móveis com design bem brasileiro

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Móveis com design bem brasileiro! JANEIRO 24TH, 2011 POR LOUISE CARVALHO & CATEGORIAS DESIGN , RECOMENDAÇÕES . A cada ano, novas formas, cores e matéria-prima dão forma e charme aos móveis brasileiros. Temos grandes nomes em nosso país quando o assunto é conforto aliado aodesign. Muitos são considerados obras de arte. Vamos listar por ordem cronológica alguns desses grandes designers: Joaquim Tenreiro (1906-1992) A cadeira de três pés foi desenhada pelo pai do modernismo no Brasil, Joaquim Tenreiro. Oscar Niemeyer (1907) Mestre da arquitetura brasileira, projeta móveis com o mesmo estilo das suas construções. Linhas sensuais marcam a linha de móveis assinados pelo arquiteto Oscar Niemeyer. É composta por 14 itens, incluindo esta Cadeira de Balanço, feita de madeira, palhinha e couro. A peça é comercializada em pequena escala, ao preço de R$ 38.500,00 Lina Bo Bardi (1914-1992) Lina é de origem italiana, mas tornou reconhecido o design brasileiro feito de madeira compensada e couro. Cadeira Bowl, 1951 Lina Bo Bardi. Tubo de ferro pintado e revestimento em tecido. Zanine Caldas (1919-2001)

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Móveis com design bem brasileiro!

JANEIRO 24TH, 2011 POR LOUISE CARVALHO & CATEGORIAS DESIGN, RECOMENDAÇÕES.A cada ano, novas formas, cores e matéria-prima dão forma e charme aos móveis brasileiros. Temos grandes nomes em nosso país quando o assunto é conforto aliado aodesign. Muitos são considerados obras de arte.Vamos listar por ordem cronológica alguns desses grandes designers:

Joaquim Tenreiro (1906-1992)

A cadeira de três pés foi desenhada pelo pai do modernismo no Brasil, Joaquim Tenreiro.Oscar Niemeyer (1907)Mestre da arquitetura brasileira, projeta móveis com o mesmo estilo das suas construções.

Linhas sensuais marcam a linha de móveis assinados pelo arquiteto Oscar Niemeyer. É composta por 14 itens, incluindo esta Cadeira de Balanço, feita de madeira, palhinha e couro. A peça é comercializada em

pequena escala, ao preço de R$ 38.500,00Lina Bo Bardi (1914-1992)Lina é de origem italiana, mas tornou reconhecido o design brasileiro feito de madeira compensada e couro.

Cadeira Bowl, 1951 Lina Bo Bardi.  Tubo de ferro pintado e revestimento em tecido.Zanine Caldas (1919-2001)“Arquiteto, sem ter cursado faculdade nenhuma, mas com uma experiência inigualável, Zanine nunca aterrou ou alterou solos para construiu uma casa. Uma sala, por exemplo, poderia conter uma rocha imensa que fazia parte da topografia local.” –  Trecho retirado do blog Decoeuração.

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Conhecido como mestre da madeira, Zanine fazia móveis de linhas elegantes e sempre se preocupou em preservar nossas florestas.

Conheça mais sobre a obra de Zanine no blog da Vivi Pontes, nele há matérias exclusivamente sobre o artista.Geraldo de Barros (1923 – 1998)Foi um pintor, designer e fotógrafo brasileiro. Sua obra se estende também à gravura, às artes gráficas e ao desenho industrial.

Geraldo criou um sistema de móveis modulares fabricados pela Unilabor.Sérgio Rodrigues (1927)Conhecido por dialogar com a arquitetura de Niemeyer, projeta móveis em jacarandá, couro e palhinha. Produz peças extremamente confortáveis e bonitas de qualquer ângulo.

Desenhada recentemente em 2002 a Poltrona Diz foi escolhida por unanimidade pelo júri do Museu da Casa Brasileira, e levou o 1° lugar da 20° Edição do Prêmio Design.

Fernando e Humberto Campana Os Irmãos Campana (Humberto Campana, Rio Claro, 17 de março de 1953, e Fernando Campana, Brotas, 19 de maio de 1961) são respectivamente, formado em Direito pela Universidade de São Paulo, e Arquitetura pelo Unicentro Belas Artes de São Paulo.

“Hoje possuem um reconhecimento internacional por seus trabalhos de Design-Arte, onde, a partir de elementos do cotidiano ou simplesmente produtos sem nenhum valor, são transformados em peças de caráter extremamente artísticos, com uma linguagem única e de uso possível”. –  Allex Colontonio

Poltrona “Vermelha” projetada pelos irmãos Campana. A peça leva 450m de fio para ficar pronta.Mais obras dos irmãos no site oficial da dupla.Marcelo Rosenbaum É difícil encontrar o brasileiro que nunca ouviu falar de Marcelo Rosenbaum. Aos 39 anos, o carismático e perfeccionista designer atua está mais de duas décadas no ramo e comanda, desde 1992, o

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Rosenbaum Design, escritório que atua nas áreas de design de interiores, cenografia, curadoria e consultoria em espaços residenciais e comerciais de diversificados segmentos do mercado. Foi capitaneando o quadro “Lar, Doce Lar”, no Caldeirão do Huck (sábados, às 14h30, na TV Globo), que Rosenbaum definitivamente caiu no gosto do povo.

Poltrona Coroa baixa, para MDesign.

Sofá Capa, para MDesign.Outros móveis do designer.Pedro Nossol

É natural de Rio Negrinho / SC mas mora em Curitiba desde 1984. Formado em Desenho Indústrial pel UFPR desde 1989, atuou durante 10 anos como industrial, atividade que lhe proporcionou grande experiência nos processos produtivos. Atualmente está a frente do estúdio de design que leva seu nome. Além de designer é também fotógrafo.

Chaise e Poltrona Leve do design e fotógrafo Pedro Nossol. Peça projetada para MDesign.Roberto Mannes Júnior

Com apenas 22 anos, Roberto Mannes Júnior é sem dúvida a mais nova revelação do design brasileiro. Apesar da pouca idade, o talento do Roberto doi forjado pela sua própria vivência. A industrialização de móveis é o negócio que movimenta a família Mannes desde os tempos do avô.

Poltrona Mess. Possui assento e encosto soltos em plumas de ganso.

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Poltrona Rosa da MDesignÍndio da Costa

Trabalha com uma equipe básica de aproximadamente 40 profissionais, entre urbanistas, arquitetos, designers industriais e gráficos, modelistas, desenhistas e estudantes. Em parceria com equipes complementares de pesquisa, engenharia, paisagismo, acústica, luminotécnica e climatização, entre outros, a empresa está apta a atender contratos de trabalho de grande amplitude, complexidade e duração, atuando em todos os níveis dos projetos. Recentemente desenvolveu para Mannes o estofado da foto abaixo.

Sofá DeslizeEnfim, se falarmos de todos os designers brasileiros que fazem projetos mobiliários de destaque e com muita criatividade, não encerraríamos esse post.

Os talentos do passado e os jovens de hoje provam que o design brasileiro tem conteúdo, diversidade, estilo e  elegância.

Para encerrar, vamos postar algumas fotos de móveis nacionais que merecem destaque.

Para quem quer ver um pouco mais dos móveis de design, segue link da Essência Móveis.

Aparador Tronco de Carolina Haverothhttp://www.essenciamoveis.com.br/blog/2011/01/moveis-com-design-bem-brasileiro/

[13/09/2012]

CADEIRASPeça indispensável no mobiliário ocidental, com alto valor simbólico e importância no cotidiano.O homus erectus é, por definição, o único que fica de pé. Mas, quanto mais avançada uma sociedade, mais tempo passamos sentados e nos tornamos sedentários.Segundo Aurélio, falar de cadeira é sinônimo de posição privilegiada, com autoridade.A mesma autoridade implícita na cátedra do professor ou na Catedral, assim chamada porque ali está a cadeira do bispo. Poder e cadeira andam juntos. O rei afirmava sua soberania sentando-se no trono. O juiz abre e fecha seções sentando-se ou levantando-se. Nas cerimônias oficiais, cada um tem seu lugar marcado conforme a importância sentar-se a direita do anfitrião é um signo de honra. Chairman, o homem da cadeira, é a expressão de língua inglesa para designar o presidente de uma organização. Em uma empresa, quanto mais alto o encosto, mais acessórios uma cadeira tiver, mais alto na escala corporativa.Mas cadeira também esta ligada a reflexão: Do pensador de Rodin à criança nos bancos escolares. O primeiro gesto de gentileza para receber, é convidar para sentar.CADEIRAS BRASILEIRASAte o inicio do século 20, o Brasil importava todo o produto industrial que consumia.

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De inicio pela condição de colônia, era obrigado a consumir o que vinha da Metrópole. Depois, a partir da abertura dos portos no inicio do século 19, com uma indústria local incipiente, assumindo o papel de mercado consumidor internacional.As cadeiras brasileiras até o inicio do século 20, demonstravam de um lado fortes influências européias, de outro, o rico trabalho artesanal aqui empreendido na sua adaptação ao gosto brasileiro. Usadas geralmente nas sedes de bispado e de governo, não se configuravam ate o século 19, como objeto de uso doméstico comum. Nas casas da maioria dos brasileiros predominavam os bancos simples e as redes.Elas contam, a seu modo, a história da evolução do nosso mobiliário. São testemunhos, da concepção dos moveis adaptados a nossa cultura, ao nosso clima, ao padrão antropométrico do brasileiro, a disponibilidade dos matérias, as novas tecnologias, visando a melhoria da qualidade de vida.Cadeiras Brasileiras- Museu da Casa BrasileiraCRONOLOGIA DAS CADEIRAS BRASILEIRAS

