monte crista (história)

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Uma nova história para Garuva A história de Garuva teve início no ano de 1494, quando foi assinado o Tratado de Tordesilhas (linha meridiana imaginária que separava o mundo entre os impérios de Portugal e Espanha). A linha deste Tratado transpassa pelas localidades garuvenses de Barrancos, Baraharas e São João Abaixo. Tempos depois, em 1545, o navegador espanhol Álvar Nuñes Cabeza de Vaca e mais uma comitiva de 200 homens utilizaram, um ramal da trilha indígena do "Peabiru"-o Caminho do Monte Crista- na localidade do rio Três Barras-, para rumar em direção à Villa de Asunción, no Paraguai. A região das Três Barras foi percorrida também pelos jesuítas, que seguiam até às Cataratas do Iguaçu usando o caminho do Monte Crista. Esses clérigos chegaram a construir uma capela próxima a barra do rio Cavalinhos (Três Barras). Os jesuítas também deixaram muitas lendas sobre urnas com ouro enterradas nas imediações. Documentação oficial de escritura pública registra o compromisso assumido pelo então Vigário José Pinheiro, do Desterro e outros, para a construção da Estrada das Três Barras, em 1730, ou há 277 anos atrás. Em 1787, Francisco José de Freitas Castro (francisquense possuidor de 21 escravos) solicitou uma sesmaria (terras abandonadas) nas Três Barras, estabelecendo o início da ocupação da área. Outras sesmarias foram solicitadas nos anos seguintes, ocupando diferentes áreas de terras. Em 1802, Bento Gonçalves Cordeiro solicitou terras em Três Barras. Francisco de Paulla dos Reis, em 1804, em Rio Palmital; Valentina de Araújo pediu terras em Barrancos, em 1807; o Capitão Miguel Mello e Alvim solicitaram em Rio Urubuquara, no ano de 1822 e, no mesmo ano, Visconde de Jeromirim solicitou terras em Rio São João. No rio Cavalinhos (cuja foz desemboca na frente da localidade Barrancos), havia um pequeno porto, o "Porto de Cima", que se conectava a Estrada Três Barras. Em 1771, as vilas de Guaratuba e São Francisco estabelecem o traçado atual da divisa entre o Estado do Paraná em relação aos municípios de Garuva e Itapoá. Em 1840, a picada do rio Três Barras (aberta entre 1742 e 1752) foi reforçada e se tornou a "Linha da Defesa" - com o objetivo de auxiliar as vilas litorâneas contra os ataques dos índios botocudos. Esta linha começava nas Três Barras, estendendo-se até Laguna. Nesta época, o caminho do Monte Crista era o único caminho terrestre de comunicação com a Vila de Curitiba e São Francisco. Falanstério do Palmital Em 1842, se fixa à margem esquerda do rio Palmital, um Falanstério (uma comunidade utópica anarco-socialista). Esse grupo de cooperativistas, composto de 42 franceses, entre os quais estavam Monsieur Arnaud, Pomatelly, Tesseyer, Jamain e suas famílias, havia se desentendido com um outro contingente francês que se estabelecera na Vila da Glória. O grupo do Palmital era liderado pelo tecelão, vindo da cidade de Lyon, Michel-Marie Derrion (1803-1850). Os cooperativados compraram um sítio nas antigas terras de Francisco de Paulla dos Reisterras, no Palmital. Entre 1835 e 1838, Derrion havia criado em Lyon a mais antiga cooperativa de consumo de que se tenha notícia em todo o Mundo. Derrion morreu no Rio de Janeiro em 1850, vitimado pela febre amarela. Nesta época, havia no Palmital uma casa de vivenda pertencente ao sítio, um estaleiro, algum arvoredo e pastagens que já existiam. Deram preferência à construção naval ainda em pequena escala. Por falta de recursos, a experiência se findou em 1846. No final de 1848 e no início de 1849, houve um grande ataque de índios na vila da Fazenda Três Barras (do Coronel Cândido Joaquim Santana) e no Palmital, no sítio de Manoel Nunes da Silveira (ao qual foi acudido pelo vizinho Manoel Nunes). Escadaria do Monte Crista Em 1855, a escadaria do Monte Crista era construída a mando de João Coutinho, presidente da Província de Santa Catarina. Ou seja, a famosa escadaria do Monte Crista não foi feita a pedido dos jesuítas, que haviam sido expulsos da América em 1767. No final da década de 1860, o Frederico Brüstlein, gerente da Colônia Dona Francisca e da Fazenda Pirabeiraba, Jornal da Educação http://www.jornaldaeducacao.inf.br Fornecido por Joomla! Produzido em: 19 February, 2008, 13:19

