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ATITUDE EMPREENDEDORA EM PROPRIETRIOS-GERENTES DE PEQUENAS EMPRESAS. CONSTRUO DE UM INSTRUMENTO DE MEDIDA Gumersindo Sueiro Lopes Jr1 SQS 306, bloco H, apto. 505 CEP: 70353-080 Braslia/DF Brasil Fone: (61) 443-7314 E- mail: [email protected] Eda Castro Lucas de Souza 1 SQN 116, Bloco I, Apto. 208 CEP: 70773-090 Braslia/DF Brasil Fone: (61) 340-7801 E- mail: [email protected]

Universidade de Braslia Programa de Ps-Graduao em Administrao CEP: 70910-970 Braslia/DF Brasil

Resumo Esse trabalho teve como objetivo a construo e validao de um instrumento de medida da atitude empreendedora, bem como a mensurao dessa atitude em proprietrios- gerentes de pequenas empresas de varejo. Atitude empreendedora foi definida, com base na teoria do comportamento planejado, como a predisposio aprendida a atuar, ou no, de forma empreendedora. Empreendedorismo foi analisado a partir de quatro fatores: planejamento, realizao, poder e inovao. O questionrio foi construdo de forma estruturada, com 36 itens afirmativos, utilizando a escala Likert. A amostra do estudo foi composta de 290 proprietrios-gerentes de pequenas empresas varejistas, vinculados ao Projeto Empreender, no DF. Foram realizadas vrias anlises, sendo que, a partir da anlise fatorial, dois fatores, relativas atitude empreendedora, foram considerados como positivos para o

desenvolvimento dos empreendimentos dos atores estudados: Prospeco e Inovao, e Gesto e Persistncia. A anlise dos resultados demonstrou a presena da atitude empreendedora nos grupos estudados. O instrumento obteve ndices estatisticamente confiveis em relao a sua construo, validao e confiabilidade, sendo denominado de Instrumento de Mensurao da Atitude Empreendedora (IMAE).

REAd Edio 48 Vol. 11 No. 6, nov-dez 2005

Atitude empreendedora em proprie trios-gerentes de pequenas empresas. Construo de um instrumento de medida Palavras-chave: empreendedorismo; atitude empreendedora; pequenas empresas; prospeco e inovao; gesto e persistncia.

Entrepreneurship attitude on ma nagers -owners of small retailing enterprises. Building up a measurement instrument Abstrat The work aimed the construction and validation of a measure instrument of the entrepreneurship attitude and the identification of this attitude in managers-owners of small retailing enterprises. The entrepreneur attitude was defined supported on the planned behavioral theory, as a learned predisposition to act or not act in an entrepreneur fashion. Entrepreneurship was assessed from four factors: planning, accomplishment, power and innovation. The questionnaire has 36 standardized affirmatives on a Likert-scale format. The research sample was composed of 290 manager-owners of small retailing enterprises, linked to the Empreender Projetc in the Federal District. Several analys is were carried out. However, from the factor analysis two factors related to the entrepreneur attitude were considered as positive to the development of the studied actors: Foresight and Innovation, and Management and Persistence. The results also show the presence of entrepreneur attitude amongst the studied group. The research instrument achieve statistically reliable indicators respecting its construction, authentication and reliability, named Entrepreneur Attitude Measuring Instrument (EAMI). Key-words : entrepreneurship; entrepreneur attitude; small enterprises; foresight and innovation; management and persistence.

Introduo

A criao e o desenvolvimento de pequenas empresas tornam-se fundamentais para a sustentabilidade do pas, contribuindo para a gerao de empregos, o desenvolvimento e crescimento econmico. Contudo, devido s altas taxas de mortalidade dessas empresas, entre 55 e 73% nos trs primeiros anos de vida (SEBRAE, 2003), faz-se necessrio que sua gesto torne-se, cada vez mais, empreendedora, no sentido de buscar alternativas para a sua sobrevivncia e sustentabilidade no mercado. Souza (2001, p. 32) destaca que no atual contexto de incertezas e desafios, o desenvolvimento e at mesmo a sobrevivncia das organizaes depende, em grande parte, da formao e da capacitao dos seus atores. Essa REAd Edio 48 Vol. 11 No. 6, nov-dez 20052

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formao, diz a autora, est voltada para conhecimentos e habilidades, bem como para a busca da criatividade e da auto-realizao, fatores fundamentais do empreendedorismo que, por sua vez, est altamente relacionado com a criao e o desenvolvimento de empresas. Esse contexto, sobretudo No que diz respeito mortalidade de micro e pequenas empresas, tem levado, por parte de rgos pblicos e privados, ao surgimento de aes que estimulam prticas como as de associativismo, capacitao empresarial, financiamento com taxas reduzidas, cooperativismo. O Projeto Empreender que vem atuando, no Brasil, estando presente em todas as regies desde 1991 (BELTRO, 2004, p. 1) uma dessas aes. O Projeto Empreender o resultado do trabalho conjunto da Confederao das Associaes Comerciais do Brasil CACB-, da Federao das Associaes Comercias e Industriais do Distrito Federal e do Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas SEBRAE. O objetivo desse projeto a aproximao dos empresrios de um mesmo setor, promovendo a interao na busca de solues criativas para suas dificuldades, esquecendo a concorrncia. (BELTRO: 2004, p.1), propondo-se, assim, a provocar mudanas na forma de atuar dos empreendedores, ofertando uma possibilidade para o desenvolvimento da capacidade gerencial dos atores associados ao mesmo. Considerando que o desenvolvimento econmico pode advir no s da criao de novos empreendimentos, mas, tambm, da sustentabilidade dos mesmos e que o empreendedorismo, na viso de Shumpeter (1982), a mola mestra desse desenvolvimento, torna-se fundamental a realizao de estudos sobre esse conceito, possibilitando, com isso, a criao de ambientes e condies para a f rmao de competncias empreendedoras. Ao o enfatizar a importncia da capacidade empreendedora como fomentadora de mudanas econmicas e geradora de empregos, Shumpeter (1982) vincula o empreendedorismo inovao e considera a criatividade como o impulso dessa inovao, tornando-se essencial s mudanas scio-econmicas. No entanto, segundo Carland et al. (1984, p. 357), um dos principais problemas nos estudos de empreendedorismo est na definio e na identificao do que ser empreendedor, pois, sugerem esses autores que, alm de outras controvrsias, muitos estudos no distinguem, adequadamente entre empreendedores e proprietrios de pequenos negcios. Isso pode ocorrer em razo do empreendedorismo, como afirmam pesquisadores desse tema (GIMENEZ et al., 2001; SOUZA, 2001; FILION, 1999; CARLAND et al., 1984), ainda no possuir um conceitual terico universal, ou uma teoria consolidada. A esse respeito destaca Souza (2001, p. 30): REAd Edio 48 Vol. 11 No. 6, nov-dez 20053

