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Universidade Federal de Uberlândia Curso de Física de Materiais LUIZ ALEXANDRE GUILHERME Estudo e caracterização de eletrólitos poliméricos do tipo PE-b-POE ( Polietileno-bloco-Polióxido de Etileno)/LiClO 4 (Perclorato de Lítio) para obtenção da Célula Eletroquímica de Emissão de Luz (LEC). Uberlândia - MG 2009

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Universidade Federal de Uberlândia

Curso de Física de Materiais

LUIZ ALEXANDRE GUILHERME

Estudo e caracterização de eletrólitos poliméricos

do tipo PE-b-POE ( Polietileno-bloco-Polióxido de

Etileno)/LiClO4 (Perclorato de Lítio) para obtenção da

Célula Eletroquímica de Emissão de Luz (LEC).

Uberlândia - MG

2009

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Estudo e caracterização de eletrólitos poliméricos

do tipo PE-b-POE ( Polietileno-bloco-Polióxido de

Etileno)/LiClO4 (Perclorato de Lítio) para obtenção da

Célula Eletroquímica de Emissão de Luz (LEC).

Luiz Alexandre Guilherme

Orientadora: Profa. Dra. Raigna Augusta da Silva Zadra Armond

Monografia apresentada à Universidade Federal de

Uberlândia, como requisito parcial para a obtenção

do título de Bacharel em Física de Materiais.

Junho de 2009

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Agradecimentos:

Agradeço à Deus que poss ib i l i tou que tudo i sso se

conc re t i zasse , em me io as a legr ias e adve rs idades .

A todas às pessoas que es t i ve ram do meu lado du ran te a

rea l i zação des te t raba lho .

Aos meus pa is , Lu iz Ca r los Gu i lhe rme e Da rc i Tomás ia da

S i l va , pe lo exemplo de v ida , e po r me mos t ra rem o caminho a se r

pe rcor r ido , desde meu nasc imento a té es ta conqu is ta .

Ao meu i rmão, W i l l ian Doug las Gu i lhe rme, pe lo apo io du ran te

a g raduação , sempre com pa lavras de um grande e espec ia l

am igo , me a judando nos momentos compl icados .

À m inha esposa , Renata Mar ia da Cos ta , pe los cu idados ,

ca r inho e pac iênc ia du ran te a re ta f i na l .

À m inha o r ien tado ra , Pro f . D ra . Ra igna Augusta da S i l va

Zad ra A rmond, que me es tendeu as mãos e me p rop ic iou ma is do

que uma In ic iação C ien t í f i ca , mas a opo r tun idade de me descob r i r

p ro f i ss iona lmente ; eu não te r ia chegado a té aqu i sem seu apo io .

A FAPEMIG pe lo apo io f i nance i ro .

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RESUMO:

Eletrólitos poliméricos são sistemas binários onde o polímero atua como

solvente para um sal, tornando-o um condutor iônico. Tais eletrólitos são vastamente

utilizados em dispositivos eletroquímicos, baterias, capacitores, etc. A condutividade

elétrica nesses sistemas é essencialmente iônica; e nesses eletrólitos poliméricos

ela é fortemente dependente da fase amorfa do polímero e dos tipos de interações

iônicas presentes, sejam elas, à interação íon-íon ou íon-polímero, influenciando na

mobilidade iônica dos portadores de cargas. Polímeros contendo heteroátomos na

sua estrutura apresentam alto poder de dissolução do sal, pois esses heteroátomos

têm a capacidades de ligar o metal à unidade solvatante da cadeia polimérica. O

Polióxido de Etileno (POE) é uma boa opção para dissolver o sal e permitir a

condução dos íons através da estrutura do polímero. O sal de Perclorato de Lítio

( )4LiClO é muito importante na preparação dos eletrólitos poliméricos, pois tem

boas qualidades para aplicação em dispositivos eletroquímicos. Os dois polímeros

escolhidos para esse trabalho são comerciais e possuem a estrutura química

[ ] [ ] −−−−−−−−−mn

OCHCHCHCH 2222 e contém uma matriz polimérica com

aproximadamente 50% de n e 50% de m (denominado 50% POE) e outro com 20%

de n e 80% de m (determinado como 75% POE e 25% PE, por medidas de RMN).

As suas massas molares são de 920 g/mol e 2250 g/mol, respectivamente, segundo

o fabricante a Aldrich®. Neste trabalho, são apresentados alguns estudos de

caracterização: em análise térmica, utilizou-se a técnica de Termogravimetria (TG),

que demonstrou que os eletrólitos são termicamente estáveis até ~320°C; a técnica

de Calorimetria Diferencial à Varredura (DSC), verificou-se em copolímeros de 75%

POE, um aumento na transição vítrea e desaparecimento da fase cristalina do POE

devido à adição de sal. O copolímero 50% POE demonstra um comportamento

térmico mais complexo com decomposição e a fusão dos blocos poliméricos.

Em medidas de condutividade iônica, para copolímero de 75% POE, conseguimos

obter valores maiores que 10-5 S/cm em temperatura ambiente chegando até a

valores de 10-3 S/cm em 100°C, enquanto, o copolímero de 50% atingiu valores de

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no máximo 10-5 S/cm. As medidas de Espectroscopia Raman demonstraram que o

motivo da baixa condutividade do PO-b-POE com 50% de POE pode ser associada

à alta concentração de PE, que induz uma baixa condução iônica.

Vale ressaltar que todos os dados aqui apresentados foram o trabalho de

minha iniciação científica e já se encontram publicado por nós, na referência:

L.A. Guilherme, R.S.Borges, E. Mara S. Moraes, G.Goulart Silva, M.A. Pimenta, A.

Marletta, R. A. Silva, Electrochim. Acta 53 (2007) 1510.

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SUMÁRIO:

1) INTRODUÇÃO .....................................................................................................................4

1.1)Polímeros..........................................................................................................................4

1.2) Sais ..................................................................................................................................7

1.2.1) Sal de lítio ................................................................................................................7

1.3) Eletrólitos Poliméricos ....................................................................................................8

1.4) Motivação........................................................................................................................9

2) REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DAS TÉCNICAS ...............................................................11

2.1) Análise térmica..............................................................................................................11

2.1.1) Calorimetria Diferencial à Varredura (DSC) .........................................................11

2.1.2) Termogravimetria (TG)..........................................................................................11

2.2) Condutividade iônica.....................................................................................................11

2.3) Espectroscopia Raman ..................................................................................................12

3) OBJETIVO...........................................................................................................................15

4) MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................16

4.1) Preparação das amostras................................................................................................17

4.2) Medidas e caracterizações.............................................................................................18

5) RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................................20

5.1) Resultado da Análise Térmica ......................................................................................20

5.1.1) Resultado de medida de Termogravimetria ...........................................................20

5.1.2) Resultado de medida de DSC.................................................................................21

5.2) Resultado de medida de Condutividade Iônica .............................................................25

5.3) Resultado de medida de Espectroscopia Raman...........................................................30

5.3.1) Ajustes dos espectros Raman na região 900-1000 cm-1 .........................................32

6) CONCLUSÃO .....................................................................................................................34

7) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................36

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1) INTRODUÇÃO

Dispositivos do tipo Célula Eletroquímica de Emissão de Luz (LEC), consiste

de uma “blenda” (mistura) de um polímero conjugado eletroluminescente e um

polímero que conduz ionicamente ( )-4ClOLiPOE +→ . Essa “blenda” é depositada

entre dois eletrodos que, ao aplicar uma diferença de potencial (DDP), deve

assegurar uma boa “injeção de buracos”. Entretanto, os problemas de segregação

de fases do polímero conjugado e do polímero condutor iônico comprometem, em

parte, sua utilização.

