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MOSSA OPINIÃO

SHNMíi tfMV

CONCILIAÇÃO

O primeiro fruto

monstruoso do

diálogo de Abi-Ackel

alguns dias o ministro Abi-

Ackel apresentou, após ouvir

as lideranças dos partidos ex-

cluídos do governo, a propôs-

ta do regime para a alteração

da Lei dos Estrangeiros. Dessa forma,

caminha para o desenlace a primeira ro-

dada do diálogo, ou seja, dessa tentativa

mais recente de setores da oposição che-

garem a um acordo e entendimento eom

o regime militar.

Há duas semanas nesta seção, un

artigo mostrava a improeedência do ar-

«taiento fundamental daqueles que têm

defendido a possibilidade e a necessida-

de desse entendimento. A idéia básica da

qual partem os partidários do diálogo

com a ditadura é a de que existem alguns

pontos políticos fundamentais que

podem ser defendidos ao mesmo tempo

pelo governo Figueiredo e a oposição de-

mocrática e popular. Ao contrário, aqui

secontra-argumentava que esses interes-

ses comuns não existem e| que, exata-

mente por causa disso, a proposta de

acordo com o regime só é possível se se

abandona o programa oposicionista. O

diálogo em torno da Lei dos Estrangeiros

apresentado pela ditadura militar eonfir-

ma ou desmente essa análise? Tiremos a

prova.A Lei dos Estrangeiros foi imposta, em

agosto do ano passado, através do fami-

gerado mecanismo do decurso de

prazo; fora apresentada logo apôs o

general Figueiredo ter regressado da

visita que fizera à ditadura müitar ar-

gentina; e não por mera coincidência. O

então líder do governo no Senado, o

senhor Jarbas Passarinho, afirmou alto e

bom som que a Lei dos Estrangeiros vi-

sava impedir que o Brasil se transfor-

masse num refúgio, onde os que se

opõem aos regimes do Cone Sul (Ar-

gentina, Uruguai Chile e Paraguai) pudes-

sem organizar a solidariedade à luta dos

povos daqueles países. Portanto, a Lei dos

Estrangeiros é fruto dc um acordo político

entre a ditadura brasileira e as demais

ditaduras militares do Cone Sul do Con-

tinente. Seu objetivo é cercear, prender e

até deportar os democratas latino-ame-

ricanos que se encontram entre os

120 mil chilenos, os 80 mil argentinos, os

40 mil uruguaios, e os 20 mil paraguaios

que se calcula estarem no Brasil em si-

tuação irregular do ponto de vista jurí-

dico. Ela é uma lei antidemocrática pelo

seu conteúdo e pela forma como foi im-

posta à Nação. A atual proposta de alte-

ração apresentada por Abi-Ackel altera

o caráter dessa lei? De modo nenhum:

da mantém e até aperfeiçoa o caráter

fascista dessa legislação.

O governo propõe, fundamental men-

te, três alterações na Lei dos Eotran-

geiros. Propõe, em primeiro lugar, uma

modificação no artigo que obriga hotéis,

imobiliárias, síndicos de edifícios de

apartamentos etc, a fornecerem intorma-

ções sobre a vida dos hóspedes ou inqui-

linos estrangeiros. Mas a modificação

proposta é uma piada: de acordo com

cia, as informações, isto é, as delações,

só serão obrigatórias quando solicitadas

pelo Ministério da Justiça. Ou seja, con-

tinuam sendo obrigatórias em todos os

casos que interessarem ao regime mili-

tar.

A

segunda alteração proposta si-

mula um recuo, admitindo a

inexpulsabilidade do estran-

geiro casado com brasileiro.

Porém, em primeiro lugar,

fica claro que os padres e bispos pro-

gressistas — celibatários — jamais goza-

rão dessa inexpulsabilidade. Em segun-

do lugar, a inexpulsabilidade só se aplica

a casos em que o casamento tenha sido

celebrado pelo menos há cinco anos. Ou

seja, aplica-se a todo mundo,menos aos

latino-americanos que ingressaram no

país no decorrer dos últimos três ou

quatro anos, para escapar das perse-

guicões políticas que lhes moviam as di-

taduras dos seus países.

Por último, o regime militar apresenta

uma terceira alteração que, embora

também aparente um recuo, é, na reali-

dade, um aperfeiçoamento do caráter

fascista da Lei. Propõe o governo que o

estrangeiro que tenha ingressado no

Brasil até 20 de agosto de 1980 possa

regularizar temporariamente essa situa-

ção através de um registro provisório,

que lhe garantirá o direito ao trabalho.

^^mm* mmwÊF^âTm {**!!%

Já podemos nos ocupar com o próximo passo do programa

espacial: o momentoso tema do estaeioMmeieUP...

MOVIMENTOSlRVlCOS

INTERNACIONAIS£t W*\\it

Conselho de Direção

Agostinho Gisè. Alcy Linhares Álvaro Ca-

ropreso. Anton.o C. Ferreira. AntônioiC.

Queiroz. Armando Boito Jr., Armando

Sarton. Celta R. de Souza, Conrado Ju-

mor Delzir A Matias. Duarte Pereira. Flâ-

vio Carvalho. Igor Fuser, Jacira Venancio.

joseC Alencar, José Crisóstomo de Sou-

za L.aR Dias. Luiz C. Antero. Luiz Mack-

loüf de Carvalho, Luiz Pedro, Márcio Bue

no Murilo Carvalho, Paulo Koza .Perseu

Abramo. Raimundo Rodrigues Pereira,

Roberto Martins, Roldão Oliveira, Tibèrio

Canuto e Washington Oliveira

Conselho Editorial de Movimento

Alencar Furtado, André Forster, Audâho

Dantas, Chico Buarque de Holanda, Fer-

nando Henrique Cardoso. Orlando Vilas

Boas Hermilo Borba Filho (1912-1976)

Diretoria de Edição S/A

Raimundo Rodrigues Pereira presidente)

Antônio Carlos Ferreira (diretor editorial),

Paulo Koí! (diretor de operações), Perseu

Abramo e Roldão Oliveira (diretores adjun-

tos).

Movimento è uma publicação de Edição

S/A - Editora de Livros, Jornais e Reyis-

tas Administração e redação:.Rua Dr. Vir-

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oficinas da Cia. Editora Jorues Rua Gas-

tão da Cunha. 49. Tei 531-8900. Sao Pau-

Io. Material internacional via Varig.

O segredo desse súbito democratismo da

ditadura militar encontra-se no advérbio'temporariamente". É que essa altera-

cão não revoga o artigo 132 da Lei do Es-

trangeiros. pelo qual o estrangeiro só

obtém registro permanente para estada

em nosso país se o governo de seu país se

dispuser a contribuir financeiramente

para o seu assentamento no Brasil. Ora,

que ditadura do Cone Sul concordaria

em colaborar, inclusive com a doação de

divisas, para instalar os seus inimigos

políticos em nosso país? Na verdade, a

menos que tenham outras garantias com

isso, os democratas latino-americanos

refugiados no Brasil podem até estar

sendo convidados, através da isca do vis-

to de permanência temporário, a entre-

gar o seu paradeiro para a polícia

política do seu país. E, se os pinochets,

mezas, violas, stroessners negarem-se a

financiar a sua permanência no país,

poderão ser sumariamente deportados

para os cárceres políticos de seus países,

é claro.

Muitos parlamentares, antes de o mi-

nistro Abi-Ackel apresentar a sua pro-

posta de alteração na Lei dos Estran-

geiros, concordavam com a afirmação de

um oposicionista para o qual "o

diálogo

governo-oposição produzirá um a nova Lei

dos Estrangeiros que vai resolver uma

boa parte dos problemas existentes no

setor". Para quem se iludia, o absurdo

da previsão começa a ficar claro. Não é

possível resolver "problemas do setor"

através do entendimento e do acordo

com a ditadura militar porque, tanto

nesse setor como em todos os outros que

interessam à frente oposicionista, os in-

teresses do regime se opõem aos interes-

ses democráticos e populares. O governo

quer aprovar a sua L<ú dos Estrangeiros

para perseguir os democratas latino-

americanos e fortalecer as ditaduras do

Cone Sul. Ã oposição, ao contrário, in-

teressa apoiar a luta desses democratas

até a derrocada completa dos regimes que

os oprimem. Isto por que o avanço da

luta democrática nas nossas fronteiras

fortalece, internamente, a oposição bra-

sileira.

Com

a sua proposta de altera-

ção na Lei dos Estrangeiros,

o governo Figueiredo está sen-

do coerente: deixa claro que

não pretende trair os seus

aliados no Cone Sul. A oposição demo-

crática brasileira também não pode

deixar de ser coerente: deve reprovar em

bloco esta lei fascista remendada e con-

tinuar sendo fiel aos interesses dos de-

mocratas latino-americanos.

METALÚRGICOS

Acordo na

Volks é ruim e

não é a única

saída

A

comissão de Salários do Sin-

dicato dos Metalúrgicos de

Sào Bernardo do Campo,

que reúne os ativistas mais

combativos da categoria, re-

cusou o protocolo de acordo para três

meses de redução na jornada de trabalho

e nos salários dos trabalhadores, firma-

do dia dez passado entre representantes

da Volkswagen e üa Junta Governativa

que substitui Lula e seus companheiros

de diretoria cassados. A própria Junta,

aliás, acabou depois apoiando a campa-

nha de denúncia do protocolo, (veja à pá-

gina 9).

Eles têm razão: os operários mais con-

seqü entes | não podem deixar de colocar

para seus companheiros — especialmen-

te para os que estão amedrontados pela

crise e não vêem outra saída — que o

possível acordo é injusto e não soluciona

seus problemas, mesmo a curto prazo.

Em primeiro lugar, ele exclui os dez mil

demitidos recentemente na região. De-

pois, não garante o emprego dos que o

assinarem sequer nos quatro meses de

estabilidade prometidos pela empresa a-

pós sua vigência — o protocolo admite

demissões nesse período, caso a crise se

agrave. E. por último — e o mais grave:

com ele os trabalhadores estarão dando

um mau exemplo para outras categorias

e, no fundo, assinando um compromisso

de ajudar os responsáveis pelo mo-

delo econômico brasileiro a pagar pe-

Ia brutal crise em que meteram o país ao

promoverem um modelo de desenvolvi-

mento baseado na indústria de bens de

luxo, dependente do capital estrangeiro e

voltado para uma minoria da população.

Quem já sofreu com esse modelo não

deve pagar para remendá-lo. Os trabalha-

dores têm outras saídas: devem mobili-

zar essa massa inédita de desempregados

para exigir que o governo resolva concre-

tamente seus problemas — afinal, o go-

verno não ajudou até o "pobrezinho" do

Maluf despejando milhões de cruzeiros

na Lutfalla quando ela estava em difi-

culdades?

Page 3: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

BRASILaam»$ vs'****»-**.*** m tmmuwm

MILITARES

Serpa preso, de novoÉ quase certa a punição do general Serpa,

esta semana: ele vai falar contra o projeto Carajás

Antônio Carlos Queiroz

Sc não ocorrer nenhuma surpre

sa antes, nesta quinta-feira, du

23. o general Antônio Carlos dt

Andrada Serpa comparecerá ac

Clube de Engenharia do Ri(

Janeiro para fazer o seu décimc

pronunciamento público desde

fevereiro de 1979, quando estava

na chefia do Departamento Ge-

ral do Pessoal (DGP) do mini*

tério do Exército. O aconteci-

mento está sendo aguardado

com ansiedade, especialmente

nos gabinetes do Palácio do Pia-

nal to.

A não punição do velho ge-

neral nacionalista pelo ministre

do Exército é que não será uma

surpresa. Embora o próprio An-

drada Serpa esteja confiante

no contrário, são lavas contadas

o seu segundo enquadramento,

em quatro meses, nos dispositi-

vos do Regulamento Disciplinai

do Exército (RDE) e do Estatutc

dos Militares, que proíbem as /VO .seu

manifestações políticas não au-

torizadas. tanto dos militares da ativa

como da reserva. Como se lembra, ele toi

punido com dois dias de prisão domiciliar

no último mês de dezembro, depois de ter

discursado no Instituto de Engenharia de

São Paulo e de ter assinado o manifesto"Em defesa da nação ameaçada", jun-

tamentecom alguns empresários, intelec-

tuais e militares da reserva.

Para justificar suas reiteradas interven-

ções no campo da política, Serpa costuma

repetir a frase de Osório. Marquêsde Her-

vai. segundo a qual "a

farda não abata no

peito do soldado os brios do cidadão .

Fsta máxima sempre o acompanhou, ren-

dendo-lheaimagemde"recalcitrante"noseio do Exército.

Foi com esta disposição que, em 1955, o

então tenente-coronel Antônio Carlos de

Andrada Serpa — bastante considerado

pela sua participação na campanha da I tá

lia. durante a Segunda Guerra Mundial —

Ganhou umabatalhajudicial movida con-

tra ele pelo ministro da Guerra, general

Henrique Lott. Serpa havia desobedecido

uma ordem de Lott e por isso foi enqua-

dradoportrransgressãodisciplinar, preso

e correndo o risco de perder a patente.

Católico, sempre

atacou o consumismo

e a permissividade

Serpa continuaria conspirando até a vi-

tóriadogolpedel°deabrildc 1964. Desde

então, manejando uma vasta cultura his

tórica. princípios doutrinários herdados

da família dos Andradas — ele é descem

dente diretode José Bonifácio, o Patriarca

da Independência - e da ideologia ude-

nista de Minas Gerais, altm de uma anti

comunismo exarcebado e militante, o ge-

neral Andrada Serpa tornou-se um dos

maiores defensores dos ideais da Revo-

lução" de 1964. A propósito é interessante

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sííio Borda do Campo, o general lê e e espionado...

lembrar que, nofinal de 1978, ele declarou

que para se transformar numa potência

até o ano 2000. o Brasil "precisaria de mais

15 anos de regime como este", estando

aindaemvigoroAI-5,instrumentoqueele

sempre defendeu com paixão, e que nesta

época já estava pronto para ser tirado de

cena pelo general Ernesto Geisel. Vieram

as salvaguardas constitucionais, que sa-

tisfiz.eram o general Serpa.

Católico praticante, o general Serpa É

profundamente religioso e moralista, não

perdendo a oportunidade de atacar, por

exemplo, o uso dos meios de comunicação

na divulgação do "consumismo e da per-

missividade". Sua visão política eo papel

social que defende para os militares decor-

trem grande parte de seu arraigado pater-

nalismo. presente até mesmo na lingui-

gem coloquial: Serpa costuma tratar seus

interlocutores de "meu filho". O general

dizia na semana passada em seu sítio de

Barbacena que as elites políticas brasilei-

ras são despreparadas para conduzir o

processo político Idevid > à sua formação"dominantemente bac.iarelescae sem 0

apoio dc partidos organizados") e dai

justifica a intervenção dos militares na ce-

na política como "poder moderador ,

lembrando que o fato foi institucionaliza-

do já na Constituição de 1891.

É contra a

convocação de uma

ConstituinteSerpa evoca a história para também jus-

tificar sua posição contrária ãs eleições di-

retas para a presidência da República, o

voto proporcional, a proliferação de par-

tidos políticos e a convocação de uma

Assembléia Nacional Constituinte. Quan-

toa esta última questão, ele acha que exis-

tem pelo menos duas correntes que a

defendem: os primeiros seriam os "mal

in-

tencionados, que querem a Constituinte

como instrumento para derrubar.o gover-

no", os demais seriam os "ingênuos,

que

acreditam poder resolver as questões poli-ticas. econômicas e sociais, através da lei

escrita". "N,o

Brasil ou em qualquer outro

pais _._ afirma Serpa num discurso pro-

nunciadoemsetembrode 1979—a convo-

cação de Constituinte só poderá resultar

da revolução vitoriosa. Faltará sempre, às

facções derrotadas a força necessária a

condução do processo político; foi assim

em 1824. 1889. 1934. 1946 e 1967".

Um direito que Serpa faz. questão de de-

tender, alegando uma tradição familiar

(por sinal, quebrada pelo seu primo ir-

mão.oex-líderda Arena. José Bonifácio.o

Zézinho) é a liberdade de imprensa, com a

ressalva de que deve estar submetida a

uma lei especifica para evitar o consu-

mismo. a permissividade e defender a cul-

tura nacional contra os enlatados estran-

geiros.

Com caniços de luxo,

dois agentes pescamlambarís e girinos

Como se vê. as posições políticas do ge-

neral Antônio Carlos de Andrada Serpa

sãoextremamente conservadoras e por es-

ta razão sua margem de manobra política

é bem mais limitada do que a dó falecido

general Hugo Abreu. que. defendendo

bandeiras democráticas como a Anistia

Ampla. Geral e Irrestrita e a convocação

da Constituinte, conseguiu impulsionar a

Frente Nacional dc Redemocratização

que apoiou a candidatura oposicionista do

general Euler Bentes Monteiro. De qual

quer maneira, o posicionamento dc Serpa

no plano da economia é que lhe garante

notoriedade a até mesmo certa simpatia

entre as oposições. Afinal, embora nunca

se esqueça dc repetir que sempre eomba-

teu o comunismo materialista e ateu e

defenda bandeiras direitistas no plano

político. Serpa é intransigente ao defender

a soberania nacional.

Desde que foi afastado do DGP. o

general Antônio Carlos de Andrada Serpa

refugiou-se na fazenda Borda do Campo,

no município de AntonioCarlos, cuidando

da fazenda ou estudando, cercado pelos

quase 20 mil volumes (quase todos com-

prados em sebos) de sua biblioteca. Lá

mesmo, como frisa, o general Andrada

Serpa tem oportunidade de ver como c

país é exaurido em suas riquezas: locomo-

tivas movida adiesel subsidiado, puxando

até 20 vagões cada uma. levam o minério

de ferro de Minas Gerais para ser vendido

a preços aviltados no mercado externo.

Ele vai atacar a

entrega de Carajás

aos estrangeiros

A monotonia do campo e do barulho das

locomotivas andou sendo quebrada nos

últimosmesesem AntonioCarlos: primei-

ro, por um helicóptero enviado pelo gene-

ral Coelho Neto. comandante da 4a Dt-

visão do Exército, com sede em Juiz de

Fora. para espionar a fazenda Borda do

Campo, certamente à procura de alguma

emissora de rádio clandestina. Depois, por

dois agentes mal disfarçados de pescado-

res. com sofisticados caniços. lançados ao

córrego da fazenda, onde mal existem

lambaris. mas abundam girinos.

A propósito da espionagem que vem

sofrendo o general Serpa. cabe uma per-

gunta: tais operações estariam sendo de-

flagradas pelo governo para detectar um

possível golpe militar liderado pelo gene-

ral Andrada Serpa? O próprio general, em

conversas com amigos, se defende: embo-

ra seja o último dos generais com pos-

sibilidade de sensibilizar uma facçãodoE-

xército. Serpa considera que um golpe mi-

litar apenas agravaria os problemas que o

país enfrenta, além de possibilitar a ex-

plosão de uma Guerra Civil, que — ele

lembra. — uma facção do Exército dividi-

do. como mostra a história, armaria a po-

pulação. Além disso, os militares golpistas

iamais teriam o apoio popular que ele con-

sidera que o golpe de 1964 teve. pois hoje

— reconhece — as Forças Armadas so-

fiem um processo de grande desgaste.

Pelosim.pelonão.ocertoéqueosobuses

do general Andrada Serpa estão prontos

oara a próxima batalha (verbal) nodiap,

noClub-deFngenhariadoRiodeJaneiro:

no novo discurso Serpa aprofundara suas

critteasà política econômica definida pelo

ministro Delfim Netto. exigirá com mais

veemência do governo "mudanças oe

rumo" e fará novas denúncias da desna

cionalização do País. Serpa abordara a

questão do Projeto Jari. por exemplo. ma>

o principal mote do discurso, como Movi-

mento pôde apurar, será um ataque a

entrega do Projeto Carajás, pelo governo.

ao capital estrangeiro".

MOVIMENTO - 20 a 26/4 81

Page 4: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

OPOSIÇÃO E GOVERNO

O velho conto do diálogoO regime já tentou várias vezes antes o

''diálogo"

Roberto Martins

O ministro da Justiça. Abi Ackel, int-

ciou no mês passado uma série de reu-

niões com presidentes dos partidos de

oposição, dando início a um novo "dia-

logo" entre governo e oposição. Desta

feita o objeto dos entendimentos pro-

curados pelo governo é o Estatuto dos Es-

trangeiros. E. a partir daí, novas fases se

seguirão, segundo consta.

A tática do "diálogo"',

que o governo

está empregando agora contra a oposi-

ção. não é nova. Ao longo de 17 anos.

por diversas vezes os governos militares

já a adotaram. E sempre souberam ai-

tornar o "diálogo" com a repressão.

Castello Branco, inicialmente, teve

apenas <>() dias de poderes absolutos —

enquanto vigeu o Al-1. Ele "dialogou

freqüentemente com o que restou dos

antigos partidos que se colocaram na

oposição, dizimados que foram pelas

cassações. E nestes entendimentos per-

mitiu até as candidaturas dos pedessistas

Negrão de Lima e Israel Pinheiro,

pectivamente aos governos da Guanaba-

ra e de Minas Gerais. Mas apostou na

derrota de ambos, e perdeu. Encerrou o

"diálogo" com o Al-2. em 1965. que dis-

solveu os partidos, e reabriu o ciclo de

cassações e de poderes absolutos.

Costa e Silva assu-

miu 0 governo com o

país "constituciona-

li/.ado" no início de

1%7. sem a vigência

de Ato Institucional.

Dizia governar para"todos" os brasilei-

ros e o signo era o

diálogo: e não só

com o MDB e insti-

tuições da sociedade

civil, mas até com o

movimento popular.E assim fe/.

Quando da passeata dos KM) mil. no

Kio dc Janeiro, em 1968, o velho maré-

chal pediu para dialogar eom represen-

tantes dos manifestantes. Uma comissão

foi eleita e dirigiu-se a Brasília.

Entre as reivindicações que a comissão

levava, estava a soltura de dois grupos de

estudantes presos no Rio de Janeiro. Um

grupo de estudantes de arquitetura preso

quando fazia panfletagem na avenida

Brasil e outro que havia sido preso numa

manifestação anterior, entre os quais se

encontrava o líder estudantil Jean Marc.

acusados de incendiarem uma viatura do

Exército. Costa e Silva tentou negociar o

fim das manifestações soltando apenas o

grupo que fazia panfletagem.

Desde o início os es-

tudantes respondiam

ao aoelo de "diálo-

go" lembrando as

prisões, o fechamen-

to de entidades, a Lei

Suplicy em vigor, os

a cor dos MEC-

USAID. Os traba-

lhadores reclama-

vam das intervenções

nos sindicatos, do

fim do direito de gre-ve. Os artistas cia-

mavam contra a cen- \.

sura. Mas enquanto dialogava, e confun-

dia parte da oposição com isso, o governo

Costa e Silva intensificava a repressão

policial às manifestações de rua e prepa-

rava a volta dos poderes absolutos...Di-

zem que o AI-5 começou a ser gestado em

junho, numa reação ao ascenso do movi-

mento popular contra a ditadura. O Ge-

neral Garrastzau Mediei, então chefe do

SNI, confirmou isso mais tarde.

A 13 de dezembro de 1968 acaba qual-

quer perspectiva de "diálogo"...

Durante os últimos meses do governo

Costa e Silva e nos governos da Junta Mili-

tar e do general Garrastazu, não se falou

em diálogo. Afinal, com o Brasil em pleno"milagre econômico", para que

"diálogo"

OU liberdade?...r-.wy*

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Garrastazu

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Mas o "milagre" vai

chegando ao fim.

Contradições entre

os diversos grupos e

setores dominantes

começam a se mani-

festar e a base social

e política do regime

estreita-se perigosa-mente. A candidatu-

ra Geisel surgiu nes-

te quadro. E antes

mesmo de tomar

posse, o novo general

presidente inicia mais uma fase de "diálo-

go" com a oposição, desde o seu escritório

no Largo da Misericórdia, no Rio de Ja-

neiro. Ouve setores empresariais e políti-

cos do governo e da oposição. Conversa

diretae indiretamente, já assessorado pelo

general Golbery. E o general Geisel dá

início a seu governo sob o signo da"distensão lenta e gradual", mas

"segu-

" Ós conciliadores de toda hora ficam

alvoroçados. De fato Geisel conseguira

ampliar a base política do regime, com

mil promessas de fim das torturas, e da

censura à imprensa, anistia, e fim do

AI-5. É bem verdade que todas as pro-

messas eram veladas, implícitas, mas

bastaram para contentar muita gente.

Em contrapartida a censura a imprensa

se mantinha, assim como a tortura. Em

nenhum outro governo da safra pos-64

loi tão grande o número de desapareci-

dos políticos. Em 1975 Geisel pôs um

basta nas ilusões. Em famoso discurso de

1° de agosto, afirmou que a distensão

era mais social que política, e que não se

cogitava do fim do AI-5, ou anistia...