Atitude empreendedora em proprie trios-gerentes de pequenas empresas. Construo de um instrumento de medidaTudo est em criao, inclusive a prpria conceituao e, especialmente, uma metodologia para o desenvolvimento dessa competncia que envolve bem mais do que a aquisio de conhecimento, mas o aprender a aprender, a ser, a fazer e, principalmente, a conviver.

Nessa mesma linha de pensamento, Gimenez et al. (2001, p. 12) consideram o empreendedorismo um atributo subjetivo e afirmam ser uma tarefa difcil quantificao de um atributo subjetivo, no havendo um teste ou instrumento universal que possa ser considerado o estado da arte no campo. Nesse sentido, a construo e validao de instrumentos de pesquisa, voltados para a identificao de caractersticas e competncias empreendedoras, bem como de lacunas na formao do empreendedor, passa a ter papel importante para essa rea de estudo, assim como para orientar aes de estmulo e consolidao de novos empreendimentos. Dessa forma, o objetivo deste trabalho desenvolver e validar um instrumento de pesquisa que, com base em quatro dimenses planejamento, realizao, inovao e poder identifique e mensure a atitude empreendedora em proprietrios-gerentes de pequenas empresas de varejo, associadas ao Projeto Empreender. Atitude, aqui considerada a partir do arcabouo terico da Teoria do Comportamento Planejado (AJZEN, 2002), sendo compreendida como um dos influenciadores do comportamento que, aliado s normas subjetivas e a percepo de controle comportamental, ir formar o comportamento individual. Assim, fica definida como atitude empreendedora a predisposio apreendida para se comportar, ou no, de maneira empreendedora.

Empreendedor e Empreendedorismo Empreendedorismo, embora sejam muitas as tentativas para definir e caracterizar esse conceito, h uma falta de consenso na determinao de suas caractersticas e mtodos de avaliao, tal como afirmam Cooper et al. e Cooper (apud GIMENEZ e INCIO JR, 2002). Mesmo no se tendo um perfil cientfico que permita identificar com alguma certeza os empreendedores em potencial, h consenso sobre a possibilidade de se desenvolver o potencial empreendedor e as caractersticas que mais contribuem para a realizao desse potencial, tais como: inovao, criatividade, propenso a correr riscos moderados, viso, necessidade de realizao, perseverana, identificao de oportunidades, entre outras (FILION, 1999). Para Carland et al. (1992, p. 1) grande parte da controvrsia sobre a definio de empreendedorismo e a identificao de empreendedores vem da suposio tcita de que empreendedorismo seja uma condio dicotmica, suposio essa que tem sido questionada. REAd Edio 48 Vol. 11 No. 6, nov-dez 20054

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Stevenson e Gumpert (1985, p. 3) descartam que empreendedorismo seja tudo ou nada, ou traos que algumas pessoas ou organizaes possuem e outras no. Para esses autores, o empreendedorismo mais bem compreendido dentro de um contexto de variao de comportamento, onde o indivduo se situa em um continuum que possui, como extremos, o administrador mais voltado para a manuteno do status quo e o administrador com perfil empreendedor, orientado para a mudana, inovao e identificao de oportunidades. Carland et al. (1992, p. 1) reforam essa viso do continuum, como sendo uma descrio mais apropriada para o fenmeno. Nessa direo, Gimenez e Machado (apud PELISSON et al. 2001, p. 3) afirmam que empreendedorismo melhor visto como um comportamento transitrio que apresenta muito da situao enfrentada pelo empreendedor. Assim, empreendedorismo no se trata simplesmente de um conjunto de caractersticas de determinados indivduos, mas de um comportamento que pode ser transitrio frente realidade apresentada pelo indivduo em questo. Gimenez et al.(2001, p.11) ao considerarem empreendedorismo como um processo complexo e multifacetado, caracterizam o empreendedor como:Algum que, no processo de construo de uma viso, estabelece um negcio objetivando lucro e crescimento, apresentando um comportamento inovador, adotando uma postura estratgica.

No se trata, pois, de ser ou no ser empreendedor, mas de se situar dentro de um espectro de pessoas menos ou mais empreendedoras. Esse carter transitrio do comportamento empreendedor tambm se encontra destacado na definio de Fillion (1999, p.19), pois, para o autor, empreendedor :Uma pessoa criativa, marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e que mantm alto nvel de conscincia do ambiente em que vive, usando-a para detectar oportunidades de negcios. Um empreendedor que continua a aprender a respeito de possveis oportunidades de negcio e a tomar decises moderadamente arriscadas que objetivam a inovao, continuar a desempenhar um papel empreendedor.

