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  A produção de sentidos na argumentação | 243 11 | PARA LIGAR A TEORIA À PRÁTICA: ROTEIRO DE PERGUNTAS PARA ORIENTAR A LEITURA/ANÁLISE CRÍTICA DE GÊNERO 1 Désirée MOTTA-ROTH Universidade Federal de Santa Maria Introdução Este trabalho aborda questões teóricas relativas à análise crítica do texto e do discurso (chamada aqui de Análise Crítica de Gênero por adotar a concepção de gênero como referência) como subsídio ao ensino de leitura crítica em inglês como língua estrangeira. O ponto de partida deste trabalho foi a dificuldade de professores em formação na UFSM para construir uma abordagem de ensino de leitura (Messer, 2007) em termos da passagem do conhecimento científico (a análise do discurso pela Lingüística Sistêmico- Funcional) para a construção de uma abordagem de ensino (a partir dessa teoria) sobre o discurso em inglês na vida social, relacionando teoria e prática pedagógica. A “leitura crítica implica a percepção das relações entre texto e contexto” (Freire, 2000:11) e conecta a experiência individual às experiências sociais e às condições sócio-históricas de produção, distribuição e consumo dos textos na sociedade (Wallace, 1992; Fairclough, 1989). O professor em formação deve ser capaz de ver essa leitura em inglês como língua estrangeira (ILE) como processo situado, afetado pelos contextos pelos quais circulam leitores e produtores de textos. Lemos (e também escrevemos) a partir de “marcas sócio-históricas que [n]os situam no mundo social” (Moita Lopes, 1996:2). “Lemos como gaúchos, homens, mulheres, crianças, velhos, heterossexuais, homossexuais, negros, mulatos, brancos, ricos ou remediados, progressistas ou conservadores, menos ou mais letrados” (Motta-Roth, 2004). Essa percepção crítica deve ser perseguida em vez da leitura linear, focada na palavra individualmente. Ler criticamente significa analisar discursos, entretanto, o aluno só pode analisar o discurso se analisar a linguagem (Fairclough, 1992a). Afinal, uma análise do discurso que não se baseia no sistema da língua não é uma 1 Partes deste trabalho foram apresentadas no Congresso Internacional da ABRAPUI (Faculdade de Letras da UFMG, em Belo Horizonte, MG, Brasil, junho/2007) e no Tercer Congreso de la ALSFAL-Aso ciación de Lingüística Sistémico Funcional de América Latina em Puebla, México, novembro/2007), com Bolsa PQ/CNPq nº 304256/2004-8 e nº 301962/200 7-3. Agradeço as sugestões dadas por meus alunos na UFSM, especialmen te Patrícia Marcuzzo, Luciane Ticks, Fábio Nascimento e Eliseu da Silva.  Dados para citação: MOTTA-ROTH, D. Para ligar a teoria à prática: roteiro de perguntas para orientar a leitura/análise crítica de gêneros. In: MOTTA-ROTH, D.; CABAÑAS, T.; HENDGES, G. (Org.).  Análises de textos e de discursos: relações entre teorias e práticas. 2ed. Santa Maria: PPGL Editores, 2008. p. 243-272.

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  • A produo de sentidos na argumentao | 243

    11 | PARA LIGAR A TEORIA PRTICA:ROTEIRO DE PERGUNTAS PARA ORIENTAR A LEITURA/ANLISE CRTICA

    DE GNERO1

    Dsire MOTTA-ROTHUniversidade Federal de Santa Maria

    IntroduoEste trabalho aborda questes tericas relativas anlise crtica do

    texto e do discurso (chamada aqui de Anlise Crtica de Gnero por adotara concepo de gnero como referncia) como subsdio ao ensino de leituracrtica em ingls como lngua estrangeira. O ponto de partida deste trabalhofoi a dificuldade de professores em formao na UFSM para construir umaabordagem de ensino de leitura (Messer, 2007) em termos da passagemdo conhecimento cientfico (a anlise do discurso pela Lingstica Sistmico-Funcional) para a construo de uma abordagem de ensino (a partir dessateoria) sobre o discurso em ingls na vida social, relacionando teoria eprtica pedaggica.

    A leitura crtica implica a percepo das relaes entre texto econtexto (Freire, 2000:11) e conecta a experincia individual s experinciassociais e s condies scio-histricas de produo, distribuio e consumodos textos na sociedade (Wallace, 1992; Fairclough, 1989). O professor emformao deve ser capaz de ver essa leitura em ingls como lngua estrangeira(ILE) como processo situado, afetado pelos contextos pelos quais circulamleitores e produtores de textos. Lemos (e tambm escrevemos) a partir demarcas scio-histricas que [n]os situam no mundo social (Moita Lopes,1996:2). Lemos como gachos, homens, mulheres, crianas, velhos,heterossexuais, homossexuais, negros, mulatos, brancos, ricos ouremediados, progressistas ou conservadores, menos ou mais letrados(Motta-Roth, 2004). Essa percepo crtica deve ser perseguida em vez daleitura linear, focada na palavra individualmente.

    Ler criticamente significa analisar discursos, entretanto, o aluno spode analisar o discurso se analisar a linguagem (Fairclough, 1992a). Afinal,uma anlise do discurso que no se baseia no sistema da lngua no uma

    1 Partes deste trabalho foram apresentadas no Congresso Internacional da ABRAPUI (Faculdadede Letras da UFMG, em Belo Horizonte, MG, Brasil, junho/2007) e no Tercer Congreso de laALSFAL-Asociacin de Lingstica Sistmico Funcional de Amrica Latina em Puebla, Mxico,novembro/2007), com Bolsa PQ/CNPq n 304256/2004-8 e n 301962/2007-3. Agradeo assugestes dadas por meus alunos na UFSM, especialmente Patrcia Marcuzzo, Luciane Ticks,Fbio Nascimento e Eliseu da Silva.

    DesireeCaixa de textoDados para citao:MOTTA-ROTH, D. Para ligar a teoria prtica: roteiro de perguntas para orientar a leitura/anlise crtica de gneros. In: MOTTA-ROTH, D.; CABAAS, T.; HENDGES, G. (Org.). Anlises de textos e de discursos: relaes entre teorias e prticas. 2ed. Santa Maria: PPGL Editores, 2008. p. 243-272.

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    anlise, mas apenas uma vaga impresso (Halliday, 1994:xvi-xvii). Para aLingstica Sistmico-Funcional (LSF), os elementos lxico-gramaticais sopores de informaes inter-relacionadas (Hoey,1983; Halliday & Hasan,1976) a outras com as quais se conecta semntica ou funcionalmente e dasquais, em contrapartida, obtm sentido. Os elementos lxico-gramaticaisso assim interpretados em seu contexto, isto , na frase, na linha, noenunciado, no texto, no sistema de gneros, no discurso.2

    O presente trabalho se justifica como uma continuidade de trabalhosanteriores em Anlise Crtica de Gnero, que exploram a perspectivaanaltica como forma de esclarecer a teoria (Meurer, Bonini & Motta-Roth,2005; Meurer & Motta Roth, 2002; Motta-Roth, 2006a; 2008). Tento detalharos procedimentos analticos para estabelecer a ponte entre a teoria e aprtica. Para tanto, utilizarei ferramentas scio-discursivas de anlisepropostas por Gee (2000:12) na forma de perguntas e tarefas derecontextualizao e ressignificao do texto a serem implementadas ao seanalisarem e interpretarem os dados lingsticos.