O governo Geisel será pródigo em "diá-

logo". Terá inclusive

a famosa "missão

__Portela", conduzida <

pelo ministro da Jus-

tiça, o piauiense Pe-

trônio Portella. Um

dos pontos de "diálo-

go" é exatamente a

reforma do judicia-rio. Mas quando a

maioria do Congres-

so se recusa a apro-

vá-la, reivindicando

alguns pontos essen-

ciais, como o resta-

belecimento do habeas corpos. Geisel fe-

cha o Congresso c decreta o não menos fa-

moso "pacote de abril" dc 1977.

A "missão Portela" prossegue. Tenta

desanuviar o clima criado com o "pacote

de abril". Ouve os partidos e, além de-

les, entidades da sociedade civil, como a

OAB. a ABI. a CNBB. Preparam-se as

reformas políticas. Mas as "reformas"

são a estratégia do regime. Velho sonho.

desde os tempos de Castello Branco, de

institucionali/á-lo. Reflete também as

contradições no meio dominante, sendo

necessário encontrar maiores espaços pa-

Ernesto

Geisel

i MMM0 '*^$?âÉj.

\Wa*^5 \_\z

:__-

\__ __x- ** 1':W____m_tP

JoãoFigueiredo

ra acomodar as diversas correntes. As-

sim. as "reformas"

já estão prontas. O"diálogo" visa apenas ganhar respaldo

ao projeto. Tanto é que as reivindicações

da oposição não são aceitas. O AI-5 é

embutido na Constituição e a nova Lei de

Segurança Nacional é aprovada confor-

me o modelo proposto pelo Executivo,

por decurso de prazo.No governo do general Figueiredo, a

mesma equipe basicamente — tendo o

general Golbery como eminência parda e

o ministro Portella na Justiça —, prosse-

gue a institucionalização do regime, ja

agora com o nome de "abertura". As

medidas centrais são a anistia e a refor-

mulação partidária. É bom lembrar que

a esta parte o movimento popular e de-

mocrático já ganha certa força e, inega-

velmente. influi de algum modo na si-

tuação. A anistia sai um pouco menos

restrita e parcial do que o regime pre-

tende. Mas nào atende aos reclamos da

Anistia Ampla, Geral e Irrestrita recla-

mada pela oposição. E quanto à refor-

mulação partidária, sào conhecidas as

suas restrições.

O motivo era de "diálogo" — o Esta-

tuto dos Estrangeiros — foi enviado sor-

rateiramente ao Congresso em meio ao

recesso de julho do ano passado, com

pedido de urgência, depois de ter sido

gestado durante 6 anos no Conselho de

Segurança Nacional. Findou aprovado

por decurso de prazo sem que o governo

aceitasse uma emenda sequer."Bem, aprovem-no assim, depois nós

reformulamos" — dizia o governo então,

já criando o motivo para o "diálogo".

À guisa de conclu-

são, agora importa

menos saber se o go-verno levará ou não

em conta as opiniões ^da oposição sobre o

Estatuto dos Estran-

geiros (já demons-

trou que não preten-de);nem o fato de ter

discriminado o presi-dente do Partido dos

Trabalhadores —

Luís Inácio da Silva— e Ivete Vargas, do

PTB, importa saber qual a tática do regi

me com as suas propostas de "diálogo".

Em primeiro lugar, o regime sempre

alternou o "diálogo" com a repressão;

medidas mais liberalizantes com outras

discricionárias. E apesar de todos os"diálogos" sempre seguiu seu caminho,

com estratégia e tática previamente de-

terminadas, mudando apenas o secunda-

rio, ou quando sofria derrotas.

Em segundo lugar, os momentos de"diálogo" são sempre aqueles em que o

regime enfrenta mais dificuldades. Com

essa tática, o regime tenta desviar a opo-

sição dos problemas centrais.

Finalmente, é o regime que escolhe o

tema e os interlocutores. Neste sentido é

atualíssimo o documento aprovado pela

comissão executiva do PMDB, proposto

pelo ex-governador Miguel Arraes:

Mas porque alguns pontos desse docu-

mento tocam fundo na própria essência

do regime, em torno deles o regime nào

poderá dialogar, restando apenas "dialo-

gar" em torno de pontos secundários. E

em torno dos grandes temas, da essência

do regime, só há que mudar o próprio

regime, ou, como diz o documento: "a

natureza do Estado".

!#83Í

Os abençoadosA catilinária do

senador Jarbas

Passarinho (PDS-PA) contra seto-

res da Igreia,"que estão pre-

gando o õdio",

teve uma pronta«ihJ. 's\k_V~ resposta do Arce

3I- ¦•¦.%/, bispo de São

_m •<£_&_,'3 ' àm~-. Paulo, Dom Pau-

AA í***9*** AmÂm» lo Evaristo Arns

(foto) Ao referir-se ao episódio critica-

do por Passarinho (a recusa de um pa

dre paraense de abençoar a inaugura-

cão de uma agência do Banco da Ama-

zôniaem Tucurui, Pará), Dom Evaristo

Arns fez a seguinte consideração: um

banco não precisa tanto das bênçãos

de Deus, quando tem as benesses de

tantos poderes terrestres e, sobretudo,

quando pessoas da mais alta coloca-

ção já puderam afirmar que os bancos

são em grande parte, os responsáveis

Dela crise atual". Definindo a posição

da Igreja, Dom Evaristo explicou que"isto não significa que um padre deixe

de orar em favor dos bancários, que re-

cebem muitas vezes salários msufi

cientes" E lembrou ao senador Passa-

rinho as palavras do industrial Antônio

Ermírio de* Moraes, segundo as quais"o Brasil se divide entre os banqueiros

e os outros".

Leis iião faltam

O Ministro da Aeronáutica, Délio Jar-

dim de Mattos, defendeu na semana

passada, a elaboração de uma lei anti-

terror, mais rigorosa do que a atual Lei

de Segurança Nacional, como a melhor

fórmula para fazer frente aos atenta

dos terroristas que até agora

continuam impunes. Délio defendeu tal

lei baseado nos exemplos da Alemã

nha e Itália, onde uma legislação espe-

cífica sobre o terror deu ao Estado

maiores poderes Sua proposta, entre-

tanto não conta eom o apoio da maio-

ria dos ministros do STM, para quem a

atual Lei de Segurança Nacional jâ ô

suficiente para fazer frente ao terro-

rismo E para setores da sociedade

civil, como a OAB, tal lei irá reforçar o

autoritarismo, pois com isto o fcstaco

poderá invadir domicílios de cidadãos

em decorrência de uma simples suspei-

ta" Segundo o presidente da OAB. o

próprio Código Penal já permite o arse-

nal jurídico para o combate ao terror

Se é assim, a impunidade ao terrons-

mo de direita existe náo por falta oe

lei mas pela omissão do regime, que

não se tem mostrado interessado em

punir os terroristas, apesar das provas

e evidências que surgiram em vários

casos

O terror volta?Mais do que um novo ato folclórico

das malufiadas, a bombástica declara-

ção do governador de São Paulo, Paulo

Maluf de que sentia saudade dos tem-

pos do ex-presidente Garrastazu Mé-

dici ("quando tínhamos neste país oti-

mismo, progresso e tranqüilidade so-

ciai"), é um claro indicativo da solução

proposta pelos setores da uítradireita

para a solução da crise que vive o regi-

me militar: o retorno à repressão do

período medicista. Pela boca de Maluf,

que fez sua declaração logo após visi-

tar o ex-ditador Mediei, falaram os que

ficaram insatisfeitos com as palavras

de Figueiredo, que antes tinha implici-

tamente se dirigido a tais setores, ao

considerar que "mais vale uma

democracia em dificuldades do que

uma ditadura progressista". Ao confes-

sar o seu amor, nostálgico pelos fascis-

tas do tempo de Mediei, Paulo Maluf

desagradou a gregos e troianos: ir..e-

diatamente, amplos setores da oposi-

ção repudiaram suas palavras, e até

mesmo no Palácio do Planalto ele pro-

vocou desagrado, pois dessa vez Ma-

iuf teria avançado o sinal.

MOVIMENTO - 20 a 26/4/81

Page 5: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

Trama oculta

O governo federal pretende exonerar

o prefeito do município fluminense de

Angra dos Reis, comandante Roberto

Carlos do Valle Ferreira, segundo de-

claracões do próprio ministro da Justi-

ça, Ibrahim Abi Ackel. Angra dos Reis

è considerada como área de segurança

nacional e a versão oficiosa para a des-

tituição do prefeito nomeado è de queele está perseguindo

"políticos do PDS

e cometeu vários atos de corrupção".

Por detrás do surto de ombridade ad-

ministrativa do ato do governo federal,

esconde-se entretanto outras inten-

ções menos nobre: a destituição é uma

reivindicação do PDS do Rio de Janei-

ro, mais particularmente do senador

Amaral Peixoto, na sua briga com o

governador do Rio, Chagas Freitas.

Este não è um episódio isolado e ama-

ral Peixoto vai pedir a destituição de

mais dois prefeitos de área de seguran-

ça nacional: o de Caxias.e o de Volta

Redonda. Com tais medidas, o PDS•pretende contrabalançar o peso da má-

quina do governo estadual, atualmente

colocada a serviço do candidato cha-

guista à sucessão governamental: o

deputado Miro Teixeira.

Eleição primáriaO senador Franco Montoro tem uma

proposta para que o PMDB de São

Paulo possa definir quem será o seu

candidato para o governo do Estado: a

realização de uma eleição primária com

os seus 150 mil filiados. Atualmente, o

PMDB paulista tem dois candidatos. O

senador Franco Montoro e o também

senador Orestes Quércia; que na sema-

na passada foi lançado oficialmente

como candidato ao governo do Estado,

com o apoio de oito diretórios munici-

pais Franco Montoro conta, segundo

ele com o apoio de 300 diretórios

municipais e acaba de receber um forte

aliado: o deputado Alberto Goldman

que controla uma parte considerável da

máquina partidária no Estado. Gold-

mar. está redefinindo a sua opinião de

aooio a Quércia e deve somar com

Montoro. Em vista disso, a tendência

é uma composição entre Montoro co-

mo governador e Quércia, como candi-

dato à vice-governadoria.

Sem defesa

O jornal alternativo Repórter teve

duas edições apreendidas somente na

semana passada sendo a segunda sem

determinação do Ministério da Justiça.

Essa foi a 15a apreensão do Repórter e

na penúltima vez a desculpa oficiai toi

que o jornal continha uma reportagem

sobre curras na Baixada Fluminense

considerada um atentado * mo-

ral e aos bons costumes". Segunao os

editores do Repórter, a medida do Mi-

nistério da Justiça è uma clara perse-

guição ao jornal, particularmente "por-

que atravessamos uma fase de expan-

são" Os editores do Repórter critica-

ram ainda a decisão como arbitrária,"pois não nos foi dada nenhuma opor-

umidade de defesa, como estabelece a

própria Lei de Imprensa — que por si

só já é autoritária".

a*****\\\ Wm* '

W ÉÊk

Malufismo"0

apego aos meto-

dos fascistas pa-*r

" rece ser.o forte do

áf governador de

mJz&idL Sâo Paulo, Paulo

jfir7 ^v Maluf (foto), como

TT Jj£-\ mdica a Sua mais*m*^*J n0va

criação: aformação de uma"Juventude Malu-fista Brasileira".A Juventude Ma-

,-lufista por en-

quanto tem se dedicado a atividades

prosaicas, tais como entregar flores à

mulher do governador, Silvia Maluf, e

apareceu publicamente pela primeiravez no Aeroporto dos Guararapos. em

Recife, quando o governador de Sáo

Paulo esteve nesta cidade, na semana

passada, dando prosseguimento à sua

peregrinação de aliciar bases do PDS

parada sua "candidatura" à presidência

da República

fTãom do Senhor Presidente da Reoública orientação no

do do que a FUNAI so abstenha de qualquer providencia

tendente a estimular a constituição da chamada

Nações Indígenas"

Aproveito a oportunidade para renovar a Vos

ência protestos de alta estima e consideração.

M/f*-?/?'GOLBERY DO COUTO E''SILVA

Ministro Che4e do Gabinete Civil

/

Para Golbery, índio bom é aquele que não tem conhecimento de seus direitos...

INDIOS

A cilada que Golbery

armou para os índiosUm documento

"secreto" contra os direitos

elementares dos índios

A notícia estourou como uma bomba nos

meios indigenistas: o general Golberydo

Couto e Silva, chefe da Casa Civil da Pre-

sidência da Republica, havia orientado a

Funai.com base em estudos do SM. para

oue nao fosse permitida a constituição ju-

rídica da UNI — Uni^o das Nações In-

dígenas. A partir desses documentos con-

lldcnciais. datados de novembro do ano

nassadoe assinados por Golbery e pela As-

sessoria Jurídica do Gabinete Civil (ver

fac-símiles), o deputado Modesto da Sil-

veira (PMDB-RJ) denunciou à nação, em

discurso pronunciado no dia 8 passado na

Câmara Federal, a tramóia do governo

nara manter os povos indígenas no Brasil

desorganizados e fracos, ou seja, sempre

submissos à Funai. O atual presidente

desta fundação, coronel Joio Carlos No-

bre da Veiga, implantou uma política de

terror, demitindo sertanistas e antropo-

logos e contratando oficiais militares para

os altos cargos do órgão e sargentos e cabos

da reserva para os postos nas aldeias.

Na "integração",

o índio vai virar

peão e bóia fria

Os protestos chegaram de tinia parte. O

Cimi-Conselho Indigenista Missionário,

pronunciou-se no dia seguinte, por meio

dc seu vice-presidente. Dom Tomás Bal-

dumo. bispo da diocese de Goiás, e ainda

pelo seu Regional Norte I (que reúne

missionários indigenistas do Estado do

Amazonas e do Território de Roraima).

Outras entidades reforçaram este clamor.

Afinal, havia sido descoberta a razão do

empenho do ministro do Interior. Mário

\ndreazza, e do coronel Nobre da Veiga.

há cerca dc dois meses, em expulsar de

Brasília um grupo de jovens líderes de

várias nações^indigenas. Fstes jovens es-

Antônio Carlos Moura

tudavam na Capital federal e constituíam

os quadros mais escolarizados da UNI.

Naquela ocasião, a Funai tentou disper-

sar. por diversas escolas de seus Estados de

origem, os jovens estudantes indígenas.

Nobre da Veiga desenterrou, inclusive, a

ameaça da "emancipação" compulsória

de índios, particularmente as lideranças

mais incômodas, como o cacique xavante

Mário Junina, o pareci Daniel Matenho

(NR. membro do Conselho Fditorial de

Movimento), e os próprios estudantes em

Brasília, entre os quais se destacava Mano

Marcos Terena. terena, aluno de admi-

nistraçao de empresas, denunciou em

artigo na última página da revista Veja

11.02.81): a emancipação dessas lideran-

ças "seria, inevitavelmente, o primeiro

passo para a perda de nossos direitos e de

nosso principal bem: a terra .

A "emancipação" de algumas lideran-

ças- ou mesmode algumas comunidades

inteiras, como a dos Gaviões da aldeia

Parakatejê. no Sul do Pará. que há quatro

anosdispensaramos •'set\iços"daFunai e

estão comercializando, por conta própria,

a abundante castanha de sua reserva —

aplainaria o caminho para a "integração

rápida e rasteira dos povos indígenas à

chamada "sociedade nacional". Integra-

çãoque. obviamente, nivelaria os índios ao

extrato mais baixo da sociedade brasi-

leira: os peões, osbóias-frias. os favelados.

Os organizadores da UNI têm claro que

nao lhes interessa este tipo de "integra-

çao" - na verdade, uma cruel assimilação

antropofágica. Exatamente por se reco-

nhecerem como "povos" e como

"nações

— e não mais apenas como "grupos ou

..„.ibos-_-<CSSasliderançaslutamporsua

autodeterminação, mie nada tem a ver

eom os espantalhos da "integração e da

••emancipação". Como disse Marcos Ie-

rena no mesmo artigo: "Aceito a integra-

ção'progressh ae harmoniosa'. como reza

o Estatuto do índio. Mas a integração que

eu admito deve basear-se num protundo

respeito pelos aspectos étnicos e carac-

terísticas comunitárias de cada nação.

Deve preservar o índio, náo transtormá-lo

em mais uma figura pitoresca dos anais da

História ou"dos filmes de bangue-bangue

do futuro".

1' Funai trouxe

a gente para expor

como gado dela"

Para a Funai. hoje uma fortaleza de CO-

toneis, falar em "povos indígenas" e

"nações indígenas" é atentar contra a in-

tegridade da pátria brasileira. Para a

eminência parda do órgão, coronel Ivan

Zanoni Hausen. os povos indígenas não

são mais do que "quistos étnicos". Sem

mais conversas. Aliás, no cartaz que

distribuiu este ano. a propósitoda Semana

do Índio, a Funai de Zanoni e Nobre da

Veiga não deixou por menos. O slogan

escolhido foi mesmo a síntese da ideologia

integracionista: "índio e não-índio. todos

brasileiros".A distância queseparacoronéis

dahunai

dos índios que estão sob sua tutela au-

menta a cada dia. Arrebanhados às pres-

sas. em suas aldeias, algumas dezenas de

líderesindígenasforam trazidos a Brasília

nela Funai. para participar .obviamen-

tecomofigurantes.da Semana do Índio o-

ticial. Bem depressa, porém, o caldo en-

tornou. Na abertura de uma exposição de

artesanato indígena. Maluaré. o chete dos

Kara.áda aldeia de Santa Isabel, na Ilha

do Bananal, entregou ao ministro An-

dreazza uma carta assinada por mais

quatro caciques que protestava contra a

forma como foram trazidos a Brasília:"Ficamos surpresos e tristes, pois não era

para discutir os nossos problemas que a

Funaichamou agente. Parece que a Funai

trouxe a gente para a exposição como se

U.ssemos gado dela. e ficamos -aborre-

eidos".

MOVIMENTO - 20 a 26/4/81

Page 6: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

6dramático apelo de D. PedroO índio só sobreviverá à avassaladora Civilização Ocidental se organizando; o SNI e contra.

Antônio Carlos Moura

— O branco, quando chegou a este

continente, botou todos os nativos den-

tro do cocho de um nome só: "índios".

Como se cs muitos povos deste conti-

nente náo tivessem nem nome, nem hts-

lória. Ea todos perseguiu por igual, co-

m<. caça. De todos arrancou a terra, os

costumes, a paz. a vida. Vocês que

sobreviveram a lauta perseguição e a

tanta cobiça dos brancos invasores, fa-

çam. agora, dessa palavra "índios"

u-

ma bandeira só: a bandeira de uma

grande pátria. Ameríndia, a América

jos índios l 'nidos, respeitados e livres.

Na noite de sua saída de Roraima, on-

de esteve .1 semana retrasada partici-

pando de um encontro de Pastoral In-

digenistà da diocese local, dom Pedro

Casaldáliga, o bispo de São Félix do A-

raguaia (MT) escreveu a "Carta

de um

amigo a todos os índios do território".

() parágrafo acima faz parte dessa car-

ta. que será divulgada integralmente na

próxima edição do Anna Maimu — Wa-

paradan — o pequeno jornal mimeo-

grafado, preparado pelos agentes de pas-

total Índigenista e dirigido principal-

mente aos índios Makuxi e Wapixana.

as duas grandes nações que somam cer-

ea de 22 mil dos 32 mil índios existentes

em Roraima. (O título bilingüe do jor-

nal quer dizer, nos idiomas Makuxi e

Wapixana. Nossa Voz).

Proibir organização

dos índios eqüivale

a liquidá-los.

Dom Pedro viajou, segunda-feira pas-

sada de Boa Vista, a capital roraimen-

se até Manaus, pela BR-174. a famosa

estrada que cortou as terras dos índios

Waimi i-Atroari. Ao longo do trecho de

cerca de 120 quilômetros que atravessa

a reserva, nenhum veículo pode parar

na pista. I". á entrada e à saida. há um

controle por parte do Exército e da

Funai. Com o bispo dc São Félix. via-

javam também três tuxauas — dois

wapixana e um makuxi — que de

Manaus seguiram para o sul do Ama-

zonas, onde. esta semana, está havendo

uma assembléia de líderes indígenas.

Casaldáliga acabara de ler. no Poran-

tim — jornal Índigenista editado em

Manaus pelo Cimi — o relatório de

uma assembléia cjue reuniu 72 tuxauas

de Roraima, em janeiro último*.

O que eles disseram, o que eles de-

cidiram. me parece de uma grande lu-

cidez e de muita coragem. Sem dúvida,

essas assembléias, esses encontros de

tuxauas podem marcar o futuro da po-

pulação indígena de Roraima.

Em Manaus, a um público reunido na

Biblioteca Municipal para um debate

dentro da programação não oficial da

Semana do Índio, dom Pedro referiu-

se, entre vários temas, aos "Documen-

tos Confidenciais" de Golbery e do

SNI. que tramam contra a L'NI - União

das Nações Indígenas. Falando a Movi-

mento. o bispo dc São Félix comentou

depois:A organização dos povos indígenas

é um direito básico deles, um direito de

sobrevivência. Povos minoritários nu-

mericamente. povos massacrados fren-

te a esse grande povo anônimo que re- 2

presenta a nossa civilização ocidental°

expansionista. capitalista, somente po- gderão sobreviver se organizando. A rea-c

ção violenta do governo e esta organi-fl

zação aqui no Brasil e em outros países.2

(cito, por exemplo, o regime de Strocs- e

sner. que reagiu violentamente às ten-<

tativasde organização dos camponeses

indígenas no Paraguai), deixa claro que

os inimigos destes povos sabem muito

bem o que esta organização significa. O

que me espanta, porém, é que. para

coibir esse esforço legítimo de sobrevi-

vencia, o regime acene com os terrorres

da Segurança Nacional.

Um apelo aos que

lutam em defesa

da causa indígena

Casaldáliga pára, examina o texto dos

documentos do SNI e completa:

— Eu gostaria de lembrar concre-

tamente ao general Golbery. que a in-

compatibilidade dos índios com a poli-

tica Índigenista definida pelo governo,

não nasce de um suposto "apadrinha-

mento de certas pessoas", como seu do-

cumento insinua. Essa incompatibili-

dade brota da própria política indige-

nista do governo, do regime, a serviço

do sistema, que é. a meu modo de ver

— e a América latina toda está aí como

testemunha — essencialmente genoci-

da. A política Índigenista é de integra-

ção desintegradora. de emancipação

marginalizado™, de "brasilidade" de-

sidentilicadora.

•' -âu -i^í*^ ^-«.

mBH 174, Casaldáliga {de óculosh o tuxaua Casemiro (esquerdal,

um representante do Cimi e Terêncio, que falou ao Papa.

Os Tapirapé vão à guerra

"Brasilidade", e também "ordem e

disciplina" foram "qualidades"

que.

poucos dias antes, o presidentíí da Fu-

nai. coronel Nobre da Veiga, disse ha-

ver encontrado, prazerosamente, na

missão salesiana do Alto Rio Negro, no

Amazonas. A mesma missão religiosa

que foi condenada, no final do ano pas-

sado. pelo Tribunal RusselI reunido em

Koterdam, onde depôs, como testemu-

nha de acusação, o índio Tukano Alva-

ro Sampaio, "educado"

pelos salesia-

nos do Rio Negro. Mas Nobre da Veiga

visitou a missão e gostou. Talvez por ser

a única área missionária, no Brasil,

que se opõe abertamente aos trabalhos

do Cimi.

O bispo de São Félix conclui, pedindo

a Movimento que passe um "recado"

a

todos aqueles que apoiam a causa-indi-

gena. para que se unam aos esforços

das lideranças que estão trabalhando

pela consolidação da UNI:

— Eu gostaria de convidar a Ordem

dos Advogados, os antropólogos, os es-

tudantes e todo o povo capaz de se sen-

sibilizar pelos direitos humanos funda-

mentais. Não podemos deixar que o fu-

turo dos povos indígenas fique entregue

ao SNI. á Segurança Nacional, aos "de-

cretos secretos", que. de uma hora para

outra, querem cortar todos os esforços

de sobrevivência desses povos. Somente

com a organização dos povos indígenas

é que se salvará, no Brasil, a "indiani-

dade". que não é apenas a identificação

de uma pessoa, mas de um povo, de

vários «pOVOS.

Tapirapé é um povo indígena dentro

dos limites da área da Prelazia de São

Félix do Araguaia, no norte do Mato

Grosso. São 170 pessoas, reunidas numa

só aldeia, uma gente alegre, que sempre

tentou resolver seus problemas por meios

pacíficos. Premidos pelos fazendeiros e

também pelos violentos Caiapó termina-

ram perdendo suas terras e indo se alojar

nessa região onde hoje estão, chegando a

pensar no "suicídio" da nação, reeusan-

do-se a procriar. por vergonha de con-

tinuar vivendo. Mas tomaram conscien-

cia e agora lutam bravamente por seus

direitos. Eles mesmos relatam, coletiva-

mente, o processo de sua luta atual con-

tra seu principal inimigo, a fazenda Ta-

piraguaia, que é ajudada pelos métodos

de "deixa

estar para ver como é que fi-

ca", aplicados pela FUNAI.