O empreendedor, para Steveson e Gumpert (1985, p. 2), distingui- se por um desejo de mudana e crescimento e possui uma auto percepo de poder e de habilidade para realizar metas. Na viso de Leite (2001, p. 87) o empreendedor caracteriza-se pela iniciativa, criatividade, flexibilidade, senso de oportunidade, motivao e pela capacidade de perceber a mudana como uma oportunidade. A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor realizada em 31 pases no ano de 2003, possuiu uma viso bastante ampla sobre o conceito, cons iderando empreendedorismo como:Qualquer tentativa de criao de um novo negcio ou novo empreendimento, como por exemplo uma atividade autnoma, uma nova empresa, ou a

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Atitude empreendedora em proprie trios-gerentes de pequenas empresas. Construo de um instrumento de medidaexpanso de um empreendimento existente, por um indivduo, grupos de indivduos ou por empresas j existentes (GEM, 2003, p. 5).

Em funo dessa abrangncia, a pesquisa GEM diferenciou empreendedorismo por necessidade, resultante da falta de oportunidades no mercado de trabalho e muito relacionado s taxas de desemprego, de empreendedorismo por oportunidade, fruto de uma viso de mercado e da percepo de uma oportunidade (GEM, 2001). Assim, o conceito utilizado por essa pesquisa refora a viso do comportamento empreendedor como uma caracterstica transitria e de empreendedorismo como um comportamento, fortemente influenciado por condies sociais, econmicas e estruturais de apoio e estmulo ao desenvolvimento do empreendedor. Segundo a Mangement Systems International (1990, p. 65), com base em uma ampla reviso de literatura, alm de possurem treze caractersticas marcantes, os empreendedores bem sucedidos, so definidos como:O individuo que organiza e/ou administra recursos sob a forma de empresa responsvel pela prpria prestao de contas e no-agrcola, e que assume uma parcela considervel de risco em razo de sua participao no patrimnio lquido da referida empresa.

Essa pesquisa agrupou as caractersticas do comportamento empreendedor em trs dimenses: a de realizao, composta por busca de oportunidades, iniciativa, persistncia, aceitao de riscos e comprometimento; a de planejamento, composta por estabelecimento de metas, busca de informaes, planejamento e monitoramento, e, por fim, a dimenso poder, composta por persuaso, estabelecimento de redes de contato, liderana, i dependncia e n autoconfiana. Entretanto no constam entre essas treze caractersticas a inovao e a criatividade que esto entre as mais comumente relacionadas atitude empreendedora, sendo utilizadas por diversos autores (SHUMPETER, 1982; FILION, 1991; CARLAND et al, 1992) como divisor entre empreendedores e gerentes ou proprietrios de pequenos negcios. Carland et al. (1992, p. 1), por exemplo, explicam empreendedorismo, primariamente, como uma funo de quatro elementos: traos de personalidade, postura estratgica, inovao e propenso a assumir riscos, destacando entre elas a busca de oportunidade e a criatividade como traos de personalidade. Por outro lado, com base em especialistas no tema e empreendedores de sucesso, Kornijeznk (2004, p. 74-81), em pesquisa realizada, encontrou como caractersticas empreendedoras mais citadas por pesquisadores a inovao, a busca de oportunidades, a criatividade, a propenso a correr riscos, a liderana, a viso, a persistncia e a necessidade de realizao. REAd Edio 48 Vol. 11 No. 6, nov-dez 20056

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s trs dimenses realizao, planejamento e poder utilizadas pela Management Systems International (1990, p. 65) que agrupam caractersticas do comportamento empreendedor, aliadas dimenso inovao, composta por inovao e criatividade, foram as caractersticas empreendedoras consideradas para a elaborao do Instrumento de Medida de Atitude Empreendedora IMAE - criado nesta pesquisa, com o objetivo de mensurar a atitude empreendedora em Proprietrios-Gerentes de Pequenas Empresas. Alm disso, a partir de estudos citados acima, empreendedorismo foi definido, aqui como o resultado tangvel e intangvel de uma pessoa com habilidades criativas, sendo uma complexa funo de experincias de vida, oportunidades, habilidades e capacidades individuais formada por quatro conjuntos de comportamentos denominados de: planejamento, realizao, poder e inovao.

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Atitude empreendedora em proprie trios-gerentes de pequenas empresas. Construo de um instrumento de medida Atitude empreendedora Muito da ateno dispensada pelos estudiosos para explicar o conceito de atitude vem da tentativa de se predizer o comportamento social, sendo atitude aqui definida como uma disposio para responder com algum grau de favorabilidade ou desfavorabilidade a um objeto psicolgico. esperado que as atitudes prevejam e expliquem o comportamento humano. Atitudes positivas deveriam predispor tendncias aproximao e atitudes negativas deveriam predispor tendncias de distanciamento. Contudo, segundo Azjen e Fishbein (2000, p. 13), as pesquisas revelaram fraca relao entre atitudes verbais e o comportamento manifestado. Segundo os autores, isso se deu em razo de que a maioria das abordagens com resultados negativos falhou em reconhecer a especificidade situacional de muitos comportamentos humanos, tanto quanto o fato de que atitudes para objetivos representam tendncias de respostas generalizadas. A diferena entre comportamento e atitude fica clara quando Rodrigues (1972, p. 402) afirma que:Atitudes envolvem o que as pessoas pensam, sentem, e como elas gostariam de se comportar em relao a um objeto atitudinal. O comportamento no apenas determinado pelo que as pessoas gostariam, mas, tambm, pelo que elas pensam que devem fazer, isto , normas sociais; pelo que elas, geralmente, tem feito isto , hbito, e pelas conseqncias esperadas de seu comportamento.

