os eh a v io r ismo s · pdf file · 2015-08-08ao usar o modelo explicativo s-r, no...

15
I Os B ehaviorismos Em um primeiro trabalho acadêmico (Costa, 1995), já se fa- zia presente a preocupação de demarcar o fato de que não se pode falar em nome do Behaviorismo sem mencionar a qual tipo de Behaviorismo está se referindo, uma vez que existem diferenças sig- nificativas entre os seus vários modelos. Os mais conhecidos no meio acadêmico são os representados por Watson, o Clássico, e por Skinner, o Radical. Entretanto, há, ainda, o Behaviorismo Mediacional, representado principalmente por Tolman e Hull, o Behaviorismo Teleológico, representado por Rachlin e o Interbehaviorismo, que tem a figura de Kantor como representante. Como as discussões neste livro estarão pautadas no Behaviorismo de Skinner, sendo necessário também esclarecer sobre determinados aspectos do Behaviorismo Clássico e do Behaviorismo Mediacional, este capítulo se propõe a caracterizar cada um destes modelos, a partir das concepções de comportamento e ambiente, de paradigma adotado, de modelo causal e de visão de homem. Behaviorismo Clássico de John Watson Inaugurado com a publicação do artigo Psychology as the behaviorist views it, em 1913 (Watson, 1913), o Behaviorismo surge em contraposição às psicologias mentalistas então dominantes (Matos, 1997). Antes de seu surgimento, os psicólogos estavam voltados para o estudo da mente ou da consciência humana, adotando como méto- do a introspecção. 1

Upload: vuliem

Post on 07-Mar-2018

217 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

IOs B e h a v i o r i s m o s

E m um primeiro trabalho acadêmico (Costa, 1995), já se fa-zia presente a preocupação de demarcar o fato de que não se pode falar em nom e do Behaviorism o sem m encionar a qu al tipo de Behaviorism o está se referindo, uma vez que existem diferenças sig-nificativas entre os seus vários modelos.

Os mais conhecidos no meio acadêmico são os representados por Watson, o Clássico, e por Skinner, o Radical. Entretanto, há, ainda, o Behaviorismo Mediacional, representado principalmente por Tolman e Hull, o Behaviorism o Teleológico, representado por Rachlin e o Interbehaviorismo, que tem a figura de Kantor como representante.

C om o as d iscu ssõ es n este liv ro estarão p au tad as no Behaviorism o de Skinner, sendo necessário também esclarecer sobre determ inados aspectos do Behaviorismo Clássico e do Behaviorismo M ediacional, este capítulo se propõe a caracterizar cada um destes modelos, a partir das concepções de comportamento e ambiente, de paradigma adotado, de modelo causal e de visão de homem.

Behaviorismo Clássico de John WatsonInaugurado com a publicação do artigo Psychology as the

behaviorist views it, em 1913 (Watson, 1913), o Behaviorismo surge em contraposição às psicologias m entalistas então dominantes (Matos,1997). Antes de seu surgimento, os psicólogos estavam voltados para o estudo da mente ou da consciência humana, adotando como méto-do a introspecção.

1

Page 2: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

Com o comportamentalismo, pelapmneira vez, os estudos psicológicos “deram as costas” à experiência imediata. Tudo aquilo que faz parte da experiência subjetwa individualizada deixa de ter lugar na ciência, seja por que não tem importância, seja porque não é acessível aos métodos objetivos da ciência (Figueiredo e Santi, 1997, pp. 66-67).

Assim, considera-se que o Behaviorismo foi um marco na história da psicologia, na medida em que delimitou como objeto de estudo o comportamento e buscou introduzir métodos com patíveis com aqueles das ciências naturais (Chiesa, 1994). Para isso, W atson rejeitou toda e qualquer referência a processos mentais em sua pro-posta de ciência psicológica. W atson (1924/1970) escreveu; "V am os nos limitar a coisas que podem ser observadas, e formular leis apenas para aquelas coisas. Agora, o que podemos observar? Nós podem os observar o comportamento — o que o organismo faz ou diz” (p. 6).

O comportamento, na concepção de Watson, referia-se basica-m ente às mudanças observadas no organismo, em especial, às m udan-ças nos sistemas glandular e motor, decorrentes de algum estím ulo ambiental antecedente. Em função da ênfase nas respostas glandulares e motoras, o Behaviorismo de W atson é denominado por alguns autores de M uscle-twitch Psychology (Psicologia da C ontração M uscular) (Kitchener, 1977). Por outro lado, a despeito da interpretação dc que as explicações de Watson seriam meramente fisiológicas, ele é enfático em fazer a diferença.

[A] Fisiologia está particularmente interessada no funcionamento de partes do animal.... [O] Behauiorismo,, por outro Indo, enquanto estâ in-tensivamente interessado no funcionamento de todas estas partes, estâ intrinsecamente interessudo no que o animal como um todo fareí de m a-nhã até à noite e de noite até tie manhã (Watson 1924/1970, p. 11),

E acrescenta: "Em outras palavras, a resposta na qual o behaviorista está interessado é a resposta com um à pergunta "o que ele está fazendo e por que está fazendo?" (Watson 1924/1970, p. 15). Desta maneira, conclui-se que W atson estava interessado no com por-tamento enquanto um fenômeno molar — no sentido de um "conjunto de movimentos integrados" - porém, para estudá-lo, considerava ne-cessário decompô-lo em partes mais simples (Kitchener, 1977).