EscabeloSéculo 17, BrasilDerivado de modelos italianos e germânicos do século 16, este escabelo (pequeno banco) em cedro possui encosto recortado e entalhado em baixo relevo, mostrando um brasão com as iniciais MGS. Apesar de feito por meio de técnicas simples de encaixes, seu uso era nobre, destinado aos chefes de família e aos visitantes ilustres.Cadeira de campanhaSéculo 18, Atibaia, SPDoação: Júlia FerrazCadeira dobrável de execução popular, usa jacarandá do litoral e tem assento flexível em couro lavrado, com resultados ergonômicos notáveis para o período. A configuração vem das cadeiras em X, usadas desde a Antigüidade e produzidas principalmente para viagens, por ocuparem pouco espaço, quando dobradas. Modelos semelhantes a este eram muito difundidos em Portugal, desde o século 17.BancoSéculo 19, Ilhabela, SPQuatro pés com inclinação de cavalete são encaixados diretamente na tábua horizontal cortada a enxó – uma lição de simplicidade construtiva. Até o final do século 19, as cadeiras estavam restritas às casas da elite e geralmente as pessoas sentavam-se em bancos, cuja altura próxima ao chão lembra a posição corporal de cócoras. Nas áreas rurais do país, ainda hoje os bancos são mais difundidos que as cadeiras.Poltrona Mole1957, Curitiba, PRSéculo 20, Design: Sergio Rodrigues (1927)Produção e doação: Lin Brasil, Curitiba, PRConsiderada pelo crítico Clement Meadmore “um dos 30 melhores assentos do século 20”, a Poltrona Mole combina a robustez e o conforto, o convite ao relaxamento e o idioma moderno. Seu projeto atende a uma busca deliberada, por parte do designer, de linguagem efetivamente brasileira, qualidade que a levou a conquistar o primeiro lugar no Concurso Internacional do Móvel, em Cantù, Itália, em 1961Poltrona Diz2003, Curitiba, PRSéculo 21, Design: Sergio Rodrigues (1927)Produção e doação: Lin BrasilGraças à sua dupla curvatura, esta poltrona consegue ser incrivelmente confortável sem possuir um único estofado, só madeira maciça nos braços e na estrutura, em peças unidas entre si por meio de cavilhas, e em compensado moldado no assento e encosto. Apesar das novas tecnologias e do design contemporâneo, ao observar o tratamento de curvas e retas da estrutura fica clara sua genealogia na poltrona Mole.Namoradeira Tapirapá2002, Trancoso, BASéculo 21 Design e doação: Hugo França (1954)Hugo França aprendeu com os índios Pataxó, no sul da Bahia, a usar o pequi (Caryocar brasiliense), aproveitando velhas árvores caídas na mata ou restos de canoas abandonadas. Ele esculpe cada móvel diretamente nas toras, criando peças únicas, nunca repetíveis, ou “móveis-escultura”, como esta namoradeira.

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http://www.catiaemazarelo.com.br/site/cadeiras-brasileiras-2

Quinta, 13 de setembro de 2012

Foco: Design

Mobiliário brasileiroPaula Alzugaray

Antes dele, as salas de jantar no Brasil faziam o estilo D. João V. Foi um artesão português, filho e neto de marceneiros, quem assoprou a poeira dos sóbrios móveis neoclássicos e criou um design moderno, tipicamente brasileiro. Joaquim Tenreiro (1906-1992) mudou-se para o Brasil aos 22 anos, mas, como poucos, absorveu as heranças artesanais da cultura brasileira. Criou objetos de leveza, simplicidade e ergonometria nunca vistas até então – como a Poltrona Leve (1942) e a Cadeira Trípode (1947) – e tornou-se o marco zero do design nacional. Enquanto a Pinacoteca do Estado de São Paulo nos apresenta este clássico do mobiliário brasileiro – com uma exposição até 16 de abril e o lançamento do livro Joaquim Tenreiro – O Mestre da Madeira (Edições Pinacoteca, 131 págs., R$ 35) – o Museu de Arte Moderna (MAM) abre as portas para o design contemporâneo. “Temos 50 obras no acervo que estão no limite entre arte e design. São trabalhos que remetem ao objeto de uso cotidiano, mas que são impossíveis de usar, como uma banheira em que não se pode tomar banho”, diz o curador Tadeu Chiarelli. “Procuramos, então, designers que também estivessem nesse lugar limítrofe.” Os irmãos Fernando e Humberto Campana adequaram-se perfeitamente à idéia, já que inauguraram em 1989 sua atuação no universo do design, com uma exposição intitulada Desconfortáveis. As cadeiras pontiagudas– de inspiração artística no dadaísmo e no surrealismo – deram origem a uma produção arrojada e reconhecida no exterior. Seus móveis infláveis – que serão produzidos este ano pelo MOMA de Nova York –, de papelão, metais, borracha e piaçava estarão em Entre o Design e a Arte: Irmãos Campana, a partir de quinta-feira 30.

http://www.terra.com.br/istoegente/34/divearte/exposicoes_mobiliario.htmRASIL

No Brasil, o efeito catalizador da Semana de Arte Moderna, em 1922, constituiu não apenas a senha, mas o próprio empurrão que nos faltava para o ingresso na modernidade. O design brasileiro, tal qual a identidade nacional, estará tateando por toda a década de 20 e começa a encontrar expressão tímida a partir dos anos 30. A expressão e a reflexão artísticas e antropológica que proporcionarão esta construção da identidade, agora não mais sob a hegemonia dos arquétipos da lusitanidade, mas sim como expressão das simbioses culturais das quais já não se podia mais tergiversar, já existem e se manifestam plenamente. Convém lembrar que da pauta das reuniões do início dos anos 30 do grupo artístico reunido em torno do arquiteto Warshavchik (o introdutor das casas cubistas no Brasil), constava a preocupação com o desenvolvimento do design tipicamente brasileiro. Contudo, faltava aqui ainda o outro elemento que está intimamente ligado ao design do século XX: o avanço tecnológico na descoberta e conquista de novos materiais, o aço tubular, o alumínio e o poliometano são alguns exemplos. Portanto, a nossa industrialização ainda é embrionária e o ultimo ciclo dos nossos modelos econômicos, o do café, está prestes a sofrer um devastador golpe. É exatamente alguém oriundo dos benifícios daquele modelo econômico e sobretudo do que havia de melhor da cultura desse modelo que, em vários planos de atividade, fomentará esse agenciamento rumo à construção da identidade nacional sob a égide da

Cadeira Trípode (1947), de Tenreiro

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modernidade: Paulo Prado.Embora caiba aos arquitetos a soberania no design de cadeiras, o nosso primeiro grande nome nesse domínio será não apenas um português por nascimento, mas também um marceneiro e ebanista por formação: Joaquim Tenreiro.Mas antes de abordarmos na obra de Tenreiro convém lembrar o nome de Celso Martinez Carrera, o espanhol naturalizado brasileiro que concebeu a Cadeira Patente já em 1915, provida de uma abordagem simples e funcional e que representou à época algo de uma passsagem entre a produção artesanal e a industrial. O fato de um Tenreiro tornar-se marco inaugural apenas na década de 40 e de até então ainda não ter surgido nada de expressivamente brasileiro, é explicado pela digressão que esclarece que, as idéias nesse campo, precisam ser concretizadas pelo domínio artesanal da técnica., tal como Mies van der Rohe e os escandinavos em geral dão testemunho. As idéias já estavam brotando, buscando a via brasileira desde a década de 20, e principalmente a de 30, mas fazia falta o grande artesão para dar o salto. Uma vez o salto dado, começarão surgir os novos ímpetos com Rino Levi, Bernard Rudofsky, Lina Bo Bardi, Zanine Caldas, Sérgio Rodrigues, Ricardo Fasanelo, Carlos Motta...

JOAQUIM TENREIRO (1906-1992).

Logo após sua terceira vinda ao Brasil, o jovem Tenreiro decide-se por uma carreira artística e ingressa, em 1929, no curso de desenho do Liceu Literário Português. Filho de marceneiro, seu amor inato pela marcenaria o conduz a ganhar o sustento nesse ofício e já na década de 30 ele começa a projetar uma série de cadeiras fora do espírito de repetição dos móveis à la manière dos grandes estilos europeus dos séculos passados, cópias que ele com grande maestria e esmero fêz para as firmas Laubsch & Hirth, Leandro Martins e Francisco Gomes, de 1933 a 1943. As tentativas inovatórias de Tenreiro serão por fim apreciadas no início da década de 40, quando ele recebe grande encomenda para mobiliar a casa do médico e apreciador de arte Francisco Inácio Peixoto. Mas o artista plástico em Tenreiro não será relegado inteiramente pelo marceneiro e suas ligações com o grupo Bernadelli alojaram em seu espírito experiência e idéias matrizes das quais sua produção pictórica se beneficiará enormemente.Nascem então os primeiros móveis Tenreiro! Já em 1943 ele inaugura no Rio de Janeiro a firma Langebach & Tenreiro, que em 1947 procura um endereço mais nobre, na rua Barata Ribeiro, sendo esse mesmo ano aquele em que sua famosa cadeira de três pés serve de metáfora para a peça de Silveira Sampaio intitulada “Da Necessidade de ser Polígamo”. Em 1953 abre loja em São Paulo, em 1962 em Ipanema e até 1969, quando monta o mobiliário do Itamaraty, em Brasília, sua carreira como designer de móveis será plena de sucesso.Tenreiro surge numa época em que o design de móveis no Brasil luta para sair, por um lado, da produção de réplicas do móvel clássico europeu, e, por outro,do ecletismo modernizante em que ainda se encontrava, passada a Semana de 22, as tentativas dos anos 30, não obstante o impacto das visitas de Le Corbusier em 29 e 36, sendo não pouco provável que ele tenha sido influenciado pelo móvel escandinavo, cujo design simples, tecnicamente perfeito e orgânico encontrava-se em ascensão a partir dos anos 30. Não obstante as inevitáveis influências, a marca de originalidade na linha Tenreiro de móveis é inequívoca. Sua Cadeira de Três Pés, móvel genuinamente extraordinário, concebida em cinco tipos de madeira, incluindo o pau marfim, data de 46-47 e Tenreiro seria mais tarde categórico ao afirmar que o modelo semelhante, industrializado por Max Bill, na Suíça no início dos anos 50, tiveram nele a fonte de inspiração. Outra peça notável dessa época é a Cadeira de Embalo Tenreiro reintroduz no mobiliário brasileiro a nobreza de certas madeiras, como o jacarandá, a elegante leveza das formas funcionais e despojadas e a incontestável marca da alta qualidade artesanal. Sua Cadeira Estrutural é de elegância quase austera e servirá de arquétipo para mais de um designer brasileiro.Tenreiro representa o grande marco inaugural do móvel brasileiro moderno e sua trajetória servirá de estímulo a tantos outros nomes que começariam a surgir a partir do final da década de 40.

LINA BO BARDI (1914- 1992).

A arquiteta Lina Bo Bardi torna-se ativa no mundo do design a partir da segunda metade da década de 40, sendo sua cadeira Masp de 47 e a “Cadeira”, de 48, dois exemplos desse período. Ainda do final dessa década data a criação, com Gian Carlo Palanti, do Studio Arte Palma, um dos primeiros do gênero. A partir da década de 50 edita a revista Habitat, um marco brasileiro nesse gênero de publicação.Sua cadeira mais famosa talvez seja a Bowl, em estrutura metálica, que data de 1951, hoje um ícone do design brasileiro.

