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  • 1

    PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE MINAS GERAIS

    Instituto de Cincias Humanas Pedagogia com nfase em Necessidades Educacionais Especiais

    ESCRITA DE SINAIS PARA ALUNOS SURDOS

    ROSELY LUCAS DE OLIVEIRA

    BELO HORIZONTE

    2009

  • 2

    NEUSA DONATA DE S. NASCIMENTO ROSELY LUCAS DE OLIVEIRA

    ESCRITA DE SINAIS PARA ALUNOS SURDOS

    Trabalho de concluso de curso para obteno de grau em Pedagogia com nfase em Necessidades Educacionais Especiais, no primeiro semestre de 2009. Alunas: Rosely Lucas de Oliveira.

    Orientadores: Prof. Dr.; Sheila Brasileiro

    BELO HORIZONTE

    Junho / 2009

  • 3

    OLIVEIRA, Rosely Lucas de.

    Escrita de Sinais para Alunos Surdos

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Graduao em Pedagogia com nfase em Necessidades Educacionais Especiais da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Licenciada em Pedagogia. Belo Horizonte, 16 de junho de 2009.

    _______________________________________________________ Prof. Sheilla Alessandra Brasileiro de Menezes (Orientadora) PUC Minas

    ______________________________________________________ Prof. Francisco ngelo Coutinho - Banca Examinadora Puc Minas

    ______________________________________________________ Prof. Rodrigo Rocha Malta - Banca Examinadora Puc Minas

  • 4

    impossvel para aqueles que no conhecem a lngua de sinais percebem a sua importncia para as pessoas surdas, sua enorme influncia sobre a felicidade moral e social dos que so privados da audio e sua maravilhosa capacidade de levar o pensamento a intelectos que de outra forma ficariam em perptua. Enquanto houver dois surdos no mundo e eles se encontrarem, haver o uso de sinais. (J.Schuylerhong)

  • 5

    RESUMO

    Expressar idias, sentimentos e emoes atravs de escrita sempre foi um

    grande desafio para as pessoas surdas. Desafios estes que encontramos

    diariamente no processo de alfabetizao e letramento desde a infncia at a

    juventude. Baseado nisto pretendeu-se desenvolver neste Projeto de Interveno o

    tema da escrita de sinais para crianas surdas.

    Este trabalho tem como finalidade verificar se a criana surda tem capacidade

    e habilidade para adquirir a Escrita de Sinais nos anos iniciais do ensino

    fundamental. Acredita-se que atravs deste sistema Sign Writing, as crianas com

    dificuldades no aprendizado da Lngua Portuguesa, utiliza de sua prpria lngua

    materna LIBRAS como referencial para construo de seu letramento.

    Posteriormente esse aprendizado ser relevante para a aquisio do portugus

    escrito como segunda lngua.

    Trs grandes autores so os norteadores da nossa pesquisa: Ronice Mller

    de Quadros, Marianne Stumpf e Vygostky. Com base nas discusses sobre

    letramento, linguagem, aquisio da lngua de sinais e lngua portuguesa, cultura

    surda e registros em escrita de sinais, fizemos uma interveno de cinco dias em

    duas turmas de alunos da rede municipal de Belo Horizonte em idade de

    alfabetizao. Essa atividade buscou introduzir os fundamentos da escrita de sinais.

    O trabalho ainda est em processo, portanto ainda no podemos apresentar

    concluses.

    Palavras-chaves: LIBRAS, Alunos Surdos, Escrita de Sinais.

  • 6

    Agradecimento

    Agradeo primeiramente minha famlia pelo apoio at aqui

    minha amiga Neusa, pelo carinho e as oportunidades oferecidas.

    Tambm agradeo comunidade surda, na qual aprendemos muito como

    conviver e obter as experincias aqui repassadas seja na escola especial ou regular

    nossa Orientadora Prof. Sheilla Brasileiro, obrigada pela motivao, auxilio

    e aprovao em nossa pesquisa, por acreditar em nosso desejo em expressar

    nossas opinies e desejo enquanto pessoas surdas.

    Prof. Marianne Stumpf pela contribuio nas pesquisas brasileiras em

    escrita de sinais e ao curso de Letras/LIBRAS da UFSC.

    Aos colegas do curso de Pedagogia com nfase em Necessidades

    Educacionais Especiais da PUC Minas.

    Aos profissionais Regiane e Guilherme Ramiro pela preocupao em minha

    pesquisa.

    Rosely Lucas

  • 7

    SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................................................................... 8

    2 ASPECTOS TERICOS SOBRE A SURDES: O SER SURDO.........................10

    2.1 A importncia da linguagem e da lngua ....................................................11

    2.2 Teorias educacionais para surdos..............................................................14

    2.3 A lngua de sinais e identidade ...................................................................15

    2.4 Alfabetizao dos surdos no Brasil ...........................................................17

    2.5 A escrita de sinais .......................................................................................20

    3 APRESENTAO ESCOLA MUNICIPAL TANCREDOS PHIDEAS

    GUIMARES...........................................................................................................28

    4 DESENVOLVIMENTO ...........................................................................................30

    4.1 A escolha da escola e conversas com a colaboradora...............................30

    4.2 Expositiva aula da Escrita de Sinais .............................................................31

    4.3 Analisar do resultado .....................................................................................33

    4.3.1 Dados Estatsticos ...............................................................................34

    5 CONCLUSO ........................................................................................................36

    6 REFERNCIA ........................................................................................................38

    7 APNDICE .............................................................................................................39

    8 ANEXOS ................................................................................................................41

  • 8

    1. INTRODUO

    A presente pesquisa parte da observao de um contexto de alfabetizao

    precria dos surdos brasileiros, em geral. Baseamos-nos no histrico da educao

    dos surdos e em nossas prprias experincias para elaborar essa pesquisa. Alm da

    observao da falta de metodologia para a alfabetizao dos surdos que utilizam a

    lngua de sinais como primeira lngua, o que nos instigou foi o surgimento de novos

    estudos nessa recente rea da escrita dos sinais. Atravs do curso de Letras/Libras

    da Universidade Federal de Santa Catarina que tem algumas disciplinas referentes

    ao tema pudemos ter contato com a escrita de sinais e observar o quanto ela pode

    ser rica nos registros da Libras.

    H, entretanto, algumas questes a serem colocadas. H um profundo

    desconhecimento e rejeio ao ensino da escrita de sinais nas escolas.

    Historicamente a prpria lngua brasileira de sinais sofre discriminao e o seu

    ensino nas escolas comum bastante recente. A escrita de sinais mais recente

    ainda e comeou no Brasil em 1996. Isso faz com que ela seja desconhecida ou

    vista com desconfiana.

    Alm disso, muitos professores acreditam que o ensino de escrita de sinais

    trabalhoso para as crianas surdas. Eles tambm no reconhecem a relevncia da

    escrita de sinais como registro da prpria lngua.

    Outra justificativa para essa rejeio de que o ensino de escrita de sinais

    no est previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB) 9394/96 e por

    isso muitas escolas no o adotam ou nem sequer ouviram falar desse mtodo de

    registro.

    Enfim, percebe-se que as escolas em geral no aceitam utilizar a escrita de

    sinais. A presente monografia partiu do pressuposto que isso pode gerar um atraso

    na alfabetizao da escrita do portugus. Esse atraso j existe porque geralmente

    faltam metodologias adequadas para a alfabetizao de crianas surdas, faltam

    recursos adequados, materiais didticos, planejamento, dentre outros. A maioria dos

    educadores utiliza a mesma metodologia aplicada os ouvintes e a est o grande

    fracasso da educao dos surdos. H um despreparo dos professores para o

    ensino e alfabetizao da criana surda e tambm da famlia, pois em geral, as

  • 9

    crianas surdas entram na escola sem letramento e sem o domnio da lngua de

    sinais.

    Em nossa pesquisa, temos o objetivo de iniciar o processo de alfabetizao

    de alunos surdos, j fluentes em Lngua Brasileira de Sinais, na escrita de sinais.

    Pretendemos ensinar noes bsicas da Escrita de Sinais e observar como as

    crianas se apropriam dessa escrita e como elas se expressam por meio dela. A

    idia observar as habilidades da criana surda em desenvolver a escrita de sinais

    em sala de aula, a partir do que ela j sabe de Libras. Para isso, desenvolveremos

    metodologias de iniciao no ensino de escrita de sinais para crianas surdas,

    buscaremos ensinar e estimular o desenvolvimento de escrita de sinais, alm de

    analisar como elas fazem o registro da sua lngua materna, sendo esse registro todo

    feito em Escrita de Sinais. Um dos pressupostos de que haja tambm o

    aperfeioamento do desenvolvimento da Lngua de sinais da criana surda, por meio

    do seu registro.

