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MOTORISTA PROFISSIONAL

ASPECTOS DA LEI N. 12.619/2012

TRABALHISTA E DE TRÂNSITO

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DIRETORIA EFETIVA

Omar José GomesPresidente

Braulino Sena Leite1º Vice-Presidente

Edson Dias de Araújo2º Vice-Presidente

Jaime Bueno AguiarSecretário Geral

Valdir de Souza PestanaSecretário Geral Adjunto

Geraldo Abílio MeirelesSecretário de Finanças

Elizeu Manuel SezerinoSecretário de Finanças Adjunto

Olmir Justino FêoSecretário de Educação Sindical e Cultura

Patrício Cristino de MagalhãesSecretário de Educação Sindical e Cultura Adjunto

José Theodoro Guimarães da SilvaSecretário de Relações Internacionais

João José de BorbaSecretário de Relações Internacionais Adjunto

Manoel Farias RodriguesSecretário de Imprensa e Comunicação

Antônio de Freitas TristãoSecretário de Imprensa e Comunicação Adjunto

Luiz Gonçalves da CostaSecretário de Educação Ambiental

Jair Padilha dos SantosSecretário de Educação Ambiental Adjunto

Lourival VieiraSec. de Negociações Coletivas e Jurídico Samir José SilvaSec. de Negociações Coletivas e Jurídico Adjunto

DIRETORIA SUPLENTES

Eliaquim Damacena FelisbertoSebastião José da SilvaJosé Ilton Marçal PereiraJosé Célio de Alvarenga Francisco Demontier LeiteJosé Carlos Melo dos AnjosAntonio da Costa MirandaAlberto Magno BorgesGilberto Godoy BoeiraEdna Ribeiro BezerraSandor Alves da SilveiraAntonio Alves FilhoDorival Souza da SilvaLourival Formiga de SousaOlimpio Mainardes Filho

CONSELHO FISCAL

Inácio José de CarvalhoJosé Inácio Lopes de JesusJosé Maia da Silva

CONSELHO FISCAL

José Aparecido Biazon José Rodrigues da CostaNatalício Ferreira Alves

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORESEM TRANSPORTES TERRESTRES — CNTTT

SBS — EDIFÍCIOS SEGURADORAS 11ª ANDAR — BRASÍLIA — DF — BRASILCEP: 70093-900 — FONE/FAX (61)3224-5011

www.cnttt.org.br — [email protected]

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MOTORISTA PROFISSIONAL

ASPECTOS DA LEI N. 12.619/2012

TRABALHISTA E DE TRÂNSITO

ANDRÉ PASSOSEDÉSIO PASSOS

SANDRO LUNARDorganizadores

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R

EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-001São Paulo, SP — BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.br

Projeto de capa: RENATO OLIVEIRA D’PROSPERO Impressão: HR GRÁFICA E EDITORA

Novembro, 2013

Todos os direitos reservados

Índice para catálogo sistemático:

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

da legislação trabalhista e de trânsito / [organizadores] André Passos, Edésio Passos, Sandro Lunard. — São Paulo : LTr, 2013.

Vários autores.Conteúdo: Legislação — Jurisprudência — Questões de concurso

sindical

1. Direito do trabalho 2. Direito do trabalho — Legislação — Brasil

trabalho 5. Trânsito — Leis e legislação — Brasil I. Passos, André. II. Passos, Edésio. III. Lunard, Sandro.

13-12430 CDU-34:331

Direito do trabalho 34:331

Versão impressa - LTr 4925.8 - ISBN 978-85-361-2757-6Versão digital - LTr 7672.6 - ISBN 978-85-361-2787-3

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SUMÁRIO

Apresentação — Dar a cada um o que necessita .................................................. 11

Prefácio ......................................................................................................................... 13

ASPECTOS TRABALHISTAS DA LEI DO MOTORISTA

I) Normatização do ato de dirigir por trabalhador subordinado ...................... 25 Edésio Franco PassosAndré Franco de Oliveira PassosSandro Lunard Nicoladeli

Introdução .................................................................................................................... 25

1. Aspectos histórico-jurídicos do ato de dirigir e transportar ............................. 26

2. Elementos pretéritos à normatização do motorista profissional: aspectos legislativos e jurisprudenciais ............................................................................... 28

3. Aspectos da normatização do ato de dirigir por trabalhador subordinado — Lei n. 12.619/2012 .................................................................................................... 33

3.1. A violência intolerável aos limites da jornada dos motoristas e sua judi-cialização............................................................................................................ 34

3.2. A iniciativa legislativa para regulação estatal da atividade de motorista ...... 35

3.3. Normatização do trabalho na condução de veículos .................................. 36

3.4. Definição da categoria profissional (art. 1º) ................................................. 36

3.5. Direitos de cidadania dos trabalhadores motoristas (art. 2º e 9º) ............. 37

3.5.1. Formas de controle da jornada (art. 2º, V) ......................................... 40

3.6. Tutela das condições de labor do motorista profissional (art. 3º — art. 235-B)..... 43

3.7. Proteção da jornada de trabalho, do tempo de direção e descanso do motorista profissional (arts. 235-C a 235-H) ................................................. 46

3.7.1. Fixação da jornada e sua prorrogação por norma coletiva (art. 235-C) .... 47

3.7.2. Tempo de espera e forma de remuneração (art. 235-C, § 8º; art. 235-D e art. 235-E, §§ 4º e 5º) ..................................................................................... 49

3.7.3. Intervalo intra e interjonada (§ 3º do art. 235-C) ....................................... 51

3.7.4. Jornada noturna (§ 5º do art. 235-C) ............................................................ 52

3.7.5. Sistema de compensação de jornada subordinado a pactuacão coleti-va. (art. 235-C § 6º) ........................................................................................... 53

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3.8. Jornada de trabalho, intervalo e repouso nas viagens de longa distância (arts. 235-D e 235-E) ......................................................................................... 55

3.8.1. Viagens de Longa Distância/VLD e seus intervalos na jornada (art. 235-D) ....................................................................................................... 55

3.8.2. Intervalo intrajornada — interrupções do ato de dirigir — tempo de descanso ao volante (inc. I do art. 235-D) ...................................... 55

3.8.3. Intervalo intrajornada para refeição e repouso (inc. II do art. 235-D) .... 563.8.4. As formas do exercício do intervalo interjornada e da folga semanal

do motorista (inc. III do art. 235-D; art. 235-E) ................................... 563.9. Negociação coletiva e a excepcionalidade da jornada 12x36 (art. 235-F e

art. 235-H) .......................................................................................................... 623.10. Vedação de remuneração por comissionamento (Art. 235-G) ................. 64 3.11. Fracionamento do intervalo intrajornada (art. 71, § 5º da CLT) .............. 653.12. Jurisprudência correlata ................................................................................ 66

