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1 RESUMO DE MORFOLOGIA URBANA E DESENHO DA CIDADE , JOSÉ LAMAS RESUMO MORFOLOGIA URBANA E DESENHO DA CIDADE JOSÉ M. RESSANO GARCIA LAMAS GONÇALO AMÉRICO #6954 | FA-UTL | 2009/10 | LABORATÓRIO DE PROJECTO II

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RESUMO DE MORFOLOGIA URBANA E DESENHO DA CIDADE, JOSÉ LAMAS

RESUMO

MORFOLOGIA URBANA

E DESENHO DA CIDADE

JOSÉ M. RESSANO GARCIA LAMAS

GONÇALO AMÉRICO #6954 | FA-UTL | 2009/10 | LABORATÓRIO DE PROJECTO II

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RESUMO DE MORFOLOGIA URBANA E DESENHO DA CIDADE, JOSÉ LAMAS

“A arquitectura deverá estar presente e intervir, qualquer que seja a escala ou o tempo de intervenção, desde a vasta região á pequena habitação.”

José Lamas

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RESUMO DE MORFOLOGIA URBANA E DESENHO DA CIDADE, JOSÉ LAMAS

CAPÍTULO 2 – A MORFOLOGIA URBANA

A MORFOLOGIA URBANA

O termo morfologia utiliza-se para designar o estudo da configuração e da estrutura exterior de um objecto. É a ciência que estuda as formas, interligando-as com os fenómenos que lhes deram origem. O conhecimento do meio urbano implica necessariamente a existência de instrumentos de leitura que permitam organizar e estruturar os elementos apreendidos, e uma relação objecto-observador.

Portanto, podemos clarificar três pontos: - a morfologia urbana é o estudo da forma do meio urbano nas suas partes físicas exteriores, ou elementos morfológicos, e na sua produção e transformação no tempo; - um estudo da morfologia urbana ocupa-se da divisão do meio urbano em partes e da articulação destes entre si com o conjunto que definem. O que remete para a necessidade de identificação e clarificação dos elementos morfológicos, quer em ordem à leitura ou análise do espaço quer em ordem à sua concepção ou produção; - um estudo do morfológico deve ter em conta os níveis ou momentos de produção do espaço urbano. A FORMA URBANA Então a noção de “forma urbana” corresponderia ao meio urbano como arquitectura, ou seja, um conjunto de objectos arquitectónicos ligados entre si por relações espaciais, a arquitectura será assim a chave da interpretação correcta e global da cidade como estrutura espacial. Pode-se definir a forma urbana como: aspecto de realidade ou modo como se organizam os elementos morfológicos que constituem e definem o espaço urbano, relativamente à materialidade dos aspectos de organização funcional quantitativa e dos aspectos qualitativos e figurativos. - Aspectos quantitativos: todos os aspectos da realidade urbana que podem ser quantificáveis e que se referem a uma organização quantitativa: densidades, superfícies, fluxos etc. - Aspectos de organização funcional: relacionam-se com as actividades humanas: habitar, instruir-se, tratar-se, comerciar, etc, e também com o uso de uma área, espaço ou edifício, ouseja, o tipo de uso do solo. - Aspectos qualitativos: referem-se ao tratamento dos espaços, ao conforto e à comodidade do utilizador. Nos edifícios poderão ser a insonorização, o isolamento térmico, a correcta insolação, e no meio urbano pode ser o estado dos pavimentos, a adaptação ao clima, a acessibilidade, etc. - Aspectos figurativos: os aspectos figurativos relacionam-se essencialmente com a comunicação estética. Nos vários contextos históricos os elementos morfológicos são semelhantes: rua e praça, edifícios, fachadas e planos marginais, monumentos isolados. As diferenças resultam do modo como esses elementos se posicionam, se organizam e se articulam entre si para constituir o espaço urbano.

A forma terá de se relacionar com a função de modo a permitir o desenvolvimento eficaz das actividades que nela se processam. Se os três princípios básicos da arquitectura – função, construção e arte – estão sempre presentes na arquitectura e na cidade, já o peso que cada um deles assume no processo criativo pode sofrer alterações entre duas posições extremas. Uma posição “funcionalista”, segundo a qual uma forma física que corresponde logicamente aos problemas funcionais do contexto é bela, uma vez que a beleza é uma qualidade inerente a todo o sistema bem resolvido, “FORM FOLLOWS FUNCTION”. Ou então o “antifuncionalismo”, que aceita que a concepção da forma seja ditada de modo independe por outros objectivos, para criar a emoção ou o embelezamento da estrutura. Ou seja, a própria função também se

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adapta à forma, ou a mesma função pode coexistir e processar-se em formas diferentes, “FUNCTION FOLLOWS FORM”. Por exemplo, qualquer equipamento, como os cinemas ou os teatros, deve antes do mais, funcionar, ou seja, centram-se no funcionamento do programa. A estética funcionalista estende-se ao desenho de interiores, à decoração, ao desenho industrial, à moda e ao vestiário, o bom funcionamento torna-se por si só um item de qualidade. A organização funcionalista das cidades anulou as considerações morfológicas. O zonamento e a atribuição de uma função exclusiva a cada parcela do território tornaram-se métodos universais do urbanismo, produzindo cidades monótonas e pouco estimulantes, sem lugar para a surpresa, a complexidade e a emoção. O funcionalismo foi, sem dúvida, uma teoria urbanística e arquitectónica, mas foi, antes do mais, uma estratégia de representação desenhada e construída, traduziu-se mais pela imagem estética, gráfica e espacial do que por uma correlação exacta da forma com a função. Por outro lado uma mesma função pode existir convenientemente em formas distintas, a reutilização de antigos edifícios tem permitido obter excelentes resultados no grau de utilização, significado estético e quantidade ambiental. A concepção da forma não se esgota na correspondência a uma ou mais funções, tem também motivações mais complexas e profundas. A forma arquitectónica é a maneira como as partes ou estratos se encontram dispostos no objecto e também o poder de explicitar e evidenciar esta disposição. É unicamente através da figura que podemos descobrir o sentido do fenómeno e reconstruir a totalidade, a pluralidade dos seus elementos construtivos e das suas proposições. O que caracteriza a obra arquitectural é de natureza eminentemente figurativa. Entende-se por aspectos figurativos, os aspectos da forma que são comunicáveis através dos sentidos. E “figura”, ao poder de comunicação estética da forma, ou seja, ao modo como se organizam as diferentes partes que constituem a forma, com objectivos de comunicação. Os valores estéticos só são comunicáveis através dos sentidos e que, apesar das características da forma não se resumirem aos aspectos sensoriais, estes são determinados na sua compreensão. - Sistema de orientação: respeita o esquilíbrio vertical e também as cimas de cima/baixo, esquerda/direita, etc., que permitem ao homem orientar-se na cidade. É como um “sexto sentido”, que numa cidade dependerá fundamentalmente dos sistemas de referência: marcas ou monumentos, zonas ou bairros, etc. - Sistema visual: É através da visão que se constrói a parte mais importante da imagem da cidade, no entanto, o sistema de observação do espaço urbano, pressupõe o movimento e a apreensão do espaço em sequência visual. - Sistema táctil: Aqui se incluem todas as percepções térmicas e de fricção com a atmosfera: o vento, as correntes de ar, o calor, o frio, que também são importantes na vivência, compreensão e caracterização da cidade.

