nossas instituições de adminis-tração da justiça não funcionam devidamente, o presidente do Conselho das Religiões avançou que os crimes existem em todo o mundo, mas quando a Justiça funciona, as pessoas sentem-se seguras.

A fonte sugere que se o Go-verno tem algumas limitações em descobrir os promotores deste mal na sociedade, que está

panfletos, em que explicávamos cla-ramente o que ia acontecer e quan-do ia acontecer, tivemos equipas que trabalharam com comissões, dialogamos com essas comissões, mas num processo desta natureza há sempre alguém que pensa que não devíamos avançar dessa forma. Há que sublinhar que não estamos a fazer esse trabalho à revelia nem estamos a inibir o exercício dessa actividade, mas não temos outra saída para os que não colaboram. Os que colaboraram estão nos mer-cados e ainda há espaço para os outros, porque para além dos mer-cados já existentes, estamos a criar condições para ter outros espaços adequados para o exercício dessas actividades”, destacou.

Desde que esse processo iniciou até hoje, já foram enquadrados cer-ca de 1300 vendedores, e por conse-guinte, também já foram removidas cerca de 300 barracas, “outros nem barracas tinham, eram pequenas bancas, também retiramos, e o pro-cesso continua. É preciso perceber que esse processo está a ser levado a cabo em toda a cidade da Matola, nos três postos administrativos”.

A operação já foi desencadeada nos mercados Patrice Lumumba, T3, Machava-Sede, Matola-Gare, Trevo, do lado do Língamo, do lado da Casa Branca e os vendedores fo-ram enquadrados no Mercado de Trevo, que é um dos mercados que tinha o maior número de bancas.

“O Mercado de Trevo tinha cer-ca de 400 bancas disponíveis, é lá onde estamos a enquadrar, e porque parte desses mercados foram aban-donados há bastante tempo, nós tratamos de movimentar máquinas

nesses mercados, para garantir que as pessoas não sejam levadas para condições não apropriadas, trata-mos de limpar os locais, organiza-mos, e dentro dos mercados tinha lá barracas abandonadas, remove-mos, para dar espaço, e tudo está a ser feito com estrita observância a lei”, sustentou.

Os de boa fé avaliam positiva-mente essa acção, mas alertam que enquanto permanecerem alguns vendedores na rua, naturalmente que eles vão em algum momen-to sentir-se obrigados a regressar. “Mesmo aqueles que ainda não foram abordados, é preciso que tomem iniciativa e contactem a Ve-reação de Mercados e Feiras, para saber onde existe espaço, e quanto antes melhor, para evitar ser enqua-drado num mercado muito distante da residência do vendedor”.

O porta-voz esclareceu que não existe nenhuma acção para inibir o exercício da actividade informal no município, porque compreendem que os vendedores garantem o seu sustento com esse exercício, mas é preciso devolver aquilo que é a postura da cidade da Matola, e não continuar com esta situação, em cada meio quilómetro um mercado informal a nascer.

“O processo é gradual, aqueles que prestarem atenção vão notar que mesmo depois do dia 16 ainda há pontos em que não intervimos e temos lá pessoas que ainda querem resistir, o que queremos é que essas pessoas procurem os fiscais dos mercados, as vereações do municí-pio e não esperem a acção, porque quando o município chegar a eles, terá que fazer valer o plano”, alertou.

Texto: Lídia CossaD&F

a manchar o nome do país, que peça ajuda e colaboração de ou-

tros países. “Os raptos começaram há

alguns anos, e não se descobrem os autores nem os mandantes. Actualmente estão a aumentar, porque os raptores estão im-punes. Se houvesse um castigo exemplar, as pessoas podiam ter medo de praticar este tipo de cri-me”, opinou.

Aliás, para o Sheik Aminu-din, o problema não está só no dinheiro que se perde no paga-

mento dos resgates, mas o efeito psicológico que fica na vítima, que será marcante por toda a vida.

“O dinheiro vai e vem, mas a marca, a ferida, a violência psi-cológica são as piores coisas que podem acontecer. Por mais que a pessoa morra, não vai esquecer”, disse, tendo ao mesmo tempo apelado para que as autoridades façam de tudo para o país voltar ao normal.

Continuação da Pag 03

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17DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

08 de Junho de 2020ECONOMIA

CENÁRIO SOMBRIO NA BACIA DO ROVUMA

Exxon Mobil volta a adiar Decisão Final de Investimento

A Decisão Final de Investimento foi mais uma vez adia-da e as alterações

do calendário verificam-se no projecto de Gás Natural Li-quefeito (GNL), liderado pela norte-americana Exxon Mobil e a italiana Eni.

INE aponta decréscimo geral do volume de negócios

O INE considera que a actual conjuntura global, caracterizada pela prevalência da Covid-19, está a ter efeitos socioeconómi-cos negativos em todos os países do mundo, o que pode alterar a estrutura produtiva do nosso país e a nível global.

Para o caso de Moçambique, o decréscimo está em 1,2% e crescimentos ligeiros dos índices de emprego e de remunerações em 0,8% e 2,8%.

Segundo informações da ins-tituição, a variação negativa do

Os resultados dos ín-dices das activida-des económicas do mês de Março de

2020, no país, quando compa-rados aos do mês de Fevereiro do mesmo ano, apontam para um decréscimo ligeiro do ín-dice geral do volume de negó-cios. A informação foi tornada pública pelo Instituto Nacio-nal de Estatística (INE).

