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Monografia

GERENCIAMENTO DE PROJETOS POR MEIO DA ENGENHARIA SIMULTNEA: Sugestes para a otimizao do processo na Sudecap.

Autor: Marcelo Cruz Vargas Orientador: Prof. Paulo Roberto Pereira Andery

Dezembro / 2008

MARCELO CRUZ VARGAS

GERENCIAMENTO DE PROJETOS POR MEIO DA ENGENHARIA SIMULTNEA: Sugestes para a otimizao do processo na Sudecap

Monografia apresentada ao Curso de Especializao em Construo Civil da Escola de Engenharia UFMG nfase: Tecnologia e produtividade das construes Orientador: Prof. Paulo Roberto Pereira Andery

Belo Horizonte Escola de Engenharia da UFMG 2008

VARGAS, Marcelo Cruz. Gerenciamento de Projetos por meio da Engenharia Simultnea: Sugestes para a Otimizao do Processo na Sudecap. UFMG, Escola de Engenharia - DEMC, 2008.

SumrioLista de figuras .............................................................................................................. Lista de tabelas .............................................................................................................. 05 06

RESUMO .........................................................................................................................

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INTRODUO .................................................................................................................

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CAPTULO 1 - Engenharia Simultnea e Construo Civil: reviso bibliogrfica ... 1.1 Engenharia Simultnea: Conceitos e Origem ........................................... 1.2 - O Projeto como fator determinante do Produto ......................................... 1.3 - Engenharia Simultnea aplicada indstria da Construo Civil ............. 1.3.1 Caracterizao do processo de projeto na Construo Civil .. 1.3.2 Aplicao da Engenharia Simultnea no processo de projeto da Construo Civil ............................................................................. 1.3.2.1 Diferenas entre as caractersticas dos processos produtivos da indstria seriada e da construo civil ................................................................. 1.3.2.2 Processo de projeto de edifcios: interfaces ...... 1.4 Projeto Simultneo.................................................................................... 1.5 Projeto do Produto e Projeto da Produo ............................................... 1.6 A importncia da Gesto da Qualidade no processo de projeto ..............

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CAPTULO 2 - Implantao e prtica da Engenharia Simultnea em uma empresa empreendedora de Construo Civil da iniciativa pblica ........................................ 2.1 Caracterizao da Sudecap ..................................................................... 2.1.1 Organograma .......................................................................... 2.1.2 Limites da anlise .................................................................... 2.1.3 O programa Oramento Participativo ...................................... 2.2 Gerenciamento de Projetos na Sudecap ..................................................

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2.2.1 Caractersticas da Administrao Pblica ............................... 2.2.2 Contratao: a Lei 8.666 como condicionante ........................ 2.2.3 O Termo de Referncia ........................................................... 2.3 Dificuldades e pontos vulnerveis no atual sistema de gesto de contratos ............................................................................................................ 2.4 Implantao da filosofia do Projeto Simultneo na atividade de gesto de projetos da Sudecap ..................................................................................... 2.4.1 Objetivos para a implantao do PS na Sudecap ................... 2.4.2 Diretrizes para a implantao do PS na Sudecap ................... 2.5 Consideraes sobre este captulo ..........................................................

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CONCLUSO ..................................................................................................................

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REFERNCIAS BLIOGRFICAS....................................................................................

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Lista de FigurasFigura 1: Nvel de Influncia X Tempo de Projeto ......................................................................... Figura 2: Engenharia Seqencial X Engenharia Simultnea......................................................... Figura 3 Esquema genrico de um processo de projeto tradicional .......................................... Figura 4 Interfaces do processo de desenvolvimento do produto na construo de edifcios.... Figura 5. Interao de etapas no desenvolvimento de um novo empreendimento com Projeto Simultneo .................................................................................................................................... Figura 65 Modelo genrico para organizao do processo de projeto de forma integrada e simultnea ..................................................................................................................................... Figura 7 Ciclo da qualidade na construo................................................................................. Figura 8 O processo de projeto segundo a tica da Gesto da Qualidade................................ Figura 9 Organograma formal da Sudecap................................................................................. Figura 10 Limite da anlise: Departamento de Anlise de Projetos (em destaque).................. Figura 11 Organograma do funcionamento real da Diretoria de Projetos. Em destaque, o 15 18 20 25 27

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limite da anlise.............................................................................................................................

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Lista de TabelasQuadro 1 - Sntese das principais discrepncias entre o ambiente de projeto na construo de edifcios e na indstria de manufaturados em srie....................................................................... Quadro 2 Transposio da filosofia da Engenharia Simultnea da Indstria Seriada para a Construo Civil caractersticas comparadas ............................................................................ Quadro 3 Componentes da Qualidade do Projeto ..................................................................... Quadro 4 Diferenas entre a Administrao Pblica e a administrao Privada........................ 24

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ResumoFrente a um movimento expansivo do mercado da construo civil brasileira, muitos agentes empreendedores tm buscado alternativas gerenciais para um incremento em qualidade e produtividade. Dentre as ferramentas disponveis, destaca-se a filosofia da Engenharia Simultnea, nascida na indstria seriada e transposta para a atividade de produo de edifcios sob a denominao de Projeto Simultneo. Os ganhos experimentados por empresas privadas a partir de sua implementao sugerem a sua aplicabilidade tambm na iniciativa pblica, devido importncia de seu carter empreendedor, e necessidade de modernizao de seus mtodos gerenciais e produtivos. O presente texto realiza um estudo de caso sobre a Sudecap (Superintendncia de Desenvolvimento da Capital), uma autarquia responsvel pelos empreendimentos de construo civil da prefeitura de Belo Horizonte. O estudo se desenvolve na forma de uma anlise diagnstica, para em seguida sugerir diretrizes para a implementao do novo modelo de gesto, sob a tica da elaborao e desenvolvimento de projetos e com vistas a atender todo o ciclo de vida dos empreendimentos. Por fim, este trabalho pretende, com esta anlise crtica, contribuir para o aporte de conhecimento na gesto racionalizada de empreendimentos, de forma a garantir o uso adequado e otimizado dos recursos pblicos.

Palavras-chave: Gesto de Projetos, Engenharia Simultnea, Construo Civil

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Introduo: Agentes empreendedores da Construo Civil e a necessidade de modernizao dos mtodos de gesto

IntroduoAgentes empreendedores da Construo modernizao dos mtodos de gesto Civil e a necessidade de

A atividade da Construo Civil representa um dos mercados mais importantes da economia brasileira, na gerao de empregos, na movimentao financeira e no desenvolvimento do pas. O ano de 2008 apresenta uma afirmao de seu recente movimento expansivo, indutor do surgimento de vrias novas empresas, da consolidao e do crescimento das existentes, e vem caracterizando um acirramento expressivo da concorrncia no setor.

Apesar da riqueza e da pujana dos nmeros que movimenta, a Construo Civil brasileira se encontra hoje num patamar tecnolgico mais prximo do artesanal e manufatureiro que da indstria moderna e altamente produtiva, como, por exemplo, a indstria automobilstica. Corra (2001) define o setor como uma atividade baseada principalmente no trabalho manual e na habilidade dos operrios. Alm disso, os ndices de desperdcio, entre materiais e insumos, so estimados na ordem de 30%, entre falhas de projeto, retrabalhos e caractersticas da execuo (MELHADO, 1994), ndice certamente muito acima dos verificados em outros setores industriais. Diante deste quadro, muitas empresas tm acenado positivamente para experincias que possam elevar a produtividade do setor e, desta maneira, garantir sua permanncia e seu destaque no mercado por meio do incremento de sua competitividade.

Para a iniciativa privada, a conjuntura atual determina que as empresas precisam atuar de forma flexvel frente s diversas variantes das demandas do pblico consumidor, ao passo que tambm imprescindvel a agilidade e a eficincia deste atendimento. Para tanto, a importncia da implementao de novas ferramentas voltadas para o aprimoramento da gesto dos processos que envolvem a produo como um todo inegvel. A discusso sobre os mecanismos para a racionalizao dos processos e sobre uma aproximao do setor ao conceito de produo industrial tem tomado forma nos ltimos anos. Dentre as mudanas conceituais crescentes destaca-se a adoo de polticas de controle e gesto da Qualidade, que muito tm ajudado a transformar o atual quadro da gesto de empreendimentos no pas. Todavia, a Construo Civil brasileira, como um todo, na carncia de uma mudana de paradigma produtivo, tm buscado novos mtodos gerenciais para garantir um incremento real em produtividade. Dentre as ferramentas existentes para esta finalidade, destaca-se a Engenharia Simultnea.

Quando se busca caracterizar o setor da Construo Civil no pas, alm da iniciativa privada, deve-se destacar o importante papel do Poder Pblico, historicamente um grande agente empreendedor deste meio. Trata-se de um agente de natureza diferente das empresas privadas, uma vez que no visa lucro, e tem sua ao determinada por motivaes no apenas tcnicas ou mercadolgicas, mas tambm polticas. Apesar de no competir no mercado, suas intervenes tm potencial para alter-lo determinantemente, seja na valorizao de determinadas reas, ou mesmo na sua depreciao.8CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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Introduo: Agentes empreendedores da Construo Civil e a necessidade de modernizao dos mtodos de gesto

Assim, o Estado pode agir, com a implantao de seus empreendimentos, determinando eixos para induzir geograficamente o desenvolvimento de determinadas reas.