- Sistema olfactivo: Este sistema pertence essexncialmente à experiência da cidade, embora seja um factor de menor controlo e incidência no desenho da forma urbana, tal como tem sido analisada.

PRODUÇÃO E FORMA DA CIDADE E PRODUÇÃO FORMA DO TERRITÓRIO A expressão território designa a extensão da superfície terrestre na qual vive um grupo humano, ou melhor, o espaço construido pelo homem, em oposição ao que poderíamos designar por espaço natural, e que não terá sido humanizado. A forma humana não pode ser desligada do seu suporte geográfico, ou seja, o território preexistente constitui sempre um elemento determinante na criação arquitectónica. A paisagem humanizada e a paisagem natural adquiriram qualidades figurativas, foram carregadas com atributos de beleza, capazes de provocar a emoção estética, permite então considerar que as operações sobre a paisagem são também do domínio arquitectónico-urbanístico.

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DIMENSÕES ESPACIAIS NA MORFOLOGIA URBANA A compreensão e concepção das formas urbanas ou do território coloca-se a diferentes níveis, diferenciados pelas unidades de leitura e de concepção. Dimensão sectorial: É a mais pequena unidade, ou porção de espaço urbano, com forma própria. Uma infinidade de elementos que organizados entre si, definem a forma urbana (edifícios, o traçado, estrutura verde, mobiliário urbano). Dimensão urbana: Pressupõe uma estrutura de ruas, praças ou formas de escalas inferiores. Os elementos morfológicos têm de ser identificados com as formas a escalas diferentes e a análise da forma necessita do movimento e dos vários percursos (traçados e praças, quarteirões e monumentos, jardins e áreas verdes). Dimensão territorial: A forma estrutura-se através da articulação de diferentes formas à dimensão urbana. A forma das cidades define-se pela distribuição dos seus elementos primários ou estruturantes (bairros, grande infra-estruturas viárias e grandes zonas verdes). Tricart define três escalas principais na paisagem urbana: escala da rua, escala do bairro e a escala da cidade inteira. Estas categorias estabelecidas permitem sistematizar o conhecimento do espaço urbano. O desenho urbano – por necessidades da estrutura mental e operativa humana organiza a forma pela adição e composição dos elementos morfológicos, ou formas de escalas inferiores. Esta classificação pretende clarificar a leitura do território, articulando-a com os diferentes níveis de produção do espaço. OS ELEMENTOS MORFOLÓGICOS DO ESPAÇO URBANO Solo: É a partir do território existente e da sua topografia que se desenha ou constrói a cidade. O pavimento é um elemento de grande importância no espaço urbano, contudo de uma grande fragilidade e sujeito a inúmeras mudanças. Os edifícios: É através dos edifícios que se constitui o espaço urbano e se organizam os diferentes espaços identificáveis e com “forma própria”: a rua, a praça, o beco, a avenida, etc. Os edifícios agrupam-se em diferentes tipos, decorrentes da sua função e forma. Esta interdependência é um dos campos mais sólidos em que se colocam as relações entre cidade e arquitectura. O lote: O edifício não pode ser desligado do lote ou da superfície do solo que ocupa, este é a génese e fundamento do edificado. A forma do lote é condicionante da forma do edifício e consequentemente, da forma da cidade. O quarteirão: O quarteirão é um contínuo d edifícios agrupados entre si em anel, ou sistema fechado e separado dos demais, é o espaço delimitado pelo cruzamento de três ou mais vias e subdivisível em lotes para construção de edifícios. O quarteirão agrega e organiza os outros elementos da estrutura urbana: o lote e o edifício, o traçado e a rua, e as relações que estabelecem com os espaços públicos, semipúblicos e privados. A fachada: A relação do edifício com o espaço urbano processa-se pela fachada. São as fachadas que exprimem as características distributivas, o tipo de edificado, as características e linguagem arquitectónica, um conjunto de elementos que irão moldar a imagem da cidade. O logradouro: O logradouro constitui o espaço privado do lote não ocupado por construção, as traseiras, o espaço privado separado do espaço público pelo contínuo edificado. É através da utilização do desenho do logradouro que se faz parcialmente a evolução das formas urbanas do quarteirão até ao bloco construído. O traçado da rua: Assenta num suporte geográfico preexistente, regula a disposição dos edifícios e quarteirões, liga os vários espaços e partes da cidade, e confunde-se com o gesto criador. O traçado estabelece a relação mais directa de assentamento entre a cidade e o território. É o traçado que define o plano, intervindo na organização da forma urbana a diferentes dimensões. A praça: A praça é um elemento morfológico das cidades ocidentais e distingue-se de outros espaços, que são resultado acidental de alargamento ou confluência de traçados. A praça pressupõe a vontade e o desenho de uma forma e de um programa. É um elemento morfológico identificável na forma da cidade e utilizável no desenho urbano na concepção arquitectónica.

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O monumento: O monumento é um facto urbano singular, elemento morfológico individualizado pela sua presença, configuração e posicionamento na cidade e pelo seu significado. O monumento desempenha um papel essencial no desenho urbano, caracteriza a área ou bairro e torna-se pólo estruturante da cidade. A árvore e a vegetação: Caracterizam a imagem da cidade, têm individualidade própria, desempenham funções precisas: são elementos de composição e do desenho urbano, servem para organizar, definir e conter espaços. O mobiliário urbano: Situa-se na dimensão sectorial, na escala da rua, não podendo ser considerado de ordem secundária, dado as suas implicações na forma e equipamento da cidade. É também de grande importância para o desenho da cidade e a sua organização, para a qualidade do espaço e comodidade. Evolução do Território A cidade como qualquer organismo vivo, encontra-se em contínua modificação. O tempo é fundamental para compreender o território como objecto físico e também para posicionar a intervenção do arquitecto. A evolução das formas urbanas põe duas ordens de questões: a primeira relacionada com o desenvolvimento urbano, o estudo morfológico pressupõe a consideração do crescimento urbano, que é indissociável ao estudo das cidades; e a segunda relativamente à reutilização de partes da cidade, as políticas de recuperação, reabilitação e restauro de áreas urbanas pressupõe diferentes usos e consequentes modificações da imagem e da forma. A disciplina do urbanismo tem como objectivo dominar o território e os seus mecanismos de transformação: construir, adaptar ou conservar o espaço. O espaço já não pode ser construído sem planos e projectos da sua implementação. Poète estabelece o conceito de persistência, que afirma que a análise histórica da cidade revela existirem elementos em contínua transformação e elementos que não se modificam totalmente e persistem, como os monumentos, traçados, vias e a estrutura fundiária. À escala da rua, as transformações são facilmente visíveis, desde a montra da loja ao mobiliário urbano, já à dimensão urbana, o tipo de modificações é mais lento e de maior profundidade, novas ruas, novos edifícios, etc. NÍVEIS DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO A prática do planeamento organiza-se em níveis de actuação determinados pela própria natureza dos métodos, objectivos e conteúdos, e escala dos problemas e dimensão geográfica das intervenções. Podemos distinguir três níveis de produção do espaço:

- Nível de Planeamento – Programação – Planificação: O arranque de todo o planeamento é uma fase de determinação de objectivos socioeconómicos, a programação aparece como etapa preliminar das acções do urbanismo, na qual se fixa o programa a ser executado no futuro.