4. Conclusão ................................................................................................................. 68

II) Abordagem holística sobre nova regulamentação da profissão do motorista (Lei n. 12619/2102) ................................................................................................................. 73Paulo Douglas Almeida de Moraes

1. Introdução ................................................................................................................ 732. Disposições Gerais da Lei (arts. 1º e 2º, da lei) .................................................... 75

2.1. Alcance subjetivo da norma (art. 1º, da lei) .................................................. 752.2. Direito dos motoristas profissionais empregados ao controle de jornada

e do tempo de direção (art. 2º, V da lei) ........................................................ 762.2.1. Consequências práticas da diferença conceitual entre jornada e tempo

de direção ................................................................................................. 772.2.2. Responsável pelo controle da jornada e do tempo de direção ........ 77

2.2.2.1. Da corresponsabilidade dos beneficiários dos serviços pres-tados pelo motorista profissional para com o controle do tempo de direção ........................................................................ 78

2.2.3. Meios de controle ................................................................................... 803. Inovações na CLT (arts. 3º e 4º da lei) ................................................................... 83

3.1. Deveres dos motoristas profissionais e novas modalidades de infrações disciplinares (art. 235-B, CLT) ....................................................................... 83

3.2. Regras atinentes à Jornada de Trabalho (arts. 235-C e 235-F, CLT) .......... 853.2.1. Identificação dos limites de jornada (art. 235-C e 235-F, CLT) ........ 85

3.2.1.1. Da inconstitucionalidade do 235-F, CLT (jornada “12 x 36”) ... 86

3.2.2. Tempo computado como jornada de trabalho (art. 235-C, § 2º, CLT) .. 88

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3.2.3. “Tempo de espera” (art. 235-C, § 8º c/c art. 235-E, §§ 4º e 5º, CLT) ....... 893.2.3.1. Remuneração do “tempo de espera” (art. 235-C, § 9º, CLT) ..... 903.2.3.2. Considerações finais acerca do “tempo de espera” (art. 235-C,

§ 9º, CLT) ..................................................................................... 913.2.4. Tempo de descanso ou “intervalo de direção” (art. 235-D, I da CLT

e art. 67-A, 1º do CTB) .......................................................................... 913.2.5. “Tempo de reserva” (art. 235-E, §§ 6º e 7º, CLT) ............................... 92

3.3. Disposições especiais no caso de Viagem de Longa Distância (arts. 235-D e 235-E, CLT) ................................................................................................. 933.3.1. O Descanso Semanal Remunerado nas viagens de Longa Distân-

cia (art. 235-E, § 1º, CLT) ........................................................................ 943.3.2. Ocorrência de força maior nas viagens de Longa Distância (art.

235-E, CLT) .............................................................................................. 953.4. Restrições às modalidades de remuneração prejudiciais ao controle da

jornada (art. 235-G, CLT) ................................................................................. 953.4.1. Intangibilidade contratual e alteração da modalidade de remu-

neração ............................................................................................. 963.5. Delegação à norma coletiva para regulação de jornadas especiais (art.

235-H, CLT) ....................................................................................................... 973.6. Fracionamento do intervalo intrajornada (art. 71, § 5º, CLT) .................... 983.7. Instrumento coletivo aplicável ao empregador com atividade em várias

localidades ......................................................................................................... 1014. Aplicabilidade Transversal das Normas Regulamentadoras do MTE ao

Meio Ambiente Laboral dos Motoristas (art. 9º da lei) ...................................... 1015. Considerações Finais .............................................................................................. 105

III) Controle da jornada de trabalho e tempo de direção dos motoristas profissionais. A realidade vivenciada justificadora da adoção de medidas urgentes ........................................................................................................................ 108Gláucio Araújo de Oliveira

1. Considerações iniciais ............................................................................................ 108

2. Da atuação do MPT. Projeto jornada legal ......................................................... 109

3. Do papel das transportadoras e motoristas profissionais empregados .......... 110

4. Os profissionais autônomos .................................................................................. 111

5. Os embarcadores ou contratante dos serviços de transportes ......................... 112

6. Dos resultados preliminares .................................................................................. 112

7. Dos meios de controle ............................................................................................ 113

8. Considerações finais ............................................................................................... 114

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IV) Enquadramento sindical e destinatários da Lei n. 12.619/12 (com referên-cias à nova regulamentação do Ministério do Trabalho e Emprego sobre o registro das entidades sindicais — Portaria MTE n. 326, de 1º.3.2013) ............ 116Paulo Ricardo Pozzolo

Introdução .................................................................................................................... 116

1. Enquadramento sindical ........................................................................................ 117

1.1. Conceito e previsão legal ................................................................................ 117

1.2. Princípio da unicidade sindical e o enquadramento previsto nos arts. 511 e 570 a 577 da CLT ..................................................................................... 119

1.3. Categorias e enquadramento sindical ........................................................... 123

2. Destinatários da Lei n. 12.619/12........................................................................... 135

2.1. Abrangência da Lei n. 12.619/12 .................................................................... 135

2.2. O motorista profissional empregado: uma categoria diferenciada .......... 143

2.3. O enquadramento dos motoristas profissionais que trabalham em área rural .................................................................................................................... 148

V) A Lei n. 12.619/2012 e o motorista urbano — Negociações coletivas — Fra-cionamento do intervalo ........................................................................................... 157Daniel Dias de Moura

1. Introdução ................................................................................................................ 157

2. O transporte coletivo urbano de passageiros e as condições de trabalho dos operadores ................................................................................................................ 158

3. Breves considerações acerca da normatização do intervalo intrajornada ..... 160

4. O papel e os limites da negociação coletiva frente à Lei n. 12.619/2012 .......... 164

5. Conclusão ................................................................................................................. 168

VI) Lei n. 12.619 — Motorista profissional e o Código de Trânsito .................. 171Marcelo Araújo

Legislação e Jurisprudência ..................................................................................... 175

Anexos .......................................................................................................................... 175

Anexo I — Lei n. 12.619/2012, de 30 de abril de 2012 ............................................ 175

Anexo I (A) — Resolução n. 405 do CONTRAN, de 12 de junho de 2012 .......... 181

Anexo II — Convenção 153 da OIT — sobre horas de trabalho e períodos de descanso (transporte rodoviário), 1979 .................................................................... 185

Anexo III — Recomendação 161 da OIT, (transporte rodoviário), 1979 ............. 190

Anexo IV — Código Brasileiro de Ocupações/CBO ............................................ 195

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Anexo V — Petição inicial da ação civil pública, aforada pelo Ministério Públi-co do Trabalho buscando o controle de jornada dos motoristas .......................... 196

Anexo VI — Repertório de recomendações práticas sobre a proteção dos da-dos pessoais dos trabalhadores. (Conferência da OIT, 1997) ................................ 224