Para Watson, todos os comportamentos são reflexos, uma vez que consistem "d e respostas eliciadas por estímulos7' (Zuriff, 1986, p. 692). Deste modo, o paradigma adotado por ele para explicar os com-p ortam entos foi o parad igm a p av lov ian o S-R . Em d eco rrên cia d isto , o B eh av iorism o w atso n ian o tam b ém é co n h ecid o com o Behaviorismo Clássico ou "Psicologia S-R" (Chiesa, 1994; Moore, 1995a, 1996; Matos, 1997).

Um estímulo consiste em qualquer objeto no ambiente ou m u-dança no próprio corpo do organismo (contrações musculares, palpita-

2

Page 3: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

çoes e outras)1. Já a resposta diz respeito ao que o organismo faz, classi-ficada como externa (explícita) e interna (implícita) (Watson 1924/1970).

Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece-dente é a causa do comportamento, W atson assume uma concepção mecanicista de explicação comportamental. M ecanicista no sentido de que a causa é necessariamente um evento anterior que produz, assim, um efeito 0upiassu e M arcondes, 1993).

Outra denominação dada ao Behaviorismo de W atson foi Behaviorismo Metodológico. Tal denominação está relacionada com a opção metodológica de W atson, ou seja, quando ele abandonou o estudo da vida mental, o fez por uma limitação de método e não por considerar que os processos mentais inexistissem 2. Nas palavras de Chiesa (1994):

[Watson argumentou] ... que o estudo da vida mental, consciência, sensações, e assim por diante não estava levando a psicologia a ne-nhum lugar e deveria ser abandonado provisoriamente, em favor da concentração na pesquisa comportamental, até o desenvolvimento de métodos mais capazes de irradiar alguma luz sobre estes processos. Princípios do comportamento deveriam ser aplicados de maneira ci-entífica, sem referência a estados mentais, até a psicologia avançar como uma ciência natural (p. 184).

Uma implicação que se origina desta posição de Watson re-fere-se à manutenção da concepção dualista de homem. Tanto para as psicologias tradicionais quanto para o Behaviorismo watsoniano, exis-tem processos internos que diferem dos comportamentais quanto à natureza: os primeiros são mentais (subjetivos) e os segundos são físi-cos (objetivos) (Chiesa, 1994).

Sintetizando: o Behaviorismo é definido por W atson (1970) como "um a ciência natural que se encarrega de toda a área do ajusta-mento hum ano" (p. 11), cujos objetivos consistem em prever e controlar o comportamento. Dentre suas principais características, estão: tomar como objeto de estudo o comportamento publicamente observável; igno-

1 Esta noção de ambiente envoivend o também o que se passa no interior do organismo é particularmente importante em urna proposta behaviorísta, em função da possibilidade de aceitação da causalidade m tem a. Afinal, se todos os comportamentos são reflexos, dado o estímulo (externo ou interno) a res-posta ocorrerá. A diferença desta interpretação para as dem ais interpretações intemalistas residiria no fato de que a natureza do inttm o, neste contexto, é físico e não mental. Contudo, isto é apenas uma suposição que precisaria ser melhor investigada. Assim, a proposição de que W atson é extemalista, com respeito às suas explicações com portam entais, será mantida.

1 Existem posições divergentes em relação a denominar Watson de behaviorista metodológico. Hayes e Hayes (1992), por exemplo, o consideram um behaviorista metafísico. Entretanto, a argumentação dada pelos autores que o consideram com o representante do Behaviorismo Metodológico é uma argum entação justificável. Note, por exemplo, a afirm ação de Zettle e Hayes (1982) de que "o Behaviorism o M etodológico (com o um a posição filosófica) tem enfatizado que, por razões metodológicas, apenas o com portam ento publicamente observável pode ser considerado como cientificamente admissível" (p. 75). lista caracterização do Behaviorismo Metodológico é a mesma que é feita para o Behaviorismo de Watson.

3

Page 4: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

rar os fenômenos mentais; utilizar procedimentos objetivos para estu-dar o comportamento e explicar todos os com portamentos através do paradigma S-R (Matos, 1997).

Após esta fase inicial da chamada revolução behaviorista, di-versas críticas foram feitas a esta nova proposta de psicologia, dentre as quais a de que era mecanicista, simplista e desumanizadora. Entre-tanto, talvez a principal crítica tenha sido a de que as explicações behavioristas eram inadequadas e limitadas, já que nem todo compor-tamento poderia ser explicado por conexões S-R (Moore, 1995a, 1996).

Em conseqüência disto, na tentativa de explicar alguns pro-blemas que o Behaviorismo de Watson não explicava satisfatoriamente, "os psicólogos reintroduziram os fenômenos mentais nas explicações na forma de variáveis mediacionais 'organísm icas'" (Moore, 1995b, p. 59). E sta nova fase da re v o lu çã o b e h a v io r is ta , ro tu la d a de Neobehaviorismo Mediacional, teve início entre o final da década de 1920 e o com eço da década de 1930 (Moore, 1995a, 1996), tendo den-tre seus representantes Tolman e Hull.