Os estudos em eletrólitos poliméricos têm permitido distinguir a natureza das

interações iônicas nos diversos sistemas e quantificar o número de íons livres, pares

iônicos e agregados superiores presentes nos sistemas poliméricos que influenciam

a sua condutividade.

1.1)Polímeros

Como este trabalho se trata de eletrólitos poliméricos, é importante explicar,

brevemente, alguns conceitos básicos de polímeros, para permitir a apresentação e

discussão dos resultados sobre os sistemas de eletrólitos.

Polímeros são moléculas grandes formadas pela junção de moléculas

menores (monômeros) que se repetem N vezes, ou seja, repetir a molécula

1x = monômero, 2x = dímero, 3x = trímero, Nx = polímero. Essa molécula do

polímero é denominada macromolécula em razão do seu tamanho e sua massa

molar da ordem de 103 a 106 u.a.. Quando existe mais de um tipo de monômero na

composição do polímero, ele é designado copolímero e quando existe um único tipo

de monômero na composição é um homopolímero.

Reação de polimerização é a reação em que os monômeros se combinam

quimicamente para formar moléculas longas (polímeros). As reações podem ser de

policondensação e por poliadição. A polimerização pode ser reversível ou

irreversível, espontânea ou provocada. A reação de polimerização do etileno pode

efetuar-se à pressão normal e, também, pode efetuar-se em baixas temperaturas

com a presença de catalisadores[1].

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O polímero pode ter cadeia sem ramificação, denominado polímero linear,

pode apresentar ramificações, denominados polímero ramificado. Essas

ramificações podem ir ao extremo, resultando em cruzamentos e/ou entrelaçamento

de cadeias, denominado polímero com ligação cruzada, ou polímero reticulado, e

polímero em rede [1], como mostrado na Figura - 1.

Figura - 1: representação das cadeias macromoleculares a) cadeia linear, b) cadeia

ramificada, c) cadeia em rede

Polímero pode ser classificado de acordo com sua

estrutura química – subdivide-se em poliamida, poliésteres, poliéteres, poliacetais,

etc; método de preparação – subdivide-se em polímero de adição e polímero de

condensação; características tecnológicas – impõem diferentes aplicações como

termoplásticos e termorrígidos; comportamento mecânico - subdividido em três

grandes grupos borracha ou elastômeros, plásticos e fibras.

As propriedades do polímero dependem de três fatores: da natureza química

dos monômeros, da massa molecular e do processo de preparação. A massa

molecular do polímero é um item muito importante neste trabalho. Quando se varia a

massa molecular do polímero mudam-se também algumas outras propriedades,

a) b)

c)

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como a viscosidade da solução; e varia-se a habilidade para construção de filmes,

resistência a tração, etc [1].

Os Polímeros podem existir em estado amorfo, ou seja, apresentar arranjo

desordenado das moléculas; ou seja, aleatório; pode, ainda, existir polímeros no

estado cristalino, onde ocorre um empacotamento regular e ordenado em todas as

direções. No estado amorfo ou não cristalino, o polímero possui características de

elasticidade, flexibilidade e maciez; quanto mais cristalino o polímero, mais denso e

mais rígido ele se torna e também aumenta a sua resistência mecânica e térmica,

dificultando sua dissolução em solventes [1]. Uma ilustração de polímero

semicristalino é demonstrada na Figura - 2, onde são destacadas a fase amorfa e a

fase cristalina do polímero.

Figura - 2: Ilustração de um polímero semicristalino

Na Figura - 3, observa-se a variação do volume com a temperatura para dois tipos

de polímero: um polímero amorfo e um polímero semicristalino. Em baixas

temperaturas, os polímeros possuem baixas energias e pode-se dizer que estão

congelados. Uma ocorrência do polímero no estado sólido é conhecida como estado

vítreo, no qual a estrutura do polímero apresenta maior dilatação térmica, maior

volume, e maior estabilidade. Na Figura - 3, observa-se essa transição no ponto

marcado com Tg (glass transition), onde, claramente, percebe-se o aumento da

dilatação térmica; quando aumentamos a temperatura. O polímero pode “derreter”,

condição em que é chamado de polímero termoplástico, o ponto de fusão é marcado

no gráfico com Tm (melting temperature) [1].

Amorfo Cristalino

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Figura - 3: variação do volume com a temperatura em polímero amorfo e semicristalino, com

destaque na Tg e Tm.

1.2) Sais

Na visão acadêmica, o sal é um composto formado por ligações entre um

cátion+ e um ânion-, chamado de ligação iônica. O sal é geralmente, produto de

reações químicas de ácido e base e de ácido e metal. Normalmente os sais formam

cristais e são dissolvidos em água ou em outros solventes orgânicos. Quando essa

dissolução acontece os íons do sal são separados, passando a solução a conduzir

eletricidade, transformando a solução em um eletrólito.

Os sais possuem alto ponto de fusão, pouca compressibilidade e podem ser

inorgânicos (cloreto de sódio NaCl) ou orgânicos (etanoato de ferro C2H3O2Fe) [2].

1.2.1) Sal de lítio

Sal de lítio, de nomenclatura oficial perclorato de lítio ( )4LiClO , é amplamente

utilizado por indústrias e laboratórios na fabricação de dispositivo eletro-químico.

Este sal cristalino é importante pelo seu alto poder de solubilizar e dissociar-se em

vários tipos de solventes, permitindo o seu uso em dispositivo do estado sólido como

de baterias, capacitores, eletrólitos, etc. Quando dissociado os íons separam-se em:

onde, o ânion ClO4- possui geometria piramidal de base triangular

[2].

AMORF

SEMICRISTALIN

VO

LUM

E

Tg Tm

AMORFO

SEMICRISTALINO

TEMPERATURA

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1.3) Eletrólitos Poliméricos

Eletrólitos poliméricos são sistemas binários constituídos por um polímero e

um sal, onde o polímero atua como solvente para o sal, parcialmente dissociado na

matriz polimérica, levando o sistema a um comportamento de eletrólito apresentando

certa mobilidade iônica.

Matrizes de macromoléculas que contêm heteroátomos (-O, -S, -N, -P) na

cadeia principal, com uma distância ideal entre os centros de coordenação, têm a

capacidade de permitir a ligação entre os metais do sal dissolvido e agregar nas

unidades solvatantes da cadeia polimérica. Então, a seqüência

carbono-carbono-heteroátomo é a mais favorável para que ocorram estas ligações.

