monografia leny f. oliveira

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FUNDAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE OLINDA – FUNESO UNIÃO DAS ESCOLAS SUPERIORES DA FUNESO – UNESF COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA E EXTENSÃO CURSO DE PÓS - GRADUAÇÃO LATO SENSU EM EDUCAÇÃO ESPECIAL LENY FERREIRA DE OLIVEIRA A IMPORTÂNCIA DA ÁUDIO-DESCRIÇÃO DE IMAGENS NA EDUCAÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL OLINDA, 2009

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Page 1: Monografia Leny f. Oliveira

FUNDAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE OLINDA – FUNESO

UNIÃO DAS ESCOLAS SUPERIORES DA FUNESO – UNESF

COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO PESQUISA E EXTENSÃO

CURSO DE PÓS - GRADUAÇÃO LATO SENSU EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

LENY FERREIRA DE OLIVEIRA

A IMPORTÂNCIA DA ÁUDIO-DESCRIÇÃO DE IMAGENS NA EDUCAÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

OLINDA, 2009

Page 2: Monografia Leny f. Oliveira

LENY FERREIRA DE OLIVEIRA

A IMPORTÂNCIA DA ÁUDIO-DESCRIÇÃO DE IMAGENS NA EDUCAÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Monografia apresentada aos membros da banca examinadora da Pós-Graduação da Fundação de Ensino Superior de Olinda – FUNESO Como requisito final para obtenção de título de Especialista em Educação Especial.

Orientadora: MS. Juliana Maria Lima Coelho

Olinda, 2009

Page 3: Monografia Leny f. Oliveira

Dados informacionais de Catalogação–na-Publicação (CIP), Biblioteca Luiz Delgado da Fundação de Ensino Superior de Olinda, Olinda- PE

Oliveira, Leny Ferreira de

A importância da áudio-descrição de imagens na educação de pessoas com deficiência visual.

Leny Ferreira de Oliveira. – Olinda: FUNESO, 2009

60 f

Orientadora Juliana Maria Lima Coelho

Page 4: Monografia Leny f. Oliveira

LENY FERREIRA DE OLIVEIRA

A IMPORTÂNCIA DA ÁUDIO-DESCRIÇÃO DE IMAGENS NA EDUC AÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Monografia apresentada aos membros da banca examinadora da Pós-Graduação da Fundação de Ensino Superior de Olinda – FUNESO Como requisito final para obtenção de título de Especialista em Educação Especial.

APROVADA EM __ / __/ _________________. Nota

BANCA EXAMINADORA

ORIENTADORA

EXAMINADOR

EXAMINADOR

___________________________________________________________________

EXAMINADOR

___________________________________________________________________

Page 5: Monografia Leny f. Oliveira

Dedico à Deus todo poderoso que me ajudou a

traçar cada linha e construir cada parte deste

projeto alicerce e a todos que lutam e fazem

desta vida algo melhor e mais justo.

Page 6: Monografia Leny f. Oliveira

AGRADECIMENTOS

À minha família, a orientadora e a todos que me acompanharam durante a

Pós-Graduação 2008.1

Page 7: Monografia Leny f. Oliveira

CCCComo omo omo omo é é é é o lugar o lugar o lugar o lugar

quando ninguém passa por ele? quando ninguém passa por ele? quando ninguém passa por ele? quando ninguém passa por ele?

Existem as coisas Existem as coisas Existem as coisas Existem as coisas

sem ser vistas?sem ser vistas?sem ser vistas?sem ser vistas?

(Carlos Drumond de Andrade)

Page 8: Monografia Leny f. Oliveira

RESUMO

A presente monografia faz um estudo aprofundado sobre o recurso da

audiodescrição com objetivo principal de pesquisá-la como forma de promoção da

acessibilidade comunicacional das pessoas com deficiência visual e também saber

qual sua importância no aprendizado das pessoas com deficiência visual. Levanta

dados da realidade da educação da pessoa com deficiência visual e o longo

percurso trilhado para que essas pessoas obtivessem acesso às escolas regulares.