índice geral do volume de negó-cios em Março deveu-se aos de-créscimos do volume de negócios dos sectores do turismo (-24,6%), devido à contracção da procura global por bens e serviços turís-ticos; da indústria (-15,4%), in-fluenciada pela sazonalidade da produção do açúcar, associada ao calendário de produção agrí-cola da cana-de-açúcar; e outros serviços(-2,0%).

De acordo com a fonte, em

contrapartida, os sectores dos transportes, pelo aumento do vo-lume de negócios no transporte ferroviário; de energia, que regis-tou aumento do consumo; e o co-mércio, com o incremento do co-mércio a grosso de combustíveis, contrariaram essa tendência, pois registaram incrementos no volu-me de negócios, respectivamente em 31,8%, 5,7% e 4,1%.

Outro dado, não menos im-portante, é que o crescimento

ligeiro registado no índice geral de emprego em Março foi impul-sionado pelos crescimentos no emprego registados nos sectores da indústria (+14,2%), devido à contratação de trabalhadores sazonais nas indústrias ligadas à cadeia de produção de chá, castanha de caju e transportes (+0.7%).

Os sectores de comércio, tu-rismo e outros serviços regista-ram contracção do emprego na

ordem de 2,8%, 0,4% e 4,1%.No que concerne ao índice

geral de remunerações em Mar-ço, segundo o INE, registou-se uma variação positiva de 2,8%, influenciada pelos crescimentos do fundo de remunerações em todos sectores inquiridos, com a indústria (+9,5%), turismo (+1,7%), transportes (+1,0%) e outros serviços (+1,7%), excep-tuando-se o comércio, que regis-tou uma redução de 4,0%.

Entretanto, o INE, compa-rando os índices globais do mês de Março de 2020 com os do pe-ríodo homólogo de 2019, anota que se registou um crescimento no índice de remunerações em 16,2%.

Já, os índices do volume de negócios e de emprego regista-ram um decréscimo em 11,1% e 2,0%.

Refira-se que estes indica-dores podem ter se deteriorado ainda mais nos últimos dois me-ses, devido à subida galopante do dólar face ao metical, que actual-mente se situa na “casa” dos 70 meticais.

Segundo o esclarecimento do Instituto Nacional de Petró-leo (INP), devido a uma con-jugação de factores, entre eles a queda do preço do petróleo no mercado internacional e os efeitos da pandemia, a Decisão Final de Investimento foi adia-da para 2021.

Entretanto, o INP garante que dois dos três grandes pro-jectos de Gás Natural Liquefeito da Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, não irão sofrer altera-

ções de vulto no calendário.O INP diz que apesar da

paralisação das actividades no projecto Coral Sul, na Área 4, liderado pela Eni, por conta das restrições do novo coronaví-rus, a construção da plataforma

flutuante na Coreia do Sul está acima de 70%, prevendo-se que a mesma chegue a Moçambique em 2021, sendo que o volume de investimento neste projecto é de oito mil milhões de dólares norte-americanos. O início da

produção do gás está previsto para 2022, conforme estava pre-viamente agendado.

No que concerne ao campo Golfinho e Atum, liderado pela petrolífera francesa Total, o INP argumentou que a reestrutura-ção vai trazer mais ganhos ao Estado.

Lembrar que, há dias, o Conselho de Ministros aprovou o Decreto 51/2019, que altera a estrutura de financiamento des-te projecto, de forma a dar me-lhor enquadramento à realidade actual. Aliás, entende o Gover-no que com essa alteração ha-verá flexibilidade no tocante ao desenvolvimento de empreen-dimentos relacionados com o projecto.

Outro dado avançado é que essas mexidas permitiram a re-dução dos custos de financia-mento em termos de juros, na ordem de USD 1,1 mil milhão, durante a fase de construção,

e USD 700 milhões, durante a fase de operação, o que poderá permitir que todas as partes in-teressadas, incluindo o Estado moçambicano tenham ganhos.

De salientar que mesmo com as restrições provocadas pelo coronavírus, há esperan-ça por parte do INP de lançar ainda este ano o sexto concur-so internacional de pesquisa de hidrocarbonetos, tendo já avançado com uma proposta ao Governo.

Refira-se que o primeiro adiamento da Decisão Final de Investimento por parte da Exxon Mobil havia sido anun-ciado em Abril último, na altura justificado pelo corte, em 2020, nas despesas de capital em 30% e nas despesas operacionais em 15%, devido à queda dos preços do petróleo e derivados, pro-vocada pelo excesso de oferta e baixa procura, ocasionada pela Covid-19.

… E lança esperanças para 2021

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SEGUNDA-FEIRA08 de Junho de 2020

DossiersFactos&18 MULHER E SAÚDE

Texto: Lídia CossaD&F

Mortalidade materna continua elevada em Moçambique

A taxa de mortalidade ma-terna expressa pelo número de óbitos maternos por 100.000 nascidos vivos passou de 975, em 1997, para 408, em 2003. Este número não se alterou em 2011, mostrando que, embora tenha havido melhorias entre 1997 e 2003, entre 2003 e 2011 a situação estagnou-se.