Entre os heteroátomos, a ordem decrescente de eletronegatividade é:

-O > -N > -S > -P. Como átomos mais eletronegativos apresentam maiores

afinidades eletrônicas o Polióxido de Etileno (POE) (CH2-CH2-O) será o polímero

mais adequado para agir como matriz na preparação de eletrólitos [3]. Como o POE

possui um alto grau de cristalinidade e isso atrapalha a condução iônica; nos últimos

anos, matrizes modificadas baseadas no Polióxido de Etileno têm sido estudadas

com o intuito de diminuir o seu alto grau de cristalinidade, que é uma condição

indispensável para a condução iônica [4,5] mas sempre mantendo o seu alto poder

solvatante.

O interesse no estudo de eletrólitos poliméricos líquidos [3,5] consiste em

entender como funcionam os mecanismos de condução iônica e a natureza das

interações íon-íon e íon-polímero. A estrutura interna do polímero no estado amorfo

é essencialmente a mesma, sendo ele de baixa massa molar (líquido) ou de alta

massa molar (sólido viscoelástico).

Polímeros semicristalinos tendem a se recristalizar criando certa dificuldade

quando se repete a preparação dos eletrólitos e também dificulta a caracterização

da fase amorfa condutora. O sistema líquido de fase amorfa se constitui de uma só

fase, simples de manusear, e são bem apropriados para submeter às

caracterizações e estudos fundamentais.

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1.4) Motivação

Dentre as motivações para se trabalhar com eletrólitos poliméricos está a sua

ampla e fascinante aplicação na tecnologia de construção de dispositivos, cuja forma

e desempenho são constantemente aperfeiçoados visando a sua aplicação na forma

de filmes finos ( )mµ20 e flexíveis, com grande estabilidade química e eletroquímica.

Figura - 4: ilustração de um display formado por um filme ultrafino e flexível.

A aplicações dos eletrólitos poliméricos, encontram-se em diferentes níveis de

pesquisas como visto na Figura - 4 e citado nos exemplos a seguir [2]:

� Bateria com anodo de lítio - já são utilizadas e comercializadas em baterias

de relógio, calculadoras, celulares e etc.

� Janelas eletrocrômicas (para controle de passagem de UV visível) - em

estágio de pesquisa em laboratório e em desenvolvimento industrial.

� Sensores de íons e de gases - em estágio de pesquisa em laboratório e

testes industriais.

Outras grandes motivações para se trabalhar com eletrólitos poliméricos

dizem respeito ao o que está relacionado à dissolução de sais, ao que ocorre no

interior da cadeia polimérica e a detalhes da condutividade iônica.

Nestas linhas, têm sido desenvolvidos estudos como os exemplos citados a

seguir [2]:

� Como se comporta a condutividade iônica em função da concentração de sal

que é misturada ao sistema para obtenção dos eletrólitos, em função da

temperatura, que interfere na mobilidade iônica e na fase amorfa-cristalina do

sistema.

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� Fazem-se estudos de espectroscopia Raman para investigar as interações

íon-polímero, íon-íon, através do estudo dos seus modos internos de

vibração.

� Estuda-se a relação da amorficidade e cristalinidade associada à

condutividade iônica, resultado relevante que pode ser obtido por

Ressonância Magnética Nuclear.

� Construção de diagramas de fases dos sistemas binários desenvolvida

através de difração de Raio-X e Calorimetria Diferencial à Varredura (DSC).

� Estudo das interações cátion-matriz polimérica e cátion-ânion, que, além de

serem observadas por espectroscopia Raman, pode ser complementada pela

espectroscopia de infra-vermelho.

� Estudo, através da técnica de Calorimetria Diferencial à Varredura e

monitoramento da Transição Vítrea (Tg), o qual permite entender a

contribuição da estrutura da fase amorfa ao comportamento da condutividade.

� Estudo da estrutura química de macromoléculas com sais e suas

estabilidades térmicas. Caracterizado por termogravimetria, estabilidade

dimensional caracterizada por voltametria cíclica e Espectroscopia de

Impedância.

Vários estudos têm se utilizado das técnicas de espectroscopias gerando

grande interesse entre pesquisadores na busca de bons níveis de condutividade

iônica sem diminuir a estabilidade do sistema em temperatura e pressão normais [2].

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2) REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DAS TÉCNICAS

2.1) Análise térmica

2.1.1) Calorimetria Diferencial à Varredura (DSC)

Essa técnica é muito interessante e eficaz para analisar algumas mudanças

físico-químicas no sistema polimérico ocorrido através da variação da temperatura, e

da variação da capacidade calorífica à pressão constante (∆cp). Diversos tipos de

transição podem ser observados nos termogramas de DSC, como a transição vítrea

(Tg), a fusão de uma estrutura cristalina, a mudança conformacional de uma cadeia

polimérica.

2.1.2) Termogravimetria (TG)

Termogravimetria é uma técnica bastante utilizada para a caracterização de

eletrólitos poliméricos. Essa técnica permite medir a variação de massa em uma

substância em função da temperatura ou do tempo, fornecendo dados importantes

para caracterização do comportamento térmico dos materiais, como o início da

degradação térmica da amostra.

2.2) Condutividade iônica

Em eletrólitos poliméricos, cátions e ânions podem fazer parte da

condutividade iônica. Vários estudos têm sidos realizados para aumentar a

condutividade iônica em temperatura ambiente. Por isso é produzido vários tipos de

polímeros, que, testado com vários sais diferentes, produzem diversos tipos de

eletrólitos poliméricos.

Quando os sais de lítio são dissociados na cadeia polimérica, dois fenômenos

podem acontecer, repercutindo negativamente na condutividade iônica, tendo a

capacidade de alterar o transporte dos íons através da cadeia polimérica. Um destes

fenômenos é o aumento da fase cristalina do sistema; e o outro é o aumento da

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temperatura da transição vítrea (Tg) do material, causado pela coordenação do sal

de lítio com o heteroátomo da cadeia polimérica. Ambos os processos têm efeito

limitante na liberdade de migração dos íons de lítio através dos eletrólitos.

Consequentemente, esses efeitos diminuem a condutividade iônica à temperatura

constante.

Estudos mostram que a condutividade iônica pode ser alterada com variação

da temperatura porque, quando se aumenta a temperatura, a condutividade iônica

também aumenta. Este evento está relacionado com o aumento da flexibilidade da

cadeia polimérica, indicado pela diminuição da Tg nas curvas de DSC e ocorre ao

contrário em condutor metálico (aumento da temperatura diminui a condutividade,

pois aumenta a resistência do material).

A quantidade de sal capaz de dissociar-se na cadeia polimérica depende da

concentração do composto colocada no polímero hospedeiro, pois, em grande

quantidade, ocorre saturação. Temos, então, que a capacidade de dissociação do

polímero decresce com o aumento da concentração do sal. Como consequência

tem-se um máximo na fração de íons “livres” (free íons) em torno da concentração

ideal para cada sistema polímero-sal [6].