Levanta e analisa trechos da Constituição da República Federativa do Brasil, Lei das

Diretrizes e Bases da Educação, Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto

da Pessoa com Deficiência que garantem acesso à educação e a cultura como

direitos fundamentais de todos ser humano. Ainda faz um levantamento sobre o que

é audiodescrição, história e garantias na legislação e aponta alternativas de como

fazer audiodescrição de obras de arte, imagens e lugares para minimizar as

barreiras comunicacionais e ajudar no aprendizado da orientação e mobilidade.

Ainda mostra a importância do estímulo nos canais sensoriais de aprendizado – tato,

olfato, visão, audição, paladar – como meio de ampliar as potencialidades de

aprendizados de todos alunos. A metodologia teve como base a abordagem

qualitativa, com análise bibliográfica e entrevistas com profissionais que já

trabalharam com pessoas com deficiência visual e começam a inserir audiodescrição

como recurso que ajuda na compreensão das imagens pelos alunos com deficiência.

O resultado da pesquisa mostra a importância da audiodescrição no acesso a

informação das pessoas que tenham ou não tenham deficiência visual.

Palavras-Chave : Deficiência Visual. Audiodescrição. Acessibilidade

Comunicacional. Educação.

Page 9: Monografia Leny f. Oliveira

RESUMEN

La presente monografía hace un estudio profundizado sobre el recurso de la

audiodescrición con objetivo principal de pesquísala como forma de promoción de la

acesibilidad comunicacional de las personas con discapacidad visual y también

conocer cual su importancia en la aprendizaje de esas personas. Llevanta dados de

la realidad de la educación de la persona con discapacidad visual y el largo camino

hecho para que esas personas tuviesen aceso a las escuelas regulares. Separa y

analiza partes de la Constituição da República Federativa do Brasil, Leys de las

Diretrizes e Bases da Educação, y Estatuto da Criança e do Adolescente y el

Estatuto da Pessoa com Deficiência que garantizan el aceso a la educación y a la

cultura como derechos fundamentales de todos los seres humanos. Aún hace un

levantamiento sobre lo que es audiodescrición, historia y garantías en la legislación y

apunta alternativas de como hacer audiodescrición de obras de arte, imágenes y

sitios para minimizar a las barreras comunicacionales y ayudar en la aprendizaje de

la orientación y mobilidad. Aún mostra la importancia de lo estimulo en los canales

sensoriales de la aprendizaje – tato, olfato, visión, audición y paladar – como

caminos de ampliar las potencialidades de los aprendizados de todos alumnos. La

metodología tuvo como base la abordaje cualitativa, con analize bibliográfica incluso

entrevistas con profesionales que yá trabajaran con personas con discapacidad

visual y comiezan a poner audiodescrición como recurso que ayuda en la

comprensión de las imágenes por alumnos con discapacidad visual. El resultado de

la pesquisa mostra a importancia da audiodescrición en el aceso a la información de

las personas que tengan o no discapacidad visual.

Palabras-Clave : Discapacidad Visual. Audiodescrición. Acessibilidad

Comunicacional. Educación.