    A relevncia a pesquisa se ancora, primeiramente, no fato de que a escrita de

    sinais uma forma de defesa da lngua de sinais e, em ltima instncia, da cultura

    surda, historicamente discriminada. Na literatura mundial, os registros mais antigos

    sobre pessoas surdas so as passagens do Antigo Testamento que mostram que

    hebreus, egpcios e romanos j conviviam com os surdos e os consideravam

    inferiores (PERLIN, 2002). Desde ento, diversas representaes dos surdos e de

    tudo o que se refere a eles considerada menor ou inferior. Nesse sentido, a escrita

    de sinais vem apresentar uma forma de registrar a lngua de sinais e defender,

    assim, a cultura surda.

    tambm uma forma de registro da lngua de sinais. Assim como toda lngua

    tem a sua forma de registro e a sua grafia peculiares (ingls, mandarim, rabe,

    japons, dentre outros), a lngua de sinais tambm est em desenvolvimento de um

    modo escrito.

    Alm disso, acredita-se que a escrita de sinais facilita a alfabetizao da

    criana surda na lngua portuguesa como segunda lngua, considerando que a

    lngua de sinais a lngua materna dos surdos. Dessa maneira, a criana poder

    utilizar a escrita de sinais para que eles possam se expressar com mais facilidade

    alm de ajudar no desenvolvimento da lngua portuguesa. A maioria das crianas

    surdas tem dificuldade de utilizar a lngua portuguesa na forma escrita, assim a

    escrita de sinais pode ajudar no aprendizado da escrita do Portugus.

  • 10

    O ensino-aprendizagem da escrita de sinais se justifica nas dificuldades que a

    criana surda enfrenta na aprendizagem do portugus escrito por no ser sua lngua

    materna. Acredita-se que o ensino da escrita de sinais para a criana ir ajud-la na

    alfabetizao uma vez que ela aprender na modalidade escrita sua lngua materna

    a Libras, lngua est que a criana j faz uso na modalidade espao-visual. Assim

    sendo a aprendizagem da escrita de sinais facilitar a aprendizagem da lngua

    portuguesa na modalidade escrita.

    ASPECTOS TERICOS SOBRE A SURDES: O SER SURDO

    A maioria das pessoas surdas profundas no ouve, nem mesmo com

    aparelho auditivo. Com o aparelho alguns surdos podem melhorar a audio, mas

    dificilmente ouviro 100%. Se for surdez profunda dificilmente tero melhora

    auditivas. Muitos surdos, inclusive, se sentem incomodados com aparelho auditivo.

    Diante disso, muitos pais ficam desesperados e tentam fazer o possvel para

    seus filhos ouvirem. Por isso, muitos pais obrigam os filhos a falarem a todo custo, o

    que os leva a no desenvolver a linguagem da criana surda.

    Segundo Bernardino (2000), a condies da surdez muitas vezes pode passar

    inadvertida quando o beb muito pequeno, ou pode ser confundida com outras

    doenas, uma vez que a marca visvel pode ser a mudez, ou a ausncia da fala,

    de modo que difcil diagnosticar uma criana como surda antes dos dois anos,

    idade em que se espera que ela esteja falando. Quando o beb surdo,

    necessrio que os pais utilizem um meio de se comunicar espontneo. Na verdade,

    na maioria das vezes os pais acreditam na viso dos mdicos de que a surdez

    uma deficincia, uma falta, uma incapacidade. No percebem que o surdo capaz e

    deve-se, portanto, apostar em sua potencialidade.

    A nossa explorao terica vai tratar, primeiramente, da importncia da

    linguagem e da lngua para o desenvolvimento humano, a fim de defender o uso da

    lngua de sinais, lngua materna dos surdos, como meio de comunicao destes. Em

    seguida, faremos uma discusso sobre cultura e identidade surda, a fim de mostrar

    a relevncia da escrita de sinais para estas. Em terceiro lugar, vamos falar de

  • 11

    algumas teorias educacionais utilizadas para a alfabetizao dos surdos e localizar a

    escrita de sinais nesse contexto. Em seguida, falaremos, mais especificamente, da

    educao dos surdos. Por fim, discutiremos os aspectos tericos da escrita de

    sinais.

    A importncia da linguagem e da lngua

    Muitas vezes os surdos no adquirem a lngua de sinais, pois os pais no

    conhecem uma lngua para se comunicar com o surdo. por meio das primeiras

    comunicaes, ainda beb, que as pessoas adquirem linguagem e depois uma

    lngua. Temos como exemplo o filme O Enigma de Kaspar Hauser, em que um

    jovem de aproximadamente dezesseis anos, criado em um cativeiro sem qualquer

    contato com linguagem, encontrado em 1828 em uma rua com uma carta na mo

    que contava sua histria. O filme conta a histria de uma criana selvagem, sem

    aquisio de qualquer tipo de linguagem e que no consegue se comunicar.

    Podemos comparar com uma criana surda. Se a famlia no se comunicar isso

    pode acontecer. No haver o desenvolvimento da lngua de sinas e nem de lngua

    alguma.

    No relato da atriz surda francesa Emmanuelle Laborit (1994), em sua

    biografia, ela conta que at os sete anos de idade no sabia que cada pessoa tinha

    um nome. A palavra EU, a ela, no fazia sentido algum. Como todos se referiam a

    Emmanuelle por ELA, a menina surda desconhecia o sentido de si prpria. No

    havia o eu. Eu era Ela (LABORIT, 1994, p. 51).

    Garcz (2008) citou em sua pesquisa que no raro, encontra-se histrias de

    surdos que foram oralizados e que, antes de descobrirem a lngua de sinais, sequer

    entendiam o correr dos dias, o ontem, o hoje e o amanh. O neurolingista Oliver

    Sacks (1984) conta que atendeu uma criana de 11 anos que no tinha conscincia

    de tempo, de senso histrico e de cronologia e por isso no fazia distino entre um

    ano atrs e um dia anterior. Assim, a criana era incapaz de contar como passou o

    fim de semana. Nem ao menos entendia a pergunta que foi feita a ela.

    Sem uma linguagem, o surdo impedido de adquirir uma viso de mundo. As

    lnguas diversas da lngua orais tm estrutura prpria e so codificadores de uma

  • 12

    viso de mundo. LIBRAS tm gramticas e apresentando especificidades em todos

    os nveis (fonolgico, sinttico, semntico e pragmtico).

    Snchez, citados em Bernardino (2000): 1) comunicar entende tudo o que se passa conosco e com o mundo nossa volta, como nenhum animal ou nenhuma mquina, por mais sofisticada que seja, pode faz-lo; 2) pensar, ser inteligente, desenvolver o pensamento abstrato, o que nos permite observar, aprender, experimentar, explicar, inventar, criar, transformar o mundo e a ns mesmos.

    Bernardino (2000) aponta uma srie de estudos sobre a relevncia da

    aquisio da linguagem. A importncia desses estudos se d pelo fato de que indica

    caminhos para os fatores da lngua portuguesa para os surdos. Nesse sentido,

    preciso conhecer o desenvolvimento da linguagem e conhecer as condies que se

    impem ao processo de aquisio de uma segunda lngua. Isso deve ser o ponto de

    partida para qualquer profissional que objetive trabalhar com o ensino da lngua

    portuguesa para surdos. Os estudos sobre a aquisio da linguagem esto

    diretamente ligados com as diferentes abordagens sobre a aquisio. A abordagem

    comportamentalista um processo aquisio da linguagem que se d por estmulo,

    reforo, condicionamento, treino e imitao, (Skinner, 1957). A abordagem

    lingstica trata a linguagem como uma caracterstica da espcie humana, com forte

    base gentica em que o ambiente tem um papel menor no processo maturacional

    (Ckomsky, 1986). E a ltima abordagem interacionista (social e cognitiva), baseados

    em Vigotsky (1987), estrutura e regras gramaticais que a tornam diferente de outros

    comportamentos. Enfatizam o papel do ambiente na produo da estrutura da

    linguagem. Colocam que as regras gramaticais so desenvolvidas a partir de

    associaes e memorizaes no contexto social. Valorizam a linguagem dirigida

    criana que visa facilitar o desenvolvimento, considerando-a que o ambiente

    lingstico restringido por fatores que favorecem a Ah, fornecendo s crianas as

    experincias lingsticas necessrias.