Muito se questiona o papel do Estado como interventor ou mesmo como agente empreendedor. Frente lentido da mquina pblica, devido aos mecanismos burocrticos, muitas vezes pouco eficientes, e ao vulto dos recursos movimentados, somando-se perdas e obras de baixa qualidade, os setores polticos representantes de um pensamento baseado no liberalismo econmico defendem a idia do Estado Mnimo, no qual o Poder Pblico se retiraria das grandes decises, logrando ao livre mercado o papel de definidor dos rumos da economia. Esta corrente ideolgica teve grande fora durante o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), marcado pelas grandes privatizaes. Atualmente, o Estado tem reafirmado seu lugar de grande empreendedor e como orientador do crescimento. Em Minas Gerais, grandes obras em andamento do mostras dessa iniciativa, nas esferas Federal (obras do PAC Programa de Acelerao do Crescimento), Estadual (construo do novo centro administrativo do Estado) e tambm nos Municpios (em Belo Horizonte, participao no PAC e ampliao do programa Oramento Participativo). Isso demonstra uma vontade poltica do Poder Pblico em reassumir este posto, mas para tanto necessrio acompanhar a evoluo dos mtodos gerenciais e tcnicos adquiridos pela iniciativa privada, em sua busca pela racionalizao dos processos e dos empreendimentos em geral.

A atuao da iniciativa pblica nos empreendimentos de construo, hoje em dia, ocorre, em grande parte, de maneira diferente do modelo consolidado na dcada de 70, durante o chamado milagre brasileiro da economia, e perpetuado mesmo aps o fim da ditadura. Neste modelo, o prprio Poder Pblico era responsvel pelo empreendimento em suas vrias etapas, do projeto execuo e manuteno. Atualmente, limitado pela legislao e a Constituio, o modelo mais comum o da contratao de servios, sendo os rgos empreendedores responsveis apenas pela gesto dos mesmos, na forma de contratos com empresas privadas. Isto denota uma nova rede de relaes, onde h o enxugamento da estrutura pblica, mas no seu afastamento dos centros de deciso. Com o advento de um novo ciclo de crescimento, tem-se um momento propcio para grandes transformaes administrativas, e neste caso o Poder Pblico tem a oportunidade de aportar o conhecimento e a experincia de empresas que j buscaram e ainda buscam novas ferramentas para uma gesto racional e otimizada de seus empreendimentos. Se no o objetivo dos gestores pblicos o incremento da competitividade, os mesmos mtodos podem propiciar um ganho em produtividade e economia, como o caso da Engenharia Simultnea. Esse tipo de transformao, alm de maximizar os benefcios alcanados com o uso de verbas pblicas, concorre tambm para solidificar o papel do Estado como orientador do desenvolvimento do pas.

O presente trabalho intenta uma reviso sobre o conceito de Engenharia Simultnea, suas particularidades enquanto mtodo de gesto de empreendimentos, um breve histrico de seu surgimento, e as experincias de adaptao do conceito indstria da Construo Civil, o que resultou em uma metodologia derivada, denominada Projeto Simultneo. A partir disso, 9CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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Introduo: Agentes empreendedores da Construo Civil e a necessidade de modernizao dos mtodos de gesto

apresentado um estudo de caso, no qual exposto o caso de um rgo pblico do municpio de Belo Horizonte, a Sudecap Superintendncia de Desenvolvimento da Capital. Este estudo consiste na anlise e diagnstico do rgo, sob o ponto de vista da gesto de empreendimentos, mais especificamente sobre a gesto de projetos. Em seguida, sugerida a implantao do Projeto Simultneo como filosofia de gesto, na forma de diretrizes para sua implantao. Logo, a pretenso mostrar que a Engenharia Simultnea, alm de adequada ao fim de modernizar a gesto de empreendimentos de construo civil, tambm totalmente passvel de ser implementada em um rgo pblico, com um prognstico de resultados muito interessante para o contribuinte e a populao beneficiada por essas obras.

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Captulo 1 Engenharia Simultnea e Construo Civil: reviso bibliogrfica

Captulo 1Engenharia Simultnea e Construo Civil: reviso bibliogrfica

A Engenharia Simultnea (ES) consiste em um mtodo para o desenvolvimento de produtos e empreendimentos, nascido e desenvolvido, em um primeiro momento, na indstria de produo em srie, como um mecanismo propcio a garantir s empresas um diferencial competitivo quanto qualidade do produto final e ao tempo de lanamento no mercado. A ES atua em todo o ciclo de vida dos empreendimentos, da concepo ao descarte, passando pelas etapas de projeto, produo, manuteno, e buscando o atendimento pleno aos anseios do cliente. Este modelo tem sido adaptado para a Construo Civil, como uma alternativa de competitividade num mercado reconhecidamente acirrado, no qual grande parte das empresas atua a partir de sistemas pouco eficientes, com muitas dificuldades do ponto de vista da gesto da complexidade dos seus empreendimentos.

1.1 Engenharia Simultnea: Conceitos e Origem

O surgimento da filosofia da ES o resultado do acmulo de experincias e conhecimentos, ao longo dos anos, em decorrncia da necessidade de evoluo dos conceitos e paradigmas da indstria, num processo contnuo no decorrer de sua histria. Basicamente, a Engenharia Simultnea significa uma alternativa aos mtodos correntes de desenvolvimento de produtos, e em especial, no processo de elaborao e desenvolvimento de projetos. Consiste em uma ferramenta gerencial aplicvel em substituio ao modelo mais difundido, baseado na alocao seqencial das etapas de trabalho, onde o incio de determinada etapa depende da finalizao da anterior. Diante da percepo de que este mtodo resulta em um processo de baixa produtividade, custos de produo elevados, retrabalhos e baixa qualidade final dos produtos, a ES se apresenta na forma de um desenvolvimento de todas as especialidades de projeto em paralelo, atravs de times multidisciplinares de projeto interagindo, alocados precocemente na linha de tempo do empreendimento, de forma a proporcionar uma concepo participativa e que no necessite de ajustes e compatibilizaes, obtendo prazos e custos reduzidos. Portanto, o conceito de Engenharia Simultnea, em sua forma mais pura, diz respeito ao desenvolvimento de todas as disciplinas de projeto de maneira simultnea e com a cooperao interativa de todos os agentes da produo.

1.1.1 O contexto da evoluo da indstria

Na histria da produo industrial, iniciada no sculo XVIII, destaca-se o incio do sculo XX como o ponto onde se estabelecem novos conceitos e pensamentos a respeito de produo e consumo, quando Taylor e Ford redefinem a atividade, introduzindo a linha de montagem, a produo em massa, a diviso do trabalho, o controle do tempo em funo das atividades desenvolvidas. A11CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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indstria conhece avanos sem precedentes em seus nveis de produo (CLETO,2002). O paradigma taylorista-fordista que se estabelece desde ento, se apia sobre premissas como o trabalho super-especializado, a produo em grande escala reduzindo o custo unitrio dos produtos, sincronizao, repetio e intensificao das tarefas realizadas pelos trabalhadores, estes fortemente regulados e sem envolvimento com a produo enquanto processo global, mas focados apenas em sua atividade isolada. Basicamente, se estabelecem a linha de produo e a correlao indivisvel entre as variveis tempo e capital. Zancul et.al (2005) afirma que a abordagem de Taylor e Ford considera a produtividade global como a soma das produtividades individuais, e exige um grande nmero de atividades de suporte e controle, exercidas por tcnicos especializados, com poder hierrquico sobre os trabalhadores diretos. O resultado da implantao desse modelo produtivo, de imediato, foi o abastecimento macio do mercado com bens de consumo, momento em que o paradigma redefine os padres de vida da populao e acarreta transformaes definitivas no consumo e na diviso do trabalho em todo o mundo.