(José Wilson)

Nesse mês de janeiro a lata esteve mo-

vimentada. Chegou a notícia de que a

FUNAI tinha cedido uni pasto dos Tu-

pirapé à fazenda Ta piraguaia. Tirar a

nossa terra é a mesma coisa que tirar a

nossa mãe. porque nós vive nela. Os

Tapirapés flecharam os bois. bicaram

dois dias. fazendo flechas e foram. Fie-

cliaram vários bois e trouxeram alguns

para comer na aldeia. O chefe do posto

da FUNAI. sr. Ivà Baiochi. avisou ao sr.

lem pon i, chefe do Forque dt> Araguaia.

a que estava acontecendo. 0 sr. Iempom

mandou talar qne ele viria conversar.

Chegou no dia 14 de janeiro. Os Tapira-

pe querem falar com ele na Tukàna (ca-

sa dos homens) porque lá e que c lugar

de conversa de homem. Os Tapirapé es-

lavam pintados de jenipapo (pintura dc

tíuerrttl. com flechas e bordunas. O Sr.

I em pon i disse que queria saber o que es-

lava acontecendo e que depois ia falar

oara Brasília talar para Presidente da

FUNAI.

Os Tapirapé respondem: — Estamos

cansados de ser enrolados pela FUNAI.

Nao quer ver nenhum boi no pasto. Nem

hoi. nem ninguém. Estamos fazendo isso

nào é por ruindade, é porque nós precisa

de terra. Nós era 50 e agora nós somos

170. Estamos aumentando e precisa de

terra. A FUNAI promete e não faz.

Mandou Auxiliadora para Ver. Ela an-

dou com nós. viu tudo. Conversou, escre-

veu relatório, mas a FUNAI não liga. A-

gora nós não quer mais falar com empre-

gado da FUNAI. Nós queremos aqui o

Presidente da FUNAI. Não vamos mais

em Brasília. Já abusamos. Nós vamos

voltar lá no pasto. Se ainda tiver gado lá.

nós matar. E se morrer um índio, a pri-

meira pessoa da FUNAI que aparecer

aqui vai morrer também .

O sr. Temponi foi falar para Brasília.

Voltou e disse que o pasto não foi dado

para a fazenda Tapiraguaia. Disse que é

para tapirapé ir conversar com Presi-

dente da FUNAI em Brasília, que ele re-

cebe de braços abertos. Vai mandar um

avião para levar e trazer os índios de vol-

ia. Os Tapirapé dizem que não, que faz 7

mos que estáo indo lá por causa da

erra. que é para Presidente da FUNAI

dr. ver a terra de perto. O sr. Temponi

liz que o Presidente da FUNAI é Presi-

dente e que os Tapirapé devem ir lá fa-

zer o convite para ele vir na aldeia.

Tapirapé acham então que devem ir

iodos da aldeia. O sr. Temponi diz que O

avia» é pequeno, que ê para escolher al-

HUttS e levar também o professor e uma

Irmazinha (as Irmãzinhas de Jesus, como

o professor, são membros da prelazia de

I). Pedro Casaldáliga). Os Tapirapé res-

ntiiuteram:

— Por que é que oeê está falando

que Innàzinha ou rofessor pode ir?

I.ssa hua é dos 'natos.

O índio é queresolvi' .

Ot Tapirapé escolheram 4 represen-

tantes e eles levaram dois gravadores pa-

ra a aldeia ouvir depois da conversa gra-

rada. O Presidente da FUNAI assinou

papel, prometendo que até o dia 30 de

julho a terra será demarcada de acordo

com a vontadedosTapirapé.Os Tapirapé

estãoesperando para verse cumpre.(re\a-

to colhido na aldeia Tapirapé, para o

boletim Alvorada de março de 1981. da

Prelazia de S. Félix do Araguaia).

MOVIMENTO — 20 a 26/4/81

Page 7: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

w^ —RORAIMA

Um paraíso quase perdidoEm Roraima, um reduto de índios em liberdade relativa, cercados pelo ódio do branco

Antônio Carlos Moura

Amanheceu

chovendo, sábado.

11 de abril, e o terreno onde aos

fins de semana se realiza a fei-

ra, no bairro São Francisco, es-

tá que é só'lama. Na véspera chegaram

vários caminhões, da Secretaria da Agri-

cultura de Roraima e da Funai. earre-

sando respectivamente, os colonos que

trabalham nas glebas do INCRA e índios

das nações Makuxi e Wapixana, todos

trazendo seus produtos para vender na

pequena feira. Em Boa Vista, a capital

do território de Roraima, ao norte do

Equador, agora é que começa a estação

das chuvas.

As barraquinhas minúsculas dividem

o espaço do terreno enlameado: de um

lado. os índios com seus produtos — mi-

lho, arroz, farinha de mandioca, bana-

na, massa de buriti, galinhas... em ai

gumas barracas, também vassouras, pe-

neiras e outros objetos artesanais. Nas

barracas dos colonos, os mesmos produ-

tos da roça. com um pouco mais de va-

riedade.

Apesar da lama, o movimento não é

pequeno. É nessa feira das sextas e sá-

bados que muitos dos três mil Makuxi e

Wapixana que vivem destribalizados nai

periferia da capital aproveitam para se

encontrar com seus parentes que chegam

das malocas (aldeias). É quando se tro-

cam as notícias, daqui e dali.

Dos 32 mil índios existentes em Rorai-

ma (40% da população total do territó-

rio), quase 22 mil pertencem às duas

grandes nações Makuxi e Wapixana:

mais ou menos 14 mil de uma e oito mil

da outra. Além deles, os Taurepang,

>imbém relativamente "integrados"; os

lngarikó, Maiongong e Wai-Wai, dos

quais há aldeias com algum contato com

a sociedade nacional e outras bastante

isoladas; e os Waimiri-Atroari. "arre-

dios", segundo a classificação oficial,

pois. nos últimos dez anos, mataram os

integrantes de duas equipes (uma dirigi-

da pelo padre Calleri e outra pelo ser-

tanista Gilberto Figueiredo), que foram

atrai-los para facilitar, assim, a abertura

da BR-174, que veio a cortar suas terras.

ligando Manaus a Caracarai. o único

outro município de Roraima: todos esses

grupos terão, talvez, reunidos, pouco

mais de dois mil índios e. com exceção

dos Waimiri-Atroari, que vivem numa

faixa entre Roraima e Amazonas, são

binacionais, istoé, seus povos espalham-

se na fronteira do Brasil (Roraima) com

a Venezuela e a Guiana, de ambos os

lados. Os outros oito mil índios de Ro

raima são os Yomani, cuja grande

maioria ainda está a salvo do contato

com a sociedade nacional.

Apesar de serem, até há pouco tempo,

em número superior ao da população

nâo-india do território, os Makuxi e

Wapixana são os povos mais marcados

pela espoliação da sociedade envolvente.

Suai malocas, cerca de 120, situadas na

região nordeste do território, no muni-

cípio de Boa Vista, são ilhas no meio

das fazendas invasoras. A dominação

dos latifundiários do território (só agora

é que começam a chegar colonos de ou-

tros Estados e, dentro em breve, as gran-

des empresas agropecuárias) é mais pro-

funda: cerceando ao índio o direito a

terra, o fazendeiro do território emprega

os Makuxi e Wapixana como vaqueiros e

peòes. Explorados nos acertos, envene-

nados pela cachaça, golpeados em sua

identidade étnica pelo fazendeiro que os

chama de "caboclos" e à sua língua de

"gíria", os Makuxi e Wapixana so re-

centemente começam a se levantar da

humilhação em que têm vivido, nas ul-

timas décadas, desde que o branco en-

trou no território.

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Cláudia Andujar: uma luta incansável pelos Yanomami

oi te de sexta-feira. 10 de abril.

TWTno "Palácio da Cultura", no

I^W centro de Boa Vista, os quase

JL *4

200 lugares do auditório estão

tomados por estudantes que.

juntamente com alguns missionários.

foram assistir à apresentação de slides

de Cláudia Andujar. a coordenadora

da Comissão pela Criação do Parque

Indígena Yanomani — CCPY. A pre-

miada fotógrafa, que há quase dez anos

dedica sua arte-ofício à causa do povo

Yanomani. foi avisada, pouco antes, de

que haveria "bagunça" no auditório.

durante sua apresentação. O tumulto

seria promovido, possivelmente, por

pessoas ligadas ao coronel Hélio Cam-

pos, ex-governador do território, agora

deputado federal pelo PDS, que, há

pouco tempo, apresentou um projeto

de lei que prevê a retirada dos indíge-

nas situados numa faixa de 150 quilo-

metros ao longo das fronteiras do Bra-

sil. Ou seja. todos os índios de Rorai-

ma, e mais outros 60 mil. em diversos

Estados e territórios.

Sem demonstrar nenhuma preocupa-

ção, Cláudia explica ao público que os

Yanomani são o maior grupo indígena

ainda isolado, em grande parte, do

contato com a sociedade envolvente. O

povo Yanomani conta hoje com cerca

de 18.500 indivíduos: oito mil em Ro-

raima, 2500 no Amazonas e oito mil na

Venezuela. Vivem em malocas que abri

gam entre 30 pessoas, as menores, até

270, as maiores.

Há cerca de 12 anos, várias entidades

estão pleiteando a criação de um Par-

que Indígena Yanomani. Afinal, no

território onde existe a maior propor-

ção de índios de todo o país. nào seria

nenhum favor criar-se um parque para

o povo que mais conserva seu modo

original de vida.

Em junho de 1979, o ministro do In-

terior Mário Andreazza. recebeu a 12a

proposta de criação do Parque Yano-

mani. Foi talvez a mais longa e apai-

xonadamente preparada, e. em sua re-

taguarda. estava a recém-criada

CCPY. que conseguiu mobilizar, desde

então, a maior cadeia nacional e inter-

nacional de solidariedade que um povo

indígena, no Brasil, já recebeu. A pro-

posta da CCPY prevê uma área de

6 446.200 hectares de terras continuas

interligando a quase totalidade das 21

áreas Yanomani reconhecidas ofi-

cialmente. que hoje são como "ilhas"

de um "arquipélago".

Cláudia conclui sua exposição ver-

bal. As luzes do auditório são apagadas

e agora falam as imagens projetadas

na tela branca. Obras-primas de arte

fotográfica, cenas mais que perfeitas do

paraíso perdido, que Cláudia encon-

trou na selva de Roraima e resgatou em

celulóide. No meio do público, risos de

escárnio diante -de cenas singelas do

dia-a-dia dos primitivos Yanomani.

Nada da "bagunça"

prometida. Ape-

nas molecagem, protegida pela eseuri-

dão. Talvez, desrecalque de adolescente

mas certamente, reflexo do sentimento

anti indígena que existe em Boa Vista,

transmitido de pai para filho em cada

lar, disseminando em cada escritório

ou revendido barato em cada casa co-

mercial. espalhado oficialmente em ca-

da escritório ou repartição pública: "o

índio é um estorvo para o progresso do

território; o índio é preguiçoso e não

produz: para que dar terra ao índio?"

Terminam as cenas maravilhosas da

vida preservada dos Yanomani. De re-

pente, na tela branca, o rosto indefini-

vel de um índio jovem, usando um

capacete da Camargo Correia, a emprei-

teira que abriu a estrada genocida. As

imagens seguintes são do inferno: um

menino prostrado na rede, o corpo in-

cendiado pelo sarampo. Adultos e crian

ças esqueléticos, recolhidos na Biafra

que se instalou com as epidemias, após

a abertura da perimetral norte. No au-

ditório. um silêncio comovido. As luzes

se acendem. Cláudia Andujar. o pensa-

mento fixo na redenção do povo Ya-

nomani. esquece as galhofas anônimas

do preconceito, e dá um voto de confian

ça àquele público que bebeu no leite

materno o ódio ao índio: "eu

estou

muito feliz com a presença, aqui. desta

juventude que é o futuro de Roraima".

No dia seguinte, Cláudia não escon-

de sua preocupação com a notícia que

vem recebendo, por telefonemas e re-

cortes de jornais do sul que lhe chegam,

em Boa Vista: o governo federal, pres-

sionado pela opinião pública, vai criar

o Parque Yanomani, mantendo, po-

rém. a estrutura de arquipélago. Se-

riam sete áreas dos Yanomani. separa-

das por reservas florestais e ecológicas.

Nos bolsôes roubados ao crescimento

do povo Yanomani. haveria, ainda, a

presença de forças de segurança e as

trágicas estradas. Já não seria um par-

que indígena, mas um "parque fede-

ral"."Se

se concretizar essa proposta, os

Yanomani não só vão perder terras que

hoje ocupam, mas terão seu crescimen-

to demográfico cerceado. Se se adotar

mesmo o critério de desmembramento

do território Yanomani em "ilhas indíge-

nas", com a presença de tropas federais

nos chamados "corredores" — que. na

verdade, representam mais de 2/3 da

área. estará sendo apressada a desor-

ganização dos grupos e a ruptura do

equilíbrio sócio-cultural das comunida-

des. comprometendo a coesão étnica".

Cláudia acredita na vitória do bom

senso. Com ela. são muitos que os que

acham que. no Dia do índio, se deveria

comemorar o direito do índio a viver,

com dignidade. Neste final de quares-

ma, na Igreja católica, comenta-se que

o tema da Campanha da Fraternidade

(que este ano foi saúde e, em 82. será

educação), poderá ser. em 1983. do in-

dio. Com o sugestivo slogan: "aquele

que deve viver". Que nào seja dema-

siado tarde, para os Yanomani.

Antônio Carlos Moura,

de Roraima

MOVIMENTO — 20 a 26/4/81

Page 8: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

IGREJA

Ouando a violência é justaD. José Marta Pires, o D. Pele, explica porque não vê melhorias nas relações Igreja e Estado

Tibério Canuto

Bispo da Diocese de João Pessoa Pa-

raíha. Dom José Pires o Dom Pele.

identifica-se claramente com os setores

progressistas da Igreja e desenvolve um

pmlundn trabalho de bases na sua dio-

,rsr. Entre eles. destaca-se o de Alaga-

,„,„: onde o grau de organização da co-

munidade de posseiros forçou O governo

a tomar uma medida até então medita:

desapropriar a área em favor dos possei-

r"S , um *

Em entrevista ao tomai Movimento,

Dom José Pires fala da relação entre a

Igreja e o Estado, considerando-a inalte*

rada pelo projeto de abertura de Liguei-

redo. posiciona-se sobre a questão da

violência dos oprimidos e analisa a rela-

,ao dos setores eclesiais de base e o

Partido dos Trabalhadores. E mostra-se

pessimista com OS partidos institucionais

existentes, considerando todos eles como

partidos cupulistas. ¦manipulados

por

grupos'. E. para completar, rechaça a

critica segundo a qual a Igreja é ahsten-

cionista e prega 0 purismo em matéria dt

p-olítica.

Movimento — Ao longo dos últimos 17

anos. a.s relações entre a Igreja e o Estado

foram problemáticas, principalmente de-

pois do posicionamento da própria cúpula

trlcsialem defesa dos Direitos Humanos e

de uma aproximação com os movimentos

sociais urbanos e rurais. A política de

abertura "

ensaiada pelo general higuei-

redo teve. entre outros objetivos, diminuir

as áreas de atrito do regime. Agora, o

general Figueiredo teve de repensar a

própria relação entre a Igreja e o Lstado.

Como o senhor avalia a relação Igreja/ts-

tudo no período Figueiredo'.' Há uma

tendência na cúpula da Igreja a um

diálogo com o regime, OU a relação Igre-

ia/Estado continua tão problemática co-

mo antes?

Dom José Pires - A meu ver. o processo

de abertura em nada modificou a relação

entre a Igreja e o Estado e seus proble-

mas têm a sua origem antes mesmo da

chamada abertura. A sua base toi a op-

cão clara e concreta da Igreja pelos po-

bres. vítimas das injustiças que decorrem

do nosso sistema social e político, ial

opção transformou a Igreja numa instan-

eia crítica no sistema econômico, social r

político.

só será revertido na medida em que o

governo se orientar em favor da solução

dos grandes problemas do povo. Se isto

acontecer, não tenho dúvidas de que

regime e Igreja se reencontrarão. Não

mais nos palácios, mas lado a lado com o

povo. Como o atual governo não dá de-

monstrações disso, e como a Igreja não

abre mão da defesa dos oprimidos e dos

Direitos Humanos, creio que as relações

continuarão atrilosas pois não há razões

para a sua alteração.

Movimento — Uma das alterações im-

pi ementadas pelo governo Figueiredo re-

fere-se á política adotada em determi*

nadas áreas rurais, onde o conflito da

terra apresenta uma intensidade muito

urande. como foi o caso de Alagamar. na

Paraíba, onde o regime efetivou a desa-

propriaçao e concretizou uma "reforma

agrária'' a seu modo. Como a igreja ve

Asa nova política do regime e até que

ponto ela dificulta o trabalho dos setores

eclesiais nessa área?

Dom José Pires— Não se pode negar que

o problema número um para o povo e a

nação é a posse da terra, o que pressupõe

uma reforma agrária global e radical,

coisa que o governo não está disposto a

promover. Na medida em que surgem

conflitos em determinadas áreas, estes

têm sido resolvidos contra os posseiros.

iore\ana°

¦¦ crt£3*»1

flUatq»erP**rtld°

r

9

ilPor outro lado. o governo é o baluarte

maior de um sistema profundamente in-

justo, o que provocou o desencontro en-

tre a Igreja e o Estado. Tal desencontro

87

Só quando estes têm um grande grau de

organização é que o governo tem agido,

impondo medidas parciais que não solu-

cionam os problemas. Nesse sentido, po-

demos dizer que a política do governo, ao

não responder globalmente a questão da

terra, será impotente para deter a cami-

nhada dos trabalhadores que padecem

por não ter a posse da terra. Quanto às

soluções parciais, do tipo Alagamar, on-

de a coisa vem como uma "doação

do

governo" e não como uma solução efeti-

va e global, a reação da comunidade

agrícola dependerá do seu grau de cons-

ciência e organização. Aqui em Alaga-

mar. a política do governo não resolveu o

problema e não lhe deu muitos dividen-

dos políticos, uma vez que o longo traba-

lho realizado pela Igreja elevou a cons-

ciência da comunidade e esta percebeu

claramente o caráter paliativo da medi-

da. É de supor, porém. que. em áreas

onde não exista o mesmo grau de orga-

nizaçào de Alagamar. o regime venha a

colher dividendos com suas medidas pa-

liativas.

Movimento — Recentemente. Dom Aloi-

sio Lorscheiter descontentou setores go-

vernamentais ao considerar justos os sa-

quês realizados pelos camponeses atingi-

dos pela seca. Isso trouxe de volta o debate

da posição da Igreja sobre a violência dos

oprimidos. Como o senhor se posiciona

sobre esse tipo de violência e sobre a po-

sição dos cristãos na Nicarágua, que che-

g.iram a pegar em armas, ao lado do povo,

para derrubar um governo despódico e di-

tutorial?

Dom José Pires- Há que se fazer uma

diferença entre a violência e a necessida-

de. 0 que se pode concluir das palavras

de Dom Aloisio é queo direito da neces-

sidade tem prioridade em relação ao

direito da propriedade e foi o que aconte-

eeu no caso dos saques em decorrência

da seca. A necessidade de se alimentar

foi o que levou os flagelados a fazerem

saques, em detrimento do direito da pro-

priedade. Em determinadas circunstân-

cias. isto c justo. Mesmo assim, a Igreja

jondenaria qualquer violência contra as

pessoas, contra os proprietários dos bens

saqueados, o que felizmente não ocorreu.

Somos contra a violência como um pro-

cesso, como um caminho de solução dos

problemas. Agora, em determinados ca-

sos. a única maneira de se opor à violên-

eia é afastando a tonte geradora dessa

própria violência Foi o que aconteceu na

Nicarágua. Lá existia um governo que

era a fonte geradora da violência e o que

os cristãos fizeram foi unir-se ao povo

para afastar essa fonte.sendo coerentes

com o princípio da não-violência, des-

tronando quem estava no poder. E tanto

isso é verdade que o novo governo nica-

ragüense não praticou violências, não

torturou e não fuzilou. Repito: a Igreja c

contra a violência, mas às vezes, a única

solução para pôr fim nesse estado de

coisas é afastando do poder os que a pra-

ticam.

Movimento b-Alguns intelectuais consi-

deram que no Brasil existem dois par-

tidos políticos: as Forças Armadas e a 1-

greja. esta um partido invejável por sua

poderosa estrutura de comunidade de

bases. Na presente reorganização parti-

daria, a proposta do Partido dos Traba-

lhadores atraiu a maioria dessas comu-

nidades de bases fenômeno que estaria

preocupando alguns setores da cúpula

da Igreja. Até que ponto ê válida a

acusação de que a Igreja atua nos moldes

dc um partido político c até que ponto

ria se preocupa com a concorrência do

FL ou de qualquer outro partido inslitu-

cional?

Dom José Pires — E simplificar muito

dizer que a Igreja c um partido político,

ainda que informal. O que há é que ela.

como um todo. apesar de suas diferenças

internas quanto aos enfoques a serem

dados, tem procurado defender a maior

participação do povo não só nos beneti-

cios sociais mas também nas decisões

nacionais. E isto não a caracteriza como

um partido.

Não há a preocupação da cúpula da

Igreja com a identificação das comuni-

dades de base com o Partido dos Traba-

lhadores ou com qualquer outro partido.

A Igreja incentiva os compromissos poli-

ttco-partidários aos seus fiéis. As comu-

nidades eclesiais de base não podem

se comprometer com nenhum partido

porque isto as fecharia para os cristãos

que não pertençam àquele partido. Mas

sto não impede a opção individual dc

cada membro em torno deste ou aquele

partido. No meu modo de entender, até o

presente, todos os partidos institucionais

têm muito pouco a oferecer para um

projeto de uma sociedade justa, íguahta-

ria e livre. Neles ainda predominam in-

teresses de grupos e os grandes proble-

mas do povo não estão merecendo a im-

portância devida. Quero crer quc. no

momento, os movimentos de base deve-

riam dar mais força à política social do

que à política partidária institucional. Só

eom sindicatos livres e movimentos de

base mais fortes é que se pode pensar

em partidos poderosos que se transfor-

mem em veículo das aspirações popula-

res.

*.Todos os

.rt\dost«e

*«' *»*&***.

matei"*11»

'¦Movimento — Determinados setores têm

considerado essa visão que o senhor ex-

pôs como "hasista"

e criticam a Igreja

por ficar, em seu trabalho de base. ao

nível do "vivencial

e comunitário", cain-

do numa espécie de abstenção política

que favorece o regime, pois, por exem-

nio. em eleições passadas, enualgumas

uras em que a Igreja tinha um trabalho

forte, o partido do governo foi 0 mais

votado...

Dom José Pires — Até o momento, não

ivemos outros partidos que não o do

governo. No máximo tivemos partido de

oposição consentida. O problema não

está na Igreja, mas nos partidos; mesmo

osde oposição que sempre foram de cúpu-

a. E mesmo que cheguem ao poder, não

,erá o povo que terá conseguido isso.

Terá sido a elite oposicionista.

Além do mais. a ação político-partida-ria não é o campo da Igreja, embora ela

nào seja indiferente à política. A ela cabe

promover uma verdadeira educação poli-fica, mas não lhe cabe organizar a atua-

ção partidária. Tal missáo cabe à soeie-

dade civil e aos homens de diversos cre-

dos religiosos. Como instituição ela não

pode ultrapassar a sua competência. Por

exemplo, os cristãos podem debater so-

bre a Constituinte, mas esta não é a mis-

sào da Igreja. Ela pode criticar uma

Constituição injusta, mas não pode se

.-tosicionar favorável a tal ou qual pro-

posta de Assembléia Nacional Consti-

tuinte.

MftWíU.-VW--^W* MH*M**

Page 9: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

MOVIMENTOS POPULARESf

SALÁRIOS

O acordo indesejadoO acordo proposto pela VW rebai

José (

xa salários c não garante o emprego

arlos Ruy

• O dei ate em torno da redução na jor-

nada de trabalho dos operários, em fun-

ção da crise que a indústria brasileira

atravessa, teve lances decisivos na sema-

na passada em São Bernardo do Campo.

A assinatura, no último dia 10. de um

protocolo de intenções (veja box) entre o

Sindicato dos Metalúrgicos e a direção da

Volkswagen, aprovando a diminuição da

jornada de trabalhe» naquela empresa,

causou grande perplexidade entre as li-

deranças operárias da região. Esse açor-

do só se tornaria efetivo se aprovado em

um plebiscito realizado nos dias 15 e 16,

ocasião em que os 30.859 empregados da

Volkswagen em São Bernardo manifes-

taram-se a respeito.

