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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO DISCIPLINA: MORFOSSINTAXE I DOCENTE: Prof. Dr. EDINALVO CAMPOS DISCENTE: RENATA KELLY SOUSA DE ALMEIDA O VERBO E SUAS PROPRIEDADES APLICADAS A UM CONTEXTO BELÉM 2015

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO

DISCIPLINA: MORFOSSINTAXE I

DOCENTE: Prof. Dr. EDINALVO CAMPOS

DISCENTE: RENATA KELLY SOUSA DE ALMEIDA

O VERBO E SUAS PROPRIEDADES APLICADAS A UM CONTEXTO

BELÉM

2015

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INTRODUÇÃO

Este resumo tem por objetivo ser um critério avaliativo para obtenção de nota da disciplina

Morfossintaxe I e também, o estudo dos verbos e suas propriedades nas seguintes categorias:

Funcional, Sintática, Semântica, Morfológica e Pragmática. Para isso, usaremos o livro de marcos

Bagno intitulado - A Gramatica Pedagógica do Português Brasileiro- E depois dessa teoria,

faremos a aplicação deste estudo em um contexto. Seja ele: música, poema. Texto jornalístico e

outros.

No princípio era o verbo...

Para Bagno (1961), “o verbo é o núcleo de todo e qualquer enunciado significativo”. Contudo, para

que a exista sentença ou oração é necessária à presença de um verbo. O exemplo disso, quando

usualmente falamos em “oração sem sujeito”, mas dificilmente falamos em “oração sem verbo”

porque o verbo quando ele está de forma isolada tem complementos, tem sentido completo. Como

diz Marcos Bagno “o verbo é tão poderoso que, sozinho, dá conta de expressar todo um estado de

coisas ou uma intenção comunicativa”. Veja abaixo:

Bobeou, dançou

Vim, vi Vinci1 .

A palavra verbo é oriunda do latim verbum (palavra), os latinos ao usarem esta definição,

davam o sentido para o verbo como núcleo de todo e qualquer enunciado.

Sua definição é muito controversa, todavia, o que é encontrado nos livros didáticos é o

seguinte conceito. Para Tufano (1948), o verbo é a palavra variável que exprime ação,

estado ou fenômeno da natureza.

Exemplos:

Ele trabalha - ação

Ele continua - estado

1 Exemplo extraído do capítulo 12 do livro A Gramatica Pedagógica do Português Brasileiro.

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Anoiteceu - fenômeno da natureza

Segundo Bagno (1961), o mais adequado é definirmos o verbo e tendo a base suas

características sintáticas, semânticas e pragmáticas, pois o verbo tem suas transformações.

Diferentemente daqueles conceitos “frios” usados nos livros didáticos com muita

frequência.

DEFINIÇÃO DO VERBO

Morfossintática Palavra que dispõe de um radical e sufixos

próprios. Sendo constituída dessa forma: radical

(R+VT) + sufixo modo-temporal + sufixo

número-pessoal. Ex: fal- + -a- + -sse- + -mos.

Semântica

O verbo expressa os estados de coisas, ou seja,

as ações, os estados e os eventos de que

precisamos dar conta quando falamos e

escrevemos.

Discursiva

“palavra (i) que introduz participantes no texto,

via processo de apresentação, por exemplo; (II)

que qualifica devidamente, via processo de

predicação; (iii) que concorre para a constituição

dos gêneros discursivos, via alternância de

tempos e modos” (Castilho, 2010:396).

O verbo é a classe de palavras por excelência e indispensável para a articulação e expressão

do conhecimento e da interação social. Quanto ao ensino dos verbos em sala de aula Bagno

(1961) adverte os linguistas, pois o verbo o aluno não irá aprender a conjugar se fizer vãs

repetições no caderno na tentativa de conjuga-los da mesma maneira aprender a fazer um

bolo copiando apenas a receita sem colocar a “mão na massa”.

Para melhor compreensão sobre o estudo dos verbos, Bagno (1961), tem como referencial

teórico Ilari e Basso (2008), que falam sobre as “funções” do verbo, que são as propriedades

sintático-semântico-pragmáticas com foi dito anteriormente, e citam algumas categorias

quanto ao verbo.

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O verbo cria um molde ou uma matriz com espaços vazios, que são preenchidos por

sintagmas nominais.

O verbo estabelece uma perspectiva, ou seja, um ponto de vista sobre um estado de

coisas enunciado e dos participantes necessários à efetivação desse estado de coisas;

O verbo de línguas como o PB contém, em sua morfologia, informações acerca do

tempo, este diferente do tempo físico, é o tempo verbal;

O verbo permite a expressão de aspectos. É a avaliação do falante sobre o estado de

coisas descrito;

O verbo permite a modalização do estado de coisas descritas;

O verbo comporta informações de voz, o que permite colocar em evidência (centro

da ação) ora este ora aquele participante do processo expresso pelo verbo. Nesse

sentido, algumas análises mais específicas são formuladas pelo autor, como:

Sintagma verbal: configura-se pela existência de três posições a serem preenchidas.

A posição central, obviamente, ocupada pelo verbo, chamado de núcleo do sintagma.

