monografia parte escrita - janeiro 2015...

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1 Cisto Ósseo Traumático: Relato de Caso e Revisão de Literatura Traumatic Bone Cyst: Case Report and Review of Literature Alessandra Magalhães Kassner 1 , Ana Cláudia G. A. Koubik 2 1 Pós-graduanda do Curso de especialização em Radiologia Odontológica e Imaginologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR). 2 Profª MSc e Orientadora do Curso de Especialização em Radiologia Odontológica e Imaginologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR). Endereço para correspondência: [email protected] ______________________________________________________________________ RESUMO: O cisto ósseo traumático é um pseudocisto que representa 1% de todos os cistos dos maxilares, acomete com maior frequência as regiões de corpo e sínfise da mandíbula, apresenta predileção pela segunda década de vida e gênero feminino, geralmente assintomáticos e normalmente descobertos em radiografias de rotina, onde observa-se na maioria dos casos uma única área radiolúcida delimitada e circunscrita por uma fina linha radiopaca, muitas vezes contornando as raízes dos dentes adjacentes. Os dentes envolvidos encontram-se vitais e sem evidência de reabsorção radicular. Devido a sua etiologia e patogênese ainda não estarem definitivamente estabelecidas, permanecem assim, sujeitas à controvérsias. O objetivo do presente artigo foi realizar uma revisão da literatura sobre o cisto ósseo traumático e relatar um caso clínico, diagnosticado em um exame radiográfico de rotina, envolvendo a região posterior de mandíbula do lado esquerdo com acompanhamento de 08 meses, ressaltando a importância de um correto diagnóstico e conseqüente plano de tratamento. Palavras chave: lesão cística, cisto ósseo traumático, psesudocisto. ________________________________________________________________________________ ABSTRACT: The traumatic bone cyst is a pseudocyst that represents 1% of all cysts of the jaws, most frequently affects the regions of the body and symphysis of the mandible shows a predilection for the second decade of life and females, generally asymptomatic and usually discovered on radiographs routine, which is observed in most cases a single radiolucent area delimited and circumscribed by a thin radiopaque lines often bypassing the roots of adjacent teeth. The teeth are vital involved and no evidence of root resorption. Due to its etiology and pathogenesis are not yet definitively established, remain so, subject to controversy. The aim of this paper was to conduct a review of the literature on traumatic bone cyst and report a clinical case diagnosed on a routine radiographic examination, involving the posterior region of the left lower jaw with accompanying 08 months, highlighting the importance of a correct diagnosis and subsequent treatment plan. Keywords; Cystic lesion traumatic bone cyst, psesudocisto __________________________________________________________________________

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1

Cisto Ósseo Traumático: Relato de Caso e Revisão d e Literatura

Traumatic Bone Cyst: Case Report and Review of Lit erature

Alessandra Magalhães Kassner1, Ana Cláudia G. A. Koubik2

1 Pós-graduanda do Curso de especialização em Radiologia Odontológica e Imaginologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR).

2 Profª MSc e Orientadora do Curso de Especialização em Radiologia Odontológica e Imaginologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR).

Endereço para correspondência: [email protected] ______________________________________________________________________ RESUMO: O cisto ósseo traumático é um pseudocisto que representa 1% de todos os cistos dos maxilares, acomete com maior frequência as regiões de corpo e sínfise da mandíbula, apresenta predileção pela segunda década de vida e gênero feminino, geralmente assintomáticos e normalmente descobertos em radiografias de rotina, onde observa-se na maioria dos casos uma única área radiolúcida delimitada e circunscrita por uma fina linha radiopaca, muitas vezes contornando as raízes dos dentes adjacentes. Os dentes envolvidos encontram-se vitais e sem evidência de reabsorção radicular. Devido a sua etiologia e patogênese ainda não estarem definitivamente estabelecidas, permanecem assim, sujeitas à controvérsias. O objetivo do presente artigo foi realizar uma revisão da literatura sobre o cisto ósseo traumático e relatar um caso clínico, diagnosticado em um exame radiográfico de rotina, envolvendo a região posterior de mandíbula do lado esquerdo com acompanhamento de 08 meses, ressaltando a importância de um correto diagnóstico e conseqüente plano de tratamento.

Palavras chave: lesão cística, cisto ósseo traumático, psesudocisto. ________________________________________________________________________________ ABSTRACT: The traumatic bone cyst is a pseudocyst that represents 1% of all cysts of the jaws, most frequently affects the regions of the body and symphysis of the mandible shows a predilection for the second decade of life and females, generally asymptomatic and usually discovered on radiographs routine, which is observed in most cases a single radiolucent area delimited and circumscribed by a thin radiopaque lines often bypassing the roots of adjacent teeth. The teeth are vital involved and no evidence of root resorption. Due to its etiology and pathogenesis are not yet definitively established, remain so, subject to controversy. The aim of this paper was to conduct a review of the literature on traumatic bone cyst and report a clinical case diagnosed on a routine radiographic examination, involving the posterior region of the left lower jaw with accompanying 08 months, highlighting the importance of a correct diagnosis and subsequent treatment plan. Keywords; Cystic lesion traumatic bone cyst, psesudocisto __________________________________________________________________________

2

1 INTRODUÇÃO

O Cisto Ósseo Traumático

(COT) também conhecido como cisto

ósseo simples, cisto ósseo

hemorrágico e cisto ósseo solitário foi

inicialmente descrito por Lucas em

1929, sendo geralmente relatado na

literatura científica médica e

odontológica, desde então 1 . Constitui

uma lesão óssea não neoplásica que

representa aproximadamente 1% de

todos os cistos maxilares, acometendo

as regiões de corpo e sínfise de

mandíbula com maior freqüência 1. A

etiologia e patogênese ainda não são

bem conhecidas, mas acredita-se em

uma origem traumática que levaria à

hemorragia intra-óssea e

consequentemente liquefação do

coágulo, levando ao desenvolvimento

do cisto1. É assintomático,

apresentando radiograficamente uma

imagem radiolúcida unilocular,

delimitada por uma fina camada

cortical, muitas vezes contornando as

raízes dos dentes adjacentes.1

A prevalência do COT é em

indivíduos do sexo feminino, na

proporção 5:1, com predomínio na

metáfise proximal dos ossos longos e

nestes, o úmero é responsável por

50% dos casos e o fêmur por cerca de

25% dos casos, geralmente afetam

indivíduos em segunda década de

vida3. A história clínica dessa entidade

é bastante vaga e raramente o

paciente apresenta dor ou qualquer

outro sintoma espontâneo2,3. O

diagnóstico é feito mediante ao exame

radiográfico de rotina.2,3

O objetivo do presente estudo foi

realizar uma revisão de literatura

sobre o cisto ósseo traumático (COT)

e relatar um caso clínico,

diagnosticado em um exame

radiográfico de rotina, discutindo

aspectos relevantes acerca de suas

características clínicas e radiográficas,

diagnóstico diferencial e tratamento.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Definição e etiologia

Rodrigues et al.4 (1994)

consideraram o Cisto Ósseo

Traumático uma lesão pseudotumoral,

sendo sua etiologia motivo de muita

discussão. Sugeriram que o COT

representava uma forma cicatricial do

tumor de células gigantes, julgaram

que a lesão seria uma displasia ou

resultante de um trauma mecânico na

linha epifisária, levando a um defeito

na formação óssea endocondral.