- Nível urbanístico – O plano: Trata-se de precisar os objectivos no espaço e no tempo e de espacializar com maior pormenor a execução dos propósitos anteriores, implica a definição das morfologias urbanas e a consideração das possibilidades físicas do território.

-Nível de construção – O projecto: Executa-se a construção do território de acordo com os objectivos e programa definidos, é a fase de construção, preparada pelo projecto e concretizada na obra. URBANISMO E ARQUITECTURA O que diferencia o urbanismo da arquitectura não é a dimensão espacial nem o escalão da intervenção, mas a acção político-administrativa a conduzir no tempo e no jogo de forças económicas e sociais. O urbanismo implica a condução de um plano no tempo e no jogo de agentes e actores políticos, económicos e sociais, também tem como objectivo a mediação e resolução dos conflitos entre os interesses públicos e privados que disputam a fruição do espaço urbano. O desenho urbano e o desenho de edifícios não são mais que dois momentos de uma mesma disciplina: a arquitectura, intervindo em diferentes momentos e com distintos processos, mas com um único instrumento fundamental: o desenho.

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CAPÍTULO 3 – FORMAS DA CIDADE E DESENHO URBANO ATÉ AO

PERÍODO MODERNO

A LIÇÃO DO PASSADO As áreas históricas são áreas de sedimentação e acumulação, enriquecidos por sucessivos contributos durante séculos e gerações, que seria impossível substituir ou igualar, a cidade do passado enriquece a memória e a cultura, aferindo e testando o pensamento urbanístico actual.

Pode-se identificar dois denominadores comuns que caracterizam o desenho urbano até ao período moderno: - O espaço urbano organiza-se em tipos identificáveis e reconhecíveis como a rua, a praça, a avenida, o beco, etc. - Existe coerência entre os vários elementos morfológicos que compõem um espaço. Por exemplo, a rua é definida pelos edifícios e constitui com estes uma unidade. A MORFOLOGIA URBANA NA GRÉCIA E EM ROMA CIDADES GREGAS

Os espaços públicos significantes estão ligados à religião e ao poder “democrático”. Pode-se apontar alguns princípios da lógica da formação do espaço urbano grego: - A colocação de edifícios singulares em composição orgânica assimétrica, mas inter-relacionadas por distâncias e vazios e em situação predominante na estrutura urbana. Os equipamentos são muito cuidados e organizados para acolher as funções públicas. - As áreas residenciais, bastante modestas, sem tratamento especial, organizam-se em evidente contraste com os lugares públicos. A arquitectura da rua é de grande simplicidade. O tecido habitacional é uniforme e é ordenado sem pretensões tanto por traçados reguladores e repetitivos como por traçados irregulares e orgânicos. A quadrícula grega é um meio de organização fundiária do solo para construir habitação, e não um princípio de composição urbana. Esta quadrícula sobrepõe-se indiferentemente à topografia, obrigando à construção de terraços e plataformas, para encaixe dos edifícios. Pode-se, então, evidenciar algumas características deste período, a relação dos monumentos como peças fortes da estrutura urbana com o tecido habitacional envolvente, regular e uniforme, a utilização da combinação de geometrias orgânicas com quadrículas regulares, os efeitos da monumentalidade sem recurso à perspectiva axiais e a valorização do monumento através da leitura em escorço, perspectiva oblíqua e o seu posicionamento em cota superior à do observador. Na Grécia, a constituição do quarteirão vai de par com a utilização da quadrícula, cada quadra corresponde ao que se poderia designar por quarteirão, essencialmente residencial. CIDADES ROMANAS Existe um forte sentido religioso no plano da cidade romana. É nas colónias romanas que maior utilização se faz da quadrícula, quer por razões fundiárias quer pela facilidade de construção e utilização de mão-de-obra barata. É em Roma que se coloca pela primeira vez, e com pleno sentido, a regulamentação urbanísticas. O poder imperial faz-se representar através de grandes obras, monumentos e grandes infra-estruturas. O zonamento é já consequência da hierarquia social e técnicas de organização social, a procura de espaço e a necessidade de expansão induzem a construir em altura. É aos romanos que se deve a invenção da “obra de arte” ou infra-estrutura utilitária, a ponte, o aqueduto, etc.

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O quarteirão romano é também fundamentalmente residencial e subdivide-se em parcelas, cada qual ocupada por uma villa, é também o muro ou a fachada que segue o traçado da rua. O quarteirão não tem logradouro ou horta, no seu interior, os espaços livres correspondem a pátios. A FORMA URBANA MEDIEVAL A formação das cidades medievais deve-se a várias origens: antigas cidades romanas reocupadas, burgos que se formaram na periferia da cidade romana, cidades que se formaram pelo crescimento de centros rurais, entre outros. A formação da cidade medieval vai processar-se organicamente por desenvolvimento das antigas estruturas romanas ou pela fundação de cidades novas organizadas segundo um plano regulador. Gradualmente, novos conceitos de desenho vão tomando lugar: abandona-se a escala monumental das cidades romanas em favor de uma morfologia mais intimista, culminando na forma e escala das pequenas cidades medievais, cujo desenvolvimento se apoia em classes sociais. As Muralhas: É a muralha que delimita a cidade e caracteriza a sua imagem e forma. As ruas: A rua é o elemento base do espaço urbano medieval e vai preencher quase todo o interior do perímetro urbano. Servem a circulação e o acesso aos edifícios, e delimitam quarteirões, que se subdividem em logradouros e em edifícios. A praça e o mercado: O mercado corresponde à principal razão da cidade como lugar de trocas e serviços. É um espaço aberto e público por excelência, prolongando-se pelas ruas. A praça é geralmente irregular e resulta mais de um vazio aberto, tem funções importantes do comércio e reunião social. Edifícios singulares: São elementos física e ritualmente dominantes, embora não estruturem traçados. Contrapõem ao perímetro amuralhado a sua forma e significação. O quarteirão medieval: Os edifícios vão concentrar-se na periferia ou no perímetro do quarteirão, em contacto directo com a rua, deixando livre a zona posterior de cada lote, esse espaço livre é utilizado para hortas e jardins privados. O quarteirão deixa de ser apenas um meio de loteamento e divisão cadastral do solo, para se constituir também como elemento morfológico do espaço urbano. Coloca-se a questão se o planeamento urbano medieval terá sido fruto do acaso ou de princípios de urbanismo aplicados ao crescimento orgânico. Admite-se que não existiram regras estéticas (no sentido definido a partir do renascimento) que determinassem o desenho urbano, mas existiram outras regras, aplicadas ao modo de colocar edifícios aos processos construtivos, à unidade de materiais e formas. O DESENHO URBANO NO RENASCIMENTO E NO BARROCO O Renascimento estabeleceu um quadro intelectual de mudança e oposição ao misticismo medieval, assumindo um novo estilo na pintura, na escultura, na arquitectura e no urbanismo. Do século XV em diante, o desenho de arquitectura, as teorias estéticas e os princípios de urbanismo irão obedecer a ideias semelhantes – sendo a principal o desejo de ordem e disciplina geométrica. A arquitectura absorve primeiro as novas ideias nas realizações, enquanto o urbanismo se desenvolve apenas em termos teóricos, desde a concepção da cidade ideal aos tratados de arquitectura e desenho de cidades. A urbanística renascentista vai de início manifestar-se em alguns campos específicos: construção de sistemas de fortificações, modificação de zonas da cidade com a criação de espaços públicos ou praças e arruamentos rectilíneos, reestruturação de cidades pelo rasgamento de uma nova rede viária e construção de novos bairros e expansões urbanas. As fortificações: As estratégias de defesa vão apoiar-se em muralhas e na distância entre o sistema de fortificações. Assim se criaram complexos sistemas de fossos, rampas, baluartes e muralhas, estes sistemas assumem uma grande importância física e visual.