À esquerda do centro está à posição que pode ser ocupada pelos especificadores,

inclusive verbos-auxiliares. À direita do núcleo está à posição que pode ser ocupada

pelos complementadores do verbo, como objeto direito, indireto, etc.

Incluído nas propriedades funcionais do verbo, as categorias semânticas e as suas

propriedades que são divididas em: Aspecto, Modo, Tempo e Voz.

O aspecto Verbal é um componente essencial da semântica do verbo. Todavia, este

não é muito estudado nas escolas tradicionais. Ele tem por função informar enquanto

os falantes como é visto a situação, o estado de coisas enunciadas. Como um evento

único e concluído; ou em processo de conclusão ou uma ação repetitiva que pode ser

encontrado no início, no meio e no fim. Portanto. Bagno (1964), nos alerta para não

fazer confusão entre aspecto e tempo; pois, o que chamamos de “tempo” em pretérito

perfeito e pretérito imperfeito é o aspecto e este não depende de tempo. Portanto o

aspecto assinala o tempo interno da ação e a ação por sua vez, é o momento da ação.

O modo (MD) é a maneira do falante se expressar a sua atitude com relação ao

estado de coisas. Entretanto pode se identificado como: real (indicativo), irreal

(subjuntivo), desejável (optativo), sujeito a situações particulares (condicional),

exigido ou solicitado a outrem (imperativo ou causativo).

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O modo está envolvido em diferentes tempos, contrastando entre o modo e o

aspecto. Onde modo é o conjunto de tempos e o aspecto é a apreciação do falante em

um determinado tempo ou segmento temporal. A gramatica tradicional do português

ensina a existência de três modos verbais. Indicativo, Subjuntivo e Imperativo. Cujo

cada um possui seus respectivos tempos.

O modo indicativo, evidencial ou declarativo por se tratar da realidade empírica do

estado de coisas. O MD Subjuntivo expressa a ação do falante no momento irreal,

possível ou desejado. Outra característica deste modo, além da característica

semântica a característica sintática é bem enfatizada onde ocorre principalmente nas

sentenças subordinadas.

Este modo, em português está em todos os modos e tempos seja ele: simples ou

composto. Porem ocorre uma mudança de modo onde passa do subjuntivo para o

indicativo. É importante frisar que a variação regional e social influencia no modo

subjuntivo e contribui para o seu desuso. Exemplo: você quer que eu vejo isso para

você?. Isso ocorre por conta do declínio do uso deste modo e pelo princípio

econômico da língua. Finalizando este modo, outro traço marcante e contraditório é

quanto a sua classificação de modo. Contudo, a ocorrência do MD subjuntivo é visto

apenas em determinados tipos frasais e que pode ser substituído pelo modo infinitivo

imperfeito.

E o ultimo modo e o imperativo que se divide: afirmativo e negativo. Onde, expressa

ordem ou comando. Como afirma Bagno (1964), os livros didáticos nos mostra uma

realidade inexistente no português brasileiro. A exemplo do uso do “tu e você” que

correspondem à variação regional e o “vós”, marca a 2ª pessoa do plural, e no falar

brasileiro, é pouco usado. Como cita Bagno (1964), ao se referir sobre este modo.

“A insistência na preservação do quadro tradicional da formação do imperativo e

extremamente pobre quando comparado à realidade dos falantes... por tanto, muitos

brasileiros insiste em dizer que a língua portuguesa é difícil e que ninguém consegue

falá-la de maneira correta.”

Abrindo um parêntese, os verbos modais ou auxiliares caracterizam-se em:

Epistêmica: maior ou menor de incerteza. São eles: dever, parecer e outros.

Deôntica: dever ou obrigação. Exemplo: poder, precisar etc... e Volitivo: vontade ou

desejo. São eles: tentar, querer, preferir.

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A terceira categoria o tempo é expresso pelas relações temporais nos contrastes

gramaticais. Dividido em três: presente, passado e futuro. Entretanto, é fácil de ser

encontrada na língua portuguesa. Porem, o que chamamos usualmente de tempo, têm a

predominância do aspecto. Veja abaixo exemplos da divisão do tempo.

Presente do indicativo: é a forma não marcada por expressar eventos no presente

e no passado. Ou seja, atemporais ou eternos.

Pretérito imperfeito do indicativo: é reconhecido na fala das crianças ao

interpretarem personagens irreais ou imaginários. “Exemplo: Agora eu era um

herói.” Chico Buarque.

Pretérito mais que perfeito do indicativo: não faz parte do falar brasileiro.

Portanto o substituímos pela sua forma composta. Eu Falara/ eu tinha falado. Na

presença de um verbo auxiliar “ter” ou “haver” (este mais usual para os GTM).

Por fim, o ultima propriedade: -A Voz- que informa a relação entre o estado de

coisas referido aos participantes. Onde estão distribuídos os seguintes papeis

sintáticos. Sujeito e objeto desempenham a função sintática. E o agente e

paciente informam o papel semântico. O termo agente é oriundo do agir, ou seja,

o adjetivo ativo. E o paciente, vem do passivo, paixão; portanto, nas gramáticas é

dito que o objeto direto é o que sofre a ação. Mas nem sempre foi assim.