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História do Monte Crista (Joinville/Garuva/SC)

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  • Uma nova histria para Garuva

    A histria de Garuva teve incio no ano de 1494, quando foi assinado o Tratado de Tordesilhas (linha meridianaimaginria que separava o mundo entre os imprios de Portugal e Espanha). A linha deste Tratado transpassa pelaslocalidades garuvenses de Barrancos, Baraharas e So Joo Abaixo.

    Tempos depois, em 1545, o navegador espanhol lvar Nues Cabeza de Vaca e mais uma comitiva de 200 homensutilizaram, um ramal da trilha indgena do "Peabiru"-o Caminho do Monte Crista- na localidade do rio Trs Barras-, pararumar em direo Villa de Asuncin, no Paraguai.

    A regio das Trs Barras foi percorrida tambm pelos jesutas, que seguiam at s Cataratas do Iguau usando ocaminho do Monte Crista. Esses clrigos chegaram a construir uma capela prxima a barra do rio Cavalinhos (TrsBarras). Os jesutas tambm deixaram muitas lendas sobre urnas com ouro enterradas nas imediaes.

    Documentao oficial de escritura pblica registra o compromisso assumido pelo ento Vigrio Jos Pinheiro, doDesterro e outros, para a construo da Estrada das Trs Barras, em 1730, ou h 277 anos atrs.

    Em 1787, Francisco Jos de Freitas Castro (francisquense possuidor de 21 escravos) solicitou uma sesmaria (terrasabandonadas) nas Trs Barras, estabelecendo o incio da ocupao da rea.

    Outras sesmarias foram solicitadas nos anos seguintes, ocupando diferentes reas de terras. Em 1802, BentoGonalves Cordeiro solicitou terras em Trs Barras. Francisco de Paulla dos Reis, em 1804, em Rio Palmital; Valentinade Arajo pediu terras em Barrancos, em 1807; o Capito Miguel Mello e Alvim solicitaram em Rio Urubuquara, no anode 1822 e, no mesmo ano, Visconde de Jeromirim solicitou terras em Rio So Joo.

    No rio Cavalinhos (cuja foz desemboca na frente da localidade Barrancos), havia um pequeno porto, o "Porto de Cima",que se conectava a Estrada Trs Barras.

    Em 1771, as vilas de Guaratuba e So Francisco estabelecem o traado atual da divisa entre o Estado do Paran emrelao aos municpios de Garuva e Itapo.

    Em 1840, a picada do rio Trs Barras (aberta entre 1742 e 1752) foi reforada e se tornou a "Linha da Defesa" - com oobjetivo de auxiliar as vilas litorneas contra os ataques dos ndios botocudos. Esta linha comeava nas Trs Barras,estendendo-se at Laguna. Nesta poca, o caminho do Monte Crista era o nico caminho terrestre de comunicaocom a Vila de Curitiba e So Francisco.

    Falanstrio do Palmital

    Em 1842, se fixa margem esquerda do rio Palmital, um Falanstrio (uma comunidade utpica anarco-socialista). Essegrupo de cooperativistas, composto de 42 franceses, entre os quais estavam Monsieur Arnaud, Pomatelly, Tesseyer,Jamain e suas famlias, havia se desentendido com um outro contingente francs que se estabelecera na Vila da Glria.