    Segundo Vygotsky (1987), a evoluo intelectual caracterizada por saltos

    qualitativos. Para explicar isso desenvolveu o conceito de zona de desenvolvimento

    proximal e definiu como a distncia entre o nvel de desenvolvimento potencial,

    determinado atravs da soluo de problemas sob a orientao de um adulto, ou em

    colaborao com companheiros mais capazes. a que separa a pessoa de um

    desenvolvimento que est prximo, mas ainda no foi alcanado. O mesmo

    acontece com a lngua e a linguagem. O conhecimento s possvel atravs delas.

  • 13

    A criana nasce com apenas funes psicolgicas bsicas (ateno

    involuntria), tais funes transformam-se em funes psicolgicas superiores (como

    a conscincia, planejamento). Para que isso ocorra necessrio destacar a

    importncia do papel da linguagem. A linguagem tem a funo de processar a

    reelaborao dos contedos, interferindo no desenvolvimento psicolgico.

    A criana aprende essa lngua na interao com os pais e familiares

    (Vygotsky, 1984), sem necessitar de um ensino sistematizado. No preciso muito,

    basta possibilitar a interao com outros que ela aprende a lngua materna de uma

    forma natural, sem ter conscincia do est aprendendo a respeito da lngua. A partir

    do que a criana aprende em LIBRAS, vivencia em seu meio, ele levanta hipteses,

    cria, tira concluses a respeito da lngua.

    Por isso o pensamento de Vygotsky costuma ser chamado de

    sociointeracionista. H uma interao dialtica que se d, desde o nascimento, entre

    o ser humano e o meio social e cultural em que vive. O indivduo vai sendo formado

    a partir desta constante interao com o meio, que inclui as dimenses interpessoais

    e culturais.

    A Lngua Materna a primeira lngua (L1) aprendida por um sujeito, em

    contato com o ambiente familiar imediato. No Brasil, a lngua materna dos surdos a

    LIBRAS, lngua sinalizada por nossos familiares usurios em LIBRAS mais prximos

    e tambm pela comunidade surda em geral. Se formos morar em outro pas, por

    exemplo, em USA, e adotarmos a lngua ASL (Lngua de Sinais da Amrica) pela

    comunidade de l, a nossa lngua materna continua a ser a LIBRAS. Se tivermos um

    filho neste pas e se, a primeira lngua que ele aprender conosco for a LIBRAS, esta

    ser a sua lngua materna, mesmo que ele domine a lngua do pas onde est e a

    use na comunidade mais ampla e mesmo em famlia. Dizemos que o sujeito

    usurio nativo da primeira lngua que aprendeu.

    No caso dos surdos brasileiros, a primeira lngua natural a LIBRAS (L1) e a

    lngua portuguesa a segunda lngua (L2). Na verdade, o que acontece a famlia

    dos surdos, por falta de informao, pensa que o contrrio. No sabe usar lngua

    de sinais e, por isso, acaba por prejudicar a criana surda.

    A lngua de sinais e identidade

  • 14

    A primeira lngua (aquisio, aprender naturalmente, isto L1) dos surdos a

    Lngua de Sinais. A lngua escrita a ser ensinada (esforando a aprender o

    Portugus e outras lnguas, por exemplo) tida como 2a lngua (L2).

    A Lngua de Sinais considerada a lngua natural dos surdos. Lngua natural

    aquela que os indivduos adquirem na interao com outros usurios da Lngua de

    Sinais, sem necessitar de muito esforo e de um trabalho sistematizado. Os surdos

    adquirem assim a Lngua de Sinais (como os ouvintes adquirem o portugus oral).

    Para Ronice Quadros (1997) a lngua de sinais uma lngua natural adquirida

    de forma espontnea pela pessoa surda em contato com pessoas que usam essa

    lngua oral que aprendida com os ouvintes

    A primeira parte indica que ao ingressar na vida escolar a criana surda tem

    dificuldades de aprendizagem da lngua portuguesa como segunda lngua. Outra

    dificuldade dos professores que no tem conhecimento para aplicar estratgias de

    ensinar as duas lnguas, LIBRAS e portugus.

    A lngua de sinais constri a identidade surda, e a aceitao de uma lngua

    implica sempre a aceitao de uma cultura. A lngua de sinais est intimamente

    relacionada cultura surda que, por sua vez, remete identidade do sujeito que

    convive, quase sempre, com as duas comunidades (surda e ouvinte). importante

    analisar o modo com que os sujeitos inseridos em escolas bilngues se narram como

    sujeitos da comunidade surda. Sendo assim, o papel do professor surdo e da lngua

    de sinais no ambiente escolar essencial para que haja construo da identidade

    surda. Na sociedade, voc olha para um surdo na qualidade de sujeito interativo

    que se constitui nas relaes sociais. Enfim, na sociedade como um todo, comum

    encontrarmos, pessoas com culturas, lnguas e identidades diferentes. O mesmo

    ocorre na comunidade surda. Podemos encontrar surdos com identidades plurais e

    multifacetadas, biculturais, mas que falam uma mesma lngua: LIBRAS. como

    tudo se fosse um elo, tudo est relacionado com cultura, identidade e lngua, e no

    tem como separa.

    Os surdos se relacionam com outros surdos, pois tm a mesma lngua e mais

    facilidade para comunicar e alm de terem associaes para encontros informais.

    Isso acontece na famlia, j que a famlia no se comunica com os surdos. A autora

    aponta:

  • 15

    Os adolescentes, os adultos surdos, logo quando se tornam independentes da escola e da famlia, buscam relaes com outros surdos atravs da lngua de sinais. No Brasil, as associaes de surdos brasileiras foram sendo criadas e tornando-se espao de bate-papo e lazer em sinais para os surdos, enquanto as escolas especiais oralizavam ou as integravam crianas surdas nas escolas regulares de ensino. QUADROS (1997:72)

    Teorias educacionais para surdos

    So trs as teorias educacionais para surdos: 1) Oralismo; 2) Comunicao

    Total; e 3) Bilingismo, que defende a aprendizagem da lngua de sinais,

    reconhecendo o surdo na diferena e especificidade, e depois o aprendizado de

    portugus.

    Em geral, o oralismo quando a pessoa no tem contato com a lngua de

    sinais. A famlia, por orientao dos mdicos, probe os filhos de usar a lngua sinais

    e defende o aprendizado apenas da lngua oral. Na educao, toda a alfabetizao

    dos alunos feita por meio da fala. Mdicos, fonoaudilogos e alguns educadores

    acreditam na eficincia desse mtodo, mas ele tambm muito criticado.

    De acordo com SKLIAR (2001, p.124), Vygotsky criticava com veemncia os

    mtodos de ensino da lngua oral para surdos, opinando que o ensino da linguagem

    ao surdo est construdo em contradio com a sua natureza, mas tambm

    duvidava que a lngua de sinais fosse uma verdadeira linguagem a servio da

    formao social dos surdos e como um instrumento para a mediao dos processos

    psicolgico superiores.

    A segunda teoria de ensino para surdos a Comunicao Total, que

    reconhece as lnguas de sinais como direito da criana surda, mas que usa o

    portugus sinalizado, que emprega sinais. O portugus usado simultaneamente

    com a fala e os sinais. O mtodo chamado tambm de bimodalismo. Para se

    comunicar, o Bimodalismo usa o movimento da boca com a lngua de sinais.

    E a filosofia educacional que procura desenvolver todas as habilidades da comunicao. Tais como: a fala, a audio, os sinais, leitura, escrita e outros recursos. Aqui no Brasil e em outros paises, a comunicao total usa muito o Bimodalismo. FENEIS (1995)

  • 16

    A terceira teoria educacional o Bilingismo. um mtodo onde as pessoas

    usam o portugus escrito com a lngua de sinais. Isso leva a um desenvolvimento da

    lngua materna e facilitador do aprendizado de sinais e do portugus. No

    Bilingismo as pessoas podem aprender a falar, mas a nfase est em ser

    alfabetizado no portugus depois de aprender, com fluncia, a lngua de sinais,

    respeitando a sua estrutura.

    Segundo QUADROS (1997), o bilingismo uma proposta de ensino usada

    por escolas que se propem a tornar acessvel criana duas lnguas no contexto

    escolar outra e o portugus e considerado essa proposta como sendo mais

    adequada para o ensino de criana surda.

    No bilingismo, prope-se que o surdo adquira a Lngua de Sinais desde mais

    cedo, assim como os ouvintes adquirem a fala. Assim sendo, as crianas surdas

    passam por estgios muito semelhantes s ouvintes, estgio de um sinal; estgio

    das primeiras combinaes; estgio das mltiplas combinaes.