Neobehaviorismos Mediacion&is de Tolman e HullO N eobehaviorism o M ediacional de Tolm an, conhecido

como Behaviorismo Intencional, teve seus fundamentos lançados em 1932, com o livro Purposive behaviorin animal and men (cf. Carrara, 1998).

Um pressuposto básico do Neobehaviorismo de Tolman é o da intencionalidade do comportamento. Para ele, todo organism o se comporta para alcançar um objetivo, um alvo determinado (Zuriff, 1985). Assim, o comportamento persiste ''até o objetivo ser alcança- do" (Kitchener, 1977, p. 37).

O comportamento, na concepção de Tolman, era um fenôm e-no emergente por possuir em si mesmo propriedades que o descrevem e definem - propriedades estas não reduzíveis à fisiologia - motivo pelo qual é denominado de m olar (Kitchener, 1977; Smith, 1989; Carrara,1998).

A defesa da intencionalidade do comportamento, aliada ao fato de ser um representante da teoria S-O-R, permite que Tolm an seja considerado um precursor de algumas teorias cognitivistas. Isto porque o enunciado S-O -R evidencia um a posição m ediacional e intemalista quanto à determinação do comportamento, o que consis-te em um aspecto característico de teorias cognitivistas.

O enunciado S-O-R significa que entre o estímulo e a res-posta existe um conjunto de eventos ocorrendo no organism o, que são os verdadeiros determ inantes do fenôm eno com portam ental (Zuriff, 1985).

4

Page 5: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

Os eventos mediacionais, designados por Tolman (1938), como variáveis intervenientes, foram concebidos "com o construtos adicionais, os quais cada ciência considera útil criar e introduzir como passo explicativo entre as variáveis independentes, de um lado, e as variáveis dependentes finais, de outro" (p. 229). Em outras palavras, define-se uma variável interveniente como aquela que conecta as variáveis inde-pendentes e dependentes (Zuriff, 1985)3.

Tolm an categorizou as variáveis intervenientes em três gru-pos: a) sistema de necessidades, que diz respeito ao estado de priva-ção ou impulso; b) matriz de crença-valores (variável cognitiva), que se refere a hierarquias de expectativas aprendidas sobre estím ulos do ambiente e suas funções na relação com o comportamento e c) espaço comportamental, o qual pode ser entendido como o contexto em que o comportamento ocorre (Carrara, 1998).

De acordo com Tolm an (1948), o processo de aprendizagem envolve a construção de m apas cognitivos do ambiente, que se for-mam no cérebro dos organismos. Estes mapas representam relações estímulo-estímulo (S-S) ou as expectativas dos organismos "do que leva ao que..." (Zuriff, 1985, p. 254). Dito de outro modo, os mapas cognitivos são construídos a partir da relação organismo-meio, através de cone-xões entre estímulos ambientais e expectativas do organismo (evento m ediador que funciona como um estímulo), constituindo-se em guia para o comportamento dos organismos em situações posteriores. Dá-se o nome de gestalts-sinais (sign-gestalts) aos processos cognitivos que inte-gram as relações aprendidas entre as pistas do ambiente e as expectati-vas do organismo, ou seja, um mapa cognitivo seria um padrão d e gestalts sinais (Cabral e Nick, 1997).

Outro ponto importante no sistema de Tolman refere-se à acei-tação de processos mentais. Neste sentido, ele afirma que:

O behaviorismo a ser apresentado aqui sustentará que os processos men-tais são mais utilmente concebidos como apenas aspectos dinâmicos, ou determinantes, do comportamento. Eles são variáveis funcionais que intermedeiam equações causais entre estímulo ambiental e estados fisio-lógicos iniciais..., de um lado, e comportamento final público, de outro (Tolman, 1932, conforme citado por Zuriff, 1985, p. 207).

Em outro momento, Tolman (1959) conclui que, ao iniciar o seu sistem a behaviorista, o que "realm ente estava fazendo era tentar reescrever uma Psicologia m entalista de senso comum... em termos behavioristas operacionais" (conforme citado por Carrara, 1998, p. 62).

A publicação do livro Principies o f Behavior, no ano de 1943, marca o surgim ento de outro tipo de N eobehaviorism o S-O -R - o Neobehaviorismo de Clark Hull (Chiesa, 1994).

3 Fm 1948, MacCorqodale e Meehl (1948) propuseram um a diferenciação entre variáveis intervenientes e construtos hipotéticos. Adiante, tratar-se-á desta distinção.

5

Page 6: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

Hull, à semelhança de Tolman, faz uso das variáveis mediacionais para explicar o comportamento. Contudo, seu uso é diferenciado. Na litera-tura, dentre os exemplos de construtos mediacionais postulados por Hull, encontram-se o drive, a inibição condicionada, a reação de fadiga, a interação neural aferente e o fator de oscilação (Chiesa, 1994), sendo que os cinco construtos considerados principais no Neobehaviorismo hulliano são: for-ça do hábito, reação potencial, inibição, oscilação do potendaí de reação e princípio ou limiar de reação (Tumer, 1965).