    O grupo do Palmital era liderado pelo tecelo, vindo da cidade de Lyon, Michel-Marie Derrion (1803-1850). Oscooperativados compraram um stio nas antigas terras de Francisco de Paulla dos Reisterras, no Palmital. Entre 1835 e1838, Derrion havia criado em Lyon a mais antiga cooperativa de consumo de que se tenha notcia em todo o Mundo.Derrion morreu no Rio de Janeiro em 1850, vitimado pela febre amarela.

    Nesta poca, havia no Palmital uma casa de vivenda pertencente ao stio, um estaleiro, algum arvoredo e pastagensque j existiam. Deram preferncia construo naval ainda em pequena escala. Por falta de recursos, a experinciase findou em 1846.

    No final de 1848 e no incio de 1849, houve um grande ataque de ndios na vila da Fazenda Trs Barras (do CoronelCndido Joaquim Santana) e no Palmital, no stio de Manoel Nunes da Silveira (ao qual foi acudido pelo vizinho ManoelNunes).

    Escadaria do Monte Crista

    Em 1855, a escadaria do Monte Crista era construda a mando de Joo Coutinho, presidente da Provncia de SantaCatarina. Ou seja, a famosa escadaria do Monte Crista no foi feita a pedido dos jesutas, que haviam sido expulsos daAmrica em 1767.

    No final da dcada de 1860, o Frederico Brstlein, gerente da Colnia Dona Francisca e da Fazenda Pirabeiraba,

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  • beneficiado por leis de posse e usufruto de sesmarias no aproveitadas, arrendou as terras de So Joo - rea em quehoje est instalado o centro da cidade de Garuva, das Trs Barras, Urubuquara e da margem direita do rio Palmital. Brstlein repartiu esta gleba em pores menores e fez novos contratos de arrendamentos, para que os agricultoresproduzissem cana para revender Fazenda Pirabeiraba.

    Desenvolvimento

    Em 1870, era instalada a linha telegrfica que interligava a cidade paranaense de Morretes a Vila de So Francisco.Esta linha cortava as localidades de Trs Barras, Urubuquara, So Joo do Palmital e Caovi.

    Na transio do sculo XIX para o sculo XX, o caminho das Trs Barras e o Quiriri apresentava um bomdesenvolvimento. As localidades possuam inclusive unidade escolar. Devido distncia das Trs Barras em relao a SoFrancisco, Joinville recebia uma subveno dos cofres francisquenses para fazer a manuteno da Estrada Trs Barras.

    Em 1920, uma companhia de engenharia composta por franceses, chamada Paix et Compagnie, de Edmond Paix,recebeu, em pagamento por servios prestados ao Governo, do ento governador Herclio Luz, as terras devolutas daPennsula do Sahy e da plancie do Palmital, a totalidade atual dos municpios de Garuva e Itapo.

    poca, as terras sob domnio do Governo poderiam ser usadas como moeda para pagar servios e a empresa contavacom engenheiros dispondo de capital para investir em um projeto agroindustrial, mesmo numa regio vasta como aquela.

    A Paix et Cia se dividiu em duas sucursais: a Empresa Industrial Agrcola Palmital Ltda, administradora das terras deTrs Barras, Urubuquara, Caovi, Ribeiro da Ona, So Joo e Palmital. E a Sociedade Agrcola & Florestal do Sahy,administradora das terras dos Barrancos, Baraharas, Minas Velhas, Sol Nascente, Bom Futuro e o restante da Pennsulado Sahy.

    A Empresa Palmital, sob a gerncia do francs Alberto Fromaget, montou um porto com um trapiche na Volta Escurado Rio Palmital, local onde hoje est instalado o Recanto Joo Duarte.