Anexo VII — Convenção Coletiva de Trabalho 2012/2013 — Sindicato dos Tra-balhadores Rodoviários de Londrina x Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de Ponta Grossa .......................................................................................... 230

Anexo VIII — Jurisprudência complementar ......................................................... 235

Anexo VIII-1 — Jurisprudência contendo matéria de direito sindical/categoria diferenciada/motorista. .............................................................................................. 243

Anexo IX — Questões de concurso público — Matéria sindical — Lei do mo-torista — Categoria diferenciada .............................................................................. 259

Anexo X — Portaria n. 326 do Ministério do Trabalho e Emprego — Registro sindical. Portaria n. 326, de 1º de março de 2013 ................................................... 272

Anexo XI — Questionário apresentado aos motoristas ........................................ 285

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APRESENTAÇÃO

DAR A CADA UM O QUE NECESSITA

Edésio Passos

“O Direito, que, na fase de predomínio do liberal individualismo, subordinava a ordem jurídica exclusivamente na tutela do patrimônio,

garantindo a cada um o que lhe pertencia, passou a ter como fundamento correlato o trabalho. E intervindo nas relações de trabalho, ao estatuir

normas de caráter cogente, procura evitar que da desigualdade econômica dos contratantes resulte um estado de exploração do mais fraco pelo mais poderoso. Por isto mesmo, tendo como escopo a Justiça Social, deve a Lei

assegurar o direito de viver com dignidade, não se limitando a “dar a cada um o que lhe pertença”, mas, na medida em que a ordem social permitir, a

“dar a cada um o que necessita”

(Arnaldo Süssekind. Comentários à CLT, agosto de 1959).

Evaristo de Moraes Filho ensina que a origem da palavra trabalho “é as-sunto discutido e obscuro até hoje”. Indica algumas origens etmológicas, das quais prefere “tripaliare-trapaliare”(torturar com tripalium, máquina de três pontas), a concepção de trabalho ligada a um esforço, cansaço, pena. Desta origem condicionando o trabalho a um castigo e uma submissão do fraco ao forte, o homem buscou o trabalho livre, criativo, atividade humana de trans-formação social e espiritual.

As leis que protegem o trabalho têm esse sentido. As mudanças ocorridas nos sistemas produtivos apontam para uma grande contradição: enquanto o homem consegue o domínio da técnica e da natureza para poder produzir em larga escala e libertar-se do trabalho como castigo, a apropriação da riqueza produzida e dos meios de produzí-la por grupos oligopolizados ocasionou fenômeno inverso, ou seja, a utilização cada vez em maior escala do trabalho degradado ou da subutilização do trabalho humano, substituído pela máqui-na, informática, telecomunicação e microeletrônica.

Gradativamente o mundo se inclina entre os que trabalham sob os mais variados modos e meios e são remunerados em maior ou menor escala, e

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os que trabalham eventualmente ou sequer trabalham, e se colocam dentro do mapa da exclusão, fome e desesperança, pavimentando o caminho da barbárie.

O Direito do Trabalho nasce e evolui dentro desta realidade e seu cará-ter historicamente tutelar quer a garantia do trabalho livre. Trata, com suas normas, de atender às novas realidades.

Por isso, a Lei n. 12.619/2012 é, ao mesmo tempo, fim e começo. Fim por-que significa vitória dos trabalhadores, especialmente dos rodoviários, em conseguir fixar normas protetivas de largo alcance. Começo porque indica a necessidade de persistir a luta para interpretar e aplicar a norma e avançar ainda mais.

Quando a Consolidação das Leis do Trabalho completa seus setenta anos de difícil e acidentada caminhada, a lei dos motoristas — como é sim-plesmente denominada — vem confirmar o conceito fundamental do estatuto celetista: proteger-disciplinando, libertar-limitando.

É uma lei ao mesmo tempo simples e complexa. Simples, porque atinge o centro da controvérsia do trabalho do rodoviário: o controle e a proteção de sua jornada. Complexa, porque esmiúça importantes aspectos da expressão laborativa.

Assim, no livro procura-se cercar — com nomes de referência jurídica expressiva nos campos da Advocacia, da Magistratura e do Ministério Pù-blico — todas as possíveis questões interpretativas, as nascidas da realidade do dia-a-dia, as que se fixam nos Juízos Monocráticos e Tribunais, as que se projetam no poder de fiscalização das Promotorias Públicas, até mesmos aquelas que habitam os debates dos empregados e empregadores nas ques-tões coletivas.

É um trabalho inicial de doutrina, de conjugação teórico-prática, de ex-plicitação jurisprudencial, de vertentes possíveis que possam abrir caminhos para se tentar atingir o que desejava Süssekind — “permitir a dar a cada um o que necessita”.

Mas, em verdade, apenas rascunhar o que possa contribuir para o en-tendimento e a aplicação da Lei em destinação à nossa sociedade plural, na certeza de que muitos outros agregarão melhores e mais profundos estudos.

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PREFÁCIO

Costuma-se dizer que o Brasil é um continente, um país de dimensões continentais. Lembramos sempre que se não fossem os portugueses nos colo-nizarem, se não fossem os nossos ancestrais, preocupados com a geografia do Brasil, não teríamos as fronteiras que possuímos hoje.

Para o bem (e também para o mal!) temos uma área de 8.514.876 km2 de extensão (somos o quinto maior país do mundo em território).

Em primeiro de julho de 2013, conforme o Diário Oficial da União (de 29.08), o Brasil tinha uma população estimada em 201.032.714 habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nessa publicação informa-se que a cidade de São Paulo possui a maior população do país: 11,8 milhões (número maior que o de 22 Estados e do Distrito Federal). Serra da Saudade, em Minas Gerais, por outro lado, é a cidade menos populosa do Brasil, com 325 habitantes(1).

A Pesquisa CNT de Rodovias, realizada pela Confederação Nacional de Transportes, em sua 17ª edição, de 2013, relata que, no Brasil, as rodovias respondem por 62% da movimentação de cargas e 90% da movimentação de passageiros(2).

Em outro importante aspecto da pesquisa na malha federal pavimenta-da e principais rodovias estaduais, num total de 96.714 km, constata-se que 63,8% desse montante contém algum tipo de deficiência no pavimento, na sinalização e na geometria da via.

Constatou também a pesquisa que existem 250 pontos críticos, vale di-zer, situações que trazem graves riscos à segurança dos usuários, como ero-sões na pista, buracos grandes, quedas de barreira ou pontes caídas.

Por esses dados verifica-se a importância da recente Lei n. 12.619, de 30 de abril de 2012, que regulamentou a profissão de motorista. Essa lei abrange os “motoristas profissionais de veículos automotores”, para cuja condução se exija formação profissional e que exerçam atividade mediante vínculo empregatício no transporte rodoviário de passageiros e de cargas (parágrafo único do art. 1º).