2.3) Espectroscopia Raman

A Espectroscopia Raman é uma das ferramentas mais importantes que existe

para caracterização estrutural e verificação de fenômenos que ocorrem em escala

macro, micro e nanométrica.

Em 1928, o cientista indiano Chandrasekhara Venkata Raman desenvolveu

essa técnica, que lhe rendeu um premio Nobel a partir da descoberta do efeito de

espalhamento inelástico da luz. Venkata Raman disse:

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“Quando um feixe de luz monocromática atinge

um meio material, uma fração muito pequena dessa

luz sofre uma mudança na sua frequência

(espalhamento inelástico), e o conjunto dessas

frequências modificadas constitui o que se chama de

espectro Raman, que contém informações a respeito

da estrutura das moléculas que constituem esse meio

material.” [7].

Vários países têm utilizado a Espectroscopia Raman em laboratórios de

desenvolvimento de novos produtos para indústria de alta tecnologia, como

semicondutores, por exemplo. Essa técnica é útil para determinar e planejar a

estrutura molecular afim de que a amostra de semicondutores obtenha seu máximo

de aproveitamento. A Espectroscopia Raman permite o conhecimento detalhado da

estrutura molecular e supramolecular dos materiais, o que deixa bem claras as

razões pelas quais laboratórios de desenvolvimento de tecnologia de ponta usam

muito essa técnica. Assim, pode-se notar que Espectroscopia Raman é uma técnica

muito utilizada em inúmeras aplicações.

Alguns exemplos da aplicação da Espectroscopia Raman [8]:

� Sistemas químicos: análise e caracterização de materiais orgânicos,

inorgânicos, solventes, derivado de petróleo e materiais processados na

forma de filmes.

� Processos Químicos: controle de reação em geral com intuito de identificar e

medir os componentes de uma mistura, controles de reações e polimerização,

identificação de contaminantes, suporte para estudo morfológico de

polímeros, etc.

� Polímeros e plásticos: controle de qualidade de produtos elaborados, bem

como os seus rejeitos.

� Produtos farmacêuticos: controle de pureza de produtos, identificação de

produtos fármacos e detalhes na elaboração de medicamentos.

� Alimentos: detecção de contaminantes de origem inorgânica como resíduos

de inseticidas, e contaminantes de origem biológica como bactérias e fungos;

e identificar a presença de proteínas, gorduras, carboidratos, etc.

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� Biológico e Sistemas médicos:

Medidas de concentração de proteínas, análises biológicas em sangue e

tecido, determinação de concentrações metabólicas, medidas de oxigenação

no sangue e tecidos, estudos de doenças como o câncer em nível molecular,

diagnósticos cardiovasculares, etc.

� Aplicações em segurança:

Identificação de materiais explosivos, tóxicos, entorpecentes, etc.

� Mineração, Geologia e arqueologia:

Identificação de rochas, minérios, pedras preciosas, etc.

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3) OBJETIVO

O objetivo deste trabalho reside na investigação de diferentes tipos de

eletrólitos poliméricos através das técnicas de DSC, TG e Espectroscopia Raman, a

fim de estabelecer quais parâmetros estruturais indicam bons níveis de

condutividade iônica, parâmetro esse, essencial para confecção dos dispositivos

eletroquímicos do tipo LEC. Aprofundando-se a exploração dos eletrólitos

poliméricos em três parâmetros fundamentais: a escolha da massa molecular do

polímero; a escolha do sal mais adequado; variação da concentração do sal na

matriz. O desenvolvimento deste trabalho visa analisar as interações

íon-íon, íon-cadeia polimérica, a relação amorfo-cristalino, estabilidade térmica e

melhores níveis de condutividade nos sistemas.

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4) MATERIAIS E MÉTODOS

Neste trabalho, escolhemos o polímero em bloco, o polietileno-bloco-polióxido

de etileno (PE-b-POE), com a seguinte estrutura química.

[ ] [ ] −−−−−−−−−mn

OCHCHCHCH 2222

Foi utilizado o copolímero PE-b-POE em duas proporções diferentes dos

monômeros PE e POE: um copolímero com proporção de 50% de PE e 50% de

POE e outro copolímero com 20% PE e 80% POE sendo suas massas molares

(fornecido pelo fabricante Aldrich®) de 920 g/mol e 2250 g/mol, respectivamente.

Foi realizada uma medida de caracterização de 1H e 13C RMN (Ressonância

Magnética Nuclear) com variação de 200MHz, com o objetivo de confirmar a

estrutura química das matrizes poliméricas e indicar a presença de contaminantes. A

massa molar e as unidades de POE nos dois polímeros apareceram diferentes do

fornecido pela Aldrich®. Os valores obtidos na RMN das massas molares são

mostrados na Tabela - 1. A caracterização térmica por Diferencial Calorimetria à

Varredura (DSC) mostra que o copolímero de 50% de POE apresenta uma mistura

“blenda” de homopolímeros e copolímeros, o que será discutido mais adiante, neste

trabalho.

Comunicado pelo fornecedor Avaliados em RMN 1H e 13C

Copolímero Massa molar

(g mol-1)

Quantidade de

POE unid. / %

Massa Molar

(g mol-1)

Quantidade de

POE unid. / %

PE-b-POE (50%) 920 50 780 50

PE-b-POE (75%) 2250 80 1790 75

Tabela - 1: Propriedades do polímero usado neste trabalho[9 – L. A. Guilherme et al.].

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17

4.1) Preparação das amostras

Em primeiro lugar, foi realizado um teste de solubilidade do polímero em dois

tipos de solventes, tetrahidrofurano (THF) e Acetonitrila, sendo colocada uma

pequena quantidade do polímero PE-b-POE junto com o solvente dentro de um

frasco. A mistura foi levada à agitação magnética por 120 min, constatando-se que o

melhor solvente para dissolver o polímero é a acetonitrila.

O teste de solubilidade do sal foi bem sucedido em THF e em acetonitrila.

Em seguida, separamos cinco frascos limpos e livres de contaminação.

Adicionou-se 1g do polímero polietileno-bloco-polióxido de etileno (PE-b-POE)

contendo 50% de POE. Em seguida foi colocada a quantidade adequada para obter

a concentração desejada de 1%, 5%, 10%, 15% m/m do sal de Perclorato de Lítio

( 4LiClO ). Para calcular a porcentagem do sal desejada foi realizada uma conta de

proporcionalidade como exemplificado abaixo na preparação do eletrólito de

concentração de 5% m/m de sal:

%5

%950,1

Xg

g

95

50,1 ×=Xg

gXg 0526,0= de LiClO4 em 1,0g de PE-POE

A quantidade da massa do Perclorato de Lítio em cada concentração é

mostrada na

Tabela - 2:

%m/m Quantidade em gramas de LiClO4

0 0,000g 1 0,010g 5 0,052g 10 0,111g 15 0,176g

Tabela - 2 quantidade em gramas de Perclorato de Lítio em cada concentração.