    Em 1921, constituiu-se uma vila no Palmital que passou a ser o centro da recm fundada "Colnia Herclio Luz". Oscolonos poderiam pagar os lotes atravs da venda daquilo que produziam Empresa Palmital Ltda. Ali, montaram umafbrica onde se enlatavam palmito, camaro e abacaxi e outras atividades agroindustriais.

    A Florestal do Sahy, sob a gerncia do francs Emlio Gallois, construiu uma luxuosa manso que abrigou sede nalocalidade dos Barrancos, comunidade conhecida at ento por "Sesmaria Portella". Alm do sobrado, a Paix et Ciaconstruiu um enorme trapiche e uma estrada de ferro de 3 km que ligava o Porto Elizabeth a uma represa no RioBiguass, local onde a Florestal do Sahy montou uma Serraria e usava um pequeno trem para transportar madeira.

    Novas colnias e Distrito

    As vilas do Palmital e dos Barrancos prosperavam. Em 18 de dezembro de 1927 uma cerimnia ocorrida no PortoPalmital marcava a criao do Distrito do Palmital, sancionando um projeto de 1 de Outubro de 1921, que visava criar o3 distrito de So Francisco do Sul.

    A Colnia Herclio Luz efetivou colonos nas proximidades dos rios So Joo, Palmital, Urubuquara, Ribeiro da Ona eTrs Barras. No Palmital, Antnio Ladislau de Arajo montou uma casa de comrcio. Em 1929, comearam as obras deabertura da Estrada Interestadual Curitiba-Joinville, concluda no ano seguinte.

    No mesmo ano, Jos da Costa Cidral (o "Bem-Bem") inaugura, na localidade de So Joo (hoje Centro) a Casa deComrcio Pohl-Cidral, que tambm comportava um ponto rodovirio com venda de combustvel e, dcadas maistarde, at um cinema!

    A Florestal do Sahy regularizava antigos moradores do Rio Sa-gua (Mina Velha), na Sesmaria Nunes (Baraharas) epropiciou a vinda de colonos descendentes de italianos e poloneses para a regio do Sol Nascente.

    Falncia

    Em 1930, a Florestal do Sahy decretou falncia. O empreendimento foi leiloado e assumido pela Empresa PalmitalLtda e suas novas scias, a perfumaria de Lyon, Socit Chimique de Gerland e a empresria francesa MargueriteCariage. O cnsul francs Ren Peinoit, procurador da Paix Et Cia vendeu as terras como gleba de massa falida.

    Na dcada de 1930, a massa falida da Florestal do Sahy, no Porto Barrancos passa responsabilidade de trsempresrios: Hans Jordan instala um engenho de beneficiamento de arroz. Elias Saad (ou Elias Zattar) monta umacasa de comrcio prximo ao Porto, abastecendo os moradores da regio. Durval Worf assume o escritrio da Paix, nocasaro do porto. Em seguida Elias Saad associa-se aos negcios de beneficiamento de arroz de Jordan e a rizicultura

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  • da Paix, nos campos dos Barrancos.

    Na dcada de 1940, a casa de comrcio Saad foi desmontada e levada de balsa at a Vila do Palmital. Alguns anosdepois, Elias Saad e a professora Maria Correa Saad, instalaram-se em So Joo, montando um grande engenho debeneficiamento de arroz ao lado da casa do casal.

    Nos anos 50, iniciaram-se os movimentos polticos para emancipar o 3 Distrito de So Francisco-Garuva, o que ocorreem 1963. Um dos personagens decisivos neste processo foi vereador Drico Paese, mais tarde o primeiro prefeito eleito.Na poca da emancipao, o territrio do Distrito de Garuva era constitudo pela regio da Plancie do Palmital, osarredores da Serra do Carrapatinhos e pelas micro-bacias dos rios Sa-Guassu, Sa-Mirim e Figueira do Pontal. Itapoformava o 2 Distrito.

    O primeiro prefeito de Garuva foi Olvio Nbrega, nomeado at a realizao das eleies. Em 1989, Itapo se desmembrade Garuva.

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