(1) População brasileira ultrapassa a marca de 200 milhões, diz IBGE. Disponível em: População brasileira ultrapassa a marca de 200 milhões, diz IBGE. Disponível em: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/08/populacao-brasileira-ultrapassa-marca-de-200-milhoes--diz-ibge.html. Acesso em: 4.nov.2013.(2) Confederação Nacional do Transporte. Disponível em: Confederação Nacional do Transporte. Disponível em: http://www.cnt.org.br/Paginas/Pes-quisas_Detalhes.aspx?p=3. Acesso em: 4.nov.2013.

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Não encontrei os números demonstrativos da quantidade de motoristas de veículos automotores que efetuam transporte rodoviário de passageiros e de cargas no Brasil. Localizei, no entanto, a informação (de 2012) de que “faltam 50 mil motoristas de ônibus e caminhões no País”(3). Segundo uma pesquisa realizada nesse mesmo ano, analisando mais de duas mil profissões, “os motoristas de ônibus são os mais desfavorecidos no País”. O estudo, ba-seado em vagas anunciadas no site de busca de empregos Adzuna, leva em conta critérios como potencial financeiro, ambiente de trabalho, competitivi-dade e demanda de mercado. Segundo o portal, esses profissionais recebem em média R$ 20 mil por ano, lidam com prazos apertados, baixo potencial de aumento de salário e uma longa jornada de trabalho(4).

Merecem destaque alguns pontos da lei pelo alto impacto que passaram a causar nas relações entre trabalhadores motoristas e empresas de transporte rodoviário:

a) ficam proibidas remunerações aos motoristas condicionadas à distância percorrida, ao tempo de viagem e à quantidade de produtos transportados;

b) a lei estabelece intervalo mínimo de uma hora para as refeições;

c) todos os motoristas têm garantido acesso gratuito a programas de for-mação e aperfeiçoamento profissional;

d) o motorista profissional é obrigado a manter-se atento às condições de segurança do veículo e a conduzir com perícia, prudência e zelo, respeitando os tempos mínimos de descanso;

e) os profissionais são obrigados a se submeter a testes e programas de controle do uso de drogas e bebidas alcoólicas estabelecidos pelo empregador.

O livro que se tem a satisfação de prefaciar apresenta seis importantes artigos, cada um destacando aspectos importantes da nova lei.

O primeiro texto, denominado “Normatização do ato de dirigir por trabalhador subordinado”, foi escrito por Edésio Franco Passos, André Franco de Oliveira Passos e Sandro Lunard Nicoladeli. Os autores são experientes Advogados na área do Direito do Trabalho, individual e coletivo, acostumados a lidar com causas envolvendo motoristas empregados. Dividem o estudo em quatro tópicos: a) os aspectos histórico-jurídicos do ato de dirigir e transportar;

(3) Faltam 50 mil motoristas de ônibus e caminhões em todo o país. Disponível em: Faltam 50 mil motoristas de ônibus e caminhões em todo o país. Disponível em: http://blogpontodeonibus.wordpress.com/2012/07/03/faltam-50-mil-motoristas-de-onibus-e-cami-nhoes-em-todo-o-pais/. Acesso em: 4.nov.2013.(4) Pesquisa indica piores empregos no Brasil: motoristas de ônibus lideram. Disponível em: � Pesquisa indica piores empregos no Brasil: motoristas de ônibus lideram. Disponível em: � http://www.bahianoticias.com.br/principal/noticia/143496-pesquisa-indica-piores-empregos--no-brasil-motoristas-de-onibus-lideram.html>. Acesso em: 4.nov.2013.

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b) elementos pretéritos à normatização do motorista profissional: aspectos legislativos e jurisprudenciais; c) aspectos da normatização do ato de dirigir por trabalhador subordinado – Lei n. 12.619/2012; d) conclusão. Afirmam os autores que, para implementar e aprimorar os direitos consolidados pela nova lei, devem atuar conjuntamente de forma sinérgica os trabalhadores, os sindicatos, a sociedade brasileira e as representações patronais e de trabalhadores. Os trabalhadores fazendo exigir e cumprir a legislação nos locais de trabalho. Os sindicatos atuando no sentido de construir pautas reivindicatórias lastreadas nessas conquistas. A sociedade brasileira para pressionar os órgãos do governo com o objetivo de obter maior fiscalização das condições de trabalho nas rodovias. As representações patronais e de trabalhadores na busca pela implementação dos locais para estacionamentos de veículos e até de alojamentos para descanso nos terminais de carga e de passageiros, de embarque e desembarque e ao longo das rodovias em todo o País. O texto se encerra com a crença na melhoria da condição de vida dos trabalhadores, especialmente no alcance da “cidadania obreira rodoviária”, superando-se e/ou reduzindo-se as “agressões à vida, família e saúde dos trabalhadores rodoviários de nosso País”.

O segundo artigo, sob o título “Abordagem holística sobre nova regulamentação da profissão do motorista” foi escrito por Paulo Douglas Almeida de Moraes. O autor é Procurador do Trabalho da 24ª Região e coautor da Ação Civil Pública que deu origem ao debate que redundou na edição da Lei n. 12.619/2012. Em síntese, a abordagem se dá através dos seguintes itens: a) introdução; b) disposições gerais da lei (arts. 1º e 2º); c) inovações na CLT (arts. 3º e 4º); d) aplicabilidade transversal das Normas Regulamentadoras do MTE ao meio ambiente laboral dos motoristas (art. 9º); e) considerações finais. Um detalhe importante de análise volta-se ao registro da inconstitucionalidade do art. 235-F da CLT (jornada 12 x 36). Segundo o autor, nesse dispositivo o legislador conferiu efetivo poder derrogatório às convenções e acordos coletivos sobre a Constituição, pois estabeleceu “abstratamente limite de 12 (doze) horas diárias de trabalho, em frontal violação ao limite constitucional diário de 8 (oito) horas estabelecido pelo art. 7º, XIII, da CF”. Assinala também, que, como está redigido, o § 5º do art. 71 da CLT, permitindo o fracionamento do intervalo intrajornada, mostra-se claramente inconstitucional. A norma ordinária passa a legitimar violação direta aos bens jurídicos protegidos constitucionalmente, “permitindo a nefasta combinação entre o fracionamento do intervalo intrajornada, manutenção do atual módulo de oito horas de jornada, com a possibilidade da sua prorrogação”. Importantes avanços, no entanto, vislumbra o doutrinador, com a plena e adequada aplicação da lei: a) resguardar a dignidade, a saúde e a vida de milhões de motoristas profissionais, bem como de toda a sociedade

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enquanto usuária das rodovias brasileiras; b) efeito extremamente positivo sobre a demanda da mão de obra do motorista, “pois a regularização do quadrou atual de desumana sobrejornada implicará, inexoravelmente, na necessidade de formação e contratação de milhares desses profissionais”.