JOSÉ ZANINE CALDAS (1919 - 2001).

O marquetista e arquiteto autodidata Zanine Caldas, que terá ao longo de sua genial carreira mais de 600 projetos, ingressa no mundo do design em princípios da década de 50, quando inaugura a firma Z e lança a sua primeira linha de cadeiras, imbuídas de uma inequívoca influência provinda de nomes tais como Charles Eames e Jean Prouvé. O Zanine designer mais característico que conhecemos é o tardio, aquele em que a peça de mobiliário permanecerá tão fiel quanto possível fiel à natureza da madeira,isto é, à

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própria tora da qual emerge-, sendo a estética inteiramente secundária, assim como os requintes do acabamento. Com Zanine, tanto em seus projetos arquitetônicos, quanto no design de mobiliário, o apelo ecológico e a aspiração de um retour à la nature dispensam maiores comentários. Famosas cadeiras de Zanine são sobretudo a Namoradeira e A Poltrona-tronco.

SÉRGIO RODRIGUES (1927 -).

Sérgio Rodrigues é considerado o pai do móvel genuinamente brasileiro, embora ele mesmo atribua a Tenreiro essa honra. Em 1955 funda a já lendária Oca e 1961 ganha com sua Poltrona Mole(nga) - conhecida a partir de então como Sheriff, ao ser industrializada pela firma Isa, de Bérgamo - o prêmio internacional de Milão. Outro ícone da linha Sérgio Rodrigues é a elegante e despojada Kilin (Xikilin), de 1973, em madeira maciça encerada, com duas laterais e duas travessas, premiada pela IAB. Outra criação de Sérgio que pouco deixa a desejar vis-à-vis as notáveis peças escandinavas é a arrojadamente soberana Dadi (1978), em madeira e palhinha.O design em Sérgio Rodrigues nunca foi conduzido pelo imperativo da originalidade a qualquer preço. Conforto, elegância, uso prudente e sábio do material, assim como de todos os princípios e avanços anteriores... Sérgio não se precipita, conhece as virtudes da constância, dos inevitáveis fluxos e refluxos dos estilos, ele sabe da volubilidade das estéticas de momento.

RICARDO FASANELLO (1930 - 1993).

Ao lado de Tenreiro, Sérgio Rodrigues e Zanine, Fasanello representa para o design brasileiro de mobiliário mais um momento de busca pela nossa originalidade. Nascido em São em 1930, inaugura na década de 50 seu famoso Studio em Santa Teresa, Rio de Janeiro, de onde sairão suas importantes criações, tais como o Sofá Fardos (1968), a Cadeira Esfera (1968), a famosa Gaivota (1971) e a Anel, cadeira e poltrona, que data de 1970.

CARLOS MOTTA

Segundo alguns, Carlos Motta pertence a uma das mais linhagem de Zanine Caldas. Se em Zanine a relação com a madeira tende a ser de uma fidelidade radical, em alguns modelos de Carlos Motta essa relação tende a amalgar-se de tal forma que é como se o “avanço” do design deva ser decidido a um “retorno” ao primitivo, à organicidade primeva do homem com os elementos, em detrimento, aparentemente total, do refinamento da vivência estética. Exemplos de um Carlos Motta dessa vertente são suas duas versões da Astúria.Carlos Motta ganhou o prêmio da Casa do Móvel Brasileiro em 1982, concedido às suas São Paulo, prêt-à-porter em mogno maciço torneado e a Estrela, que evoca, no excepcional trabalho do encosto, a Três Pés do Tenreiro.Este é um ensaio sobre cadeiras do século XX, onde designers se expressam sobre um objeto a um só tempo eminentemente funcional e, esteticamente, próximo de qualquer outro segmento das artes visuais, à mercê, contudo, de uma inexorável recrudescente tendência ao decorativo. A história do mobiliário é como sabemos longa e remonta ao Egito antigo, cuja gramática de estilos tornara-se tão recorrente nas artes decorativas a partir do século XIX. Os elementos de pregnância semiótica do móvel de assento perpassam vários segmentos da atividade humana, do senso de dignidade e ostentação (os tronos dos soberanos e autoridades religiosas) às variações psicológicas e sociológicas que evocam e suscitam certos assentos. Expressões como “assentar praça”, “as coisas estão assentadas” e outras denotam o lugar de eminência que essa peça de mobiliária ocupa na vida dos seres humanos.O aspecto social, marcantemente episódico do design de cadeiras a partir sobretudo do século XX - não obstante a continuidade da influência dos “clássicos contemporâneos”-, aproxima esse segmento das artes aplicadas do fenômeno da moda no vestuário, fato por um lado que compromete a sua sobrevida, por força da impregnante efemeridade; no entanto impõe-lhe, por outro lado, um exercício sem tréguas de criatividade. Essa pulsão pelo novo, própria dos imperativos da era da reprodutibilidade serial do capitalismo tardio, explica em parte o grande número de inventividades desprovidas de genuinidade em termos de estilo e funcionalidade, sobretudo no aspecto conforto. Tal fenômeno deu-se sobretudo a partir dos anos 50, quando uma vez mais na busca pelo novo, o imperativo da forma fazia preponderar o aspecto decorativo sobre os outros tão preciosos provindos das lições da Bauhaus e de outras conquistas da anatomia, da ergonometria e da “filosofia” do móvel de assento em geral. Sérgio Rodrigues, e já antes dele Eero Saarinen, costuma ter sempre presente em mente o fato de que, em design de cadeiras, há de se pensar que, após quinze ou vinte minutos sentado, o usuário tenderá a mudar de posição e o designer tem que levar em suprema consideração!Símbolo de status, o design de uma cadeira, assim como a maneira pela qual se senta nesse ou naquele modelo acarreta impactos semióticos de natureza a mais diversa sobre as relações sociais. George Nelson, que via na cadeira uma das mais impactantes expressões do espírito humano, chega a dizer que “toda idéia autenticamente original- toda inovação em termos de design, toda nova utilização de material, toda nova invenção técnica destinada ao mobiliário- parece encontrar sua mais forte expressão numa peça de assento.”

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As Firmas.

À exemplo de importantes firmas européias e americanas que não apenas produziam as inovações do design de cadeiras, tal como as famosas Knoll e Hermann Miller, mas igualmente reeditavam os modelos clássicos, no Brasil não poucas foram as iniciativas congêneres a partir do final da década de 40.A americana Hermann Miller, fabricante exclusiva da linha Charles Eames, será representada no Brasil pela Móveis Tepperman, fundada em 1946. Lina Bo Bardi cria com Giancarlo Palanti, em 1948, a Studio de Arte Palma. A Forma, fundada por Martin Eisler e Ernest Wolf, nasce em 1949, tendo sido adquirida em 2003 pela Giroflex. Em 1950 Zanine Caldas funda a Z e em 1955 Sérgio Rodrigues a Oca, dois importantíssimos marcos da história da design de móveis no Brasil. A Ambiente é inaugurada em 1951 por Leo Seincman, que será também o dono da famosa Probjecto. A Giroflex data também de 1951 , sendo que a L’Atelier, conhecida pela sua linha de móveis de escritório em jacarandá, foi fundada por Jorge Zalszupin em 1955. Original e pioneiro projeto foi o da Unilabor, criada como uma espécie de cooperativa por Geraldo de Barros em 1954 e da qual ele se desligou em 1964. Geraldo de Barros criou então a Hobjecto, em parceria com Antonio Brione e Pascoal Moranti, ambos marceneiros. Uma outra firma importante, inaugurada em São Paulo em 1952 por um grupo de arquitetos e designers- Miguel Forte, Jacob Ruchti, Roberto Aflalo e Carlos Millan- foi a Branco & Preto. A Tok-Stok é criada e 1977 e o Studio Babilônia em 1984.

http://jesualdocorreia.blogspot.com.br/2007/07/cadeiras-do-sculo-xx.html

Flávia Batista Gaino

Fichamento do Livro “Mobiliário Residencial brasileiro: Criadores eCriações”

INTRODUÇÃO: Este livro pretende contribuir para os estudos do mobiliário brasileiro, exclusivamente no século XX, contemplando somente aquele de uso residencial, pois são esses que fornecem uma visão mais ampla e clara do desenvolvimento moveleiro no país. O presente trabalho aborda o mobiliário em relação a sua industrialização, mercado consumidor, as matérias primas utilizadas nas suas fabricações, contingências políticas e econômicas que influenciaram, determinando os modos de produção artesanal, semi ou totalmente industrial, os aspectos estéticos e os custos. Para finalizar, apresenta a produção moveleira nacional através do trabalho dos pioneiros dessa área.

1900-1910: O mobiliário da primeira década do século XX ainda possui características dos modelos produzidos no século XIX que tinham como estilo o Ecletismo – originário da Europa – e se caracterizavam pela sobriedade, resultante do uso de madeiras mais escuras, entalhes abundantes e, nos móveis de descanso, madeira vergada. Além do Ecletismo, o mobiliário brasileiro apresenta uma pequena influência do Art Nouveau, acrescentando nas peças elementos decorativos curvilíneos e florais. A dificuldade das máquinas para reproduzirem as formas rococós e a expansão do estilo, pelo seu caráter pessoal, criaram muitas obras de surpreendente mau gosto, denominando-o de estilo macarrônico.

Nesta primeira década, a produção, a produção moveleira brasileira, portanto, passa por um momento de transição que, se espelhando na Europa, dá os primeiros passos para enquadrar-se nas transformações e inovações deste novo século.

1910-1920: Em decorrência do crescimento populacional nas capitais brasileiras por causa do mercado de trabalho que as indústrias proporcionavam e do final da Primeira Guerra Mundial que paralisaram as comunicações marítimas com a Europa e criaram condições desfavoráveis de mercado em relação às tarifas aduaneiras e de câmbio interrompendo as importações de produtos, o Brasil passa a produzir seus próprios produtos diversificados, incrementando a indústria nacional, em âmbito geral, das atividades extrativistas de matéria prima ao beneficiamento desta. Neste cenário, as indústrias já existentes passam a ampliar seu mercado e a Móveis Taperman é criada.