As variáveis mediacionais do sistema de Hull são variáveis essencialmente intra-organísmicas, no sentido de que possuem um ca-ráter neurofisiológico (Chiesa, 1994).

Como representantes do Neobehaviorismo Mediacional, para Tolman e Hull o ambiente é apenas o iniciador da cadeia S-O-R, caben-do aos mediadores a função de " causas reais" do comportamento.

C ontrapondo-se o N eobehaviorism o de H ull com o de 1 olman, nota-se que apesar de serem classificados como mediacionais e intem alistas, apresentam diferenças significativas.

Tolman e Hull concebiam o comportamento como um fenô-meno molar, entretanto, para Hull, rtiolar significava m acroscópico e não envolvia as propriedades de propósito e cognição postuladas por Tolman (Kitchener, 1977).

Enquanto Tolman recorreu a conceitos mentais em sua ex-plicação do comportamento, de acordo com Zuriff (1985), Hull rejei-tou a função explicativa destes conceitos. Possivelmente por isto, Hull trabalhava com as variáveis mediacionais entendendo-as apenas como variáveis intra-organísmicas e não recorreu a conceitos cognitivos como intenção, representação, expectativa e crença (Chiesa, 1994).

Isto evidencia que uma concepção mediacional e intemalista quanto à determinação do comportamento pode não ser suficiente para definir uma abordagem como cognitiva. M ais que isso, uma visão cognitiva requer a introdução das cognições como fatores determinantes para o fenômeno comportamental. Por cognição entende-se a postulação de processos que ocorrem no interior dos organismos, como memória, percepção, inteligência, pensamento, crenças etc., mas que não se con-fundem com suas condições anátomo-fisiológicas.

Tolman e Hull possuem concepções diferenciadas em relação à mediação. Enquanto para Tolman a natureza da mediação era mais pro-priamente cognitiva, Hull a considerava como neurofisiológica. Mesmo as variáveis intra-organísmicas postuladas por Tolman referem-se à pró-pria fisiologia do organismo de uma forma genérica. Ele não falava em processos e estruturas neurais, mas sim de estados de privação e condi-ções endócrinas, demonstrando claramente sua ênfase nas variáveis cognitivas. Porém, deve ficar claro que tanto Tolman como Hull utilíza-

6

Page 7: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

vam termos referentes a processos que não podiam ser de nenhum modo observados (MacCorquodale e Meehl, 1948).

Hm decorrência da distinção feita anteriormente, Tolm an se-gue a linha watsoniana de manutenção do dualismo e Hull é considera-do representante do monismo, por não utilizar termos que se referem a processos ou entidades não-físicas.

Em resumo, o Neobehaviorismo de Tolman é considerado um Behaviorismo Cognitivo, uma vez que enfatiza o papel das variáveis cognitivas na explicação do com portam ento dos organism os. Em contrapartida, apesar de Hull tam bém ser mediacionista e internalista no que se refere à explicação do comportamento, seu m odelo não é cognitivista, pois recorre à neurofisiologia do organism o (em algu-mas circunstâncias de modo m eram ente especulativo) para explicar o fenômeno comportamental.

Na tentativa de recuperar "o ambiente, como instância privi-legiada onde o cientista busca variáveis e condições das quais o com-portamento é função" (Matos, 1997, p. 59), um novo tipo de Behaviorismo é inaugurado por B. F. S k in n er- o Behaviorismo Radical.

Behaviorismo Radical de B. F. SkinnerEm bora o m odelo behaviorista de Skinner venha sendo

construído a partir da década de 30, é apenas em 1945, com a publica-ção do artigo intitulado The operational analysis o f psychological terms (Terms), que Skinner distingue seu Behaviorismo dos demais (Andery, 1993; Tourinho, 1995).

Skinner (1963) define o Behaviorismo como a filosofia da ciên-cia do comportamento, pois consiste em um conjunto de reflexões sobre o objeto de estudo, temas e métodos da psicologia e da ciência do com-portamento (Costa, 1997).

A denominação Behaviorismo Radical possui o significado de anti-mentalista (Lopes, 1993), ou seja, Skinner é radical por negar a existência de fenômenos cuja natureza não seja física, por exemplo, mente e cognição (Matos, 1997). Por negar a existência de tais fenômenos, a visão de homem skinneriana é monista — o organismo é uno e interage em sua totalidade com o ambiente.

No Behaviorismo Radical, o comportamento é definido como a relação entre o organismo e o ambiente (Skinner, 1938) e, neste sentido, busca identificar o contexto em que cada resposta foi estabelecida e se mantém assim como sua função no ambiente. E, diferentemente do que su sten tav a W atson, para Skin n er, g rand e p arte do rep ertó rio comportamental humano é operante e não reflexo. O operante é definido como uma classe de respostas cuja probabilidade de ocorrência é função de suas conseqüências (Skinner, 1953/1965).