O terceiro artigo intitula-se “Controle da jornada de trabalho e tempo de direção dos motoristas profissionais. A realidade vivenciada justificadora da adoção de medidas urgentes”, escrito por Gláucio Araújo de Oliveira, Procurador do Trabalho lotado na Procuradoria-Regional do Trabalho da 9ª Região. Abordam-se oito itens no texto: a) considerações iniciais; b) da atuação do MPT. Projeto jornada legal; c) do papel das transportadoras e motoristas profissionais empregados; d) os profissionais autônomos; e) os embarcadores ou contratantes dos serviços de transportes; f) dos resultados preliminares; g) dos meios de controle; h) considerações finais. Segundo a dicção do trabalho, “a sociedade brasileira não tolera mais o desrespeito às normas legais, causado por aqueles que atuam no segmento do transporte rodoviário de cargas, motivado por meros interesses econômicos”. Chama a atenção dos motoristas profissionais, das empresas de transporte e dos embarcadores. Quanto aos motoristas profissionais, espera que possam assimilar as novas regras trabalhistas que estabelecem novos contornos no que diz respeito aos limites de jornada de trabalho, seus respectivos intervalos e tempo de direção e “venham a colaborar com as autoridades no cumprimento de importante diploma legal”. Realça o papel fundamental das empresas de transporte rodoviário de cargas, “exigindo a mudança comportamental de seus empregados, sob pena de sofrer sanções nas mais diversas esferas administrativas judiciais”. Quanto aos embarcadores, “a adoção de políticas contratuais que se distanciem das novas regras”, além de representar concorrência desleal, “acarretará a aplicação de medidas coercitivas por parte das autoridades competentes”. Conforme assinala ao final do seu texto, “o interesse comercial de todos que atuam no segmento do transporte rodoviário de cargas e passageiros jamais poderá se sobrepor ao interesse coletivo e social”.

O quarto artigo, escrito por Paulo Ricardo Pozzolo, denomina-se “Enquadramento sindical e destinatários da Lei n. 12.619/12 (com referência à nova regulamentação do Ministério do Trabalho e Emprego sobre o registro das entidades sindicais — Portaria MTE n. 326, de 1º.03.2013)”. O autor é Desembargador do Trabalho junto ao Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região. O seu texto divide-se em duas partes: a) enquadramento sindical; b) destinatários da Lei n. 12.619/12. Em seu estudo, alerta sobre uma apressada leitura que poderia conduzir à errônea conclusão de que a lei tem por objeto “apenas” os empregados que realizam transporte de passageiros ou de carga. O propósito dessa lei não foi apenas regulamentar o trabalho dos motoristas

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empregados, “mas o de impor normas de conduta a todos os motoristas profissionais”. Na ementa da lei, onde dispõe o seu objeto, consta que trata do “exercício da profissão de motorista”, ofício cuja execução não se restringe aos moldes do arts. 2º e 3º da CLT. Desse modo, a lei se estende a todos os motoristas profissionais, autônomos ou empregados, embora seja evidente que “a parte reservada à alteração da CLT se destine apenas a estes últimos”. Outra importante análise dirige-se ao entendimento de que a locução “rodoviário” serve apenas para definir a espécie de condução veicular atingida pela lei, vale dizer, condução em rodovias, o que exclui a condução em outras espécies de vias, como ferrovia, hidrovia, etc., mas não para distinguir o local em que o motorista rodoviário conduz o veículo automotor (vias públicas, urbanas ou rurais), muito menos para excluir a urbe de sua abrangência. Por outro lado, nem todo condutor é alcançado pela lei, mas somente aquele que dirige veículo automotor e que, para tal mister, necessite possuir formação profissional. Desse modo, excetuam-se todas as atividades de equipamentos não motorizados e também “de equipamentos motorizados cuja direção não reclame formação profissional”. Aos motociclistas aplica-se igualmente a nova lei, quando efetuam o transporte de pessoas (mototáxi) ou quando realizam o transporte de cargas (documentos, mercadorias, alimentos, etc.). Esse enquadramento ocorre porque atuam em rodovias, avenidas, ruas, etc., e “gerem veículo automotor cuja condução exige formação profissional”. Se os motoristas profissionais constituem “categoria específica e diferenciadas das demais”, então a lei deve ser aplicada indistintamente a todos eles, “ainda que inseridos em atividades econômicas que não compreendam a realização de transporte rodoviário”. Assevera, ainda, o autor, que em relação aos motoristas que trabalham no âmbito rural e sejam contratados por empregador rural, “integram categoria diferenciada porque sua profissão e condições de trabalho se destacam das inerentes aos demais empregados que atuam nesse meio”.

O quinto artigo, redigido por Daniel Dias de Moura, advogado especialista em Direito Coletivo do Trabalho e Sindical de Minas Gerais, denomina-se “A Lei n. 12.619/2012 e o motorista urbano — negociações coletivas — fracionamento do intervalo”. O trabalho divide-se em cinco itens: a) introdução; b) o transporte coletivo urbano de passageiros e as condições de trabalho dos operadores; c) breves considerações acerca da normatização do intervalo intrajornada; d) o papel e os limites da negociação coletiva frente a Lei n. 12.619/2012; e) conclusão. Registra o articulista a luta pela regulamentação dessa profissão, travada há várias décadas. Assevera que somente a partir da iniciativa do Ministério Público do Trabalho, que intentou a Ação Civil Pública perante a Justiça do Trabalho de Rondonópolis, no Estado do Mato Grosso, é que desencadeou-se, de fato, “o processo que originou a lei regulamentadora da atividade dos motoristas profissionais”. Descartou a nova lei a possibilidade de fixação, no instrumento normativo, de intervalo

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intrajornada inferior ao previsto no caput do art. 71 da CLT. A soma dos intervalos menores e fracionados, “concedidos ao final de cada viagem, deve ser o equivalente a uma hora de descanso, sob pena de ser desconsiderada a norma coletiva”. Aplica-se, em princípio, a regra geral prevista no caput e § 1º do art. 71 aos operadores de transporte. Em virtude da natureza do serviço e das condições de trabalho, porém, faculta-se aos empregados e empregadores instituir, por negociação coletiva, regras sobre o fracionamento do referido intervalo, devendo, “para a validade dessa norma, serem observados os requisitos previstos no § 5º do art. 71 da CLT”. A polêmica sobre a validade dessas normas (que flexibilizam o intervalo mínimo para refeição e descanso dos operadores de transporte coletivo de passageiros, previsto no caput do art. 71 da CLT) certamente será objeto de intensos debates. Isso enquanto “não houver a redução da jornada de trabalho para seis horas diárias, pois nela o intervalo será de quinze minutos”. O custo dessa adequação, segundo o autor do texto, “será menor do que aquele que hoje pagamos os empregados, os empregadores e a sociedade”.