Já no dia seguinte à assinatura do pro-

tocolo, 43 membros da Comissão de Sa-

lários reuniram-se no sindicato e deram

um "ultimatum" à diretoria: junta-

mente com os membros da Junta Gover-

nativa, ela deveria comparecer aos por-

toes da Volks e aconselhar aos operários

a votar "não". Caso contrário, a pró-

pria Comissão de Salários faria isso sozi-

nha. Segundo Wagner Lino Alves, da Co-

missão de Salários, foi esse "ultimatum"

que fez a diretoria praticamente voltar

atrás e lutar contra a aprovação de um

protocolo que ela própria havia aceitado.

A Comissão de

Salários deu um

•'ultimatum"

Assim, Afonso Monteiro da Cruz, presi-

dente da Junta, desmentia que o sindicato

havia aprovado o acordo, acusando "ai-

guns órgãos de imprensa" de torcer os

fatos. "O

que fizemos — disse ele — de-

pois de muita discussão, foi assinalar um

protocolo de intenções onde fomos prati-

camente obrigados a aceitar as imposi-

ções da Volkswagen". De qualquer for-

ma, na segunda feira, Lula e seus com-

panheiros já estavam nas portas da

Volks distribuindo um boletim onde

apresentavam os motivos pelos quais o"sindicato é totalmente contrário à redu-

ção": "D

Porque o trabalhador já passa

fome com o salário inteiro, com o salário

reduzido será pior; 2) Porque a Volks-

wagen, quando teve lucros fabulosos,

nunca quis dividi-los com os trabalhado-

res; 3) Porque enquanto alega retração

nas vendas, aumenta os preços dos car-

ros; 4) Porque, ao mesmo tempo que

alega prejuízos na fabricação de carros,

investe milhões de dólares em caminhões

e tem lucros fabulosos com fazendas e no

mercado financeiro".'O boletim termina

aconselhando os trabalhadores a "pen-

sar antes de votar": "não

é baixando

as calças que vamos segurar nosso em-

prego. Pense bem. Pense e depois vote

conscientemente. O Sindicato respeitara

o resultado".

Para Luiz Inácio da Silva, o Lula. a

Junta Governativa "agiu

de boa fé"

quando assinou o acordo. Perguntado se

a aprovação do acordo pelos operários

não representaria um grande desgaste

para a diretoria cassada, respondeu _di-zendo que

"o sindicato tem que correr o

risco político de perder uma votação,

mas não pode. por uma questão de

princípio, deixar de se manifestar contra

um acordo para redução de salários", E

advertiu os operários: "se

vocês vota-

rem sim, fiquem sabendo que vai ser

muito difíci1 levantar a cabeça outra

vez".

A redução da jornada

representará uma

grande derrota

Como a situação em São Bernardo po-de chegar a esse ponto de confusão? Se-

gundo uma ala da Comissão de Sala-

rios, os erros vem de antes, acentuando-

se quando a Volkswagen, no ano pas-sado. realizou eleições para sua Comis-

são de Representantes. A diretoria eas-

sada não quis participar e recomendou o

voto no "Zé

Ferrador", personagem sim-

bolo da categoria, deixando, segundo as

críticas, "spaço "Herto para uma Comis-

são de Representantes dócil aos interes-

ses da empresa, que foi a grande res-

ponsável pelo abaixo-assinado propondoa redução da jornada e teve ampla liber-

dade para atuar dentro da Volks, intimi-

dando os operários e criando o ambiente

para a aceitação da jornada reduzida.

Isso ameaça inclusive deixar o mo-

vimento operário de São Bernardo sem

saída nessa crise. A aceitação pelos ope-

rários da redução na jornada significará

praticamente o estabelecimento da jor-

nada reduzida em todo o país, ou seja,

uma grande derrota para os trabalhado-

res.

Por outro lado, a vitória do "não"

deixará os trabalhadores desarmados

frente à Volkswagen, e as demissões em

massa continuarão, possivelmente com

mais força. O próprio diretor de Relações

Industriais da Volkswagen, Admon Ga-

nem admite isso: segundo ele. existem na

empresa "5

mil funcionários dispensáveis;

2 mil deles não fazem nada hoje e quatro-

centos estão no ócio".

As criticas ao comportamento da lide-

rança metalúrgica de São Bernardo par-

tem também, indiretamente, de outra

fonte. Espertamente, o presidente do

Sindicato dos Metalúrgicos de São Pau-

lo. Joaquim dos Santos Andrade, que

está em campanha pela sua reeleição,

manifestou-se contra qualquer acordo

que implique redução de salários, e

desde segunda-feira 120 mil exem-

plares do jornal O Metalúrgico, do sin

dicato. estão sendo distribuídos entre os

metalúrgicos de São Paulo. A Federação

dos Metalúrgicos de São Paulo, dirigida

por outro notório pelego. Argeu Egydio

dos Santos, também está contra o açor-

do, e pediu ao ministro Murilo Macedo a

revogação da lei que permite a redução

da jornada de trabalho e a criação de um

salário-desemprego.

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30.H59 julgaram o acordo que reduz a jornada

Um protocolo de más intenções"O

protocolo de intenções" assinado

entre a diretoria do Sindicato dos Me-

talÚTgicos de São Bernardo e a direção

da Volkswagen estabelece que a redu-

ção de cinco dias pur mes na jornada de

trabalhe*, "com

a conseqüente redução

salarial", ocorrerá em maio. junho c

julho, podendo ser prorrogada por

igual período, "mediante expressa co-

municação fundamentada da empresa

ao sindicato". Alguns setores burocrá-

ticos, os empregados na manutenção e

assistência médica, "bem

como os se-

tores envolvidos no esforço de comer-

ciali/.ação e exportação" estão excluí-

dos da redução na jornada.

Os itens do acordo que mais causa-

ram polêmica são aqueles que dizem

respeito às garantias de estabilidade

que a empresa oferece aos empregados— nenhum empregado será demitido

na vigência da redução da jornada e

nos quatro meses seguintes. Entretan-

to, o protocolo ressalva os casos de pe-

dido de demissão e demissão por "mú-

tuo acordo, com a assistência do sin-

dicato dos trabalhadores, ou em virtu-

de de prática de falta grave, devida-

mente comprovada". Diz ainda que "se

algum empregado tiver que ser demiti-

do. por razões inevitáveis em relação à

vontade da empresa e para a realização

das quais esta não concorreu direta-

mente, o sindicato será expressamente

comunicado". Isto é. a empresa não

oferecia nenhuma estabilidade para os

empregados.

A redução na jornada de trabalho

será acompanhada de grande rebaixa-

mento nos salários. O texto do acordo

diz que "as

perdas salariais serão, em

média, de 19% por mês". Este nume-

ro. entretanto, pode ser enganoso, e as

perdas poderão ser maiores. O acordo

salarial deste ano prevê aumentos a

partir de Io de abril de 47,1% do INPC

mais 8% para quem ganha entre 1 e 3

salários mínimos, de 6,1% para as fai-

xas de 3 a 10 mínimos e 3.0%. para

quem ganha mais de 10 mínimos. Ora,

esses números significam, respectiva-

mente, 58,9%, 56.0% e 51.5% acima

do salário do mês de março. Com uma

redução média de 19%, esses números

cairão para 28,7%. 26,0% e 23.0%,

respectivamente, nos meses em que vi-

gorar o acordo. Dessa forma, o reajuste

salarial nesses meses será significativa-

mente inferior ao previsto. Uma tabela

publicada pela Gazeta Mercantil mos-

tra que a perda do poder aquisitivo dos

salários chegará a 48,48% em junho.

Isto é. nesse mês, os trabalhadores re-

ceberão um salário cujo valor real cor-

responderá apenas a 51.02% dos sala-

rios de abril.

Outra coisa que ajudou a aumentar

os ataques ao protocolo é o fato de que,

além de reduzir drasticamente os sala-

rios, a Volkswagen — se conseguir

aprovar a redução da jornada — estará

dando o sinal de partida para que todas

as empresas possam jogar o custo de

suas dificuldades nos ombros dos tra-

balhadores; 23 empresas da capital e

do interior de São Paulo já manifesta-

ram a intenção de adotar a jornada

reduzida, e existem notícias de que

grandes indústrias do ABC estão aguar-

dando apenas o resultado das negocia-

ções na Volkswagen para iniciar um

processo semelhante.

Uma empresa, pelo menos, já redu-

ziu a jornada de trabalho. Trata-se da

Petri do Brasil S A. fabricante de volan

tes para carros, localizada em Jundiaí,

S. Paulo, onde 70% dos 500 emprega-

dos aprovaram um acordo semelhante a

este proposto pela Volkswagen (J-C-R.)

MOVIMENTO - 20 a 26/4/81t*

Page 10: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

POLICIA

Os DOI CODIs treinam de inA pretexto de combater a criminalidade torturadores do DOI-CODI reaparecem em cena.

Iara Dalmaso ""'"O trânsito estava completamente en-

garrafado e eram já 10 horas da noite noRio. Em frente ao Palácio do Catete,antigo reduto de Getulio Vargas, cavale-tes fechavam a rua e em cima dos cava-letes as metralhadoras eram apontadaspara os carros que só podiam prós-seguir um a um. Por trás delas, a PolíciaMilitar, cujo comando jura que ali está"para dar maior segurança à popula-

Isso foi em uma segunda-feira, dia 13de abril de 1981, mas dois dias antes noRio Comprido, no Cosme Velho, no Le-blon e em outros bairros a mesma cenase repetia, já passou a ser uma rotina nacidade. A justificativa vem através daimprensa que fala em uma caça desen-freada às quadrilhas de assaltantes debancos: o chamado Comando Vermelho.

Em nome do grupo de presos da Lei deSegurança Nacional, fugitivos da IlhaGrande e outros presídios do Rio, a poli-cia saiu às ruas como no início da décadade 70. Carros são revistados, metralhado-ras sào colocadas em posição de disparosem que se explique o motivo, pessoasdesaparecem e outras ficam incomunicá-veis durante mais de 60 dias, sob tortura,como é o caso de Maria José Ferreira daSilva, viúva do ex-preso Apolinário deSouza, o Nanai, morto em tiroteio com apolícia.

A violência do cerco da Ilha do Gover-nador, quando o assaltante José Jorge

Saldanha foi encurralado por mais de400 homens é um exemplo recente daforma de atuação da Polícia Militar emais: é um ponto de reflexão, não só porsua violência contra os moradores, pelagratuidade da destruição do apartamen-to em que se encontrava o assaltante,mas também porque foram identificadosentre os policiais que agiram na Ilha ho-mens ligados a diversos órgãos de repres-são política que atuaram de forma efeti-va nos anos 70 combatendo os movi-mentos de oposição ao regime.

Ex-presos políticos não hesitaram emreconhecer pelas fotos publicadas nosjornais e nas revistas, policiais do Depar-tamento de Ordem Política e Social quealém de testemunharem contra eles fo-ram em algumas situações intermedia-rios deste órgão com o DOI-CODI.

O fato pode parecer menor se lembrar-mos que o segurança do camarote doGovernador Chagas Freitas no desfiledas escolas de samba, no carnaval, era oUbiraci Santoro, o Touro, que além deter sido acusado de assassinar o operárioAézio na Delegacia da Barra da Tijucaem 1979, declarou em uma entrevista tersido um elemento "da maior importân-cia quando atuava no DOI-CODI".

No entanto, o fato passa a ser damaior gravidade quando lembramos queo DOI-CODI foi um órgão criado em1970 para atuar na chamada "guerra in-terna", quando os militares dividiram o

País em áreas geográficas e cada uma Muniz.. ********£**•"rança e

delas recebeu um Centro de Operações do Corone N Itoi Cerque£ Coman

de Defesa Interna (COD1) que coordena- dante-GeraJ da Policia M»1^ ^b~

va os vários Departamentos de Opera- ligados diretamente a comunidade de

cões Internas (DOI). Subordinados ao segurança que reprimiu os PJWPMDSL^feE&do Maior da área em cos durante longos e sangrentos anos. que

que atuam, os DOI-CODIs e osDPPS asumiram o controle da ação de repressãoaos .presos políticos, respondendo publi-camente pelas prisões.

A violência cometida nestes órgãos foidenunciadaem todo o mundo e a luta pelaelucidação da situação das pessoas mor-tas e desaparecidas nesta época aindahoje prossegue, muito embora o Governoinsista em declarar através de todos osseus representantes que não vai admitir"revanchismo", que estes são crimes deum passado remoto, que a Anistia apagoude nossa história. ..

No entanto, o aparelho repressivo queperseguiu, torturou e matou continuavivo e à disposição do regime. Não setrata de condenar a repressão aos assai-tos mas denunciar as formas e os meiosque estão sendo utilizados pela polícia doRio em nome de uma quadrilha de as

/ ií_l.

hoje são vistos pelas autoridades militares como "um passado distante que nãodeve ser revivido sob pena de se promo-ver o retrocesso do processo democráti-co".

A presença da comunidade de segurança que atuou naqueles anos é hoje umfato inquestionável no Rio, no combateao Comando Vermelho, grupo de presosque têm nos presídios daquela cidadeuma longa, e também sangrenta histó-ria na luta contra a violência nas prisões.

Um grupo que incomoda o sistemapenitenciário, que assusta banqueiros eempresários e que permite a ida da PMàs ruas para invadir conjuntos habita-cionais, manter intensos tiroteios nasruas da cidade e mais uma vez colocarem ação um aparelho repressivo quecontinua intacto e que a qualquer mo-

Rio em nome de uma quadrilha de as- mentQ ser aclonad0i tanto no ter-saltantes que, segundo a própria policia ^^ ^^ tQ n0 terrcno economi-está praticamente desbaratada! Todo Soma.se ainda a este quadro os aten-aparelho repressivo estatal esta nas ruas tadQs terroristas de entidades clandesti-como se cada cidadão fosse um suspeito sàQ esclarecidos.em potencial. Como se vivêssemos nova- .mente um tempo de "guerra interna". Enquanto a policia diz reprimir o cn-

Vale registrar ainda que estes homens me organizado, a população que se guar-estào sob o comando do General Waldir de e a oposição que se cuide.

m\ & •m ¦UIS 1 M *m\\ni a ~ ¦

•00 M y g^Ê ^ft¦ 1 1 ^mmmmmmrT^mW mmKÍk ^« ^r ^LW*^****)¦ il <iw Amm^B *\¦f Zi B *m\^Sm~J* I _\

'if^H^t ÚÉ£;-*i''Mmmm ET'|flK^:*^^(^«HBBí»^i^ ¦'^**mm 0w**W^- h fl tEl^BR^- * ***¦ --m^*0Mm^í?-Y/litf:ÉmmmmmmÍ^Í*^ Jr 'TiStàtmi

[\o cerco ao "Cornar

bandidos ou trein

NAO DEIXE ESTA VOZ SER CAMOVIMENTO PRECISA DE SIM

Uma voz que se levantou emdefesa da Anistia. Saiu à rim, an-tes de qualquer publicação, afir-mando a irnjwrtância de uma As-sembléia Constituinte livre e so-berana. Denunciou os contratosde risco, antex*iu a escalada deuma dívitia externa galofiante ese o/xis à entrega do pãíã aosgrandes grupos estrangeiros.Deu voz ao jhivo pobre dos qua-tro cantos do pais. Trouxe a pú-blico as dissidências militares edivulgou alguns dos maiores es-cândalos de corrupção da Repu-blica. Revelou a extensão dosproblemas da mulher brasileira.Discutiu (ts problemas da nossacultura e publicou textos dosmaiores escritores do pais. limavoz viva liá 6 anos, que a censuranão conseguiu calar, (jue o ter-rorismo não intimidou.

.Mas essa mesma voz jyode mor-rer agora.

E só você, o leitor, é capaz demantê-la forte e vigorosa.

Movimento, por trazer sempreuma informação honesta, popu-lar e democrática, definitivamen-te sem nenhum compromissocom grupos econômicos, nuncapôde beneficiar-se dos créditos eincentivos a que as empresas bra-sileiras têm direito: empréstimosbancários, descontos normais detítulos, parcelamento de dívidas.E jamais pôde contar com a re-ceita certa de todo jornal ourevista: os anúncios.

E além de tudo sofreu umenorme prejuízo nos três anosem que esteve submetido à cen-sura prévia: 17.500.000,00 emjulho de 1977.

Na verdade, a receita de Movi-mento veio sempre de seus leito-re*. Esse dinheiro — e o esforçode seus funcionários e acionistas— é que sustenta Movimento. E

\ 'jffiCr*'.¦'¦','jyffifr*' ^V Ü^^^H^EH^^k' *\mm\ mmmW^rW'^'''

*\m*rí*mt-J::ja-Jm:lf7-"mmmmmmWm*-.'.-i , VTX^ifclLL. V ImVL I J^**mm*T*t~jjf^. ,*f^ 4^0 «ü»*1^ * 7 ¦***$!& ^á^ MmmmmmMÊj ' '*h ^MBc/~**\\W'i lf ^%7*- W* ?*f<e**\WL}S$.. ¦.'.-.

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que ao longo tios anos jter o jornal em razoáxbrio.

Nos últimos meses tiçou a mudar. A inflaçitrolada aumentou 123'do \mpel. Os custos decresceram 342% de1980 a março de Hdisso, os atentadoscontra bancas de jortaram Movimento de ,seus mai* importantesvenda. Cerca de 60c/t ipararam de vender IN

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MOV!MENTO — 20 a 26/4/81 MOV IMF10

Page 11: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

EDUCAÇÃO

novo O imperador da PUC-RJn cena.

nça, eoman-ambos •.de depoli ti-

>s, quemilita-ue nãoiromo->ocráti-

eguranoje umambatepresoscidade

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/Vo «cercoao "Comando Ven*%elhoffy ca*ça abandidos ou treino doa DOI-CODIs?

Pela segunda vez em pouco mais deum mês de período letivo a PontifíciaUniversidade Católica do Rio de Janeiroestá com as suas aulas paralisadas porum movimento de protesto de professo-res e estudantes. Como ocorreu na greveprecedente, iniciada no primeiro dia dareabertura das aulas, também agora acausa do movimento é a intransigênciado reitor da PUC, padre João Mac Do-well, que se nega a reintegrar os 28 pro-fessores demitidos no período de férias ea promover modificações no estatudo dauniversidade para criar um processo co-legiado de decisões.

A assembléia dos professores que de-cretou a paralisação, por duas semanas,aprovou a decisão de greve por 90% dosvotos, índice que mostra a indignaçãogerada pela atitude do reitor, que fingiuaceitar as reivindicações dos professorese estudantes, para provocar a suspensãoda primeira greve, mas nos bastidorestramou para a manutenção do caráterditatorial do processo de decisões nauniversidade. Em apenas 15 dias. ficouclaro para todos o jogo do reitor: MacDowell admite "democratizar", mas des-de que se mantenha como ditador, atra-vés do exercício do poder de veto.

Na assembléia anterior, realizada nodia 23 de março, os professores chega-ram a acreditar que o reitor, diante daresistência vigorosa às demissões e dapressão para democratizar as decisões naPUC, finalmente aceitara encaminharuma solução para a crise através de ne-gociações. Através de uma comissão es-pecialmente designada para esse fim, o

Conselho Universitário concordou emexaminar uma proposta de modificaçãode estatuto que atribuísse ao corpo do-cente a indicação, por eleição, dos dire-tores de departamento (faculdades) e dosdecanos de centros (que reúnem diferen-tes departamentos). Além disso, seriaatribuída às comissões gerais de cadadepartamento, eleitas pelos professores,a competência para decidir de admissõese demissões em seu quadro docente. Aocriar uma estrutura colegiada de deci-soes, a proposta abriria caminho para areintegração dos professores, num pro-cesso natural, sem ferir o orgulho do rei-tor, que. numa atitude pouco cristã, re-cusa reconhecer que as demissões, maisque um ato de arbítrio, foram simples-mente um erro.

Antes da reunião em que o ConselhoUniversitário examinaria a questão, ncdia 9 passado, Mac Dowell manobrou. Eo que era esperança de professores e es-tudantes se converteu em profunda frus-tração: a proposta inicial foi adulteradapor uma emenda do reitor, que con-cordou com o processo de eleição mas seatribuindo o direito de veto, como umaespécie de Poder Supremo. Pelo textoconcebido com pecado, a rejeição do vetosó se daria por maioria qualificada dedois terços, o que significaria na práticaque todos os vetos praticamente seriammantidos, pois levará tempo para que oConselho Universitário tenha uma com-posição realmente representativa do cor-po docente. Com isso. Mac Dowell dáuma de miguel: na aparência, o poder édemocrático; na realidade, continua im-

perial, autocrático, como até agora.Em sua obstinação de usufruto unipes-

soai do poder, Mac Dowell conta com oapoio da grande imprensa do Rio, quesilencia sobre o movimento dos professo-res, a justeza de suas reivindicações e oempenho do corpo docente, associadoaos estudantes, de melhorar as ativida-des acadêmicas da PUC, ante a tendên-cia de Mac Dowell de transformá-la emmero objeto de pecúnia. um estabeleci-mento mercantil, uma casa de usura,embora a Igreja condene essa cupidezdesde São Tomás de Aquino, há sete sé-culos. Nesse esforço de sustentação daautocracia na PUC destaca-se o Jornaldo Brasil, que deturpa e frauda a in-formação e apresenta a seus leitores edi-toriais mentirosos, feitos de encomenda,

"Nessa batalha — disse a Movimentoum dos professores grevistas — nós pre-cisamos do apoio de instituições cientí-ficas e acadêmicas, associações profis-sionais e outros órgãos da sociedade ci-vil. que devem dirigir mensagens ao rei-tor (Rua Marquês de São Vicente, 225,Rio de Janeiro. RJ), para mostrar que aspessoas de bem querem uma soluça»,digna e justa para a crise da PUC. Assimprofessores e alunos poderão sustentarmelhor esta luta contra o anacronismoque priva professores de seu sustento,desfalca a universidade de pessoal quali-ficado e transforma uma instituição co-mo a PUC do Rio de Janeiro num balcãode negócios, onde o 'cliente' paga caro erecebe um serviço deficiente," (.-«-unirBarbosa, Rio de Janeiro)

ER CALADA.)E SUA AJUDA. OU MORRE.

que ao longo tdos anos pôde man-ter o jornal em razoável equili-brio.

Nos últimos meses tudo come-

çou a mudar. A inflação descon-trolada aumentou 1237c o custodo \mpel. Os custos de impressãocresceram 342% de março de1980 a março de 1981. Alémdisso, os atentados terroristascontra bancas de jornais afãs-taram Movimento de alguns deseus maiA importantes pontos devenda. Cerca de 60cá das bancas

pararam de vender Movimento.(*r

/igora o momento é crucial.Movimento nunca esteve tão

perto da morte.Mas, paradoxalmente, nunca

teve também um apoio tão efetivode jornalistas e colaboradores esua equipe estã plenamente cons-ciente fia* justeza de seu progra-ma polímhco-editorial e seu mo-

delo técnico-jornalistico.Por isso Movimento pede ajuda

a seus leitores. Para que consigaacabar com os prejuízos acumu-lados, mas principalmente paracrescer e tornar ainola mais fortee vigorosa sua voz. Precisamosde 6 milhões de cruzeirrts nos

próximos 60 dias, ou Movimentoserá uma voz calada.

Mande o tanto que você puder:Cr$ 100,00, 200,00, 1.000,00. Vocêíai investir em informação cor-reta e honesta. Sem medo. Semacordos com quem oprime.

Ajude Movimento a crescer.

{*! A venda média nos 20 mesesanteriores aos atentados terroris-tas contra as bancas era de 8.500

jornais. Nas edições seguintescaiu para 5.000 jornais em banca,acumulando em 38 edições — 113mil jornais — um prejuízo realde Cr$ 7.200.000,00.

T¦ »*m *—¦ mm •_¦ ssm -*_•* ¦m —¦¦ —.¦ —— —— «¦—- —— ¦

Esta voz vai ;falar mais alto.

Para isso estou enviando CrS Por

D Cheque nominal para D Vale Postal ? Ordem de pagamento JEdição S/A Editora de para Edição S/A. conta |

fvms. Jornais e revis- * 13007/9 Bradesco,Ag. Vila Clementino, I

São Paulo. |

Edição S/A — Editora de livros Jornais e Revistas. |rua Virgílio de Carvalho Pinto, 625, São Paulo — SP — CEP. 05415 |

Prefiro fazer uma assinatura anual de Movimento. CrS 2.700,00 |

Nome .Endereço ¦

Para isto estou enviando o pagamento de CrS 2.700,00 através de ¦

DCheque nominal C Vale Postal nOrdem de pagamento .

11a 26/4/81 MOVIMENTO - 20 a 26/4/81

Page 12: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

Crescer

ou voltar

aser

So, eis

a questãoPequena peça em um ato.

Personagens: o Rei eo Gordo, seu ministro

das Finanças.

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Luiz Nassif

O MINISTRO — Majestade, há quasedois anos o senhor me chamou paraadministrar as finanças do reino. Havia

problemas imensos para serem resolvi-

dos. A inflação era de 40% ao ano. A

dívida externa, de 40 bilhões. Os jurosestavam altíssimos. Havia um processode desaquecimento da economia e um

volume de subsídios que desequilibrava

o Tesouro, causando mais inflação. Dai

eu lhe respondi: Majestade, crescer é

criar problemas. A dinâmica do desen-

volvimento é esta: para cada problema

que você resolve, surgem mais três paraserem resolvidos.