3

Também relataram que a teoria mais

aceita com relação à etiologia, é a de

que o cisto ósseo seria resultante de

uma obstrução da drenagem venosa

local, levando consequentemente ao

acúmulo de fluído intersticial e a

formação do cisto.

Kaufman5 (1979) relatou que a

etiologia do COT não foi

completamente explicada e há uma

falta de sintomas clínicos objetivos ou

definições subjetivas.

Rosen et al.6 (1997) descreveram

que a etiologia e a patogenia do Cisto

Ósseo Traumático ainda não está

clara. Existem possíveis etiologias que

foram descritas incluindo a

degeneração de lesões neoplásicas

como benignas no osso, cálcio

defeituoso no metabolismo, infecções

de baixo grau, perturbações no

crescimento ósseo, hematomas intra –

ósseos, obturação venosa e alterações

metabólicas osteolíticas. Embora, o

trauma tenha sido relatado como uma

possível etiologia, não parece haver

correlação clínica. Dellinger et al.7

(1998) e Teixeira et al.8 (2003)

relataram que a etiologia do COT é

desconhecida e pode estar

relacionada ao trauma, ressaltando

causas prováveis como trauma

resultante em hemorragia

intramedular, infarto de medula óssea

ou de osso esponjoso, perda de

fornecimento de sangue de um

hemangioma, linfangioma ou um cisto

angiomatoso, degeneração cística de

tumores, bloqueio de atividade

osteogênica e áreas císticas de

infecção focal.

Volpon et al.3 (2000)

ressaltaram que o Cisto Ósseo

Traumático é considerado uma lesão

benigna cuja a etiologia ainda não é

totalmente compreendida, o que

proporciona grande variedade de

teorias e tratamentos, gerando

dificuldades para o profissional que

lida com esta patologia, principalmente

se há risco de fratura ou recidiva do

cisto, estimada em 20 a 50% dos

casos.

Para Azevedo et al.9 (2002) o

cisto ósseo traumático foi inicialmente

descrito por Lucas, em 1929, como

sendo uma lesão relativamente

incomum definida como pseudocisto,

ou seja, uma cavidade que contêm

fluido e epitélio. A etiologia dessa

lesão ainda é bastante questionável.

De acordo com Valladares et

al.1 (2008), o Cisto Ósseo Simples

também conhecido como Traumático,

Hemorrágico ou Solitário é uma lesão

assintomática, não neoplásica e intra-

4

óssea que representa

aproximadamente 1% de todos os

cistos maxilares. Acomete com maior

frequência as regiões de corpo e

sínfise da mandíbula, sendo

diagnosticado por meio de exames

radiográficos de rotina. Kahler10

(2010) afirmou que a etiologia da

lesão é incerta e pode estar associada

com trauma anterior e que o COT é

mais frequentemente encontrado no

corpo ou na porção posterior da

mandíbula.

2.2 Características clínicas e radiográficas

Olech et al.11 (1951)

descreveram que não há histórico de

dor ou de outros sintomas subjetivos e

os cistos ósseos traumáticos são

encontrados acidentalmente em

exames radiográficos de rotina, a

cavidade cística está completamente

cercada por osso e apresenta-se

unilocular. Não há aumento palpável

da cortical do osso afetado, a cavidade

cística não se comunica com a oral e

os dentes envolvidos em decorrência

da lesão apresentam vitalidade pulpar.

Os cistos são encontrados em

indivíduos jovens e na maioria dos

casos existe algum trauma específico

relacionado com a entidade patológica.

Rodrigues et al.4 (1994)

relataram que o achado radiográfico

típico de uma lesão COT é ter paredes

finas, geralmente com discreta

expansão da cortical, localizada no

seguimento metafísico dos ossos,

principalmente metáfise superior do

úmero e fêmur. A lesão seria

displásica e resultante de trauma

mecânico na linha epifisária levando a

um defeito na formação óssea

endocondral. O Cisto Ósseo Solitário

frequentemente é uma lesão intra -

óssea e geralmente só manifesta-se

sintomas na vigência de uma fratura

patológica.

Cowan12 (1979) afirmou que a

etiologia e patogênese do COT ainda

tem de ser firmemente estabelecida. É

aceito, contudo, que a incidência da

grande maioria destes cistos acometa

a segunda década de vida, sendo

incomum após os 25 anos de idade,

sendo raro surgir caso além da terceira

década de vida. Foi acordado que na

maioria dos casos, a sintomatologia

não está presente.

Abbott2 (1992) ressaltou que

clinicamente, a maioria dos pacientes

não tem quaisquer sintomas e a lesão

é muitas vezes descoberta durante

exames radiográficos de rotina.

Entretanto, alguns pacientes relataram

5

inchaço, dor, parestesia ou expansão

do osso. Ao exame radiográfico

geralmente revela uma imagem

radiolúcida delimitada de tamanho

variável, e a lesão é geralmente

unilocular mas pode apresentar-se

multilocular. As vezes, existe a

possibilidade de haver uma borda fina

e esclerosada, a lesão pode ter

margens recortadas quando se

estende entre as raízes dos dentes. Ao

exame, as raízes dos dentes devem

revelar uma lâmina dura intacta e a

largura normal do espaço do ligamento

periodontal em torno das raízes. Não

há qualquer envolvimento e

deslocamento dos dentes. Geralmente

afetam pacientes na segunda década

de vida, em sua grande maioria do

gênero feminino.