A Rede de Defesa dos Di-reitos Sexuais e Reprodutivos, por ocasião do Dia Interna-cional de Luta Pela Saúde da Mulher e do Dia Nacional de Redução da Mortalidade Ma-terna, chama à atenção para os graves déficits, no âmbito da saúde das mulheres, que o nos-so país ainda enfrenta, o que torna necessário envidar mais esforços e garantir mais recur-sos, se quisermos melhorias substanciais, a fim de ultrapas-sar estes problemas.

O nível de mortalidade materna em Moçambique con-tinua a ser trágico e inaceita-velmente alto, não obstante os esforços feitos pelo Governo no sentido de reduzir o núme-ro de mulheres que morrem por causas relacionadas com a gravidez, parto e o pós-parto.

A hemorragia após o par-to, a ruptura uterina devido ao trabalho de parto prolongado e as complicações do aborto, especialmente o aborto ilegal-mente induzido, figuram entre as principais causas da morte materna.

O cenário da mortalidade materna foi apresentado pelo Instituto Nacional de Estatís-tica, na apresentação dos re-sultados definitivos do Censo Populacional 2017.

Em Moçambique, a mor-talidade materna constitui um grave problema de saúde. Os

Moçambique conti-nua a ser um dos países da SADC e do mundo com

uma taxa alta de mortalidade materna. Actualmente, estima--se que em cada cem mil nados vivos registam-se pelo menos 452 mortes maternas. A gravi-dez precoce, a falta de planea-mento familiar e a insuficiên-cia de unidades sanitárias são apontadas como factores que contribuem para o maior índi-ce de mortalidade materna em Moçambique.

dados do INE (2017) demons-tram que a taxa de mortalidade materna no país é estimada em 452 por 100.000 nados vivos. A redução da taxa de mortali-dade materna tem uma estreita relação com a redução do índi-ce de pobreza absoluta, e este, por sua vez, com a resolução dos problemas socioeconómi-cos que afectam os países em vias de desenvolvimento, dos quais Moçambique faz parte.

O dia 28 de Maio é de ex-trema importância para as mu-lheres. A data marca duas lutas para a saúde feminina, o Dia Internacional de Luta Pela Saú-de da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. Ambas têm como objectivo chamar à atenção e consciencializar a sociedade sobre os diversos problemas de saúde e distúrbios comuns na vida das mulheres.

Neste ano, esta data foi celebrada sob o lema: “Saúde da Mulher é Essencial”, com o objectivo de sensibilizar e mo-bilizar os diversos sectores da sociedade a dar mais atenção à saúde da mulher.

Maira Domingos, em re-presentação da Rede de Defe-sa dos Direitos Sexuais e Re-produtivos da Mulher (DRS), citada pelo contoachado.blo-gspot.com, disse que, apesar dos esforços envidados pelos

diferentes sectores da socie-dade para se reduzir a morta-lidade materna, esta continua elevada.

“Moçambique é um país onde pouco mais da metade da população é feminina. A mor-talidade materna continua ele-vada, passou de 975, em 1997, e mantendo-se estável em 408, de 2003 para 2011, e a actual taxa, estimada em 452, é preo-cupante”, explicou.

A fonte explicou ainda que “o que continua a colocar Moçambique dentre os países onde as mulheres têm elevado risco de morte por causas rela-cionadas à gravidez é o parto arriscado e o aborto inseguro,

que, pese embora tenha sido

legalizado, algumas pessoas continuam a praticá-lo de forma clandestina. Todavia, os desafios ligados à saúde da mulher têm uma multiplicida-de de factores sociais, normati-vos, estruturais e económicos, que ocorrem em todas as fases da vida das mulheres, con-jugados com uma deficiente implementação dos diferentes programas que visam garantir o bem-estar da mulher”.

Segundo a DRS, existem 4.4 milhões de raparigas em Moçambique e 46% destas, entre 15 e 19 anos de idade, são mães ou já estiveram grá-vidas. 48 por cento casaram--se antes dos 18 anos, e 24 %

das mortes maternas ocorrem

entre mulheres nessa faixa etá-ria, sendo que apenas 18% das meninas frequentam o ensino secundário.

As Nações Unidas estimam que em 2013 tenham morrido 289 000 mulheres por causas relacionadas com a gravidez ou o parto. Entre 1990 e 2017, a taxa de mortalidade materna diminuiu 44%. Esta diminui-ção deveu-se à melhoria no acesso ao planeamento fami-liar e à melhor preparação dos profissionais de saúde.

No entanto, ainda existe elevada mortalidade materna em algumas regiões do mundo, principalmente em comunida-des mais pobres, 85% das quais

em África ou no sul da Ásia.