    Para Skutnabb-Kangas (1994:152) o bilingismo importante por garantir os

    direitos que os seres humanos tm de identificarem-se com uma lngua materna (s)

    e de serem aceitos e respeitados. Para ele, todos tm o direito de aprender a(s)

    lngua materna(s) completamente nas suas formas oral (quando fisiologicamente

    possvel) e escrita (pressupondo que a minoria lingstica seja educada na sua

    lngua materna). Alm disso, ele defende que todos tm o direito de usar a sua

    lngua materna em todas as situaes oficiais (inclusive na escola) e que qualquer

    mudana que ocorra na lngua materna seja voluntria e nunca imposta. Ento as

    pessoas surdas tm o direito de ser ensinadas na lngua de sinais. A proposta

    bilnge busca captar esse direito.

    Em uma educao bilnge h espao para a escrita de sinais, que

    promover o registro da lngua de sinais.

    Alfabetizao dos surdos no Brasil

    Partindo deste pressuposto a alfabetizao das crianas surdas s ter

    sentido se acontecer atravs da lngua de sinais. Uma atividade fundamental neste

    processo a contagem de histrias infantis na lngua de sinais. De acordo com

  • 17

    QUADROS (2006, p.54), O relato de estrias inclui a produo espontnea das

    crianas e do professor, bem como a produo de estrias existentes, portanto, de

    literatura infantil.

    Ainda de acordo com os estudos de Quadros (1997), Brasil h uma

    preocupao com a educao do surdo e que os processos para o desenvolvimento

    tambm da linguagem utilizam um mtodo de Oralizao. A maioria dos adultos

    surdos fracassou na aquisio da lngua portuguesa, porque os surdos tm como

    primeira lngua a LIBRAS e como segunda o portugus. Isso por que professores

    no preparam um mtodo prprio para surdos.

    Se o surdo usa mais o concreto, como faz atravs da lngua visual-espacial,

    crianas surdas conseguem desenvolver quando a escola tem a LIBRAS? Segundo

    Quadros (1997) sim, mas escola precisa se preparar para garantir o acesso a

    LIBRAS. Se a LIBRAS no estiver presente, as crianas surdas no aprendem. A

    educao de surdos continua fraca, pois na escola no tem a lngua de sinais e

    preciso que tenha a lngua de sinais. A criana ouvinte vai escola e aprende

    portugus e tem mais facilidade, porque o portugus sua primeira lngua. A autora

    afirma que:

    A escola torna-se, portanto, um espao lingstico fundamental, pois normalmente o primeiro espao que a criana surda entra em contato com a lngua brasileira de sinais. Por meio da lngua de sinais, a criana vai adquirir a linguagem. Isso significa que ela estar concebendo um mundo novo usando uma lngua que percebida e significada ao longo do seu processo. Todo esse processo possibilita a significao por meio da escrita que pode ser na prpria lngua de sinais, bem como, no portugus. QUADROS (2006:)

    Vrios so os desafios apontados pelos professores de surdos em idade de

    alfabetizao. Ronice Quadros (1997) cita:

    As crianas chegam a um determinado nvel e trancam. As crianas no conseguem sair da representao da palavra. No consigo fazer com que eles escrevem um texto. Eles conseguem escrever somente as palavras trabalhadas em aula e assim por diante. QUADROS (1997:75)

    Mas alguns os professores precisam avaliar o seu trabalho com crianas

    surdas e mudar o mtodo. Como usar um processo de alfabetizao para crianas

    surdas que usa o nvel silbico? Para compreender a escrita os surdos precisam

  • 18

    visualizar essa escrita. O som no faz sentido, j que os surdos no se escutam. A

    leitura labial tambm problemtica e o aluno surdo pode se perder. Para a criana

    surda oralizada quase impossvel aprender a lngua portuguesa escrita atravs da

    lngua oral, porque ela s entende 20% do que transmitido oralmente. A criana

    oralizada s ser capaz de captar a fala atravs leitura labial, portanto fica difcil

    para entender. E na verdade a maioria das crianas que usa a oralizao no a

    entende, por isso que usa mais a visualizao. No Brasil usa-se mais a escrita

    alfabtica da lngua portuguesa, mas no tem como a criana significar em LIBRAS.

    possvel usar palavras em LIBRAS, mas se acompanhar com portugus falado,

    figura-se como portugus sinalizado e no como a Libras.

    A autora acredita que o processo de alfabetizao vai sendo delineado com

    base neste processo de descoberta da prpria lngua e de relaes expressadas por

    meio da lngua. QUADROS (2000, p.55). Ronice Quadros afirma que no momento

    em que a criana surda aprender o portugus escrito elas ter o mesmo portugus

    que a criana ouvinte. Deve-se diferenciar o portugus de mtodos artificiais de

    estruturao de linguagem, que usam o portugus sinalizado. Esses mtodos so a

    causa do fracasso na aquisio do portugus de muitos alunos surdos. Se crianas

    surdas conseguem usa a escrita das lnguas de sinais, tambm conseguiro

    alfabetizao visual. No entanto, apresenta-se a seguinte constatao:

    Alfabetizadores percebem que quando a criana surda atinge o nvel silbico de sua produo escrita, ela se apia na leitura labial da palavra.Esse processo acontece at a criana precisar passar do nvel da palavra para nvel textual, nvel em que os problemas com o portugus escrito permanecem tendo em vista a limitao da leitura labial. QUADROS (1997:84)

    Na verdade os alunos entendem as palavras, s que no conseguem

    entender o sentido do texto no portugus. Ela cita algumas do s regras o que pode

    se ensinar para a criana surda:

    O processamento cognitivo espacial especializado dos surdos; O potencial das relaes visuais estabelecidas pelos surdos; A possibilidade de transferncia da LIBRAS para o portugus; As diferenas nas modalidades das lnguas no processo educacional; As diferenas dos papis sociais e acadmicos cumpridos por cada lngua; As diferenas entre as relaes que a comunidade surda estabelece com a escrita tendo em vista sua cultura; Um sistema de escrita alfabtica diferente do sistema de escrita das lnguas de sinais; e

  • 19

    A existncia do alfabeto manual que representa uma relao visual com as letras usadas na escrita do portugus. QUADROS (1997:85)

    E como pode ser o ensino de lngua: usar de acordo com ambiente, em

    interao, idade, estratgia e estilos de aprendizagem, fatores emocionais, fatores

    sociais e a motivao dos alunos. Tudo isso importante para o ensino da criana.

    Portanto o que a criana usa mais visualmente vale a pena ser utilizado na

    aprendizagem. A escrita de sinais pode ser um meio visual para a alfabetizao no

    portugus.

    No lugar de se usar mais a fala, que no natural, pois o surdo no aprende

    naturalmente para o portugus, devese ensinar usandose a LIBRAS. Nota-se que

    os surdos sabem a LIBRAS e escrevem como a LIBRAS. Tambm importante que

    o aluno mais tempo de contato com a L2. O aluno pode ter oportunidade de ler

    estrias escritas em portugus e tambm aprend-las usando a lngua visual-

    espacial como a escrita de sinais. Deve-se deixar que a criana escreva como base

    na LIBRAS, e s depois da produo que a professora deve corrigir para que os

    alunos aprendam o portugus correto. Ronice Quadros constata:

    A Interveno do professor representa o feedback para o aluno surdo possibilitando a reflexo sobre hipteses que criou na sua produo

    (output). QUADROS (1997:17)

    A criana precisa de atividade que atendam seus interesses. Isso

    importante para aulas com classe em nmero reduzido (5 a 10 alunos) para

    conhecer todos os alunos se tem habilidade de aprendizagem e facilidade de ensino

    L2. Entretanto no bom que se obrigue a criana surda a aprender o portugus a

    fora. Isso pode levar os alunos a desistirem aprender portugus. necessrio

    estimular. Os surdos adultos j sabem que precisam aprender portugus, mas a

    criana no.

    Alm disso, h muitas especificidades culturais na lngua, que tornam o

    aprendizado do portugus mais difcil para os surdos. Por exemplo: gua mole em

    pedra dura tanto bate at que fura. uma metfora que o surdo tem que saber no

    portugus.

    Quadros (1997) orienta todos os profissionais da pedagogia a se

    preocuparem com o ensino para a criana surda. Se os professores no se

  • 20

    comunicarem com o aluno em lngua de sinais, eles no vo conseguir a aquisio

    em L2. Ela conclui que:

    a aquisio da linguagem que deve ser garantia atravs de uma lngua espao-visual, isto ,uma lngua de sinais (no caso do Brasil, a LIBRAS); a alfabetizao que deve acontecer naturalmente atravs da escrita das lnguas de sinais; a aquisio do portugus que envolve um processo de aquisio de L2 . QUADROS (1997:87)

    A escrita de sinais

    Ronice Quadros acredita que a alfabetizao dos surdos deve ser feita

    atravs da escrita das LIBRAS.