Para Rosen et al.6 (1997), o

diagnóstico do Cisto Ósseo

Traumático geralmente depende de

achados clínicos e radiográficos. As

características radiológicas, no

entanto, são muitas vezes confusas e

pode ser confundido com um grande

número de Cisto Odontogênicos,

neoplasias malignas e outras lesões

radiolúcidas do osso.

Radiograficamente apresenta-se

como lesões radiolúcidas bem

delimitadas de tamanho variado, com

bordas escleróticas, as quais podem

projetar-se entre as raízes e, por

conseqüência, formar uma linha com

bordas onduladas. Os autores alertam

que as características radiográficas,

entretanto, podem confundir o

profissional levando a um diagnóstico

incorreto, como um grande número de

lesões radiolúcidas de osso.

Dellinger et al.7 (1998)

descreveram que os Cistos Ósseos

Traumáticos são normalmente

associados com a região posterior de

mandíbula mas em raras ocasiões

podem envolver a maxila. Os

pacientes são geralmente afetados na

segunda década de vida; o sexo

masculino exibe discreta predileção.

O indivíduo geralmente apresenta-se

com uma história de trauma na região

de mandíbula. Ao exame radiográfico

é possível verificar uma região

radiolúcida unilocular ou multilocular

bem delimitada e com as margens

irradiadas que se estendem sobre os

raízes dos dentes envolvidos. O

tamanho e a forma da lesão podem

variar. Possui raramente o

deslocamento da dentição envolvida

ou a expansão da placa cortical

relacionada nesta condição. A lesão

não afeta a vitalidade pulpar dos

dentes envolvidos.

6

Para Volpon et al.3 (2000), a

história clínica do COT é bastante

vaga e raramente o paciente

apresenta sintomatologia, dor ou

qualquer outro sintoma espontâneo. O

diagnóstico é feito mediante ao exame

radiográfico convencional, em geral,

durante a investigação de um pequeno

traumatismo local de uma fratura ou

até mesmo de alguma outra patologia

próxima a lesão.

Azevedo et al.9 (2002)

ressaltaram que a lesão é

assintomática, sendo descoberta

fortuitamente através de exames

radiográficos de rotina. Não obstante,

cerca de 21% dos pacientes

apresentam edema localizado. Dor,

parestesia e trismo geralmente são

achados incomuns, e os dentes

envolvidos encontram-se vitais e sem

evidência de reabsorção radicular.

Radiograficamente, o cisto ósseo

traumático exibe uma área

radiotransparente bem definida,

circunscrita por uma tênue linha

radiopaca. O tamanho da lesão pode

variar de 1 cm a 10 cm de diâmetro.

Quando vários dentes são envolvidos,

pode-se observar projeções que se

insinuam de forma recortada entre as

raízes, dando um aspecto de

“escavamento” ou “cúpula”. Embora

essa característica seja altamente

sugestiva, não é sinal patognomônico

da entidade patológica em destaque.

No estabelecimento do diagnóstico,

deve-se proceder uma análise

multidimensional, avaliar os aspectos

clínicos, radiográficos e, muitas vezes,

os achados cirúrgicos e

histopatológicos. Foram estabelecidos

alguns critérios para o diagnóstico; a

lesão deve ser única, circundada por

parede de tecido ósseo duro, sem

revestimento epitelial e sem evidência

de infecção.

Teixeira et al.8 (2003)

descreveram que geralmente os

Cistos Ósseos Traumáticos são

achados radiográficos observados em

radiografias panorâmicas ou em

documentações ortodônticas e

acreditam que os COT’s possam

resultar de uma deficiência de

diferenciação das células

osteogênicas. Xanthinaki et al.13

(2006) afirmaram que o COT é

diagnosticado em pacientes jovens,

na segunda década de vida. A maioria

está localizado no corpo da mandíbula,

entre os caninos e os terceiros

molares, sendo região de sínfise a

segunda região mais afetada. Poucos

casos referem localização em ramo da

mandíbula, cabeça da mandíbula e

7

maxila, geralmente na região anterior.

Trata-se de uma lesão assintomática

na maioria dos casos. Dor é o sintoma

presente entre 10 a 30% dos

pacientes, podendo estar

acompanhado de sensibilidade dental,

parestesia, fístulas e erupção

retardada dos dentes permanentes.

Frequentemente nota-se a expansão

da cortical na região afetada, com

inchaço intra e extraoral, raramente

causando assimetria facial. Os dentes

adjacentes apresentam-se vitais e sem

mobilidade, deslocamento ou

reabsorção radicular.

Ram et al.14 (2002) relataram

segundo estudos realizados e

discutidos que quase 1% das lesões

císticas ocorrem em região de

mandíbula. 56 a 70% dos casos são

diagnosticadas durante a segunda

década de vida sem predileção entre

os sexos. Geralmente os COT’s

acometem a região posterior do corpo

da mandíbula. Radiograficamente,

apresentam-se como uma área

radiolúcida unilocular contornando os

ápices dos dentes adjacentes.

Rodrigues, Estrela15 (2008)

apresentaram a lesão como sendo

uma área radiolúcida unicistíca.

Relataram ainda seu aparecimento na

região perriradicular dos dentes,

simulando uma lesão inflamatória de

origem endodôntica.

Radiograficamente, mostra imagem

radiolúcida de tamanho variável bem

delimitada, com bordas definidas. A

vitalidade pulpar raramente é alterada.

No entanto, pode ocorrer uma

expansão cística e consequentemente

apresentar um aumento da pressão e

irradiar ao entorno dos dentes

envolvidos e causar a redução

temporária da resposta à vitalidade

pulpar. O COT não tem predileção de

sexo e idade, no entanto, a maior

freqüência ocorre entre 12 a 15 anos

ou na segunda década de vida. A

mandíbula é a região da face mais

acometida. A maxila pode ser afetada,

todavia com menos freqüência. Entre

os casos na mandíbula, a região

mentoniana foi a mais prevalente, no

entanto, pode ocorrer nos premolares

e molares inferiores. A avaliação

radiográfica pode ser realizada por

meio de radiografia periapical, no

entanto, pode não incluir toda a

extensão da lesão e na radiografia

panorâmica isso pode ser necessário

para a verificação da sua extensão.

Clinicamente, o COT é uma lesão

intra-óssea benigna que pode conter

fluído no seu interior, no entanto,

muitas vezes pode aparecer um

8

espaço vazio (cavidade oca). A

tomografia computadorizada por feixe

cônico pode auxiliar no diagnóstico

diferencial, podendo, assim como a

ressonância magnética, excluir a

necessidade de punção aspiratória em

alguns casos. Imagens de ressonância

magnética permitem a análise do

interior da lesão, mostrando a

presença ou ausência de líquido,

contribuindo para a diferenciação do

COT e de outras lesões.