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Depois de adicionadas as quantidades desejadas de sal em cada frasco junto

ao polímero, foram adicionadas aproximadamente 10 ml de acetonitrila em cada

frasco, levando-se a um agitador magnético por 24 horas. No final do prazo,

percebeu-se que o polímero e o sal ficaram bem dissolvidos. Em seguida, as

amostras contendo polímero, sal e solvente foram colocadas num dessecador sob

vácuo de aproximadamente 10-1 bar, numa temperatura de 60°C durante ~ 7dias,

com o objetivo de retirar todo o solvente, ficando apenas o sal dissolvido no

polímero, ou seja, o eletrólito polimérico. As amostras foram armazenadas em um

dessecador com sílica, para se manterem livres de umidade e a cada medida elas

eram novamente secadas.

O mesmo procedimento foi realizado na elaboração dos eletrólitos com o

polímero polietileno-bloco-polióxido de etileno (PE-b-POE) contendo 75% de POE.

4.2) Medidas e caracterizações

As amostras de eletrólitos foram submetidas a uma análise termogravimétrica

no Laboratório de Materiais do Depto. de Química da Universidade Federal de Minas

Gerais, no aparelho TA Instruments SDT 2960. As amostras de ~ 5 mg foram

aquecidas no intervalo de 0°C até 550°C a uma velocidade de 10°C/min, em

atmosfera de nitrogênio. Foi verificado que as amostras apresentaram uma perda de

até 5% de massa para temperaturas abaixo de 100º C, atribuída à perda de umidade

e solventes presentes nos sistemas. Além disso, observou-se que os eletrólitos eram

estáveis até ~ 300°C, representado por uma baixa perda de (~5%) de massa.

Medidas de DSC foram realizadas também no mesmo laboratório da UFMG,

no aparelho TA Instruments DSC 2920. Os eletrólitos com massa de ~5 mg foram

selados em cadinhos de alumínio e passaram por um tratamento térmico, onde a

amostra foi aquecida de 25°C até 120°C para que eliminasse algum tipo de umidade

no material e permitisse um maior contato térmico entre material e cadinho; em

seguida, foram resfriadas de 120ºC a -120°C. Após, foi feito um segundo

aquecimento de 25°C até 130°C, onde foram analisadas as curvas de DSC

apresentadas nesse trabalho. Em todas as varreduras utilizamos uma taxa de

10°C/min e fluxo de hélio de 100mL/min.

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19

A obtenção dos espectros Raman foi realizada em um espectrômetro com um

monocromador triplo (Dilor XY), equipamento com detectores CCD, e um

microscópio (Olympus BH-2) acoplado ao espectrômetro que permite uma resolução

espacial de cerca de 1 µm (técnica micro-Raman). Utilizamos um laser de argônio

operando na região do verde ( )nm5,514=λ com potência de ~50mW, como fonte de

excitação.

A condutividade iônica total foi medida num ECO CHEMIE

potentiostat / impedance com um analisador de frequência Autolab PGSTAT 30, com

as amostras colocadas numa célula com dois eletrodos dentro de um forno, onde foi

controlada a faixa de temperatura entre 25°C e 110°C. A faixa de frequência

utilizada foi de 0,5 a 0,5 MHz em amplitude de 0V a 50mV. Os eletrólitos sofreram

um tratamento térmico elevando sua temperatura à 110°C para eliminar a presença

de umidade. Depois, foram resfriadas à ambiente. Logo em seguida, se fez a medida

durante o aquecimento e resfriamento. Os eletrólitos foram colocados de forma a

preencher um anel de teflon para que o material não escorresse quando a

temperatura da medida ultrapassasse o ponto de fusão.

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5) RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1) Resultado da Análise Térmica

5.1.1) Resultado de medida de Termogravimetria

A Figura - 5 mostra a medida de Termogravimetria que, colocada na forma

∆m/m(%)) x temperatura, indica o processo de degradação térmica ocorrido nos

sistemas selecionados para este trabalho.

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 6000

20

40

60

80

100

∆∆ ∆∆ m

/m (

%)

Temperatura ( 0C )

PEO-b-PE 1% 5% 10% 15% LiClO

4

Figura - 5: Termogravimetria para o sistema PE-b-POE (50%POE):LiClO4.

O objetivo desta análise é estabelecer os limites máximos da utilização

térmica deste sistema.

A Figura - 5, demonstra que ocorre perda de massa abaixo de 150°C para

eletrólitos. Esta perda está relacionada à perda de umidade das amostras; a perda

de massa em ~400°C corresponde a degradação térmica do eletrólito polimérico;

para o sal 4LiClO , que é muito higroscópico, percebe-se que ocorre perda de massa

em dois estágios: a de menor temperatura está relacionada a grande quantidade de

umidade presente no sal; e a segunda, por volta de 500°C, está relacionado à

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degradação do sal. O copolímero puro começa a degradar por volta de 400°C, em

um único estágio.

Como primeira analise pode-se verificar que os sistemas de eletrólitos são

estáveis termicamente até ~320°C.

5.1.2) Resultado de medida de DSC

A curva de DSC para o PE-b-POE de 75% e 50% de POE apresentou

bastante diferença entre os dois, como podemos observar na Figura - 6a e

Figura - 6b.

Figura - 6: (a) Curva de DSC para o eletrólito com 75% de POE, (b) Curva de DSC para o

eletrólito com 50% de POE, com variação da concentração do sal LiClO4.

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Devido a complexidade das curvas DSC para o polímero puro com 50% de

blocos POE; concluímos que os diversos eventos endotérmicos e seus calores

latentes associados, apresentados nessa curva, estão relacionados a diferentes

constituintes dos blocos, fazendo com que o sistema seja um sistema composto não

somente de um copolímero puro como indicado pela fabricante; mas um copolímero

formado por blocos de POE, blocos de PE e homopolímeros de POE.

A Tabela - 3 mostra onde ocorrem os eventos mais importantes da curva de

DSC nos dois sistemas: a transição vítrea (Tg) (°C), a temperatura de fusão (Tm) do

bloco POE (°C), Tm do bloco de POE (°C) e Tm do PE (°C).

Copolímero 75% PEO Blenda com copolímero 50% PEO

LiClO4 %m/m

Tg Tm Tg Tm Bloco PEO

Tm Homopolímero PEO

Tm PE

0 -62, -11 57, 90a b 9 41 71,79, 90

1 -54, -5 56 -65 9 33, 41 77, 89

5 -42. -3 54 -60 ~8 38 75, 89

10 -34, ~12 48 -61,-42 - - 77, 90

15 -40, ~29 ~43 (pequena)

-64,-36 - - 78, 90

a- Pequeno evento térmico, observado nas curvas dos eletrólitos

b- Não é observada.

Tabela - 3: Resultados dos pontos importantes da curva de DSC em eletrólitos poliméricos

baseados em PE-b-POE com 75% e 50% de unidades de POE.