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A rua: A rua renascentista será um percurso rectilíneo que mantém a função de acesso aos edifícios, mas será, pela primeira vez, eixo de perspectiva, traço de união e de valorização entre elementos urbanos, deixa de ser apenas um percurso funcional, para se tornar visual decorativo e de aparato. O traçado recticular: A quadrícula continua a servir as necessidades distributivas, de organização habitacional e divisão cadastral, adapta-se na perfeição ao ideal renascentista de uniformização estética e disciplina racional do espaço e permite a hierarquização das diferentes ruas. A praça: A praça é entendida como um recinto ou lugar especial, é o lugar público, onde se concentram os principais edifícios e monumentos. A praça adquire valor funcional e político-social, e também o máximo valor simbólico e artístico. A fachada: A fachada dos edifícios vai autonomizar-se como elemento do espaço urbano, quer pelo cuidado no seu desempenho e organização, quer como elemento da própria composição urbanística. O desenho urbano prolonga-se pelo desenho das fachadas, admitindo-se que os construtores as respeitem e construam o interior do edifício com perfeita liberdade. Os edifícios singulares: O s edifícios de valor e significação social, política ou religiosa vão adquirir grande individualidade e expressão no seu posicionamento urbano, por norma a fechar lados de praças. O edifício torna-se peça do sistema urbano e autonomiza-se até ser ele próprio gerador da forma urbana. O monumento: O monumento não se destina a mobilar, completar o espaço ou encher um vazio, ele é gerador do próprio espaço urbano, sem o qual perderia parte da sua razão de ser. As praças são pontuadas com monumentos, mas estes fazem parte integrante da praça e do seu significado. O quarteirão: A partir do barroco, torna-se uma figura delimitada por vias e que se subdivide em lotes e edificações. O quarteirão vai assumir formas, dimensões e volumes diferentes, consoante o seu posicionamento na estrutura urbana, este será sempre ocupado na periferia pela construção, embora possa variar na capacidade e espaço livre interior. Torna-se um sistema a três dimensões, mais complexo e figurativo do que o simples loteamento. Espaços verdes: É no período clássico barroco que se estrutura a arte da jardinaria como um campo específico de arquitectura da paisagem e de organização territorial. A urbanística adquire novos instrumentos na utilização dos elementos vegetais e na ampliação so seu território de intervenção dos jardins e parques. O sistema assim constituído por traçados rectilíneos, quadrículas, praças, monumentos e zonas arborizadas, em que os espaços urbanos são definidos pelos edifícios e as suas fachadas, é de uma grande coerência. A utilização e combinação sistemática destes elementos perdurará com variações durante todo o século XVIII e pelo século XIX, até ao advento da cidade moderna. DESENHO E FORMAS URBANAS NO SÉCULO XIX O desenho urbano vai continuar as regras tradicionais de composição do espaço e de relacionamento das suas partes, ou elementos morfológicos. A ruptura morfológica que se processa no século XIX é de dimensão, escala e forma geral da cidade, a cidade deixa de ser uma entidade física delimitada para alastrar pelo território, dando início ao aparecimento de ocupações dispersas e à indefinição dos perímetros urbanos. Coincidindo com os fenómenos de industrialização, a evolução das estratégias militares e o aparecimento de novas armas determinaram, a partir do início do século XIX, alterações na organização das cidades e ocupação do território. A compressão das construções no interior dos perímetros fortificados torna-se desnecessária e permite alterar o entendimento da cidade, consistindo na destruição das muralhas e aproveitamento da área desocupada para a construção de anéis viários envolventes. As primeiras realizações de subúrbio datam finais do século XVIII, estes geraram a proliferação a extensão do solo construído com modificação dos modelos espaciais e urbanísticos. A rua passa a ser

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um mero percurso, a praça deixa de ser um espaço reservado ao encontro, o quarteirão é abandonado, enquanto a baixa densidade e a casa unifamiliar se revelam sem força nem estrutura para constituir o espaço urbano. A arborização e a vegetação substituem as relações do edificado com o espaço público. O edifício vai situar-se no meio do lote, é individualizado e envolvido por jardins e deixa de contactar directamente com a rua. Na segunda metade do século XIX, vão aparecer propostas de diferentes organizações e formas urbanas alternativas à cidade burguesa e industrial, são os bairros ou cidades especializadas para os trabalhadores, ou o lazer e o recreio, as morfologias encontradas aproximam-se das realizações suburbanas, dadas as disponibilidades de solo que permitem a apropriação de áreas livres. PARIS DE HAUSSMANN As transformações de Haussmann em Paris incidem fundamentalmente no casco velho da cidade. São renovações com novos traçados, reestruturação fundiária, construção de infra-estruturas, equipamentos e espaços livres, obedecendo a um triplo objectivo: - Circulação fácil e cómoda dentro da cidade. - Eliminação da insalubridade e degradação dos bairros. - Revalorização e reenquadramento dos monumentos. A expressão da Paris de Haussmann é mais barroca do que oitocentista. Os elementos utilizados são: o traçado em avenida, a praça como lugar de confluência de vias e placa giratória das circulações, quase sempre em rotunda e o quarteirão que é determinado como produto residual de vários traçados, sendo então compacto, e apenas com um saguão no seu interior. BARCELONA DE CERDÁ O plano desenha uma grelha ortogonal, com módulos ou quarteirões de 113 m de lado e vias de 20 m de perfil. O sistema é cortado por diagonais que confluem numa grande praça. A quadrícula regular estende-se até aos municípios vizinhos e envolve a velha cidade medieval. As diagonais são desenhadas sobrepondo-se ao plano quadriculado e fazendo surgir quarteirões irregulares e outros largos e praças. O plano de Cerdá vai quebrar também regras de composição clássico-barrocas. Os espaços-tipo identificáveis – a rua, a praça, o parque, a avenida ainda permanecem mas não se organizam obrigatoriamente a partir do perímetro dos quarteirões, já que os edifícios se dispõem livremente no interior das quadrículas.