A incluso de outros fatores na tentativa de se predizer o comportamento chamada por Ajzen (1991, p. 180) de princpio da agregao. Segundo o autor a idia por trs do princpio da agregao a suposio de que qualquer comportamento reflete, no apenas a influncia de disposies gerais relevantes, mas, tambm, sofre a influncia de vrios outros fatores nicos para a ocasio, situao e ao particular que est sendo observada. Segundo Ajzen (1991, p.181), a teoria do comportamento planejado (theory of planned behavior) desenvolvida para predizer e explicar o comportamento humano em contextos especficos, postula trs determinantes, conceitualmente independentes das intenes. O primeiro a atitude para o comportamento, que se refere ao grau de avaliao pessoal, que pode ser favorvel ou desfavorvel, com relao ao comportamento em questo. O segundo, um fator social, chamado de norma subjetiva, que se refere presso social, percebida para desempenhar ou no um determinado comportamento. O terceiro a percepo de controle comportamental que corresponde perceber a facilidade ou a dificuldade de desempenhar um determinado comportamento. Como regra geral, pode-se afirmar que quanto mais favorvel atitude e norma subjetiva com respeito ao comportamento e maior a percepo de controle comportamental, REAd Edio 48 Vol. 11 No. 6, nov-dez 20058

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mais forte dever ser a inteno individual para desempenhar o comportamento em questo (AJZEN e FISHBEIN, 2000, p. 14). Ajzen (1991, p. 189) distingue trs tipos de crenas que exercem importante papel sobre o comportamento e que influenciam as intenes e as aes: as crenas comportamentais, tidas como influenciadoras das atitudes para o comportamento; as crenas normativas, que constituem a base das normas subjetivas, e as crenas de controle que provem as bases para a percepo de controle comportamental. O modelo proposto pela teoria do comportamento planejado apresentado abaixo (figura 1).

Crenas Comportamentais

Atitudes para o Comportamento

Crenas Normativas

Normas Subjetivas

Inteno

Comportamento

Crenas de Controle

Percepo de Controle Comportamental Controle Comportamental real

Figura 1 Modelo da Teoria do Comportamento Planejado (Theory of Planned Behavior). Fonte: Ajzen (2002, p. 1)

Para este trabalho, atitude foi entendida como uma predisposio aprendida para responder de forma favorvel ou desfavorvel com relao a um objeto atitudinal, passando a ser atitude empreendedora a predisposio aprendida para atuar, ou no, de forma empreendedora. O presente trabalho teve como propsito analisar essa atitude em um segmento de trabalhadores do varejo, no contexto do Distrito Federal.

Metodologia Inicialmente, na pesquisa que deu origem a este texto, foi elaborado um instrumento de medida para a atitude empreendedora a partir das principais caractersticas empreendedoras identificadas na reviso de literatura, principalmente aquelas destacadas na pesquisa Management Systems International (1990, p. 65), e na matriz das caractersticas do comportamento empreendedor, apresentada em pesquisa realizada por Kornijezuk (2004) as quais foi acrescida a dimenso inovao, composta por ino vao e criatividade. As REAd Edio 48 Vol. 11 No. 6, nov-dez 20059

Atitude empreendedora em proprie trios-gerentes de pequenas empresas. Construo de um instrumento de medida caractersticas consideradas foram agrupadas em quatro dimenses que so: realizao, planejamento, poder e inovao. Para a construo dos itens foram considerados dez critrios propostos por Pasquali (no prelo, p. 48): o comportamental segundo o qual os itens devem expressar um comportamento e no uma abstrao; objetividade quando os itens devem cobrir comportamentos desejveis; simplicidade, cada item expressando uma nica idia; clareza, ou seja, itens inteligveis; relevncia segundo o qual a expresso deve ser consistente com o trao definido e com as outras frases que cobrem o mesmo atributo; preciso item com posio definida no continuo do atributo; variedade, variao na linguagem utilizada; modalidade, itens formulados sem expresses extremadas; tipicidade frases formadas com expresses condizentes com o atributo, e credibilidade, itens formulados de modo a no parecerem ridculos, infantis ou despropositados. Os 54 itens elaborados inicialmente foram submetidos anlise de oito juzes para validao quanto ao contedo, utilizada, principalmente para verificar a adequao da representao comportamental dos atributos latentes (PASQUALI, 1999, p. 53). Aps a validao do contedo pelos juzes, somente 36 itens permaneceram, distribudos nas quatro dimenses da seguinte forma: treze em Planejamento; nove em Realizao; oito em Poder e seis em Inovao. O questionrio foi construdo de forma estruturada, com 36 itens afirmativos, tendo sido utilizada escala Likert de atitude de 10 pontos (1-Nunca a 10Frequentemente), que objetiva medir com que freqncia o respondente adota cada uma das atitudes descritas nas questes. A populao da pesquisa foram os proprietrios-gerentes de pequenas empresas varejistas e/ou de servios participantes do Projeto Empreender, no Distrito Federal, distribudos em onze tipos de ncleos setoriais, doze diferentes regies administrativas do DF, totalizando 33 ncleos setoriais e 687 empresas. Destas foi retirada a amostra composta por 290 proprietrios-gerentes do Projeto Empreender, que estavam presentes no III Encontro desse Projeto. Inicialmente foram levantados dados pessoais dos gestores em estudo e de suas empresas, tais como: sexo, tempo de participao no projeto, ncleo setorial, cidade e tempo de funcionamento da empresa. Predominaram pessoas do sexo masculino, 62%, ncleos setoriais, auto mecnico, 27,6% e profissionais da beleza, 16,2%, cidade, Braslia, 33%. A distribuio da amostra segundo o tempo de participao no Projeto Empreender apresentou uma polarizao nas extremidades, ou seja, 20,7% participam do projeto h mais de 24 meses e 20% entre 0 e 5 meses. O tempo mdio de participao no projeto foi de 12,41 meses (DP=9,75 meses; MODA=24 meses). O tempo de funcionamento mdio das empresas REAd Edio 48 Vol. 11 No. 6, nov-dez 200510

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de 9,31 anos (DP=8,28 anos; MODA=3 anos), sendo que grande parte dos respondentes tm empresas em funcionamento h mais de 12 anos (23,8%) e entre 3 e 5 anos (20,7%).