O último artigo do livro, de número 6, tem por título “Lei n. 12.619 — motorista profissional e o Código de Trânsito. O autor é Marcelo Araújo, advogado e professor de Direito de Trânsito. Um dos aspectos que chamou a atenção do articulista refere-se às formas de controle de tempo de trabalho e intervalo ou descanso. O texto original do Projeto de Lei estabelecia a redação de um art. 67-B no Código de Trânsito, prevendo o controle desses períodos por anotação “em diário de bordo, papeleta, ficha de trabalho ou ainda pelo tacógrafo, e previa como infração grave a falta de quaisquer dessas formas de controle”. Esse dispositivo restou vetado, no entanto, porque esses documentos não seriam confiáveis e criariam “dificuldades para a fiscalização, até por serem manuais”. A Resolução n. 405 do CONTRAN, surpreendentemente, no art. 2º previu exatamente as mesmas formas de controle que tinham sido vetadas. O artigo vetado, ainda, previa uma infração pela ausência dessas formas de controle. O CONTRAN os institui sem prever, contudo, a infração pela falta. Desse modo, os tais diários, papeletas, etc., “não são documentos de porte obrigatório para fins de trânsito”. A única conclusão possível a esse respeito, portanto, é que “caso o tacógrafo esteja ausente ou ineficaz, a infração será por esse motivo, não sendo possível o controle da jornada”.

O livro incorpora anexos importantes para a compreensão do tema. A íntegra da Lei n. 12.619, de 30.04.2012; a Resolução n. 405 de 12.06.2012 do CONTRAN; a parte do Código Brasileiro de Ocupações – CBO referente aos motoristas e a Portaria n. 326, de 01.03.2013, do Ministério do Trabalho e Emprego, que trata do Registro Sindical; da Organização Internacional do Trabalho – OIT, a Convenção n. 153, de 1979, que trata das horas de trabalho e períodos de trabalho (transporte rodoviário); a Recomendação n. 161, de

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1979, que trata do transporte rodoviário; o Repertório de recomendações práticas sobre a proteção dos dados pessoais dos trabalhadores (Conferência de 1977). Junta-se a íntegra da petição inicial da Ação Civil Pública aforada pelo Ministério Público do Trabalho buscando o controle de jornada dos motoristas e também a Convenção Coletiva de Trabalho 2012/2013 firmada pelo Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Londrina e Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de Ponta Grossa. Apresenta-se ainda uma relação de decisões judiciais denominada jurisprudência complementar e jurisprudência contendo matéria de Direito Sindical/categoria diferenciada/motorista. Por derradeiro, anexam-se questões de concurso público que tratam de matéria sindical, lei do motorista, categoria diferenciada, e um questionário apresentado aos motoristas.

Ao resumir especialistas na área da Advocacia, do Ministério Público e da Magistratura, este livro consegue analisar todas (ou quase todas) as parti-cularidades apresentadas pela Lei n. 12.619/2012, que trata do motorista pro-fissional.

Duas importantes questões penso que poderiam ser mencionadas, ante suas consequências imediatamente práticas. A primeira delas refere-se ao impacto do inciso VII do art. 235-A, que considera como dever do motorista profissional “submeter-se a teste e a programa de controle de uso de droga e de bebida alcoólica, instituído pelo empregador, com ampla ciência do em-pregado”. O parágrafo único considera infração disciplinar, passível de pena-lização “nos termos da lei” a recusa do empregado em submeter-se ao teste e ao programa de controle de uso de droga e de bebida alcoólica previstos no inciso VII.

Ao comentar esse dispositivo, no texto “Normatização do ato de dirigir por trabalho subordinado”, Edésio Franco Passos, André Franco de Oliveira Passos e Sandro Lunard Nicoladeli asseveram que o “o exercício desse direito pelo empregador deve estar imerso numa profunda reconstrução jurídico--social de respeito aos direitos humanos do motorista profissional”. Alertam, ainda, para a necessidade de fiscalização pelo Estado, “bem como mitigada por intervenções sindicais que preservem ou minimizem a invasão patronal na intimidade do empregado”.

Ivan Alemão, em comentários à lei, sobre essa norma específica, conside-ra salutar a iniciativa, mas pondera que “esse controle não deveria depender apenas do empregador, mas também de outros órgãos públicos e do próprio grupo profissional por meio de sua corporação”(5).

(5) ALEM�O, Ivan. Comentários à lei do motorista (Lei n. 12.619 de 30.04.2012. ALEM�O, Ivan. Comentários à lei do motorista (Lei n. 12.619 de 30.04.2012. Revista O Trabalho. Encarte 183, maio 2012. Curitiba: Editora Decisório Trabalhista, maio 2012. N. 183. (p. 6.675-6698). p. 6.681.

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Marcelo Rodrigues Prata, em artigo sobre o tema, defende que a norma “sirva de estímulo à concertação social”, ou seja, ao entendimento entre os sindicatos dos empregados e os dos empregadores para que o Diploma em comento possa ser aperfeiçoado com “a criação de programas inteligentes de prevenção de consumo de álcool e tóxico, com a garantia da confidencialidade dos resultados dos testes” e da participação dos trabalhadores e de seus familiares, bem assim com “a garantia de emprego àqueles que realmente se empenhem em controlar o seu problema de dependência química, que tanto mal traz à nossa sociedade”(6).

A segunda das questões diz respeito a considerar (ou não) o motorista como trabalhador externo e, ante a suposta impossibilidade do controle de jornada, vedar-lhe o direito ao recebimento das horas extras. Dois acórdãos recentes dão uma bela resposta a esse questionamento. O primeiro deles diz: “O advento da Lei n. 12.619, de 30.4.12, apenas veio referendar o reconheci-. 12.619, de 30.4.12, apenas veio referendar o reconheci- 12.619, de 30.4.12, apenas veio referendar o reconheci-mento dos sistemas eletrônicos de controle de trajeto como legítimos para identificar a jornada do motorista”(7).

O segundo deles registra: “A Lei n. 12.619/12 não alterou as circunstân-. 12.619/12 não alterou as circunstân- 12.619/12 não alterou as circunstân-cias fáticas em que estão inseridos os empregados motoristas, nem modificou suas condições de trabalho, mas apenas se conheceu de forma expressa (e agora inegável) uma realidade anterior: a circunstância de que a atividade por eles prestada está, sim, sujeita a controle de jornada pelo empregador, estendendo-lhes as consequências jurídicas daí advindas (pagamento de ho-ras extras)”(8).

O motorista profissional, aquele que está habilitado a exercer essa ati-vidade, foi contemplado com uma lei que avança e traz inúmeros aspectos positivos.