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19DossiersFactos& EDITORIAL SEGUNDA-FEIRA

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SEGUNDA-FEIRA08 de Junho de 2020

DossiersFactos&20 SOCIEDADE

Governo ainda não entregou casas às famílias afectadas

Governo promete entregar casas até finais do presente anoAs famílias que viviam nas

proximidades da Lixeira de Hu-

Passam pouco mais de dois anos, depois do desabamento de uma parte da Lixeira de

Hulene, na cidade de Maputo, provocando a morte de pelo menos 17 pessoas, e deixan-do mais de 200 famílias sem abrigo. Os sobreviventes dessa tragédia continuam à espera de casas, que, na altura, foram prometidas pela edilidade, como condição para a sua re-tirada daquele lugar. Mesmo com a rapidez que as autorida-des tiveram em localizar espa-ços para reassentar as famílias, em Possulane, distrito de Mar-racuene, as obras de constru-ção das casas decorem a passos de camaleão, tendo sido ultra-passados de forma exagerada os prazos previamente marca-dos.

lene, local onde, em Fevereiro de 2018, cerca de 17 pessoas mor-reram soterradas, na sequência de um aluimento de terras, pro-testam contra os atrasos que se registam no pagamento do subsí-dio disponibilizado pelo Governo

Entretanto, o Governo, atra-vés do seu porta-voz, Filimão Suazi, assegurou, na terça-feira da semana passada, que as 269 famílias vítimas do desaba-mento da Lixeira de Hulene, na cidade de Maputo, terão re-sidências novas até finais deste ano. No mesmo dia, o Conselho de Ministros, reunido em mais uma sessão, decidiu continuar a desembolsar subsídios às fa-mílias afectadas, para pagarem rendas das casas onde actual-mente residem.

Sabe-se que a construção das residências iniciou em Agosto de 2019. Enquanto isso, as fa-mílias vítimas do desabamento daquela lixeira continuarão a arrendar habitações, com base nos subsídios disponibilizados pelo executivo, até que as obras fiquem prontas.

As casas definitivas estão a ser construídas na área de reas-sentamento, em Possulane, no distrito de Marracuene, provín-cia de Maputo. “O compromisso do Governo para a construção das casas mantém-se. As obras já iniciaram, entretanto, não tendo sido ainda concluídas, e colocando-se a necessidade do pagamento das rendas das ca-sas onde estas famílias vão resi-

para o pagamento de rendas, bem como na conclusão das obras de construção das casas onde serão reassentadas.

São 30 mil meticais que o Governo disponibiliza em cada trimestre para cada uma das mais

de 200 famílias retiradas das ime-diações da Lixeira de Hulene, na sequência desse incidente. O va-lor é destinado ao pagamento da renda de casa, que se supõe que cada família está sujeita a pagar, depois de terem sido retiradas das

anteriores casas nas redondezas da lixeira, enquanto aguardam pela conclusão da construção das novas residências, no bairro de reassentamento.

Em forma de protesto contra o atraso, uma parte das 269 famí-lias esteve na última terça-feira, 2 de Junho, aglomerada na entrada do edifício sede do Conselho Au-tárquico de Maputo, para exigir esclarecimentos, tendo as autori-dades municipais prometido re-solver a situação.

“De facto, há um atraso. Sabe-mos que as famílias precisam do valor para pagar as suas rendas, mas apelamos para a calma”, disse Alice Abreu, vereadora da Saúde e Acção Social no Conselho Au-tárquico de Maputo.

Numa primeira fase, o realo-jamento das famílias que viviam nas proximidades da lixeira de Hulene estava previsto para finais de 2018, tendo as autoridades prorrogado o prazo para meados do ano passado (2019), e os mes-mos não foram cumpridos.

DOIS ANOS DEPOIS DA TRAGÉDIA DE HULENE

Texto: Lídia CossaD&F

dindo, foi aqui aprovado o de-sembolso, para que as famílias possam honrar os compromis-sos de pagamento de renda aos senhorios, enquanto o Governo ganha tempo para construir as habitações definitivas”, referiu o porta-voz do Governo, Filimão Suazi.

São, no total, 269 residên-cias, duas igrejas e uma mes-quita que foram destruídas na sequência do deslizamento da Lixeira de Hulene, e que esta-vam erguidas num perímetro de menos de 25 metros da lixeira.

“Há que cumprir com os pra-

zos estabelecidos” – defende a Livaningo

A organização ambiental

Livaningo considera positivo o facto de o Governo anunciar prazos para o término do pro-cesso de reassentamento das famílias vítimas da tragédia de Hulene, mas apela para o cum-primento dos mesmos.

Berta Rogério, oficial de programas daquela organiza-ção, explicou que “este anúncio traz de volta a esperança para as famílias afectadas, e observa que “ é preciso também consi-derar os factos, porque, como

é de conhecimento de todos, no passado, o Governo anun-ciou que, no intervalo de um ano, as famílias estariam reas-sentadas, e isso não aconteceu”, sublinhou.

Para a organização ambien-tal Livaningo, o processo de reassentamento destas famílias está acompanhado de muitas irregularidades, que vão contra os procedimentos normativos que conduzem processos desta natureza, a começar pelo não cumprimento dos prazos pre-viamente anunciados para a en-trega das casas em construção, passando pelo atraso no desem-

bolso do dinheiro de subsídio

de renda, entre outros atropelos.Comentando acerca da ma-

nifestação feita por algumas famílias em frente ao edifício sede do Conselho Autárquico de Maputo, a representante da Livaningo disse que “o proces-so de reassentamento comporta várias fases, e o diálogo entre as partes deve ser imprescindível, e se agora há manifestações, é porque alguma coisa está a fa-lhar, por isso apelamos às au-toridades para que mantenham o diálogo aberto e permanen-te com este grupo e cumpram com todas as promessas fei-tas, começando pelos prazos

estabelecidos”.