CAPÍTULO 4 – A URBANÍSTICA FORMAL

No final do século XIX, o urbanismo constitui-se como disciplina autónoma, síntese artística e técnica, do conhecimento e intervenção na cidade.

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STUBBEN, CAMILLE SITTE E UNDWIN O aparecimento do urbanismo como disciplina é acompanhado por trabalhos teóricos incidindo sobre o desenho urbano que tiveram grande sucesso e influenciaram fortemente a sua época. Três autores importantes a reter são: Stubben, Camillo Sitte e Undwin.

A obra de Stubben estuda uma selecção de exemplos característicos da urbanística oitocentista, preocupa-se em isolar os problemas e resolvê-los através de modelos. Camillo Sitte introduzirá uma orientação diversa, baseada fortemente nos princípios compositivos e arquitectónicos medievais. Critica a rigidez e falta de imaginação nos traçados repetitivos dos planos de expansão alemães, que considera mais determinado por questões, como o tráfego e as infra-estruturas, e menos preocupados com os resultados paisagísticos, ambientais e morfológicos. Unwin reflecte sobre a problemática do “irregular” e o “regular”. O seu método apoia-se tanto em exemplos criteriosamente escolhidos como em trabalhos pessoais. Aí dá-se um dos primeiros passos na ruptura da cidade tradicional, pela reformulação das relações da rua com o lote e o edifício. O discurso de Edwin é preciso e sistemático, libertado do empirismo dos seus antecessores, e procura o equilíbrio entre as necessidades funcionais e os objectivos estéticos na cidade. A ESCOLA FRANCESA: URBANISMO FORMAL E TRADIÇÃO PARISIENCE A escola francesa é caracterizada pela utilização de traçados clássicos, de quadrículas, praças e perspectivas – trabalhadas a aguarela e carvão, em impressionantes desenhos que fixavam o ordenamento visual. Estas características fariam do Urbanismo um artigo de exportação, prestigiando a irradiação da cultura francesa. A urbanística francesa estabelecia a metodologia da realização dos planos. Abordava matérias pluridisciplinares, preocupando-se com o “ser” que considerava distinto da forma – mas aceitava a “forma” como o produto final do urbanismo, privilegiando o desenho como método de trabalho. A escola francesa teve um papel preponderante pelo debate teórico, realização de planos, e pela irradiação internacional. Exportou saber e formação e os seus urbanistas trabalharam na organização de muitas cidades pelo mundo. As “cidades novas” de colonização europeia são realizadas ao lado das cidades marroquinas sem as destruir. Inovadoras para a época são as relações entre a expansão por traçados, afrancesada, e a cidade marroquina, respeitada como um todo, sem qualquer atravessamento viário, vindo a constituir uma unidade urbana. A expansão europeia é essencialmente um esquema de traçados, de localizações funcionais e de disposições edificadas segundo as regras e regulamentos que definem a construção ao longo desses mesmos traçados. TONY GARNER E A CIDADE INDUSTRIAL A Cidade Industrial terá sido ponto de referência para aqueles que, sem visionarem a ruptura com a cidade tradicional, propunham a sua evolução e adaptação, ponto de referência pela metodologia utilizada, pelo carácter científico com que os problemas são tratados e pelo o sentido morfológico-arquitectónico das propostas. Precisa organização distributiva e das actividades tipologia construtiva sistematizada e relacionada com a morfologia urbana, permanência da relação traçado/rua/lote/edifício, são, entre outras, propostas de Garner. Transpõe no terreno o princípio de zonamento funcional, que permite à cidade fragmentar-se por áreas distintas, o sector residencial é atravessado por uma via central organiza-se em “quarteirões” regulares; cada lote tem sempre um lado para a rua e entre a fachada do edifício e a rua existe um pequeno jardim que envolve a construção. MARCEL POÈTE E A INVESTIGAÇÃO URBANA Marcel Poète encontra-se na base do ensino e da investigação urbana em França, para Poète o urbanismo deve assentar no profundo conhecimento da história urbana e na evolução da cidade como facto construído. Procura o futuro da cidade no passado e no presente.

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RESUMO DE MORFOLOGIA URBANA E DESENHO DA CIDADE, JOSÉ LAMAS

Ele trabalha na perspectiva do urbanismo que, antes de traçar o plano, exige conhecer o objecto da intervenção. Institucionaliza uma prática que se inicia com a análise e finaliza na proposta. AGACHE E O PLANO DO RIO DE JANEIRO

Agache pertence ao conjunto de arquitectos que iniciam a divulgação do urbanismo como prática e ciência de estudo e intervenção nas cidades, ele desenvolve um método e uma técnica operacional que assentam na estruturação da cidade a partir do zonning e do plano-director. O zonning é a repartição racional das necessidades da vida urbana: habitação, trabalho, lazer, permitindo regularmente o mercado fundiário, bloqueando a sobre densificação, definindo o bairro e controlando o crescimento urbano. Fixa também a densidade e os tipos de habitação predominantes em cada bairro, assim contribuindo para a definição da sua forma.

A macroestrutura da cidade é uma alternância de áreas construídas e zonas livres como ao nível urbano, a morfologia será a alternância de cheios e vazios, nos quarteirões, arruamentos e praças. O plano-director define a estrutura urbana e os elementos funcionais da cidade hierarquizados nas suas posições no território. Os perímetros urbanos definem os limites das áreas a construir e são determinados pelas distâncias ao centro e pelos transportes.

Para Agache, a “unidade de vizinhança” ultrapassa a noção de bairro e define-se como associação de famílias ou indivíduos criada por ligações de vizinhança.

Aspectos das propostas de Agache que sintetizam a urbanística formal: a metodologia é essencialmente morfológica – tende a operar na forma urbana pela função, dimensão e aspectos de comunicação estética; os instrumentos de trabalho e de ordenamento da cidade são o traçado, o quarteirão, a praça e o edifício; os edifícios e os seus elementos – fachada, lote e volume – são determinados na continuidade e desenvolvimento das intenções do plano, plano e projecto são dois momentos em sequência de um mesmo processo de desenho da cidade. FARIA DA COSTA E OS BAIRROS DE ALVALADE E DO AREEIRO

Os bairros de Alvalade e do Areeiro resultam da política desenvolvimentista de Duarte Pacheco – de expansão planeada de Lisboa em terrenos expropriados, livres de restrições fundiárias e com forte controlo público e municipal. Ambos representam um exemplo equilibrado entre a cidade tradicional e os princípios da urbanística moderna, como a organização distributiva das funções e dos equipamentos, a hierarquização viária, a desprivatização do solo, a libertação do interior dos quarteirões para espaço colectivo e as zonas livres e arborizadas. Todo o bairro se organiza através de tipologias urbanas precisas: as vias, que se hierarquizam em avenidas, ruas, impasses e caminhos de peões, as praças e largos, localizados no cruzamento de vias, os quarteirões, lugar de disposição dos edifícios, são utilizados no seu interior como zonas de jardim, estacionamento e equipamento, os passeios de dimensão hierarquizada que, ao longo da avenida de Roma, reinterpretam e adaptam a imagem dos rendents de Le Corbusier.