    Ao ressaltar a anlise da linguagem, defendo uma abordagem deensino de leitura crtica que seja tanto lingisticamente orientada quantoscio-historicamente situada, menos orientada para estratgias perifricasde leitura e mais voltada para a categorizao das oraes por meio da LSF(Halliday, 2004).

    Primeiramente discutirei o conceito de leitura crtica e, em seguida,conceituarei linguagem como gnero. Na terceira parte, apresentarei aabordagem pedaggica para anlise/leitura do texto, por meio de perguntase tarefas de recontextualizao e ressignificao do texto. Concluo comconsideraes sobre a importncia da reflexividade na formao deprofessores de lnguas.

    1 Leitura crticaA pedagogia crtica se caracteriza por pressupor que o professor tem

    um poder transformador (Johnston, 1999:557) e por estabelecer a conexoentre a prtica pedaggica e as questes mais amplas que circulam numadeterminada poca em um dado grupo social.3 Um dos acertos dessa2 Essa no uma ordem fixa nem linear. Para fazer leitura crtica, me baseio em Bakhtin(1995:95) que defende uma anlise que explore primeiramente o contexto de situao, ondeo texto se constitui como enunciado, e no contexto de cultura, onde a situao se inscreve(os conjuntos de contextos possveis de uso de cada forma particular), para s depois ir parao texto.3 Exemplos so a recesso econmica dos bancos norte-americanos em outubro de 2008,a discusso das quotas nas universidades brasileiras em 2007, o debate sobre oMovimento Tradicionalista Gacho no Rio Grande do Sul em 2006.

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    pedagogia despertar nossa ateno para criarmos representaes mentaisalternativas de como o mundo pode ou deve ser (Pennycook, 1999:335).Nesse caso, a prtica pedaggica pode ser vista como um esforo de levaro aluno a refletir sobre questes como:

    Sua prpria condio humana, social e econmica: Quem sou eu, oque desejo, qual meu repertrio de experincias? O que leio?Por que leio este ou aquele texto em aula ou em casa? Quemdetermina isso? O que desejaria ler e no consigo? Por qu?

    O papel mediador da linguagem na vida social: Que interaessociais dependem da leitura? A quais delas desejo ter acesso? Quetextos desejo/preciso ler para me informar, trabalhar, arrumaremprego, conseguir emprstimo no banco, estudar na escola/universidade, ganhar bolsa para a escola/o mestrado/o doutorado?Que textos circulam nas diversas mdia/representam a experinciahumana?

    Para levar o aluno a essa reflexo, a aula de leitura pode ser vista emtrs momentos: pr-leitura, leitura e ps-leitura (Wallace, 1992). A pr-leiturase define por aes como o ativamento do conhecimento prvio, a construode mapas semnticos e a localizao do texto no repertrio de gnerosdiscursivos. A leitura propriamente dita se caracteriza pela identificao deexpresses-chave no texto, pelo reconhecimento do significados produzidospor diferentes elementos lxico-gramaticais, pelo estabelecimento do camposemntico e de redes lexicais, bem como pelo reconhecimento de estgiosestruturais/ funcionais. A ps-leitura consiste na anlise da relao do textocom suas condies de produo e consumo.

    Professores em formao (Messer, 2007) demonstram dificuldadepara construir uma aula de leitura crtica que desenvolva o estgio da leiturae passe para o de ps-leitura, que leve o aluno a ver indcios lingsticos darelao do texto com suas condies de produo e leitura. O desafio ensinar por meio da linguagem, levar o aluno produo de sentido, reflexo sobre a condio humana, histrica e social, que recontextualizaos textos.

    Em funo de tais questionamentos, nos anos 90 e 2000, cresce ointeresse de lingistas aplicados pelo estudo dos gneros discursivos, suafuno constitutiva de papis, relaes sociais e objetivos comunicativos,seu potencial heurstico no ensino de ILE (p.ex., Cristvo & Nascimento,2004; Meurer, Bonini & Motta-Roth, 2005). Torna-se cada vez mais

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    freqente a referncia aos escritos de Mikhail Bakhtin e Anlise Crtica doDiscurso (como a de Norman Fairclough).

    Meurer (2005:81) explica a Anlise Crtica como uma abordagem deanlise do discurso e de leitura do texto:

    Os seus proponentes esto convencidos de que questes sociais epolticas chave tm um carter parcialmente lingstico-discursivo(Fairclough & Wodak, 1997, p. 271) e de que o estudo dessas questespode revelar aspectos importantes da vida social. Assim sendo, aoanalisar textos criticamente no esto interessados apenas nos textosem si, mas em questes sociais incluindo maneiras de representar arealidade, manifestao de identidades e relaes de poder nomundo contemporneo.

    Nesses termos, o conceito de gnero se expande para alm dos limitesdo lxico e da gramtica at abarcar o contexto social, o discurso e aideologia (Giannoni, 2002; Bhatia, 2004).

    2 Linguagem como gneroGneros so enunciaes situadas em mbitos sociais especficos

    (Bakhtin, 1986:78), interaes retricas tpicas com base em situaesrecorrentes (Miller, 1984:159). Situam-se num determinado contexto decultura, como um esquema mental das situaes (...) construdo a partir daexperincia social, em termos de linguagem pertinente, eventos eparticipantes (Motta-Roth, 2006a:146), como um aspecto central nacomunicao social, um elo estruturador, ligando, a meio caminho, a menteindividual vida grupal (Miller, 1994:71). Os gneros so formados a partirde atividades recorrentes em uma cultura ou grupo social (uma universidadeou uma igreja, por exemplo) que constituem as instituies com diferentesgraus de ritualizao (uma palestra ou uma missa). Cada contexto de culturacaracteriza-se pelo conjunto dos gneros de uma dada sociedade, os quaisformam um repertrio dos eventos sociais constitudos na linguagem, cadaqual correspondendo a um contexto de situao.4 As prticas discursivasso vivenciadas em interaes situadas, em experincias discursivasinstitucionalizadas, enfim, em gneros.

    Da relao estreita entre as prticas sociais5 (contexto) e a linguagem4 O contexto de situao o conjunto de todos os fatores... que do forma a um momentono qual uma pessoa se sente chamada a estabelecer trocas simblicas (Bazerman, 1988:8).5 Prticas sociais so maneiras habituais, associadas a tempos e lugares especficos, nas quaisas pessoas aplicam recursos (materiais ou simblicos) para agir em conjunto no mundo. (...)