Anlise dos dados As respostas ao questionrio foram registradas em um arquivo de dados eletrnico, no programa SPSS (Statistical Package for the Social Science), verso 10.0. Em uma primeira etapa, foram realizadas anlises descritivas e exploratrias para investigar a exatido da entrada dos dados, a distribuio dos casos omissos, o tamanho da amostra, os casos extremos e a distribuio das variveis. Em seguida, com o intuito de identificar com que freqncia empresrios/gerentes de pequenas empresas de comrcio e servios do DF, associados ao Projeto Empreender, apresentam uma atitude empreendedora, realizaram-se as anlises descritivas de cada varivel do instrumento utilizado (mdias, desvios padro, mnimo, mximo e moda). Para validar empiricamente a escala de atitude empreendedora foram seguidas diferentes etapas. Anlise da fatorabilidade da matriz de correlaes por meio da anlise do tamanho das correlaes e do teste de adequao da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO); extrao dos fatores e do nmero de fatores a serem utilizados, por meio do mtodo dos componentes principais (PC), da anlise e distribuio dos valores prprios (eigenvalues e scree plot), da varincia explicada pelos fatores das cargas fa toriais e da anlise dos ndices de consistncia interna dos itens (Alfa de Cronbach) e, por fim, anlise fatorial, utilizando o mtodo de fatorao dos eixos principais ( rincipal Axis Factoring - PAF) com rotao P oblqua. Os resultados dessas anlises so descritos a seguir.

Resultados e Discusses Para cumprir o objetivo de identificar a atitude empreendedora dos

empresrios/gerentes em estudo, analisou-se o valor das mdias, desvios padro, mnimo, mximo, moda e freqncia das variveis. As mdias variaram de 6,50 a 8,88, o que indica que os empresrios/gerentes adotam com freqncia as atitudes descritas nas questes do instrumento. Os valores da moda reforaram tal afirmao, j que todos os itens apresentaram valores nos trs pontos mais altos da escala, sendo que 83,33% (30 itens) dos itens apresentaram moda igual a 10. As mdias mais altas referem-se aos itens que avaliam, respectivamente, as atitudes quanto: a sacrifcios pessoais para concluir tarefas; confiana na capacidade de superar desafios; confiana na competncia como fonte do sucesso no negcio; busca de novas REAd Edio 48 Vol. 11 No. 6, nov-dez 200511

Atitude empreendedora em proprie trios-gerentes de pequenas empresas. Construo de um instrumento de medida solues para atender necessidades dos clientes; e responsabilidade pela concluso dos trabalhos nos prazos estipulados. Vale ressaltar que entre os itens de mdias mais altas, houve discordncia de opinies entre os participantes. Os itens que apresentaram avaliaes mais baixas, referem-se a assumir riscos visando superar a concorrncia; ao planejamento de atividades; utilizao de estratgias deliberadas para influenciar pessoas; a assumir riscos para expandir o negcio, e definio de metas de longo prazo. Entretanto, v-se que todos os desvios-padro associados s avaliaes mais baixas foram altos, o que indica discordncia entre os participantes da pesquisa. Associado a esta avaliao, verifica-se que os valores das modas de tais afirmaes possuem valor 10, sugerindo que os empresrios/gerentes da amostra apresentam tais atitudes com certa freqncia.

Anlise Fatorial Validao Estatstica da Escala Atitude Empreendedora As respostas dos 290 participantes aos itens do questionrio, submetidas a anlises exploratrias, apresentaram 30 (trinta) respostas extremas univariadas, as quais foram retiradas do banco de dados para que fossem realizadas as anlises fatoriais, pois, segundo Tabachnick e FideL (2000) representam muito impacto na soluo da regresso. Por no terem sido encontradas variveis com mais de 5% de dados omissos, no foram estimados valores para substitu- los. Com a finalidade de analisar a fatorabilidade dos dados e a estimativa do nmero de componentes, os itens da escala foram submetidos anlise dos Componentes Principais (PC). Analisada a matriz de correlaes entre as variveis, observou-se um alto nmero de valores superiores a 0,30, indicando ser muito provvel a existncia de apenas um fator. Obteve-se um ndice Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) de 0,90, considerado muito bom de adequao da amostra (Pasquali, no prelo, p. 49). A anlise dos componentes principais, com tratamento pairwise para os casos omissos, sugere uma estrutura emprica com 8 componentes que explicam, em conjunto, 58,18% da varincia total das respostas dos participantes aos itens do questionrio. A anlise do grfico de distribuio dos valores prprios (Figura 2), apresentou 1 ou 2 componentes. Deste modo, as anlises fatoriais dos eixos principais (PAF) foram realizadas para 2 e 1 fatores, obtendo-se bons resultados, em ambas solues.

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Distribuio de Valores Prprios12 10

8

6

Valores Prprios

4

2 0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35

Componentes

Figura 2. Distribuio dos Valores Prprios para Atitude Empreendedora.

A extrao final dos fatores da Escala de Atitude Empreendedora foi realizada por meio da PAF (Principal Axis Factoring), com rotao obliqua e tratamento pairwise para casos omissos. Esse mtodo verifica como os itens agrupam-se em relao aos fatores. Foram includos na escala apenas os itens com contedos semnticos similares e cargas fatoriais superiores ou iguais a 0,30. A Tabela 1 apresenta a estrutura emprica bi e unifatorial da escala, as cargas fatoriais e comunalidades (h2 ) dos itens, ou seja, a proporo da va rincia de cada varivel explicada pelos fatores comuns, torna-se coeficiente de fidedignidade, uma vez que expressa toda a varincia da varivel, menos o erro (PASQUALI, no prelo); o ndice de consistncia interna (Alfas de Cronbach), bem como o valor prprio e percentual de varincia explicada do fator.