Valladares et al.1 (2008)

descreveram que radiograficamente os

COT’s apresentam imagem radiolúcida

unilocular delimitada por um fina

cortical, muitas vezes contornando as

raízes dos dentes adjacentes,

resultando em um aspecto festonado

ou recortado. Possui alta prevalência

em pacientes submetidos a tratamento

ortodôntico, enfatizando que os

exames radiográficos rotineiros

realizados na população permitem a

detecção mais frequente de lesões

consideradas, até então, raras.

Existem ainda, evidências de um maior

acometimento do gênero feminino,

principalmente em pacientes de idade

mais avançada. Sua localização é

mais focada no corpo da mandíbula e

a ausência de sintomatologia estava

de acordo com o padrão estudado,

levando a hipótese diagnóstica inicial

de Cisto Ósseo Traumático.

Kahler10 (2010) relatou que

radiograficamente o COT é observado

como sendo uma área radiolúcida bem

definida e de tamanho variável que

pode envolver a maior parte do corpo

da mandíbula bem como se estender

para dentro do ramo. Quando a região

radiolúcida parece estar relacionada

com os dentes, existem muitas vezes,

um recorte da margem da lesão em

relação as raízes dos dentes

envolvidos.

De acordo com Manor et al.16

(2012) o cisto ósseo traumático pode

ser conseqüência de algum tipo de

trauma e/ou cárie na dentição

permanente no período de idade

adulta. Como na maioria dos casos de

cistos de mandíbula são de origem

odontogênica, seria interessante

verificar para a distribuição dos cistos

em região de mandíbula nas diferentes

faixas etária.

2.3 Histologia

Olech et al.11 (1951) relataram

que histologicamente nos COT’s

nenhuma membrana de revestimento

poderia ser encontrada no interior da

cavidade cística. Nos estudos

realizados, uma fina camada de placa

9

na cortical foi removida no ato cirúrgico

e mostrou sinais de tunelamento de

reabsorção óssea. É possível observar

uma zona azulada de cor escura que é

normalmente visível após uma reflexão

dos tecidos moles, antes de ganhar

entrada para a cavidade cística. Em

seu interior pode conter fluídos ou

espaço vazio. Não existe mucosa de

membrana clinicamente visível no

interior do cisto. Descobertas

laboratoriais e sem epitélio são

encontradas no exame microscópico.

Cowan12 (1979) ressaltou que

histologicamente o tecido apresentado

para o exame consistiu do conteúdo

da lesão, de fragmentos ósseos,

presença de sangue, células

inflamatórias agudas, colesterol

contendo tecido de granulação e de

espículas ósseas. O tecido duro após

a calcificação foi visto sendo revestido

por uma zona vascular de tecido

fibroso em que não havia nenhuma

evidência de epitélio. De acordo com

os estudos que foram avaliados, a

polpa dental mostrou – se sem

qualquer tipo de anormalidade

caracterizando - se dessa forma, a

entidade de cisto ósseo traumático.

Abbott2 (1992) relatou que

histologicamente os Cistos Ósseos

Traumáticos apresentam uma

variedade de resultados, mas com

pouco acordo entre os autores. As

vezes, pode aparecer uma fina

membrana de tecido conectivo

alinhado a cavidade cística. A

inflamação foi avaliada em 65,7% dos

casos estudados e analisados. Os

Cistos Ósseos Traumáticos podem

conter medula, fibras nervosas,

osteóides, osteclastos, células

gigantes e de colesterol no interior em

diversas proporções.

Dellinger et al.7 (1998) relataram

uma pequena quantidade de exsudato

com a coloração cor de palha

contendo glóbulos brancos e sangue

no interior da cavidade cística. Após

um retalho mucogengival foi possível

verificar na superfície bucal da região

de mandíbula uma pequena janela que

foi colocada através de uma fina placa

cortical para se ter acesso a lesão.

Não constatava no interior da lesão

qualquer tipo de células epiteliais de

revestimento, e sim, apenas margens

com bordas finas.

Azevedo et al.9 (2002)

ressaltaram que ao exame

histopatológico é normalmente limitado

à “janela” de acesso ao osso, que é

removida durante o procedimento

cirúrgico. Mostra uma membrana

delgada de tecido conjuntivo vascular,

10

fibrina, eritrócitos e células gigantes

ocasionais na superfície óssea

próxima à cavidade. Não há evidência

de tecido epitelial e tecido de

granulação ou coágulo sanguíneo

podem estar presentes. Quando as

cavidades císticas são expostas

cirurgicamente, quase que

invariavelmente são encontradas

vazias. Em outros casos, podem estar

presentes sangue, líquido, soro

sanguíneo ou seroso. Alguns estudos

foram feitos na tentativa de descobrir

experimentalmente a presença de

conteúdo gasoso, todavia, não

possibilitou a sua confirmação.

Para Xanthinaki et al.13 (2006) a

maior parte dos resultados histológicos

relacionados aos Cistos Ósseos

Traumáticos revelam a presença de

tecido conjuntivo fibroso e ósseo

normalizado. Nunca há qualquer

evidência de tecido de revestimento. A

lesão cística pode apresentar áreas de

vascularização, fibrina, eritrócitos e

células gigantes ocasionais adjacentes

à superfície óssea. O importante é ter

um relato de uma radiografia bem

documentado.

Para Rodrigues, Estrela15

(2008) o COT não pode ser

classificado como cisto, uma vez que

não se encaixe na classificação básica

dos cistos maxilares por não

apresentar características

morfológicas de um cisto, como a

cápsula e o revestimento epitelial. A

lesão, quando curetada, pode

apresentar tecido conjuntivo e

fragmentos ósseos na análise

histopatológica.

Kahler10 (2010) ressaltou que os

Cistos Ósseos Traumáticos são

caracterizados por uma cavidade intra-

óssea que possui uma fina membrana

de tecido conjuntivo e de tecido sem

revestimento epitelial. Em diversos

relatórios, a cavidade cística pode ser

preenchida com fluído cor de palha ou

sangue. De acordo com Manor et

al.16 (2012) a apresentação clínica de

infecção na área de cisto é geralmente

associada com a inflamação aguda ou

crônica na parede cística. Em tais

casos, o revestimento epitelial da

parede do cisto pode ser destruído,

não obstante a origem do cisto,

consequentemente deixando a parede

cística com restos de tecido de

granulação.