7

Page 8: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

O paradigma utilizado por Skinner para explicar o comporta-m ento operante consistiu na tríplice contingência, Sd-R-Sr, na qual o Sd refere-se ao estímulo discriminativo que sinaliza a ocasião para o refor-ço; o R ,a resposta e o S r,oestím ulo reforçador. Assim, "um a formulação adequada da interação entre um organismo e seu ambiente deve sempre especificar três coisas: (1) a ocasião em que a resposta ocorre/ (2) a pró-pria resposta, (3) as conseqüências reforçadoras" (Skinner, 1969, p. 7, grifo acrescentado).

Ao mudar a unidade de análise, Skinner modificou também a noção de causa. Enquanto nos m odelos behavioristas clássico e m ediacional existia uma relação mecânica de causa e efeito, o modelo causal adotado por Skinner é selecionista; são as conseqüências pro-duzidas pelo comportamento que atuam selecionando este.

Nas palavras de Chiesa (1994), "behavioristas radicais ado-tam um modelo causal que não exige fornecer ligações entre um evento e outro; ele não é linear e não pressupõe contiguidade no espaço e no tem po" (p. 116). Uma explicação mecânica, em contrapartida, procura sempre um mecanismo para explicar a realidade e a explica de forma independente da existência dos indivíduos (Michelleto, 1997). A rea-lidade, para o mecanicismo, em função de

se form a[r] por uma sucessão de interações mecânicas faz supor a necessidade constante de urna matéria através da qual o efeito pudes-se se propagar e a necessidade de um princípio de explicação sempre baseado em um mecanismo. Para eventos em que não se podia obser-var uma relação causal espacial ou temporal imediata, muitas vezes se tornava necessária a elaboração de conceitos baseados em interpre-tações ou especulações para garantir a conexão do sistema, de causas (Michelleto, 1997, p. 32).

De forma semelhante a Watson, Skinner considera ambiente qualquer parte do mundo externo e interno que afete o indivíduo. Mais especificamente, ambiente seria qualquer parte do universo ao qual o in d iv íd u o resp ond e d iscrim in ativ am en te (Skinner, 1953/ 1965; Tourinho, 1997a).

De forma sintética, o Behaviorismo Radical caracteriza-se, so-bretudo, por ser a filosofia da ciência do comportamento que delimita o comportamento enquanto objeto de estudo em si mesmo, considera que a maioria dos comportamentos humanos é operante, adota o paradigma Sd-R-Sr, explica o comportamento sem recorrer a nenhum tipo de media-dor tal como o sistema nervoso ou cognições e defende uma concepção monista de homem (Chiesa, 1994).

As distinções entre os Behaviorism os apresentadas neste capítulo servirão de suporte para a caracterização do modelo de in-tervenção analítico-comporta mental a ser feita no capítulo seguinte.

8

Page 9: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

IITERAPiA A n a l í t i c o - C o m p o r t a m e n t a l : H i s t ó r i c o , P r o c e s s o e C a r a c t e r í s t i c a s D e f i n i d o r a s

Craighead, Craighead, Kazdin e M ahoney (1994) argum en-tam que, diferenciar o que é ou não uma intervenção terapêutica comportamental, pode ser, na maioria das vezes, uma tarefa difícil e um tanto incomum. Para estes autores, "dentro da categoria daqueles que se identificam com o modelo comportamental estão aqueles que se classifi-cam com o m o d ific a d o re s do co m p o rta m e n to , te ra p eu ta s com p ortam en tais, terap eu tas co g n itiv o s, terap eu tas co g n itivo - comportamentaís, terapeutas multimodais, integracionistas, e assim por diante" (1994, p. ix).

Diante deste cenário é que se considera relevante, neste capí-tulo, caracterizar o modelo clínico com portam ental a partir de sua contextualização histórica às etapas do processo terapêutico.

O surgimento da Terapia Com portam ental está relacicom os trabalhos de condicionamento reflexo de respostas de medo de-senvolvidos por W atson e Rayner na década de 20 (Barcellos e Haydu, 1995). À medida que as pesquisas experimentais foram sendo desenvol-vidas, seus resultados passaram a ser incorporados à prática dos terapeutas. Dentre aqueles cujos trabalhos exerceram influência sobre a área clínica comportamental, encontram -se Thom díke, Hull, Guthrie e Skinner (Barcellos e Haydu, 1995; Franks, 1996; Rim m e Master, 1983).

Na década de 60, os marcos do modelo clínico comportamental podem ser encontrados em uma obra organizada por Eysenk, em 1960, e na publicação da primeira revista de Terapia Comportamental, em 1963 (Franks, 1996). Corroborando esta análise histórica, Barcellos e Haydu (1995) afirm am que este modelo de terapia "constituiu-se em um movi-

9

Page 10: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

mento formal somente na década dc 60 e foi difundida mundialmente na década seguinte" (p. 43).

Existe uma proposta distinta de análise com relação aos traba-lhos de Skinner subsidiarem a Terapia Comportamental. Na verdade, afirma-se que seus estudos deram origem a um outro tipo de intervenção de caráter behaviorista - a Modificação do Comportamento (Barcellos e Haydu, 1995; Figueiredo e Coutinho, 1988; Greenspoon e La mal, 1978; Ri mm e Master, 1983). Pode-se dizer assim que, por volta da década de 50, existiam, pelo menos, dois tipos de intervenção behaviorista: a Terapia Comportamental, cuja intervenção adotava o paradigma do condiciona-mento reflexo e a Modificação do Comportamento, que tinha como respal-do o paradigma do condicionamento operante.