No sistema contendo 75% de unidade POE, a curva de DSC mostrou que o

sistema é dominado pela fase do POE. O bloco de POE possui massa molar de

1450 g/mol e apresenta a temperatura de fusão característica do bloco POE de

CTm °= 57 com entalpia de fusão de gJH /138=∆ que é um valor característico na

fusão do bloco de POE. A entalpia da fusão do POE cristalino de baixa massa molar

é de gJ /3,179 [10]. A temperatura de fusão e a cristalinidade do sistema diminuem

quando é aumentada a concentração de sal no sistema, o que é comumente

observado em sistemas de eletrólitos poliméricos [11-13].

Pode-se observar na Figura - 6a que a adição do sal inibe a cristalização.

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23

Ocorre um pequeno evento térmico na região entre 70°C e 90°C, onde os

blocos de PE cristalino contribuem para esse evento ocorrer.

Duas transições vítreas no POE 75% são observadas na região entre -80°C e

20°C, que pode ser bem observada na Figura - 7a, demonstrando esta região

ampliada.

Figura - 7: Curva de DSC para o PE-b-POE na região da transição vítrea.

(a) PE-b-POE(75%):LiClO4, (b) blenda PE-b-POE(50%POE)/POE/PE:LiClO4, (c) Transição

vítrea com função da composição.

A transição vítrea do bloco PE é marcada em -130°C e não é mostrada na

Figura - 6 e Figura - 7; logo, as transições vítreas demonstradas podem ser

associadas a POE na fase amorfa, já que as duas transições vítreas aumentam com

a adição do sal, um evento que é conseqüência da interação íon-dipolo entre o

cátion +Li e o oxigênio dos blocos de POE [14-16].

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O fenômeno de duas transições vítreas foi relatado pelos autores: R.F. Boyer,

J. Polym; e X. Jin, S.H. Zhang, J. Runt nas referências [17-19], e está associado à

maior concentração da fase amorfa em interface com a fase cristalina, região onde

ocorre uma típica desordem. A existência de duas fases amorfas para o POE é

característica de todos os eletrólitos preparados com o copolímero 75% de POE.

A DSC para o sistema preparado com o PE-b-POE com o copolímero 50% de

POE é mostrado na Figura - 6b e Tabela - 3, e demonstra um comportamento

térmico complexo. Essas medidas de DSC também foram realizadas no segundo

aquecimento para que se elimine toda a umidade presente nas amostras. Mas a

curva de DSC demonstra várias endotermas, o que sugere que o polímero esteja

contaminado com vários homopolímeros, consequência de umas de suas

características de “self-assemble” (auto-montagem) que forma estruturas

macromoleculares [20].

O bloco de POE para este sistema com 50% POE, possui aproximadamente

440 g/mol e apresenta uma temperatura de fusão entre 4°C e 8°C [21]. A Figura - 6b

mostra que a amostra pode ser classificada como uma “blenda” de PE-b-POE

contendo homopolímeros PE e POE e passa a ser denominado: blenda PE-b-POE

(50%POE)/POE/PE:LiClO4. Na curva de DSC (Figura - 6b) é possível notar que a

adição do sal neste sistema faz com que desapareçam as duas primeiras

endotermas.

A introdução do sal tem interação somente nos blocos de POE e em

homopolímeros. A grande endoterma que está localizada entre 60°C e 90°C está

presente em diversos compósitos de eletrólitos. Esta grande endoterma está

relacionada ao homopolímero de PE e a outros homopolímeros presentes no

material. Esta conclusão se baseia no fato dos homopolímeros serem

preferencialmente fundidos [10,22].

A curva que demonstra a fusão do bloco POE é ~8°c e do homopolímero POE

é ~41°C (são mostrados na Tabela - 3). Estas regiões são bastante sensíveis com a

adição do sal. Em concentrações de sal mais altas (10% m/m e 15% m/m) as

endotermas nem aparecem; já na região do homopolímero de PE (60°C a 90°C) a

endoterma permaneceu praticamente inalterada. Esse evento térmico é atribuído a

um micro-domínio cristalino que ajuda em manter essa fase dimensional do

eletrólito.

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A temperatura da transição vítrea (Tg) nos eletrólitos blenda PE-b-POE

(50%POE)/POE/PE:LiClO4 é mostrada na Figura - 7b, sendo possível notar que

ocorre um aumento na Tg quando aumenta a concentração de sal de 0% m/m para

5% m/m. Acima desta concentração, uma segunda Tg é detectada (veja Tabela - 3).

Também ocorre um pequeno aumento na temperatura da Tg na concentração de

10% m/m e 15% m/m. Neste sentido, é interessante montar um gráfico que compara

as transições vítreas dos dois sistemas de eletrólitos com suas devidas

concentrações de sal. Este gráfico é mostrado na Figura - 7c.

A blenda PE-b-POE (50%POE)/POE/PE:LiClO4 demonstrou um

comportamento bastante complexo, mas pôde-se obter algumas conclusões

importantes na medida de DSC que serão úteis na discussão dos resultados da

condutividade.

� O domínio de PE cristalino correspondente ao PE-b-POE (50%POE) está

presente em todas as composições dos eletrólitos.

� O POE nos dois sistemas rapidamente perde a cristalinidade com a adição do

Perclorato de Lítio.

� O domínio do POE apresenta uma pequena mudança na Tg.

Estas observações indicam que a interação POE:LiClO4 é limitada pela

presença da fase PE cristalina.

5.2) Resultado de medida de Condutividade Iônica

Medidas de condutividade iônica dos dois sistemas de polímero, formando os

eletrólitos nas concentrações de sais de 1% m/m, 5% m/m, 10% m/m e 15% m/m

podem ser observadas na Figura - 8. Esse resultados foram obtidos num

impedancímetro, durante o aquecimento das amostras de ambiente a ~100ºC. Os

resultados foram apresentados para duas isotermas, em 50°C e 100°C para ambos

os sistemas.

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Figura - 8: Isotermas de condutividade em função da concentração de sal, para sistemas de

PE-b-POE (75%POE):LiClO4 e blenda PE-b-POE (50%POE)/POE/PE:LiClO4.

Estes sistemas eletrólitos exibem um aumento da condutividade iônica

quando se aumenta a concentração de sal de 1% m/m a 5% m/m; aumentando a

concentração de 5% m/m a 15% m/m de sal, a condutividade se mantém como um

platô. As isotermas demonstram que o valor de condutividade para o eletrólito com

75% de POE apresenta altos valores chegando até 10-3 S cm-1. Em seus trabalhos,

Robitaille e Fauteux [13] relataram a condutividade do POE/LiClO4 em temperaturas

superiores a 65°C em algumas concentração de sal, onde os resultados

apresentados estão de acordo com os resultados elaborados neste trabalho.

Robitaille e Fauteux disseram que a condutividade começa a diminuir em

concentrações altas de sal [13]. Na Figura - 8, observa-se que isso ocorre na

concentração de 10% m/m para 15% m/m de sal no sistema de 75% de POE nas

duas isotermas (50°C e 100°C), demonstrando que este trabalho está de acordo

com as conclusões de Robitaille e Fauteux. A condutividade dos eletrólitos em

temperaturas abaixo de 65°C diminui de 1 a 2 ordens de grandeza, devido à

cristalização do POE diminuindo a fase em que o POE se encontra amorfo, que,

como foi dito, é a parte responsável pela condutividade neste sistema.