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Atitude empreendedora em proprie trios-gerentes de pequenas empresas. Construo de um instrumento de medidaTabela 1: Estrutura emprica bi e unifatorial da Escala de Atitude Empreendedora. Cargas fatoriais Cdigo/ Descrio dos Itens Fator Fator 1 2 0,71 0,70 0,61 0,59 0,56 0,55 0,54 0,54 0,52 0,51 0,51 0,48 0,48 0,46 0,45 0,45 0,43 0,38 0,42 0,33 0,33 0,64 0,63 0,62 0,60 0,56 0,51 0,48 0,45 0,42 0,42 0,41 0,36 0,31 0,35 0,34 0,31 228 9,99 27,75 20 0,89 238 1,56 4,33 15 0,87 h2 Fator Geral 0,55 0,30 0,53 0,28 0,55 0,52 0,59 0,37 0,64 053 0,49 0,44 0,53 0,60 0,55 0,57 0,61 0,53 0,71 0,41 0,54 0,34 0,42 0,38 0,55 0,46 0,55 0,65 0,33 0,52 0,64 0,42 0,60 0,46 0,53 0,58 0,56 0,41 216 9,95 27,64 36 0,93 0,30 0,27 0,34 0,14 0,41 0,28 0,24 0,19 0,28 0,36 0,31 0,33 0,37 0,28 0,51 0,17 0,29 0,11 0,17 0,14 0,30 0,21 0,30 0,42 0,11 0,27 0,41 0,17 0,35 0,22 0,28 0,33 0,32 0,17

31. Crio novas rotinas, objetivando a melhoria do desempenho do meu negcio. 22. Planejo as atividades do meu negcio subdividindo tarefas de grande porte em subtarefas. 12. Fao projees claras para o futuro de meu negcio. 29. Defino continuamente objetivos de curto prazo. 3. Mudo de estratgia, se necessrio, para alcanar uma meta. 14. Utilizo estratgias deliberadas para influenciar pessoas. 15. Reviso continuamente objetivos de curto prazo. 2. Exploro novas oportunidades de negcio. 5. Defino metas de longo prazo, claras e especficas. 30. Assumo riscos com o intuito de superar a concorrncia. 23. Procuro criar novos servios. 1. Implemento novas idias com o objetivo de melhorar a qualidade do meu negcio. 16. Busco informaes sobre meu ramo de negcio em diferentes fontes. 32. Ajo antes de ser pressionado pelas circunstncias. 11. Busco novas maneiras de realizar tarefas. 19. Consulto meus registros de controle antes de tomar decises. 28. Desenvolvo idias novas para a soluo de problemas. 9. Busco obter informaes sobre possveis clientes. 6. Adoto procedimentos para assegurar que o trabalho atenda padres de qualidade previamente estipulados. 4. Assumo riscos para expandir meu negcio. 7. Utilizo contatos pessoais para atingir meus objetivos. 17. Fao sacrifcios pessoais para concluir tarefas. 27. Emprego esforos extras para a concluso de tarefas programadas. 8. Responsabilizo-me pela concluso dos trabalhos nos prazos estipulados. 26. Confio na minha competncia como fonte do sucesso do meu negcio. 20. Renovo meus esforos para superar obstculos. 25. Considero-me principal responsvel pelo desempenho do meu negcio. 24. Assumo a responsabilidade pela resoluo de problemas que possam prejudicar o desempenho do meu negcio. 21. Busco novas solues para atender necessidades de clientes. 13. Junto-me aos empregados nas tarefas para cumprir os prazos. 34. Calculo os riscos antes de novos investimentos. 10. Confio na minha capacidade de superar desafios. 33. Costumo calcular o risco envolvido nos negcios que fao. 35. Estimulo o esprito de equipe entre meus funcionrios. 36. Estimulo a participao dos funcionrios na busca pela soluo de um problema. 18. Mantenho meus objetivos mesmo diante de resultados que no so satisfatrios inicialmente. N Eigenvalue (Valor prprio) % da Varincia Explicada No. de itens Alfa (a)

O Fator 1, denominado Prospeco e Inovao, composto pelo maior nmero de itens, vinte (2; 3; 4; 5; 6; 9; 11; 12; 14; 15; 16; 19; 22; 23; 28; 29; 30; 31; e 32), apresentou um REAd Edio 48 Vol. 11 No. 6, nov-dez 200514

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ndice de consistncia interna = 0,89, e itens com cargas fatoriais variando entre 0,33 e 0,71. E o Fator 2, Gesto e Persistncia, composto por quinze itens (8; 10; 13; 17; 18; 20; 21; 24; 25; 26; 27; 33; 34; 35 e 36), apresentou um ndice de consistncia interna = 0,87 e itens com cargas fatoriais variando entre 0,31 e 0,64. J o Fator Geral, composto pelos 36 itens da escala, denominado Atitude Empreendedora, apresentou um ndice de consistncia interna = 0,93 e itens com cargas fatoriais variando entre 0,33 e 0,71. Para a soluo bifatorial, do total de 36 afirmaes, 35 permaneceram no instrumento, aps a validao estatstica. O item 7 utilizo contatos pessoais para atingir meus objetivosno obteve carga fatorial mnima de 0,30. Os itens 28 e 35 indicam a possibilidade de pertencerem a dois fatores. Foram realizadas anlises com estes itens nos dois fatores separadamente, bem como anlises com os 2 fatores sem a presena destes itens. Optou-se inserir o item 28 no 1 Fator e o item 35 no 2 Fator, por apresentarem cargas fatoriais maiores nestes fatores e por resultarem em melhores solues fatoriais. Segundo Pasquali (no prelo), a validade do fator garantida pela prpria anlise fatorial e expressa pelo tamanho das cargas fatoriais, ou seja, quanto maiores elas forem, mais a varivel representativa do fator, ou ainda, quanto mais prxima de 1 for a carga, melhor o item. Nos resultados apresentados, possvel verificar que existem nmeros razoveis de cargas fatoriais altas, o que garante a validade dos fatores. Da mesma maneira, verifica-se que os ndices de consistncia interna obtidos foram altos. Estes ndices verificam a estabilidade do fator, ou a sua fidedignidade. Mesmo assim, recomenda-se dar prosseguimento s pesquisas de validao emprica do conceito de Atitude Empreendedora e suas dimenses, devido ao compartilhamento de itens em diferentes fatores, quando a soluo escolhida apresenta 2 fatores. Ambas as estruturas (bidimensional e unifatorial) parecem ser confiveis e vlidas, podendo ser aplicadas nos dois formatos, conforme os objetivos e caractersticas da pesquisa. Nos captulos seguintes, so discutidos os resultados aqui encontrados a partir dos objetivos de pesquisa propostos e da literatura revisada.