A identificação da Terapia Comportamental com o paradigma reflexo e da Modificação do Comportamento com o paradigma operante pode ser um modo impreciso de tratar as mudanças dos modelos clínicos comporta mentais, na medida em que são encontradas na literatura refe-rendas a ambos (Terapia Comportamental e Modificação do Comporta-mento) envolvendo a aplicação de princípios derivados dos condiciona-

jmentos clássico e operante (e.g. Kazdin, 1983). O que se pode salientar é jque, com a elaboração dos princípirts operantes, alguns terapeutas os

/absorveram como base estrita de intervenção clínica, enquanto outros os associaram a princípios do condicionamento reflexo no delineamento de técnicas e procedimentos de intervenção.

Atualmente, a denominação que vem sendo adotada como re-ferência à intervenção behaviorista no contexto clínico é Terapia Analítico-Comportamental. Esta term inologia visa resgatar os pres-supostos behavioristas da clínica comportamental e afastá-la dos di-versos modelos que se intitulam comportamental e que usam pressu-postos cognitivistas ou outros (Tourinho e Cavalcante, 2001). Como a caracterização a ser apresentada é de fato behaviorista, justifica-se falar em Terapia Analítico-Comportamental (T AC), embora as referências uti-lizadas ao longo do capítulo ainda façam uso do term o Terapia Comportamental.

Estas diferentes terminologias talvez sejam o reflexo das inter-pretações distintas de grande parte daqueles que se intitulam clínicos comportamentais e que não compartilham da própria denominação de um modelo comportamental ou, o inverso, em função da ausênda de uma única definição, encontram-se diferentes denominações.

O que é claro é que, d esd e o in íc io , o m od elo clícom portamental esteve ligado a diferentes posições teóricas, sendo que sua "evolução ao longo dos anos é acompanhada por inúm eras discussões e divergências quanto aos princípios teóricos e metodológicos que [o] caracterizam" (Barcellos e Haydu, 1995, p.43). Conseqüentemen-

10

Page 11: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

te, na própria década de 60 já existiam três definições distintas de Tera-pia Comportamental, além de mais duas na década de 70 (Figueiredo e Coutinho, 1988). Atualmente, outras definições podem ser encontradas , na literatura, entretanto, optou-se por aquelas propostas por Neri (1987) e Costa (1996).

/ Para Neri (1987), o processo terapêutico comportamental im-plica uma tentativa de controlar as variáveis ambientais que fava extinção de comportamentos inadequados e a aquisição de out

'■ possibilitem uma atuação m ais adequada do cliente em seu contexto, fI "n o sentido de reduzir ao máximo sua exposição às conseqüências ne- i | gativas, e de aumentar ao máximo a probabilidade de expor-se a situ- Wções agradáveis" (p. 23). 1

Costa (1996) complementa a definição acima quando pro- 1põe que:

f Por Terapia Comportamental [leia-se TA C ] entende-se o trabalho | terapêutico que se fundamenta no Behaviorismo Radical e utiliza osI princípios da A nálise do Com portam ento no contexto clínico, (

\ objetivando identificar e analisar funcionalmente as variáveis exter-nas que estão controlando os comportamentos do cliente, a fim de

j modificá-los, quando desejado. Dito de outra forma, o que define a f Terapia Comportamental [ou a TAC] é o modo como se compreende e se ( intervém no fenômeno comportamental, que deve estar em concordân- t cia com a filosofia e a ciência do comportamento (p. 4).

É notório que a definição proposta, apesar de se referir à Tera-pia Comportamental, mostra-se completamente compatível com o movi- ' m ento qu e pretende dar precisão con ceitu ai ao m od elo clín ico , comportamental. Cabe ressaltar, no entanto, que, quando se faz referên-cia ao Behaviorismo Radical, não há uma restrição a Skinner, incorpo-ram-se am pliações que vêm sendo feitas àquela proposta filosófica de autores contemporâneos que m antêm a denominação de behavioristas radicais, com o Banaco, Guilhardi e Tourinho.

A literatura sobre a clínica anaiítico-comportamental tem sido 1 ampliada na última década, sobretudo com as publicações da Associa- ( ção Brasileira de Medicina e Terapia Comportamental (ABPMC), porém algumas discussões importantes, como o processo terapêutico em si, não 1 têm sido valorizadas. Diversos artigos podem ser encontrados sobre ava-liação, uso de técnicas e outros, mas artigos que tratem da avaliação até o follow-up são escassos1. Por este motivo, considera-se de fundamental im-portância mostrar este percurso, inclusive porque um dos textos que traz uma caracterização das etapas do processo comportamental foi escrito

1 Recentem ente Ribeiro (2001) escreveu um artigo enfocando as fases do processo terapêutico com portam ental. Entretanto, existem aspectos distintos entre a caracterização da autora e a adota-da neste livro.

11

Page 12: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

por Range (1995), um autor cognitivo-comportamental (termo que será dis-cutido nos capítulos finais deste livro).