A partir da dcada de 1960 o modelo baseado em Taylor-Ford inicia um declnio e passa a no atender mais demanda de produtividade necessria para garantir a competitividade das empresas (CLETO,2002). Com o apoio dos avanos tecnolgicos, principalmente da eletrnica, a indstria comea a buscar novos mtodos de organizao em prol da produtividade. No Japo, a partir dos anos 70, surgem as principais alternativas ao modelo vigente, e que viriam a se tornar o embrio do que hoje se conhece como Engenharia Simultnea. De acordo com Sics;Ferreira Jr. (2002), os japoneses invertem a lgica industrial da produo massificada, para uma produo de acordo com a demanda do consumidor, flexvel e em menor escala, com trabalhadores polivalentes e com alto poder de participao nas decises sobre o processo produtivo:

A produo deixa de ser padronizada (em massa) para ser customizada (levando em considerao as necessidades dos clientes). Deste modo, com os avanos da automao exigido um maior contedo educacional (qualificao) no cho de fbrica e mudanas na lgica de gesto das organizaes. As estruturas organizacionais verticais e hierarquizadas (modelo Fayol) cedem lugar para as estruturas horizontais a partir do trabalho em equipe de trabalhadores com elevado grau de conhecimento especializado (organizaes gestoras do conhecimento). (SICS;FERREIRA JR., 2002)

Neste momento crescia nos setores industriais a importncia do combate ao desperdcio. As peculiaridades da indstria japonesa tornaram possvel o desenvolvimento de novos mtodos e ferramentas em prol do aproveitamento mximo de todos os recursos possveis. Esta revoluo veio a acontecer tendo como cenrio a economia japonesa do ps-guerra, impossibilitada de conceber produes de automveis em larga escala, visto o tamanho reduzido do mercado consumidor. Ocorre ento uma sistematizao do trabalho, focado disciplinarmente sobre a eliminao total de desperdcios. Tal conjunto de aes, batizado de Lean Production, ou Produo Enxuta, teve

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como bero o interior da fbrica da Toyota Motor Company, sob o comando de Taiichi Ohno, que por este motivo por vezes chamado de mtodo Toyota de produo, conforme Cleto (2002):

Surge, ento, a produo enxuta, com princpios diferentes dos da produo em massa, particularmente em relao gesto dos materiais (matrias-primas, produtos em processo, componentes, conjuntos e produtos acabados) e ao trabalho humano nas fbricas. Alguns alicerces desse novo modo de produo, o Just-inTime, a autonomao (automao com um toque humano), a polivalncia dos trabalhadores, o defeito zero, o kaizen, a produo em pequenos lotes, entre outros, passaram a ser os elementos do paradigma que se firmava. 1

No modelo enxuto (lean) implantado pela Toyota, sai de cena a produo massificada, com mnima variedade e mxima quantidade de produtos, e entra a produo direcionada e flexvel, com vrias opes de modelos conjugados produo sob demanda, em quantidades menores, eliminando a necessidade de estocagem de produtos, reduzindo seus custos e tambm o tempo de produo. O sistema da Toyota, portanto, revoluciona os mtodos de produo por ser uma contrapartida produo em massa, agindo diretamente sobre a produo. Pode se dizer que a filosofia da produo enxuta ajuda a compor o cerne do que viria a ser, na dcada seguinte, a Engenharia Simultnea, uma filosofia produtiva cuja ao emana preferencialmente sobre a etapa de projetos.

1.1.2 Incio de uma maior valorizao do Projeto para a elaborao e fabricao de produtos

Aparentemente, os referenciais tericos aqui expostos derivam da anlise da organizao do trabalho especfico da produo, a partir de suas atividades pormenorizadas, caractersticos de cho-defbrica. Apesar de sua origem particularizada, os conceitos organizacionais relacionados tambm so comumente utilizados para outras reas do conhecimento ligadas atividade industrial, como processos administrativos, ou gesto de recursos diversos. A presente anlise se limita a tratar da organizao do trabalho na atividade do desenvolvimento de produtos. Pode-se dizer que a evoluo do modo de pensar a produo industrial, a partir da dcada de 80 e fortemente baseada na experincia japonesa do Toyotismo, se debrua exatamente sobre o desenvolvimento de produtos.

A atividade de desenvolvimento de produtos, em qualquer setor de produo, sempre opera por meio de projetos (OLIVEIRA; PEIXOTO, 2007). Projeto, por definio, um esforo temporrio, com a inteno de criar um produto ou servio exclusivo. elaborado progressivamente e em etapas, realizado por pessoas, com recursos finitos, sendo submetido a planejamento, execuo e controle. (PMI,2004). Normalmente cada produto envolve no apenas um projeto, mas uma srie deles, complementares, que se interconectam e determinam a complexidade do produto e de sua produo.1

Uma abordagem mais abrangente sobre a indstria japonesa e do Lean Production, alm dos conceitos de Just-in-Time, autonomao, kaizen e afins, pode ser encontrada em Ohno (1988).13CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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A gesto dessa complexidade, a comunicao entre os diversos projetos envolvidos, e as atividades agregadas sua elaborao, a distribuio de responsabilidades, a comunicao e a relao entre reas funcionais, so fatores determinantes para a competitividade das empresas. A dcada de 80 marca o incio de uma preocupao e um cuidado maior com o projeto em relao ao produto. At ento, no havia uma cultura gerencial disseminada, na qual a gesto de projetos se alasse a uma condio de pea estratgica para as empresas, mesmo com o esforo da experincia japonesa, que permitiu um grande salto no modo de se pensar a produo. Apesar de haver avanos no setor, o mtodo tradicional de desenvolvimento de produtos ainda era baseado nas operaes especficas da produo.

Tradicionalmente, o mtodo de gesto de projetos mais utilizado pela indstria em seus mais diversos setores, quanto ao fluxo do processo de projeto, consiste no encadeamento linear de suas etapas, onde cada aspecto ou especialidade de projeto desenvolvida independentemente das demais e os desenvolvimentos parciais so encadeados um aps o outro. (FABRCIO, 2004). Neste ambiente, cada projeto desenvolvido a partir da finalizao do projeto anterior, estando as instncias de deciso alocadas seqencialmente. Os problemas desse tipo de organizao em etapas so diversos e numerosos. Alguns dos principais dizem respeito no interao entre as diversas especialidades de projeto, sendo as interferncias resolvidas com uma compatibilizao ao final do processo, ou seja, uma sobreposio dos diversos projetos e a adaptao de suas incompatibilidades. Nesse mtodo, qualquer alterao no projeto bastante onerosa, tendo em vista que durante o andamento de qualquer das etapas, j houveram ciclos encerrados no processo, onde muitas decises foram tomadas, e precisaro ser revistas em decorrncia de demandas eventuais das etapas consecutivas. Em outra tica, tambm h de ser considerada a perda do carter conceitual do projeto do produto, quando este conceito no debatido e viabilizado junto a todas as especialidades s quais compete sua elaborao. Ao invs disso, o projeto em cada especialidade trabalhado e passado adiante, como numa linha de montagem, em que no existe um comprometimento conjunto para o resultado final do trabalho. Fabrcio (2004) lista ainda as seguintes perdas induzidas pelo fluxo linear de projetos e a fragmentao de suas disciplinas:

(...) eliminao da possibilidade de discusso de propostas alternativas de projeto; alto custo de tempo e recursos para introduo de modificaes no projeto; uma lacuna entre os profissionais de vrias disciplinas envolvidas; caracterizao do processo de projeto como uma rgida seqncia de atividades (pouco interativas); a construtibilidade e os suprimentos no so considerados durante o projeto ou o so no final deste processo; a fragmentao dos dados de projeto dificulta a manuteno da consistncia desses dados; perda de informao ao longo do processo de projeto; estimativas incorretas do custo do produto.

De acordo com Fabrcio (2002), dentro de um processo de projeto, as decises e definies tendem a se tornar mais caras medida que o processo avana no tempo. De fato, quanto mais no incio o processo estiver, maior ser a liberdade para propor solues, e menor ser o custo dessas decises.14CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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Captulo 1 Engenharia Simultnea e Construo Civil: reviso bibliogrfica

Do contrrio, quanto mais perto do fim do processo, maior ser o impacto das decises e alteraes no projeto. Ao desenvolver um projeto de maneira seqencial, toda deciso e alterao que surgir em decorrncia de incompatibilidades entre projetos tende a ser onerosa. Alm disso, as possibilidades reais de definio do projeto, ou seja, a influncia possvel sobre o produto final, reduz-se quanto mais se avana na linha de progresso da tarefa.

Figura 1: Nvel de Influncia X Tempo de Projeto

Um importante passo na direo de uma mudana de paradigma da produo industrial diz respeito valorizao do Projeto dentro desse processo. Diante das deficincias do modelo de gesto em questo, toma fora a Engenharia Simultnea como alternativa para o sistema de projeto e produo. A Engenharia Simultnea, traduo mais recorrente do termo Concurrent Engineering da literatura internacional, tem sua origem vinculada indstria da produo em srie. O conceito se baseia, em linhas gerais, na integrao total e precoce dos agentes envolvidos no processo, abrangendo ao mesmo tempo o projeto do produto, os projetos complementares e o projeto para produo, num ambiente de mtua cooperao, comunicao e interatividade, tornando o processo coletivo e multidisciplinar. Seria, na verdade, o desenvolvimento simultneo de todos os projetos que compem o projeto do produto, cronologicamente alocados no espao destinado ao anteprojeto. Com as atividades acontecendo de forma simultnea, maior ser a permeabilidade entre elas, e com isso espera-se alcanar a diminuio do tempo de projeto, e um maior controle da qualidade, alm de uma manufaturabilidade mais controlada e precisa, com a simplificao dos produtos e a eliminao de etapas e interfaces (Fabrcio, 2002). Na indstria seriada, este mtodo tem garantido um considervel incremento de competitividade , conforme Fabrcio;Melhado (1998):

Com a implementao e utilizao da Engenharia Simultnea, vrias empresas, em especial aquelas que produzem produtos complexos (...) tm conseguido ampliar e15CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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agilizar sua capacidade de amadurecer novas tecnologias e transformar estas em novos produtos mais competitivos no mercado.