Era necessário dominar a inflação e

equilibrar o balanço de pagamentos —

fxir isso o meu antecessor mantivcra os

juros altos. Com isso, tencionava obri-

gar iv empresas a diminuir seus

estoque: especulativos e suas vendas.

Não tendo pata quem vender, ele acre-

ditava que as empresas seriam obriga-

das a baixar seus preços, derrubando a

inflação.

Com os juros altos, além disso, elas

seriam obrigadas a buscar dinheiro no

exterior, ajudando o reino a adminis-

trar sua dívida externa. Aliás, por cau-

sa da dívida externa, o reino precisavaexportar cada vez mais. Mas como nos-

sos tecidos e especiarias não eram dos

melhores, nem dos mais baratos, as

empresas passaram a receber crédito

subsidiado, para baratear esses produ-

tos e facilitar a sua exportação.

Todo o conjunto fazia lógica, não ê

Majestade?Mas era uma lógica perversa que dt-

minuia os lucros das empresas, dimi-

unia o número de empregos, impedia o

crescimento da economia. Dai, o se-

nhor se recorda, declarei em alto e bom

som: se não quisermos mais crescer, .

melhor que todos voltemos a ser índios.

Majestade, foi uma frase e tanto, queteve uma tremenda repercussão.

O primeiro passo, então, seria des-

truir a< lógica do meu antecessor. Ele

dizia que só com as vendas caindo as

empresas baixariam seus preços. Ele se

baseava na lei da oferta e da procura. O

que eu fiz? Depus a lei e coloquei em

seu lugar a lei da economia de escala.

Na época eu lhe expliquei como fun-

cionava essa lei. Se o senhor aluga um

galpão por CrS 50 mil por mês, para fa-bricar 5 mil cavalinhos de brinquedo

por mês. será obrigado a colocar CrS

10,00 a mais no preço de cada cava-

linho, só para compensar o aluguel.

Mas se passar a fabricar 50 mil cava li-

nhos. terá que colocar apenas CrS 1,00

a mais no preço de cada cavalinho, porconta do aluguel. Por isso é que eu digo

que a lei da economia de escala é uma

lei antiin fiação.

Dentro dessa nova lógica, eu teria queresolver dois problemas para acabar

com a inflação: eliminar o déficit do

Tesouro e aumentar a produção dasfâ-

bricas. Meu primeiro passo foi progra-mar uma maxidesvalorização dt 30%

na nossa moeda. Graças a isso, nossas

exportações ficaram mais baratas e,

conseqüentemente, mais fáceis de se-

rem vendidas lá fora. Assim, eu puderetirar os subsídios das exportações,

sem afetar nossas vendas.

Mas. como lhe disse. Majestade, você

resolve um problema e logo surgem

outros três. Com a máxi, todos os pro-

dutos que dependiam das importações

subiram de preço. Além disso, haveria

também o encarecimento interno dos

preços dos produtos agrícolas exporta-

dos. Esses produtos são cotados em

moeda estrangeira. Se o dinheiro es-

trangeiro se tornasse mais forte, nossos

agricultores passariam a receber mais

dinheiro nosso por cada partida de

alimento exportada. Obviamente, eles

não iriam querer vender seus produtosno mercado interno por um preço me-

nor.

Contudo, esses problemas eram me-

ras preliminares para um problemc

imensamente mais grave. Num primei-

ro momento aqueles dois setores — o

que utiliza produtos importados e o que

produz alimentos exportados — au-

mentariam seus preços. Num segunde

momento, todos os demais comercian-

tes do reino iriam querer ir atrás. Daí,

ninguém seguraria mais a inflação. Es-

se era o novo problema que eu precisa-

ria solucionar.

Mas eu sou esperto, Majestade. A pri-

meira providência que tomei foi bara

tear os juros, tabelar a correção mone

tária e distribuir dinheiro à vontade.

Pensei, num prato da balança aumento

os custos dos produtos, com a máxi; no

y*

outro, diminuo os custos, barateando

o dinheiro. Além disso, soltando di-

nheiro barato eu poderia uumeniar a

produção e a economia de escala.

Contudo se os efeitos da máxi estou-

rassem antes das outras medidas come-

çarem a surtir efeito, com perdão da

palavra. Majestade, o senhor estaria

frito.

A questão toda consistia em abafar os

efeitos da máxi por alguns meses, o su-

ficiente para que as outras medidas

começassem a surtir efeito e que uma

supersafra, que vinha a caminho, bai-

xasse os preços da alimentação.

Mas como abafar a máxi? Primeiro

eu instituí um imposto sobre as expor-

tações de alimentos. Com o imposto, os

agricultores passariam a receber menos

pelas exportações e se conformariam

em receber menos também pelas ven-

das internas. Depois, coloquei um exèr-

cito de fiscais na rua, ameaçando todo

especulador com cadeia.

O resultado foi um Deus nos acuda!

Os empresários entravam a toda hora

na minha sala e diziam, pôxa, pensa-mos que você fosse um sujeito batuta;

não era você quem dizia que o queimportava era crescer?: agora vem aí,

atentando contra as leis do mercado. E

por aí afora.

Daí eu pensei: eu tinha muito a per-der: meu bom nome, minha fama de

milagroso. E tinha muito pouco a ga-nhar: cá entre nós. Majestade, ninguém

estava acreditando mesmo que com

umas poucas centenas de fiscais eu

conseguiria barrar a especulação.

Então, tentei a grande jogada, aquela

que apenas os grandes jogadores ousam

arriscar: recolhi os fiscais, acabei com

o imposto sobre exportações de alimen

tos e soltei mais dinheiro, para au-

mentor ainda mais a economia de es-

cala.Mas não era o único problema que eu

tinha de enfrentar. Quando eu tabelei a

correção monetária, para baixar os ju-ros. tornou-se menos interessante apli-

car o dinheiro na poupança. A poupan-

ça deixou de render e muita gente

passou a retirar dinheiro de sua pou-

pança para comprar. Foi uma loucura!

O que se anunciava, vendia-se. Estava

tão fácil vender que as lojas passaram a

aumentar cada vez mais os preços das

mercadorias. A inflação disparou. Com

a inflação aumentando, e o dinheiro so-

brando, as empresas passaram a con-

trair mais empréstimos, a fim de com-

prar mais mercadorias e estocar, para

ganhar mais ainda com a inflação. E

isso causava mais inflação. .

Majestade, como o senhor deve ter

percebido, surgiram dois novos proble-mas para resolver. De um lado, impedir

que o crédito continuasse sendo utili-

zado para a formação de estoques espe-

culativos. Do outro, impedir que os

investidores continuassem a tirar di-

nheiro da poupança, para consumir.

Resolvi os dois problemas de uma so

penada. Soltei a correção monetária t

enxuguei o dinheiro que estava sobran-

do. Conseqüência: os juros subiram

como foguete, as pessoas passaram a

poupar novamente, o crédito fácil aca

bou, as vendas despencaram e as em-

presas pararam de estocar mercado-

rias.Havia mais um problema suplemen-

tar. Quando a inflação aumentou, subi-

ram os preços das matérias-primas, dos

componentes utilizados para a fabrica-

ção de manufaturados para exporta-

ção. O aumento eliminou todas as van-

tagens que os exportadores haviam

conseguido com a máxi, e o pais preci-sava exportar.

Mas como resolver este problema?Uma nova mâxi não seria viável, por-

que daí a inflação estouraria de vez. O

que fiz eu? Dos males, o menor. Res-

taurei os subsídios à exportação.

Majestade, crescer é criar problemas.Com esse novo elenco de medidas, solu-

cionei alguns problemas, mas criei ou-

tros. Hoje a inflação ê 4e 120%. A

dívida externa é de 60 bilhões. Os jurosestão altos. Há um processo de desa-

quecimento da economia e uma linha

de subsídios que poderá desequilibrar

novamente o Tesouro, causando mais

inflação.

Outro dia, conversando com um ami-

go, cheguei à seguinte conclusão: dia-

bos, se não quisermos mais crescer, o

melhor a fazer ê voltar a ser índios.

Daí, me ocorreu a seguinte idéia: seu eu

fizer uma maxidesvalorização...

O REI — Guardas!

{pano rápido)

12MOVIMENTO — 20 a 26/4/81

Page 13: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

ENTREGUISMO

Tramam novasconcessões

para o JariA direção do Piojeto Jari tem anun-

ciado que o enorme enclave, de pro-

priedade do grupo americano de Daniel

Keith Ludwig. jà teria demitido, desde

setembro do ano passado, em torno de

três mil trabalhadorer.. O anúncio è

apontado como mais uma evidência

das "dificuldades"

por que estaria pas

sando o empreendimento

Em agosto passado, o próprio Daniei

Ludwig escreveu uma carta ao chefe do

Gabinete Civil oo qoverno brasileiro,

general Golbery do Couto e Süva, na

qual reivindicava mais favores e benefi-

cios.

Apesar de ter sido enviada ao general

Golbery, fundador do Serviço Nacional

de Informações (SNI) e especialista em

segredos, a carta tornou-se publica.

Também vieram à tona, meses depois,

as negociações para a venua do parte

das reservas de bauxita de Ludwig, no

Brasil ao grupo Alumimum Cornpany

of America (Alcoa), também america-

no uma das "Seis Irmãs" que contro-

Iam a produção e distribuição de alu-

mínio em todo o mundo.

O ministro Oesar Cais, das Minas e

Energia, jà havia dado sinal verde para

as negociações, mas a questão acabou

esbarrando em dois novos estudos —

um do ministério, outro do Conselho

de Segurança Nacional. 0 primeiro de-

fende que as -eservas devem ser vendi-

das para vários grupos, incluindo a A,-

coa, e o segundo deixa de fora o grupe

americano e prega o repasse das reser-

vas, cujas concessões já caducaram

para a mineração Rio do Norte (MRN),

que explora a bauxita do Trombetas, e

grupos privados nacionais.

Há algumas semanas, a direção do

grupo Ludwig no Brasil foi mais alem

agora ameaça vender o próprio Projete

Jari Quem compraria seria o conheci-

do testa-de-ferro do capital estrangei-

ro Augusto Trajano de Azevedo Antu-

nes, que há muito ja é sócio de Ludwig

em outros negócios no Brasil, asso-

ciado a outros grupos privados nacio-

nais.

Estes fatos montam o quadro "de

grandes dificuldades" por qua estaria

passando o projeto, mer9ulhad°0^"

qundo a revista americana Fortune,

num problema de super invesnmento _

as aplicações de capital no Projetete-

riam corrido muito além das expeçtat-

vas de retorno. O Ministro da Industria

e do Comércio, Camilo Penna. também

acha que o problema esta nesse ponta

embora considere que as demissões de

trabalhadores sejam normais.

O quadro montado de.xa, contudo

tanto o Projeto Jari como o governe

brasileiro, que sempre o favoreceu, em

situação muito cômoda. Estaria mos-

trando, segundo ambos querem fazer

crer que a campanha nacional contra o

projeto ."è injustificada" — um argu-

mento com o qual se tenta mudar £

opinião pública a respeito do assunto.

Do total de recursos investidos.nc

piojeto Jari (cerca de USS 800 mi-

Ihões). a maior parte entrou no Brasil,

em forma de empréstimo externo, com

aval do governo brasileiro. Sò na impor-

tação da fábrica de celulose e da usin.

termoelètrica que a abastece de ener

gia. o Banco Nacional de Desenvolvi-

mento (BNDE) avalizou empresti-

mos externos do Jari de Us$ 310 mi-

Ihões.

Diante das ameaças de Ludwta.0

governo discute 0 que fazer Pelo me-

nos duas reuniões comesse propósito

foram realizada., na semana passada,

no Palácio cio Planalto Não ha decisão

ainda, mas, pelos antecedentes, pooe-

se arriscar o resultado: o governo vai

dizer que não tem interesse em assu

mir o controle do projeto e que os e-

cursos são muito elevados para que

grupos privados nacionais o façam.

Assim, para que o projeto nao«•£

desativado, volta a dar amplos Dane-

fícios ao empreendimento. E tude> yoita

a ser como era, so que, espera o gover-

no. com o aval político de uma tatia

maior da população. ^ ^^

de Brasília.

MÒviiOfe^T-^^tóMT

AGRICULTURA

As sete pragas do ProálcoolO Programa Nacional do Álcool -*-

Proálcool, criado em 1975, tem recebido

numerosas críticas ao longo de sua exis-

téncia. Já se provou, por exemplo, que c

Proálcool, incentivando a monocultura de

cana-de-açúcar rouba terras à agricultura

de alimentos; já se sabe. também, que o

programa favorece a concentração fundia-

ria e acaba motivando a expulsão de pe-

quenos agricultores de suas terras. Ao la-

do disso, traz uma nova ameaça ecológica,

o \inhoto, um subproduto de fabricação

do álcool, altamente poluente. O próprio

ministro Delfim Netto classificou o Proál-

cool de inflacionário. De fato, em 1980.

por exemplo, os financiamentos foram fei-

tos com juros de 25% ao ano, quando a

inflação passou dos 110%. Agora, além

destas críticas, juntam-se ao dossiê do

Proálcool mais duas acusações:de discri-

minaçào política, colocada a partir do

caso da Destilaria Indiana, em Alagoas;

e de favorecimento do capitai estrangei-

ro, no caso do projete Bodoquena, no Ma-

to Grosso do Sul.

Figueiredo vetou

financiamento

pessoalmente

Um grupo empresarial alagoano resol-

veu implantar uma destilaria, no municí-

pio de São Sebastião, para produzir 300

mil litros de álcool por dia. O projeto —

Destilaria Indiana — orçado em cerca dt

CrS 1,4 bilhão, foi aprovado em julho dt

1979 pela Comissão Nacional do Álcool, _

o Banco do Nordeste foi escolhido como

seu agente financeiro. Em dezembro do

ano passado, o Banco do Nordeste inftr-

mou que o financiamento para o projete

havia sidodefinitivamente aprovado. Tudo

estava certo, mas quando ficou pronto o

último documento, o gerente do Banco do

Nordeste,de Maceió tinha uma nova infor-

mação: o financiamento fora vetado por

ordem pessoal do presidente da Repúbh-

ca O motivo: o vice-presidente da Desti-

laria Indiana, dono de 2,5% de suas

ações, é também vice-presidente dc

PMDB e se chama Teotônio Vilela. Mes-

mo que o governo volte atrás e conceda o

financiamento, depois do dia 30 de abril a

Destilaria teria que entrar, de acordo com

a Circular n° 603 do Banco Central, com

30 a 40% do capital necessário (antes o

empresário entrava com apenas 10 ou

20%). Assim, a Destilaria teria que des-

pender quase meio bilhão de cruzeiros,

poupança que pouquíssimos empresários

nacionais têm. Ou seja. o projeto poderá

se-inviabilizar definitivamente.

Para o deputado José Costa (PMÜB-

AL), o caso da Destilaria Indiana mostra

também que o governo procura inviabili-

zar a participação do empresariado nacio-

nal no Proálcool, abrindo uma brecha pa-

ra a entrada do capital estrangeiro. O de-

putado lembrou o contrato que a empresa

Elf Aquitaine (francesa) celebrou com _

Petrobrás para investir no Proálcool e a.

experiências com cana-de-açúcar que gTU-

pos japoneses estão fazendo em Tome

Açu. íio Pará.

Outr.» exemplo da participação estran-

geira no Proálcool: o governo aceitou em

fevereiro a imposição do Banco Mundial

de só conceder empréstimos para financiar

equipamentos do Proálcool se estes fossem

comprados através de concorrência inter-

nacional. Com isto. mesmo dispondo de

tecnologia própria para fabricação do ai-

cool o país será obrigado a aprofundar

sua dependência tecnológica e financeira

Já se sabia que o

Proálcool:

É inflacionário

Rouba terras da agricultura

de alimentos

Favorece a concentraçãofundiária

Leva à expulsão de

pequenos agricultores

É uma ameaça ecológicaAgora, as novidades

Favorece a penetração do

capital estrangeiro

É politicamente

discriminatório

com o exterior. Segundo a revista Econo-

mia e Negócios, o ministro da Indústria e

Comércio, Camilo Penna, tentou impedir

a entrada do consórcio Petrobrás/EU

Aquitaine no Proálcool e quase se viu na

contingência de pedir demissão do cargo.

Figueiredo disse que o assunte era uma

decisão "pessoal

e irreversível".

Porém o exemplo mais claro — e já

consumado — da penetração do capital

estrangeiro no Proálcool é o do projeto

Bodoquena. em implantação no município

de Miranda),MatoGrosso doSul. O proje-

to. aprovado na semana passada pela Co-

missão Executiva Nacional do Álcool, pre-

vê o plantio de 50 mil hectares(500km2)de

cana e uma destilaria que produzirá 1,6

milhão de litros/dia no início da próxima

década. Oitenta por cento do investimento

necessário serão financiados pelo Proál-

cool. A fazenda Bodoquena tem uma ex-

tensão total de 254.463 hectares (2545

km2), área ligeiramente menor que os

municípios de São Paulo e Rio de Janeiro

juntos. Por causa de seu tamanho, o pro-

jeto já foi apelidado de mini-Jari. A Bo-

doquena foi iniciada pelo seu primeiro

proprietário. Laucídio Coelho que. expul-

sando posseiros e índios, alargou-a até as

dimensões atuais. Depois, a propriedade

foi comprada por David Rockefeller e

Walter Moreira Salles. que sempre criaram

gado em pastagens que ocupam até hoje

apenas 50 mil hectares da fazenda. No ano

passado ela íoi vendida aos atuais propric-

tários. que implantarão o proieto álcoolei-

ro mantendo as pastagens e as 100 mil re

ses já existentes.

O vinhoto vai

destruir o pantanaldo Mato Grosso

Os novos proprietários escondem a par-

ticipaçào de capita) estrangeiro no empre-

endimento. Eles apresentam o projeto ai-

cooleiro como sendo de um consórcio na-

cional formado pelo grupo Oi-ietto (maior

produtor de álcool do país), com 34% do

capital, e os grupos Dedini (fabricante de

equipamentos para destilarias), Votoran-

tim(maiorgrupo privado nacional) e Atlan

tica Boavista (ligado ao Bradesco). cada

um com 22%. No entanto, conforme a ata

da assembléia que constituiu oficialmente

a empresa, do capital de CrS 490 milhões,

só CrS 249,9 milhões (51%) pertencem aos

investidores nacionais. O restante é divi-

dido igualmente pelos grupos David

Rockefeller, de Nova York, e The Dia-

mond A. Cattle Cornpany, com sede no

Novo México, EUA.

A aprovação do projeto encontrou no

Mato Grosso do Sul a oposição de grupos

consenacionistas, como o Comitê de Defe-

sa do Pantanal e a Sociedade de Preserva-

ção do Meio Ambiente do Mato Grosso do

Sul, além de associações profissionais, co-

mo as dos agrônomos e engenheiros de

pesca e florestais. A principal preocupa-

ção dessas entidades é com o vinhoto.

Quando em pleno funcionamento, a Bodo-

quena vai produzir 22 milhões de litros

diários desse poluente. Os proprietários do

projeto prometeram utilizar o vinhoto co-

mo adubo nas próprias lavouras de cana-

de-açúcar. sem prejuízo para o Pantanal.

Mas os sul-matogrossenses duvidam di_-

so, porque a quantidade de vinnoto sera

maior que a capacidade de aproveitamen-

to da fazenda.

senhor*'. ^*^<_^JJ*v:ooi.

JütaZ

13

Page 14: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

MUNDO

ESTADOS UNIDOS

A colheita da violênciaA violência cega tem raízes profundas nos EUA, pelo mundo, e pode sufocar a democracia.

Paula e Silva

"Quem planta violência colhe violén-

cia" declarou o rev. Daugherty após o

atentado ao pres. Reagan. "Desejo

que o

presidente se recupere, expresso minhas

simpatias à senhora Reagan. e desejo

que nós. americanos, abramos os olhos

para a futilidade dc pensar quc um país

armado e um mundo armado trarão a

paz e a segurança. É ilusório, por parte

dos que detêm o poder de Estado, pen-

sar que podem orientar a violência

apenas para determinadas direções. A

violência se torna virulenta e descontro-

lada e atinge todos. É tempo de pre-

gar justiça e humanidade dentro e

fora das esferas de poder, dentro e fora

do país e de acabar com a ilusão de

que pela força seremos respeitados como

indivíduos ou como nação". O rev.

Daugherty é diretor da Frente Unida

Negra.

Desde a marcha para o Oeste a violen-

cia massacrou os índios para conquistar

territórios. Viajou de costa a costa na

mitologia do cowbov de arma em punho.

Agora a simbologia do cowbov chegou à

Casa Branca de Reagan.

A violência existiu sempre no racismo

assassino que enforcou e queimou negros

no Sul dos EUA. e sobrevive no racismo

dos hate groups entre os quais o Ku

Klux Klan. que está em nova fase de vi-

^ Antes da Segunda Guerra Mundial, a

expansào da violência quase se limitou

aos territórios contíguos dos Estados

Unidos da América, indo no máximo ao

Caribe. Era um estágio óbvio em que a

violência era exercida por tropas que de-

sembarcavam de armas na mão.

O império mundial da

tortura regido pelosEstados Unidos,

A violência tomou nova face após 1944."O

velho mundo colonial fora sacudido

durante a Segunda Guerra Mundial, e o

nacionalismo radical resultante ameaçou

a dominação tradicional e os interesses

econômicos dos negócios do Ocidente.

Para conter esta ameaça, os EUA se

aliaram a elementos da elite e a militares

no Terceiro Mundo, cujas funções têm

sido deter o fluxo de mudanças" diz. o

professor Noam Chomsky.

Começou após 44 um estágio em que os

EUA eram apenas coreógrafos da vio-

I6ncia delegada às mãos de "afilhados, o

Estado Nacional de Segurança neofa-

cista e outras formas de regra autoritária

que se tornaram o modo dominante de

governo no Terceiro Mundo", afirma

Chomsky.Diz o relatório da Anistia Internacio-

nal de 1977 que entre 1975 e 19^6 "mais

de 80 por cento dos apelos urgentes de

ações para vítimas de tortura humana

vieram da América Latina". A Anistia

comparou "o

império expandido da tor-

tura" com "algumas das cxcrescências

piores do fascimo europeu"."Entre b0 e 69" diz Noam Chomski,

"11 governos eleitos constitucionalmente

tinham sido substituídos por militares

que ninguém elegeu. Com isso o poder

dos militares americanos aumentou -

•. mR***stm**. ~. ¦¦¦ - ¦ ¦->< ?"_: —— ¦¦¦¦ ' "' # .

v, xiabmnã, uma tradição tü violência irrBcional contra ob oprimidoa.

devido à sua Intima vinculação com as

classes dominantes, e à sua necessidade

de ajudá-los a consolidar suas posições

minoritárias e aumentar a "segurança"

doméstica junto às populações do Ter-

ceiro Mundo que-não os haviam escolhi-

do".

Algumas estatísticas são suficientes

para mostrar-nos o reino da violência em

que vivemos: 15 mil guatemaltecos fo-

ram vítimas de esquadrões da morte

entre 1970 e 1975, diz Anistia; 5 mil

morreram no mesmo país entre 1978 e

1980J 15 mil salvadorenhos morreram,

sobretudo vítimas da Guarda Nacional e

de esquadrões da morte, entre 1979 e

1980.

Isso não isenta responsabilidades re-

gionais e nacionais, mas afirma Choms-

ki. "os

militares americanos se orgulham

de ter criado uma rede de polícias se-

cretas latino-americanas que percorrem

livremente os territórios uns dos outros

na caça aos dissidentes, e que operam

com um treino comum, o quc os torna

mais eficientes".

O diretor executivo da American Civil

Liberties Union. Ira Glasser, comentou

após a tentativa de assassinato dc Reagan:

Há gente na administração ansiosa para

usar o atentado como justificativa para

um programa amplo de políticas repres-

sivas. baseando-se em fazer a nação te-

merosa de violência gratuita de tal modo

que as liberdades fundamentais -pode-

riam tornar-se vulneráveis. Já se propõe

em Washington liberar a CIA e o FBI

para prisões preventivas, buggings (escu*

ta clandestina), infiltração em grupos

estudantis etc. O clima de medo é pro-

pfcio ao desrespeito aos direitos civis,

porque encoraja os grupos que têm

poder de Estado e ganhar mais poder

em nome da segurança".

O que não existe nestas colocações é a

ligação entre violências fora e dentro dos

EUA. %

O professor Falk. da Universidade de

Princeton enfatiza quão importante é es-

tabelecermos a visão conjuntural."Devemos repensar as soluções atra-

vés de militarização e policiamento. In-

felizmente exportamos a violência com

uma política externa de filosofia militar,

encorajando a defesa de nossos interesses

através de governos autoritários militares

que reprimem domesticamente. Domes-

ticamente nos EUA difundimos a noção

de que força produz vitórias, e bom poli-

ciai garante a segurança. Isso é um erro.