O mobiliário criado pela Móveis Taperman tem como base o estilo eclético, incluindo sobretudo o Art Nouveau, que ainda predominavam a estética brasileira da arquitetura e artes decorativas. Somente depois do fim da Primeira Guerra Mundial, no final deste período, ocorre a introdução de duas novas linguagens: o Art Déco e o Modernismo.

Nesta segunda década do século XX, o mobiliário brasileiro ainda não sofre grandes transformações estéticas, mas, dois fatos importantes influenciaram os acontecimentos dos anos seguintes: a necessidade de incrementar a indústria moveleira nacional e o movimento cultural nacionalista que iria nortear, na próxima década, parte da produção artística e intelectual brasileira.

1920-1930: Com o acontecimento mais significativo desta década que foi a Semana de Arte Moderna de 1922, as artes plásticas, literatura, música e apenas um pouco da arquitetura. Desta maneira, a contribuição da Semana de 22 no âmbito da arquitetura e artes decorativas, que ainda utilizavam o Ecletismo, não foi prática, efetiva, mas preparou condições para as primeiras propostas modernistas que iriam ocorrer a partir do final desta década.

No mercado moveleiro, as fábricas até então existentes, continuam a produzir peças na linguagem eclética, inclusive o Art Nouveau, comercializadas nas capitais em lojas especializadas cada vez mais numerosas. Surge então, nesta década, a nova estética do Art Déco, que terá vida curta na produção de

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móveis porque sua propagação aconteceu somente nos meios intelectuais e elitizados da época, tendo poucos exemplares produzidos e peças únicas.

O movimento do Art Déco, de origem francesa, foi uma reação aos excessos do Art Nouveua, pois retomou o formal e a pureza do clássico em detrimento do floreal. Nos móveis desse estilo utilizava-se curvas leves e discretas e formas geométricas básicas de círculos e/ou quadrados compondo volumetrias extremamente delimitadas, próximas a uma estética cubista, determinando muitas vezes, um mobiliário fechado e pesado. A decoração das peças restringiu-se ao próprio material estrutural e ao contraste entre estes: madeira maciça aparente ou folheada em diferentes qualidades formando desenhos geométricos, o metal cromado tubular ou em chapa. Os estofados eram revestidos principalmente com veludos e couros que, aliados a esta volumetria simples e despojada, contribuíam para a sobriedade de grande parte destes exemplares.

Ao contrario da arquitetura, em que se constatou uma popularização da linguagem Art Déco, o mobiliários, por seus preços elevados, teve sua comercialização impossibilitada à um publico de classe média, nesta década já em grande número. Esta camada social é que será a grande responsável pelo novo mercado moveleiro que começa a se expandir na década de 20 com a fabricação de equipamentos para teatros, cinemas, igrejas, escolas e escritórios; espaços que necessitavam de um grande número de peças e consequentemente significavam uma importante parte do comercio para moveis fabricados em serie.

Nesta linha de produção, alem dos moveis em madeira vergada fabricados desde o início do século, surgem as cadeiras armadas sobre arcos vergados a vapor. A indústria pioneira nessa técnica foi a Jorge Zipperer & Cia, mais tarde Indústrias Reunidas de Madeira Jorge Zipperer, em Santa Catarina, que produziam moveis de madeira maciça (principalmente imbuia), em larga escala e baixo custo, desmontáveis e vendidas em caixas de uma dúzia. O rio Grande do Sul e santa Catarina se tornam nas décadas seguintes um dos pólos moveleiros mais importantes do país.

A produção de móveis no Brasil nos anos 20 começa a se diferenciar em função do mercado de móveis institucionais atendidos por uma produção em série que era executada pelas fábricas com técnicas construtivas relativamente recentes, como da madeira maciça armada em arcos, e fatalmente resultando empeças extremamente funcionais e despojadas de qualquer decoração e pelo mercado de móveis residenciais, dividida em função de dois tipos de público consumidor: a classe média que era atendida pelas marcenarias e fábricas que produziam ora móveis ecléticos ora móveis méis leves, despojados e práticos adequados as suas moradias e poder aquisitivo e a elite que adquiria os exemplares ecléticos e Art Nouveau executados com alguma exclusividade pelas oficinas; a introdução do Art Déco e a adesão a esta linguagem significará para muitos empreendedores endinheirados, uma nova oportunidade de se diferenciar das massas, através de um padrão estético diferenciado, e até mesmo unicamente projetado para a elite.

No final dos anos 20 Gregori Warchavchik e Mina Klabin, inauguram sua casa, construída dentro dos preceitos modernistas e para a qual o arquiteto russo assim como John Graz, elabora a decoração interior integrada ao espaço construído, utilizando objetos ora na linguagem Art Déco, ora moderna, na linha da Bauhaus e outras correntes de vanguarda européias. A semeste do Modernismo brasileiro está plantada e na próxima década terá seu desenvolvimento forjado e trabalhado no sentido de colocar o Brasil ao lado da modernidade européia e norte-americana.

1930-1940: A década de 30 é considerada, por muitos estudiosos de artes no Brasil, o início do Modernismo no país. É um momento de propostas estéticas inovadoras no campo da arquitetura e artes decorativas, que adotam a linguagem moderna européia de Bauhaus e Le Corbusier. Mesmo assim, essas manifestações teóricas e práticas encontram dificuldades de repercussão entre o público de modo geral, restringindo-se a poucos exemplares, as obras arquitetônicas e peças de mobiliário que realmente estariam imbuídos desta nova linguagem.

Em relação a arquitetura e artes decorativas, nesse estilo o arquiteto utiliza nos interiores elementos da linguagem Art Déco, denominada também futurista e participante do Modernismo naquele momento. O mobiliário é diverso tendo alguns da linha de Bauhaus, utilizando material industrializado como metal cromado em chapa ou tubo em um desenho despojado e funcional; outros, da linha Art Déco, em muitos exemplares, trabalhados dentro da proposição de Rietveld, de estruturação básica de planos e linhas, no sentido mesmo de uma composição cubista.

É interessante notar que os primeiros móveis modernos brasileiros foram propostas executadas para os próprios criadores visando suas residências, pois o mercado consumidor ainda não estava preparado para aceitar e absorver estas novas idéias.

Os móveis modernos brasileiros dos anos 30 continuam sendo aqueles mais propriamente na linguagem Art Déco, introduzidos da década anterior. Em toda essa produção podemos, no entanto, traçar algumas características comuns entre as duas linguagens, o moderno e o Art Déco: ambas se apropriam de volumes fechados e marcados pela estrutura aparente, os materiais empregados são basicamente os mesmos, são móveis despojados em decoração, e quando existente, está intrínseca ao próprio material.

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A estética e a estrutura nesse momento se diferenciam muito pouco, pois os primeiros móveis modernos, ao contrario dos europeus, continuam sendo fabricados artesanalmente e são feitos predominantemente em madeira.

Quando a Segunda Guerra Mundial se inicia, no final desta década, a produção européia é interrompida e as indústrias no Velho Mundo se vêem voltadas apenas para as questões bélicas e militares. Com isso muitos artistas, profissionais e intelectuais migram para as América do Sul e do Norte, iniciando uma nova fase para a cultura não só nacional mas mundial nos anos 40, revisando a hegemonia e dominação cultural européia até então predominante entre os brasileiros.

http://pt.scribd.com/doc/59256361/Fichamento-mobiliario

A evolução do mobiliário

A utilização de mobiliário se deu a partir do momento em que o ser humano passou a fixar-se nos locais, terminando sua fase nômade. Até mesmo por uma questão de necessidade, os utensílios e móveis foram sendo desenvolvidos para prover mais conforto as este novo modo de vida.

Com o passar do tempo os móveis foram adaptados conforme o padrão estabelecido por uma cultura e também pela sua evolução na tecnologia e senso estético.

A madeira foi sempre o material mais utilizado para fabricação de móveis, sendo que no início eram talhadas em uma única peça, que foi evoluindo para peças encaixadas e com entalhes mais sofisticados. Outros materiais também são utilizados como ferro, aço, alumínio, acrílico, palha, dentre outros, oferecendo variedade em estética, cores e valores.

Alguns estilos influenciam os móveis até atualidade e até mesmo complementam a decoração, pois dentro de uma linha contemporânea é possível incluir uma peça antiga ou com um traçado rococó sem qualquer problema. Veja alguns estilos que fizeram história:

Os móveis do período do Renascimento, entre os anos de 1550 e 1600, representam a afirmação de novos conceitos, no qual a habitação começa a ter sentido de residência.  Na Espanha recebe grande influência árabe e de forma geral os móveis passam a fazer parte da concepção da arquitetura como um todo, porém ainda não há grande produção de móveis de luxo, tendo ainda alguma rigidez em suas formas trazidas do período medieval.

O Estilo Luis XV, por exemplo, tem linhas fluidas, graciosas e intimamente ligado à figura feminina. É considerado um dos estilos estéticos franceses de maior impacto, sendo, por isso, um dos estilos que voltou à tona muitas vezes ao longo da história. É neste período que os espaços sociais e privados passam a ter uma separação, pois a etiqueta da corte influencia a vida das pessoas.

O movimento do final século XIX, Art and Crafts, veio com uma reforma reformista para o design da época. Os designers e arquitetos que participaram do movimento, iniciado na Inglaterra, estavam preocupados com os efeitos da produção industrial, que fabricava produtos em larga escala sem preocupação com qualidade. Os integrantes defendiam uma abordagem mais ética, tanto na produção quanto na valorização dos artesãos, que era mais como um escravo pago.

O Art Déco foi um movimento popular internacional de design de 1925 até 1939 que afetou as artes decorativas, a arquitetura,design de interiores e design industrial. Este movimento foi de certa forma, uma mistura de vários estilos (ecletismo) e movimentos do início do século XX, incluindo o construtivismo, cubismo, modernismo, bauhaus e art nuveau. 

O estilo contemporâneo está baseado na simplicidade, praticidade, tendo o aspecto clean, pois leva em consideração apenas as mais recentes tendências, da segunda metade do século XX. O mobiliário é caracterizado por linhas simples, angulares, esguias, com as estruturas mais próximas ao chão. Porém no estilo contemporâneo é permitido o uso de móveis ou peças únicas, com estilo totalmente diferente, sem agressões ao visual. O estilo contemporâneo diferentemente do estilo minimalista, que é totalmente despido de ornamentação, é igualmente sereno, bonito e funcional. 