Concluses e Recomendaes O objetivo deste estudo foi criar um instrumento de medida para identificar atitude empreendedora, bem como medir essa atitude em proprietrios- gerentes de pequenas empresas de varejo, associados ao Projeto Empreender, desenvolvido no DF, desde 2002. O desenvolvimento de um instrumento para medir a atitude empreendedora foi, portanto, a REAd Edio 48 Vol. 11 No. 6, nov-dez 2005

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Atitude empreendedora em proprie trios-gerentes de pequenas empresas. Construo de um instrumento de medida finalidade central desta pesquisa, at porque, segundo Carvalho, Zerbini e Abbad (no prelo, p.1) o levantamento de competncias empreendedoras [...] tem um histrico de poucas medidas fidedignas, o que torna difcil identificar comportamentos especficos que caracterizem um indivduo empreendedor. Atitude foi conceituada como uma predisposio aprendida por indivduos para responder de forma favorvel ou desfavorvel com relao a um objeto atitudinal. Atitude empreendedora, nessa linha, passou a ser a predisposio aprendida a atuar, ou no, de forma empreendedora. A atuao empreendedora ou o comportamento empreendedor entendido, com base na teoria do comportamento planejado, como uma funo da atitude para o comportamento empreendedor; das normas subjetivas, que valorizem e aprovem o comportamento a partir de grupos de referncia considerados importantes; e da percepo de controle comportamental que formado pela percepo do ator quanto sua habilidade em desempenhar o comportamento empreendedor e por fatores como a avaliao de requisitos de oportunidades e recursos para a concretizao do comportamento em questo. Aps a reviso da evoluo e transformao dos termos empreendedor e empreendedorismo, identificando-se que a prpria definio desses termos encontra-se em construo, e que inmeras pesquisas realizadas sobre esse tema (empreendedorismo) apresentam, no s descontinuidade, como falta de unidade com trabalhos anteriores (SOUZA, no prelo, p. 5), procurou-se tratar atitude empreendedora como constituda por quatro grupos de fatores planejamento, realizao, poder e inovao sendo o primeiro composto por variveis como estabelecimento de metas, busca de informaes, planejamento e acompanhamento sistemtico. O segundo fator, realizao, foi formado por busca de oportunidades, iniciativa, persistncia, aceitao de riscos e comprometimento; o fator poder composto por estabelecimento de redes de contato, persuaso, liderana, independncia e autoconfiana, e o quatro fator, inovao, constitudo por criatividade e inovao, voltado para a capacidade do empreendedor de atuar de forma criativa e inovadora na busca por posies vantajosas de mercado. Assim, essa pesquisa, em conformidade como seu objetivo, alm de construir o instrumento e validar as escalas de mensurao, identificou e mensurou a atitude empreendedora de um grupo de proprietrios-gestores de pequenas empresas de comrcio e servios do Distrito Federal. Nesse setor econmico foi observada uma grande diversidade nas atividades, podendo englobar de pequenas pousadas a empresas de consultoria e assessoria, o que fez que se adotasse a classificao de pequena empresa, baseada no setor e no nmero de empregados, proposta pelo SEBRAE. Por outro lado, com a finalidade de REAd Edio 48 Vol. 11 No. 6, nov-dez 200516

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viabilizar a pesquisa, utilizou-se como populao de estudo o Projeto Empreender que agrupa cinqenta e cinco ncleos setoriais com 955 empresas, mobilizando e estimulando a cultura associativa e de cooperao, possibilitando que empresrios do mesmo setor se auxiliem mutuamente com o objetivo de conquistar novos mercados. Os dados foram coletados em 290 empresrios, durante o III Encontro do Projeto Empreender, nos dias 26 e 27 de outubro de 2004, na sua grande maioria, compostos por participantes dos ncleos setoriais de mecnicos de mquinas automotivas e profissionais de beleza. A construo do instrumento de mensurao da atitude empreendedora foi alcanada a partir das principais caractersticas do comportamento empreendedor, identificadas na reviso de literatura e nos resultados de pesquisas anteriores, tendo sido transformadas em 54 itens de um questionrio, agrupados nos quatro fatores. A anlise fatorial realizada apresentou resultados significativos tanto ao considerar apenas um fator de variveis relativas atitude empreendedora, como quando considerados dois fatores Prospeco e Inovao, e Gesto e Persistncia, que agruparam as variveis explicativas dessa atitude. O motivo que justificou a escolha de trabalhar com os dois fatores identificados na anlise foi, especialmente o fato do conceito pesquisado ser empreendedorismo, onde m uitas so as divergncias e as dvidas quanto ao seu significado e muitos so os enfoques que procuram explic- lo. O econmico enfatizando a presena ou ausncia de caractersticas estruturais da economia como determinantes do comportamento empreendedor. O psicolgico destacando a motivao e fatores da personalidade para caracteriz- lo, o sociolgico e o antropolgico referindo-se s normas, cultura como condicionantes desse comportamento (DEPIERI e SOUZA, 2005). Com esse pensamento, pode-se considerar correta a opo de soluo fatorial com os dois fatores: Prospeco e Inovao, assim denominado pelo inter-relacionamento existente entre os indicadores que o compem, predominantemente os de planejamento e inovao, visto que a busca de informaes, planejamento e monitoramento, criatividade, inovao e estabelecimento de metas so atividades interligadas e, at mesmo, subseqentes dentro de um processo empreendedor. E o f ator Gesto e Persistncia, que recebeu essa denominao por concentrar os conjuntos realizao e poder, que apresentam inter-relao com iniciativa, persistncia, persuaso, liderana, comprometimento, estabelecimento de redes, aceitao de riscos e independncia, ambos com caractersticas que na literatura apresentam-se altamente vinculadas ao conceito de empreendedorismo. A estrutura com dois fatores retratou a percepo do grupo estudado quanto atitude empreendedora e a valorizao dessas atitudes como positivas para o desenvo lvimento de seus empreendimentos. REAd Edio 48 Vol. 11 No. 6, nov-dez 200517