É evidente a introdução das inovações urbanísticas modernas, e só na aparência a estrutura de Alvalade se assemelha à de outros bairros reticulados de Lisboa. A primeira diferença reside na utilização de princípios da unidade de vizinhança adaptados ao sistema proposto.

A partir dos anos cinquenta, dá-se em Portugal a ruptura com a urbanística formal e o alinhamento cultural dos arquitectos pelas teses modernas, as quais já influenciaram os bairros novos, como Olivais ou Chelas.

DA URBANÍSTICA FORMAL AO NOVO URBANISMO

A produção urbanística actual, designada por Novo Urbanismo, tem centrado a sua atenção em torno das questões da forma urbana, recuperando para a cidade espaços tão simples quanto tradicionais: a rua ou a praça, e elementos morfológicos de desenho como a árvore alinhada ou a continuidade dos volumes construídos e das suas fachadas.

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O “novo urbanismo” tem de comum com a “urbanística formal” a mesma vontade de continuação com os espaços da cidade antiga, reconhecendo o valor do desenho na produção da cidade. Em ambos os casos se trata de princípios de arte urbana como “arte pública”, arte da rua e do jardim, e da componente estética como elemento essencial do urbanismo.

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CAPITULO 5 – CONFIGURAÇÃO E MORFOLOGIA DA CIDADE

MODERNA

INTRODUÇÃO – A CIDADE MODERNA A revolução industrial já tinha introduzido as primeiras grandes modificações na

cidade. A ‘’cidade moderna’’ formou-se tendo como base algumas ideias e concepções teóricas que são o resultado de alguns processos teóricos que tinham como base a exclusão da cidade tradicional e a sua substituição por um novo modelo.

A avaliação dos resultados das propostas só foi possível depois da experimentação massiva realizada pela ‘’urbanística operacional’’. Os aspectos mais negativos da urbanística moderna é a burocracia conformista que se preocupa mais com os resultados quantitativos do que qualitativos e vão contribuir em larga escala para a destruição da vida urbana.

Existem dois períodos

-O primeiro é entre as duas grandes guerras, é o período ‘’heróico’’ das formulações teóricas e experiencias. É neste período que se procede a destruição e abandono de todos os elementos urbanos tradicionais como a praça, quarteirão, e rua, propondo tipologias de torre, banda e bloco.

que interessa compreender para uma melhor percepção da génese da cidade moderna:

- A segunda etapa vai desde o fim da segunda grande guerra ate aos anos setenta. Quantidade em detrimento da qualidade. É este período designa-se por Urbanística Operacional. NOVAS TIPOLOGIAS CONSTRUTIVAS – NOVAS FORMAS URBANAS O maior problema a enfrentar era fornecer a todos os cidadãos casa em condições de higiene e salubridade. O urbanismo moderno inicialmente é um urbanismo habitacional, não só pela importância da habitação mas porque dela advém as novas tipologias construtivas, o bloco, a torre e o conjunto. O alojamento toma o papel principal como unidade-base e estruturam-se assim as tipologias habitacionais (bloco, torre, banda, complexo e moradia). São dispostas no terreno em função de necessidades higiénicas, acessos, insolação, etc., e desta forma são autonomizados deixando de pertencer à estrutura do quarteirão. As ruas deixam de pertencer as relações físico-espaciais e resumem-se em traçados de circulação e serviços. O espaço público acaba por ser posto de lado e ser a resultante das exigências habitacionais. A SIMPLIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS A lógica do funcionalismo vai exercer grande influência na arquitectura. Com o modelo da Carta de Atenas os arquitectos forma obrigados a arrumar e isolar as principais funções na cidade: habitar, trabalhar, lazer. A lógica funcionalista tonifica a cidade por funções e determina o espaço urbano por sistemas independentes. A grande consequência deste processo é a autonomização e independência física dos sistemas entre si. Esta forma de conceber a cidade era muito simplificada, seguindo em desenho conceptual o modelo ‘’arvore’’. Projectar estes edifícios de programa repetitivo era muito simplista também. Chegou-se ainda a criação de modelos pré-fabricados em que a implantação do edifício era determinada em função da rapidez e economia. PARCELAMENTO E SOLO PÚBLICO Na cidade tradicional existe uma separação entre o solo privado do solo público. Por outro lado na cidade moderna todo o espaço pertence ao estado podendo só em raros estados ser privatizado na área de implantação do edifício. O bairro por sua vez vai resultar da forma da parcela porque os edifícios vão ser dispostos segundo livre vontade do arquitecto

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O FASCÍNIO PELOS EDIFÍCIOS ISOLADOS A Carta de Atenas propõe edifícios altos e isolados ao invés da paisagem, proporcionando ar, sol, vistas e salubridade. A morfologia da cidade moderna vai assentar neste ponto, ou seja, colecções de edifício isolados não sendo uma morfologia de espaços urbanos.

No entanto um conjunto de edifícios isolados não cria um meio urbano, ou seja, teria de existir alguma ligação entre eles para criar um todo e uma cidade coesa. Este ponto contribuiu para aumentar a separação entre arquitectura e urbanismo. RUPTURA COM A HISTÓRIA Não se trata apenas de alteras os materiais de construção mas sim de criar algo que fosse liberta e oposta a qualquer continuidade histórica. A atitude anti-histórica aparece no desenho urbano pela recusa de formas que pudesse fazer ligação com as tradicionais. OS NOVOS MATERIAIS E TECNOLOGIAS Aparecimento dos novos materiais e tecnologias, tais como o aço, betão armado, ferra, ascensores, etc. A cidade moderna formou-se a partir de pesquisas concretas que a certo ponto contribuíram para a destruição da morfologia urbana antiga e na edificação e estruturação da Forma Moderna da cidade. CIDADE-JARDIM Existem formas urbanas de baixa densidade e moradias unifamiliares nos subúrbios que se formaram nos finais do século XIX. Esta morfologia do subúrbio aparece como alternativa a tradicional, no entanto só aparece depois da cidade-jardim. Este conceito de cidade-jardim aparece como solução para o crescimento das grandes cidades. Desta forma era um novo ambiente residencial de baixa densidade com predominância de espaços verdes. Por oposição a cidade industrial existe uma integração da casa com o campo e a cidade-jardim traduz-se num conjunto de vivendas em largos espaços arborizados. UNIDADE DE VIZINHANÇA Os autores que apoiaram e formularam a unidade de vizinhança apoiavam mais as questões sociais e organização funcional da cidade e não tanto as referências do traçado aos espaços urbanos e forma urbana. Esta organização foi um dos principais factores da planificação da cidade moderna e torna-se o motor d organização e desenho da área habitacional.

A sociologia comandava o desenho. Daqui advém duas correntes: a de raiz anglo-saxónica e a do racionalismo europeu. Ambas as correntes consideram o alojamento como elemento base e que integrado em serviços e equipamentos constitui a unidade habitacional.