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    (texto) surge o conceito de gnero como linguagem culturalmente pertinentea uma dada situao, atravessada por discursos de ordens diversas. Umgnero , portanto, um evento realizado discursivamente por elementoslingsticos em diferentes planos fonologia/grafologia, lxico-gramtica,semntica/pragmtica, texto, discurso que se articulam num todosignificativo. A Figura 1 (adaptada de Martin, 1992:496; Hendges, 2005:06)tenta representar o modo como todos esses planos esto, ao mesmo tempo,em funcionamento (flecha que atravessa os diferentes planos) no eventodiscursivo.

    O texto d forma s atividades que se desenvolvem em vriassituaes, nos vrios contextos da experincia humana. H vrios elementospertinentes interao entre texto e atividade humana em gneros diversos(o blog, o carto de natal, etc). A combinao Linguagem-Atividade-Interaoarticula o gnero como a) uma atividade constituda no texto, b) em umdeterminado contexto de situao, c) que engendra papis para seus

    elas se constituem em um ponto de conexo entre estruturas abstratas e respectivosmecanismos, e eventos concretos entre a sociedade e as pessoas vivendo sua vida(Chouliaraki & Fairclough, 1999:21).

    Figura 1 Representao da estratificao dos planos comunicativos

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    participantes e relaes entre eles (interao), e que, d) por sua recorrncia,estrutura o contexto de cultura (repertrio de gneros) sob a ao dos vriosdiscursos e ideologias. Cada gnero uma combinao entre linguagem,atividade social, papis e relaes.

    As vrias atividades sociais em que nos envolvemos so realizadaslingisticamente de modo que construam a experincia humana. Nessasatividades da vida diria, interagimos com outros participantes e papis. Asrelaes se definem lingisticamente por meio da capacidade da linguagemde se organizar numa unidade semntica (Halliday & Hasan, 1989:26). Osgneros discursivos desempenham essas funes de representao domundo e constituio de papis e relaes. Assim, ensinar a ler com baseem gneros discursivos pressupe uma viso da linguagem como prticasocial: realizamos algo na/pela linguagem como um ato discursivo. Ler umtexto, portanto, ler um estado de coisas, um sistema de papis e relaes,uma declarao de pontos de vista, uma proposta de arranjo dos elementosda linguagem para se referir a isso tudo. Ler um texto ler o mundo, pois[A] leitura do mundo precede leitura da palavra, da que a posterior leituradesta no possa prescindir da continuidade da leitura daquele (Freire,2000:11).

    No contexto de formao de professor em que atuo, o objetivo doensino desenvolver, no futuro professor de ILE, habilidades para ler omundo. A aprendizagem dessa leitura crtica embasar futuras propostaspedaggicas desenvolvidas por esses professores. Uma leitura dessa ordemdepende do estudo de ILE associado reflexo (por parte de alunos eprofessores) sobre questes relativas ao estatuto do texto no contexto, taiscomo:

    Que texto esse? Quem escreve ou l esse texto? Por qu?Qual o campo semntico do texto? Em que medida o tema do textome interessa/me ajuda/me diverte?Em que contexto se imagina que esse texto /foi produzido, distribudoou consumido? Qual a funo do texto nesses contextos?

    Essas perguntas so relevantes no quadro epistemolgico da LSF, parao qual possvel reconstituir a conexo texto-contexto, conforme explicona prxima seo.

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    3 Tarefas analticas como exerccio de (re)construo/(re)contextualizaode significados

    Apresento a teoria na forma de tarefas analticas de construo designificado do discurso (Gee, 2000) para serem trabalhadas em sala deaula de leitura crtica a partir de perguntas a serem feitas para o texto.Essas tarefas so dispositivos de raciocnio que nos levam a fazer certostipos de questionamentos quando olhamos para o mundo, para o uso dalinguagem e para a interao. As perguntas guiam as tarefas na formaode professores/leitores crticos de modo a desenvolver a percepo de comoa teorizao, proposta na Anlise Crtica de Gnero, se conecta prtica deexplorao do texto em sala de aula.

    Para tentar mostrar as ligaes entre teoria e prtica no ensino deleitura crtica em ILE, desenvolvo a anlise de um texto da HepatitisFoundation International (Motta-Roth, 1998) (Figura 2) e depois forneo asperguntas.6

    Para entender a relao texto-contexto, uso seis tarefas diferentes deAnlise Crtica de Gnero propostas por Gee (2000), com base na LSF, paraa construo de dimenses da realidade, de movimentao analtica peloselementos lingsticos (lxico-gramtica) do texto, construindo significao/representao do contexto e sua relao com o texto:

    1. Construo Semitica: anlise dos sistemas de significaorelevantes e de produo de conhecimento acionados em umcontexto (tempo-espao) especfico;

    2. Construo de Mundo: anlise daquilo que considerado comorealidade, o que real e o que irreal, presente e ausente, concretoe abstrato, provvel, possvel e impossvel em um contexto (tempo-espao) especfico;

    3. Construo da Atividade: anlise das atividades em andamento,compostas por aes especficas;

    4. Construo de Identidades e Relaes: anlise dos papis e dasrelaes sociais relevantes na interao, as atitudes, os valores, osmodos de sentir, de conhecer e de crer, os modos de agir e interagirconcomitantes;

    5. Construo Poltica: anlise da natureza e relevncia de vriosbens sociais em um contexto (tempo-espao) especfico;

    6 O pblico potencial para essa atividade seria do ensino mdio e universitrio, talvez at 8srie do Ensino Fundamental. O professor pode aprofund-la de acordo com maturidadeintelectual e etria dos alunos.

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    Figura 2 Texto sobre vrus da Hepatite A

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    6. Construo de Conexes: anlise das pressuposies sobre o modocomo o passado, o futuro e o presente de uma interao lingsticase inter-relacionam.

    As perguntas aqui propostas tomam por referncia essas seis tarefase a literatura sobre LSF e Anlise Crtica de Gnero (especialmente,Chouliaraki & Fairclough, 1999; Fairclough, 1989; 1992a; 1992b; Halliday &Hasan, 1989; Heberle, 2000; Kress, 1989; Kress & van Leeuwen, 1996;Meurer, Bonini & Motta-Roth, 2005; Meurer & Motta-Roth, 2002; Motta-Roth, 1998; 2004; 2006a; 2006b; 2008; Motta-Roth & Heberle, 1994; Wallace,1992).

    As perguntas resultantes da anlise formulam um roteiro para umaaula de leitura de ILE que comea no texto no-verbal e segue para o textoverbal.