    Fonte: Artigos Aquisio de L1 e L2: o contexto da pessoa surda

    Fonte: Artigos Aquisio de L1 e L2: o contexto da pessoa surda

    Entretanto, importante se compreender a escrita das LIBRAS, pois a criana

    precisa estar acostumada com esses smbolos. Com a escrita espontnea das

  • 21

    crianas h uma ajuda no portugus escrito. Bernardino (2000) tambm considera

    importante o ensino da escrita de sinais, pois ele auxilia no desenvolvimento

    cognitivo, afetivo e social da criana surda.

    Na dcada de 1920, Vygotsky cria em Moscou o Instituto de Estudos de

    Deficincias. Publicou tambm um trabalho voltado para este pblico: Problemas da

    Educao de crianas, cegas, surdas-mudas e retardadas apresentando reflexes

    acerca desta temtica.

    O objetivo da teoria de Vygotsky pode ser representado pela caracterizao

    dos aspectos humanos do comportamento, as chamadas Funes Psicolgicas

    Superiores pela elaborao de hipteses de como essa caracterizao se forma, ao

    longo da histria humana, e de como se desenvolve, durante a vida. Vygotsky, parte

    da premissa de que o homem se constitui como tal atravs de suas interaes

    sociais, portanto, visto como algum que se transforma nas relaes produzidas

    em determinada cultura.

    consistia em examinar como as funes-psicolgicas como a memria, a ateno, a percepo e o pensamento- aparecem primeiro em forma primria para logo se transformar em formas superiores. Para fundamentar sua tese, distingue entre a linha de desenvolvimento natural e a linha de desenvolvimento social(cultural). O desenvolvimento natural produz funes com formas primrias, enquanto o desenvolvimento cultural transforma os processos elementares em processos superiores. Vygotysk (1994:27)

    A escrita da lngua de sinais promove exatamente isso. Uma passagem da

    percepo para o entendimento. Ela utiliza smbolos visuais para representar as

    configuraes de mo, os movimentos, as expresses faciais e os movimentos do

    corpo das lnguas de sinais. Este alfabeto - uma lista de smbolos visualmente

    delineados utilizado para escrever movimentos de qualquer lngua de sinais no

    mundo.

    O SignWriting foi criado por Valerie Sutton em 1974. Sutton criou um sistema

    para escrever danas e despertou a curiosidade dos pesquisadores da lngua de

    sinais dinamarquesa que estavam procurando uma forma de escrever os sinais.

    Portanto, na Dinamarca foi registrada a primeira pgina de uma longa histria: a

    criao de um sistema de escrita de lnguas de sinais. Conforme os registros feitos

    pela Valerie Sutton1, em 1974, a Universidade de Copenhagen solicitou Sutton que

    registrasse os sinais gravados em vdeo cassete. As primeiras formas foram

    1 http://www.signwriting.org

  • 22

    inspiradas no sistema escrito de danas. A dcada de 70 caracterizou um perodo

    de transio de Dancewriting para SignWriting, isto , da escrita de danas para a

    escrita de sinais das lnguas de sinais. O pesquisador surdo francs Roch

    Ambroise Bbian que trabalhava no Institut National de Jeunes Sourds de Paris -

    INJS de Paris antes do Congresso de Milo foi o primeiro a criar um sistema

    para escrever a escrita em SW.

    A escrita um cdigo de comunicao secundria em relao linguagem articulada oralmente ou sinalizada. Dizemos que ela um sistema de representao porque signo grfico serve para anotar uma mensagem oral ou sinalizada a fim de poder conserva - l ou transmiti. Eles representam graficamente a mensagem. (Stumpt, 2007).

    A escrita de sinais importante, pois promove o registro da cultura. Faz uma

    escrita prpria da lngua de sinais. Percebe-se hoje que a histria dos surdos sofreu

    prejuzos no seu registro porque o grupo de surdos mais velhos que se comunicava

    por meio da lngua de sinais aprendida naturalmente, mas como todos os registros

    histricos eram feitos em portugus, os surdos mais velhos deixaram de registrar a

    histria das associaes, das comunidades e da cultura surda.

    Por no terem tido a oportunidade, h anos atrs, de conhecerem e usarem a

    escrita da prpria lngua de sinais muitos surdos deixaram de registrar sua histria e

    cultura atravs dos tempos at hoje. E, se fizeram na escrita de outra lngua

    (portuguesa ou outra) foram pouqussimos, pois essas outras lnguas so de difcil

    compreenso para eles e, raramente, faz produzir sentidos verdadeiros.

    Os surdos, com certeza, teriam mais motivao e criatividade para registrar

    sua cultura e histria, sem se preocupar com o registro em outras lnguas, pois isso

    poder ser feito por tradutores, para outras lnguas.

    A cultura Surda est minimamente registrada, porque as situaes que os surdos vivem, no conseguem escrever em sua prpria lngua. STUMPF (2007)

    At hoje h uma influncia de que obrigatria a escrita em portugus. E

    como os surdos tm dificuldade de fazerem leituras em portugus, no tem acesso

    nem produo e nem leitura de textos. Essa influncia da obrigatoriedade do

    portugus faz com que haja uma valorizao de apenas uma lngua. Isso promove o

    desrespeito a qualquer outra lngua que seja utilizada no Brasil.

  • 23

    Denomina-se ento que a escrita de sinais Sign writing vem como um artefato cultural linguistico. E foi um fato histrico importante para o povo surdo, pois, outrora, diziam que a lngua desse povo era grafa. STROBEL (2008)

    Assim, aprende-se primeiro a lngua de sinais, sabe-se o conhecimento

    construdo na minha prpria lngua e depois aprende a escrita de sinais como

    facilitador para a lngua de portuguesa.

    Para os ouvintes a escrita de portugus importante, pois a escrita em

    portugus o registro da fala do ouvinte, mas se o povo surdo, a escrita em

    portugus no faz muito sentido, pois para que se escreva em contexto de

    portugus precisa conhecer as regras da gramtica de portugus que tem

    combinao com o som. Acredita-se ser a escrita de sinais o registro da lngua de

    sinais de muita utilidade, pois so os sinais registrados no papel, assim como h

    outros povos que registram sua lngua no papel, como no Japo, onde h uma

    escrita que mais parece desenho. Todo o povo tem sua escrita que diferente de

    outros povos, que tem sua prpria gramtica e contexto. O povo surdo precisa ter

    sua escrita tambm.

    Os ouvintes j registraram sua lngua no papel e o povo surdo ainda no

    registrou. Ento os surdos so influenciados a saberem a gramtica de portugus

    que no da sua lngua natural. Segundo Stumpf (2007), a importncia dos surdos

    desenvolverem sua prpria escrita seria que, ao ter sua escrita em Libras, ajudariam

    aos outros surdos a se desenvolverem em todas as reas: educao, vida social,

    famlia, trabalho. A escrita ajuda muito a desenvolver a lngua de um povo. O ouvinte

    sempre est lendo para ajud-lo em seu discurso. Quando o ouvinte l alguma

    escrita ele se recorda do que aprendeu, e assim ser com o surdo quando tiver

    acesso escrita em Libras. A escrita de sinais vai ajudar o surdo em seu discurso

    em Libras. As nossas crianas quando aprenderem escrita em SignWriting vo

    desenvolver com mais facilidade at mesmo em outras lnguas. O modelo bilnge/bi

    cultural ajuda os surdos a dominar vrias lnguas e a ter interao com outros povos

    como: os ouvintes, surdos de outros pases, escrita de portugus e estrangeiro.

    Assim os surdos no ficam limitados somente s lnguas de sinais.

    A escrita de sinais fundamental para os surdos escreverem por sua prpria

    lngua, pois tem a modalidade gestual-visual a ser escrita, pode representar idias e

    usar o pensamento na forma visual. Quando os surdos adquirem o conhecimento e

    querem guardar as experincias da vida social. Querem expressam sua lngua de

  • 24

    sinais, mas nem sempre possvel colocar o registro no papel para guardar as

    coisas e para narrar a histria de experincia de vida de surdos usando a lngua

    portuguesa como a segunda lngua. Por isso, importante usar a escrita de sinais

    para lembrar como o registro de cultura surda. Para um povo ouvinte, fala e escrita

    de lngua portuguesa so registradas porque fornecem o sentido para ele aprender,

    na lngua dele, a fala do outro ouvinte.