A única maneira de termos paz e segu-

rança é encorajando sociedades harmô-

nicas e justas aqui e fora daqui. Jovens

de níveis econômicos bons, e níveis sofis-

tieados de educação foram os agressores

tle John Leiinon e Ronald Reagan, mos-

trando-nos mais uma ve/ que neste país

cresce a noção errada de que as mu-

danças devem ser implantadas a bala".

O mito do cowboy: dez

vezes mais mortes que

qualquer outro país.Mudará alguma coisa 0 atentado a

Reagan?"O

atentado provavelmente dará ao

Congresso o direito de endurecimento

que precisavam ter para negar-nos mui-

tas liberdades garantidas pela Constitui-

ção*' declarou o diretor áo Comitê Na-

cional para uni Congresso Efetivo, Rus-

sei Hemenway. "Não somente isto, mas

contrariamente ao que se poderia supor,

o atentado não ajudará o controle de ar-

mas. Não, este tipo de ação somente

aumenta o clima de retaliações no país, e

o humor autoritário no Congresso".

Mais uma espiral de policiamento, re-

pressão, demonstrações de força, milita-

rização, medo, insegurança, poderão

ocorrer nos EUA e no mundo, porque

um jovem detraqué decidiu materializar

suas fantasias de heroísmo numa ação

violenta. Já no segundo dia após o aten-

tado, o Congresso dos EUA cortou os

15 milhões de dólares restarles de ajuda

à Nicarágua (dos 90 n:ohv.., tot-.is que

haviam sido aprovados e anunciou

que enviará 500 Boinas Verdes (green

berets) e um porta-aviões para a Libéria.

Outras ações rígidas poderão ser toma

das para compensar aos olhos do mundo

a imagem de fragilidade física e política

da administração atual, cujo presidente

foi baleado, e cujos membros do gabine-

te, entre os quais sobretudo Haig, Bush e

Weinberger, lutam pelo poder.

Não somente como grupo, o america-

no marchou para a conquista territorial

violenta. Individualmente também o

americano confia sobretudo em si para

defender propriedades e integridade físi-

ca. Nos EUA,55 milhões de revólveres es-

tão em mãos dos civis e, menos de um terço

tem licença de porte-dc-arma.

Os EUA têm 10 vezes mais assassina-

tos do que qualquer outra sociedade in-

dustfializada do mundo. Existem 15 mil

agências, diz. 0 FBI, que tentam comba-

ter o crime.

Norman Hunt, do Sistema Penal do

Estado de Indiana, afirmou "nós

temos o

sistema de sentenciamento mais rigoroso

dos 50 estados americanos, e provável-

mente mais rigoroso que os de qual-

quer país comunista. Nào afrouxamos.

r.t

14

MOVIMENTO - 20 a 26/4/81

Page 15: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

Governo olá exemplo ao povousando violência globalmente

Mas isto não reduziu o crime".

Os EUA são um país armado, em que

polícias e ladrões dependem igualmente

do puxar de um gatilho para ver que

sangue será derramado no chão. Para

que? Por que esta mitologia do cowboy

no limiar do século 21?

E de que adianta? Uma pesquisa re-

cente mostrou que 68 por cento dos

americanos temem o futuro econômico, e

41 por cento temem sair e serem assai

tados ou mesmo mortos. Diz a última

pesquisa do Gallup que 85% dos ameri-

canos querem sentenças mais severas.

aumenta 1% e a

criminalidade 8%Não está havendo na grande imprensa

daqui nem a colocação social,nem econô-

mica e nem política do contexto da vio-

lência. Diz a American Civil Liberties

Union que "é

fator histórico que para

cada aumento de um por cento de de-

semprego, há um conseqüente aumento

de 4 por cento de encarceramentos, e

para haver 4 por cento de aumento de

encarceramentos, é provável que 8 por

cento de aumento de crimes tenham ocor-

rido"."O

desemprego, que subiu a 7,3 por

cento em 1980. de 4,9 por cento em

1973, é uma causa importante do au-

mento de crimes nos EUA", diz ACLU.

Em fevereiro de 1981, a revista News-

week registrou que 4,2 milhões de

americanos não tiveram alternativa a

não ser sair dos empregos tempo-inte-

gral, e conformar-se a tempo-parcial.

Calcula também a Newsweek que, resul-

tante dos programas de cortes orçamen-

tários de Reagan. e concentração de ver-

bas no Pentágono, 1,1 milhão de ameri-

canos estava desempregados dentro de

alguns meses, além dos já desemprega-

dos agora.

O mesmo número, 1,1 milhão de tra-

balhadores abandonaram ou abandona-

rão a busca ativa de novo emprego en.

1981, diz o programa Nova de televisão,

relembrando que 750000 trabalhadores

haviam abandonado esta busca em 1980.

Nào há razão para procurar. A tecno-

logia, e a exportação de fábricas inteiras

diminuíram a proporção de oferta de

trabalhos. A "renovação da América

prometida por Reagan aos industriais,

não será tampouco baseada em criação

de linhas-de-produção nem dentro nem

fora do Terceiro Mundo. Fala-se crês-

centemente de fábricas descentralizadas,

em que algumas pessoas monitorarão

computadores, e de granjas eletrônicas,

em que máquinas monitoradas por

poucas m«ãos-de-obra ordenharão as va-

cas.

"Tudo isto gera frustração" diz o ex-

ministro da Justiça Ramsey Clark. Gera

a irracionalidade e a violência, que ter-

mina sendo perpetrada contra família-

res, mulheres, filhos, pais, "que nada

têm a ver com o fato, mas estão ao

alcance da retaliação".

Ainda mais quando isto é agravado pela

violência pregada como filosofia oficial

do governo e dos poderosos. Nossos go-

vernos são os primeiros a difundir a

idéia de que se ganha respeito saindo ar-

mados pelo mundo para subjugar o

adversário. O que isto provoca nas men-

tes dos jovens, dos homens e mulheres

simples, doutrinadas pela sociedade ma-

chista-armada? pergunta Ramsey Ciar-

ke.

Esta pergunta não é respondida pelos

301.800 presos (havia 218.500 em 1974).

não é respondida pela tentativa cega de

Jimmy Carter de prolongar o poder do

xá, não é respondida apoiando uma

junta civil-militar no El Salvador que o

povo não escolheu, não é respondida

pela invenção do tecido Kevlor (da Du

Pont), com o qual foi feito o colete à pro-

va de balas usado por Ronald Reagan na

sua posse em 20 de janeiro de 1981.

Domesticamente nos EUA, as estatís-

ticas do FBI permitem compararmos os

números de assassinatos no Norte, onde

há mais distribuição dc renda, e no Sul,

mais desigual. Se em Nova Iorque houve

1.814 assassinatos em 1980, um cidadão

foi morto por cada 4.102. Em Atlanta,

Geórgia, terra em que 21 crianças negras

foram assassinadas sem haver investiga-

ção policial adequada "por falta de ver-

ba", houve um assassinato por cada

1.831 pessoas em 1979 (as estatísticas do

FBI para Atlanta ainda não foram dis-

tríbuídos à imprensa). Nova Iorque é a

nona cidade em assassinatos. Antes dela

estão Detroit e Saint Louis (Illinois),

ambas cidades industriais onde os ope-

rários foram castigados severamente pela

crise da indústria automobilística, Chi-

cago. outro grande centro de desempre-

go industrial, e outras.

O obscurantismo em alta

Matadores treinados

em quatro grandes

guerras enchem cadeias

Outro fator que parece relevante ao

exame do contexto de violência são as

guerras. Alguns combatentes morrem,

os outros retornam. "Sou um matador

treinado" diz um veterano do Vietnã ao

Projeto de Pesquisa da Era do Vietnã

publicado pelo Centro para Pesquisa

Política Inc., em 24 de março de 1981,

para a "Administração dos Veteranos".

"Alta proporção

— em alguns casos

até 25 por cento — das populações en-

carceradas masculinas é constituída por

vetei anos, sobretudo do Vietnã, homens

que não tinham passado de delmqüen

cia juvenil destrutiva" escreveu no N.Y.

Times de 9 de março de 1981 o advogado

James Lieber".

Diz o Projeto de Pesquisa: "durante

este século os EUA lutaram 4 guerras

maiores — Duas guerras mundiais, o

conflito da Coréia e a Guerra do

Vietnã". A última foi a que deixou mais

cicatrizes psicológicas sérias".

Se tomarmos como ponto de referên-

cia o documentário feito em 1949 pelo

departamento da Defesa e dirigido por

John Huston. Que se Faça a Luz (Let

there Be Light), filme que foi liberado

em 1980, após 30 anos de censura, "30

por cento de todos os ferimentos provo-

cados pela Segunda Guerra Mundial

foram psicológicos"."As vezes eu divagava. O que poderia

acontecer quando eu voltasse pra casa?

Ia perder o controle? Porque sou um

assassino treinado. Quando voltei fui

preso por assalto, e condenado. Você é

uma bomba ambulante quando volta cie

uma guerra. Quando voltei passei muito

tempo no campo, tentei virar caçador

para matar animais, e quase matei uma

pessoa" diz outro veterano de guerra ao

Projeto de Pesquisa.

(Paula e Silva, correspondente nos EUA)

Enquanto mulheres procuram genes•excelentes"

para seus ju tu ros bebes.

>m um banco de esperma da Califór-

nia, diversas indústrias estão recusando

trabalhadores por causa de seus genes.

A criação, no ano passado, do banco de

esperma de ganhadores do prêmio No-

bel e o crescente uso da genética na se-

leção de pessoal são manifestações da

velha teoria de que os genes comandam

o destino.

Com o crescimento do pensamento

de direita em escala mundial, esta

teoria vem ganhando adeptos em algu-

mas áreas científicas e populares. "A

medida que os problemas sociais se

agravam, podemos esperar reações ca-

da vez mais fortes da direita ",

diz John

Vandermeer, um professor de Biologia

da Universidade de Michigan. "Uma

das armas que eles vão utilizar é o de-

terminismo biológico. Se este determi-

nismo se apresenta como herança da

inteligência, explosão demográfica ou

sociobiologia, o propósito é sempre o

mesmo: localizar na Biologia as causas

?. por implicação, as soluções para a

crise do capitalismo"."As

ciências da vida revelam a ne-

cessidade de uma hierarquia entre os

indivíduos em todas as sociedades ani-

mais avançadas, como também nas so-

ciedades humanas", escreveu recente-

mente o editor do Figam revista fran-

cesa de direita. Esta afirmação reflete

os argumentos de muitos anti-semitas

franceses, que usam a sociobiologia

como suposta base científica para seus

preconceitos.

Nos EUA a sociobiologia tem sido

posta em prática pela indústria petro-

química nos últimos 15 </ 20 anos. Em-

presas como a Du Pont e a Dow Che-

mical afirmam que alguns genes aumen-

tam a suscetibilidade a certas doenças

ocupacionais, e que a seleção genética

dos empregados é necessária para sua

proteção.

No entanto, cientistas e líderes sindi-

cais afirmam que os testes não são efe-

tuados para proteger os trabalhadores,

e sim para transferir a culpa pelas

doenças ocupacionais da indústria para

as vítimas. Sustentam ainda que a

seleção genética leva à discriminação

sexual, racial e étnica na oferta de em-

prego. Há exemplos documentados ae

mulheres e negros sendo recusaaos em

empregos devido à "hwersu^etibilida-

de".

Uma investigação feita pelo New

York Times revelou que os negros são

os preferidos para os testes genéticos da

Du Pont. Esta empresa, antes da con-

•ratação, faz um teste sangüíneo de

todos os negros para identificar porta-• dores de células falciformes. apesar do

lato de uma pessoa portadora raramente

apresentar qualquer problema. A célula

hilciforme causa uma doença genética-

mente transmissível(anemia falcijorme)

encontrada principalmente em negros.

Quando uma pessoa possui dois genes

pau a célula talciformelo portador tem so

um), está sujeita a enfermidade crônica

ou á morte.

Por outro lado, em outros grupos

étnicos (por exemplo, brancos de ori-

gem mediterrânea) há outros distúrbios

geneticamente transmitidos que apre-

sentam riscos iguais ou maiores na in-

dústria química, embora a Du Pont

não os submeta ao teste genético. Para

Jonathan King. biólogo do Instituto de

Tecnologia de Massachussets. "a

posi-

ção da Du Pont é racismo científico.

Eles dizem que não sua fanáticos por-

que tudo se baseia na ciência. Mas o

fato é que aquelas pessoas não vão ficar

doentes porque são hipersuscetíveis, e

sim poi que estão sendo envenenadas".

Um exemplo mais notório desse ra-

cismo científico e a declaração feita por

Arthur Jensen em 1969 de que as dite-

renças de Ql (quociente de inteligência)

entre negros e brancos eram devidas a

diferenças genéticas. Em um trabalho

publicado na Harvard Educational Re-

view, Jensen faz as seguintes afirma-

ções: D Çs negros em testes de Ql

obtém em media 15 pontos menos que

os brancos; 2) esta diferença é, em

grande parte, devida a diferenças gene-

ticas; 3) portanto, o Ql é resistente a

mudanças e buscar, por exemplo,

igualdade em educação é puramente

ilusório.

O argumento de Jensen é falso em

vários níveis. Primeiro, o que mede o

Ql? Diversos analistas dessa questão

sustentam que ele mede no máximo ai-

gumar aptidões dentro de um enorme

conjunto de funções intelectuais. Em

muitos casos, o Ql não reflete sequer as

poucas aptidões que deveria refletir,

porque os testes são tenaenciosos do

ponto de vista cultural e de classe,

tanto no conteúdo como na linguagem.

O Ql é, na verdade, uma medida de

como a experiência de uma pessoa se

aproxima à de um indivíduo branco da"classe

média".

Logo após a publicação do trabalho

de Jensen, William Shockley, prêmio

Nobel de Física, redigiu uma proposta

de lei pedindo a esterilização das pes-

soas com Ql menor do que ,100. Sua

idéia era começar pelos segurados da

previdência social, atraindo-os para se-

rem "voluntários" com a oferta de

USS 1.000 para cada ponto de Ql abaixo

dc 100.

O plano de Shockley não era particu-

larmente novo. No ano passado, a

União Americana pelas Liberdades

Civis descobriu programas de esterili-

zação em massa no Estado de Virgínia.

Constatou-se que, em especial durante

a Grande Depressão, centenas de virgi-

nianos pobres foram legalmente esteri-

lizados sem saber. A pesquisa revelou

também que nos anos 50, 8 mil homens

e mulheres foram involuntariamente

esterilizados no Estado.

Os programas de esterilização se ba-

seavam na teoria da eugenia, que de-

sestimula a reprodução das pessoas

onsideradas menos desejáveis. Esta

concepção se liga intimamente com a

ciência racial nazista, o mito da super-

população, a teoria da relação raça-QI

e a sociobiologia.

Ql e eugenia estão associados desde

muito tempo. Em 1912. o Io Congres-

so Internacional de Eugenia, realizado

na Universidade de Londres, anunciou

como uma de suas metas "a

prevenção

da propagação dos incapazes através

da segregação e de esterilização". Os"incapazes" eram os pobres, supostos

inferiores por hereditariedade. Os tes-

tes de Ql foram criados neste mesmo

ano.

As pressões dos eugenistas acabaram

criando leis que oficializaram a esteri-

lizaçâo. Por volta de 1930. 31 estados

americanos decretaram tais leis. e mais

de 60 mil pessoas foram esterilizadas.

Essas leis existem até hoje em quase 30

° Catherine Ylh (The Guardian)

*->

MOVIMENTO — 20 a 26481

15t-t

lê . <ii/j'ftyy

Page 16: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

íResistência afegã

A tendência entre a oposição afegã é a

de se organizar para uma luta longa, dei-

xando a improvisação que ate hoje prevale-

ceu por uma estruturação e cooperação

maior entre os vários grupos de resistência.

Esta é a opinião de um especialista em re-

lacões internacionais que passou vários

anos no Afeganistão, citada pelo Jornalista

Patrick Francês no Le Monda (8/4/81).

Segundo este observador ex-oartidário do

primeiro-ministro afegào, Babrak Karmal. o

exército afegão está em fase de difícil reor-

ganização, apôs haver sido"desmantelado" em fins de 79, quando con-

tava com apenas 40 mil homens. Ao contra-

rio das promessas iniciais de Karmal, se-

gundo ele, o governo nâo conseguiu apoio

popular e as contradições do grupo domi-

nante no país se acentuaram.

Prostitutas falamO jornal Macadan é o mais novo órgão da

imprensa francesa Bimensal com uma tira-

gem de 10 mil exemplares, ele será o porta*

voz da Associação de Ação e Defesa das

Mulheres Prostituídas, criada em 1980. O

primeiro número, lançado dia 31 de março

em Paris, marca dez anos de luta das prós-

titutas francesas, que explodiu nos últimos

cinco anos através de manifestações, ocu-

pações de igrejas e mesmo um processo

contra o presidente Giscard d'Estaing, por

proxenetismo.

Sindicato romeno

"Os sindicatos não devem estar subordi-

nados ou sob a tutela do Partido Comu-

nista" Esta foi a definição dada pelo líder

romeno. Nicolau Ceausescu, ao inicio do

Congresso do Conselho Central dos Sindi-

catos de seu país, reunido entre os dias

seis e oito de abril. Para o chefe de Estado,

cumpre aos sindicatos "participar da defe-

sa contra toda agressão imperialista , e

eles poderão daqui para a frente ' opinar

sobre as atividades de direção das empre-

sas e principalmente decidir sobre a desti-

tuicão dos dirigentes que náo cumprem

suas obrigações'. Medidas nes-?e sentido

.serão tomadas em breve, assim como so-

bre a "generalização da semana de 46

horas em todas as empresas e instituições

e da semana de 44 horas durante o atual

planoqüinquenal (81-85). A maioria dos tra-

balhadores ainda tem semana de 48 horas

na Romênia.

Desastre ecológico

be os países ricos nâo mudarem sua poií-

tica ecológica há um risco sério de um de-

sastre mundial. Foi a conclusão dos 24

membros da OCDE reunidos em Paris neste

começo de mês. Seus relatórios mais re-

centes dão um quadro sombrio da situa-

ção- até o fim do século a Terra terá seis

bilhões de habitantes, estará privada de

40% de suas florestas tropicais, de 20%

das terras férteis e ameaçada de pertur-

bações climáticas pelo acúmulo de gás car-

bônico na atmosfera. A divisão de recursos

será ainda mais desigual, os combustíveis

ainda mais raros e os alimentos ainda mais

caros E esses pai: es não podem fugir às

suas responsabilidades: representam 17%

da população, mas seus Produtos Nacio*

nais Brutos somam 60% do total mundial,

fabricam 88% dos veículos do mundo e

80% dos produtos químicos.

Pista de Atlântida

Segundo os pesquisadores do navio

soviético Kurchatov, suas câmaras mostra-

ram "novas evidências'' do que podem ser

as ruínas rio continente perdido de Atlàn-

tida Há cerca de dois anos, os soviéticos

fotografaram um vulcão subterrâneo entre

Portugal o as Ilhas Madeira, descobrindo

formas semelhantes a "paredes e esca-

das" Agora o diretor de pesquisa do Kur-

chatov, Àndrei Monin, disse que os cientis

tas viram misteriosas estruturas nas 460 fo-

toqra-ias tiradas no mesmo local. "Em

ai-

quinas das totós pode-se ver estruturas

retangulares ".

e em uma delas, "lajes

re-

tangulaces que se elevam vindo rio fundo"

Isto para ele "pode

comprovar sua ongem

artificiai' A existência da civilização de

Atlântida. descrita por Platão, náo é levada

a sério pela maioria dos cientistas atual-

mente

POLÔNIA

O Ocidente em busca deuma fórmula para receber

23 bilhões de dólaresÉ quase certo que haverá um

acordo entre o governo polonês e

os governos e bancos ocidentais,

como forma de resolver o grave pro-

blema da dívida externa da Polônia

— impossibilitada este ano de

pagar as prestações e o serviço de

uma soma que já se eleva a US$ 23

bilhões.

A Polônia tem sido, nas ultimas

semanas, a preocupação maior dos

bancos europeus. Seus represen-

tantes não se cansam de procurar

fórmulas para reorganizar esta dlvi-

da, da qual US$ 10,3 bilhões são ga-

rantidos por governos ou organis-

mos de Estado especializados em

exportação internacional (Coface

na França, Eximbank nos EUA,

ECGD na Inglaterra e Hermes na

Alemanha Ocidental). Este último

junto com outros bancos alemães

são os maiores credores da Polo-

nia, com um total de US$ 4,4 bi-

lhões de empréstimos. Oe

seguintes: EUA (3,3 bilhões), França

(2 5 bilhões), Inglaterra (2 bilhões),

Austria(1,7 bilhão) e Itália (1 bilhão).

Itália (1 bilhão).

A situação imediata dos polone-

ses é precária. Sua parcela da dívi-

da este ano é de US$ 6,6 bilhões, e

eles nâo têm condições de pagá-la.

segundo tudo indica. Eles estão pe-

dindo um crédito especial de 1 bi-

Ihão e o adiamento dos

pagamentos relativos ao segundo

trimestre deste ano (mais 1 bilhão)

como forma de evitar atrasos, a que

nunca recorreram, e saldar os com-

promissos mais urgentes (os maio-

res credores este ano sâo os EUA,

com 1,1 bilhão, e a França com 1 bi-

Ihão). Os outros pagamentos deste

ano deverão também ser reescalo-

nados segundo o acordo geral em

estudo. Os poloneses afirmam que

as negociações da parte da divida"garantida"

pelos organismos esta-

tais, estão sendo positivas.

Os eurobanqueiros decidiram

criar comitês nacionais para

estudar a reorganização da dívida

polonesa, nos EUA sob a coordena-

ção do Bank of America e do City-

bank

As negociações até agora têm se

desenrolado sob um clima de satis-

facão geral. O volume da dívida po-

lonesa é tal que todos têm interes-

se numa solução o mais rápido

possível, embora não haja dúvida

de que tudo terá que ser rediscutido

no caso de uma intervenção

armada na Polônia.

Apesar deste clima geral, é duvi-

doso que a melhor saida seja a que

vem se desenhando, com o desdo-

bramento da dívida polonesa em

prazos bastante longos, sob a

cobertura de organismos interna

cionais como o FMI (Fundo Monetá-

rio Internacional). A dúvida se colo-

ca não só devido ao montante da

divida, como por suas conseqüên-

cias inevitáveis sobre a viria interna

do país, condenado a duros sacri-

fícios ainda por longos anos à

frente. Por exemplo: os bancos co-

merciais poderão suportar a carga

que se colocará sobre eles sem pôr

em risco o sistema bancário in-

ternacional? Ao emprestar à Polo-

nia, durante muito tempo eles adia-

ram a crise atuaf. mas ainda

poderão manter o papel que assu-

miram, na verdade substituindo as

organizações especializadas, que

foram incapazes de financiar as

exportações em que têm interesse

os governos credores da Polônia'-

(Le Monde)

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£ tfsJtk . ^w ^^t?*"piS__________fc?^_S^ '^^^K*mm9

Castro: posição consolidada vinte anos após ã invasão

CUBA

Baia dos Porcos: vinte anosVinte e quatro noras depois que aviões tipo

B-26 atacaram, às seis horas da manhã, três

bases militares, o que provocou sete mortos e

uns 60 feridos, milhares de militantes anti-

castristas invadiram Cuba, em três frentes di

ferentes: províncias de Oriente, Pinar dei Rio

e Matanzas. Nesta, ficam a Baía dos Porcos e

a Praia Girón.

Durante a frustrada invasão de Cuba, leva-

ria a efeito há 20 anos (era o dia 17 de abril de

1961, uma segunda-feira), os anticastristas e

mercenários supunham que, tão logo chegas-

sem às praias cubanas, todo o povo, imedia-

tamente, se levantaria contra o regime de Fi-

dei Castro, de armas na mão

No entanto, o que sucedeu foi exatamente

o contrário: decretada a mobilização geral do

povo, a primeira medida efetiva adotada por

Fidel Castro, as forças armadas cubanas, sob

o comando direto do próprio primeiro-minis-

tro. saíram em defesa da pátria ameaçada; de

fato, pouco mais de 48 horas depois da inva-

são, a situação já estava sob controle, com o

aniquilamento das forças invasoras.

Mas ainda antes do bombardeamento das

bases cubanas por aviões supostamente pi-

lotados por cubanos que tinham desertado da

Força Aérea, houve outros atos de sabotagem,

como o incêndio que destruiu, dia 13 de abril,

uma quinta-feira, o Supermercado El Encan-

to, de seis andares, em Havana, com enormes

prejuízos para o Governo e povo cubanos.

Com relação aos bombardeamentos do sá-

bado que antecedeu a invasão, o encarregado

de negócios de Cuba no Rio de Janeiro, Hélio

Armenteros, em entrevista à imprensa, no dia

da invasão, explicava que em Ciu-

dad Libertad não havia qualquer base militar,

mas uma cidade escolar, com umas 20 mil

crianças.