Contudo após anos de experimentações foi concluído que não se consegue impor um carácter e nível social as habitações e o bem-estar dos habitantes estava comprometido. As formas urbanas utilizadas foram também desadequadas. Desta experiencia foi retirado algumas relações entre equipamentos/população que ainda hoje são utilizados. AS EXPERIENCIAS HABITACIONAIS HOLANDESAS A urbanística holandesa no inicio do século XX é marcada por movimentos progressistas. Um dos processos mais importantes no caminho para a cidade moderna é a intensa pesquisa sobre o alojamento, edifício e quarteirão que foi modificado ate nada de ele restar. A evolução levou a supressão de um dos lados do quarteirão de modo a permitir uma ligação directa com a rua, modelo em U. Após inúmeros desenvolvimentos no final o quarteirão foi elevado ao nível de bloco habitacional.

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AS EXPERIENCIAS HABITACIONAIS NA EUROPA CENTRAL As condições históricas, nomeadamente as duas grandes guerras, permitiram uma forte experimentação no campo urbanístico, arquitectónico e habitacional com a realização de planos e construção de habitação social.

Os ideais dos arquitectos modernos eram o controlo urbanístico, industrialização da construção, produção de habitação social e sintonia entre arquitectura, gestão e política. Tudo isto foi cumprido na Alemanha. No geral os edifícios em barras paralelas constituem o fim da evolução do quarteirão. Numa primeira fazer libertou-se o interior, depois na segunda fase rompeu-se a continuidade da bordadura e por fim na terceira a densidade baixa e dois lados do quarteirão são suprimidos. Contudo ainda subsistem alguns logradouros privados. AS HOFF NA ÁUSTRIA Na Áustria vão-se criar também inúmeros blocos de habitação. Vão ocupar áreas que ficam livres, completam e estabelecem ligações com traçados já delineados. O interior do quarteirão torna-se um logradouro colectivo, com equipamentos, espaço livre ou verde A CIDADE DOS CIAM E A DA CARTA DE ATENAS Formaram-se os Congressos Internacionais de Arquitectura Moderna (CIAM) que tinha como base comparar periodicamente as experiencias para se aprofundar certos temas e encontrar soluções para problemas gerais. Para os CIAM a nova urbanística não se podia limitar a melhorar a existente mas sim criar novas alternativas com inspirações políticas e ideológicas diferentes. Os trabalhos teóricos passaram por três fases: uma em que se debateu o problema da habitação; outra que se falou sobre o planeamento urbano sob óptica funcionalista; por fim a tentativa de ultrapassar a abstracta ‘’cidade funcional’’. UNIDADE DE COMPOSIÇÃO DA CIDADE MODERNA A questão da habitação é o maior problema que domina a arquitectura e urbanismo desde as duas guerras e mais intensamente desde o final da segunda. A pesquise habitacional leva a experimentações de novas morfologias e tipologias urbanas. Devido a questões sociais e económicas a tentativa era dar habitações a todos os cidadãos e para não gastar muito dinheiro com isso, ou seja, suprimindo todos os gastos supérfluos para não existir injustiça social. O edifício é portanto definido pelo modo de agregação dos alojamentos existindo tipologias bem definidas tais como edifícios em banda, habitação colectiva, isolados, altos, torre, etc. É o alojamento que compõem o edifício, e agregação dos edifícios que forma conjuntos habitacionais num processo sucessivo de repetições. A cidade passou posteriormente a ser divida nas quatro áreas elementares: trabalho, lazer, circulação e habitação. A intenção era criar uma menor complexidade funcional, visual e ambiental. CARTA DE ATENAS Foi uma carta editada oito anos depois de ser redigida, que sintetizava as posições dos CIAM sobre a organização e planeamento das cidades. Apesar de ser um texto mais polémico e dogmático do que analítico e demonstrativo, estabelece critérios para a gestão da cidade. Visto ter sido um trabalho desenvolvido em apenas oito dias, não podia ser tomado como um estudo em profundidade mas sim meras constatações sobre medidas que os arquitectos deveriam tomar. Houve muitos aspectos negativos a retirar da aplicação da Carta e dos CIAM, nomeadamente a conclusão sobre o alojamento mínimo, a utilização abusiva das formas racionais, entre outras.

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A CIDADE FUNCIONALISTA As quatro funções principais do urbanismo são: habitar, trabalhar, recrear-se e circular. Dessa forma iriam criar quatro áreas distintas numa cidade. OS CENTROS HISTÓRICOS E A CIDADE ANTIGA A carta de Atenas não defende a reabilitação nem conservação dos centros históricos. Por outro lado aposta apenas na salvaguarda de edifícios isolados ou conjuntos urbanos. O CONTROLO DO SOLO E A LIBERTAÇÃO MÁXIMA DE ESPAÇO LIVRE A enumeração das necessidades formuladas pela urbanística moderna chega inevitavelmente a uma consequência política: a disponibilidade do solo em detrimento da propriedade privada. Para que isto fosse cumprido as autoridades tiveram de criar os seus próprios mecanismos. Este conflito entre a propriedade pública e privada levou a necessidade do controlo do solo com predomínio do interesse público sobre o privado. Estes princípios foram consagrados em textos e registos legais, no entanto foi ainda mais longe, a própria morfologia urbana exigia-os, edifícios altos, espaçados uns dos outros com zonas verdes entre eles. LE CORBUSIER, A UNIDADE DE HABITAÇÃO E A ‘’CIDADE RADIOSA’’ Le Corbusier tem um lugar importantíssimo no movimento moderno. Este advém do seu trabalho realizado. Apesar do seu elevado valor em edifícios, no que toca a propostas urbanas fica um pouco mais limitado devido a ele ser um arquitecto de monumentalidade, algo que o fez deixar os planos urbanísticos. DAS IMPLANTAÇÕES RACIONAIS À PLANTA LIVRE Os métodos racionais nos anos trinta alinhavam com rigor os edifícios pela mais favorável orientação solar e no geral ficariam de forma perpendicular em relação a rua. Posteriormente já era utilizada a disposição meramente simplista e apenas a pensar no método mais rápido de construção e que desse mais lucros. A forma urbana tornou-se o resultado da resposta a um somatório de requisitos e obrigações que nada tinham a ver com os problemas do espaço urbano. A reacção contra o excessivo funcionalismo e a excessiva repetição dos elementos começou pela denúncia das formas urbanas. Numa primeira fase a orientação dos edifícios torna-se mais flexível e para aumentar a complexidade da composição deixou de haver repetições de um único modelo. Num segundo tempo a implantação dos edifícios procurou valorizar o espaço envolvente exterior. Numa terceira altura o abandono parcial das regras racionalista foi julgado insuficiente. Inicialmente esta procura das formas urbanas resulta um pouco caótica e gratuita. No entanto aos poucos começa a ganhar novas formas e estrutura por si só. Desta forma a morfologia urbana é pensada como a resolução de sistemas de circulação, de habitação e de serviços, deixando de ser apenas um processo de oposição ao sistema regrado ou um novo sistema caótico de aglomerados de edificado. A planta livre foi uma conquista moderna contra as regras de composição preestabelecidas. Resulta do primado da organização funcional sobre as outras componentes. A ESTÉTICA DO PLAN MASSE O Plan Masse é um instrumento de apresentação gráfica dos planos e adquire neste contexto grande importância como sistema de representação volumétrico. As relações inteligíveis concentram-se no jogo de volumes e no seu equilíbrio abstracto e sensorial.