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Independente dos estilos de sua preferência é preciso saber compô-los para que fique em harmonia e não apenas um “ajuntamento” de móveis sem qualquer lógica e funcionalidade. A contratação de um profissional pode ajudar muito a compor um ambiente agradável.http://janetekrueger.blogspot.com.br/2012/03/evolucao-do-mobiliario.html

Design na indústria do mobiliário

Postado em 25/11/2004         comentarios (0)

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Entrevistas

 

Branding

Design na indústria do mobiliário

Já se passaram quase duas décadas desde que me deparei pela primeira vez com a palavra design. Foi numa entrevista que o designer gaúcho Manlio Gobbi me colocou em contato com tão complexo e empolgante tema. Desde então, nunca mais me separei do design e dos designers. E por conta desta proximidade, tenho acompanhado sua evolução, especialmente na indústria do mobiliário. Evolução esta que mostra que já andamos bastante, mas que ainda tem muita estrada pela frente.

Superamos, por exemplo, o conceito de que design é algo supérfluo - de forma sutil e vagarosa, é bem verdade. Também vencemos boa parte do preconceito em relação aos profissionais, antes vistos como artistas malucos e despreocupados com os resultados econômicos de suas criações. Hoje já temos uma safra de bons e mortais designers contribuindo com o sucesso de diversas indústrias de mobiliário Brasil afora.

Não dá para negar que alguns, preocupados demais com a viabilidade industrial de suas criações, às vezes limitam a criatividade e até retardam mudanças na trajetória da empresa. Hoje, no entanto, já estão dentro das empresas, seja como integrantes das equipes de criação ou como prestadores de serviço. Mesmo as pequenas empresas já utilizam os serviços deste profissional, muitas delas através de programas governamentais.

Porém, para mostrar o quanto estamos no começo basta observarmos que, apesar de contratar e pagar pelos serviços de um designer, a maioria das empresas prefere omitir o crédito profissional na hora de divulgar o produto, seja no catálogo ou anúncio. Ou seja, reconhecem que o design contribui na redução de custos e na diferenciação de seu produto, porém ainda não percebem seus benefícios intangíveis, como a construção de marca e de conceito.

Identificar que determinado produto ou linha foi desenvolvido pelo fulano de tal, seja ele famoso ou não, não desmerece a marca da fábrica. Pelo contrário, soma, agrega...

Afinal, antes de cada desenvolvimento tem o estudo (tendências, ergonomia...), a pesquisa (novos materiais, novas soluções de uso), a conceituação. Aí começa a história de cada peça ou linha. E todos sabemos que o valor não está na metragem cúbica de madeira ou derivado que o produto leva, mas nos benefícios - tangíveis e intangíveis - que proporciona.

Portanto, assinar um produto ou dar crédito ao ser criador, garante a ele, produto, uma identidade, uma história. Mas o usuário só vai saber disso se for comunicado.

Neste aspecto, considero que é preciso que as empresas entendam que investir em design agrega valor a um de seus ativos mais importantes, a marca. Que o design deve ser utilizado como estratégia frente à concorrência, na abertura de um novo negócio, ou mesmo no realinhamento da identidade corporativa de empresas já estabelecidas. E isso é mais que suficiente para que empresários e designers trabalhem em parceria. Afinal, um depende do outro.

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Num mercado altamente competitivo e globalizado, a sobrevivência pode estar na criatividade dos nossos designers. Ao que parece, os estrangeiros perceberam antes nossa capacidade, tanto que o design brasileiro é mais valorizado lá fora. Mas isso é tema para outra coluna.

http://www.designbrasil.org.br/artigo/design-na-industria-do-mobiliario

A ocorrência da arquitetura moderna em Cataguases, nas décadas de 40 e 50, foi sem dúvida o vetor, o suporte e o continente de outras manifestações artísticas. Com obras ousadas, no sentido da adoção de novas soluções plásticas contrárias ao senso dominante, a arquitetura demandava equipamentos para as variadas necessidades funcionais e buscava a coerência do todo: mútua afirmação de índices da contemporaneidade e exaltação do moderno. No limiar entre a mera resposta funcional, a expressão plástica e a ergonomia, o mobiliário exerce papel documental para a interpretação da história das mentalidades, no espaço e no tempo.Ainda que se encontrem em Cataguases certos móveis modernos de origem anterior ao período do surto modernista, a opção de adoção de determinados exemplares conota o partido seletivo, resultante de orientação definida e clara. O mesmo se pode dizer da busca e escolha do designer para conceber o preenchimento do espaço arquitetônico de uma casa, de uma escola, de um hotel. A arquitetura moderna em Cataguases propiciou a introdução, valoração e reavaliação do mobiliário, com alguns desenhos de móveis já centenariamente reconhecidos na Europa..Falar da modernidade do mobiliário em Cataguases é reiterar a referência transnacional e atemporal do bom móvel. Internacional, funcional,versátil - estética e fisicamente - a sua personalidade, que reflete a do autor, não impede o diálogo e a convivência entre móveis diversos. Embora particular o bom móvel estabelece um diálogo com a arquitetura e com o usuário: sua memória acomoda-se à do sujeito responsável pela escolha, desenho ou uso.Incorpora-se, dado ser objeto de utilização articulada a outros móveis, ao arranjo individuado e proporciona leituras específicas. Tais móveis são elementos signicos, caracteres mais ou menos estabelecidos, de cuja organização resultam palavras e textos de elaborada poesia. Essa maleabilidade organizacional é faculdade do homem do arranjo que segundo JEAN BAUDRILLARD:

"...nem é proprietário, nem simplesmente usuário e sim um informante ativo da ambiência. Dispõe do espaço como de uma estrutura de repartição e através do controle do espaço detém todas as possibilidades de relações recíprocas e portanto a totalidade dos papéis que os objetos podem assumir"(1).

Neste ponto, cabe observar o contexto condicionante desse homem do arranjo e a tentativa de estruturá-lo enquanto definidor de articulações próprias, selecionadas dentre possibilidades ilimitadas, ou quase ilimitadas, do jogo de relações entre peças de mobiliário em número finito. Tal postura implica o gradativo abandono da ditadura da coerência do conjunto e da adoção de mobiliário uni-estilístico e de unidades mono funcionais. O mobiliário moderno existe sob a égide do múltiplo, com liberdade de exercício diferenciado de arranjar espaços com funções híbridas, mas não é isso que se observa nas escolhas empreendidas em Cataguases, nas décadas de 40 e 50. No embrião do organismo funcionalista percebe-se a afiliação a sistemas e esquemas culturais inibidores. Ou antes, ttrata-se-ia da conciliação entre a ruptura e os lastros da tradição. Os parâmetros da sociologia da habitação mineira e, por extensão brasileira, constatáveis na residência projetada por OSCAR NIEMEYER para Francisco Inácio Peixoto, agrupam e opõem espaços público, espaços íntimos e espaços de serviços.

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Em Cataguases, as plantas residências do período propiciam blocos de utilização com a interpenetração de meios-pisos e mezzaninos, que proporcionam alguma "transparência" funcional. A eficiência do equipamento nos espaços de serviço da usina doméstica - ainda não necessariamente máquina de morar - depende dos empregados e não dos moradores; a copa, separada da cozinha por balcões e armários, representa a transição e duplicação hierarquizada do espaço de jantar. A sala de jantar perde o confinamento, torna-se agora extensão da sala-de-visita ou de estar. As salas de recepção assumem ares mais formais, se comparadas ao mezzaninos e terraços, já os dormitórios, reduzidos ao mobiliário essencial para o descanso, guarda e suporte, evidenciam o espaço e repouso, linearmente previsível como o sono, e insinuam sua contigüidade e orientação para os espaços de convívio familiar. A este primeiro eixo, representado pela destinação habitacional, pode-se conjugar o espaço do exercício profissional, articulando funções públicas e privadas, como ocorre na residência do casal Ottoni Alvim Gomes (médico) e Nanzita (artista plástica).A justaposição exemplificada permite observar a concepção moderna de igualdades de oportunidades com independência das longas trajetórias das famílias tradicionais: a qualidade positiva do trabalho, valorizada e valorativa do próprio homem, marca do novo orgulho de segmentos da elite pelo mérito pessoal. A afirmação de descontinuidade em termos da sociedade tradicional, entretanto, só pode ser parcial, pois certas tradições sociais permanecem no esteio das novas estruturas, mesmo que residualmente. Imbuídos dos princípios definidores da contemporaneidade assumida- por si ou por delegação os homens do arranjo - as figuras de Francisco Inácio Peixoto, Oscar Niemeyer, Joaquim Tenreiro, Nanzita, Ottoni Alvim Gomes, Francisco Bologna, Jan Zack, entre inúmeros outros, representam as condições e elaborações do contexto inclusivo. Sem negar-lhes fulgor próprio a gestação e maturação de suas contribuições culturais derivam das lógicas específicas dos períodos .

 

Desenhos para o primeiro projeto de

decoração realizado por Joaquim Tenreiro...

Residência de Francisco Inácio Peixoto;1942.

As ligações entre industrialização civilização da máquina, capitalismo, mentalidades e concepções artísticas costumam ser meios de compreensão dos rumos expressivos da sociedade contemporânea. Todavia, os mecanismos básicos dessa compreensão ocorrem diferencialmente no tempo-espaço e estão sujeitos a condicionantes específicos. A trajetória da expansão industrial, na fase que se alonga da segunda metade do século XIX até as convulsões sociais durante as grandes guerras mundiais acha-se distribuída, em países como o Brasil, em descompasso com o hemisfério norteAqui, o primeiro impulso dos anos 10 e seguintes, projeta o futuro de mercados massivos internacionais e se revisita o passado nacional: 1922 sintetiza movimentos do jovem oficialato, dos segmentos urbanos médios, da organização proletária comunista na Semana de Arte Moderna, em São Paulo e no centenário