A condutividade no sistema PE-b-POE (75%POE)/LiClO4 em função da

temperatura pode ser notado na Figura - 9. Essas curvas foram obtidas para todos

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os eletrólitos durante o aquecimento de 25°C até 110°C. Em seguida, durante o

resfriamento de 110°C até 25°C, nota-se que os resultados obtidos nos eletrólitos

com baixa concentração de sal (1% m/m e 5% m/m) na medida realizada durante o

aquecimento, apresentam uma típica descontinuidade; é um evento que ocorre

porque a temperatura chega ao ponto de fusão do POE [23,24].

Figura - 9: Condutividade no sistema PE-b-POE (75%POE)/LiClO4 em função da

temperatura durante o aquecimento e o resfriamento.

Os sistemas com 75% POE, demonstrou admiráveis valores de

condutividades entre 10-4 S cm-1 e 10-3 S cm-1. A Figura - 9 demonstra

condutividades atingindo ordem superiores a 10-5 S cm-1 em temperatura ambiente

para concentrações de 10% m/m e 15% m/m, demonstrando um resultado

compatível com os resultados de condutividade em eletrólitos de polímeros em

blocos obtidos por outros pesquisadores [14,15,25]. Está obvio que a condutividade

se altera com a variação de sal na cadeia polimérica, confirmando que a

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condutividade iônica depende diretamente da concentração de sal e da mobilidade

dos transportadores de cargas. Além disso, a mobilidade das espécies iônicas, no

caso dos sistemas apresentados nesse trabalho, depende da estrutura, da dinâmica

e da mobilidade na fase amorfa. O ciclo de aquecimento e resfriamento na medida

de condutividade revelou um interessante efeito nos eletrólitos com 75% POE. Pode

se observar na Figura - 9 que, durante o resfriamento, a condutividade apresenta um

degrau (anomalia) quando passa por temperaturas aproximadas de 85°C. Esta

anomalia ocorre porque, quando se resfria, o bloco PE passa a cristalizar. Este

evento pode ser observado na DSC, onde ocorre um pequeno evento térmico em

temperaturas por volta de 70°C e 90°C (veja Figura - 6), que também está associado

ao bloco de PE cristalino, este bloco na fase cristalina tem propriedade de diminuir a

mobilidade de íons na fase amorfa do POE.

Agora será discutida em detalhes a condutividade iônica do eletrólito blenda

PE-b-POE (50%POE)/POE/PE:LiClO4. Observando a Figura - 8, nota-se que os

valores de condutividade para este sistema não ultrapassam o valor de 14 .10 −−cmS

enquanto o sistema de 75% POE alcança valor de 13 .10 −−cmS , para a mesma

isoterma de 100°C. Além disso é mostrado na Figura - 10 que a condutividade

durante o aquecimento atinge valores perto de 16 cm.S10 −− para eletrólitos com

15% m/m de sal (atinge maior condutividade) em temperatura ambiente.

O ciclo aquecimento/resfriamento para o sistema de eletrólito

PE-b-POE (50%POE)/POE/PE:LiClO4 é mostrado na Figura - 10, e exibe uma

tendência especial no caso dos eletrólitos com 10% m/m e 15% m/m de sal, a curva

demonstra uma saturação da condutividade em 14 .10 −−cmS , quando se eleva a

temperatura e atinge o valor da temperatura de fusão do bloco PE. Sendo assim, o

eletrólito com 15% m/m de 4LiClO não atingirá valores altos de condutividade e,

mesmo no resfriamento, a ordem de grandeza da condutividade continua baixa.

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Figura - 10: O ciclo aquecimento/resfriamento para o sistema de eletrólito blenda PE-b-POE

(50%POE)/POE/PE:LiClO4.

Uma proposta para o transporte iônico pode ser definida pela dinâmica do

POE ao mesmo tempo em que sofre influência dos domínios da cadeia do PE.

Logo, as medidas de condutividade representam observações importantes

sobre os sistemas de eletrólitos poliméricos:

� As respostas da condutividade em função da concentração do sal, e a

influência sofrida pelos micro-domínios PE, são similares aos resultados

obtidos por Robitaille e Fauteux [13].

� A diminuição da condutividade no resfriamento e a saturação da

condutividade no sistema com 50% POE na faixa de temperatura de fusão do

PE no aquecimento ou de temperatura de cristalização do PE no

resfriamento, demonstram de maneira coerente a influência do segmento PE

“hidrofóbico”.

� Os micro-domínios de POE são o caminho e o determinante do nível de íons

livres no material, responsáveis pelo transporte de cargas no material.

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5.3) Resultado de medida de Espectroscopia Raman

A Figura - 11 mostra a medida de Espectroscopia Raman realizada nos

eletrólitos PE-b-POE (50%POE)/POE/PE:LiClO4 na região entre 650 cm-1 a

1350 cm-1.

700 800 900 1000 1100 1200 1300

***

Inte

nsi

dad

e R

elat

iva

(a.u

.)

Raman shift (cm-1)

PEO -b- PE

1 %

5 %

10 %

15 %

*

Figura - 11: Espectroscopia Raman do eletrólito blenda PE-b-POE

(50%POE)/POE/PE:LiClO4, com destaque em uma região que sofrem significativa alteração

com a adição de sal LIClO4.

Esse material mostra um complicado comportamento e baixo valor de

condutividade nas faixas de concentrações estudadas. Assim sendo, um estudo

mais aprofundado através da técnica de Espectroscopia Raman é interessante para

descobrir o que ocorre com as interações iônicas presentes no sistema polímero/sal,

ou seja, PE-b-POE/LiClO4.

Atribuições das bandas Raman associadas aos diversos modos vibracionais

presentes no polímero puro, cujos domínios são o POE [26,27] e o PE [28,29] está

apresentado na Tabela - 4.

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Frequência / cm-1 PEO[26,27] PE[28,29] Atribuições

844 / 857 forte - r(CH2)a

913 / 932 fraco - r(CH2)s, ν(COC)a

1064 média média ν(CC)a, r(CH2)s, ν(CO)s

1133 - média w(CH2), ν(CC)s

1147 média - w(CH2)s, ν(CC)

1171 - fraco r(CH2)

1237 média - t(CH2)s, t(CH2)a

1284 forte - t(CH2)a, t(CH2)s

1295 - forte t(CH2)s, t(CH2)a

Tabela - 4: Atribuição das bandas de frequência baseados nas referências [26,27] para POE

e [28,29] para o PE. r, Rocking; ν, stretching; t, torsion; w, wagging; s, symmetric; a,

antisymmetric.