    3.1 Texto no-verbal Leitura de previso (Pr-Leitura)A leitura em ILE demanda o acionamento dos vrios esquemas mentais

    do leitor, construdos pela experincia, acerca de como o mundo funciona.Esquemas so acionados para compensar a falta de conhecimentosespecficos da lxico-gramtica em ILE, de modo a desenvolver habilidadesde previso sobre a leitura. Para tanto, pode-se primeiramente explorar otexto no-verbal por ser a parte mais visualmente explcita aos sentidos.So informaes sobre a organizao na pgina ou tela, localizao eexposio do tipo de letra, figuras, tabelas e grficos, e sobre a relaoexistente entre essas informaes e o contedo do texto.

    Uma anlise prvia da configurao visual do texto de sumaimportncia (...) para que o aluno possa ativar todo o repertrio dedados armazenados na forma de um conhecimento enciclopdico oude mundo, detectando traos comuns a outros textos previamentelidos. Essas caractersticas intertextuais serviro de apoio (...),facilitando a entrada no texto e determinando as estratgias deleitura a serem privilegiadas. (Motta-Roth, 1998:12)

    Por combinar elementos verbais e no-verbais (foto e mapa), o textoda Figura 2 um hbrido semitico (Lemke, 1998:87), composto comrecursos visuais de tamanho e diagramao (o texto dividido ao meio,metade no-verbal), iluminao (a foto nos trpicos, de uma mulher jovem,

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    sorrindo, em hora de luz solar intensa, sugerindo calor, energia, alegria,vida, lazer, frias), cor (mai em cor intensa, rosa vivo, sugerindo feminilidadee juventude; comida colorida, frutos do mar, sugerindo frescor), orientaoespacial (o mar ao fundo, o ato de comer no primeiro plano; a mulher nointerpela o observador com seu olhar, mas se oferece como um objetodescrito no texto; ou ainda a organizao dado-novo que coloca o dado, esquerda, como a mulher em uma situao de lazer, de acordo com o sensocomum de que Em frias, tudo maravilhoso. O novo ou inesperado, direita, mostra os reais riscos da comida que ela ingere, sem sequerdesconfiar do perigo). A mulher de mai beira do mar sorri enquanto comefrutos do mar e saladas, e tudo isso define um campo semntico de turismo,frias (Motta-Roth, 1998:16).

    Por outro lado, no mapa-mndi, abaixo do primeiro pargrafo do textoverbal, cada continente tem um valor, haja vista as diferentes cores, vivas ebrilhantes, correspondentes aos significados da legenda do mapa: vermelho,como rea de alto risco de infeco por hepatite, verde como riscointermedirio e amarelo como baixo risco. Essas reas so identificadassem critrio que discrimine pases, regies ou cidades.

    Esse contraponto entre lazer e despreocupao (foto da mulher) ealerta e perigo (cor vermelha no mapa) visualmente indicado pelaspalavras virus e Hepatitis A, ressaltadas em fundo vermelho na chamada dotexto, logo acima da imagem da alegre mulher em frias, e no olho dotexto, respectivamente. Se tudo que envolve perigo nesse texto est emvermelho, por analogia, o tomate vermelho e o camaro avermelhadosignificam perigo, comida contaminada, inadequada para consumo.7

    De pronto, estabelece-se um aparente paradoxo entre a atmosferaalegre da ilustrao e o campo semntico em que a palavra vrus se insere(Motta-Roth, 1998:15), conforme ilustrado pela Figura 3.

    7 Agradeo a minhas colegas Rosli Gonalves Nascimento e Nina Clia de Barros poroferecerem sugests e comentrios sobre a anlise desenvolvida neste captulo.

    Figura 3 Mapa semntico para a palavra vrus

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    A partir das imagens do texto, vrios aspectos scio-culturais podemser recuperados e explorados em associao a esteretipos relativos a:nacionalidade, profisso, classe social, raa, etc. (Fairclough, 1992b; Gee,2000). Por que as reas em amarelo (baixo risco de contaminao) estorestritas queles territrios ligados ou aos Estados Unidos ou ComunidadeEuropia (Canad e Oceania considerados como parte do Reino Unido),enquanto as reas marcadas como de alto risco esto localizadas abaixo doEquador? Contra qu e contra quem, ou a favor de qu e quem o textoento (Freire, 1996:38)? A sugesto de que lazer nos trpicos pode sermuito perigoso, portanto, o turismo seguro na Europa e na Amrica doNorte, contanto que se exclua o Mxico?

    As imagens narram eventos e classificam as entidades (Kress & vanLeeuwen, 1996:40-41). Nesse caso, uma turista caucasiana, saudvel ebonita pelos padres hegemnicos, desavisada e ingnua, passa frias nostrpicos e se alimenta em condies perigosas. Essas condies tambmso apresentadas como um conceito, uma classificao de um estado decoisas. O mapa oferece uma informao como verdade, generalizandodados de pases e continentes inteiros, sem qualquer modalizao, emborahaja um alerta para a generalizao no rodap, em letras minsculas: Thismap generalizes data, and patterns may vary within countries.

    A anlise dessas informaes e a coerncia e relevncia que o leitorespera encontrar entre elas contribuem para que (...) inicie o processode leitura, levantando hipteses sobre o contedo global do texto,sobre suas condies de produo (...), seus objetivos (persuadir opblico de que a hepatite uma doena transmitida por vrus e quedeve ser evitada), seus sentidos (turismo em pases ao sul do Equadorpode colocar o turista europeu ou norte-americano em situaes derisco de contgio...). (Motta-Roth, 1998:16)

    A anlise inicial engloba duas tarefas analticas principais: ConstruoSemitica (anlise dos sistemas de signos e significaes e dos sistemas deproduo de conhecimento relevantes ao contexto (tempo-espao)especfico; e 2) Construo de Mundo (anlise da realidade, o que real eo que irreal, presente e ausente, concreto e abstrato, provvel, possvel eimpossvel em um contexto (tempo-espao) especfico). Nessas duasconstrues, as zonas no-hegemnicas so perigosas para caucasianoseuropeus e norte-americanos (exceto, por exemplo, para mexicanos, umavez que no so considerados caucasianos, e sim hispnicos). Em sala de

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    aula, h pelo menos quatro perguntas que remetem o aluno a essasconstrues:

    1. Existem textos hbrido-semiticos que combinam elementosverbais e no-verbais. Que elementos no-verbais (foto e mapa)usam recursos como cor, tamanho, volume, orientao espacial,etc.? A que referente eles remetem?

    2. As imagens esto orientadas para o leitor de lado, em perspectiva,horizontalmente ou verticalmente? O que aparece em primeiro/segundo plano? Por que voc acha que esto assim posicionadas?

    3. Que aspectos scio-culturais (esteretipos relativos anacionalidade, profisso, gnero social, orientao sexual, raa,classe econmica, etc.) podem ser recuperados a partir dasimagens do texto?

    4. Como as imagens apresentam um conceito, um estado de coisas?Classificam informaes? Ou ser que elas narram eventos,processos? Mostram aes?