2.4 Diagnóstico diferencial

De acordo com Olech et al.11

(1951) o diagnóstico diferencial após a

realização do exame clínico do COT

apresentaram várias outras condições

11

patológicas que devem ser levadas em

consideração, entre elas são; doenças

inflamatórias da mandíbula

assemelhando-se a cistos (granuloma

e abscesso crônico), cisto radicular,

cisto dentígero, cistos de

desenvolvimentos, cisto

globulomaxilar, ameloblastoma,

neoplasias, fibroma central, carcinoma

metastático e disfunções metabólicas

que se assemelha a cistos como por

exemplo, hipotireodismo,

xantomatoses e granuloma

eosinófilico.

Cowan12 (1979) ressaltou que

os Cistos Ósseos Traumáticos podem

ser ativos ou latentes. Ainda podem

existir dois diferentes tipos de lesões;

o COT típico é o mais raro chamado

cisto unicameral dos ossos longos que

aparecem em maxila.

Kaufman5 (1979) sugeriu que as

manifestações de os Cistos Ósseos

Traumáticos e o diagnóstico diferencial

para a condição de região de

mandíbula e de maxila devem ser

incluídos em livros de endodontia.

Rosen et al.6 (1997) relataram

que o diagnóstico de COT geralmente

dependem de achados clínicos e

radiográficos. As características

radiográficas podem ser confundidas

com um grande número de cistos

odontogênicos, neoplasias malignas e

outras lesões com aspectos

radiolúcidos relacionadas ao osso.

Volpon et al.3 (2000)

descreveram que o COT foi obtido

através de radiografia típica da lesão e

ocorreu a saída de líquido

serossanguíneo por ocasião da

punção. O cisto consolidado foi aquele

totalmente preenchido por trabeculado

ósseo e o parcialmente consolidado foi

com preenchimento em torno de 70%

da lesão e o cisto persistente foi

aquele em que não houve modificação

significativa na estrutura original da

lesão.

Para Azevedo et al.9 (2002) o

diagnóstico diferencial deve-se basear

no tratamento e na localização do cisto

e inclui: cisto dentígero, ceratocisto

odontogênico, granuloma central de

células gigantes, tumor odontogênico

adenomatóide, ameloblastoma, etc.

De acordo com Rodrigues,

Estrela15 (2008) o diagnóstico de COT

é frequentemente determinado pela

associação entre o exame clínico e

achados radiológicos; a exploração

cirúrgica e a análise histopatológica

quando possível. O diagnóstico

diferencial deve incluir o cisto

dentígero odontogênico, queratocisto,

adenomatoíde central de tumor

12

odontogênico, ameloblastoma,

granuloma central de células gigantes

e púrpura trombocitopênica.

Xanthinaki et al.13 (2008)

relataram que o diagnóstico diferencial

de COT’s podem ser cistos

odontogênicos incluindo

provavelmente o queratocisto

odontogênico e tumores

odontogênicos (ameloblastoma

unicístico).

Kahler10 (2010) sugeriu que o

diagnóstico diferencial do COT pode

incluir a periodontite apical, ceratocisto

odontogênico, granuloma central de

células gigantes, ameloblastoma,

mixoma odontogênico, neoplasia

central e neurogênica.

2.5 Tratamento

Olech et al.11 (1951) ressaltaram

que o tratamento consiste na

exposição da cavidade cística e no

interior o preenchimento de um novo

coágulo de sangue e na sequência o

reposicionamento do retalho na

tentativa de favorecer a criação de

retalho contornando o tecido

conjuntivo favorecendo dessa forma o

coágulo recém-formado e, por

conseguinte, proporcionando

rapidamente a cura.

Szerlip17 (1966) apresentaram

de acordo com os estudos realizados,

sendo que em um desses, o paciente

foi encaminhado para o exame

histopatológico para a análise do

sangue que mostrou a presença de

cálcio, fósforo e fosfatase alcalina

dentro dos padrões normais. O

diagnóstico clínico do COT foi feito e

nenhuma intervenção cirúrgica foi

instituída. O paciente foi visto

periodicamente para a realização do

exame radiográfico das áreas afetadas

em questão. Evidências de

regeneração óssea completa das

superfícies de ambos os lados da

mandíbula foi visualizada com

sucesso.

Rodrigues et al.4 (1994)

relataram uma série de casos

referente a COT, comparando o

tratamento cirúrgico com o não

cirúrgico (imobilização na vigência de

fraturas); concluíram que o tratamento

cirúrgico foi mais satisfatório que a

simples observação da lesão. Na série

analisada, os casos tratados

cirurgicamente com curetagem mais

enxerto tiveram bons resultados, mas

é bastante conhecido que, além dos

riscos inerentes a qualquer

procedimento cirúrgico, existe o de

provocar lesão da cartilagem de

13

crescimento; por isso, acharam que o

método não devia ser empregado

sistematicamente. Usaram inicialmente

o tratamento das lesões com injeção

intracavitária de corticóide e

posteriormente, reportaram os

resultados satisfatórios da técnica.

Desde então, esse procedimento vem

difundindo, existindo numerosos

relatos na literatura. Apesar de não

serem termos utilizados, acharam

simples e com menores riscos que um

procedimento cirúrgico de maior

sucesso. Outra técnica simples e com

bons resultados relatados consiste em

se realizar múltiplas perfurações

percutâneas no cisto e manter dois a

três fios de Kirschner penetrando na

cavidade, de modo a drenar seu

conteúdo. Em virtude de o cisto ósseo

ser uma lesão autolimitada e que

geralmente evolui para a cura

espontânea, tanto é que dificilmente

encontra-se cisto ósseo em adultos,

julgaram que as lesões localizadas na

metáfise proximal do úmero poderiam

ser tratadas conservadoramente,

levando-se em conta que o úmero não

é um osso que suporta carga e que as

fraturas nessa região são de

tratamento simples. Associado a isso,

devem-se considerar as dificuldades

em meio de realizar procedimentos

que necessitam de bloco cirúrgico,

anestesia geral, raios-X ou

intensificador de imagens,

representando dessa forma, alto custo

para um País como o Brasil, em que

há tantas medidas mais prioritárias em

relação a saúde pública.