A primeira análise dos espectros revela que as bandas que diminuem de

intensidade com a adição do sal. Estas bandas estão localizadas em 844, 1147,

1237 e 1284 cm-1 e estão marcadas com um asterisco (*) na Figura - 11 para facilitar

a visualização, sendo importantes modos vibracionais do POE [26,27], analisados na

Tabela - 4. Logo, o espectro Raman mostra a diminuição da cristalinidade do bloco

POE com o aumento da concentração do sal. Já as regiões de vibração que

correspondem ao PE [28,29] (Tabela - 4) quase não se alteram em todos as

concentrações de sal.

Analisar a região entre 650 cm-1 e 1350 cm-1nos sistemas complexados é

importante devido ao aparecimento da vibração totalmente simétrico do íon

perclorato em ~ 935 cm-1. O estudo destes modos vibracionais permite observar a

interação iônica presente no sistema polimérico.

A região destacada mostra que, com a introdução do Perclorato de Lítio,

surge uma banda na em torno de 935 cm-1. Isto ocorre porque, com a introdução

do 4LiClO no sistema, o mesmo se dissocia em íons e, com o aumento da

concentração, aumenta a quantidade de ânions −4ClO , onde esta banda em torno de

935 cm-1 corresponde ao modo totalmente simétrico de vibração 1ν deste ânion

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−4ClO . Íons associados em eletrólitos poliméricos são frequentemente investigados

através do modo de vibração do ânion [7,30].

5.3.1) Ajustes dos espectros Raman na região 900-1000 cm-1

Esta região é muito interessante para monitorar o comportamento do ânion na

cadeia polimérica, sendo viável fazer o ajuste do espectro Raman através de somas

de Lorentzianas, fornecendo a decomposição das bandas em picos, associada aos

vários tipos de interações iônicas no eletrólito, como mostra a Figura - 12.

900 920 940 960 980 1000

920 cm-1PEO-b-PEpuro

900 920 940 960 980 1000

05%

900 920 940 960 980 1000

934 cm-101%

900 925 950 975 1000

15%

900 920 940 960 980 1000

940 cm-1LiClO4 puro

900 925 950 975 1000

936cm-110%

Figura - 12: Ajuste com somas de Lorentzinas na região 900 a 100 cm-1 para o sistema

blenda PE-b-POE (50%POE)/POE/PE:LiClO4.

Os procedimentos para o ajuste por Lorentzianas consistem em manter fixas

a posição e a largura de cada Lorentziana correspondente ao polímero puro e em

seguida, acrescentam-se novas Lorentzianas, sempre mantendo fixas a posição e

largura de cada Lorentziana adicionada anteriormente.

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A Figura - 12 mostra uma banda correspondente à blenda pura, outra para o

Perclorato de Lítio puro e mais quatro bandas correspondentes às concentrações de

1% m/m, 5% m/m ,10% m/m ,15% m/m de Perclorato de Lítio na blenda.

Para amostras da blenda PE-b-POE pura, a banda é ajustada com apenas

uma Lorentziana centrada em 920 cm-1, que corresponde a frequência de vibração

ν(COC)a, como consta na tabela-03. À medida que se acrescenta sal no sistema

torna-se necessária a utilização de mais Lorentzianas, na concentração de 1% m/m.

Acrescenta-se uma Lorentziana centrada em 934 cm-1, que é atribuída aos

“free-ions” (íons-livres) [31]. Passando para a concentração de 5% m/m, o ajuste

centrado em 934 cm-1 sofre um aumento de amplitude, mostrando que aumentou o

número de íons livres. Para a concentração de 10% m/m no ajuste centrado em

934 cm-1; ocorre uma diminuição da amplitude e aparece uma nova Lorentziana

fixada na posição de 936 cm-1. Esta nova banda corresponde à formação de

“ion-pairs” (pares iônicos) ( )−+4......ClOLi . Já em torno de 15% m/m ocorre uma

diminuição da amplitude da banda centrada em 934 cm-1e um aumento na amplitude

da banda em 936 cm-1. Estas análises demonstram uma saturação no sistema por

volta de 15%, diminuindo o número de espécies carregadas disponíveis para a

condução. Feito o ajuste no 4LiClO puro, para fins de comparação, constatou-se que

sua banda de vibração está fixada em 940 cm-1 e a assimetria da curva para o lado

esquerdo (veja Figura - 12) está representando a umidade presente no sal que é

higroscópico. Outro fato importante, é que mesmo para concentrações altas de sal, o

sistema permanece com sua cristalinidade baixa, tendo um comportamento de

sistemas eletrólitos poliméricos baseados em POE de baixo peso molecular; ou seja,

a fase PE cristalina não influencia na mobilidade das espécies carregadas, fazendo

com que o transporte iônico se dê preferencialmente nos domínios POE amorfos.

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6) CONCLUSÃO

Os eletrólitos propostos neste trabalho são estáveis termicamente abaixo de

320°C.

Na medida de DSC observamos que os eletrólitos com 75% de POE,

apresentaram uma forte coordenação entre o cátion e o polímero. Esta conclusão se

deu em decorrência de um aumento na temperatura de transição vítrea desses

sistemas, além disso, ocorreu uma diminuição da fase de POE cristalino, com o

aumento da concentração de sal. Já para os Eletrólitos baseados em blendas PE-b-

POE (50%POE)/POE/PE:LiClO4 a medida de DSC mostrou mais acentuadamente

uma diminuição da fase POE cristalino com a adição de sal e pouca variação na Tg

dos sistemas com o aumento da concentração.

A alteração da transição vítrea, mostrada na curva de DSC, foi pouco

perceptível para o domínio PE, mostrando que este domínio manteve a fase

cristalina nos eletrólitos. Este evento também foi mostrado na Espectroscopia

Raman, onde as regiões 1064 cm-1, 1133 cm-1, 1171 cm-1 e 1295 cm-1, que

correspondem aos modos de vibrações do domínio PE, praticamente não se alterou

com a adição do sal.

É importante fixar que as amostras passaram por um tratamento térmico

antes das medidas, para eliminar a presença de umidade. Nas medidas cíclicas de

condutividade (aquecimento e resfriamento) para os dois sistemas, observou-se que,

durante o aquecimento, em quase todas as curvas, a condutividade foi superior em

relação à medida realizada durante o resfriamento. Para medidas cíclicas de

condutividade relacionada ao PE-b-POE (75%POE), é mostrada uma queda

repentina na região da cristalização do PE. No sistema blenda PE-b-POE (50%POE)

observa-se baixos valores de condutividade, não ultrapassando ~ 10-4 S cm-1, com a

variação da temperatura. Isso indica, novamente, que o PE cristalino parece

perturbar o POE/sal que conduz a uma morfologia menos conectada entre os

diversos domínios presentes no polímero.

As análises dos espectros Raman indicaram uma saturação no número de

espécies carregadas presentes nos sistemas eletrólitos poliméricos contendo 50%

de POE em ~ 15% de concentração de sal, fazendo com que diminua o número de

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espécies carregadas disponíveis para a condução. Este é um comportamento típico

de sistemas eletrólitos poliméricos baseados em POE de baixo peso molecular; ou

seja, a fase PE cristalina não influencia na mobilidade das espécies carregadas,

fazendo com que o transporte iônico se dê preferencialmente nos domínios POE

amorfos.

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