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“O movimento estudantil dos anos anteriores se articulav a de f orma muito f orte com as instituições políticasdo país. Hoje, há um certo descrédito em relação a estas instituições por parte dos estudantes.” A af irmaçãoé da historiadora Maria Paula Araújo, que concedeu entrev ista à IHU On-Line, por e-mail, e analisou ahistória do movimento estudantil brasileiro. Ela af irma que “os jov ens contemporâneos encaram comceticismo a atuação política, mas, por outro lado, lev antam bandeiras ligadas a mov imentos deautodeterminação”.

Maria Paula Nascimento Araújo é graduada em história, pela PUC-Rio, mestre em História, pelaUniv ersidade Federal Fluminense (UFF), e doutora em Ciência Política e Sociologia, pelo Instituto

Univ ersitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Atualmente, é prof essora da Univ ersidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ) e recentemente lançou a obra Memórias Estudantis: da fundação da UNE aos nossos dias (Rio deJaneiro: Relume Dumará, 2007). É autora, ainda, de A utopia fragmentada: as novas esquerdas no Brasil e nomundo na década de 1970 (Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 2000).

Confira a entrevista.

IHU On-Line - O movimento estudantil atravessou diversos períodos importantes da história brasileiracomo a ditadura militar e a ascensão da esquerda. Como esses períodos influenciaram no perfil atual domovimento estudantil?

Maria Paula Araújo - O movimento estudantil brasileiro constituiu em períodos como a Era Vargas, Gov ernosJuscelino, Jango, ditadura, neoliberalismo e ascensão da esquerda uma tradição de luta e de interv enção dosujeito univ ersitário nas questões políticas mais gerais do país que permanecem até hoje.

IHU On-Line - Como a senhora vê a participação do movimento estudantil hoje na política brasileira? Qualé o papel que o movimento estudantil representa hoje nas universidades?

Maria Paula Araújo – Acredito que hoje, de uma f orma geral, a própria política esteja muito “esv aziada”. Os jov enscontemporâneos encaram com ceticismo a atuação política, mas, por outro lado, lev antam bandeiras ligadas amovimentos de autodeterminação, como as ações af irmativ as reiv indicadas pelo mov imento negro, e ações dosmov imentos ecológicos, além dos mov imentos contra discriminação e racismo etc., por exemplo.

IHU On-Line – Quais são os aspectos culturais e comportamentais relacionados ao movimento estudantilque a senhora destacaria como principais diferenças do que nasceu, em 1937, e o movimentocontemporâneo?

Maria Paula Araújo - Talv ez seja exatamente esta postura citada acima, ou seja, uma postura ceticista em relaçãoà política brasileira. O mov imento estudantil dos anos anteriores se articulav a de f orma muito f orte com asinstituições políticas do país. Hoje, há um certo descrédito em relação a estas instituições por parte dosestudantes.

IHU On-Line - O movimento estudantil atual é uma utopia que se fragmentou? Quais as desvantagensdesse processo?

Maria Paula Araújo - De certa f orma, concordo com a af irmação de que ele é uma utopia que se f ragmentou e,desta f orma, a desv antagem é a própria f ragmentação. Porém, existe também um aspecto positiv o neste processoque é a multiplicidade e a div ersidade de posições e de pontos de v ista. A f ragmentação, às v ezes, traz umagrande riqueza, que é justamente não se submeter a uma v isão única e apresentar pluralidade de posicionamentos.

IHU On-Line - Qual é a importância de rever essa memória do movimento estudantil?

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Maria Paula Araújo - A escrita da história necessariamente se articula com a memória e o esquecimento. Éimportante inv estigarmos a memória socialmente construída do (e pelo) movimento estudantil para entendermos oque o próprio mov imento escolheu lembrar e escolheu esquecer; e porque f ez estas escolhas, que são, sempre,escolhas políticas e ditadas pelo presente. A memória não dev e ser "naturalizada", ou seja, não há uma memóriapronta, esperando ser resgatada. O processo de construção de memória é sempre social e resultado de"negociações políticas" entre o que dev e ser lembrado e o que dev e ser esquecido.

IHU On-Line - Como a senhora analisa a ascensão de ex-líderes do movimento estudantil brasileiro napolítica do país e sob diferentes idéias, como José Serra, do PSDB, e Manuela D`Ávila, do PCdoB?

Maria Paula Araújo - O movimento estudantil, ao longo de décadas, sempre f oi uma grande escola política. Nomov imento estudantil brasileiro se f ormaram inúmeros quadros que, mais tarde, integraram as instituições políticasdo país – tanto no executiv o quanto no legislativ o e judiciário. É uma escola de f ormação política de grande v alor.Os jov ens militantes aprenderam a pensar politicamente, a negociar e dialogar, a analisar conjunturas e co-relaçõesde f orças. Acho que f oi um processo natural e positiv o para esses dif erentes ex-líderes.

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