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CAPITULO 6 – O “NOVO URBANISMO”

PIERRE FRANCASTEL E HENRI LEFEBVRE Vão combater o urbanismo contemporâneo e criticar a obra de Corbusier. Por um lado questionam o desenho urbano utilizado, por outro tentar limitar ao máximo os planos urbanísticos. JANE JACOBS Jane jacobs tenta mostrar que a “pseudociência da construção das cidades’’ de baseia sobre dados políticos, abstractos. Defendia ainda que o espaço verde era um vazio nocivo no meio dos edifícios. Para a arquitecta a necessidade principal das cidades residia na mistura de funções. Ela aproximava-se das questões da morfologia urbana e dava os primeiros passos no sentido de recuperação das formas tradicionais do urbanismo. ALEXANDRE

Constituiu uma dos mais importantes contributos para a crítica do funcionalismo e da cidade moderna. Fazia a distinção entre cidade natural e artificial alegando que essa artificialidade era o erro comum dos planos urbanísticos do movimento moderno. Critica o urbanismo moderno ‘’liquidando’’ Le Corbusier e a carta de Atenas, o funcionalismo, o zoneamento e a unidade de vizinhança. Em todos os casos os alvos são as ideias e os conceitos. GORDON CULLEN Gordon Cullen reage contra os estragos causados nos centros históricos pelas transformações da vida moderna. Apoia-se desde logo em elementos colhidos na urbanística anterior à primeira guerra. A morfologia que prefere, pelo menos na sua aparência, é a da cidade medieval. A pequena escala ou dimensão sectorial, cujo universo é a rua é revalorizada como a escala humana por excelência. LYNCH E A IMAGEM DA CIDADE Foi um trabalho inovador que sistematiza e torna ‘’cientifico’’ aquilo que antes era subjectivo e empírico. Defende que a imagem é determinante para o comportamento social e psicológico dos habitantes. Ao contrário de cullen opera em grande escala e estabelece ligações entre elementos maiores e menores. A imagem é um importante factor de concepção urbanística e antifuncionalista. REALIZAÇÕES DIFERENTES E EXPERIMENTAÇÕES NOS ANOS SESSENTA Vão surgir ideias de romper com a uniformidade e banalidade da urbanística dos anos sessenta e tentar criar modelos diferentes abandonando e corrigindo os excesso e erros da cidade moderna, dos CIAM e da carta de Atenas. Foi recriado o conceito de ruas e organizam os serviços e comércios abandonando a hierarquia abstracta de centros, subcentros e esquemas de relação em ‘’arvore’’. Alguns apoiavam mais edifícios de quatro pisos, praças como espaços fechados, e uma inovação que consistia na individualização de cada grupo de construções através da cor e das artes plásticas, desrespeitando também os eixos heliotérmicos. Novas morfologias urbanas foram procuradas e uma das soluções encontradas seria a da expansão urbana feita em quadrícula a partir de um embrião e que se adaptaria a topografia. O bairro volta a ter entidade individual como objecto arquitectónico, tanto pela forma como pelo processo de criação. ROSSI Tentativa de salvar a arquitectura do discurso esmagador da técnica e da economia. O seu pensamento tinha como base o anonimato da função residencial formada por tipos habitacionais que estabelecem o pano de fundo no qual sobressaem as tipologias arquitectónicas dos equipamentos de nível superior e representativos da ordem social.

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Utiliza o rigor da geometria e das formas puras, continuando o neo-racionalismo. Opõem-se ao funcionalismo como relação determinista entre a forma e a função, proclamando a autonomia do desenho arquitectónico. Os pontos-chave do seu pensamento eram: a cidade é constituída por arquitectura; a forma da cidade depende da tipologia do edificado; segue uma análise morfológica; critica o funcionalismo; explica através da morfologia os diferentes fenómenos e leituras da cidade. ROBERT KRIER E O ESPAÇO DA CIDADE Tinha a crença de que o desenho urbano podia resolver muitos dos problemas da cidade. A cidade não é um espaço para a arquitectura mas é a própria arquitectura. A geometria euclidiana vai desempenhar um papel fundamental no desenho urbano. O estudo das cidades antigas vai ser essencial para a compreensão e resolução de problemas da cidade actual. A forma física da cidade vai ser definida por quarteirões que são adaptados à utilização do espaço interior como espaço público ou privado. O automóvel é aceite mas em quantidades moderadas. CULOT A sua tese era composta por três pontos essenciais: a sociedade industrial avançada engendra inevitavelmente um processo de destruição física e social; a resistência anti-industrial; a arquitectura visa um projecto alargado, integrando as inquietações da época. TENDÊNCIAS ACTUAIS – O NOVO URBANISMO O novo urbanismo surge com a inversão do desenho urbano, das políticas urbanísticas e do modo de entender a cidade. O grande objectivo era aceitar a forma urbana no desenho da cidade. Apareceram reabilitações e recuperações de bairros históricos, novos jardins e praças. A criação de novos espaços de uso colectivo, a arborização e o arranjo de ruas e praças, o traçado de novas vias e a morfologia urbana são mais exemplos de alterações impostas no novo urbanismo. IBA EM BERLIM O objectivo de criar um modelo de sucesso por oposição ao do movimento moderno seguiu dois caminhos: a exposição de edifícios projectados por arquitectos proeminentes; actuações urbanas por partes da cidade. Outras teses pretendidas pelo IBA eram a construção de edifícios e conjuntos com os quais os habitantes se identifiquem; a impossibilidade de planear ou construir a história com antecipação; a contribuição estética. EXPERIÊNCIA FRANCESA No espírito do urbanismo operacional propõe a renovação urbana por um complexo de escritórios e apartamentos. O plano de ocupação dos solos escorraça torres e podias e restabelece a rua e o lote como unidades de planeamento. Respeita a continuidade histórica na sua diversidade e consagra a tradição. O bairro seria mais reconstruído do que renovado. Já existe um grande esforço de controlo sobre o desenho do edificado em comparação com os planos dos anos sessenta. Este novo urbanismo apela ainda para benefícios sociais e psicológicos na procura de uma vida de bairro. NOVO URBANISMO EM PORTUGAL Devido ao regime totalitário quase todos os movimentos entraram com atraso em Portugal. Tal como no resto da Europa o urbanismo burocrático também se instalou e procurou em tudo apenas os fins capitalistas não pensado muito em actividades e estruturas benéficas aos habitantes. Após a queda do regime totalitário algumas novas experimentações puderam ser implementadas e testadas com alguma recuperação das morfologias tradicionais e dos espaços da cidade.