Cowan 12 (1979) relatou que o

tratamento foi a exodontia do dente em

questão e posteriormente a

proservação do caso, várias consultas

foram necessárias para o

acompanhamento e monitoramento da

lesão. Após vários meses foram

realizados novamente o exame clínico

e radiográfico; o último revelou-se o

não crescimento do cisto. A lesão foi

acompanhada durante quatro anos e

nesse longo período não houve queixa

de dor e nem qualquer aumento da

lesão.

Kaufman 5 (1979) ressaltou que

o tratamento do COT consiste em

apenas curetagem da lesão com a

esperança de manter o dente vital e

talvez a conclusão da apificação da

raiz.

Para Rosen et al.6 (1997) a

gestão de um Cisto Ósseo Traumático

envolve a exploração cirúrgica da

cavidade cística. Outro método de

tratamento para o COT inclui

14

aspiração e a injeção de osso

autógeno.

Dellinger et al.7 (1998)

apresentaram que o tratamento

comum para o COT consiste de

simples curetagem e encerramento

que induz a hemorragia para promover

o reparo ósseo na região afetada. A

resolução completa do defeito ósseo

se dá através da regeneração óssea

que geralmente ocorre dentro de um

curto período de tempo após a

curetagem.

De acordo com Volpon et al.3

(2000) vários tipos de tratamentos

foram propostos, sendo o mais

clássico a curetagem da cavidade

cística e enxertia, porém há cerca de

um terço de recidivas. Outros autores

propuseram tratamentos mais radicais,

como a ressecção subtotal. Entretanto,

tratando-se de uma lesão de natureza

benigna, muitos autores entendem que

o tratamento deve ser de baixa

morbidade. Assim, tem lugar a injeção

intracavitária de corticóide ou

perfurações múltiplas da cavidade

cística e transfixação com fios de

Kirschner. Mesmo com essas

medidas, o índice de recidivas ainda é

alto. Mais recentemente, estudos

relataram bons resultados com a

injeção de medula óssea, com

regressão da lesão em 84% dos

casos.

De acordo com Azevedo et al.9

(2002) diversas modalidades de

tratamento têm sido sugeridas, dentre

elas: curetagem, embora vários

métodos tenham sido empregados

com sucesso, a principal escolha é

usualmente a exploração cirúrgica

leve, com uma suave curetagem da

cavidade óssea. A grande vantagem

desse método está na observação

clínica da presença de uma cavidade

vazia ou que contenha algum fluído e

a remoção do conteúdo para a

realização de um diagnóstico

histopatológico. Após a realização

desse procedimento, espera-se a

regressão e a cura espontânea da

lesão dentro de um período de seis

meses. A recidiva ou a persistência

não é frequente e o prognóstico é

bastante favorável. Todavia, é

prudente evitar curetagem cega e

vigorosa durante a exploração, visto a

possibilidade de desvitalização de

dentes adjacentes que possam

atravessar as cavidades ósseas. O

principal problema está associado ao

erro no diagnóstico, podendo levar a

uma cirurgia extensa desnecessária,

com a extração de dentes ou até a

ressecção local da área. Também

15

existem outros tratamentos propostos,

principalmente para os casos

refratários de COT. Os autores se

baseiam no uso de injeção de osso

autógeno, hidroxiapatita ou sangue

autógeno no interior da cavidade

cística. Na experiência dos estudos de

pacientes que tiveram diagnóstico

clínico e radiográfico de COT

responderam satisfatoriamente ao

tratamento cirúrgico conservador,

dispensando portanto outras

modalidades terapêuticas alternativas.

Embora o tratamento cirúrgico seja

usualmente recomendado, deve-se ter

cuidado com acidentes em casos de

lesões vasculares intra-ósseas e como

essa lesão pode regredir de forma

espontânea, a necessidade de uma

intervenção cirúrgica pode ser

questionada, especialmente se o

diagnóstico estiver sido apurado e

fundamentado em bases clínicas e

radiográficas e se o paciente for capaz

de atender a um rigoroso seguimento

radiográfico em intervalos periódicos.

Ram et al.14 (2002) ressaltaram

que a exploração cirúrgica tem sido

utilizada para não confirmar o

diagnóstico apenas, mas também a

modalidade de tratamento. A

regeneração óssea após a exploração

cirúrgica é a característica típica de

COT. A regressão espontânea da

lesão tem sido observada em caso de

Cistos Ósseos Traumáticos. A

exploração cirúrgica da lesão e o

sangramento foram realizados por

causa da evidência da regeneração

óssea induzida de pós-procedimento.

Boa cicatrização no local do

procedimento cirúrgico foi observado

após duas semanas do ato cirúrgico. A

medida em que a lesão foi curetada e

acompanhada periodicamente através

de avaliação radiográfica no local;

houve gradativamente a regeneração

óssea com sucesso.

Teixeira et al.8 (2003) relataram

que o tratamento é a exploração

cirúrgica seguida de curetagem da

área afetada para a confirmação do

diagnóstico. O tratamento consiste em

abrir o cisto e promover a retirada do

conteúdo líquido e consequentemente

proporcionar o sangramento na

tentativa de conseguir uma rápida

regeneração do defeito associado à

neoformação óssea.

Para Xanthinaki et al.13 (2006) o

tratamento amplamente recomendado

para o COT é a exploração cirúrgica

seguida de curetagem das paredes

ósseas. A exploração cirúrgica serve

como manobra de diagnóstico

associado a terapia definitiva com a

16

tentativa de produzir hemorragia no

interior da cavidade cística e

consequentemente a formação de

coágulo, que é eventualmente

substituído por osso.

Rodrigues, Estrela15 (2008)

ressaltaram que o tratamento de

escolha do COT é a exploração

cirúrgica, também é indicada pela

maioria dos estudos realizados. A

lesão foi exposta através de uma

abertura do osso cortical vestibular e

apenas o coágulo de sangue pequeno

foi encontrado (material escasso para

o exame microscópico). O osso foi

cuidadosamente curetado e o sangue

também. Dessa forma, ao promover a

hemorragia posteriormente favoreceu

para a regressão da lesão e a

formação óssea. Valladares et al.1

(2008) relataram que o tratamento foi a

curetagem óssea nos dois casos e a

análise histopatológica do escasso

material obtido no ato cirúrgico revelou

parede de tecido conjuntivo fibroso,

com ausência de revestimento

epitelial. A associação das

características clínicas, anatomo-

patológicas e, principalmente,

radiográficas e trans-operatórias

confirmou a hipótese inicial de COT.