Filimão Suazi, porta-voz do Conselho de Ministros

Berta Rogério, oficial de programas da Livaningo

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21DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

08 de Junho de 2020POLITICA

PR acompanha de perto processo de DDR em Sofala

O Presidente da Repú-blica (PR) tem es-tado a acompanhar de perto o processo

de Desarmamento, Desmobi-lização e Reintegração (DDR) dos homens da Renamo. Com efeito, esteve recentemente no posto administrativo de Savane, distrito de Dondo, província de Sofala, onde acompanhou uma das etapas do processo que visa a pacificação definitiva do país.

Quando faltam pouco me-nos de dois meses para o país celebrar o primeiro ano após a assinatura do Acordo de Paz de Maputo, os dois protago-nistas do mesmo, o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o presidente da Renamo, Ossufo Momade, acabam de dar mais um sinal de comprometimento com a pacificação do país.

Lado a lado, Filipe Nyusi e Ossufo Momade presenciaram a cerimónia de reinserção so-cial de 20 antigos guerrilheiros da Renamo, que regressaram, definitivamente, à vida civil.

A cerimónia insere-se no âmbito do processo de DDR, em que se espera que sejam abrangidos pelo processo 304 antigos homens da Renamo, só naquele ponto do país.

Na verdade, o acto marca a retoma do processo de DDR e é o pontapé de saída para a desmobilização de mais de cinco mil combatentes da Re-namo em todo o país.

Para além do PR e do lí-der da Renamo, estiveram no evento, em representação do Governo, o Coronel Gabriel Macha, membro do grupo téc-nico conjunto para o processo de DDR, e o Coronel Viriato Tamele, do grupo técnico con-junto de monitoria e verifica-ção. “Esta sexta-feira, testemu-nhei com o líder da Renamo, Ossufo Momade, nas matas de Savane, na província de Sofala, a entrega de armas, enquadra-da no Desarmamento, Des-mobilização e Reintegração (DDR) dos guerrilheiros da Renamo. Este é um processo complexo, mas possível, com a colaboração de todos os mo-çambicanos. O nosso maior orgulho é que os dois lados que fazem parte do DDR são dirigidos por moçambicanos e

DESMOBILIZAÇÃO DOS EX-GUERRILHEIROS DA RENAMO

assistidos pelos nossos amigos de cooperação, para haver a máxima transparência”, escre-veu o PR na sua página oficial do Facebook.

Na ocasião, Ossufo Moma-de enalteceu os esforços do PR e do grupo de contacto, que na sua opinião tudo fazem para o cumprimento do acordo de cessação das hostilidades.

Recorde-se que o proces-so de DDR foi iniciado em fi-nais de Julho do ano passado, em Satungira, mas devido a vários factores, com destaque para as dificuldades financei-ras, ficou parado por quase um ano. Refira-se que no mesmo dia, o Presidente da Repúbli-ca e Comandante-Chefe das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), Fi-lipe Jacinto Nyusi, efectuou uma visita surpresa ao Teatro Operacional Centro, nomea-damente à posição das Forças de Defesa e Segurança (FDS), no Posto Administrativo de Amatongas.

O Chefe do Estado percor-reu mais de 200 kms via ter-restre, desde a Cidade da Bei-ra (província de Sofala), até à província de Manica.

No posto Administrati-vo de Amatongas, distrito de Gondola, província de Manica, o Comandante-Chefe intera-

giu com uma das unidades das Forças de Defesa e Segurança, tendo encorajado a prosseguir

com as suas acções no âmbito da defesa da soberania e pro-tecção das populações e seus

bens, alvos dos ataques da cha-mada Junta Militar da Rena-mo.Redacção

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SEGUNDA-FEIRA08 de Junho de 2020

DossiersFactos&22

ENTENDE O CAMPEÃO MOÇAMBICANO BRUNO SARAIVA

Bruno Saraiva começou a praticar desporto com as ar-tes marciais, mas encontrou a consagração no fisiculturismo, modalidade na qual é hoje tido como um dos maiores nomes.

Em entrevista ao Dossiers & Factos, Saraiva conta que sempre procurou conciliar as duas mo-dalidades, mas acabou encon-trando “química perfeita” com o fisiculturismo.

O jovem fisiculturista mo-çambicano entende que, apesar de se tratar de uma nova moda-lidade desportiva, nos últimos tempos, pessoas de diferentes idades têm a abraçado, seja como estilo de vida, bem como de for-ma profissional.

Saraiva entende, porém, que apesar da aceitação do público, que tem respondido de uma for-ma positiva, há necessidade de intensificar a apreciação dos des-files de músculos no país.

Para o nosso interlocutor, o desporto dos “músculos” tem vindo a ganhar cada vez mais espaço e muito mais “adeptos” no país, porém, destaca a falta de patrocínio para os despor-tistas como um dos principais entraves.

Quase um ano de-pois de vencer três categorias de fisi-culturismo na Chi-

na, o jovem desportista Bruno Saraiva afirma que há falta de patrocínio para os fazedores da modalidade, e salienta que, apesar de tratar-se de um novo desporto no país, tem aceitação por parte do público.