    A construo da escrita passa pela experimentao de hiptese. Na teoria de

    Piaget, o conhecimento objetivo aparece como uma aquisio, e no como um

    dado inicial. Segundo Piaget certos instintos, reflexos deixam de funcionar

    normalmente por falta de um meio apropriado em um determinado momento. Nos

    bebs surdos podemos observar este fato, em relao aos balbucios iniciais,

    comuns a todos os bebs, tambm aos surdos, que desaparecem ao invs de

    evoluir para a fala por falta do estmulo auditivo, que seria proporcionado pelo meio.

    A escrita da lngua de sinais capta as relaes que a criana estabelece com a lngua de sinais. Se as crianas (surdas) tivessem acesso a essa firma de escrita para construir suas hipteses a respeito da escrita, a alfabetizao seria uma conseqncia do processo. A partir disso, poder se ia garantir o letramento do aluno ao longo do processo educacional. Quadros,2003.

    Soares, citado em Trindade (2002) cita que

    O letramento vai alm da alfabetizao, porque o primeiro ultrapassa o simples ato de aprender a ler e a escrever, j que consiste no entendimento do uso dessas capacidades dentro de prticas sociais que se fundamentam no texto impresso (Soares apud Trindade, 2002).

    Por isso, a criana surda deve conhecer desde beb com a Lngua de Sinais

    para adquirir da Linguagem. Com o letramento, depois a criana surda j capaz de

    se desenvolver e pode ser alfabetizar.

    Interessante o que o artigo revela sobre isso. A autora cita

    Smolka (2003), (...) as crianas no escreviam para registrar uma idia, nem para documentar um fato, nem por necessidade ou prazer de comunicar ou interagir com algum. As crianas copiavam palavras soltas, provavelmente com algum significado para elas, mas sem articulao e sem sentido(as palavras tem, certamente um significado, mas que elas podem no ter sentido algum para as crianas (49).

  • 25

    Na verdade, a criana surda s aprendeu a copiar e no desenvolve

    significados, por isso a criana s consegue entender com a visualizao e com a

    escrita dos prprios sinais.

    A autora tambm cita Quadros,

    (...) a escrita alfabtica da lngua portuguesa no Brasil no serve para representar significao com conceitos elaborados na LIBRAS, uma lngua visual espacial. Um grafema, uma silaba, uma palavra escrita no portugus no apresenta nenhuma analogia com um fonema, uma slaba e uma palavra na LIBRAS, mas sim com o portugus falado. A lngua portuguesa no um a lngua natural da criana surda.. (p. 5),

    Assim, a lngua portuguesa no substitui da lngua de sinais, pois a estrutura

    gramatical diferente da lngua de sinais.

    A escrita de sinais pode ajudar a criana surda, para visualizar e registrar da

    escrita de sinais e tambm pode ajudar a o portugus escrito.

    O programa de escrita de sinais gerou um software que veio dos EUA. Sign

    Writer um editor de textos em sinais desenvolvido por Richard Gleaves e difundido

    pelo Deaf ction Committe (EUA). Tambm outro programa SW-Edit um editor de

    textos de lnguas de sinais, multi-plataforma, com interface tipo Windows,

    desenvolvido pela Universidade Catlica de Pelotas, pelo professor Rafael Piccin

    Torchelsen e Antnio Carlos da Rocha Costa. H tambm:

    SignTalk que tem como objetivo a interao tanto atravs da LIBRAS quanto

    do Portugus via chat,

    Figura 3 - SignTalk (Souza, 2002)

    Fonte: BARTH, 2007

    SignSim, que um tradutor semi-automtico entre lngua de sinais e glosas

    em lngua oral,

  • 26

    Figura 4 SignSim (Souza, 2002)

    Fonte: BARTH, 2007

    SignEd, que um editor de sinais escritos, para utilizao no SignTalk e no

    SignSim.

    Figura 5 - SignSim (Souza, 2002)

    Fonte: BARTH, 2007

    O teclado virtual para escrita pode ajudar a alfabetizar a criana surda e ainda

    no desenvolvimento que tem como base linguagens de programao que

    possibilitem maior facilidade na sua aquisio por qualquer usurio.

  • 27

    Figura 6: Layout do Teclado Virtual para escrita da LIBRAS

    Fonte: BARTH, 2007

    Este software oferece uma interface que adiciona diversas ferramentas ao

    desenvolvedor, como criao de recursos grficos, entre eles imagens.gif e .jpg, e

    filmes animados no formato .swf; importao de arquivos externos, tais como vdeo e

    udio, criados ou editados em outros programas.

    Citando autora Quadros, quanto alfabetizao, parece que as crianas

    surdas alfabetizam-se naturalmente quando em contato com o sistema escrito das

    lnguas de sinais. Por outro lado, o processo de aquisio/aprendizagem do

    portugus no essencial, mas necessrio na sociedade brasileira; assim sendo,

    os alunos surdos precisam adquirir o portugus escrito.

    APRESENTAO NA ESCOLA MUNICIPAL TANCREDOS PHIDEAS

    GUIMARES

    Ensino Fundamental Completo (1, 2 e 3 ciclo), que uma escola regular e

    trabalha com a incluso de alunos surdos.

    O espao fsico da escola se constitui de quadra de esporte, biblioteca com

    acervo que inclui alguns livros sobre surdez e dicionrio de libras, auditrio,

    refeitrio, sala dos professores, salas bem distribudas. Tem uma estrutura completa

    embora no seja muito grande.

  • 28

    Os alunos de 06 a 15 anos comeam no 1 ciclo, que equivale a pr-escola do

    Ensino Fundamental, e vo at o 3 ciclo. A escola inclui alunos de diferentes

    classes, scio-econmicas e culturais alm de pessoa surda, com deficincia

    mental, visual e com dificuldade de locomoo. Existem muitos alunos com

    deficincias, e alguns casos com deficincias mltiplas. Ao todo so 650 alunos de

    manh e a tarde, sendo 54 o nmero de aluno surdos, que estudam pela manh.

    O perfil dos alunos surdos variado, porque tem alunos de vrias idades e

    vrios nveis de conhecimento. Nenhum aluno surdo oralizado e todos so

    sinalizados. Eles aprenderam Libras na prpria escola, que conta com instrutores

    surdos. A escola tem alunos ouvinte e as turmas no so mistas. Os alunos surdos e

    ouvintes tm contato apenas durante os intervalos. Os alunos, em geral, so de

    baixa renda,

    Quanto aos professores, so formadas em curso superior de Pedagogia,

    Letras, Filosofia, Educao Fsica, dentre outros. Alguns tm ps-graduao e so

    efetivos. H tambm estagirios para acompanharem os alunos com dificuldade

    locomotora, alm de dois instrutores de Libras para estimular a lngua de sinais e

    trs intrpretes de lngua de sinais para interpretar os alunos surdos, pois so

    poucos os professores que conhecem a lngua de sinais. Os instrutores so

    tercerizados, atravs de uma parceria com a associao dos Surdos de Minas

    Gerais, alm dee 1 estagirio.

    Em 2003, a Secretaria da Educao determinou que esta escola fosse plo

    da regional para receber alunos surdos.

    A relao entre professor e aluno acontece de forma democrtica, o professor

    tenta priorizar o respeito mutuo. Atualmente tm acontecidos alguns casos de

    violncia por parte dos alunos que necessitam de atendimento especifico psicolgico

    mdico. No geral convivem com uma famlia desestruturada.

    A escola segue a linha do Programa Curricular Nacional (PCNs) que o

    governo federal sugere para escolas. Em relao a LIBRAS, a valoriza como 1

    lngua do surdo.

    No existe nenhuma discusso profunda em relao a etnia, religio, classe e

    gnero. No que tange a religio a escola favorece as religio, crists, omitindo uma

    debate mais amplo em relao outras religies.

  • 29

    So avaliados atravs de prova internas e provas elaboradas pelo governo.

    Trabalhos em grupo ou individual e exerccios dentro da sala de aula com conceitos

    padronizados, para avaliar 1, 2 e 3 ciclo.

    De 3 em 3 meses faz-se uma avaliao dos alunos, os professores discutem

    a situao de cada aluno revelando quais as suas dificuldades.

    DESENVOLVIMENTO

    4.1 A escolha da escola e conversas com os colaboradores

    No ano de 2008, ficamos sabendo que a instrutora Clarissa Fernandes Dores,

    dessa escola, estava ensinando escrita de sinais para a turma do 1 ciclo.

    Combinamos com ela de fazer um projeto de interveno com alunos surdos, que

    seria a nossa monografia.