Passados três meses após a

intervenção cirúrgica, as radiografias

panorâmicas de controle pós-

operatório mostraram uma nova

formação óssea no local, em resposta

ao sangramento provocado durante a

cirurgia. Diversas outras modalidades

de tratamento já foram relatadas,

incluindo ressecção, curetagem,

enxerto ósseo, injeção de

corticosteróides e mais recentemente,

injeção de medula óssea autógena. No

entanto, a exploração cirúrgica da

cavidade cística tem sido geralmente

recomendada. Há existência de relatos

de casos de COT que regrediram de

forma espontânea sustentando dessa

forma a opção de uma proservação

clínico-radiográfica em detrimento da

intervenção cirúrgica.

Kahler 10 (2010) ressaltou que o

diagnóstico e o tratamento são

apurados pela exploração cirúrgica e

ocorre a geração de um coágulo de

sangue na cavidade intra-óssea vazia.

A regeneração óssea geralmente

ocorre dentro de seis meses após a

exploração cirúrgica, curetagem e a

formação do coágulo de sangue.

Manor et al.16 (2012) relataram

algumas modalidades de tratamento e

dentre elas incluíram a

marzupialização em 35% dos

pacientes, enucleação em 45% e

enucleação associada com enxerto

17

ósseo em 19% por via intra-oral.

Existem dois procedimentos cirúrgicos

básicos, ou seja, marsupialização

(descompressão) e a enucleação. A

marsupialização é um procedimento

relativamente simples, consiste em

produzir cirurgicamente uma janela na

parede cística para aliviar a tensão

intra-cística. Após isso, a cavidade

cística diminui lentamente em

tamanho. Três a seis meses mais

tarde, a enucleação é realizada. As

desvantagens notáveis dessa técnica

são as seguintes: é um procedimento

cirúrgico em duas fases, o tecido

patológico é deixado para trás e um

processo patológico mais sinistro, ou

seja, o carcinoma de células

escamosas pode ser esquecido e uma

grande cavidade cística demora um

longo período de tempo para que o

osso se regenere. A enucleação com

o fechamento primário é o tratamento

cirúrgico de escolha de uma fase,

seguido por exames radiográficos com

alguns períodos de intervalo;

regularmente é possível observar o

progresso da regeneração óssea do

defeito. Ele também permite o exame

patológico de toda a amostra para o

diagnóstico histopatológico. A

enucleação pode ser feita apenas

quando o osso maxilar adjacente ao

cisto está intacto. Se o COT

demonstra erosões na vestibular ou na

lingual da parede cortical, a

marsupialização deve ser o tratamento

de escolha. A marsupialização foi

realizada em todos os pacientes com

cistos de erupção e, em outros foram

feitos em casos de cistos de tamanho

considerável. A enucleação sem

enxerto ósseo foi realizado em

pacientes que tiveram cistos de menor

diâmetro. Já a enucleação com

enxerto ósseo foi realizado em lesões

císticas de tamanho maiores.

Alogênico ou xenogênicos de osso foi

usado para o enxerto e com resultados

satisfatórios. O osso esponjoso

autógeno é considerado o melhor

material de enxertia e tem sido

utilizado com sucesso clínico para o

tratamento de lesões císticas durante

muitos anos.

3 RELATO DE CASO

Paciente do sexo masculino, 18

anos de idade compareceu à uma

Clínica de Radiologia Odontológica

para realização de exames

radiográficos com finalidade

ortodôntica. Na anamnese o paciente

não relatou sintomatologia dolorosa e

ao exame intra e extrabucal não

observou-se alterações. Notou-se na

18

radiografia panorâmica (Figura 1)

imagem radiolúcida unilocular

delimitada circunscrita por halo

radiopaco estendendo-se do dente 33

à raiz mesial do 36 e de terço médio

radicular à cortical basal da mandíbula

em relação de imagem com o forame

mentoniano e canal mandibular.

Para melhor visualização da

lesão e sua relação com estruturas

adjacentes, foi realizada uma

tomografia computadorizada cone

beam (Figura 2). Nos cortes sagitais

notou-se a presença de lesão

hipodensa delimitada na região com

ausência de expansão óssea, bem

como íntimo contato da lesão com o

forame mentoniano e canal

mandibular. Não foi visualizada

reabsorção radicular externa nos

dentes envolvidos e o teste de

vitalidade pulpar mostrou-se positivo.

A partir das características

clínicas e radiográficas, somadas a

informação levantada junto ao

paciente de história de trauma

conseqüente a um acidente de skate,

a hipótese diagnóstica foi de cisto

ósseo traumático.

O paciente foi encaminhado ao

cirurgião bucomaxilofacial para

procedimento cirúrgico, onde

observou-se uma cavidade óssea

vazia (Figura 3), confirmando o

diagnóstico de cisto ósseo traumático.

A cirurgia consistiu de curetagem nas

paredes ósseas com o objetivo de

provocar o sangramento e posterior

neoformação óssea. A radiografia

panorâmica (Figura 4) de 8 meses

após cirurgia mostrou a neoformação

óssea na fase final de reparação.

Figura 1 – Radiografia panorâmica inicial

Figura 2 - Tomografia computadorizada cone beam (cortes sagitais)

19

Figura 3 - Imagem da cavidade óssea vazia durante o procedimento cirúrgico

Figura 4 – Radiografia Panorâmica (08 meses após a cirurgia)

4 DISCUSSÃO

Para todos os autores a

etiologia e a patogenia do COT ainda é

bastante questionável. Para Rodrigues

et al.4 (1994) a teoria mais aceita é a

de que o COT seria resultante de uma

obstrução da drenagem venosa local,

levando consequentemente ao

acúmulo de fluido intersticial e a

formação do cisto. Já para Dellinger et

al.7 (1998) e Teixeira et al.8 (2003) a

etiologia pode estar relacionada ao

trauma resultante em hemorragia

intramedular, infarto da medula óssea

ou de osso esponjoso.

Para a maioria dos autores o

COT apresenta maior predileção pelo

sexo feminino ao contrário de Ram et

al.14 (2004) e Rodrigues, Estrela 15

(2008) que ressaltaram a não

predileção por sexo. Já Dellinger et al.7

(1998) relataram uma ligeira

predileção pelo sexo masculino

corroborando com o presente caso.

Em relação a idade, a maioria dos

autores ressaltaram que o COT

acomete mais a segunda década de

vida. Para Cowan 12 (1979) é incomum

após 25 anos de idade e raro além da

terceira década de vida. Tal situação

concorda com o presente relato.