Um dos paradoxos em nosso país é que os veículos automotores cons-tituem-se hoje em receptáculos do melhor avanço tecnológico e eletrônico possível. Para dirigir alguns veículos é preciso ter conhecimento de infor-mática. Entretanto nossas estradas, por onde circulam esses veículos sofisti-cados, encontram-se em situação precária em grande parte de sua extensão, por todo o país. Como se adiantou, no entanto, grande parte do transporte de passageiros e de carga em nosso país ainda é (e será por muito tempo) por meio de rodovias.

(6) PRATA, Marcelo Rodrigues. Teste e programa de controle de uso de droga e de bebida alco- PRATA, Marcelo Rodrigues. Teste e programa de controle de uso de droga e de bebida alco-ólica para os motoristas profissionais: constitucionalidade da Lei n. 12.619/2012. Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3260, 4jun. 2012 . Disponível em: �http://jus.com.br/artigos/21924>. Acesso em: 4 nov. 2013.(7) S�O PAULO. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. 4ª Turma. 0192.9006.120085020062- S�O PAULO. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. 4ª Turma. 0192.9006.120085020062- Relator Ricardo Artur Costa e Trigueiros, DJESP 24.08.2012.(8) PARANÁ. Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região. 1389-2011-671-09-00-9 – Rel. Des. PARANÁ. Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região. 1389-2011-671-09-00-9 – Rel. Des. Paulo Ricardo Pozzolo, DJE/PR 26.10.2012.

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Com certeza a lei, por si só, embora grande conquista, não é suficiente para melhorar as condições de transporte no Brasil. A sociedade precisa mobilizar-se para que seja elencada entre as prioridade do País a melhoria das rodovias (federais, estaduais e municipais).

Curitiba, 04 de novembro de 2013.

Luiz Eduardo Gunther

Desembargador do Trabalho do TRT da 9ª RegiãoProfessor do Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBAMembro na Academia Nacional de Direito do Trabalho e do

Instituto Histórico e Geográfico do Paraná

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ASPECTOS TRABALHISTAS DA LEI DO MOTORISTA

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INORMATIZAÇÃO DO ATO DE

DIRIGIR POR TRABALHADOR SUBORDINADO

Edésio Franco Passos(*)

André Franco de Oliveira Passos(**)

Sandro Lunard Nicoladeli(***)

INTRODUÇÃO

Objetivo do presente trabalho é analisar aspectos político-jurídicos inseridas na nova dinâmica das relações de trabalho instituída pela Lei n. 12.619/2012.

Para tanto, os capítulos foram organizados de forma a apresentar o nas-cimento da atividade profissional expresso no ato de transportar pessoas e, posteriormente na condução de veículos, seu desenvolvimento consolidadeo, inicialmente numa lógica de sonegação de direitos.

Os elementos normativos do ato de dirigir por trabalhador subordinado serão tratados a partir do histórico que antecedeu a lei, para, posteriomente dissecar os elementos e institutos jurídicos criados para a tutela do trabalho do motorista profissional. Dentro da premissa fundamental e essencial do es-pírito desta lei, qual seja, o controle da jornada, tempo de direção e descanso do motorista, inclusive nas viagens de longa distância.

(*) Advogado trabalhista, foi deputado federal na legislatura 91/94, atualmente exerce o cargo de diretor administrativo da Itaipu Binacional. É autor de diversos artigos e obras na área de Direito do Trabalho.(**) Advogado trabalhista, especialista em Direito Coletivo do Trabalho. Foi vereador em Curitiba/PR. Sócio do escritório PASSOS & LUNARD — advogados associados. Profissional especializado na atuação perante os tribunais regionais e superiores, Ministério Público do Trabalho e Ministério do Trabalho. Coordenador de coletivos jurídicos de entidades sindicais. email: [email protected](***) Advogado trabalhista e consultor de entidades sindicais. Sócio do escritório PASSOS & LUNARD — advogados associados. Professor e vice-coordenador do Núcleo de Prática Jurídica da UFPR, mestre e doutorando na mesma instituição. Especialista em normas internacionais pela OIT e em relações de trabalho pela Universidade de Castilla-La Mancha/ESPANHA. email: [email protected]

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A partir da edição da Lei n. 12.619/2012 (ANEXO I), o Estado brasileiro disciplina e normatiza, introduzindo o capítulo I do Título II da CLT, visando regular a jornada de trabalho e o tempo de direção do motorista profissional dentre outras definições de políticas públicas, além das alterações no Código de Trânsito Brasileiro.

Enfim, o texto normativo busca albergar todos aqueles que executam tarefas na condução de veículos, sejam na qualidade de empregados subordi-nados, sejam na condição de trabalhadores autônomos.

1. ASPECTOS HISTÓRICO-JURÍDICOS DO ATO DE DIRIGIR E TRANSPORTAR

No Brasil, dada a sua peculiar forma de desenvolvimento sócio-econô-mico(1), o surgimento e o progresso da atividade do transporte de cargas e pessoas, se deu, inicialmente, pelo trabalho de escravos, posteriormente, pelo trabalho dos tropeiros.

No século XX, ou seja, no desenvolvime mais tardio do capitalismo bra-sileiro, implementou-se, derivado do crescente processo de urbanização, o transporte urbano e interurbano de forma mais contundente.

Dessa maneira, o processo de transporte executado, inicialmente por tração humana (escravo) paulatinamente é substituído por carroças com tra-cionamento executado por animais, assim há o atenuamento e até a completa extinção do trabalho escravo nessa atividade(2).

Nos primórdios do transporte no Brasil era executado pela serpentina: “meio de transporte de famílias abastadas do princípio do século XIX.(3)“, mas que fora precedido pela forma mais rudimentar, ou seja, o transporte em re-des, retratado, sobretudo, na imortalizada gravura de Debret.

(1) Colônia de Portugal e recebendo contingentes de escravos para a exploração econômica, notadamente com a transferência da nobreza portuguesa.(2) FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado e desenvolvimento do urbano. 16. ed. São Paulo: Global, 2006. p. 622.(3) Disponível em: �http://www.museudantu.org.br/QBrasil.htm>. Acesso em: 25 de novem-bro de 2012.

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Tela de Jean Baptiste Debret“Voyages au Brésil: Retour d’ um proprietaire” (1846-1831)

O desenvolvimento das atividades de transporte urbano no Brasil ocor-re de forma concentrada, por óbvio, na cidade do Rio de Janeiro, decorrente da vinda da Corte Imperial (1808)(4).

Posteriormente, a cidade de São Paulo, proveniente do seu rápido inci-sivo desenvolvimento econômico, comportou intensiva construção de malha viária iniciada na metade final do séc. XIX, aprofundando-se a partir do início do séc. XX(5).