    Neste ano, ao conversar com o coordenador da escola Cssio de Souza e

    apresentarmos o projeto de interveno, o mesmo ficou interessado, mas a

    execuo do projeto dependia da liberao da diretora Marlinda Tadeu S. Ferreira,

    que permitiu a interveno. Inicialmente, ns gostaramos de fazer a interveno na

    turma do 1 ciclo, ainda em incio da alfabetizao, por acreditarmos que os

    resultados seriam mais interessantes do que em alunos em estgio mais avanado

    de alfabetizao. Entretanto, o coordenador sugeriu que fizssemos em outra turma,

    do 2 ciclo, porque a professora dos menores no autorizou a interveno na turma

    do 1 ciclo.

    No segundo dia de visita escola nos reunimos com a professora Snia

    Maria Menezes de Sousa e com o Instrutor de Libras Nivaldo Mariano. Explicamos

    sobre o projeto de interveno, que foi bastante elogiado pela professora da turma

    do 2 ciclo. Combinamos o horrio para trabalhar com a turma para evitar que eles

    fossem prejudicados nas aulas regulares. A prpria professora organizou o horrio

    das aulas de escrita de sinais.

    As aulas duraram 9 dias, sendo duas horas de aula por dia.

  • 30

    4.2. Aula da Escrita de Sinais

    No primeiro dia, o instrutor Nilvaldo ministrou a aula de LIBRAS e ns

    observamos. Em seguida, o professor nos apresentou e apresentou a turma. Ele

    explicou sobre a Escrita de Sinais e sobre o perfil dos alunos:eles so fluentes em

    Lngua de Sinais, ao todo so 16 alunos surdo, com idade de 10 a 16 anos. Uma

    das alunas possui dificuldade locomotora parcial com paralisia cerebral, mas

    consegue entender e se comunicar. Ela j est em processo de alfabetizao e tem

    boa escrita em portugus. Explicamos, em seguida para os alunos, que Escrita de

    Sinais. Uma das alunas j conhecia, pois j aprendeu no ano passado. Ela tambm

    explicou aos colegas o que era e mostrou um exemplo no quadro. Escrevemos os

    sinais no quadro e os alunos no conseguiram entender. Mostramos exemplos da

    escrita em portugus, escrita em ingls, escrita em rabe e escrita do Japo.

    Lanamos a pergunta: mas e a LIBRAS, cad a escrita? Os alunos ficaram refletindo

    enquanto distribumos as folhas brancas para eles escreverem os sinais. Primeiro

    mostramos exemplos de sinais como casa e perguntamos aos alunos sobre a

    configurao de mo B, que gera vrios sinais, tais como AMIGO. Assim, eles

    escreveram sinais. Os alunos ficaram bem animados, mas o tempo ficou curto e ao

    final da aula distribumos as folhas com a configurao de mos para os alunos

    conhecerem cada configurao de mos.

    No segundo dia, o coordenador pediu que os alunos de outra turma, com 5

    alunos, se juntassem a nossa turma, pois a professora faltou. Mesmo com esses

    alunos, avaliamos somente da turma de 10. Organizamos grupos, explicando aos

    alunos e relembrando o contedo do dia anterior: o que Escrita de Sinais.

    Perguntamos aos alunos e eles responderam sobre os registros da escrita de sinais.

    Em seguida, distribumos o jogo de baralho em escrita de sinais em configurao. A

    atividade consistia no grupo escolher, sem ver, quais configuraes de mo. Os

    alunos precisavam identificar qual o sinal e escreve no papel em escrita de sinais. O

    grupo registrou os sinais de acordo com a configurao de mo, conforme a figura 5.

  • 31

    Figura 7: Baralho configurao de mo

    No terceiro dias, percebemos que os alunos estavam inquietos e ficavam em

    p. Ento fizemos cartazes para pendurar no quadro escrito em escrita de sinais

    SILNCIO, OBENDECER, POR FAVOR, E SENTAR, conforme a figura 6. O

    interessante que os alunos identificaram os sinais. Deixamos pendurado no quadro

    para alunos sempre lembrarem. A terceira da atividade consistia em mostrar

    exemplos aos alunos sobre os sinais das professoras e pedir aos alunos que

    escrevessem no quadro o sinal deles e depois escrever no papel, e depois escrever

    em SW o sinal do colega de quem eles gostam mais.

    Figura 8: Quadro

    No quarto dia de aula, para relembrar a escrita de sinais, os alunos

    escreveram o que eles lembravam. Depois, fizemos a leitura de histrias em escrita

    de sinais em grupos. Foram 5 grupos, com as seguintes histrias: Ado e Eva,

    Cacho Dourados, A rvore surda, Viva as diferenas, Ivo. Os alunos liam o livro e

    faziam o reconto da histria, explicavam o que entenderam. Depois distribumos a

    figura 7 com sinais para os alunos identificarem os sinais e formarem frases.

  • 32

    Figura 9: Figura da escrita de sinais

    No quinto dia, distribumos as folhas com a datilologia do alfabeto manual e

    nmeros. Os alunos copiaram e repetiram, alm de escreverem o nome, datas, ms

    e ano. Essa atividade serviu para os alunos conhecerem a datilologia e

    desenvolverem habilidade em escrever nomes e nmeros, pois tem alfabeto manual

    do registro.

    No 6 dia de aula distribumos duas atividades para identificar a escrita de

    sinais e escreverem em portugus. Os alunos ficaram bem animados e responderam

    a atividade muito rapidamente. O objetivo da atividade era perceber se os alunos

    conseguiam identificar o alfabeto manual. A atividade est em anexo.

    No ltimo dia de aula, distribumos duas atividades, uma para ligar a escrita

    de sinais gravura. O tema era material escolar. O objetivo era perceber se eles

    conseguiam identificar a escrita de sinais em ligao com as gravuras. A segunda

    atividade era para descobrir a escrita de sinais dos animais e colar onde fica o

    desenho dos animais. O objetivo era procurar as figuras dos animais e ligar escrita

    de sinais.

    4.3. Anlise dos resultados

    Observando os resultados, conclumos que os alunos so fluentes em Lngua

    de sinais. Percebemos que os alunos tm facilidade de visualizar e identificar a

    escrita de sinais. Isso, em parte, se deve fluncia em Libras. Mesmo a aluna com

    deficincia locomotora se mostrou com facilidade de identificar a escrita de sinais.

    Ela possui dificuldade com Lngua de Sinais. Por causa das mos ela no consegue

    sinalizar, mas consegue entender e se comunicar.

  • 33

    Percebemos que os alunos gostaram muito da atividade e ficaram com muita

    curiosidade em escrita de sinais. No comeo eles desenhavam partes do corpo e

    tambm do cabelo, desenhos que remetiam aos sinais e que tem a ver com a

    prpria escrita de sinais. Entretanto eles no conheciam os smbolos. Depois que

    mostramos os smbolo da escrita de sinais eles identificaram com facilidade devido

    concretude do smbolo.

    Na leitura dos livros de histrias, percebemos que foi um pouco difcil, porque,

    no trabalhamos mais profundamente caractersticas da escrita de sinais tais como

    direo, movimento e locao. Ensinamos apenas o bsico, e os alunos tiveram

    alguma dificuldade na leitura para entender a escrita de sinais. Nos perguntavam

    vrias vezes e depois que explicamos eles compreenderam, mas o aprendizado no

    foi aprofundado.

    Como resultado, observamos que os alunos tm facilidade de aprendizagem

    e percebemos que eles tm boa vontade de aprender, ficaram com curiosidade de

    perguntar qual palavras em portugus do sinal da escrita de sinais, pois um sinal

    tem vrios significados por isso os alunos queriam saber qual nome. Este

    depende do contexto quem no estiver escrita portugus.

    4.3.1 Dados Estatsticos

    Distribumos o roteiro de entrevistas para as professoras. Uma sntese das

    respostas est nos grficos das entrevistas. Foram 7 entrevistados, entre

    professores que trabalham com aluno alunos, entre 1, 2 e 3 ciclo, e tambm

    interpretes de Lngua de Sinais e instrutores de Lngua de Sinais (so 3 intrpretes,

    1 instrutor e 3 professores).

  • 34

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    2 grau

    completo

    3 grau

    imcompleto

    3 grau

    completo

    Ps

    graduao

    Formao Acadmica

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    Ouvinte Surda

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    3,5

    4

    sim no

    Interprete de Lngua de Sinais

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    Feminino Masculino

    Sexo

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    Sim No

    Instrutor de Lngua de Sinais

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    Pblica Privada

    Instituio em que atua

  • 35

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    Curso Aprendeu

    na escola

    Namorado,

    amigo e

    pais famlia

    surdo

    Como comeo em LIBRAS?