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da Independência no Rio de Janeiro. Da São Paulo motriz eclodem os anseios vanguardistas no mobiliário insinuamente das tendências européias da Bauhaus e do Art-decô. Da Rio de Janeiro, matriz do exercício político, o neocolonial. Desde então verificam -se as intenções discrepantes da simplificação do móvel - marca das condições da incipiente sociedade industrial - e as interpretações ecléticas, pouco inventivas, do que se considerava o passado colonial, mascarando formas e materiais, irreconhecíveis sob o espesso escurecimento dos vernizes. Cataguases, na vertente primeira do progresso, representa no momento uma das ilhas industriais, apta pela geração de energia hidrelétrica a incrementar ainda mais seu nascente parque fabril. A tecelagem industrial do pai de Francisco Inácio Peixoto é justificada pela nova dinâmica dos mercados, catalizadora de mudanças na adequação e emprego de mão-de-obra, no âmbito local.Nessa efervescência pode-se conceber a inquietação intelectual do grupo que, ao findar a década de 20, estimula a discussão modernista. Há em Cataguases um substrato cultural e empresarial propulsor de novo surto de modernidade, cerca de duas décadas adiante na contramão da desorganização do pós-guerra.No que diz respeito ao mobiliário, a produção artística alinhada às novas perspectivas da sociedade industrial ressalta a busca de qualidade e de produção em série. Processos tecnológicos avançados para o momento, e até hoje intrigantes, permitem ao alemão MICHEL THONET e seus filhos produzirem em Viena, a partir de 1849, os móveis em madeira vergada (2). Os móveis Thonet, também conhecidos com austríacos, atingirão vários países, incluindo fazendas e residências urbanas no Brasil, desde a segunda metade do XIX. Menos difundido no Brasil, o movimento Artes e Ofícios na Grã-Bretanha estabelecera, a partir de 1880 a "criação da beleza como uma tarefa devida à sociedade: o desejo do restabelecimento do status do artista e do artifice e o rompimento da barreira entre as artes e as aplicadas.(3) Esses preceitos adquirem moderna atemporalidade em algumas produções, como as do escocês CHARLES RENNIE MACKINTOSH. Tais colaborações, embora renovadoras, não contituem ocorrências modernas, dado não rejeitarem as referências a estilos decorativos passados, rejeição essa que se constitui uma das características do mobiliário moderno.No conceito de HERWIN SCHAEFER (4) a modernidade do móvel abrange o orgânico e o geométrico, o emprego de materiais, técnicas e formas tradicionais ou de recentes resultados tecnológicos. Entretanto, seja manual ou industrial, há certas qualidades do desenho caracterizadoras do mobiliário moderno que constituem, ainda segundo SCHAEFER, o desenho relacionado à forma essencial com ênfase nas qualidades estruturais ou esculturais de caráter abstrato; a obtenção de maior conforto e convivência com o mínimo de material (máxima da moderna tecnologia e da demanda econômica ): o uso de materiais leves em peso e cor, e de textura homogênea e compacta; a simplificação estrutural com redução de juntas, facilitando o processo de manufatura. A tais características acrescenta-se a de que o mobiliário moderno não concebe destinações diferenciadas, como a doméstica ou a empresarial, sem conotação de classe ou de maturidade: um móvel em tese para todos, em qualquer lugar e para qualquer situação (5).

 

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Residência de Francisco Inácio Peixoto, Cataguases, Minas Gerais, 1942. Ambiente composto de uma chaise-longue, duas poltronas revestidas em tecido com estrutura em pau-marfim, uma cadeira de tiras de couro pintado, uma mesa de centro (de autoria ignorada) e um sofá com estruturas em pau-marfim e pés em contraplacado curvado. Na parede, da esquerda para a direita, replica de Emílio Petorutti. A seguir originais de Käthe Kollwitz, Iberê Camargo, Milton Dacosta e Maurice Utrillo. Ao fundo, ao corredor, desenho de José Pedrosa e, à direita, aquarela de Osip Zadkine.

O desenho do mobiliário moderno coincide, esteticamente, com o nascimento da pintura abstrata de KANDINSKY. As pressões econômicas e a orientação da produção em massa serão determinantes posteriores. A presença de certos exemplares em residências em Cataguases justifica a enumeração dos designers e algumas de suas contribuições à história do mobiliário: do construtivista holandês GERRIT RIETVELD, a cadeira vermelha e azul (1917); das pesquisas dos integrantes da Bauhaus alemã - solução a partir das inovações industriais - como a de MARCEL BREUER, que resultou na cadeira de braços Wassily (1925) e nas cadeiras de estrutura tubular (1926) e estruturas metálicas contínuas (1928); de MIES VAN DER ROHE, a poltrona Barcelona (1928). Da França, através do suíço CHARLES-ÉDOUARD JEANNERET LE CORBUSIER, em colaboração com PIERRE JEANNERET e CHARLOTTE PERRIAND, a chaise longue (1927), a cadeira de braços de encosto ajustável (1929), incorporando questões técnicas, sociais e econômicas, contrapondo ao purismo de Bauhaus. Em madeira compensada encurvada em moldes, o filandes ALVAR AALTO (19343) e MARCEL BREUER (1935).Nos anos 30, os Estados Unidos sob influência da Bauhaus e de seus egressos, a estes contrasta a produção integral de FRANK LLOYD WRIGHT: a mobília acompanha cada projeto arquitetônico, com móveis distintos para cada construção; CHARLES EAMES EERO SAARINEM desenvolve, a partir das formas, cadeiras em compensado nos anos 40, e em fibra de vidro nos anos 50; os assentos em malha de arame, do ítalo - americano HARRY BERTOIA (1952).É interessante observar, no período inicial, a colaboração de MARCEL BREUNER, com a empresa austríaca Thonet encarregada de produzir sua cadeira de encosto e assento em palhinha trançada a partir de bastidores de madeira vergada, apostos á base tubular continua (1928) (6). Outros artistas da Bauhaus

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recorriam à célebre Thonet e aos móveis vergados, que revalorizou ao apresenta-los na exposição de Artes Decorativas de Paris (1925) (7). Com o tempo as empresas Cassina e Knoll Associates Inc, passaram a reunir, também a produção desses objetos, sinônimo de design e mobiliário perene.O Brasil assiste alienado, ancorado na estrutura sócio-ecônomica das oligarquias, à revolução no mobiliário europeu e norte- americano, a partir dos anos 20. O estado letárgico do desenvolvimento artístico não se abala, ainda que diante de transformações urbanística radicais, como a do centro do Rio de Janeiro, na primeira década do século. O furor das demolições e o ímpeto da ocupação dos espaços apenas reafirmam o ecletismo, de sabor romântico, fantasia parisiense nos trópicos. A qualidade artesanal de conceituadas marcenarias cariocas, como a Marcenaria Brasileira, Laubbisch E Hirth e Leandro Martins permanecerá, seguramente até os anos 50, subjugada ao copismo estilístico, esgotado em pastiches. A falta de arrojo reflete o estado do consumidor ávido pela posse o estabelecido e consagrado e com preferências limitadas. Em São Paulo, os anseios estéticos de atualização e o mobiliário moderno se afiliaria às simplificações artesanais britânicas. A ausência do mobiliário na Semana de 22 é bastante reveladora da sua desconexão orgânica em relação à arquitetura e da falta de reconhecimento de sua capacidade enquanto expressão de arte. A chegada de WARCHA VCHIK (1924) introduz no Brasil o internacional style (8), mas os influxos modernos colocam ênfase na art-decô. Neste ambiente de insípido marasmo, de requentadas e estéreis estilizações destaca-se JOAQUIM TENREIRO, português , nascido em 1906. Herdeiro da artesania do pai marceneiro, TENREIRO consolida as bases de renovação expressiva, a partir do conhecimento da tradição. O moderno alia a pesquisa dos recursos disponíveis à compreensão estrutural das necessidades sociais e implica a leitura do passado. Radicado no Rio de Janeiro, desde 1928, trabalhou para as firmas da moda, sujeito ao imperialismo da demanda dos neos "Chipandale (sic), Luiz XVI, D.João V e até o gótico."(9)Francisco Inácio Peixoto conhece, por volta de 1929/30, a marcenaria Laubisch E Hirth, cuja excelência artesanal lhe marcará a memória. Em 1943, colocada a questão de mobiliar a recém-construida residência do traço de NIEMEYER, o modernista de Cataguases retorna ao Rio e à LAUBISCH, oportunidade em que lhe apresentam TENREIRO. (10) Desse modo estabelecem-se as condições favoráveis para JOAQUIM TENREIRO dedicar-se à personalíssima trajetória de designer de móveis, daí em diante parceiro de arquitetos de projeção. Desde 1935 TENREIRO elabora móveis de espírito novo e sua celebrada poltrona leve (1942) é marco da modernidade do mobiliário no Brasil.(11)O cliente esclarecido e abastado de Cataguases proporciona a dedicação exclusiva do artífice à arte do móvel moderno, pois excetuada a copa, o mobiliário para toda residência de Francisco Inácio Peixoto, ficou sob responsabilidade de TENREIRO, cujos desenhos atestam a qualidade artística, formal e cromática. Nos ambientes sociais e no dormitório do casal, a madeira clara-caúna- confere leveza à organização e preenchimento dos espaços. As madeiras escuras, como o jacarandá, serão destinadas aos demais dormitórios e ao escritório. O TENREIRO observado ali, em 1943, embrenha-se pela sinuosidade de faixas de madeira, proporcionando continuidade visual entre os pés e os braços de poltronas, entre suportes dianteiros e traseiros. Surgem esculturas de linhas infinitas projetadas do pavimento e que dão ao móvel liberdade no espaço. Nas cadeiras, da sala de jantar e dos dormitórios, apenas as pernas esguias recordam as clássicas e difundidas produções do artista. Os encostos e assentos completamente envolvidos por revestimentos naturais ou sintéticos, sobre confortável estofamento, sugerem repouso: prazer e despojamento caracterizam o conjunto. A proposta de linearidade das estruturas dos moveis se expressa em formas geométricas puras, de aparência maciça, ou em continuas curvas em suaves oposições. Neste caso, encontram paralelismo nos moveis desenvolvidos por ALVAR AALTO, a partir de 1934, e por MARCEL BREUER, desde 1935.