O desportista repisa, por exemplo, que quando há cam-peonatos internacionais e nacio-nais, os atletas são obrigados a recorrer a fundos próprios para a logística, por falta de patro-cínio, por um lado, e apoio do Governo, por outro, mas acre-dita que é uma situação normal, por se tratar de uma activida-de recentemente conhecida em Moçambique.

Saraiva afirma que no está-gio inicial em que a modalida-de se encontra, o nível de com-petições é satisfatório, mesmo não havendo muitos torneios

internamente.De acordo com Saraiva, os

fisiculturistas, para trazer mais experiência aos campeonatos na-cionais, têm viajado pelo mun-do fora, como estratégia para melhorar o fisiculturismo mo-çambicano, visto que os países

DESPORTO

Texto: Hélio de CarlosD&F

de fora já têm mais história na modalidade e exigem mais dos atletas.

“Faltam empresários que acreditem e apostem neste

desporto”

Bastante rodado internacio-nalmente, Saraiva defende que os empresários e marcas nacionais devem apostar mais no despor-to, tal como acontece noutras rodagens.

Olhando particularmente para a modalidade que move o seu coração, Saraiva fala da ne-

cessidade de se investir nos fisi-culturistas, e deixa um repto aos atletas da sua modalidade, para deixarem as desavenças e serem unidos. “Falta união entre os fisi-culturistas, há uma rivalidade so-bre quem é melhor que o outro”, observou.

Moçambicanos capacitados para espreitar outras janelas

Há sensivelmente um ano, Saraiva viajou até a China, con-cretamente em Hong Kong, onde fez a sua primeira aparição con-tra vários outros profissionais do

mundo, tendo feito a Bandeira Moçambicana subir ao pódio, arrebatando três prémios, nas ca-tegorias em que concorreu, sen-do o principal prémio o ‘‘Classic Physique’’.

No entender do nosso entre-vistado, ganhar os prémios prova que os moçambicanos estão ca-pacitados a espreitar outras jane-las e mostrar que têm um corpo perfeito para ganhar dos outros.

‘‘Foi uma competição que envolveu pessoas de quase todo o mundo, e ter sido o moçam-bicano, a ‘carregar’ o prémio foi algo único e motivador. Isso prova que estamos capacitados para competir com os grandes, apenas temos que trabalhar’’, re-feriu, para depois considerar que existe o lado bom, mas também o mau, porque existem pessoas que olham como algo não normal ti-rar fotos de biquíni, pelo que atri-buem nomes não abonatórios.

Durante a conversa, Sarai-va revelou ao Dossiers & Factos que o fisiculturismo é uma mo-dalidade que pode ser praticada por qualquer pessoa, incluin-do cadeirantes ou com outras deficiências.

Revelações de Saraiva mos-tram que as pessoas, quando viam fisiculturistas, achavam que se tratava de pessoas que não têm flexibilidade, mas que hoje em dia a visão e a narrativa são diferentes.

Bruno Saraiva, desportista

PARA MODERNIZAR ESTÁDIO DA MACHAVA

Ferroviário procura 100 milhões de meticais

Fisiculturismo moçambicano carece de patrocínio

O clube Ferroviá-rio de Maputo pretende melho-rar o Estádio da

Machava, seu palco para jo-gos de futebol, e, para isso, precisa de 100 milhões de meticais, segundo avançou Teodomiro Ângelo, presi-dente de direcção dos loco-motivas da capital, duran-te a visita do Secretário de Estado do Desporto, Carlos Gilberto Mendes.

O presidente de direcção do clube considera que é pre-ciso fazer o trabalho naquele

recinto desportivo, que a Con-federação Africana de Futebol (CAF) recomendou obras de

melhoramento e interdi-tou o local de acolher jogos internacionais.

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23DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

08 de Junho de 2020

POETA E ESCRITOR MOÇAMBICANO NO CONTRA-ATAQUE

Texto: Arão NualaneD&F

CULTURA

“Elite moçambicana não lê”

Em entrevista ao Jornal Dos-siers & Factos, o poeta e escritor Japone Arijuane afirmou que o primeiro desafio que a literatura moçambicana tem é criar condi-ções para existirem leitores, pois o país ressente-se da falta dos mesmos.

Outro ponto levantado por Arijuane é que, nos lançamen-tos de livros, aparecem apenas os confrades, e o público-alvo não se faz presente, pelo que, na visão do autor, fazem uma espécie de “Xitique”, onde “eu vou para o seu lançamento, e você ao meu, e isso mina a nossa literatura”.

Arijuane faz um paralelismo, olhando para a questão política, em que não se lê ao mais alto nível. Por exemplo, diz o nosso interlo-cutor, “quando se fez o relatório da Kroll, todos que era suposto lerem e que eram envolvidos, não o tinham feito, e diziam de forma clara que não tinham lido, como se não ler fosse uma desculpa plausível.

Para demonstrar os baixos índices de leitura, o jovem escritor lembrou-se de Gilles Cistac, nos seguintes termos: “Foi assassina-do por ter ido à televisão defender que a Constituição da República abria espaço para a criação de pro-víncias autónomas”. Entretanto, para a nossa fonte, se as pessoas tivessem a oportunidade de ler o livro de Severino Ngoenha, inti-tulado “Das Independências às Li-berdades”, iriam ver que “há ali um tópico do federalismo moçambi-cano. Nguenha fala de forma mais profunda e complexa, mas como não foi a televisão a falar disso, ninguém sabe, porque há défice de leitura”.