Por conseguinte, estruturados os dois grandes centros urbanos bra-sileiros — Rio de Janeiro e São Paulo — necessitava-se de investimento na implementação dos sistemas viários de transporte coletivo. Surgiram, então, as primeiras linhas de bondes na cidade do Rio de Janeiro (1838), partindo do Centro para Botafogo, Engenho Velho e São Cristóvão, então sucedidas pelas “Gôndolas Fluminenses”(6). A partir do início do séc. XX (décadas de 20 e 30) emerge a atividade do condutor de veículos especializada, a partir da intro-dução dos bondes elétricos nas referidas cidades.

Inobstante a articulação urbana do transporte relatada até agora, o apro-fundamento do adensamento urbano, resultado do crescimento populacional, derivou na criação das primeiras rotas urbanas e interurbanas, utilizando-se os primeiros ônibus movidos a combustível(7).

(4) Disponível em: �http://www.museudantu.org.br/QBrasil.htm>. Consultado em: 25.11.2012.(5) REIS, Nestor Goulart. Memória do transporte rodoviário. São Paulo: CPA, 1997. (6) Disponível em: �http://www.museudantu.org.br/QBrasil.htm>. Consultado em: 25.11.2012.(7) Idem.

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Do ponto de vista legislativo, somente em 1910 — Decreto n. 8.324 — torna-se realidade, a primeira regulação do setor de transporte, autorizadora do regulamento para o serviço subvencionado de transportes de passageiros ou mercadorias, por meio de automóveis industriais, ligando dois ou mais Estados da União ou dentro de um só estado.

Sucederam-se o Decreto n. 18.323/1928 criador da “Polícia de Estradas” definidor das regras de trânsito rodoviário e o Decreto n. 19.038/1929 — pro-mulgador da convenção internacional (Paris/1926) relativa à circulação de automóveis.

Somente em 1941, com o Decreto-lei n. 2.994 — é instituído o primei-ro Código Nacional de Trânsito, posteriormente alterado pelo Decreto-lei n. 3.651, essa codificação foi superada pela Lei n. 5.108/66.

Por fim, mais recentemente, o Código de Trânsito Brasileiro/CTB — Lei n. 9.503/97 — estabeleceu as premissas para o acesso a habilitação ao exercí-cio da profissão de motorista contidas no CTB, arts. 145 e 146 do CTB(8).

Com o advento da lei, os motoristas profissionais, têm direitos garan-tidos como os demais trabalhadores em transportes, tais como: ferroviários (art. 236 e ss. da CLT); aquaviários (art. 248 e ss. da CLT e Lei n. 9.537/97) e os empregados em serviço aeronáutico (Lei n. 7.183/84), contando com regula-mento profissional específico.

2. ELEMENTOS PRETÉRITOS À NORMATIZAÇÃO DO MOTORISTA PROFISSIONAL: ASPECTOS LEGISLATIVOS E JURISPRUDENCIAIS

No ramo específico dos trabalhadores em transporte rodoviário, a normatização da atividade profissional, deu-se, inicialmente, a partir da defi-nição da atividade do Transportador Autônomo de Cargas (TAC).

(8) Brasil. Lei n. 9.503/97. Código de Trânsito Brasileiro. Art. 145. Para habilitar-se nas catego-rias D e E ou para conduzir veículo de transporte coletivo de passageiros, de escolares, de emergência ou de produto perigoso, o candidato deverá preencher os seguintes requisitos:I — ser maior de vinte e um anos;II — estar habilitado:a) no mínimo há dois anos na categoria B, ou no mínimo há um ano na categoria C, quando pretender habilitar-se na categoria D; eb) no mínimo há um ano na categoria C, quando pretender habilitar-se na categoria E;III — não ter cometido nenhuma infração grave ou gravíssima ou ser reincidente em infrações médias durante os últimos doze meses;IV — ser aprovado em curso especializado e em curso de treinamento de prática veicular em situação de risco, nos termos da normatização do CONTRAN.Art. 146. Para conduzir veículos de outra categoria o condutor deverá realizar exames comple-mentares exigidos para habilitação na categoria pretendida.

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O trabalhador rodoviário autônomo presta serviços, na modalidade de contrato de prestação de serviços de natureza comercial, junto a Empresa de Transporte Rodoviário de Cargas (ETC) — Lei n. 11.442/2007:

“Art. 2º A atividade econômica de que trata o art. 1º desta Lei é de natureza comercial, exercida por pessoa física ou jurídica em regime de livre concorrência, e depende de prévia inscrição do interessado em sua exploração no Registro Nacional de Transportadores Ro-doviários de Cargas — RNTR-C da Agência Nacional de Transportes Terrestres — ANTT, nas seguintes categorias: I — Transportador Autônomo de Cargas — TAC, pessoa física que tenha no transporte rodoviário de cargas a sua atividade profissional; II — Empresa de Transporte Rodoviário de Cargas — ETC, pessoa jurídica constituída por qualquer forma prevista em lei que tenha no transporte rodoviário de cargas a sua atividade principal (9)”.

Trata-se de lei, de caráter nitidamente protetivo para as empresas, com o fito de afastar qualquer possibilidade de se enquadrar trabalhadores nos contornos da relação de emprego.

Já os trabalhadores motociclistas conquistaram sua regulação normativa com a edição da Lei n. 12.009/2009:

“Art. 1º Esta Lei regulamenta o exercício das atividades dos profissionais em transpor-tes de passageiros, “mototaxista”, em entrega de mercadorias e em serviço comunitário de rua, e “motoboy”, com o uso de motocicleta, dispõe sobre regras de segurança dos serviços de transporte remunerado de mercadorias em motocicletas e motonetas — moto-frete —, estabelece regras gerais para a regulação deste serviço e dá outras providências(10)”.

Definitivamente, somente no ano de 2012, os condutores de veículos ro-doviários típicos (ônibus, caminhões e demais veículos) conquistaram sua regulamentação profissional, por meio da Lei n. 12.619/2012.

No plano internacional, muito embora ainda não ratificada pelo Brasil, a Convenção 153 da OIT (anexo II) complementada pela Recomendação 161 da OIT (anexo III), tratam de um conjunto de requisitos e limites legais para o exercício da profissão de motorista, que autoriza traçar comparações quanto à eficácia, pertinência e adequação da Lei n. 12.619/2012, aproveitando-se o necessário paralelismo aos critérios estabelecidos internacionalmente para o exercício da profissão.

O Código Brasileiro de Ocupações (anexo IV), Organizado pelo Ministé-rio do Trabalho e Emprego, define para fins de detalhamento da profissão o motorista carreteiro e de caminhão no transporte de carga como sendo aque-les que: “Transportam, coletam e entregam cargas em geral; guincham [...] movimentam cargas volumosas e pesadas [....] definem rotas e asseguram a regularidade do transporte(11)”.

(9) BRASIL. Lei n. 11.442, de 5 de janeiro de 2007. (10) BRASIL. Lei n. 12.009, de 29 de julho de 2009. (11) BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: �http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTituloResultado.jsf>. Acesso em: 24 de novembro de 2012.