A origem do conceito hoje conhecido como Engenharia Simultnea relaciona-se com a resposta do setor industrial norte-americano ao crescimento dos japoneses no mercado mundial de eletroeletrnicos e de automveis, sendo a princpio desenvolvida pela indstria blica. Em 1986, como resultado de um processo desenvolvido durante anos anteriores, o documento intitulado The Role of Concurrent Engineering in Weapons Acquisition, do Institute of Defense Analysis (IDA), realiza uma sistematizao para a integrao do processo produtivo envolvendo os projetos diversos que o compem, a produo e a assistncia, de forma a contemplar todo o ciclo de vida do produto, da concepo inicial venda, passando pela manufatura e considerando as necessidades do usurio. Tal sistemtica foi chamada de Concurrent Engineering, ou Engenharia Simultnea (PERALTA, 2002). Para Fabrcio (2002), muitas das caractersticas de desenvolvimento de produtos e processos, que comporiam mais tarde o conceito de Engenharia Simultnea, podem ser observadas em empresas japonesas do setor automobilstico, j na dcada de 70, como a adoo de times multidisciplinares de desenvolvimento de produtos.

De acordo com Zancul et al. (2005), as empresas, diante dos mtodos recorrentes de desenvolvimento de projetos, e no intuito de minimizar o prazo de lanamento de produtos no mercado, e tambm seu custo de produo, precisam realizar profundas alteraes organizacionais e de processos em seus quadros. Para tanto, podem adotar os princpios da Engenharia Simultnea, a formao de times multifuncionais de desenvolvimento e a instaurao de uma poltica de Qualidade em seus processos, alm do suporte da Tecnologia da Informao como ferramenta indispensvel.

Para Corra (2006), a Engenharia Simultnea se apresenta como um referencial terico desdobrado em diretrizes e ferramentas de forma a romper com a metodologia seqencial vigente na indstria, pelo seu papel de grande integrador de produtos e processos, baseado no paralelismo dos processos, no uso de um time multidisciplinar e na adoo de ferramentas automatizadas para a realizao de processos componentes.

Conforme Passamani (2002), a ES pode ser conceituada como um mtodo de trabalho onde as equipes de projeto se comunicam intensamente, e conseguem acessar e compartilhar informaes pertinentes ao projeto e s atividades envolvidas com rapidez e agilidade, dispondo de autonomia e exercendo intensa interao com clientes e fornecedores internos e externos.

Para Estorillo (1998), a principal caracterstica da Engenharia Simultnea consiste na reduo dos prazos de desenvolvimento e manufatura dos produtos, o que, conseqentemente, acarreta na diminuio de seu custo de produo. O paralelismo das atividades que normalmente seriam encadeadas de maneira seqencial, aliada antecipao da maioria dos problemas enfrentados na16CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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fase de projeto, evita o dispndio de tempo e recursos na busca por solues corretivas. Tal paralelismo se apia na formao de equipes multidisciplinares envolvendo profissionais de todas as reas e etapas da vida til do produto, desde sua concepo at as reas de manuteno e suporte.

Figura 2: Engenharia Seqencial X Engenharia Simultnea (FABRCIO, 2002)

Fabrcio (2002) ressalta a multiplicidade de definies existentes, na literatura especfica, para o conceito de Engenharia Simultnea enquanto metodologia de gesto do projeto e da produo. Tratase de um conceito de ampla abrangncia, pelo fato de poder ser visitado de acordo com as necessidades e o interesse de cada autor, e o ambiente em que aplicado. Desta forma, para a finalidade do presente estudo, destaca-se a Engenharia Simultnea a partir da seleo das seguintes caractersticas:

Organizao do fluxo de projeto e da produo, de forma a propiciar a sobreposio cronolgica e espacial das atividades, e a consequente diminuio do tempo de projeto, trazendo para o incio do processo as principais decises e resolues de conflitos, agindo como um catalisador das solues para problemas de projeto;

Equipes multidisciplinares e multifuncionais de projeto;

Desenvolvimento simultneo do produto e do processo de manufatura do mesmo;17CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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nfase no gerenciamento do processo de projeto e definio de um responsvel pela coordenao de todo o processo de desenvolvimento do produto;

Concentrao de recursos no incio do projeto;

Utilizao de ferramentas automatizadas para otimizar os processos;

nfase na disponibilidade e facilidade de acesso informao desde o incio do processo;

Forte interface com o cliente e com os fornecedores internos e externos;

Envolvimento precoce dos subcontratados e vendedores;

Foco na melhoria contnua e no aprendizado.

1.3 - Engenharia Simultnea aplicada indstria da Construo Civil

A indstria no Brasil, de um modo geral, encontra-se, ao final do ano de 2008, em um momento econmico favorvel modernizao de seus mtodos gerenciais. Alguns dos fatores que constituem esse cenrio so: moeda estvel, dvida pblica sob controle, boa receptividade para o capital estrangeiro, situao poltica definida, queda das taxas de desemprego e um aumento do poder de consumo da populao, apoiada no aumento das exportaes, em programas sociais de combate pobreza extrema e em uma larga oferta de crdito para setores estratgicos. A expanso do mercado consumidor decorrente acirra a competitividade, e neste ponto possvel afirmar que as empresas que adotarem estratgias de gesto direcionadas otimizao da produo, estaro frente na conquista dos nichos disponveis e nos que ainda surgiro em decorrncia do bom momento.

De todos os setores da economia, a indstria da Construo Civil uma das mais beneficiadas pela poltica econmica nacional em atividade, apresentando timas taxas de crescimento em 2007, alm de bons prognsticos para 2008 2 , principalmente no setor da habitao, para o qual h incentivos do Governo na forma de disponibilizao de crdito a taxas de juros abaixo do mercado. Dada a existncia de uma grande oportunidade de crescimento para as empresas, considera-se propcio o investimento na modernizao da estrutura produtiva desta indstria. A adoo dos mtodos da Engenharia Simultnea pode atuar como um importante diferencial para o incremento daDe acordo com o prognstico de 2007 do Sinduscon - Sindicato da Indstria da Construo Civil o crescimento do ano para o setor seria de 7,9%, e em 2008, 10,2%. Fonte: Folha de So Paulo 04/dezembro/2007. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u351188.shtml 18CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 20082

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produtividade, medida que diminui o prazo de desenvolvimento e os custos da produo, e foca na qualidade do processo e do produto final.

1.3.1 Caracterizao do processo de projeto na Construo Civil

Tradicionalmente, o processo de projeto na Construo Civil considerado atrasado, pouco eficiente e gerador de enormes desperdcios (FABRCIO et al., 1999). Para Corra (2006), trata-se de um setor da economia caracterizado por indicadores desfavorveis em termos de produtividade, qualidade, desperdcios, prazos e custos, dentro de um mercado instvel e de alta competitividade. Fabrcio et al. (1998) credita a imagem negativa do setor pouca importncia dada atividade de projeto, fator fundamental tanto para a qualidade dos produtos quanto para a atividade da produo:

Apesar dessa importncia, os projetos tm sido tratados pelas empresas de construo como uma atividade secundria que , via de regra, delegada a projetistas independentes, contratados por critrios preponderantemente de preo do servio. Outra caracterstica dos projetos no setor que eles so orientados para a definio do produto sem considerar adequadamente a forma e as implicaes quanto produo das solues adotadas. Mesmo as especificaes e detalhamentos de produto, muitas vezes, so incompletas e falhas, sendo resolvidas durante a obra, quando a equipe de produo acaba decidindo sobre determinadas caractersticas do edifcio no previstas em projeto.

O estudo de Melhado apud Aquino;Melhado (2001) demonstra ainda certo despreparo ou desinteresse por parte dos projetistas, e tambm dos construtores, quanto s definies preliminares de projeto, realizadas informalmente pelos arquitetos, sem a participao dos outros projetistas. Tambm citada, entre vrios problemas, a falta de coordenao entre as disciplinas de projeto e a ineficincia do sistema de comunicao adotado. Ballard; Koskela (1998) atribuem grande parte dos problemas identificados neste setor m concepo do programa de projeto e comunicao falha, alm da incapacidade tcnica dos profissionais envolvidos e a falta de confiana no trabalho de prplanejamento do trabalho de projeto. Por fim, Fabrcio (2002) defende que o investimento na fase de projetos, em substituio postura de consider-lo como custo, tem o poder de reduzir de forma bastante significativa os custos mensais e finais de um empreendimento, alm de agregar valor e qualidade ao produto final.

Tecnicamente, o processo de projeto para a construo de edifcios envolve um considervel nmero de especialidades, desenvolvendo solues que devem ser concatenadas entre si em um nvel de detalhe suficiente para sua execuo. Basicamente, o projeto desse tipo de produto constitudo pelo projeto de arquitetura, o projeto estrutural e os projetos de instalaes, podendo tambm incorporar outros, como paisagismo, programao visual, preveno e combate a incndio e pnico, etc, de acordo com a necessidade ou a natureza do produto. Baseado em normas tcnicas e em textos institucionais, o projeto arquitetnico sempre figura como o ponto de partida, e sobre este que todas as outras especialidades desenvolvero os projetos chamados complementares.19CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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Do ponto de vista da programao do fluxo de projeto, o mtodo mais recorrente consiste no desencadeamento seqencial das disciplinas por etapas hierarquizadas. Este modelo de gesto dos empreendimentos, tradicional e predominante no mercado, apia-se na prpria estrutura de produo de projetos das empresas do setor, no qual os agentes de projeto no fazem parte do quadro da empresa, mas so contratados como prestadores de servio. Tal postura denota que grande parte das empresas responsveis pelo lanamento de empreendimentos imobilirios no percebe, ou no valoriza, a importncia do projeto para o resultado final do produto.