    3.2 Contexto do texto Leitura perifrica/superficial do texto verbal (Skimming)Normalmente em uma aula de leitura em lngua estrangeira, a entrada

    no texto verbal se d por meio da estratgia de leitura perifrica/superficial(skimming), sem detalhamento da gramtica. possvel observar parescognatos no texto, tais como Hepatitis-Hepatite, contagious-contagioso,contaminated-contaminado, doctor-doutor, foundation international-fundao internacional, e as nfases de cor (vermelho) e volume (negrito).

    O objetivo comunicativo desse texto8 fazer campanha de alerta aopblico em geral contra a hepatite A, em vista das nfases na chamada/nottulo do texto (virus em maiscula e fundo vermelho), no olho do texto(Hepatitis A, contagious, contaminated food or water em negrito) e naassinatura (See your doctor about hepatitis A), onde se vem vrios elementoscognatos. A ausncia da identificao da mensagem do recebedor-alvo porsintagmas nominais9 tambm sugere uma campanha pblica: pode ser8 Foi impossvel precisar de que revista impressa esse texto foi retirado por falta deindicao na pgina (o texto impresso foi trazido para o banco de textos de materialdidtico do LABLER-Laboratrio de Pesquisa e Ensino de Leitura e Redao, da UniversidadeFederal de Santa Maria, em 1998, por Marlia Appel de Mattos Bortoluzzi, ento aluna doCurso de Letras dessa universidade. Imagino que a fonte seja um nmero de 1998 darevista Newsweek ou Time).9 Embora o fato de haver uma mulher na imagem possa sugerir que o pblico alvo sejaprincipalmente a mulher ou at as mes, j que se fala em your family.

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    qualquer pessoa (referncia exofrica pelo pronome you), ausncia deidentificao de qualquer produto a ser vendido, o que, do contrrio,poderiase configurar como anncio publicitrio, e pelas expresses informais ecoloquiais que explicam termos menos comuns: jaundice (yellow skin andeyes).

    Nesse ponto, trs tarefas analticas principais so consideradas: 1)Construo da Atividade (anlise das atividades que esto em andamento,compostas por aes especficas), 2) Construo de Identidades e Relaes(anlise dos papis e das relaes sociais relevantes para a interao, juntocom as atitudes, os valores, os modos de sentir, de conhecer e de crer, osmodos de agir e interagir concomitantes) e 3) Construo de Mundo (verintroduo da seo 3).

    As atividades em andamento so compostas por aes especficas deinformao sobre como e onde se d o contgio (foto e mapa) e a soluopara o problema (See your doctor about hepatitis A). Os papis de leitor eautor so de leigo e experto (doctor) e as relaes sociais so assimtricas o autor d ordens ao leitor (See your doctor).

    As atitudes, os valores, os modos de sentir e de crer dizem respeito construo de mundo. O texto no-verbal (foto e mapa) e o texto verbaldessas partes enfatizadas e da assinatura identificam quem escreve e queml, quem interage por meio do texto: uma organizao mdica escreve paraalertar turistas que viajam aos trpicos de frias acerca da Hepatite A, umadoena contagiosa, que pode ser contrada em pases/continentes abaixodo Equador, os quais tm baixos padres de higiene. Isso consideradocomo realidade, os pases so concretos e a doena provvel nesse espao(em vermelho no mapa) e num tempo permanente (note a ausncia demodalizadores, como por exemplo, sometimes ou in some countries),portanto com valor de verdade absoluta, levando a crer que a comida ou agua est sempre contaminada em todos esses pases.

    O texto no-verbal e as caractersticas visuais de cor e volume daschamadas no texto verbal possibilitam ao leitor iniciar a construo dosentido antes mesmo da leitura do texto verbal. Perguntas sobre o contextodo texto podem ser:

    1. possvel situar onde, quando e por quem o texto foi escrito? Deonde o texto foi extrado?

    2. possvel identificar o objetivo comunicativo do texto? possvelnomear o gnero do texto? Que elementos ajudam naidentificao?

    3. Quem interage por meio do texto nesse gnero? Quem sero os

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    provveis leitores? Por qu?4. Qual o provvel campo semntico recoberto pelo texto? Sobre

    que tema tratar o texto?

    3.3 Texto no-verbal, lxico-gramtica e estrutura textualAntes do exame detalhado da gramtica do texto, a atividade de leitura

    superficial estendida ao texto verbal. Nesse caso, as pores verbais maisem evidncia na pgina so a chamada e o olho do texto, respectivamente:

    O lxico no olho do texto refora o campo semntico sugerido pelasimagens: Hepatite A, doena de fgado altamente contagiosa, de fcilcontgio, por comida ou gua infectada. O processo reportado contrair eo sugerido ingerir (food and water). Como quem assina o texto umainstituio da rea mdica, pressupe-se que quem pode contrair a doenae ingerir comida contaminada o leitor, construdo como uma pessoadesinformada, alegre e despreocupada, precisando do alerta.

    Na anlise desse texto (Tabela 1 em Anexo), os elementos em posiotemtica tornam-se especialmente significativos ao sugerir odesenvolvimento do argumento:

    a) In certain parts of the world, hepatitis A virus is rampant.b) When you travel to those high-risk areas (shown in red on

    the map below*), you can pick up the virus from contaminatedfood, water or an infected waiter or chef.

    c) It can be picked up very easily... even at the best hotels andresorts and its virtually beyond your control.

    d) Hepatitis A can cause vomiting, abdominal pain, diarrhea, fever,nausea and jaundice (yellow skin and eyes).

    e) But as bad as those symptoms might be, they can make youfeel even worse:

    f) You can pass hepatitis A along to your family and friends beforeyou even know you have it.

    g) Not only can hepatitis A make you very sick, it can also put

    Figura 4 Chamada e olho do texto

  • Para ligar a teoria prtica | 257

    you out of commission for a month or longer.h) Up to one fifth of adults who contract hepatitis A require

    hospitalization... and some will die.i) Why risk it?j) Hepatitis A can be prevented.k) In fact, the U.S. Centers for Disease Control and Prevention

    recommends immunization for travelers to intermediate- andhigh-risk areas.

    l) A vaccination in advance of your trip is the best way to protectyourself against the hepatitis A virus.

    m) If youre planning your vacation, now is the time to ask yourdoctor or health-care provider about getting immunized againsthepatitis A.

    Os segmentos em posio temtica sugerem uma estrutura textualbsica de Problema-Soluo (Hoey, 1983), com as seguintes funes (verHendges neste volume):

    Situao-Problema (1-4) Em certas partes do mundo, quando vocchega, surge a Hepatite A (o leitor j sabe que uma doena dofgado, causada por vrus);

    Avaliao (5-10) Ter sintomas horrveis no tudo na Hepatite A,voc tambm se torna um agente da doena. O texto o interpela:por que passar por tudo isso?