Para Abbott 2 (1992) e Olech et

al. 11 (1951) não há histórico de dor ou

de outros sintomas subjetivos

relacionados ao COT concordando

com o presente caso, ao contrário de

Xanthinaki et al.13 (2006) que

verificaram a existência de dor, sendo

o sintoma presente entre 10 a 30%

dos pacientes, e podendo apresentar

ou estar acompanhado de

sensibilidade dentária, parestesia,

fístula e erupção retardada dos dentes

permanentes.

Para a maioria dos autores no

que diz respeito à localização do COT,

a região mais acometida é a

mandíbula (corpo e sínfise) podendo

20

também acometer a maxila,

geralmente na porção anterior. Em

contrapartida, de acordo com

Rodrigues, Estrela 15 (2008), a maxila

pode ser afetada porém com menos

frequência e no caso de a mandíbula

a região que mais se acomete é a

mentoniana, no entanto, podem

ocorrer em região de pré-molares e

molares inferiores, região onde

localizou-se o COT do presente caso.

Em relação as características

radiográficas, Rodrigues et al.4 (1994)

abordaram em seus estudos que o

COT apresenta paredes finas,

geralmente com discreta expansão da

cortical. Para aos demais autores,

após realizar o exame radiográfico é

possível verificar uma imagem

radiolúcida delimitada de tamanho

variável unilocular ou multilocular.

Abbott2 (1992) salienta ainda a

possibilidade de haver bordas finas e

esclerosadas, podendo apresentar

margens recortadas quando se

estende entre as raízes dos dentes. As

raízes em questão devem revelar uma

lâmina dura intacta e a largura normal

do espaço do ligamento periodontal.

Não há deslocamento dos dentes. Os

autores alertam que as características

radiográficas, entretanto, podem

confundir o profissional levando a um

diagnóstico incorreto, como um grande

número de lesões radiolúcidas de

osso. Complementando essa idéia os

autores Azevedo et al.9 (2002)

abordaram que quando vários dentes

estão envolvidos com o COT, pode-se

observar projeções que se insinuam

em forma recortada entre as raízes

dando um aspecto de “escavamento”

ou “cúpula”. No presente caso

observou-se uma imagem radiolúcida

unilocular com halo radiopaco em

relação de imagem com as raízes e

não apresentando forma recortada

entre as raízes, discordando da

maioria dos autores.

Com relação ao diagnóstico

diferencial, as possíveis manifestações

podem ocorrer desde um cisto

periapical até se estender a

neoplasias. É claro que o diagnóstico

diferencial deve ser lançado após a

realização de um exame clínico

minucioso e a partir disso deve ocorrer

a solicitação de exames radiográficos

específicos. Segundo Olech et al.11

(1951) várias outras condições

patológicas devem ser levadas em

consideração, entre elas: doenças

inflamatórias da mandíbula

assemelhando-se a cistos(granuloma

e abscesso crônico), cisto radicular,

cisto dentígero, cistos de

21

desenvolvimentos, cisto

globulomaxilar, ameloblastoma,

neoplasias, fibroma central, carcinoma

metastático e disfunções metabólicas

que se assemelham a cistos como por

exemplo, hipotireodismo,

xanthomatoses e granuloma eosinófilo.

Para Rosen et al.6 (1997) pode haver

uma confusão com relação ao

diagnóstico diferencial devido ao

grande número de cistos

odontogênicos, neoplasias malignas e

outras lesões com aspectos

radiolúcidos relacionadas a osso.

Complementando a idéia dos autores

anteriormente citados, Azevedo et al.9

(2002) abordaram que o diagnóstico

diferencial deve-se basear no

tratamento e na localização do cisto e

inclui: cisto dentígero, tumor

queratocístico odontogênico,

granuloma central de células gigantes,

tumor odontogênico adenomatóide,

ameloblastoma, etc.

O tratamento do COT consiste

para a grande maioria dos autores a

exposição da cavidade cística e

posteriormente a curetagem da região

em questão, corroborando com o

presente relato, onde tal conduta foi

adotada. Rodrigues et al.4 (1994)

fizeram uma comparação ao

concluírem que o tratamento cirúrgico

foi mais satisfatório que a simples

observação da lesão, pois nos casos

tratados cirurgicamente com a

curetagem e mais o enxerto tiveram

bons resultados. Usaram inicialmente

o tratamento das lesões com injeção

intracavitária de corticóide e

posteriormente reportaram os

resultados satisfatórios da técnica.

Outra técnica simples e com bons

resultados relatados seria em se

realizar múltiplas perfurações

percutâneas no cisto e manter dois a

três fios de Kirschner penetrado na

cavidade, de modo a drenar seu

conteúdo. Os demais autores

preconizaram o tratamento mais

clássico para a remoção do COT que

seria a curetagem da cavidade cística

e enxertia, porém Volpon et al.3 (2000)

concluíram que existe a possibilidade

de um terço de recidivas, e outros

autores propuseram tratamentos mais

radicais como por exemplo Cowan12

(1979) que por sua vez seria a

extração do dente e posteriormente a

proservação do caso para o

monitoramento clínico e radiográfico

do COT. Entretanto, em se tratando de

uma lesão benigna, muitos autores

entendem que o tratamento deve ser

de baixa morbidade.3 Assim, tem lugar

para injeção intracavitária de corticóide

22

ou perfurações múltiplas da cavidade

císticas e a transfixação com fios de

Kirchner. Mesmo com essas medidas,

o índice de recidivas ainda é elevado.

Em contrapartida, estudos recentes

tem mostrado resultados satisfatórios

com a injeção de medula óssea, com a

regressão da lesão em 84% dos

casos. Manor et al.16 (2012)

abordaram estudos realizados em

diversas modalidades e dentre os

tratamentos incluíram a

marzupialização em 35% dos

pacientes, enucleação em 45% e a

enucleação associada com enxerto

ósseo em 19% por via intraoral.

5 CONCLUSÃO

O Cisto Ósseo Traumático

parece não apresentar sintomatologia,

sendo uma lesão essencialmente

benigna do ponto de vista clínico. O

cirurgião dentista deverá estar atento

aos exames radiográficos de rotina,

principalmente em pacientes da

segunda década de vida. O tratamento

na maioria das vezes envolverá

exploração cirúrgica com curetagem,

apresentando um excelente

prognóstico.

23

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