A invasão de Cuba, que segundo Fidel

Castro foi preparada na Guatemala (de onde

partiram os invasores) e organizada com

apoio do Governo americano, foi atribuída ao

Conselho Revolucionário Cubano, presidido

por José Miro Cardona, cujo filho, de igual

nome, foi preso durante a operação de de-

sembarque em Cuba.

O Conselho Revolucionário Cubano, na

véspera da invasão, distribuía comunicado

em New York no qual dizia, dentre outras

coisas, que "um

tremendo exército de pátrio-

tas, agindo na clandestinidade, recebe neste

momento instruções para o golpe final contra

Castro". O jornal mexicano Uni-

versai Gráfico chegou mesmo a anunciar que

o primeiro-ministro Fidel Castro já dispunha

de uma fazenda no México, onde pretendia

asilar-se...

Um dia depois da invasão, havia rnanifes-

tações de apoio a Cuba no México, Guatema-

Ia Colômbia, Bolívia. Panamá, Chile, Peru,

Venezuela, França, Itália, Equador, União So-

viética e Brasil. No Rio de Janeiro, estudan-

tes programaram para terça-feira, dia 18. duas

concentrações de solidariedade a Cuba.Alèm

disso, às oito da noite, houve um ato público,

na União Nacional dos Estudantes, na Praia

do Flamengo.

Na Organização das Nações Unidas, o mi-

nistro das Relações Exteriores de Cuba, Raul

Roa denunciava que um porta-aviões ameri-

cano fora visto navegando ao sul de Cuba,

mandando aviões a jato para apoiar a invasão.

Ao mesmo tempo, Fidel Castro declarava que

os invasores tinham partido da Guatemala, o

que foi contestado pelo Governo guatemal-

teco.

O delegado da União Soviética na ONU,

Valerian Zorin, pedia a cessação imediata das

operações contra Cuba. e acusava o Governo

americano de responsável pela operação. A

acusação foi rechaçada, mas os porta-vozes

americanos manifestaram sua simpatia pelos

anticastristas.

Dia 20 de abril, três dias depois da invasão,

(no mesmo dia, Fidel Castro anunciara que,

na véspera, tinha acabado de aniquilar os In-

vasores), o presidente dos Estados Unidos,

John Kennedy, falando na Sociedade Norte-

Americana de Diretores de Jornais, defen-

dia-se da acusação de ter patrocinado a inva-

são: "Uma

intervenção unilateral norte-ame-

ncana em Cuba seria totalmente contrária às

tradições e obrigações internacionais do Go-

verno de nosso pais, mas è necessário re-

cordar que a moderação estadunidense nao e

'"ji9? Governo brasileiro (o presidente da

República era Jânio Quadros), em nota ofi-

ciai manifestava sua apreensão diante da in-

vasão de Cuba, e reafirmava a decisão de de-

fender os princípios da autodeterminação dos

povos.

Mais ou menos um mês depois da invasão,

tivemos oportunidade de assistir, na Embai-

xada de Cuba, no Rio de Janeiro, a um filme

sobre aquela tentativa de derrubada do Gover-

no de Fidel Castro. As cenas, emocionantes,

mostravam jovens de 15/16 anos. de ambos

os sexos, partindo em direção à praia, a fim

de dar combate ao invasor.

Com essa resistência, evidentemente, não

contavam os anticastristas e mercenários que

se envolveram na aventura de alijar do poder o

primeiro-ministro Fidel Castro, cuja posição,

hoie, está mais do que consolidada. (Adal-

bertu Cavalcanti).

MOVIMfc NTO - 20 a 26/4/81

16

Page 17: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

LIVROSMEMÓRIAS

O que é que o Gabeira tem?*^* **• ^^^^^M|M» Trata-se, como o autor anuncia. d<

Com se explica afaçanha de FernandoGabeira, que vendeu

125 mil livros?

Emiliano Gonçalves

fi

uarenta edições, 125.000

exemplares vendidos em

dois anos. Cifras fora do comum no

mercado do livro. É a façanha de Fer

nando Gabeira com O que é isso Compa-

nheiro?, O Crepúsculo do Macho e En

tradas e Bandeiras.

Por que os livros de Gabeira têm tanto

êxito? Ante esta pergunta as respostas

variam muito: desde "é

um gênio" até "é

um desbundado e em país de desbunda-

dos, desbundado é rei". Todas coinci-

dem em que os livros são bem escritos e o

assunto é apaixonante. Muitos argu

mentam também com a força da publi-

cidade.

Mas isto não basta para compreender

o êxito de Gabeira. Este deve ser busca-

do na proposta subjacente do autor que

vai ao encontro de questões sentidas pot

parcelas importantes da sociedade bra-

sileiraque, além de saber ler e ter tempc

para fazê-lo. têm dinheiro para comprai

livros.

A partir da curiosidade inicial que

despertou a chegada do autor ao Brasil

com a entrevista a O Pasquim e a bada-

Íação do retorno — ex-guerrilheiro,

seqüestrador do embaixador yankee,

com tanga de crochet, transa homens e

mulheres em Ipanema — aquelas parce-

Ias da sociedade são atraídas pela irre-

verência desenfreada dos livros de Ga-

beira, face a toda ordem estabelecida (de

direita ou de esquerda) em todos os am-

bitos da vida.

Estes livros vieram ao encontro de um

público situado aparentemente à mar-

gem do "político", estimulando a refle-

xão e discussão fora da "clientela

poli-

tica" da chamada esquerda. Um público

que questiona, muitas vezes de maneira

intuitiva e vivencial, a esquerda marxista

tradicional, armada ou desarmada. Que

nega o regime e igualmente as organi-

/.ações de "esquerda"

que reproduzem

sob outras formas o autoritarismo e mo-

ralismo do mesmo. Parcela da sociedade

alinhada na esquerda pelo seu potencial

contestatório c que não se sente identífi-

cada com a forma dc ver e fazer política

da esquerda tradicional.

mm -£~ 9m^^ ***** mt ^^V-á..,^'.^* *V."''

W*^ \ ,:^J *%> -;;;,«.:,

¦f . <x^. '"Mm

Colaboração, em vez de direção do proletariado...

existência deste público

tem suas raízes num fenômeno social

emergente após mais de uma década de

regime despótico. Trata-se da extenua-

ção da sociedade frente ao despotismo do

regime e ao autoritarismo das relações

sociais gerados pelo capitalismo desen-

volvido no seu seio. Esta extenuação nao

se dá apenas no proletariado. Abrange

também vastas camadas não-proletanas

igualmente oprimidas. O cansaço laten

te, a indignação sufocada, o terror à vio-

lência do cotidiano atravessam toda a

sociedade. O protesto e a indignação se

expressam à margem do constituído le-

galmente, quer se trate de partidos, sin-

dicatos ou qualquer outro tipo de organi-

zação criada de cima para baixo.

São os operários que denunciam o

sindicalismo pelego atrelado ao Estado e

lutam pela autonomia sindical e a inde-

pendência da classe. São as mulheres

que protestam contra a condição de

"objeto para usar, gozar e abusar". Sãc

os negros que se revoltam contra a dis-

eliminação da cor e da cultura. São os

homossexuais que lutam pelo direito de

fazer o amor com quem quiserem. São os

ecologistas perplexos ante a destruição

da vida pelo capital. São setores com rei-

vindicações próprias que abrangem cada

uma delas um aspecto da exploração e

opressão da barbárie capitalista sob um

regime despótico. E se expressam como

movimentos sociais, como forças sociais

que se negam a ser enquadrados em

qualquer forma de organização institu-

cionalizada. ante as quais manifestam

uma desconfiança visceral.

público de Gabeira é fruto

desse fenômeno social. Um público cé-

tico das direitas e das esquerdas. Cama-

das que parte da esquerda, com seu ma-

niqueísmo bipolar - burgueses versus

proletários — não considera nas suas

análises. Parcelas da população que, não

sendo proletárias, têm entretanto, coisas

a dizer sobre o projeto de sociedade que

deve nascer da ação revolucionária. Es-

sas camadas foram preteridas no discur-

so da esquerda oficial, ou vistas como

aliados necessários mas nào-confiáveis. e

com as quais se ajustaria as contas na

hora da "revolução triunfante".

O que é isso Companheiro? é isso

mesmo: uma dessacralizaçào despojada

da esquerda armada.. Desde seu duplo

papel — jornalista e guerrilheiro

— Ga-

beira vai nos introduzindo naquele mun-

do que só conhecíamos por sussurros em

voz baixa ou por lacônicos comunicados

do governo. A técnica usada é a da per-

plexidade. Perplexidade teórica e dc

senso comum ante a monstruosidade em

que vão se transfigurando as organiza-

ções armadas. Contraponto entre a fér-

rea e sólida lógica formal do discurso do

militante construído sobre uma realida-

de imaginária que, contendo alguns ele-

mentos do real. assume as dimensões do

fantástico. Onde o discurso e a ação vão

criando progressivamente uma realidade

paralela que, com sua implacável lógica

interna, transforma a vida em conceito

vazio e o conceito vazio em vida. Organi-

zações que nasciam para a vida política

para dessacralizar verdades tidas come

eternas, por ironia acabam saeralizando

inclusive o que ainda não estava sacra-

lizado.

O grande mérito do autor é que sua

autocrítica, seu longo monólogo, é feito

desde a esquerda. Em nenhum momento

bate no peito como pecador arrependido

que volta aos braços da ordem estabe-

lecida. Continua sendo um subversivo.

Sua crítica à esquerda não é amarga. E

irônica e carinhosa. Não deda ninguém.

Não picha ninguém. Não julga. Argu-

enta.

Por ser aparentemente suave sua cnti-

ca tem efeitos destruidores. Ante nós

desfila, com seus traços peculiares,

toda uma galeria de revolucionários. E

nào podemos deixar de sentir amor e dor

por eles. Como não sentir ternura e ao

mesmo tempo angústia con. Domingui-

nho que. aos quinze anos. recitava as di-

ferenças táticas e estratégicas de todas as

organizações armadas, mas nunca tinha

Aleijado uma moça?

O Crepúsculo do Macho é o périplo do

exílio. O conhecimento de novas realida-

des. O estilo do relato é outro. Utili-

zando a justaposição temporal e espa-

ciai. constrói situações de muita vivaci-

dade. São lembranças do presente. No

começo preocupa-se com o que se preo-

cupa todo banido: preparar-se teórica e

tecnicamente para a volta. Ao mesmo

tempo mantém um monólogo sobre o

beco sem saída ao qual chegam as or-

ganizações armadas.

Trata-se, como o autor anuncia, de

uma viagem. Mas não da viagem do"desbunde"-, das orgias e das transas

com o "bom

capitalismo" como querem

fazer acreditar tanto os críticos de uma

autodenominada esquerda como os apo-

logistas do capital, lrata-se da viagem

da reflexão ante a complexidade da do-

minação capitalista. I a descoberta de

que, junto ao proletariado, existen

outras camadas oprimidas e exploradas.

Que junto aos mecanismos de domina-

ção econômica existem os ideológicos.

Que entre estes últimos a família c a

moral são suportes fundamentais do

capitalismo.

ntradas e Bandeiras constitui

o encontro com o novo Brasil. E a per-

cepção de que. além das lutas dos prole-

tários, existem as lutas das "minorias

oprimidas". Lutas com características

próprias, igualmente contestatórias. que

questionam as raízes da ordem estabele-

cida. Lutas que. se levadas até suas úl-

timas conseqüências, nào podem ser as-

similadas pelo sistema. Lutas autônomas

desses setores que. se incorporadas pelo

proletariado num movimento de enri-

quecimento mútuo, levarão a uma revo-

lução que não se esgota com a tomada do

poder. O autor se engaja nas lutas das"minorias". Já não é o intelectual que

quer levar a consciência ao proletariado.

É o intelectual que assume a luta desde

outro ângulo.

Como ele mesmo diz: "O

movimento

feminista ganhara um novo impulso a

partir de 68, a questão ecológica expio-

dirá com toda a intensidade nos anos 70.

Culturas independentes como a dos ne-

gros exigiam um direito de existência. Os

homossexuais, mantidos sob o signo do

preconceito, começavam a se organizar

em quase toda parte. Os loucos, os ve-

lhos, as crianças, em breve iriam abrir os

olhos para o processo de opressão a que

estavam submetidos. A sorte da nossa

época dependeria do proletariado. Seria

ele capaz de captar estas novas tendên-

cias. ou embarcaria pura e simplesmente

nas águas da repressão silenciosa e dis-

farçada contra milhões de seres huma-

nos?"

Além da dimensão política, os livros

de Gabeira estão permeados por outra

dimensão, a humana. O intento de res-

gatar e expressar os sentimentos, as

emoções, a alegria do sensorial. Aspectos

esses que. em certas camadas, são escon-

didos como debilidades. como algo ver-

gonhoso. E que quando timidamente

transparecem, sâo rapidamente raciona-

lizados.

oltando à pergunta inicial: por

que o êxito do Gabeira? Para a direita,

ti ata-se da volta do filho piodigo que

gosta das amabilidades do sistema. Para

a esquerda dogmática, da decadência de

um desbundado, transformado em "gu-

ru" pelos meios de comunicação. Para

outros, da oportunidade de refletir sobre

os velhos, mas sempre novos, problemas

da esquerda.

17

MOVIMENTO — 20 a 26/4/81

Page 18: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

„v. ,\ .-.•.*. /._*.'#«&.

COLEÇÕES

O difícil equilíbrio de

informação e análise

no livro de bolso

PSICOLOGIA

Piaget explicadoA divulgação de um cientista tão importante quanto Freud

.__ roo „..--,_> _c tfinrias de Piaget.

A CRISE DO ESCRAVISMO E A

GRANDE IMIGRAÇÃO, Paula Bei-

guelman. Editora Brasiliense. São

Paulo. 1981. 62 p

AS INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRI

CA LATINA, Leon Pommer. Brasi

Hense. 1981.141 d

A LUTA CONTRA A METRÓPOLE.

A u a Y^dda Linhares. Brasiliense,

1981, '15p.

A Editora Brasiliense acaba de

iançar os primeiros títulos da co-

¦cao Tudo à História", cuios te-

nas como indica o próprio nome

, _ coleção, não sequem os ente-

íios tradicionais de trabalhos se-

rneihantea. Estão concentrados

m questões que, mesmo sendo

•o passado, mostram-se atuais e

¦ ilèmicas.

PauU Beiguelman retoma os

>rincipaie argumentos de uas

*,hras da década de 1960. O no-

m-o abolicionismo-imigrantismo

oioca se no centro de seu estu-

<o onvilegiando este ultimo (pro-

-ovido pelos fazendeiros do cha-

rado <»este Novo - com centro

m Ribeirão Preto, interior de bao

•-auio; como elemento decisivo.

Desinteressados da continuidade

no suprimento de escravos, os

\deptos do imigrantismo tentam

pnr a própria instituição do es-

. ravismo para torná-la inviável e

conseguir o apoio oficial aos pro-

íhios de imigração européia. Hara

•• autora, o imigrantismo provo-

<ndo uma crise fundamental

i -entro do escravismo. cria as con-

diçóee objetivas para a emergência,

rio movimento abolicionista, cir-

nunscrevendo, porém, seu tnun-

Io'

Leon Pommer, por sua vez, per-

orre a América Latina indicando

is linhas gerais dos movimentos'¦¦¦- independência. A conjuntura

t.ropicia para tanto se situa na in-

¦sao das metrópoles ibéricas pe•V.

tropas de Napoleão. enfraque-

i .*ndo as ligações entre a Colônia

. a Metrópole. As disputas pelo

,oder que se seguem colocam em

loao diferentes personagens, tm

nuitaa regiões, a iniciativa de re-

..Itas de caráter autonomista in-

, iuí as camadas populares; em

. ..trás o movimento se limita a

méritos oa cúpula da admims-

, ao ou da sociedade colonial

¦i -'«-• ultado final, no entanto, ta-

.ri i ».u a estes últimos, que pas-

,am .i dominar nações formal-

lente independente, que nao

.-.nseguem se libertar dos vin-

uloãccm as grandes potências

da época. Em todo o texto fica

presente a sugestão de que a in-

dependência na América Latina

não representa uma efetiva des-

colonização, embora os novos

países se tornassem libertos das

velhas metrópoles ibéricas.

Maria Yedda Linhares também

critica, por outros motivos, o con-

ceito de descolonização — neste

caso relativo à independência das

colônias européias na Ásia e na

África A descolonização segun-

do a autora, expressaria uma vi-

são eurocentrista desse processo,

entendida a independência como

mera concessão das potências eu-

ropèias.Naverdade. porém foram

as próprias populações coloniza-

das que levaram adiante movi-

mentos que, por fim, obrigaram

as potências européias a conce-

der-lhes a independência A oe-

gunda Guerra Mundial catahza as

forças autonomistas, por relegar

as potências européias a lugar se-

cundário na política mundial e.

ainda, por levar à participação de

algumas populações coloniais no

conflito e à expansão do naciona-

"3Linhares conclui lembrando que

a •descolonização" da Ásia e da

África já se concluiu; mas resta o

problema de construção de suas

sociedades - elas que foram na

sua origem, destruídas pelo con-

tato com o colonizador.

Estes três lançamentos da cole-

ção "Tudo è História" são exem-

plares no sentido de mostrar o

potencial e as dificuldades de

uma coleção baseada nesses pa-

drões (livros de bolso com cerca

de 100 páginas). O livro de Paula

Beiuuelman nem sempre e de tacii

compreensão para o leitor nao fa-

miliarizado com suas obras, Leon

Pommer prefere apresentar infor-

mações minuciosas sobre os mo-

vimentos de cada área colonial,

sacrificando o enquadramento ge-

rai da independência na America

La'ina Apenas Mana Linhares

conseguiu melhor equilíbrio entre

informações e análise, colocando

progressivamente a questão da lu-

ta contra as metrópoles européias

no plano do desenvolvimento do

capitalismo no pós-guerra.

Sem duvida, a grande dificulda-

de consisto em alcançar O equlti-

brio entre a informação histórica t

a análise e a análise em livros de

dimensão restrita. O potencial da

coleção - que pode justificar sua

existência - é de se tomar um

veículo ágil para divulgar novas

teses a respeito de questões poie-

¦micas, sem comprometer o seu

caráter informativo geral.

PIAGET PARA _**M__**____ZLauro de Oliveira Lima, Editora

Summus - Coleção '.Novas

Buscas em Educação", 1980, 284

P*

Jean Piaget è autor de obras

oue só tardiamente obtiveram re-

conhecimento e aceitação, muito

provavelmente porque suas idéias

e descobertas supõem no sistema

acadêmico uma revolução SO

comparável à que Galileu propôs a

sociedade cientifica de seu tem-

P°Ele se dedicou, entre outras

coisas, ao estudo e pesquisa so-

bre a formação de conceitos pela

criança, o desenvolvimento da in-

teliqència e suas fases, campo em

aue positivistas e behavonstas se

negaram a entrar, declarando-o

área inacessível à investigação (a

•caixa preta") e medição.

Piaget, cuja formação provem

mais da área de ciências, (biolo-

qia) que de humanidades aplico^

se ao estudo da ep.stemolog a

genética (teoria do conhecimento

científico baseada na analise do

desenvolvimento da inteligência)

fundamentando seus estudos em

métodos científicos de observa-

ção direta, indo alem das meras

especulações ou atitudes de

"avestruz" até então tradicionais

nesta área, não lhes negando nem

existência nem impossibilidade

de estudo sistemático e cientifi-

CO

Autor de obra extensa, torna-se

acessível aos não iniciados graças

à mediação de um grande nome

da pedagogia brasileira que e Lau-

ro de Oliveira Lima. Em Piaget pa-

ra Principiantes, o autor nao se

limita a expor didaticamente as

teorias do mestre suíço, mas tam-

bém comenta, sugere aplicações

práticas, o que torna a obra mais

valiosa e necessária aos que se

preocupam e se ocupam com a

formação e desenvolvimento do

indivíduo desde seus primeiros

estágios de vida.

Lauro de Oliveira Lima nao se

preocuoou com a organização

como ele mesmo declara - mas

apresenta uma visão sintética e

global das teorias de Piaget. Ao

final, encontram-se ainda dois ar-

tigos de J. Reis, publicados na

Folha de S. Paulo, bastante eluc-

dativos. Aconselha-se ao leitor

que inicie a leitura desta obra pelo

segundo destes artigos ' Piaget

- revolução intelectual talvez

comparável à de Freud"), que re-

sume as teorias de Piaget

O livro se desenvolve a partir

das colocações de Piaget sobre o

comportamento dos seres vivos,

que nega seja inato ou fruto de

condicionamento, mas construído

numa interação entre organismo e

meio, na qual gua.nto mais com-

plexa for a interação, mais inteli-

gente" será o animal.

Em seguida apresenta a meto-

dologia criada por Piaget: o me-

todo clinico por ele aplicado a

conduta humana, suas concep-

ções acerca da moral e o mpjr-

tante papel que o livre arbítrio de-

sempenhaem sua formação; suas

pesquisas em ps.cogenet.cao

problema da "autonom.a da afeti-

vidade e sua relação com o inte-

lectual. além de questões tais co-

comoada imitação, assimilaçaode

modelos, níveis de comportamen-

t0 O autor dá especial destaque às

teorias de Piaget sobre a inten-

qència e seu desenvolvimento e a

didática piagetiana em sua exigen-

-ia de que se dè ao aluno a opor-

tunidade de experimentar Çombi-

nações originais, desenvolvendo

sua inteligência na medida em

que reinventa o mundo.

Silvia Cintra Franco

ECONOMIA

Um grande catálogo sobre moedasu„ -^c có. ¦•r.aso". um dos quais è o de

Flávio Saes

OURO E MOEDA NA HISTÓRIA -

1450/1920, Piene Vilar. Editora Paz

e Terra, 1980.

O pensamento francês não tem

sido pródigo em obras do que

hoie se convencionou chamar ae

ciência econômica. (Essa lacuna e

tanto mais intrigante quando

se lembra que foi um francês o

Dr Quesnay, o fundador da siste-

mática que norteia ate hoje asa-

cramentada disciplina). Em com-

pensação, a história econômica

conheceu importante desenvolvi-

mento naquele pais sendo un-

versalmente conhecidas as contn

buições de Bloch, Labrousse.

Braudel, entre outros. O livro Ou-

ro e Moeda na Historia, 1450-

1920 de Pierre Villar, inscreve-se

também nesse rol e numa conhe-

cida tradição monetária francesa.

Ao que parece foram as tradi-

cionais alianças entre as casas

reais da França e da Espanha que

engendraram o interesse dos fran-

ceses pelos problemas da moeda

e dos metais preciosos. O afluxo

destes para a Espanha, nos se-

culos XVI e XVII. provocou feno-

menos de alta dos preços de to-

dos os gêneros, atraindo as aten-

ções dos estudiosos da época e

também dos séculos seguintes.

O livro de Villar è dedicado em

boa parte ao estuoo do fluxo OO

SS?oPà Espanha, suas consequen-

cias para aqueles países e para os

outros que com ele comercializa-

vam E não se detém a.. Pesquisa

ouai foi o pensamento, na época,

dos países implicados sobre o dl-

nheiro e os efeitos da ai a dos

preços. Não é raro, portanto, en-

contrar ao longo de todo esse

vasto período algumas incursões

do autor pela história do pensa-

mento econômico.

Mas è o metal, como mercado-

ria ou moeda, que ocupa a maior

parte de suaó atenções, desde as

rotas portuguesas e

?s rninas

americanas ate os sistemas de

moeda metálica na índia e Ch na.

Nesse imenso espaço geográfico

e no extenso tempo histórico

abordado, o autor não escapa da

sumarissima descrição de cada

"caso", um dos quais e o de Fer-

não Dias Paes Leme, "o

paulista

mais rico e mais poderoso em es-

cravos".Nos séculos posteriores,

como

não poderia deixar de ser, sua

atenção se dirige aos bancos e as

atividades que desenvolvem nos

vários paises. Dessa forma o cre-

dito faz sua aoançao na historia

monetária de Villar

Qual o balanço de tanto.esfor-

co? Um livro descritivo, útil para

consultas e citações de cunho

erudito. Um grande catalogo, sem

critérios, de tudo o que se refere

aos metais e às moedas O leitor

chegará extenuado ao fim, sem

saber, no entanto, o que eo -

nheiro. O grande segredo do sis-

tema capitalista continuara mde-

cifrável. ___O sentido do dinheiro se des-

cobre nos homens, e nao nas coi-

sas Infelizmente, Villar nao quis

nada com esta história, que e a

história do sistema em que vive-

mos.