A atividade de projeto, portanto, ocorre pulverizada no mercado em um grande nmero de pequenas empresas e profissionais autnomos, ampliando a oferta de preos e limitando o poder de negociao dos mesmos frente s construtoras, e por isso acabam direcionando seu trabalho ao atendimento de exigncias burocrticas ou projeto legal e caracterizao do produto. Dessa forma, no h uma preocupao com o nvel de detalhamento mais adequado construtibilidade dos projetos e qualidade do edifcio (FABRCIO; MELHADO, 1998). Nos casos mais comuns, a contratao terceirizada de projetos no prima pela concatenao dos vrios projetistas envolvidos. Dessa forma, o trabalho fica hierarquizado, seqencial e fragmentado. Fabrcio (2002) acena para o fato de que a terceirizao de projetos geralmente no acompanhada de um trabalho gerencial adequado a garantir uma articulao desejvel entre os projetos de vrias especialidades.

Figura 3 Esquema genrico de um processo de projeto tradicional (FABRCIO et al., 1999)

Na tica do desencadeamento seqencial do processo de projeto, cada projeto integrante consta no fluxo como uma etapa isolada, e depende da finalizao do projeto (etapa) anterior, para ser iniciado. Assim sendo, um anteprojeto de estruturas s desenvolvido depois que o anteprojeto arquitetnico finalizado. De maneira geral, diferentes equipes atuam em variados tipos e etapas de projeto, trabalham em espaos e tempos distintos, numa espcie de revezamento fechado onde o projeto recebido, processado e passado adiante, alocando as instncias de deciso de forma linear. No h, no caso, um profissional ou um agente com presena em todas as etapas do processo como um todo, cabendo apenas ao contratante a administrao do mesmo, em contratos temporrios e desencontrados entre as diversas instncias projetivas. Apesar da complexidade das relaes entre as vrias disciplinas componentes do projeto, comum que as empresas incorporadoras, muito20CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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voltadas para o empreendimento apenas em seu aspecto comercial, se abstenham das discusses tcnicas, gerenciais e de planejamento internas ao processo.

Este formato seqencial influi de diversas maneiras no resultado final, em especial no controle de qualidade e no tempo de projeto. Os principais prejuzos do encadeamento seqencial do processo, de acordo com Fabrcio et al. (1999) seriam:

- trabalho no sistematizado e descoordenado das diversas equipes de projeto participantes de um empreendimento; - ausncia de um projeto voltado produo, com dificuldades de alterar a forma de projetar, muito voltada ao produto; - falta de padres e procedimentos para a contratao de projetistas; - realizao de uma compatibilizao de projetos e no sua real coordenao; - falhas no fluxo de informaes internas empresa construtora e incorporadora, prejudicando o processo de retroalimentao de projetos futuros.

Pode-se inferir ainda, a partir deste modelo, o amadurecimento isolado de cada projeto em detrimento das solues conjuntas para as interferncias e interfaces. Alm disso, a falta de contato entre os projetistas dificulta a adoo de um conceito arquitetnico e projetivo global para o trabalho como um todo. A sobreposio dos projetos de vrias especialidades s ocorre no fim do processo, e as interferncias, naturais, precisam ser resolvidas com uma compatibilizao sobre os projetos j amadurecidos e finalizados, caracterizando retrabalhos que demandam importantes dispndios de prazo e recursos.

Neste sentido, evidencia-se que o modelo possui diversos pontos no satisfatrios com relao eficincia produtiva e qualidade. Tais entraves podem ser relacionados dificuldade na articulao das interfaces entre os diversos agentes do sistema. Em empreendimentos dessa ordem de complexidade, de suma importncia que haja um controle no fluxo de informaes para garantir a comunicao entre todos os agentes envolvidos, ou seja, em cada interface, de modo global.

1.3.2 Aplicao da Engenharia Simultnea no processo de projeto da Construo Civil

Dadas as dificuldades inerentes ao modelo seqencial de fluxo de projeto, e a identificao de empecilhos produtividade decorrentes deste mtodo, muitos autores tm sugerido a adoo de uma filosofia de trabalho para a indstria da Construo Civil baseada nos conceitos da Engenharia Simultnea.

Considerando-se como capacidade competitiva a capacidade de desenvolver novos produtos que atendam s necessidades dos clientes (FABRCIO, 2004), e como resultados concretos da aplicao21CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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da ES o ganho em qualidade e eficincia, e a reduo de custos e prazos da produo, que a indstria da Construo Civil buscou adaptar esse conceito sua estrutura produtiva.

1.3.2.1 Diferenas entre as caractersticas dos processos produtivos da indstria seriada e da construo civil

A transposio da Engenharia Simultnea para a realidade operacional da Construo Civil uma tarefa que vai muito alm da simples importao de conceito, de um meio produtivo para outro. Conforme Fabrcio (2002):

A primeira dificuldade para aplicao da filosofia de Engenharia Simultnea na gesto do processo de desenvolvimento e projeto de edifcios que esses mtodos foram desenvolvidos em outros setores industriais, com cultura, estruturas produtivas e desafios competitivos diferentes.

Para alcanar uma frmula de resultados interessantes do ponto de vista da produtividade, importante que se identifiquem as peculiaridades da atividade da construo de edifcios, tais como de sua organizao administrativa, seus desafios competitivos, a disponibilidade e a qualidade de seus recursos, a qualificao da mo-de-obra, entre outros. Em seguida, deve-se conhecer os pontos divergentes entre as duas realidades produtivas em questo, e s ento, partir para a definio de um modelo prprio para a atividade da construo de edifcios que, sobre a base conceitual da ES, considere as particularidades dessa indstria.

O quadro 1 ilustra os principais pontos divergentes entre o ambiente produtivo da indstria seriada e da construo civil. As caractersticas relacionadas mostram o distanciamento entre os dois setores produtivos, mas permite conhecer os caminhos para o desenvolvimento de um modelo prprio para a implantao da filosofia da ES. Neste ponto, Tahon apud Fabrcio (2002) relata que os fatores determinantes da competitividade e da produtividade, nos dois casos, so semelhantes: aumentar a produtividade, diminuir prazos de concepo e disponibilizao dos produtos, reduzir custos dos processos e dos produtos.

Natureza do empreendimento de construo

Tipo e caractersticas do produto

Na construo, o planejamento e a programao do empreendimento, concepo e projeto, e produo so muito mais pulverizados (a cargo de diferentes agentes) que na manufatura; O negcio da construo de edifcios envolve aspectos imobilirios que condicionam o sucesso do edifcio capacidade de incorporar terrenos, deslocando parte dos requisitos de sucesso do empreendimento da esfera produtiva para a rea imobiliria. O longo ciclo de vida faz com que seja problemtico o planejamento de todas as transformaes e solicitaes que o edifcio sofrer durante sua existncia; Alm disso, a grande durao dos edifcios cria superposies entre o ciclo de vida do empreendimento, o ciclo de vida do usurio e as dinmicas urbanas.22

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Peculiaridades do projeto no setor

Cultura e aspectos relacionais

Fornecedores

Escala de produo

Limitaes do Canteiro

Dimenses estticas, culturais, histricas e urbanas envolvidas no projeto de arquitetura; Ciso entre concepo do empreendimento enquanto negcio, a cargo de promotores e incorporadores; enquanto produto, a cargo dos projetistas de arquitetura e engenharia; e enquanto construo, a cargo das construtoras e subempreeiteiros e do pessoal de obra; Os projetistas freqentemente esto envolvidos em mais de um empreendimento ao mesmo tempo. As relaes entre agentes so muito mais sazonais e contratuais pautadas pelo ciclo de empreendimentos no repetitivos; Ao contrrio da manufatura, na construo, os clientes contratantes costumam interferir significativamente na gesto interna do empreendimento e na sua produo; A formao dos engenheiros e arquitetos fragmentada e pouco voltada gesto de processos. Como destacam Lana; Andery (2001), o mercado de trabalho mais dinmico que os perfis curriculares e o modelo de formao das universidades e faculdades nacionais. Predomina no setor uma forte fragmentao e heterogeneidade entre os tipos de fornecedores (indstrias, subempreiteiros, projetistas, etc.) que participam do empreendimento; Por diversas razes geogrficas e de mercado, a manuteno dos mesmos fornecedores, em diferentes empreendimentos, bastante dificultada; Dados os diferentes portes das empresas envolvidas, o poder de negociao com os fornecedores mais restrito e variado conforme o tipo de fornecedor; Parte substancial da inovao tecnolgica no setor de construo desenvolvida pelos fornecedores de materiais e componentes. A construo costuma trabalhar com pequenas escalas, o que reduz, relativamente, a possibilidade de amortizao dos custos do projeto; Na indstria de produo seriada a ES trata da gesto do projeto e desenvolvimento de produtos at a realizao do prottipo e disponibilizao do projeto para produo em escala. Na construo, a realizao do prottipo se confunde com a realizao do empreendimento e, assim, a ES se sobrepe gesto do empreendimento. Na construo o local de produo (canteiro) muito mais sujeito a variaes e intempries.