/ O processo terapêutico analítico-comportamental pode serX dividido, didaticamente, em três etapas: inicial, intermediária e ter-

minal (Lima, 1981)./ A etapa inicial compreende a avaliação que se faz do caso,■ determinando, primeiramente, o motivo que levou o cliente a procu-

rar a terapia (queixa) e, a partir daí, coletam-se informações sobre a história de vida do cliente, ou seja, busca-se saber sobre a história passada e caracterizar a situação atual do cliente, identificando-se não só comportamentos-problem a, mas também comportamentos saudá-veis, assim como pessoas e situações que funcionem como reforça dores, etc. Com relação à queixa, cabe ressaltar que nem sempre ela é trazida pelo cliente na primeira ou segunda sessão e, às vezes, nem mesmo ao

\/ final da avaliação, cabendo ao terapeuta avaliar se o cliente está se es- !' quivando ou ainda não discriminou as variáveis às quais está respon-

dendo (situação comum no contexto psicoterápico).■ ’ Durante a avaliação, os dados são coletados principalmente aV partir do relato verbal do cliente (no caso de adulto) e da observação dos / comportamentos clinicamente relevantes (CRBs). "Os CRBs são compor-

tamentos que ocorrem na relação terapeuta—cliente e são amostras da interação do cliente no seu contexto de vida" (Brandão e Torres, 1997, p. 219). Observar, analisar e intervir sobre os CRBs foi uma proposta elabora-

\ /' da por Kõhlenberg, ainda na década de 80, que vem sendo incorporada à prática de clínicos comportamentais desde a última década.

Para que a avaliação possa ser efetiva, o terapeuta precisa cole-tar as informações necessárias à compreensão do(s) problema (s) e à elabo-ração do planejamento terapêutico. Para tanto, diversas habilidades ver-bais e não-verbais são exigidas do terapeuta, dentre elas Silvares e Gongora (1998) apontam as habilidades empáticas, a operadonalização de infor-mações, o sorriso e os gestos ocasionais com as mãos e a postura corporal dirigida ao cliente. Todas estas habilidades visam o estabelecimento de uma relação terapêutica favorável, tema que vem sendo abordado com freqüência pela literatura como um aspecto importante na condução do processo clínico.

, Na etapa inicial ou avaliação, pelo menos duas características/ são peculiares a este modelo de terapia: a preocupação com "um a des-

crição, a mais clara, objetiva e completa possível da história de vida do cliente" (Delitti, 1993, p. 43) e a ênfase nos determinantes atuais dos com-portamentos, mais do que nos históricos (Franks, 1996; Lipp, 1984),

Entre a fase inicial e a intermediária, encontra-se um momento do processo que é conhecido como devolução. Com base nos dados

12

Page 13: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

coletados na avaliação, o terapeuta formula hipóteses diagnosticas para todos os comportamentos do cliente, adequados e inadequados, que ju l-gar necessário. Um comportamento adequado pode ser definido como aquele que produz conseqüências reforçadoras para o cliente e/ou para as pessoas envolvidas em sua relação, a curto, a médio e a longo prazo, enquanto um comportamento inadequado é aquele cuja as conseqüências são aversivas para o cliente e/ou para os que fazem parte de seu contexto (cf. Banaco, 1997).

As hipóteses são formuladas, tanto para comportamentos iso-lados (microanálises) como também uma hipótese mais ampla, capaz de explicar a situação atual do cliente a partir das inter-relações entre os seus diversos comportamentos (macroanálise) (cf. Meyer, 1997; cf. Silva-res, 2000), a partir de análises funcionais, isto é, explicações sobre os eventos passados que instalaram os comportamentos e eventos atuais que os mantêm.

Considerando a prática de atendimento e de supervisão de estagiários em clínica comportamental, elaborou-se o seguinte quadro para a organização das micruanálises:

ÁREAS COMPORTAMENTO

ADAPTADO

COMPORTAMENTO

INADEQUADO

Interação Familiar

Relações Afetivas

Trabalho

Lazer

Tabela 1: Ficha de Organização de M icroanálise5

A devolução, que pode ocorrer ao longo de várias sessões, dá- se, então, quando o terapeuta discute com o cliente as hipóteses para os comportamentos deste, objetivando testá-las. O que caracteriza esta(s) entrevista(s) é o fato de o terapeuta discutir de forma clara, objetiva e direta com o cliente a respeito do que pensa sobre a instalação e a manu-tenção das suas dificuldades. Esta discussão é de fundam ental impor-tância, na medida em que possibilita que o cliente comece a observar os controles do ambiente e como tais controles podem ser modificados por ele próprio. Afinal, "criar condições para a discriminação das condi-ções que controlam os comportamentos é a condição básica para a eficá-

- As áreas aparecerão na ficha de acordo com o caso, sendo enumerados quantos com portam entos relevantes o terapeuta selecionar.

13

Page 14: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

cia do processo terapêutico" (Delitti, 1993, p.42). É ainda durante a de- / volução que o terapeuta apresenta uma proposta de intervenção tera-

V pêutica, discutindo junto com o cliente os objetivos desta e como preten-de realizá-la6.