    Soluo (11-12) Soluo no texto: o rgo governamental quecontrola e previne doenas nos Estados Unidos est atuando, aHepatite um problema de sade pblica que pode ser combatidocom uma vacina;

    Avaliao (13-14) A soluo (a vacinao antes da viagem) avaliadapositivamente e o problema se resolve (condio para voc viajarsem ter uma doena horrorosa).

    Se o leitor sair do seu pas (na Amrica do Norte ou Europa), tornar-se- uma vtima ingnua de uma doena agressiva e mortal, a no ser quetome uma vacina especial antes (Condio: If youre planning your vacation).

    Essa entrada no texto pela leitura superficial (skimming) normalmente seguida da estratgia de leitura de elementos especficos dotexto (scanning). Nesse caso, examina-se o texto no nvel da orao,enfocando as escolhas lxico-gramaticais na sua dimenso discursiva.

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    Leitura de informaes especficas do texto (Scanning)Usualmente a identificao dos participantes do texto se d com base

    nos sintagmas nominais que os identificam, no entanto, os participantesdesse texto no so identificados claramente. A vacina no referida porsubstantivos prprios, portanto, a marca no identificada. H umaassinatura da Fundao Internacional de Hepatite ao final, que situa a autoria,e um tempo de referncia (nesse caso, 1997).

    O dialogismo sugerido no texto pela seqncia injuntiva (Marcuschi,2002:25), em que o autor interpela o leitor por uma pergunta, por uma ordeme pelo pronome you (Why risk it? See your doctor about hepatitis). Essainterpelao aproxima espacial e temporalmente leitor e autor, sem que seperca o tom de impessoalidade, autoridade e assimetria da relao experto/leigo. A meno a um rgo do governo (US centers for desease control andprevention), por exemplo, invoca autoridade para garantir que seja dadaimportncia ao problema e que a vacinao ocorra. Tudo sugere umacampanha de sade de interesse pblico para prevenir doenas e no umanncio publicitrio para vender um produto.

    Outra caracterstica lingstica que refora essa idia seu carteracentuadamente descritivo. Uma notcia, por exemplo, caracteristicamentenarrativa um relato de acontecimentos que demanda o encadeamentodos vrios eventos narrados, identificando presente (o estado de coisas) epassado. O texto em questo expressa verdades permanentes e absolutas,pois o tempo verbal o presente. Das duas nicas modalizaes verbais,uma refora a certeza das declaraes will die e apenas uma (may vary)possibilita a heteroglossia (a existncia de uma opinio dissonante).

    Assim como no nvel da estrutura textual, tambm no nvel da orao,a posio temtica significativa, uma vez que as estruturas lingsticasso escolhidas para essa posio para reforar a mesma idia j sugeridana imagem, na chamada e no olho do texto. possvel identificar uma relaoentre os participantes: vtima e algoz. At a sentena 10, a posio inicialdas oraes normalmente ocupada pelo Ator-Atacante: o temvel vrus. ele o agente de aes materiais (que criam ou alteram as situaes) (causavmito, etc...), ele o portador de atributo de agressividade (rampant),numa metfora com animais furiosos.

    A vtima s Ator, e assim mesmo vtima ou receptor, quando pega ovrus (you can pick up the virus), passa a doena (You can pass hepatitis Aalong to your family and friends) ou sofre seus efeitos malignos, sentindo-sedoente, requerendo hospitalizao ou morrendo.

    Os processos (as aes expressas pelos sintagmas verbais), os

  • Para ligar a teoria prtica | 259

    participantes (sintagmas nominais) e as circunstncias (sintagmasadverbiais) reforam o campo semntico e a carga avaliativa/ideolgica jdelineada para o texto na anlise at aqui.

    Os verbos materiais sugerem uma transformao negativa de umestado de coisas boas (travel) em uma tragdia mortal (die): o vrus violento(rampant) transforma (make) o turista feliz (travel) em um doente (pick upthe virus; put you out of comission; cause vomiting, etc.) que pode contaminarentes queridos (pass hepatitis A along to your family and friends). Ovocabulrio tem carga emocional e por isso mais argumentativo, apelapara sentimentos de terror e amor.

    As oraes materiais so realizadas de maneira multimodal:lingisticamente, pelos processos materiais, na chamada principal She justpicked up a virus, e visualmente pelo vetor formado pelo brao da mulher(Ator), guiando o alimento no garfo (Meta) em direo boca, numaestrutura narrativa (Kress & van Leeuwen, 1996:57). A multimodalidadetambm usada nos processos relacionais identificatrios, emrepresentaes conceituais classificatrias (Kress & van Leeuwen, 1996:81-83), realizadas mais ou menos explicitamente pela coordenao de cores:uma turista caucasiana, saudvel, portadora de atributos como o cabeloamarelo (louro) e culos amarelos, se classifica como membro da regioamarela no mapa, considerada de baixo risco.

    O texto passa a valores positivos s depois que a vacina mencionada,pelos processos materiais prevented e protect e pelo processo verbalrecommends. Em relao a essa mudana de polaridade, interessantenotar que h apenas trs oraes na voz passiva, com verbos materiais, queesto colocadas em pontos significativos do texto. Na polaridade negativa,a passiva usada para demonstrar que a turista est indefesa, pois ela noprecisa agir para contrair o vrus, j que ele contrado sem atuao de umsujeito-ator (It can be picked up very easily, Hepatitis A, a highly contagiousliver disease, can be easily picked up from contaminated food or water).Para enfatizar a mudana para polaridade positiva, o vrus, que antes eraincontrolvel (rampant), tinha o poder de determinar os sentimentos doleitor/turista (they can make you feel even worse), suas aes (You can passhepatitis A along to your family and friends), seu estado geral de sade eseu trabalho (Not only can hepatitis A make you very sick, it can also put youout of commission for a month or longer), agora dcil e pode ser prevenidopor qualquer um em quaisquer condies (Hepatitis A can be prevented)pelo poder da soluo ofertada (vaccination).

    Esse mesmo padro de passagem do negativo ao positivo expresso

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    pelos processos relacionais, que estabelecem classificao ou identificao,e pelos processos mentais, que expressam sensaes e pensamentos, poratributos da doena, expressos por um adjetivo ou um sintagma hiperblico(the virus/it is rampant, virtually beyond your control) ou do turista (you feeleven worse, very sick, have it [the virus]), vtima indefesa.

    Os processos mentais know e plan e verbais recommends, ask e see(consultar) pressupem uma relao entre uma entidade ignorante e outrasapiente, reforando a idia da turista desavisada e ingnua expressa naimagem, pois nem percebe os riscos que corre (before you even know youhave it).