Quadro 1 - Sntese das principais discrepncias entre o ambiente de projeto na construo de edifcios e na indstria de manufaturados em srie. Fonte: Fabrcio et. al. apud Fabrcio (2002)

Definidos estes pontos, o prximo passo a constituio de um modelo prprio, baseado nas caractersticas e limitaes especficas do setor. Fabrcio (2004) demonstra, a partir das caractersticas genricas da ES, a possibilidade de desenvolver uma nova metodologia, focada nas especificidades de formao das equipes, organizao do projeto, fatores de competitividade, introduo de inovaes nos produtos, na tcnica produtiva e na gesto. O quadro 2 compara a indstria seriada com a construo civil, luz dessas caractersticas.

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Desenvolvimento de Novos Produtos

Indstria Seriada Totalmente controlado pela empresa responsvel, sendo inteiramente desenvolvidos sob seus domnios, desde o marketing at a simulao e prototipagem, tanto do produto quanto do processo.

Construo Civil Ocorre de forma pouco sistematizada, fragmentado em diversos agentes independentes, gerando processos estanques e descoordenados;

Equipes de Projeto e de Produo

Prazos de Desenvolvimento do Produto

Introduo de inovaes

Relaes contratuais entre a empresa promotora, os projetistas, a empresa Mobilizao de funcionrios e responsvel pela execuo e os departamentos integrantes dos quadros fornecedores, com contratos de durao da prpria empresa, que podem estar menor que a do empreendimento e presentes durante toda a durao do dispersos ao longo do mesmo. Empresas empreendimento. Profissionais de projeto, e profissionais terceirizados envolvidos de produo e fornecedores so definidos em vrios empreendimentos ao mesmo desde o incio e podem participar tempo. Heterogeneidade de origem e exclusiva e integralmente do processo. natureza dos fornecedores e subempreiteiros. Busca por manter ou ampliar a agilidade no processo de projeto ao mesmo tempo Busca pela capacidade de desenvolver em que este processo qualificado, novos produtos e lan-los no mercado resultando em projetos de maior qualidade e construtibilidade; com a maior agilidade possvel. desenvolver projetos de produto e para produo que viabilizem uma reduo do prazo de execuo da obra; - Mercado consumidor tradicional com pouco espao para grandes inovaes - Grande valorizao para inovaes conceituais; conceituais nos produtos, que - Inovaes tecnolgicas e construtivas normalmente acontecem a cada nova seguem na linha de racionalizao da gerao de produtos; construo a partir de uma base tcnica - Inovaes tecnolgicas normalmente instalada; seguem as inovaes conceituais; - Grande espao para inovaes - Grande espao para inovaes gerenciais, com destaque para a gerenciais; instaurao de Sistemas de Gesto da Qualidade; Baseado em Fabrcio (2002) e Fabrcio (2004)

Quadro 2 Transposio da filosofia da Engenharia Simultnea da Indstria Seriada para a Construo Civil caractersticas comparadas

Com base nessas informaes, desenvolve-se o conceito da Engenharia Simultnea de forma a se adequar s especificidades da Construo Civil. Conforme explicitado em Fabrcio; Melhado (2002), este conceito adaptado recebe a denominao de Projeto Simultneo (PS).

1.3.2.2 Processo de projeto de edifcios: interfaces

O estabelecimento de um mtodo para gerir o processo de projetos precisa se apoiar sobre o conhecimento dos fluxos de informao decorrentes do processo como um todo. No caso da construo de edifcios, a identificao dos principais grupos de atividades de seu ciclo produtivo permite estabelecer as relaes entre eles, ou seja, as interfaces do processo produtivo.

24CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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Melhado; Fabrcio (2001) apontam para a existncia de trs problemticas principais: a concepo do negcio (que originar o programa de necessidades), o projeto do produto edifcio (em toda a sua complexidade tcnica e burocrtica), e a execuo da obra (a materializao de todo o esforo para o desenvolvimento do projeto). Nesse universo, a interao entre as trs esferas deve acontecer na forma de uma cooperao mais estreita, com os agentes de projeto interagindo conforme preconizado pela Engenharia Simultnea.

s trs esferas citadas (relacionamento interno ao projeto), incluam-se mais duas: interface entre com a obra na forma de retroalimentao, e interface com o cliente (interface de uso). Dessa forma, identificam-se cinco interfaces, conforme Fabrcio;Melhado (2001):

- i1: interface com o cliente enquanto usurio e enquanto determinante das necessidades (mercado projeto uso); - i2: interface entre o contedo programtico e o projeto, visando a colaborao entre a concepo do projeto e o usurio, transformando suas necessidades em especificaes de projeto; - i3: Interface entre os projetos do produto, ocorrer na forma de interatividade e paralelismo entre as atividades desenvolvidas; - i4: Interface entre projeto do produto e projeto da produo, com vistas construtibilidade ; - i5: Interface de retroalimentao, visa transferir informaes da produo para os projetistas.

Figura 4 Interfaces do processo de desenvolvimento do produto na construo de edifcios (FABRCIO; MELHADO, 2001)

1.4 Projeto Simultneo

Projeto Simultneo (PS) a nomenclatura adotada para um conceito de mtodo projetivo e produtivo baseado na Engenharia Simultnea, orientado realidade especfica da construo de edifcios25CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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(FABRCIO;MELHADO, 2002). Esta orientao visa poupar o sistema da imposio rgida e complexa das ferramentas especficas da ES. Fabrcio (2002) assim conceitua Projeto Simultneo:

O desenvolvimento integrado das diferentes dimenses do empreendimento, envolvendo a formulao conjunta da operao imobiliria, do programa de necessidades, da concepo arquitetnica e tecnolgica do edifcio e do projeto para produo, realizado por meio da colaborao entre o agente promotor, a construtora e os projetistas, considerando as funes subempreiteiros e fornecedores de materiais, de forma a orientar o projeto qualidade ao longo do ciclo de produo e uso do empreendimento.

A necessidade de sua utilizao parte da demanda das empresas do setor por uma maior competitividade e um papel de destaque no mercado. Segundo Fabrcio; Melhado (2001),:

No paradigma de projetos vigente as interfaces so mediadas por contratos e organizadas de forma seqencial, gerando resultados pobres de coordenao e quanto qualidade tcnica do projeto.

O esforo para a mudana do paradigma, ou seja, a adoo da filosofia e do modus operandi do Projeto Simultneo, de acordo com Fabrcio (2004), tem sido aplicada visando:

Ampliar a qualidade do projeto e, por conseguinte, do produto;

Aumentar a construtibilidade do projeto;

Subsidiar, de forma mais robusta, a introduo de novas tecnologias e mtodos no processo de produo de edifcios;

Eventualmente, reduzir os prazos globais de execuo por meio de projetos de execuo mais rpida.

Para Fabrcio (2004) e Fabrcio et. al. (1998), a implantao desta filosofia na atividade da construo de edifcios deve se basear nos seguintes elementos:

Valorizao do papel do projeto e integrao precoce, no projeto, entre os vrios especialistas e agentes do empreendimento paralelismo das aes e atividades;

Transformao cultural e valorizao das parcerias entre os agentes do projeto formao de equipes multidisciplinares;26CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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Reorganizao do processo de projeto de forma a coordenar concorrentemente os esforos de projeto nfase no papel do coordenador como fomentador do processo;

Utilizao das novas tecnologias de informtica e telecomunicaes na gesto do processo de projeto a tecnologia da informao como instrumento bsico e indispensvel;

Incluso do cliente, ou consumidor, no grupo de interessados diretos no empreendimento, dando-lhe poder de influncia, traduzindo suas aspiraes em especificaes de projeto.

Em suma, a adoo da estratgia do Projeto Simultneo implica na adoo de medidas operacionais no sentido de promover o desenvolvimento de atividades de projeto, de diversas especialidades, em paralelo. Para tanto, definem-se etapas onde as diversas especialidades possam trabalhar simultaneamente e em interao. Tais etapas devem ser definidas de forma a englobar o trabalho dos vrios especialistas em nveis de elaborao e detalhamento similares.

Figura 5. Interao de etapas no desenvolvimento de um novo empreendimento com Projeto Simultneo (Fabrcio; Melhado, 1998)

Para iniciar o desenvolvimento de projetos com base no Projeto Simultneo, de acordo com Fabrcio et. al. (1998), preciso um bloco de informaes preliminar, com contedos desenvolvidos previamente. Os autores delineiam o processo de projeto dividindo-o em etapas e sub-etapas,

delimitando as atividades em cada etapa de cada especialidade. Tal subdiviso pretende permitir que27CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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qualquer informao gerada por alguma das especialidades que compem o quadro esteja disponvel, em tempo real, para a avaliao e crtica dos demais. Dessa forma, todos os envolvidos podem participar da tomada de decises, apontando para uma otimizao do processo de projeto de forma global.

Com isto em andamento, possvel ter atividades de outras especialidades ocorrendo paralelamente, com um nvel de elaborao e detalhamento similares. O processo fica interativo e os projetistas podem coordenar solues ao invs de discutir sua posterior compatibilizao, poupando tempo e evitando o retrabalho. A articulao entre essas especialidades fica a cargo do coordenador, figura importantssima no processo, responsvel pelo bom funcionamento do fluxo de informaes e pela concatenao do time de projetistas.