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Residência de Nanzita Ladeira Salgado, Cataguases-Mg. Joaquim Tenreiro

Se do ponto de vista estético os resultados se assemelham, pela ótica técnica significam diferentes respostas às condições disponíveis ou às concepções possíveis nos respectivos contextos espaço-temporais. No móvel de AALTO e no de BREUER, a base é recortada como um todo, em madeira compensada e encurvada em moldes, oferecendo extensões lineares ininterruptas, sem junções. No móvel de TENREIRO, por possíveis restrições tecnológicas ou por intenção do artista, o efeito de continuidade se dá pela justaposição de partes de madeira maciça de acabamento folheado. A solução para a composição do assento propriamente dito impõe diferenças de intenção, em especial na cadeira de braço e na espreguiçadeira do mezzanino. O entrecruzamento de tiras de couro colorido, em contraste de xadrez branco e vermelho e branco e azul, remete à maleabilidade das redes, na acolhedora acomodação do corpo e na aeração facultada pelas tramas abertas. Estes moveis ilustram bem a síntese entre tendências internacionais, pesquisa e reiterpretaçao da tradição, tudo considerado para contemplar a função e o uso agradável do móvel, fundamento da preocupação do designer. As grandes superfícies folheadas nas cabeceiras das camas, armários e penteadeiras asseguram o contraponto aos recortes dos móveis soltos, reforçando mutuamente as qualidades de mobilidade e sedentarismo da casa e da família. Revelam, ainda, respeito à singeleza das madeiras nobres, tributo do homem à natureza, exaltação da prodigalidade de texturas no Brasil e inserção na contemporaneidade através dos revestimentos sintéticos.Outro percurso possível para a leitura desses móveis refere-se à lúcida procura por registros- marcas, selos e etiquetas - que estimulem a interpretação. As referencias à casa Laubisch E Hirth encontradas nos assentos de couro bicolor, na mesa do escritório, em móveis dos dormitórios e na sala-de-visitas, atestam a procedência carioca da sede da empresa, e sua ligação com TENREIRO. Nos espelhos dos dormitórios a etiqueta Langenbach E Tenreiro, fundada em 1943 e estabelecida no Rio de Janeiro à Rua da Conceição 147. A simultaneidade de registros de Laubisch e de Langenbach documentam o vôo de TENREIRO, o momento decisivo da opção de ser seu próprio patrão . A existência de indicações concomitantes de Laubisch e Serraria e Artefatos de Madeira Peixoto Ltda . Cataguases remete as hipóteses de co-produção ou de intervenção posterior para reparação. As marcas de Serraria-empresa familiar atuante entre 1905 e 1959-encontram-se na mesa de centro do mezzanino, com seus pés de palito e tampo irregular forrado de fórmica, e no conjunto de mesa e cadeiras da copa. A empresa dedicou-se à produção imitativa de móveis modernistas, com a presença de assentos Thonet e marcas a fogo de Aalto (sic) design made in Sweden. (12)

 

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Francisco Inácio Peixoto, empresário e cidadão entusiasta, faz de sua residência cartão de apresentação da modernidade e de sua ação pública a estratégia para a circulação e propagação de novo ideário. O meio mais adequado foi a construção de uma grande escola, cuja ambiência contribuiria para a formação de mentes mais abertas, pelo convívio com a contemporaneidade. Ato contínuo, a edificação do Colégio Cataguases a cargo de NIEMEYER torna-se realidade, entre 1943 e 1947. Do projeto de mobiliário incube-se o TENREIRO: criar equipamento de uso extensivo, intensivo e público e garantir o padrão em eventuais produções seriais. Os desenhos identificados pelo carimbo de Langenbach E Tenreiro Ltda proporcionam visão de conjunto da proposta estética e da destinação funcional e possibilitam a compreensão global da empreitada, de grande impacto para o designer. Os documentos do projeto permitem identificar interferências e substituições, perdas futuras ou intenções irrealizadas. Nestas categorias, encontra-se um balcão com painel decorativo, não localizado, e o anfiteatro, inteiramente diverso da feição proposta.

 

O TENREIRO do Colégio Cataguases guarda o destaque às madeiras, a legibilidade das estruturas e funções, as soluções simples, valorizando o uso. Linhas docemente arqueadas e maior robustez de suportes em cadeiras, mesas e carteiras escolares, acentuam a linguagem do artista. Predominam as madeiras em castanho-médio, contrapostas à clareza da madeira utilizada no

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conjunto de mesa-de-centro e poltronas do saguão nobre, portador de etiqueta Laubisch E Hirth. Nas poltronas, de extrema leveza, a estrutura de suporte apenas se interseciona com o plástico, outrora lona, que define o assento e encosto contínuos.A solução adotada relembra a plasticidade da rede indígena, enquanto os esteios assumem aspecto escultural. Observa-se a engenhosa e sutil identificação entre o mobiliário e a arquitetura. O perfil losangular dos guarda-corpos das rampas reaparece nos suportes do tampo da mesa para o diretor, partido repetido em mesas da secretaria e em mesas dos professores, nas salas de aula, cujas etiquetas referem-se a produtores locais. No mobiliário do Colégio Cataguases encontram-se etiquetas de Laubisch em exemplares equivalentes às pranchas de TENREIRO.Todavia são freqüentes a identificação de marcenarias cataguasenses: a Serraria e Artefatos de Madeira Peixoto S.A (em dois formatos gráficos), a Fábrica de Móveis Cataguases e a Fábrica de Móveis São Francisco deixaram ali sinais de fatura, respeitada a concepção de TENREIRO(13). Não se pode afirmar, no entanto, se motivadas pela grande demanda do projeto ou se fruto de substituições, reparos ou complementações posteriores. Lá estão , também, os assentos Thonet, produzidos pela Gerdau de Porto Alegre, além de banqueta com a estampilha Aauto (sic) design made in Sweden. O complexo equipamento do colégio evidencia e confirma as tendências de busca de soluções fundadas na atualidade e na releitura crítica do passado, a internacionalização do mobiliário, a produção descentralizada e mecanizada.Em 1947, JAQUIM TENREIRO deixa a associação com Langenbach e estabelece a primeira loja de design que o Brasil conhece, em Copacabana, Rua Barata Ribeiro. Nesse mesmo ano realiza a cadeira de embalo e participa de Salão no Rio de Janeiro. A mesa e cadeira estrutural e a cadeira de três pés, produtos do período, somam-se ao repertório já consagrado do artista. Em 1953, estende suas atividades comerciais a São Paulo e em 1954 transfere a oficina carioca para o Bairro de Bonsucesso, Rua 7 de Março, numero 30. cataguases não esquece TENREIRO, que retorna à Zona da Mata e complementa a clínica e residência de Ottoni Alvim Gomes e Nanzita, obra do arquiteto Francisco Bologna... As etiquetas das produções para a casa de Nanzita, de meados dos anos 50 estampam, com a merecida identidade Tenreiro Móveis e Decorações- Rua 7 de Março 30/80 A . No conjunto do mobiliário constata-se persistência do destaque às madeiras, evidenciando os veios e colorações em caprichosos folheados, explorados em grandes painéis nas cabeceiras e fachadas de armários, apresentadas uma a cada dormitório, conferindo-lhes identidade. Nos estofados o conforto , a palheta harmoniosa e a desaparição dos braços, em alguns exemplares. O estofamento apenas libera os pés, bastante simplificados se cotejados aos dos anos 40. As linhas tornam-se ainda mais puras, retilíneas ou suavemente curvas, e nas mesas a madeira divide espaço com outros materiais. A exemplo do Colégio Cataguases, TENREIRO dialoga com a arquitetura através de soluções comuns, como o tampo em vidro pintado da mesa-de-jantar, recurso presente nas vidraças das fachadas. Os interiores modernos em Cataguases completam-se com móveis internacionais , adquiridos na Forma, representante dos produtos Cassina e Knoll: de MARCEL BREUER, MIES VAN DER ROHE, EERO SAARINEM, HARRY BERTOIA. Os assentos Thonet permanecem como uma constante. Um clássico como os exemplares assinados pelos designers citados, a cadeira de embalo habita o salão. 

 

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Mobiliário de Tenreiro no Hotel Cataguases.

JOAQUIM ALBUQUERQUE TENREIRO deixa a cena de Cataguases, mas continua a desenvolver o móvel com autoria até 1968. Renomado e solicitado, contribui com a decoração do Salão de Banquete do Palácio do Itamaraty, em Brasília (1967) e recebe homenagens de reconhecimento, através de exposições que exaltam sua fecundidade realizadora. A significativa contribuição de TENREIRO ao desenho de mobiliário no Brasil constitui a abertura de novos caminhos, trilhados por uns, imitado por outros. Mesmo em Cataguases proliferou o espirito da modernidade nas empresas locais . Em 1951, inaugura-se o Hotel de Cataguases, obra do arquiteto Aldary Toledo (14), com móveis de concepção mais limitada e de execução menos aprimorada que obedecem a certos preceitos de TENREIRO, como as estruturas autônomas, as madeiras nuas, os assentos e encostos em tecido ou faixas de couro. Os pés de palito em profusão, a exposição de juntas travadas a cunha e o encordoamento com fios plásticos formando assento e encosto, influência possível do designer italiano GIO PONII, constituem a especialidade desses móveis produzidos pela Serraria da família Peixoto (15), ou importados de Pará- de Minas, se comparados aos de TENREIRO. Mas TENREIRO é incomparável, e sua inquestionável contribuição ao mobiliário brasileiro- desconhecida fora de certos círculos- não teve continuidade sob licença, no Brasil e no exterior. O MESTRE, desaparecido em 1992, deixa o legado das mentes lúcidas capazes de harmonicamente relacionar as experiências do passado e o experimento do presente, condição de atemporalidade. O compreensivo olhar de TENREIRO para a tradição da rede, da madeira, da palhinha; a potencialização de madeiras incomuns, a busca da leveza e do conforto a adequação às técnicas possíveis, a consideração do corpo do usuário, tudo exprime em móveis o que o artista revela:

 

"Sempre fui muito inquieto. O que fiz foi reformular as dimensões dos móveis usadosno Brasil, porque eles eram confortáveis . Defendi o artesanato com ardor, contra a industrialização que avilta os móveis. Antes de mim, existiam lojas de móveis, não desenhistas... Mas não digo que criei o móvel moderno no Brasil, apenas procurei das 

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características modernas ao que se fazia no País. Nisso fui precursor. Criei móveis despojados, limpos, levando em conta a tradição artesanal brasileira. Um móvel tem que oferecer conforto de várias horas, se não oferecer um conforto duradouro é inútil."(16)

Os ambientes e os arranjos versáteis de TENREIRO são atuais e seus móveis partilham espaços em igualdade com os de design internacional e os de série Thonet: valores específicos a se reforçarem mutuamente. Em Cataguases o mobiliário moderno afirma o arrojo das opções humanas na cidade, cuja modernidade no mobiliário está intimamente ligada à modernidade do móvel no Brasil.Rio de Janeiro, novembro de 1993.

   

Móvel brasileiro modernoO design do mobiliário nacional foi influenciado pela arquitetura do movimento

modernista no Brasil. Para harmonizar os móveis com os edifícios projetados pelos

arquitetos, designers e artistas foram levados a criar e redesenhar mesas, cadeiras, sofás

e outras peças do nosso mobiliário. Um panorama geral na história do design de móveis

do Brasil é o que pretende mostrar o recém-editado livro Móvel brasileiro moderno.