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    Sim No

    Certificado ou formao especfica em

    LIBRAS

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    Mais de 360hr 1 vez por semana

    Durao em curso

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    Importante

    LIBRAS

    Aula

    especializadas

    No tem

    experincia

    Como acontece o processo de alfabetizao

    do aluno surdo

    0

    0,5

    11,5

    22,5

    33,5

    4

    Falta

    pedagogia

    surda

    Professor

    precisa

    conhecer

    Dificuldade

    do

    vocabulrio

    Qual a barreira por pessoa surda em

    sua gramtica?

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    3,5

    4

    Sim 1 vez agora Pouco

    Conhece a Escrita de Sinais?

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    3,5

    4

    Conheci agora Bsico Intermedirio

    Qual conhece da Escrita de Sinais?

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    Sim Acho que sim No tem

    opinio

    Voc acredita a Escrita de Sinais

    auxilia portugus?

  • 36

    CONSIDERAOES FINAIS

    Os objetivos propostos foram alcanados, a escola j havia utilizado a escrita

    de sinais anteriormente. Mas a interveno realizada no foi na mesma turma. A

    turma onde a atividade aconteceu foi a da alfabetizao, entre 6 e 10 anos. A escola

    municipal Tancredo Phideas Guimares, se mostrou interessada no projeto e

    gostaria de continu-lo no prximo semestre, e a professora que nos acompanhou

    tambm achou interessante o projeto e reconheceu a importncia para os alunos

    surdos e respeitando a prpria Lngua dos surdos. Analisamos tambm o

    questionrio de entrevista, e as professoras concordaram que importante para

    surdo, e a coordenao se mostrou satisfeita.

    Acreditamos que a metodologia trabalhada foi adequada, e os alunos

    desempenharam bem as atividades e o processo de avaliao foi positivo. Um dos

    obstculos encontrados foi a durao estimada anteriormente, pois na elaborao

    da metodologia acreditamos que o tempo seria o suficiente e no foi. Assim,

    precisamos refazer alguns pontos para facilitar a organizao. Outra questo a

    questo dos alunos no serem alfabetizados, esto em processo, mas em

    contrapartida so fluentes em Lngua de sinais. Anteriormente o projeto era para

    turmas j alfabetizadas, mas a coordenao no aprovou e nos encaminhou para

    outra turma. Para uma avaliao final, os alunos conseguiram entender a escrita de

    sinais e tambm perceber os smbolos.

    Tenho interesse de refazer o projeto para crianas no inicio da alfabetizao.

    Vimos na referencia terica que a escrita de sinais pode funcionar como um suporte

    para a o aprendizado do portugus.

    A nossa sugesto seria para a escola incluir um horrio de aula dedicado

    escrita de sinais, para que os alunos possam utilizar a prpria lngua. Poderia

    refazer o horrio da disciplina de LIBRAS dividindo-a com a escrita de sinais.

    Acreditamos os alunos podem aprender a valorizar sua prpria lngua atravs

    de seu registro pela escrita de sinais.

  • 37

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

    CHOMSKY, N. A. Knowledge of language: its nature, origin and use. Westport: Praeger, 1986. BALDIM, Sandra Rosa. Alfabetizao e Surdez: o papel da lngua de sinais no processo de aprendizagem. Porto Alegre, 2007. BARTH, C.; SANTAROSA, L; SILVA, A. Aquisio da Escrita de Sinais por Crianas Surdas atravs de Ambientes Digitais. Centro interdisciplinar de novas tecnologias em educao, UFRGS, v.5, n.2; dez 2007.

    BERNARDINO, Elida Lcia. Absurdo ou Lgica? A produo lingstica do surdo. Belo Horizonte: Editora Profetizando Vida, 2000.208p. Blikstein, I. (1983). Kaspar Hauser ou a fabricao da realidade. So Paulo: Cultrix / EDUSP. Federao Nacional de Educao e Integrao dos Surdos (RS). Projeto LIBRAS Legal: manual para Kit Libras Legal. Porto Alegre, 2003. Federao Nacional de Educao e Integrao dos Surdos (MG). LIBRAS: Lngua Brasileira de Sinais: manual FENEIS. Belo Horizonte. 1995, 14p. GARCZ, Regiane L.O. O valor poltico dos testemunhos: os surdos e a luta por reconhecimento na internet. Belo Horizonte, 2008, 195 f. Dissertao (Mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Programa de Ps-Graduao em Comunicao Social. LABORIT, E. O vo da gaivota. So Paulo: Best Seller, 1994. PERLIN, G. Histria dos surdos. Caderno Pedaggico Pedagogia para Surdos. Florianpolis: UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina)/CEAD, 2002. QUADROS, Ronice Muller de. Educao de Surdos: a aquisio da linguagem. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1997. QUADRO, Ronice M. de KARNOPP, Lodenir B. Lngua de sinais brasileira: estudos lingsticos. Porto Alegre: Armed, 2004. p24-37 QUADROS, Ronice Muller de. Aquisio de L1 e L2: o contexto da pessoa surda. In Anais do Seminrio: Desafios e Possibilidades na Educao Bilnge para Surdos. p. 70-87 QUADROS, R. M. SCHMIEDT, M. L. P. Idias para ensinar portugus para alunos surdos. Braslia: MEC; SEESP, 2006.

  • 38

    SACKS, O. Vendo vozes: uma viagem pelo mundo dos surdos. So Paulo: Companhia das Letras, 1989. SKINNER, B. F. Comportamento Verbal. So Paulo: Cultrix, 1957/1978.

    SKLIAR, Carlos (org.). Atualidades da educao bilnge para surdos. 2 ed., volume 2, Porto Alegre: Mediao, 1999. STROBEL Karin Lilian, as imagens do outro sobre a cultura surda. Florianpolis, Editora da UFSC,2008 STUMPF, Marianne. Apostila Letras LIBRAS, Escrita de Sinais I, II e III. Florianpolis, 2007. STUMPF, Marianne. Tese Aprendizagem de Escrita de Lngua de Sinais de Lngua de Sinais pelo sistema Signwriting: Lngua de Sinais no Papel e no Computador. Porto Alegre, 2005 SUTTON, Valerie. Sign Writing. Disponvel em: Acesso em: 02 mar. 2009. VIGOTSKY, L. S. A formao da mente. So Paulo: Martins fontes, 1984. VIGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. So Paulo: Martins fontes, 1987.

  • 39

    APNDICE: Questionrio para professora

    ROTEIRO DE ENTREVISTA

    Nome do entrevistado: _________________________________________________________

    Formao Acadmica: _________________________________________________________

    Usurio de LIBRAS: ( ) sim ( ) no

    ( ) OUVINTE ( ) PESSOA SURDA

    Intrprete de Lngua de Sinais: ( ) sim ( ) no

    Sexo: F ( ) M ( )

    Instrutor de Lngua de Sinais: ( ) sim ( ) no

    Instituio em que atua: Pblica ( ) Privada ( )

    Estado:

    ____________________________________________________________________________

    1 - Relate, sucintamente, como voc comeou ou se tornou um estudioso ou usurio fluente de

    Libras/ILS.

    _________________________________________________________________________________

    _________________________________________________________________________________

    __________________________________________________________________

    2 - Voc possui curso, certificao ou formao especfica em Libras? ( ) sim ( ) no

    Se sim, esclarea o(s) curso(s), quantas horas, onde fez, etc.

    _________________________________________________________________________________

    _________________________________________________________________________________

    __________________________________________________________________

    Se no, justifique por qu?

    _________________________________________________________________________________

    _________________________________________________________________________________

    __________________________________________________________________

    3 - Especificamente sobre cultura surda, relate em sua opinio como acontece o processo de

    alfabetizao da criana surda

    _________________________________________________________________________________

    _________________________________________________________________________________

    __________________________________________________________________

    4 - No que se refere Lngua Portuguesa, relacione as barreiras encontradas por pessoas surdas em

    sua gramtica e afins.

    _________________________________________________________________________________

    _________________________________________________________________________________

    __________________________________________________________________

    5 Voc conhece o Sign Writing? Qual sua opinio sobre a escrita de sinais?

  • 40

    _________________________________________________________________________________

    _________________________________________________________________________________

    __________________________________________________________________

    6 Qual o seu conhecimento de Escrita de Sinais: ( ) Bsico ( ) Intermedirio ( )

    Profundo

    7 - Das metodologias encontradas hoje para ensinar Portugus a pessoa surda, voc acredita que o

    Sign wrting (escrita de sinais) auxiliaria?

    _________________________________________________________________________________

    _________________________________________________________________________________

    __________________________________________________________________

  • 41

    ANEXOS