A partir desse pensamento, Fabrcio et. al. (1998) elaboraram uma matriz que configura as etapas de progresso do projeto, definidas por grau de elaborao. A figura 6 a representao grfica do esquema descrito para a elaborao de projetos por meio do Projeto Simultneo. A primeira etapa consiste na reunio de todas as informaes necessrias para o incio do trabalho. Em segundo lugar, a concepo e a elaborao do programa de necessidades. A definio deste programa o primeiro passo, uma vez que o mesmo ficar disponvel para ser atendido, consultado e alterado durante o desenvolvimento do produto. O estudo preliminar de arquitetura pode ser acompanhado pela experincia de outras especialidades e tambm pelos profissionais responsveis pela produo. Com isso, a viso do arquiteto e do incorporador mais facilmente absorvida pelos outros agentes envolvidos. Na etapa posterior, tm-se as solues j em um nvel mais maduro podendo ser consideradas solues ao nvel de anteprojeto, definido pela arquitetura e acompanhado pelas outras disciplinas. Na etapa ltima do processo, deve ser realizado o detalhamento das solues das especialidades que serviro para subsidiar a definio dos projetos para produo e subsistemas crticos da obra.

Apesar da organizao em etapas, tal modelo est muito distante do desenvolvimento seqencial usualmente adotado. Neste caso, as etapas ou fases so caracterizadas pelo trabalho efetivo em equipe. O avano para uma nova etapa significa um movimento de toda a estrutura de produo de projetos, pois o trabalho amadurece em cada especialidade de forma simultnea, ao contrrio do modelo tradicional em que cada especialidade se desenvolve em separado. Ao passar da fase de Concepo para o Desenvolvimento, por exemplo, no haver a necessidade de se discutir elementos da fase anterior, pois todos os agentes envolvidos participaram das decises que a determinaram. Ou seja, o retrabalho praticamente eliminado do processo. O desenvolvimento conjunto de solues para as interfaces e interferncias antecipa a identificao e resoluo de conflitos, dando um aproveitamento mais eficiente e efetivo ao tempo gasto na atividade. Por isso, a compatibilizao de projetos, que no modelo seqencial realizada aps a finalizao do trabalho, praticamente eliminada.28CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

VARGAS, Marcelo Cruz. Gerenciamento de Projetos por meio da Engenharia Simultnea: Sugestes para a Otimizao do Processo na Sudecap. UFMG, Escola de Engenharia - DEMC, 2008.

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Figura 6 Modelo genrico para organizao do processo de projeto de forma integrada e simultnea. (FABRCIO et al., 1999)

No ambiente de Projeto Simultneo, ateno especial dada ao gerenciamento das interfaces de projeto, considerando no apenas a equipe de projetistas, mas todos os envolvidos no ciclo de vida do produto, incluindo fornecedores e clientes. A interface com a produo considerada essencial, e ao contrrio do mtodo seqencial de gesto, est integrada ao trabalho de projetos. Conforme a Figura 6, durante todo o processo esto presentes os agentes da produo em sua totalidade. A preocupao com a construtibilidade define, na etapa do detalhamento do projeto, a adoo da prtica do Projeto da Produo, um enfoque diferenciado do Projeto do Produto e que integra o conceito do Projeto Simultneo.

1.5 Projeto do Produto e Projeto da Produo 3

O conceito de Projeto da Produo constitui uma viso avanada no mbito do gerenciamento de projetos. um projeto, integrante do conjunto de projetos que caracterizam um empreendimento de construo civil, cuja funo dar vistas construtibilidade do objeto projetado. Sua utilizao pode3

O conceito de Projeto do Processo tambm abordado, por alguns autores, com uma diviso entre Projeto da Produo e Projeto Para Produo. Ver Melhado; Fabrcio (1998).29CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

VARGAS, Marcelo Cruz. Gerenciamento de Projetos por meio da Engenharia Simultnea: Sugestes para a Otimizao do Processo na Sudecap. UFMG, Escola de Engenharia - DEMC, 2008.

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estar ou no associada ao ambiente de Engenharia Simultnea, ocorrendo, por diversas vezes, sua incluso em empreendimentos desenvolvidos com base no modelo projetivo seqencial, ou tradicional. Na tica do Projeto Simultneo, trata-se da ferramenta que responde interface projetoobra, e por esse motivo, possui o status de instrumento essencial para o funcionamento pleno de uma gesto de projetos inserida neste novo paradigma produtivo. Para Melhado; Fabrcio (1998), a inteno que baseia a idia do Projeto da Produo :

(...)elaborar projetos que forneam produo subsdios quanto as estratgias de produo, layouts de canteiro, procedimentos construtivos, seqncias de atividades, parmetros de controle, e detalhes da execuo da obra e de suas partes.

Apesar de se debruarem sobre o mesmo objeto, o Projeto da Produo diferencia-se do Projeto do Produto em sua funo e seu enfoque. Fabrcio (2002) define como Projeto do Produto o registro grfico-descritivo onde consta o produto em suas dimenses e caractersticas, por meio de especificaes tcnicas descritas em diversos subprojetos, como o arquitetnico, o estrutural, os projetos de instalaes, etc. um projeto em nvel conceptivo com enfoque no objeto em si. O Projeto da Produo, por sua vez, descrito por Corra (2006) como uma atividade onde o projetista considera o mtodo pelo qual o produto ser produzido. Neste, destinado a atender as necessidades da produo, definem-se procedimentos e seqncias do trabalho, os recursos a serem utilizados e o ferramental necessrio para a correta execuo do objeto constante no Projeto do Produto.

A necessidade e a importncia do Projeto da Produo se tornam mais ntidas com a observao dos mtodos tradicionais e corriqueiros utilizados pela maioria das empresas da Construo Civil para a elaborao de projetos. Novaes (1998) salienta que, na atividade da construo de edifcios, a elaborao de projetos ocorre de forma dissociada da sua execuo. Dessa forma, so desconsiderados, no projeto, os aspectos produtivos, acarretando omisses nos detalhamentos e deixando incompletas as composies dos projetos resultantes. A melhoria dessa relao projetoprocesso deveria, portanto, ser trabalhada por meio de atividades que se desenvolvam nessa interface que caracteriza o encontro do Produto com a Produo.

Tal qual a Engenharia Simultnea, a idia do Projeto da Produo originria da indstria seriada. Melhado; Fabrcio (1998) sugerem ateno para a transposio deste conceito para a atividade da construo de edifcios. Enquanto na produo em srie tem-se apenas um Projeto da Produo para inmeras unidades produzidas, na Construo Civil quase sempre necessrio um projeto para cada objeto produzido. Entretanto, apesar de no haver, neste caso, a repetio na execuo do produto, ainda possvel aplicar a padronizao em muitos dos procedimentos comuns, em vrias frentes de produo, em produtos diferentes, bem como a padronizao de procedimentos especficos da empresa construtora, ou mesmo da tipologia do produto.30CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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No Brasil, a preocupao com a transio do Projeto para a Execuo, comeou a ser respondida com a adoo do Projeto da Produo, de forma significativa, a partir da dcada de 1990, em empresas lderes de mercado. Essa demanda por Projetos de Produo fez nascerem muitas empresas especializadas neste servio, no mercado paulista da poca. Todavia, sua introduo nos sistemas de produo das empresas , de forma geral, realizada conforme o mtodo seqencial de desenvolvimento de projetos, no permitindo a permeabilidade entre especialidades apregoada pelo conceito do Projeto Simultneo. Ou seja, ocorre de forma fragmentada, depois de todos os projetos finalizados, por profissionais contratados no mercado e sem contato com os outros projetistas. (FABRCIO, 2002). Dessa maneira, apesar de a aplicao do Projeto da Produo atingir o objetivo de otimizar a construtibilidade do objeto projetado, a ausncia de uma poltica de Projeto Simultneo faz com que a ferramenta tenha uso e resultados bastantes aqum de seu potencial.

Considerando o caso de um ambiente produtivo que corresponda ao conceito preconizado pelo Projeto Simultneo, Melhado (1994) afirma que os projetos para produo devem ser elaborados simultaneamente ao detalhamento dos projetos do produto, tendo como um de seus objetivos a especificao das seqncias dos servios durante as atividades de execuo das obras, as composies de trabalhadores para as atividades, a disposio das instalaes provisrias e a organizao dos canteiros, alm de outras questes vinculadas capacidade organizacional e produtiva das empresas construtoras. Ou seja, o intento a busca por uma otimizao da atividade da construo, no apenas dando solues ao nvel da seleo de tecnologia construtiva, mas tambm antecipando, na etapa do projeto, vrias das questes que normalmente so solucionadas em obra. Logo, a racionalizao da execuo tende a chegar ao ponto de tornar a obra uma atividade mais prxima a uma linha de montagem, onde todos os implementos e matrias-primas tm sua posio, tipologia e quantidade exatas especificadas, bem como os mtodos de montagem j definidos, poupando os profissionais da execuo da tarefa de elaborar mtodos para cumprir sua atividade. Conforme Novaes (1998), a organizao do trabalho, o aumento da produtividade e o controle da qualidade, so metas do Projeto da Produo.