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Gregori Warchavchik - Revisteiro Leque 1930. Madeira certificada 46 x

45 x 73 cm

Organizado por Marcelo Vasconcellos e Maria Lúcia Braga, com direção

editorial de Paulo Herkenhoff, e pesquisa de Alberto Vicente, Gleyce Kelly

Heitor e Juliana Gagliardi, a qual também assina o texto, o livro é uma

realização da Fundação Getúlio Vargas (FGV Projetos). Com 300 páginas, a

publicação conta a história do móvel moderno no Brasil a partir da década de

1920, até quase a contemporaneidade.

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Lucio Costa - Poltroninha 1960, madeira de jacarandá, estofamento em couro 72 x

57 x 65 cm

Para viabilizar a produção do livro, Marcelo e Alberto, sócios da loja

Mercado Moderno - Memo, especializada em móveis de design, contam como

saíram em busca de peças originais junto aos designers, seus familiares e

amigos, colecionadores e marchands: "O avanço nas pesquisas, as entrevistas

com os designers e o acesso a informações inéditas geraram a necessidade de

associar a identidade dos designers aos seus trabalhos e a imagens

documentais que corroborassem os dados que estávamos levantando. Além

disso, percebemos que seria importante mostrar móveis cujos originais

estavam indisponíveis ou inacessíveis para nós, mas que não poderiam ser

esquecidos. Saímos, então, em busca de reedições autorizadas."

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Joaquim Tenreiro - Cadeira Três Pés 1947. Cinco espécies de madeira:

jacarandá,

roxinho, pau-marfim, imbuia e mogno. 54 x 65 x 66 cm

No prefácio do livro, Maria Helena Estrada afirma que "Móvel brasileiro

moderno mapeia e analisa os pontos mais importantes de nosso percurso do

design e se torna indispensável no momento em que vemos surgir o novo

projeto brasileiro, de multifacetas, vocabulários diversos, e sempre enraizado

no presente." E informa: "Eram europeus, ou de formação européia, os

primeiros designers brasileiros. Criaram uma nova estética, modernista, e

essas primeiras expressões, surgidas no início do século XX, são agora

decodificadas em todo o seu valor e ressurgem como importante patrimônio

cultural."

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Flávio de Carvalho - Cadeira Flávio de

Carvalho,1950

E, de fato, o primeiro designer relacionado no livro, é o ucraniano Gregori

Warchavchik (1896-1972), seguido por Lucio Costa, que embora seja filho de pais

brasileiros, nasceu em Toulon, na França. Gregori completou seus estudos no Instituto

Superior de Belas Artes, em Roma. Tomou contato com a estética emergente, sendo

influenciado por Le Corbusier (1887-1965). Emigrou para o Brasil em 1923 e sua

residência em São Paulo foi uma das primeiras casas modernas em estilo racionalista

internacional construídas no país. Com Lucio Costa, projetou no Rio de Janeiro a primeira

habitação coletiva moderna do Brasil. Os móveis criados por Warchavchik tinham

influência do estilo art déco.

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Lina Bo Bardi - Poltrona Tripé 1948, Ferro e manta de couro sola. 63 x

78 x 80 cm

Lucio Costa (1902-1998) formou-se em arquitetura em 1922, recebendo

influências de Le Corbusier e Frank Lloyd Wright, que estiveram no Rio em

1929 e 1931, respectivamente. Criou, com a ajuda de colegas, o mobiliário do

Ministério da Educação e Cultura no Rio de Janeiro, o Palácio Capanema. No

Parque Guinle, integrou arquitetura e meio ambiente e em 1957, venceu o

concurso para o Plano Piloto de Brasília. No mobiliário sua produção ficou

restrita a móveis autorais.

Oscar Niemeyer - Espreguiçadeira Rio 1977-78, Design Anna Maria

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Niemeyer.

60 x 170 x 87 cm

O arquiteto Oscar Niemeyer (1907-) trabalhou no escritório de Lucio Costa,

onde tomou contato com a obra de Le Corbusier e com os conceitos da

arquitetura moderna. Nomeado arquiteto-chefe da nova capital federal,

desenhou os edifícios públicos de Brasília. Sua primeira experiência com

móveis industrializados ocorreu em 1971, quando lançou na França a linha On,

desenhados em parceria com a filha Anna Maria Niemeyer, com a finalidade de

criar peças que dialogassem com sua linguagem arquitetônica.

Em seguida vem Flavio de Carvalho (1899-1973), carioca que cursou o Liceu

Janson de Sailly na França e a Escola de Belas Artes Rei Edward VII, na

Inglaterra.

Giuseppe Scapinelli - Poltrona 1950, Madeira de caviúna, estofamento em chenile 70 x

86 x 88 cm

Sua arquitetura era arrojada e apresentava tendências futuristas e expressionistas.

Criou a poltrona FDC1 nos anos 1950.

Joaquim Tenreiro (1906-1992) nasceu em Meio, Portugal, e começou a fazer

móveis muito cedo, com o pai e o avô, que eram marceneiros. Mudou-se para

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o Brasil em 1928, empregando-se na fábrica de móveis e ateliê de decoração

das firmas Laubisch & Hirth e Leandro Martins. Produziu seus primeiros móveis

em 1942, por encomenda de Oscar Niemeyer, para a casa da família Peixoto,

em Cataguases - Minas Gerais. A oficina Langenbach & Tenreiro, fundada em

1943, deu origem à Tenreiro Móveis e Decorações, onde produziu seus

melhores móveis.

Michel Arnoult - Poltrona Peglev 1968. Madeira maciça e couro, 62 x

72 x 74 cm

A italiana Lina bo Bardi (1914-1992) veio para o Brasil em 1946 e logo

depois fundou, com Giancarlo Palanti (1906-1977), a fábrica de móveis Pau-

Brasil. Desenvolveu projetos arquitetônicos para museus e centros culturais,

entre eles Masp, o MAM-BA e o SESC Pompéia. Criou a poltrona Bardi's Bowl

em 1951.

Abraham Palatnik - Buffet 1950. Ferro, madeira e vidro. 54 x 214 x 84

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cm

Outro europeu, Giuseppe Scapinelli (1911-1980) também nasceu na Itália,

em Modena, onde foi professor de arquitetura. No Brasil, fundou a Fábrica de

Móveis Giesse e, também, a loja Margutta, onde possuía ateliê. A Revista Casa

e Jardim, onde Scapinelli assinava uma coluna, assim definiu o seu móvel:

"Scapinelli é um clássico que se lembra de ser moderno ou - se preferem - um

moderno que não esquece de ser clássico".

Geraldo de Barros - Estante MF 710 1954. 156 x 42

x 200 cm

Zanine Caldas (1919-2001) nasceu em Belmonte, na Bahia, mas veio

para o Rio de Janeiro, onde teve um ateliê de maquetes que atendia, entre

outros arquitetos, a Lucio Costa e Oscar Niemeyer. Produziu, desde 1948,

móveis desmontáveis ao gosto modernista. Recebeu o título de arquiteto

honoris causa do Instituto de Arquitetos do Brasil. No mobiliário desenvolveu

um estilo todo próprio.

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Zanine Caldas - Espreguiçadeira 1949. Compensado 20mm e couro, 58 x

108 x 80cm

O livro Móvel brasileiro moderno interrompe a seqüência de mestres moveleiros

e abre espaço para a loja de móveis Branco & Preto, que funcionou em São Paulo

entre os anos 1952 e 1965. Criada por ex-alunos da Universidade Mackenzie, a

loja marcou o ambiente paulistano. Seus móveis combinavam madeiras de lei

com ferro, vidro, mármore e tecido.

Sergio Rodrigues - Poltrona Moleca 1963. 84 x 76 x 74,5 cm

O paulista Geraldo de Barros (1923-1998) foi fotógrafo, pintor e designer

gráfico. Fundou o Grupo Ruptura, marco do rompimento da arte concreta, em

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1952 e dois anos depois, foi co-fundador da Unilabor, cooperativa produtora de

móveis. Na sua empresa Hobjeto fabricou mobiliário residencial e de escritório.

Jorge Zalszupin - Carrinho de chá JZ 1950

Natural do Rio Grande do Norte, Abraham Palatnik (1928-) emigrou com a

família para Tel-Aviv, onde estudou mecânica, desenho e pintura. Retornando

ao Brasil em 1948, juntou-se a Ivan Serpa e Almir Mavignier (1925-),

dedicando-se à arte abstrata. Ao lado de Lygia Clark (1920-1988), Franz

Weissmann (1911-2005), Lygia Pape (1927-2004) e outros, expôs com o grupo

Frente. Abriu a loja Arteviva em 1954, no Rio de Janeiro, onde produziu peças

em madeira ou ferro acopladas com chapas de vidro.

Zanine Caldas - Namoradeira, 1949. 130 x 58 x h75cm

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Sérgio Rodrigues (1927) nasceu no Rio de Janeiro, graduando-se em

Arquitetura e Urbanismo. Em 1953 inaugurou a Móveis Artesanal Paranaense,

em sociedade com os irmãos Carlo e Ernesto Hauner. Em 1955 fundou a Oca,

loja que comercializava mobiliário genuinamente brasileiro, difundindo a ideia

do móvel como objeto de arte. Sua Poltrona Mole de 1957 ganhou o Primeiro

Prêmio num concurso internacional de móveis na Itália. Criou o mobiliário para

a sede da Editora Bloch no Rio de Janeiro.

Bernardo Figueiredo - Cadeira Arcos 1965 - Madeira maciça de jacarandá, estofamento em veludo.

Criada o salão de banquetes do Palácio dos Arcos, Itamaraty, Brasília. 46 x 58 x h97 cm

Jorge Zaliszupin (1922) é polonês, vindo para o Brasil em 1950. Fundou

em 1955 a firma L'Atelier, onde inicialmente fabricou móveis artesanais de

escritório. Utilizava madeira, estofado e metal, introduzindo depois o plástico

como matéria-prima nos seus móveis.

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Joaquim Tenreiro - Cadeira com Braços 1960. Madeira de mogno e malha

trançada

50 x 45 x h79,5 cm

Outros designers de móveis são destacados pelo livro Móvel brasileiro moderno:

Michel Arnoult (1922-2005), Carlo Hauner (1927-1997), Martin Eisler (1913-1977), Jean

Gillon (1919-2007), Ricardo Fasanello (1930-1993), Bernardo Figueiredo (1934) e Paulo

Mendes da Rocha (1928-).