Rui Granziera

l_Sh é—li f Jf_r__f? m 1 JSSm wál *S *m JlB^.flul__Há_M R,mmtmY'• Js____B_____^K_i__H_? ^___ B» —SS& Sh _* í ^_?5 §?! m-.a*amam,

18

I ASSINATURA BIANUAL

avista CrS 4.200,00

ASSINATURA ANUAL

avista CrS 2.700,00

ouou

, (Qrrt,,nnnn duas parcelas de Cr$ 1.350.001

duas parcelas de CrS 2.100,00 "^^ I

OU , m nt i

-.nn nn três parcelas de CrS 950.00 I

três parcelas de CrS 1.500,00 >

Nome IIdade ¦

Endereço '

Telefone Ciúsét "'!"'"'VcKpV'"'.'.'•. I

Ksliido I

Er_?_& _rsfi«w *¦• *». ¦ .«BE? s»pts:

naiura no exterior: anualai — USS 100; bianual USS 2(X). Paiu anaiura iw *-».*-•.»*.¦ -•— -- ,

_ l)SS ,7(( s>a ass „aiuraAmérica l.auna: anual - Lí-S B5. «¦"_¦'"?l\

p , m 46 s v1for reita na Europa enviar para Coma Posul CCF *'™***™

Vlaschi ou M lorres - Paris - France. Se a assinatura Im |wr.tla

da envia juaío com > cupom cheque no valor da primeira parcela.

Page 19: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

mm m ____*¦__¦« mu m MUMMMMMmM _N ** emt** d*v*rão *** ••«Mn p*f* Corto, Aborto*'com nom* • "*dor*ço comptoto*

CARTAS ABERTAS -s-*^^ - --_

IGREJA

Solidariedade ao

pastor demitidoUma surpreendente decisão arbitrária

TRIBUNA LIVRE

Surpresos e dfiscontf-ntes, tomamos

conhecimento da derT.ssão do pastor

Dario Schaeffer pelo Prasbltérlo da Co-

munidade Evangélica de Juiz de Fora.

Já no ano passado, ouando o pastor

esteve para ser demitido nós, estudan-

t«S e professores da Faculdade de Teo-

loflla, escrevemos a comunidade de

Juiz de Fora apelando ao diálogo e à

conciliação. Ficamos esperançosos

quando soubemos que as partes ha-

viam chegado a um acordo de conti-

nuação do trabalho, paia posterior rea-

.aliação.

Muito mais chocados ficamos ern-iiber -ia demissãc arbitrária, sem con-

sulta lenovada à Comunidade e sem

avaliação conjunta com o paste. Nos-

sa carta endereçada à Comunidade de

Juiz de Fora, ao que nos consta, ja-

mais foi comunicada à Comunidade.

Por isso, decidimo-nos agora a aata

carta aberta, com a qual também que-

rernos expressar nossa solidariedade

aos membros da Comum Iade de Juiz

de Fora.

Adicionalmente, noemanto, este ca-

so nos move ainda a fazer as se-

guintes considerações:

1) preocupa-nos a estrutura paro-

quial instituída na IECLB, que possi-

EDUCAÇÃO

Omissõesna pós-

graduaçãoNa Universidade Federal da Paraíba,

o que ouvimos em resposta aos pro-

blemas que estamos vivendo são fra-

áes do tipo*. "A Universidade nao tem

recursos", "É

preciso conter despe-

sas", "Não há bolsas para alunos".

Sabemos que estamos vivendo um

periodo de agravamento da crise eco-

nômica. cujos reflexos são drásticos

no setor educacional. Entretanto, e

preciso que façamos valer, também no

âmbito educacional, os interesses da

Paraíba, os interesses da região.

Hoje os alunos de vários mestrados

não têm bolsas para orosseguir em

seus estudos. E a Reitoria da UFPB

nada fez de concreto ate agora para so-

lucionar o problema.Sem as bolsas fica comprometida a

aistência dos mestrados, não temos

bmo responder aos compromissos as-

sumidos com a cidade e com a região.

Diante das constantes omissões das

autoridades educacionais, devemos

evidenciar tais fatos, bem como, res-

ponsabil.zà-las pelo estrangulamento

dos cursos de Pós-Graduaçao. Esta

carta aberta tem como objetivo central,

além de solicitar uma imediata solução

às questões aqui enunciadas, pedir

apoio, através de pronunciamentos,

dos parlamentares paraibanos e de-

mais autoridades.— pelo pagamento imediato das boi-

sas de estudo dos meses de janeiro,

fevereiro e março, que deveria ter sido

efetuado até o dia 10 de cada mes; que

a Reitoria da UFPB e a Pró-Reitona de

Assuntos para o Interior (PRAI) exijam

a definição do valor das bolsas da

CAPES; pela equiparação das bolsas

dos mestrados ao valor das bolsas da

CAPES; pela garantia e pagamento das

bolsas para os alunos selecionados em

1981 Associação dos Pós-Graduados

__ Campina Grande

bilita a um grupo tutelar uma comuni-

dade;2) sabemos que um dos pontos con-

troversos entre o pasto1" Dario e o Pres-

bitério foi sua participação em ato de

apoio à anistia, para o que podia se

respaldar em documento oficial da

IECLB (Natal de 1978). Por parte da di-

reção da IECLB, não divisamos uma

atitude coerente de apoio concreto a

essa opção, mas apenas um procedi-

mento de cautela que culminou com a

capitulação diante do Presbitèrio

Quais são as prioridades da IFCLB?

3) este caso especifico, que de modo

algum è únLo, nos levanta a séria preo-

cupaçâo pelo modelo de pastorado vi-

gente na IECLB e pelas possibilidades

reais de uma vigência evangélica em

nossas comunidade*.:, a serviço de Cris-

to e do próximo.

Contudo, queremos perseverar na es-

perança que Cristo nos dá. Alegramo-

nos com o fato de que diversas comu-

nidades «"le imediato contataram com o

pastor Dano, para trabalhar em seu

meio e com eles. Isso nos anima.

Assinam 128 estudantes e

professores da Faculdade de Teologia

de São Leopoldo __ RS

ELEIÇÕES SINDICAIS

Nem toda a

oposiçãoestá no PT

Deserções não

ameaçam o PT

Uma resposta aos "cristãos novos" do PMDB.

No Movimento da última semana de

março, n° 300 o repórter Luis

Macklouf Carvalho, ao escrever sobre o

processo eleitoral do Sindicato da

Construção Civil de Belém, falsifica a

verdade sobre como se deu o apoio à.

Chapa 2. da oposição, dizendo que foi•apoiada

por militantes do PT".

A falta de verdade não está na afir-

mação, mas na omissão de informa-

ções. Ao afirmar que "praticamente to-

das as correntes de oposição critica-

vam asperamente Severino", para logo

em seguida dizer que só militantes do

PT apoiaram a Chapa 2, è querer fazer

crer que todas as correntes oposicio-

nistas estão no PT.

E desconhecida para mim a militân-

cia no PT de algumas forças e pessoas

de oposição, tais como* estudantes

daqui identificados com a tendência

Caminhando: pessoas que se orgam-

zam e se identificam com o jornal Tn-

buna da Luta Operária; a maioria dos

membros da Sociedade Paraense de

Defesa dos Direitos Humanos e do jor-

nal Resistência: além de alguns inde-

pendentes. Nenhum destes se enqua-

dra no PT.

Querer omitir as outras forças politi-

cas è, no minimo, desonestidade poli-

tica. È uma forma de censura tão vio-

lenta quanto a da ditadura militar... Ao

não se ter concordância com a posição

x ou y omite-se a sua existência, es-

conde-se a verdade. O que sobra en-

,tão? A mentira.

É imperdoável que um membro do

Conselho de Direção do Movimento

tenha atitude deste tipo.

José Marcos de Lima Araújo

Belém - Pa

Em três Estados do Nordeste, membros das direç<v*.

municipais e regionais, e filiados, deixaram >> PT. ü

primeiro rompimento se deu no Kio Cirande do Norte e

os três membros da (omissão Municipal de Natal, um

da ComissSo Estadual e mais três Filiados publicaram

um documento justificando o rompimento com o PT

O documento começava analisando a crise econômica

porque passa o Brasil, o crescimento da resistência do

povo e a crise c incapacidade da ditadura militar.

Propunha a constituição de uma Frente Democrática e

a organização de uma Central única dos Trabalhado

res — CUT; retomava a tese de que a reformulaçâ..

partidária toi feita para dividir o MDB e fazia autocri-

tica de nâo terem entendido este tato. Como resultado

dessa autocrítica, propunha a luta pela Assembléia

Constituinte, pela organização da Unidade Sindical e.

depois de afirmar a incapacidade do PI para orien-

tar e guiar o povo na luta pela derrocada do regime

militar, anunciava que o verdadeiro partido

da classe

operária nascerá com um programa claro e definido...;

por fim, anunciava a entrada no PMDB.

Em Pernambuco, o processo foi inverso: a Executiva

Regional cxpulvu 0 ex-viee-prefeito de Recife e ex-de-

putado federal, Arthur Lima Cavalcanti, e mais dois

filiados. Fred Navarro e Antônio Melo Martins. A

posiçlo da Executiva Regional foi tomada, segundo

ela, porque os três estavam fazendo aliciamento no PT

para adesões ao PMDB. Os expulsos defendiam as

mesmas propostas do ex-petistas do Rio Grande do

Norte.

Na Paraíba, num primeiro momento, um militante —-

José Francisco de Sou/a - desliga-se do PT na mesma

época e com os mesmos argumentos dos rompimentos

do RN. Mais recentemente, abandonaram O PT da

Paraíba um membro da Direção Nacional, Wanderly

Farias, e mais 59 filiados e integrantes das comissões

municipais, com as mesmas posições.

Todos abandonaram o PT e ingressaram no PMDB

dentro de uma mesma visão e proposta política. Esta-

vam articulados no PT desde O primeiro encontro

nacional, de maio de 1980. quando suas propostas

loram derrotadas em toda a linha, destacando-sea que

defendia a inclusão, na plataforma de luta do PT, ou

mesmo no programa, da palavra de ordem de Cons-

tituinte.

f. preciso entender de uma vez por todas que esta

articulação propõe (propõe porque ainda existem re

manescentes seus dentro do PI') para o Partido uma

tática política e uma estrutura interna de organização

que. se vitoriosas, descaracterizariam o VI e seu papel.

Segundo sua visão, o PT divide a oposição e a principal

meta da abertura toi dividir o MDB. quando a realida-

de e os fatos desses dois últimos anos demonstram que

a abertura e a reformulação partidária tiveram como

objetivo principal desorganizar e desmobilizar o movi-

mento popular, principalmente os trabalhadores e o

sindicalismo autentico.

A principal tarefa que se colocava - para as nascentes

lideranças sindicais, para os parlamentares autênticos

c populares e para a esquerda e setores oposicionistas

- era a de construir nâo só sindicatos, associações e

entidades independentes do Estado, mas. principal-

mente, buscar organizar um partido político legal, de

massas e de luta que buscasse atingir aqueles objetivos.

A concepção política dos setores que abandonaram o

PI nada tem a ver com esses objetivos. Ao proporem a

luta por uma Constituinte; pela organização de uma

Frente Democrática, que seria já o PMDB; pela forma-

ç3o de uma Central Única dos Trabalhadores, como

alternativas à crise econômica e política do regime, na

prática colocam-se a reboque dos objetivos e das

formas de organização e luta da oposição liberal bur-

guesa. Ioda concepção política dessa articulação parte

de uma visto catastrófica, fruto de uma análise nao

objetiva, da crise econômica e uma avaliação ufanista

do nível de luta e organização do movimento popular.

ao pressuporem a viabilidade de, no momento, criar

uma alternativa ao regime militar, ainda dentro dos

limites liberais burgueses.

de lutas que o movimento popular atingir, seu nível de

organização e político. n3o sendo possível

definir hoje

quem é candidato e quem vencerá as eleições. Náo è

porque hoie somos fracos e desorganizados em uma

cidade que vamos compor com outro partido e apoiar-

nos em esquemas de currais eleitorais para detnagegi-

camente pedir votos ao povo. O que importa é uin j

programa político para disputar eleições que relletrto i

a luta e a organização dos trabalhadores.

O que perguntamos aos cristãos-novos do PMDB é

quem dará apoio is campanhas eleitorais para dispu-

tar governos em 82 a seu nc .o par,do, já que, se nâo

tivermos um partido organizado e com bases popuia-

res, dependeremos do apoio de grupos econômicos ou

dos instrumentos controlados pelo regime, como a 1 v

e o rádio.

Mais mistificadora é a acusação que fazem de que o

PT divide o movimento sindical, quando a verdade é

uma só: o que interessa é a unidade dos trabalhadores

pela base, no movimento real de lutas, de organização

sindical e nas fábricas. Militantes do PT. quando têm

apoiado oposições sindicais que disputam eleições con-

tra pelegos. nio est3o dividindo o movimento sindical,

mas apoiando chapas que disputam eleições com dire-

tortas uue mantêm o sindicato afastado da fábrica e

dos trabalhadores.

O PT nâo é contra a Unidade Sindical ou o Conclat,

mas isto nâo significa aceitar a política conciliatória e

cupulista da atual "Unidade Sindical", assim como

defender determinada política nc- Conclat nâo significa

também ser contra ele, mas sim contra outra orienta-

çâo que pretende ser hegemônica.

Fará fechar suas propostas de Constituinte, Unidade

Sindical e prioridade para as eleições de 82. os ex-pe-

tistas definiram o PMDB como a Frente Democrática,

quando todos sabem que naquele partido está apenas

parte das oposições ao regime militar; e que seu caráter

de Frente nâo impede, como nào impediu no passado,

que sua política fosse dirigida por seus setores liberais,

que sempre o conduziram de maneira elitista. Preten-

der transformar o PMDB em Frente Democrática

capaz de derrubar o regime militar é puro desvano,

quando acabamos de assistir uma composição deste

partido, no Congresso Nacional e em diversas assem-

bléias legislativas, com os setores oficiais do PDS — e

nâo com os setores dissidentes ou com as oposições.

como Wanderlv Farias aconselha em sua entrevista à

Folha de S. Paulo (em 19,3/81).

A saída desses elementos do PT nfto implica

nenhum perigo para a construção do Partido, mas deve-

mos nos perguntar como foi possível ter nas direções,

em três Estados, membros que abertamente trabalha-

vam para explodir o partido.

Fm nosso entendimento, estes setores foram eleitos

para direções do PT como resultado de composições

políticas realizadas em nossos encontros do ano passa-

do que nâo levaram em conta as posições políticas e as

propostas que os mesmos faziam. A nâo definição de

uma linha política pelas chapas, e mesmo o desconhe-

cimento por parte dos delegados dos membros das

chapas levaram à sectanzaçlo da luta política nos

encontros, quando deixamos de discutir as posições e

propostas de cada articulação ou conjunto de delega-

dos. para "salvar" o PT dos trotskistas ou da esquer-

da.

A política cupulista e a prática de congressos onde o

que vale sâo as articulações, favorecem as posições de

direita, que nâo dependem das bases ou do movimento

popular e operário.

Ou o PT cresce junto com o movimento operário e

«.pular ou nâo existirá. Daí. a principal tarefa para,

iodos hoje é filiar e registrar o PT. com base nas lutas e

campanhas que levamos nesse último ano. O PT conta

hoje por sua origem e proposta, com amplo apoio

junto aos trabalhadores da cidade e do campo mas sua

viabilidade depende, a médio prazo, da definição de

uma linha política para enfrentar a conjuntura de 1981

c levar o movimento popular a um novo avanço em suas

lutas sócio-econômicas e políticas.

JoséDtreeu

Como resultado dessa visão, só poderia surgir uma

proposta eleitoral e parlamentar oportunista, que só

objetiva a eleição de candidatos do PMDB, jà que estes

teriam condições de vencer em 1982. Sem avaliar que,

como entende o PT, as eleições de 82 vâo refletir o nível

(O aulor é ex diretor da União Estadual tio. Estudan-

te. - SP e militante do PT. O arttoo que pnblfcamo*

nesta edlv«o é constituído de trechos de um aittfo

maior.)

15

MOVIMENTO - 20 a 26/4/81

Page 20: MOSSA OPINIÃO - memoria.bn.br

¦ I

ENTREVISTA

Em defesa dodo exílio''£^s_^S,H»iSEi£sil as liberdades básicas dos exilados dof

Cone Su1 o conh^

cido escritor argentino Júlio Cortazar fala do drama dessa

diáspora e da crueldade das ditaduras.

Jacques Bertoin

Autor de literatura do fantástico, do

ensaio engajado, do conto filosófico, do

romance experimental, o argentino de

66 anos Júlio Cortazar tem minto a

ensinar aos que procuram uma razão

para escrever, diz o jornal francês Le

Monde, de onde foi condensada esta

entrevista. Júlio Cortazar viveu no ext-

lio europeu, onde se converteu numa

espécie de protetor e porta-voz dos

exilados políticos das ditaduras do Cone

Sul. Nessa entrevista, o autor de Jogo

da Amarelinha explica seu engajamen-

tt, político e literário ao lado dos exila-

dos.

Pergunta — Allende dizia que uma

eleição municipal no Panamá podia se

transformar numa disputa entre as

grandes potências. As "opiniões

públi-

cas". nacionais ou internacionais, esta-

riam condenadas a permanecer sem

influência neste contexto? Mais parti-

cularmente. qual poderia ser o papel

dos intelectuais sobre o futuro do Co-

ne Sul da América, quer estejam eles

em seus países ou no exterior?

Júlio Cortazar — Ê preciso inicialmen-

te que tu saliente um fato extrema-

mente positivo: mesmo nos países onde

a situação está pior do que se pode

imaginar, os intelectuais estão ao lado

dos oprimidos e não dos opressores. Ê

claro que sempre existem os indiferen-

tes, as pessoas que se enraízam em

qualquer sistema, mas estes são uma

minoria ncgligenciàvel. È eu certamen-

te não tenho ilusões quanto ao poder

dos intelectuais face às metralhadoras.

A palavra tem o seu peso, mas em re-

lação a força bruta ela infeltemente não

conta! Entretanto é a partir desta cons-

tatação que eu digo que é preciso tra-

balhar e lutar por todos os meios pos-

síveis contra as ditaduras.

Pergunta — Os escritores, os filósofos,

os cientistas fogem em número cada

vez maior das violências que os amea-

çam. Você mesmo cruzou o oceano ha

trinta anos. mas por vontade própria,

pelo amor á Europa e à França. Depois,

as circunstâncias mudaram e você não

poderia voltar a seu país sem sacrificar

sua liberdade, embora a França conti-

nue a recusar-lhe a naturalização que

você pede. Você tem o sentimento de

ter se juntado a este "povo

do exílio

que hoje existe pelo mundo?

iipovo

Júlio Cortazar — A pergunta precisa

ser respondida de diversos ângulos dite-

rentes. Falar de um "povo do exílio

seria dar ao exílio um estatuto que eu

não estou disposto a conceder. Na mi-

nha opinião. 0 exílio é sempre uma

compulsão, uma coisa forçada, um mo-

mento monstruoso da natureza huma-

na e da luta entre os homens, ê o

desenraizamento provocado pela força

rw-uta: a escolha entre ser morto, preso,

aduzido ao silêncio, e continuar a se

e-xpressar, mas em terra alheia. É a

partir daí que os exilados mesmo de-

vem refletir c reagir contra o mecanis-

mo específico do exílio. Se eles se dei-

xarem reduzir ao papel forçosamente

passivo de pessoas expulsas de suas

terras, e que tentam apenas se virar sob

novas condições de vida. estarão contri-

buindo para o triunfo das ditaduras.

Para estas, o exílio é um empreendi-

mento de demolição moral: obriga-se

alguém a partir e se toma por base que

esse alguém não vai resistir, mas se

acomodar em uma nostalgia alegrada

por vagas esperanças. Pense nos exila-

dos espanhóis após a vitória de Franco:

dezenas de anos, de vagas esperanças

de que algum dia Franco cairia, sem

nenhuma autocrítica profunda de seu

comportamento, quando poderiam ter

se mostrado muito mais dinâmicos e

eficientes.E com relação a essa dinâmi-'

ca, a essa eficácia, que eu questiono os

exilados chilenos e argentinos de hoje, e

que eu também questiono a mim mes-

mo. E eu constato que muito poucos

caíram na angústia, no desespero, na

nostalgia. Trabalha-se muito ativamen-

te contra as ditaduras, realiza-se um

encontro depois do outro, e a produção

dos editores, no México, na Venezuela

e na Europa, atesta a vitalidade cultu-

ral deste movimento.

Pergunta — Quais são os objetivos

dessa nova diáspora? A volta de todos a

seus países o mais rápido possível, ou o

triunfo para todos os valores que não

têm fronteira? Você não se sentiria

igualmente próximo dos exilados sovte-

ticos e chilenos?

Júlio Cortazar — Ê verdade que um

exilado se ressente rapidamente da ne-

cessidade moral de reagir contra qual-

quer injustiça, venha ela de onde vier. E

é isso mesmo que cria a noção de dissi-

dência. este protesto contra a sorte re-

servada aos indivíduos pela violação de

seus direitos. Eu ignoro absolutamente

os alinhamentos militantes, as parti-

ções políticas ou geográficas. A única

coisa que eu assinalo, entretanto, é que

os reacionários em geral, e também os

que se costuma qualificar de "liberais",

porque colocam uma aparente tolerân-

cia a serviço de sua boa consciência,

todos estes têm uma tendência de colo-

car todos num mesmo caso.

Ora. se é verdade que, moralmente,

uma pessoa não deve ser perseguida

por um delito de opinião, existe uma

diferença importante para aqueles que

sofrem estes achincalhes: na Polônia,

na Tcheeoslováquia. as pessoas são ex-

pulsas ou dissuadidas a partir. Em El

Salvador, na Argentina, as pessoas são

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Cortazar: lutar por

torturadas, mutiladas ao grau supremo

de desprezo por qualquer sentimento

humano. Eu sou contra as perseguições

seja na URSS, Chile ou Argentina, mas

não tentem me repetir — como fazem

tantos "liberais" —

que é tudo a mes-

ma coisa.

Pergunta — Seu continente, a terra da

qual sc sente nostalgia — não seria

simplesmente a Revolução, terra de so-

nho que você desejaria alcançar?

Júlio Cortazar - Antes é preciso che-

Kar a um acordo sobre o sentido dessa

palavra. As palavras são objetos vivos

cujas conotações mudam segundo as

épocas e as gerações. Eu gostaria por

exemplo que a palavra marxismo to-

masse hoje um sentido moderno e não o

que se atribui ao velho Marx. A orto-

doxia marxista consiste em querer aph-

car esquemas primitivos, ultrapassados

pela evolução histórica. A revolução e

um processo de libertação de um povo,

e por esta razão ela deve veicular todos

os impulsos, todas as maneiras de ser

deste povo. Graças a ela, este deve reen-

contrar sua identidade e não sacrifica-

la.

Pergunta — No caso de revoluções hoje"impensáveis", isso se deveria apenas

ao fato de as relações de força serem

desfavoráveis ou porque não ê mais

/tossível estabelecer um projeto hjtvolu-

cionário?

Júlio Cortazar — O papel de um escri-

tor. de um jornalista é de se mostrar

bastante crítico. O verdadeiro trabalho

dos intelectuais consiste em fornecer a

uma libertação — empreguemos esta

palavra — o máximo de possibilidades

imaginativas e experimentais. Sua con-

tribuição 6 dar á reflexão política os

elementos que. sem isso. ficariam exter-

nos ao debate. Gosto dos políticos que

se mantêm em contato com os intelec-

tuais. "Che" Guevara era um deles. Ele

sabia falar durante horas de poesia e de

música.

os meios contra as ditaduras.**

Os ditadores são cegos e surdos: pior,

eles impedem as populações que domi-

nam de escutar música, de ler livros.

Eu queria insistir sobre este duplo exí-

lio que eles provocam: de um lado,

caçam os intelectuais de seu país, e de

outro, transformam os que restaram —

e não apenas os intelectuais! — em ver-

dadeiros exilados internos. Muitos li-

ivros não entram na Argentina; 30 mi-

lhões de pessoas que não podem ler

sequer um romance de David Vinas, ou

um de meus contos. Não têm o direito

de escutar uma música do Quarteto Ce-

dron. Não se trata de um exílio ainda

mais cruel e que não é sentido como tal?

E isso porque a imprensa oficial e os

serviços de propaganda — realizando

este verdadeiro genocídio cultural —

não permanecem inativos: dopam as

inteligências com a publicidade do"modelo argentino". Apresentam os

exilados como traidores e apátridas.

Como se falou dos diferentes conteú-

dos da palavra 'revolução', se poderia

fazer o mesmo com o termo 'ditadura'.

Este vai da imbecilidade brutal de um

coronel espanhol que entra de revólver

em punho na Câmara dos deputados,

até a lavagem cerebral americana,

quando na tevê se corta 45 vezes um

filme para lhe passar as "mensagens

que se conhece sobre os detergentes, os

chocolates e outros. E que não se pense

que isto é exagero: durante 50 anos, a

política americana neste famoso "quin-

tal" não foi ditada por imperativos de de-

tesa nem por considerações políticas.

Tratava-se muito simplesmente de sa-

tisfazer este verdadeiro ditador da

América Latina, isto é. a United Fruits.

que defendeu seus interesses como hoje

defendem as multinacionais. Atras dos

soldados, dos gangsters. os pinochets.

os somoza, existem forças mais sutis.

Dirão que eu me exprimo em língua-

«em marxista, mas não é necessário ser

marxista para compreender tudo

isso...

(Le Monde)