    Esse perfil do leitor reforado nas duas primeiras sentenas quetm, em posio temtica, circunstncias de lugar e de tempo. Aps serensinado sobre o que a doena (no olho do texto), o leigo aprende ascondies de onde se pode contra-la (In certain parts of the world, shown inred on the map below*) e quando (before you even know you have it, Whenyou travel to those high-risk areas), em suma, em situaes ensolaradas, delazer no mar, em roupas de banho e com alimentao no-industrializada.Estabelece-se uma rede de referncia anafrica, por meio de elementosditicos como those (pronome) e below (advrbio), para fazer a identificaoentre dois contextos: aquele em que o vrus agressivo (In certain parts ofthe world) e aquele para onde o turista planeja viajar (When you travel tothose high-risk areas (shown in red on the map below*).

    Na escolha do lxico para expressar as circunstncias de modo, hdois eixos: o modo fcil e despercebido como se pode pegar o vrus (fromcontaminated food, water or an infected waiter or chef - very easily, peloqual voc no estar a salvo em lugar algum... nem mesmo nos melhoreshotis!) e o modo deplorvel como a turista ficar depois de infectada (asbad as those symptoms might be - out of commission for a month or longer).

    A anlise da lxico-gramtica e da estrutura do texto, por ser rica eenfocar todos os planos da linguagem (Figura 1), envolve todas as tarefasanalticas de Gee (2000), da Construo Semitica Construo Poltica(anlise da natureza e relevncia de vrios bens sociais em um contextoespecfico), passando pela Construo de Conexes (anlise daspressuposies sobre o modo como o passado, o futuro e o presente deuma interao lingstica relacionam-se entre si).

    Essa Anlise Crtica de Gnero constri significados a partir deelementos do texto no-verbal, da lxico-gramtica e da estrutura textualpor meio de perguntas como:

  • Para ligar a teoria prtica | 261

    1. Qual o princpio de encadeamento das sentenas? Qual aestrutura textual bsica?

    2. Que elemento est em posio inicial/final em cada orao? Hexpresses que sinalizam a organizao do texto (tema/rema,conjunes coordenadas/subordinadas)? Os conectores usadospara ligar as oraes expressam adio/oposio/causa/conseqncia?

    3. Sobre o que o texto? Qual o campo semntico recoberto? Ovocabulrio mais emocional/objetivo, mais descritivo/argumentativo?

    4. Que aes so representadas no texto? Que processos sodescritos pelos verbos e sintagmas verbais?

    5. H verbos de ao que sugerem processos materiais (fazer/pegar)? Ou processos mentais (sentir/relembrar)? Verbais (dizer/declarar)? H processos relacionais que classificam ou identificamentidades (ser/ter)? Ou ainda, h processos que expressamexistncia (haver) ou comportamentos associados a funes docorpo e dos sentidos (rir/ouvir)?

    6. Quem so os participantes das aes representadas (sintagmasnominais)? Qual a relao entre eles (chefe-empregado, artista-crtico, mdico-paciente, governo-cidado, vendedor-cliente,etc...? Que verbos, substantivos, pronomes e adjetivos soassociados a cada participante para projetar identidades? Assentenas esto na voz passiva ou ativa? Os agentes das aesso explicitamente nomeados no texto?

    7. Qual o tom utilizado pelo autor? Simetria ou assimetria (leigo-leigo ou experto-leigo), amizade, impessoalidade, informalidade,formalidade, etc.? H mais expresses informais/coloquiais ouformais?

    8. Que elementos interdiscursivos esto no texto? H elementos parasimular conversa, autopromoo, qualidades pessoais,propaganda, discurso religioso, educacional, governamental,poltico-partidrio, racista, etc.

    9. Que substantivos e adjetivos so associados s circunstnciasem que as aes ocorrem?

    10. O autor faz auto-referncia ou referncia ao leitor? Por meio deque palavras?

    11. Que tempo(s) verbal(ais) (so) usado(s)? H modalizao verbal,nominal ou adverbial? De que tipo (epistmica/dentica)?

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    12. possvel identificar a carga ideolgica do vocabulrio?

    3.4 Prticas sociais Reflexo aps a leitura (Ps-Leitura)A partir de nossos esquemas sobre a vida na sociedade civil, possvel

    identificarmos um texto relativo prtica de campanha governamental desade pblica. Nesse caso, temos um construto intersubjetivo sobre ocontedo semntico, o objetivo, a estrutura textual, as relaes e os papisprevistos para leitor, autor e sobre o contexto em que esse texto faz sentido.Ele esclarece um tema de interesse geral dos cidados que pagam impostos,no h uma relao direta com a compra e a venda de bens de consumo daempresa privada, invocada a autoridade de algum rgo pblico da reada sade, h um produto envolvido (a vacina), mas no h tentativa defirmar a marca na memria do consumidor ao nomear o produto vriasvezes. Pode-se dizer que a prtica social envolvida aqui no de compra evenda de bens e servios. Pelo menos, no de maneira explcita.

    H intertextualidade com o discurso mdico bem como elementosque invocam o discurso reconhecidamente situado no mbito do discursogovernamental. Elementos de autopromoo relativos a um grupo ou objetoespecfico no esto explcitos. No entanto, a Fundao Internacional deHepatite tem sua autoridade promovida pelos Centers for Disease Controland Prevention, um dos maiores componentes operacionais do Departmentof Health and Human Services norte-americano (http://www.cdc.gov/about/organization/cio.htm), como garantia de um produto: a vacina. As posiessociais expressas so de experto (autor/rgo pblico) e leigo (leitor/cidado).

    Ao final do texto, no entanto, aparece, em letras de tamanho mnimo,informaes relevantes, MMWR. December 27, 1996. Vol. 45, p. 7, quedizem respeito a um relatrio publicado em 27 de dezembro de 1996, nonmero 45(RR15), nas pginas 1-30, do MMWR (Morbidity and MortalityWeekly Report), relatrio semanal publicado pelos Centers for DiseaseControl and Prevention. O referido relatrio, intitulado Prevention of HepatitisA Through Active or Passive Immunization: Recommendations of the AdvisoryCommittee on Immunization Practices, recomenda o uso de uma vacinalicenciada poca, com os nomes de HAVRIX, fabricada pela indstriaSmithKline Beecham Biologicals, e VAQTA, manufaturada pela indstriaMerck & Company, Inc.:

    This report provides recommendations for use of the newly licensed

  • Para ligar a teoria prtica | 263

    hepatitis A vaccines (HAVRIX, manufactured by SmithKline BeechamBiologicals, and VAQTA, manufactured by Merck & Company, Inc.) inpersons greater than or equal to 2 years of age and updates previousrecommendations for use of immune globulin (IG) for protectionagainst hepatitis A (superseding MMWR 1990;39{No.RR-2}:1-5).(Disponvel em http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/00048084.htm. Acessado em 15/11/2006.)

    Esse um fato interessante, pois o mapa extrado desse relatrio,portanto, o discurso e, por sua vez, a ideologia da diferena uma aopoltica no nvel governamental. H elementos de discurso exortativo e decomodificao no texto, como expresses de avaliao positiva (the U.S.Centers for Disease Control and Prevention recommends immunization, Avaccination in advance of your trip is the best way to protect yourself) sobreos produtos HAVRIX e VAQTA, embora eles estejam apenas identificadosintertextualmente via consulta a outro texto (o relatrio do MMWR). Otexto parece uma campanha de sade pblica, mas desempenhaefetivamente a funo de anncio publicitrio.