Y A etapa intermediária diz respeito à intervenção, quando o foco recai sobre o(s) comportamento(s)-problema trazido(s) pelo cliente, e/ou identificado(s) pelo terapeuta, visando, basicamente, modificar os comportamentos que estão trazendo conseqüências aversivas para o cliente e instalar e/ou aumentar a freqüência de comportamentos que produzam conseqüências reforçadoras. Considerando a categorização de comportamentos feita por Skirmer, as intervenções não se restringem

^ aos comportamentos públicos; tão importantes quanto estes são os com- J portamentos privados.

É na etapa de intervenção que se utiliza mais extensivamen- >y.. te o arsenal de técnicas com portamentais como a dessensibilização

sistemática, o esmaecimento, o treino de papéis, dentre outras. O uso de técnicas é sempre discutido com o cliente, considerando sua indi-vidualidade, cabendo ressaltar que não consiste em um aspecto que caracteriza uma intervenção como aftalítico-comportamental, na me-

'N! dida em que profissionais de diferentes orientações teóricas podem / fazer uso de técnicas comportamentais.

São consideradas características peculiares da fase de inter- \ ( venção a avaliação constante por parte do terapeuta das intervenções

realizadas (Craighead e cols., 1994) e a modificação de comportamento(s) do cliente como critério último para avaliar a intervenção como eficaz (Franks, 1996).

Quando os objetivos terapêuticos foram alcançados e o cliente mostra-se capaz de gerenciar sua vida sem a ajuda do terapeuta, a alta é sugerida e o processo terapêutico entra em sua etapa terminal, que é conhecida como acompanhamento ou follozv-up. A respeito desta etapa, não existe um critério único de como ela deve ser realizada. Sabe-se, porém, que uma primeira medida no período de acompanhamento con-siste em estabelecer um espaço de tempo maior entre as sessões (realizá- las quinzenalmente, mensalmente, trimestralmente e assim por diante) e, posteriormente, os contatos podem passar a ser feitos por telefone. Esta " estratégia" tem por objetivo verificar se os ganhos obtidos duranteo processo terapêutico estão se mantendo, do contrário, ou se surgir alguma situação nova com a qual o cliente esteja tendo dificuldade em

h Rangé (1995) em sua caracterização do processo comportam ental considera a formulação e a devo-lução, denominada por ele de discussão, com o fases do processo terapêutico, assim com o a avalia-ção, e Ribeiro (2CKJ1) usa o terino sessão de formulação comportam entai para o que se denominou de devolução. Neste caso, formulação pode ser entendida com o o trabalho do terapeuta de análise e síntese dos dados de avaliação.

14

Page 15: Os eh a v io r ismo s · PDF file · 2015-08-08Ao usar o modelo explicativo S-R, no qual um evento antece- ... Smith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do ... (conforme

lidar, há possibilidade de ser realizada uma nova intervenção. Aqui, é importante o terapeuta discriminar quando, de fato, o cliente precisa de ajuda e quando está sim ulando uma dificuldade para manter a relação terapêutica.

Em síntese, o processo terapêutico analítico-comportamental pode ser dividido nas etapas de avaliação, intervenção e acompanha-mento. Ao longo deste processo, identificam-se certas características que são específicas deste modelo de terapia. Dentre estas característi-cas estão: a) ênfase nas variáveis ambientais, no comportamento e nos seus determinantes atuais; b) minuciosa coleta e análise de dados; c) uso da análise funcional para interpretar os dados coletados; d) inter-venção direta e objetiva e e) mudança comportamental como critério final para a avaliar a intervenção.

Partindo desta caracterização do processo terapêutico, cons-titui objetivo do mesmo, segundo Batistussi (2000),

conscientizar o cliente das contingências em operação na sua vida, com-preendendo como certas coisas são feitas e porquê são feitas. Esta conscientização provavelmente visa a modificação dos aspectos que es-tão causando problemas para o cliente, na medida em que a meta é dar consciência através da descrição de contingências, de forma que o cli-ente emita novos comportamentos e tenha conseqüências reforçadoras, tomando as relações com o ambiente mais produtivas (p. 158).

D o ponto de v ista do terapeuta, ainda de acordo com Batistussi (2000) " a principal meta é buscar uma adequada compreen-são da problemática do cliente e realizar uma intervenção baseada na análise funcional" (p. 161).

M eyer (1990), em um texto intitulado Quais os requisitos para que uma terapia seja considerada comportamental?, discute algumas ques-tões que considera relevantes neste modelo de terapia. Para a autora,

São essenciais, no nível metodológico, a análise [funcional] de con-tingências; no nível conceituai, o conhecimento e a aplicação, mesmo que assistemâtica, de princípios de comportamento; e no nível filosó-fico, pelo menos a rejeição ao mentalismo. Caso contrário, teremos uma abordagem sem consistência e que provavelmente não sobrevi-verá (p.4).

Em linhas gerais, neste capítulo, foi enfatizado que a TAC se ca ra c te r iz a p or e s ta r fu n d a m en ta d a nos p re ssu p o sto s do Behaviorism o Radical e delim itar como finalidade da intervenção, identificar, analisar e alterar, com o uso da análise funcional, as vari-áveis externas das quais os comportamentos dos clientes são função.

No próximo capítulo, tratar-se-á de um dos temas mais im-portantes da filosofia skinneriana - a subjetividade.

15