Atitude empreendedora em proprie trios-gerentes de pequenas empresas. Construo de um instrumento de medida Os resultados das anlises demonstraram a presena de uma atitude empreendedora nos grupos estudados apresentando uma tendncia mais forte para as atitudes agrupadas no Fator Gesto e Persistncia, o que pode ser explicado pela prpria composio da amostra: pequenos empresrios de varejo e servios, sobretudo auto- mecnicos e profissionais de beleza que, na busca da lucratividade e manuteno do seu negcio, contrapem a falta de recursos com persistncia e determinao. Os resultados relativos ao fator Prospeco e Inovao entende-se que sejam justificados pelas caractersticas dos empresrios que ao inovar, normalmente, o fazem de forma incremental. Assim, a atividade de prospeco e planejamento, muitas vezes, relegada a um segundo plano em razo das rotinas dirias do empreendimento, que absorve a maior parte do tempo dos proprietrios-gerentes por estarem pessoalmente envolvidos com a atividade-fim de seus negcios. O fato de os participantes da pesquisa apresentarem, com freqncia, uma atitude empreendedora pode estar relacionado a participao dos mesmos no Projeto Empreender, o qual visa o desenvolvimento da capacidade gerencial e a promoo da interao e da busca por solues criativas para problemas comuns dos associados. Os resultados das anlises das informaes coletadas sugeriram que: atitudes voltadas para a concluso de tarefas, mesmo que com sacrifcio pessoal; confiana na competncia, como fonte de sucesso no negcio; busca de novas solues para atender os clientes, e responsabilidade em cumprir prazos, podem estar associadas ao tipo de trabalho efetuado pelos empresrios pesquisados. Esses atores trabalham diretamente com o pblico e dependem deste pblico para a aceitao de seu trabalho e, alm disso, so no DF nichos do mercado com alta concorrncia. No caso dos profissionais da beleza, no s a concorrncia como o compromisso com o novo, a moda, o que a mdia impe como o que deve ser usado tornam necessria a inovao e a criatividade. Essas caractersticas, que se destacaram entre os respondentes esto entre as mais comumente relacionadas atitude empreendedora, sendo consideradas, inclusive por autores como Shumpeter (1982) como indicadoras do empreendedorismo. Muitas das caractersticas destacadas na literatura como representativas para uma atitude empreendedora coincidiram com aquelas percebidas pelos atores que fizeram parte desta pesquisa, no entanto observou-se que houve discordncia entre as opinies no s entre as atitudes consideradas mais representativas, como entre aquelas associados a avaliaes com escores mais baixos.

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A amostra estudada apresenta uma limitao com relao a sua amplitude visto que foi definida por convenincia, formada por indivduos que participam de um projeto de fomento e desenvolvimento do empreendedorismo e de micro e pequena empresa, o que leva a inferir que outros atores no envolvidos em aes dessa natureza possam apresentar percepes diferentes. Alm do mais, a pesquisa foi de corte transversal, caracterizando-se por coleta de dados em um nico momento temporal, no possibilitando generalizao dos resultados. Isso possibilita sugerir a realizao de novas pesquisas de carter longitudinal ou, at mesmo, de corte transversal com populao semelhante ou de outros nichos de mercado com o intuito de analisar a estabilidade da atitude empreendedora em gerentes proprietrios do varejo. Apesar de o instrumento ter obtido bons ndices de validao, sugere-se sua revalidao em outros contextos com diferentes populaes, ampliando sua aplicao e confiabilidade. Prope-se a utilizao do IMAE em pesquisas analisando construtos relacionados com o empreendedorismo, em estudos que faam comparaes de diferentes grupos, como de proprietrios e de gerentes; atores envolvidos em micro ou em pequenas empresas; com indivduos que estejam ou no envolvidos em projetos de desenvolvimento gerencial. Segundo Smith e Bond (1998), instrumentos de medidas elaboradas em uma determinada cultura e reutilizados em outros contextos culturais podem se caracterizar como etic imposta, onde se assume que os significados das palavras so compatveis nos diferentes ambientes onde o instrumento foi aplicado, estando, possivelmente, o uso dessas medidas entre as principais causas das falhas de replicao de estudos em diferentes culturas. Destaca-se, assim, a contribuio deste trabalho ao desenvolver o Instrumento de Mensurao da Atitude Empreendedora, IMAE, a partir de cultura especfica, caracterizando os significados dentro do contexto cultural nacional/local (Brasil/DF) onde o instrumento foi construdo e validado, apresentando resultados estatisticamente confiveis em relao a sua aplicao, possibilitando a sugesto de que seja reaplicado na busca por uma maior compreenso do fenmeno empreendedorismo.

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