    Este parece ser um exemplo de colonizao do discurso publicitriopelo governamental, uma comodificao s avessas. Segundo Fairclough(1992b:207), comodificao o processo de organizao e definio dosdomnios e instituies sociais em termos de produo, distribuio econsumo de bens e mercadorias (objetivo comunicacional de promover umproduto junto ao consumidor). No anncio-campanha analisado aqui, ocorreo inverso: o domnio privado (as marcas Smith-Kline e Merck via FundaoInternacional de Hepatite), caracterizado pela produo, distribuio econsumo de bens e mercadorias de servios e vacinas (com o objetivocomunicacional de promover um produto junto ao consumidor), colonizadopor princpios do discurso pblico, cujo interesse o avano e o bem-estarda sociedade civil em benefcio de todos os seus membros. O discursoempresarial se disfara de discurso governamental.

    importante ressaltar que o texto construdo a partir de certosmodelos culturais que projetam e reforam o discurso da diferena. ParaGee (2000:58-60), modelos culturais so pressupostos, compartilhados porpessoas pertencentes a grupos sociais ou culturais especficos, acerca doque apropriado, tpico e/ou normal, como conjuntos de imagens ou teoriasinterconectadas sobre o mundo. A imagem, o mapa e o texto verbal doanncio-campanha projetam uma teoria tcita acerca de como o mundo

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    ou deve ser em termos das condies de vida da populao mundial.Os debates e as oposies entre discursos latentes evidenciam-se ao

    longo de todo o texto, pelas escolhas lxico-gramaticais, pela estruturaoe pelo tom da linguagem. Os substantivos e adjetivos associados scircunstncias em que as aes ocorrem indicam um discurso de diferenaentre hemisfrio norte e sul, relaes entre cultura hegemnica (comidaprocessada industrialmente, restaurantes enquadrados em critriosconsagrados) e perifrica (comida fresca, restaurantes desconsiderados noranking mundial), entre um vrus perverso e um turista/leitor inocente, entreum turismo seguro e um turismo arriscado. O fato de as zonas em vermelhoestarem representadas assim naturalizado, parece condio inerente evoluo natural, e no uma condio resultante de um processo histricoem nvel mundial, de uma interao econmica, social e poltica predadora.

    Na sala de aula, uma reflexo que leve o aluno a inscrever o texto e asi mesmo como leitor em uma rede de relaes mais amplas, em nvelnacional e internacional, s pode ser considerada como educativa e benfica.Perguntas que podem oportunizar essa reflexo so:

    1. H elementos de discurso exortativo ou de comodificao notexto? H expresses de avaliao positiva, de descrio devantagens ou qualidades, de exortao, etc.?

    2. H elementos de autopromoo relativos a grupos, pessoas ouobjetos especficos? Quais?

    3. H elementos intertextuais, por exemplo, que invocam discursosreconhecidamente situados em outro contexto de tempo ou deespao como o discurso poltico ou religioso?

    4. Quais so os pontos de vista apresentados no texto sobre oassunto? Com que objetivo?

    Os elementos no-verbais (imagem e mapa) e verbais (participantes,processos e circunstncias) projetam identidades para cada participante.Essas identidades constituem um enquadre ideolgico: a doena maligna,as reas perigosas (todas pobres, s vezes iletradas, no-ocidentais, semi-industrializadas, pr-capitalistas) e o turista ingnuo. preciso, no entanto,desnaturalizar esse discurso, fazendo duas perguntas importantes: H outrasmaneiras para se escrever sobre esse mesmo assunto? Que outros textos/pontos de vista conheo sobre o mesmo tema?

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    4 ConclusoEssas perguntas funcionam como um roteiro de discusso na sala de

    aula e contribuem para a formao de um leitor crtico. Evidentemente osucesso dessa discusso depende do desenvolvimento de habilidades dequestionamento, de curiosidade epistemolgica, conforme Paulo Freire(2002) nomeia a criticidade necessria quele que se questiona e buscanovas possibilidades.

    O exerccio do debate em sala de aula permite que enxerguemos otexto como um todo significativo: as marcas grficas no papel, os sentidosexplcitos e implcitos dessas marcas, o significado social desses sentidos, otodo que une linguagem e significado (Freire, 1996). Habilidades quecombinam aptides inter-relacionadas e de ordens diversas (de lxico-gramtica, semntica, pragmtica, registro, gnero, discurso, da ideologia).

    Os conhecimentos de ordens diversas (competncia lingstica, textual,discursiva e estratgica) interagem na construo dos sentidos do texto, daconscincia do aluno sobre si e os outros, da conscincia da pluralidade dediscursos e possibilidades de organizao do universo em relao culturaletrada. Ler criticamente compreender a determinao scio-histricada interao escritor-texto-leitor-sociedade e depende da reflexividade,da capacidade de usar o conhecimento sobre as prticas discursivas e sobrea vida social para transform-las (Chouliaraki & Fairclough, 1999:15). Nessecaso, a sala de aula deve ensejar a investigao, reflexo e explicitaosobre como as prticas discursivas e as prticas sociais funcionam. Afinal,como Hasan bem sintetiza: I have an idea that there is a continuity fromthe living of life on the one hand right down to the morpheme on the other.10

    O objetivo deste trabalho foi propor uma abordagem de ensino deleitura crtica, lingisticamente orientada, que demonstre as aplicaes dateoria. A LSF oferece importantes contribuies ao ensino de ILE aopossibilitar-nos identificar elementos da linguagem e explorar sua forma,seu contedo e sua funo. Esse enquadre terico fornece tambm umaabordagem ao texto no-verbal, na forma de uma gramtica visual, quepossibilita a explorao e a anlise sistemticas dos sentidos do texto.

    Referncias bibliogrficasBAKHTIN, M. M. (1986). Speech genres and other late essays. Austin, TX:

    10 Eu tenho a impresso de que h uma continuidade desde a vivncia da vida, por umlado, at o morfema, por outro. Declarao de Ruqaiya Hasan, quando lhe pediram pararefletir sobre o que motivava seu trabalho lingstico, mencionada em Cloran, Butt &Williams (1996:1).

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    ANEXO

    Tabela 1 Anlise da Metafuno Ideacional do texto Hepatitis A virus

    11 Elementos marcados em negrito e itlico so da Metafuno Interpessoal (Relao).12 Ator em segundo plano (Backgrounding) para van Leeuwen (1996:39) diz respeito aum Ator que no mencionado em oraes na voz passiva, mas cujo referente o leitorpode recuperar pela leitura de outras partes do texto, como neste caso, em que o Ator o leitor (voc).

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    13 Conforme Martin, Matthiessen & Painter (1997:120:3.5:iii).

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