No entender de Arijuane de-via se destruir os televisores den-tro das famílias moçambicanas e colocar-se bibliotecas.

“Não se ganha a vida como

escritor”

Num outro desenvolvimento, o poeta afirmou não ser possível viver de literatura em Moçambi-

O jovem poeta e escri-tor Japone Arijua-ne, com dois livros lançados, olha para

as elites moçambicanas como pessoas que estão mais preocu-padas com questões económi-cas ou em ficar mais endinhei-radas, deixando a cultura para atrás, sobretudo a literatura, o que mostra que não se lê, desde a elite até à base.

que, desde o alto nível até à base, uma vez que a literatura ainda não é encarada como um elemento principal para a formação da cida-dania, razão pela qual não vende.

Arijuane entende que escrito-res como Mia Couto, Paulina Chi-ziane e outros precisaram de ter um reconhecimento fora de Mo-çambique, para ter uma aceitação internamente.

“Viver da literatura significa ter pessoas que compram o livro, mas porque as pessoas não lêem é impossível viver da mesma”, ar-gumentou, para depois dizer que existem muitos factores que quan-do combinados fazem com que haja fracasso na literatura. Muitas vezes, as pessoas “não lêem porque não sabem ler, mas porquê ler?”

Mais adiante, o nosso interlo-cutor considerou que temos num Governo em que as referências não são intelectuais, porque estão mais ligadas a factores económi-cos. Daí que no país está a surgir uma elite inculta, que só aparece em grandes carros e concentra-se em coisas fúteis”.

Na visão do nosso entrevista-do, estamos perante uma elite en-dinheirada, que não está preocu-pada com questões ligadas à arte, e que está a afundar o país.

Rompimento com a poesia

protonacionalista

Ainda com Japone, recuámos no tempo da literatura, e parafra-seando o Professor Noa, disse que a literatura moçambicana surge sobre o signo de qualidade. E, se formos a ver as pessoas que fun-daram a mesma, no caso dos pro-tonacionalistas, como Noémia de Sousa, José Craveirinha, entre ou-tros, existe um cunho de qualida-

de enorme, pese embora haja uma poesia de combate à colonização, em que o negro era um “instru-mento de trabalho.

Na percepção da nossa fonte, a poesia de combate caiu no tem-po, criando um rompimento, pro-vocado pelo movimento “Charua”, que faz uma reviravolta para bus-car a “nossa identidade, buscando o belo e o amor, escrevendo sobre o dia-a-dia dos moçambicanos”.

Aliás, Japone diz que a litera-tura é diacrónica, o que quer dizer que cada momento tem as suas causas, sendo que a actual juven-tude, apesar de ter os seus proble-mas, como a situação do “my love”, por exemplo, trabalha muito com a poeticidade. É por isso que não hesita em dizer que a nova vaga de poetas tem uma tendência de escrever sobre o existencialismo, onde sempre se pergunta quem é o homem moçambicano e para onde e que vai.

Da Maganja da Costa ao mundo

da literatura

De referir que Japone Ari-juane é natural da província da

Zambézia, nasceu na Maganja da Costa. O pai era professor, e jun-tamente com a mãe e seus irmãos estabeleceram-se em Quelimane.

Conforme conta, é na cidade de Quelimane onde estão todas as “chamas acesas” da infância, é lá onde se descobre como gente, e é onde começa a influência literária. “E porque gostava, de cantar, com amigos, criou um grupo de rap, tendo sido este estilo musical que o levou às bibliotecas, “na busca incessante de livros” que os permi-tissem produzir música com bom conteúdo e boas rimas. Numa das idas à biblioteca, descobriu a lite-ratura moçambicana.

Em Maputo, no ano de 2009, fez parte da criação do movimento literário Kuphaluxa, que queriam que o mesmo fosse o “trampo-lim” da literatura moçambicana, organizando debates sobre o livro, onde escritores faziam palestras sobre o assunto.

Nessa senda, tinham que se documentar, para estarem pre-parados para os dias dos debates. Depois constataram que podiam

escrever e lançar seus próprios livros.

A constatação permitiu a Ari-juane a produção do livro “Den-tro da Pedra ou a Metamorfose do Silêncio”, que leva consigo um cunho metafórico, com o objec-tivo de fingir poeticamente. Falar das coisas, “não querendo falar”.

“A Metamorfose do Silêncio era no sentido de buscar dentro do indivíduo uma espécie de calma, que precisamos ter para nos en-tendermos como seres humanos, primeiro, para depois entender-mos o outro. Se há um amor pró-prio, a probabilidade de gostar dos outros é maior”, esclareceu Arijua-ne à nossa equipa de reportagem.

A “Metamorfose do Silêncio” permitiu ao moçambicano ganhar um prémio em Lisboa, com uma distinção de Poeta Revelação.

Este ano, lançou o seu segun-do livro, intitulado “Ferramentas para Desmontar a Noite”, onde considera que há mais tranquilida-de e domínio da consciência poé-tica. Quando fala da noite no livro, refere-se a tudo o que é obscuro, ao que não nos deixa olhar para o futuro. Fala das guerras, da fome,

da má governação, da corrupção, mas tudo no sentido poético.