O mesmo autor destaca, como exemplo, alguns contedos que podem ser abordados pelo Projeto da Produo:

definies quanto ao suprimento das infra-estruturas - gua, energia, comunicaes, etc. - necessrias para a implantao e operao de atividades no canteiro ou em usina;

projeto do canteiro, definido pelo dimensionamento e pela localizao adequada de equipamentos, reas de trabalho, instalaes provisrias e seus acessos (reas de circulao, manobras e estacionamentos);

projeto de frmas para execuo de estrutura de concreto armado, contemplando a seqncia das atividades de frma e desforma;31

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especificao da dosagem dos materiais constituintes do concreto, em funo da resistncia caracterstica especificada no projeto estrutural; das argamassas, de assentamento e de revestimento; e dos contrapisos (quando produzidos no canteiro); projeto de concretagem, composio com da identificao equipe de e especificao de

equipamentos,

operrios,

assim como,

estabelecimento do percurso lgico para atividades de concretagem, em funo dos equipamentos utilizados, sua localizao e circulao na rea da concretagem; projetos para produo seriada de componentes (por exemplo, prmontagem de "kits" para instalaes prediais); projeto de vedaes, contemplando: marcaes de fiadas, modulaes, amarraes, grauteamentos, fixaes e ligaes com componentes da estrutura; dispositivos de ligao das vedaes do ltimo pavimento com a estrutura da cobertura; compatibilizao com componentes e traados das instalaes prediais; projeto de cintas, vergas e contra-vergas, complementar aos projetos de estrutura e de vedaes; projeto de impermeabilizao de fundaes, vedaes verticais internas e pisos em ambientes molhveis, fachadas e cobertura; projeto de revestimentos, contemplando as especificaes e atividades relativas execuo das diversas camadas exigidas para assentamento dos acabamentos; paginao de componentes dos acabamentos; projeto de esquadrias; projeto de lajes racionalizadas; projeto de contrapisos; projeto de montagem e fixao de forros e esquadrias nos componentes da estrutura e das vedaes. (NOVAES, 1998)

Conforme explicita Melhado (1994), no Projeto da Produo no devem constar informaes relativas caracterizao do produto, funo esta j exercida pelo Projeto do Produto, mas apenas o que for estritamente necessrio para a realizao da tarefa por ele indicada. Barros apud Corra (2006) acrescenta que os projetos da produo proporcionam no apenas os mtodos para que a produo ocorra de forma planejada, mas tambm a possibilidade de um maior acompanhamento e controle da produo, de modo que se garanta na produo a qualidade do produto de acordo com o especificado.

32CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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Tanto para o Projeto da Produo como para o Projeto Simultneo em si, a busca pela qualidade o fator decisivo para que as empresas do ramo da construo de edifcios consigam se alar a uma situao de competitividade frente a um mercado e uma concorrncia em crescimento, onde o aperfeioamento e a otimizao do processo, como um todo, pode ser decisivo. Neste ponto, Juran apud Corra (2006) salienta que, se um produto possui um projeto de baixa qualidade, a qualidade do processo de execuo no suficiente para garantir que o produto tenha qualidade. Ou seja, o controle da qualidade tem que existir em todas as etapas de projeto, mas antes disso, deve permear todas as etapas do empreendimento em si.

1.6 A importncia da Gesto da Qualidade no processo de projeto

Toda a lgica que envolve a implementao dos novos conceitos de projeto e produo aqui apresentados, tanto na Construo Civil como na indstria seriada, est vinculada busca pela Qualidade. O novo paradigma da produo industrial, que na atividade da construo de edifcios se insere na forma do Projeto Simultneo, sugere a existncia de uma poltica de Gesto da Qualidade que o envolva e do qual seja parte integrante. Logo, a construo de um ambiente ideal para a introduo e o desenvolvimento desses conceitos depende de um trabalho de gesto ativo, garantindo que todo o processo tenha um objetivo comum, e trabalhe por ele.

Por Qualidade, entende-se, sobretudo, a capacidade que um processo ou produto tem para satisfazer necessidades, explcitas ou implcitas (ISO, 1986, apud MELHADO, 1994). O conceito de qualidade evolui em conjunto com a dinmica da produo industrial e das relaes de consumo. Melhado (1994) demonstra que, na origem, o conceito de Qualidade servia para designar aes de controle do atendimento s especificaes de um produto e para a minimizao de incertezas no processo, sendo que, em sua seqncia evolutiva, o que se entendia por controle de qualidade passou a ser conhecido como as tcnicas responsveis pelo atendimento s necessidades da qualidade, onde a idia de Qualidade define a parte mais abrangente da questo. Assim, a linha evolutiva do conceito passou pelo perodo das inspees, do controle de qualidade, e depois para a garantia de qualidade e o foco nos processos, para em seguida atingir o iderio da qualidade total. O autor ressalta que o conceito dinmico e continuar evoluindo.

Na atividade da construo de edifcios, devido complexidade dos empreendimentos, encontram-se na literatura muitas variaes para a definio da Qualidade. Sobre isso, comenta Fabrcio (1999):

Se se adotar o raciocnio de que a qualidade pode assumir diferentes significados de acordo com a convenincia de cada agente e de cada processo, pode-se concluir que ao longo do ciclo de vida do edifcio diversos interesses so postos em jogo e com isso a qualidade pode assumir diferentes dimenses, sendo a qualidade total do empreendimento a soma dos resultados dessas diferentes dimenses.33CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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O autor destaca que a natureza coletiva e complexa dos empreendimentos da Construo Civil leva a idia de Qualidade a ser constituda por uma srie de fatores. Na dimenso comercial do empreendimento, a Qualidade estar ligada aceitao do produto pelo pblico consumidor, pela liquidez e rapidez nas vendas, pela potencial valorizao do produto enquanto investimento, etc. J para a construo do objeto em questo, os critrios que definiro a Qualidade sero a produtividade, a interao projeto-execuo, atendimento s especificaes, entre outros. E para o usurio final, importar as questes de habitabilidade e manuteno, e uma srie de outros mais subjetivos, ligados prpria idia do morar. Para o autor, o ideal que os processos de projeto e de execuo contemplem todas as interpretaes e aspiraes da qualidade.

Melhado (1994) sugere que a Qualidade na construo de edifcios emane a partir do Projeto, pois este o ponto de onde partem a maioria de suas falhas. Fabrcio (2004) refora a hiptese com o argumento de que nesta fase do empreendimento so tomadas as decises com maior repercusso nos custos e na qualidade.

Figura 7 Ciclo da qualidade na construo: (a) as implicaes do projeto no ciclo da qualidade; (b) agentes e etapas a serem considerados no desenvolvimento da qualidade durante o projeto.

Melhado (1994) representa a importncia do projeto para a Qualidade atravs do Ciclo da Qualidade (Figura 7), no qual destacado o dilogo constante entre o projeto e os diferentes interesses envolvidos no empreendimento.

De acordo com Melhado (1999), o processo de concepo e projeto de edifcios pode ser entendido como um sistema constitudo por dados de entrada, cujo processamento dar origem a um conjunto34CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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de dados de sada, correspondendo, respectivamente, s necessidades dos clientes, e s solues dadas na forma do produto. Assim sendo, os dados de sada precisam ser verificados ante os primeiros, para ento serem validados pelos clientes. Em seguida, so encaminhados produo, e podem ser arquivados ou passar por alguma modificao, que neste caso implica em modificar os dados de entrada e refazer o processo. Logo, o primeiro condicionante da qualidade do processo a clareza e a qualidade das informaes de partida.

Figura 8 O processo de projeto segundo a tica da Gesto da Qualidade

Em primeiro lugar, necessrio que a qualidade nos dados de entrada se d na forma de fornecimento de informaes claras e conclusivas que iro compor o Programa de Necessidades. Em seguida, na Etapa de Projetos, ideal que a equipe trabalhe de acordo com sua capacidade e potencial, de forma a dar forma s solues mais adequadas para as demandas introduzidas pelo Programa de Necessidades, a partir do domnio dos conhecimentos necessrios para tanto, e sua correta utilizao. Os dados de sada tambm constituem um componente cuja Qualidade essencial, e neste caso, a clareza da apresentao o critrio a ser levado em considerao: informaes completas e claras, de fcil consulta e adequadamente detalhadas. Por fim, o componente extra reside nos servios associados, que demandam especial ateno dos gestores por serem de suma importncia para a Qualidade do empreendimento como um todo.

Fabrcio (2002), em anlise sobre diversos autores, define a Qualidade do empreendimento com uma diviso conceitual em quatro componentes, como pode ser observado no Quadro 3.

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Quadro 3 Componentes da Qualidade do Projeto (FABRCIO, 2002)

Portanto, a Qualidade de um empreendimento no est restrita apenas ao seu projeto ou ao seu produto. A noo de Qualidade precisa estar no processo como um todo. A inteno da Gesto da36CECC Curso de Especializao em Construo Civil Departamento de Engenharia de Materiais de Construo - Escola de Engenharia da UFMG - 2008

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Qualidade sempre estar ligada idia de excelncia, cuja busca sugere interferncias