monólogo mate e empada

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- Você quer o Mate Gelado ou Quente, senhor? Eu sabia que tinha milésimos de segundos pra tomar uma decisão, uma vez que ninguém demora muito tempo pra decidir a temperatura do seu próprio mate. Os 25 graus que se instalavam em São Paulo me levavam a uma obrigação moral de pedir o mate mais gelado da Av. São João, mas minha garganta ainda inflamada suplicava pelo chá quente. - Senhor? Eu olhei rapidamente para a atendente e para a minha infelicidade ela era estrábica, o que me deixava mais confuso e sem saber para qual dos dois olhos da moça manter a minha concentração. Eu queria dizer a ela que de forma alguma havia me embaraçado por culpa do estrabismo, até porque esta leve deficiência não tirava o seu charme, mas sabia que seria indelicado demais. Mais de dois segundos haviam se passado e o olho esquerdo da funcionaria estava visivelmente impaciente com a minha demora. - (pigarreou, educadamente. Se é que existe uma maneira educada de pigarrear) Desculpe, senhor. O senhor já decidiu? Por Deus, porque ela insiste em me chamar de senhor? OK, vou responder: - quente, moça. Mas não muito! E pra viagem, por favor. Já no ônibus, pouco satisfeito com a minha decisão, tiro da sacola plástica o Mate "quente mas não muito" e o salgado de palmito requentado. Na primeira mordida percebo que esqueci de pedir os milhares de sachês de catchup. Uma raiva incontrolável toma conta de mim, e vai embora, assim que eu dou a segunda mordida. Moral da história? Empada de palmito é boa para o corpo e para o espírito.

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Monólogo para teatro e testes de castings

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- Voc quer o Mate Gelado ou Quente, senhor

- Voc quer o Mate Gelado ou Quente, senhor?

Eu sabia que tinha milsimos de segundos pra tomar uma deciso, uma vez que ningum demora muito tempo pra decidir a temperatura do seu prprio mate. Os 25 graus que se instalavam em So Paulo me levavam a uma obrigao moral de pedir o mate mais gelado da Av. So Joo, mas minha garganta ainda inflamada suplicava pelo ch quente.

- Senhor?

Eu olhei rapidamente para a atendente e para a minha infelicidade ela era estrbica, o que me deixava mais confuso e sem saber para qual dos dois olhos da moa manter a minha concentrao. Eu queria dizer a ela que de forma alguma havia me embaraado por culpa do estrabismo, at porque esta leve deficincia no tirava o seu charme, mas sabia que seria indelicado demais. Mais de dois segundos haviam se passado e o olho esquerdo da funcionaria estava visivelmente impaciente com a minha demora.

- (pigarreou, educadamente. Se que existe uma maneira educada de pigarrear) Desculpe, senhor. O senhor j decidiu?

Por Deus, porque ela insiste em me chamar de senhor? OK, vou responder:

- quente, moa. Mas no muito! E pra viagem, por favor.

J no nibus, pouco satisfeito com a minha deciso, tiro da sacola plstica o Mate "quente mas no muito" e o salgado de palmito requentado. Na primeira mordida percebo que esqueci de pedir os milhares de sachs de catchup. Uma raiva incontrolvel toma conta de mim, e vai embora, assim que eu dou a segunda mordida.

Moral da histria? Empada de palmito boa para o corpo e para o esprito.