Exemplo: A seleção de basquete da sérvia apanhou feio da Argentina2. A

sentença que está em negrito é o sujeito/paciente por sofre a ação. E a outra

sentença sublinhada é o objeto/agente.

A voz ativa há coincidência de sujeito/ agente e objeto direto/paciente. Exemplos: O

gato apanhou o rato Sujeito/agente Objeto/paciente.

Na voz passiva há a inversão sintática, mas a permanência dos papéis semânticos.

Ex: O rato foi apanhado pelo gato Sujeito/paciente Objetivo/ agente da passiva.

Para tanto, é comum na voz passiva o uso do verbo auxiliar (ser) seguido do particípio

passado do verbo principal. Para expressar o agente da passiva, é usado a preposição (por).

2 Este modelo de destaque -negrito e sublinhado-usado neste exemplo será o mesmo para os outros

exemplos adiante).

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Nas TGP, o verbo transitivo direto de ser alterado para a voz passiva. Entretanto, é

necessário ficar atento para tal mudança, pois na prática causa estranheza nos falantes. Exemplos:

Maria fala alemão – alemão é falado por Maria.

O hotel tem 123 apartamentos – 123 apartamentos são tidos pelo hotel.

A voz reflexiva é marcada pelo uso dos verbos clíticos no caso oblíquo. Como: me, se, por te. É

necessário fazer uma distinção entre os verbos na voz reflexiva e isto é, uma os verbos clíticos sem

que o sujeito seja de fato o agente e paciente da ação. Porém, na gramática tradicional é

denominado de “verbos pronominais”.

A vos média é muitas vezes confundida com a voz reflexiva pelo uso dos pronomes clíticos no caso

obliquo. Contudo, neste caso a voz média não exerce nenhuma função sintática. Portanto,

pseudoreflexiva.

Exemplo: o homem se alimenta do meio em que vive.

Encerrando as propriedades, temos a Ergatividade no PB. Que são, construções em que os

sintagmas verbais são intransitivos, pois não precisam de nenhum complemento para ter a frase com

o sentido completo. O sujeito de um verbo transitivo é o paciente da situação/ ação relatada.

Exemplo: o pneu furou. – alguém ou algo furou o pneu.

CASO ERGATIVO

ANÁLISE

Esta consiste em fazer o uso das propriedades suscitas aplicando a um contexto. Neste caso,

foi escolhida uma música Tu és o Cristo de Nívea Soares. Onde serão destacados três verbos.

SUJEITO/PACIENTE OBJETO DIRETO VERBO TRANSITIVO

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VERBO FOI / VERBO SER

ASPECTO Pretérito perfeito que é considerado na

gramatica normativa como “tempo”. Onde

este expressa um momento concluído. (ele

viveu entre nós). Desta forma é

considerado Qualitativo Perfeito

Resultivo.

MODO Indicativo. Por mostrar a realidade

empírica.

TEMPO Presente não marcado, pois está no

aspecto Pretérito Perfeito.

VOZ Ele foi humilhado. O sujeito sofre a ação,

pois ele foi humilhado. Este exemplo está

naquela regra de exceção do Bagno (1964)

onde nem sempre o objeto sofre a ação

comparando ao exemplo exposto pelo

Tu és o cristo

Verbo vivo VIVEU entre nós

Filho do homem, filho de Deus

Curando os enfermos, livrando os cativos

Era chegado o reino de Deus

FOI humilhado, crucificado.

Tão rejeitado pelos seus

Ressuscitado, glorificado

O inferno e a morte venceu

E agora quem dizem que Tu ÉS

Um profeta, um agitador qualquer (...)

Nívea Soares

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autor suscitado. A seleção da Sérvia

apanhou da Argentina.

VERBO VIVEU

ASPECTO Pretérito Perfeito no processo acabado em

relação ao momento presente.

MODO Indicativo. Pois a realidade é empírica.

(ele viveu).

TEMPO Presente. Na sua forma não marcada

VOZ Ele viveu entre nós. Voz ativa, pois pode-

se fazer a seguinte pergunta: quem viveu

entre nós? Ele. O sujeito sofre a ação.

VERBO ÉS/ VERBO SER

ASPECTO Presente não marcado por dá origem a

outros aspectos como: pretérito perfeito

simples e pretérito perfeito do indicativo.

MODO Indicativo. Onde, expressa uma crença

positiva. (tu és o verbo entre nós).

TEMPO Presente. Expressa a realidade atemporais

ou eternas. Neste caso: é eterna, por se

tratar de um Ser Superior.

VOZ E agora, quem dizem que tu és. (tu és)

isoladamente não tem marca de voz, por

não ter nenhum objeto para acompanha-la.

Mas aqui, apresenta a Ergatividade do PB.

Porque a oração não exige complemento.

Portanto, intransitiva. No entanto é feita a

pergunta. Quem tu és? Se usarmos a

oração completa muda-se a função

sintática.

(Quem?) Tu és um profeta, um (resposta)

agitador qualquer (...).