Japone Arijuane, Poeta e escritor

Page 24: Mt2020/06/08  · a apenas uma refeição na hora do almoço, antece-dida, nas manhãs, por uma chávena de água quente com açúcar. Olhando para os dados que fomos avançando ao

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República Democrática do Congo tem novo surto de ébola

Covid-19: África do Sul alivia restrições e reabre economia

Irão autoriza abertura parcial de mesquitas a partir desta segunda-feira

A República Demo-crática do Congo accionou, na terça--feira (02/06), a sua

resposta a um novo surto de ébola no noroeste do país, en-quanto ainda combate um sur-to da mesma doença contagio-sa no nordeste, onde o vírus já matou quase 2.300 pessoas, desde Agosto de 2018.

Mulher abandona noivo no altar por não saber matemática

Tudo aconteceu em Uttar Pradesh, na Índia, quan-do no meio de uma ceri-mónia que estava a cor-

rer bem, a noiva decidiu perguntar ao noivo uma simples questão ma-temática, que até uma criança con-seguiria facilmente responder.

Ela perguntou “quanto é 15+6?”

e o noivo depois de muito tempo pensativo respondeu: “17”. Foi aí que a noiva percebeu que a pessoa com quem estava prestes a casar não tinha qualquer nível de educa-ção e que a família dele tinha men-tido acerca do seu nível.

Como foi um casamento arran-jado, o que é comum naquele país, a família da noiva não tinha grande

conhecimento acerca do noivo ou da sua educação, e a família dele fez questão de mentir em relação ao seu nível de escolaridade.

Assim que ela se apercebeu, de-cidiu cancelar o casamento, e o pró-prio pai dela apoiou a sua decisão, depois de toda a gente ter percebido que ele não conseguiu responder à questão que lhe foi colocada.

DossiersFactos& HUMORADAS

Depois de mais de dois meses de restrições, a África do Sul reabriu, semana finda, vários setores do comércio que esta-vam impedidos de funcionar. Houve filas e tumulto em vá-rias regiões do país.

Seguindo os protocolos de medidas adequadas de dis-tância e higiene, as empresas sul-africanas podem voltar a operar a partir de hoje, com exceção dos setores considera-dos de risco, como o turismo,

As mesquitas iranianas, fecha-das desde meados de Março, devido à propagação da Co-vid-19, vão reabrir, a partir des-ta segunda-feira, em 30% dos municípios do país, anunciou, semana finda, o presidente do Irão, Hassan Rohani.

salões de beleza ou restaura-ção (aberto apenas para reco-lha de alimentos ou entrega ao domicílio).As fronteiras permanecerão fechadas e o espaço aéreo será reaberto apenas para os voos

domésticos com fins comer-ciais. A África do Sul também voltou a permitir a venda de álcool, após uma proibição de pouco mais de dois meses. A venda de tabaco continua proibida durante esta fase de

desconfinamento, uma medi-da que o governo sul-africano justifica com a necessidade de proteger a saúde dos cidadãos, apesar das ameaças das empre-sas tabaqueiras de recorrer aos tribunais.

A doença, contagiosa, ain-da não foi totalmente elimina-

da no nordeste, e as autorida-des já anunciam novos casos no noroeste, a cerca de 2 mil

quilómetros. O país ainda luta contra o novo coronavírus, para além do pior surto de sa-

rampo do mundo.O novo surto, declarado

na passada segunda-feira, em Mbandaka, capital da pro-víncia de Equador, piora a já delicada situação sanitária daquele país centro-africano, que também luta contra a Co-vid-19 (72 mortes e 3.326 ca-sos) e o pior surto de sarampo do mundo, com 6.779 mortes e 369.520 casos.

O governador de Equa-dor, Bobo Boloko, anunciou, no fim de semana, que testes locais em corpos de quatro

pessoas que morreram no dia 18 de Maio, num distrito da re-gião, confirmaram que poderia ser o ébola.

Amostras foram enviadas ao Instituto Nacional de Pes-quisa Biomédica, em Kinsha-sa, e deram resultado positivo, segundo o governo do país. Em 16 de Maio, a República Democrática do Congo con-firmou que havia dado alta ao último paciente infectado com ébola no nordeste do país. As autoridades esperam poder de-clarar o fim oficial do surto.

EM MEIO À PANDEMIA

“Hoje, decidimos reabrir as mesquitas, em 132 municípios com baixo risco da doença (Co-vid-19), a partir de segunda--feira, e recomeçar a oração de sexta-feira, respeitando os protocolos sanitários”, disse Rohani, na reunião do comité

nacional para combater a doen-ça, transmitida pela televisão estatal.“Respeitar o distanciamento so-cial é ainda mais importante do que assistir à oração colectiva”, acrescentou Rohani.O presidente iraniano não in-

dicou os nomes dos municípios cujas mesquitas poderão abrir, nem o número de mesquitas.A expectativa é que a medida não se aplique à capital, Teerão, nem Mashhad ou Qom, as duas principais cidades sagradas xiitas do país e que estão en-

tre as áreas mais afectadas pela pandemia.A república islâmica regista oficialmente 6.156 mortos em 96.440 casos de contaminação, desde 16 de Fevereiro, quando as autoridades anunciaram as primeiras mortes.