Page 10: Monografia Leny f. Oliveira

SUMÁRIO

RESUMO

RESUMEN

1. INTRODUÇÃO 1

2. OBJETIVOS 5

2.1. OBJETIVO GERAL 5

2.2. OBJETIVO ESPECÍFICO 5

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 6

3.1. A Realidade da Educação das Pessoas com Deficiência Visual 6

4. UM LONGO PERCURSO PARA AS PESSOAS COM DEFICIÊNCI A1* OBTEREM

DIREITOS 7

5. UM POUCO SOBRE DEFICIÊNCIA VISUAL 11

5.1. Cegueira 11

5.2. Baixa Visão 12

6. LEGISLAÇÃO SOBRE O ACESSO À EDUCAÇÃO E À CULTUR A 14

6.1. Sobre a Educação 15

6.2. Sobre a Cultura 17

Page 11: Monografia Leny f. Oliveira

SUMÁRIO

7. METODOLOGIA 19

8. O QUE É ÁUDIO-DESCRIÇÃO? 21

8.1. História 21

8.2. Legislação Sobre a Áudio-Descrição 22

9. O QUE É TECNOLOGIA ASSISTIVA? 25

10. ACESSIBILIDADE À COMUNICAÇÃO: PELO DIREITO A NO VOS

CONHECIMENTOS 26

11. COMO FAZER ÁUDIO-DESCRIÇÃO? 31

11.1 Para se Áudio-Descrever Deve Saber Descrever. O Que / Quais Características

Buscar para Fazer Bem Esse Trabalho? 31

11.2. Como fazer descrição:

1. De Pessoas: 32

2. De Objetos 33

3. De Ambientes 33

4. Vestuário 34

5. No museu 34

6. Obras de Arte – Quadro 34

7. No Computador 35

8. Nos Filmes 35

9. Nas apresentações, Peças, Espetáculos ao Vivo 35

_______________________________________________________________

Page 12: Monografia Leny f. Oliveira

SUMÁRIO

12. A ÁUDIO-DESCRIÇÃO NA ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE AU XILIANDO O

APRENDIZADO 36

12.1. Orientação e mobilidade da criança 38

1.Berço 39

2.No colo 40

3.Ambientes Internos 40

4.Ambientes Externos 41

13. CANAIS SENSORIAIS DE CAPTAÇÃO DE INFORMAÇÃO E S UA

IMPORTÂNCIA NO APRENDIZADO 43

13.1. A Visão 44

13.2. A Audição 44

13.3. O Paladar 45

13.4. O Olfato 45

13.5. O Tato 46

14. A ESTIMULAÇÃO DOS SENTIDOS EM FAVOR DO APRENDIZ ADO 47

15. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS 49

16. CONCLUSÃO 54

17. REFERÊNCIAS 55

13. ANEXOS 59

___________________________________________________________

Page 13: Monografia Leny f. Oliveira

1. INTRODUÇÃO

Muitas pessoas concordam que a educação deve ser dirigida a um fim, de

preferência, que este fim ajude no desenvolvimento individual, psicológico e social

para o progresso do educando.

Sabemos que o processo de desenvolvimento e crescimento se dá com a

mediação de uma pessoa adulta ou de alguém que tenha o nível de conhecimento

superior para que este auxilie esse aluno a construir seus ideais de vida e de

formação para um ideal.

A educação também tem como objetivo um conjunto de ações e influências

de um ser humano exercido para o outro, com o fim de formar as aptidões

necessárias que preparem o educando para a vida adulta.

Todo período histórico tem a sua educação que procura atender da melhor

forma as necessidades educacionais adaptando-se às necessidades sociais e,

sempre superando os conflitos e modificações.

Na medida em que aumenta a população, o desenvolvimento das ciências, a

competição internacional, os ideais democráticos de vida, a educação é convocada

a tender ou repensar suas maneiras de formar os alunos, auxiliando-os a atender às

exigências da nova situação, ou, modificando suas atitudes para ajustes à nova

situação.

A educação especial veio para dar conta de uma parte da educação, cuja

demanda crescia, e que nem todos os professores tinham conhecimento para

trabalhar, isso em uma época em que as pessoas começavam a voltar o olhar para

um público novo que também precisava e queria escolarização para terem os

mesmos direitos que as outras pessoas.

Infelizmente, o problema da educação especial está em pensá-la apenas

como meio de auxílio para as pessoas com deficiência, o que não é verdade, porque

quando se fala em educação especial fala-se em meios necessários para atender as

necessidades especificas de aprendizado de cada indivíduo, tenha a pessoa algum

tipo de deficiência ou não, porque toda pessoa pode ter necessidades específicas

1

Page 14: Monografia Leny f. Oliveira

momentâneas, temporárias ou permanentes que uma vez auxiliada pode ser

superada.

Do contrário, poderá ser cumulativo, uma necessidade poderá trazer com o

tempo outras necessidades, por isso é tão importante oferecer acompanhamento

especializado aos educandos, oferecer formação adequada aos professores,

informação aos pais e a sociedade em geral. Uma vez dando informações corretas à

sociedade haverá uma mobilização em tentar melhorar os hábitos, e é para isso que

a educação serve.

Com o advento da inclusão leis e normas exigem nova estruturação das

escolas para diminuir as classes especiais e aos poucos inserir as pessoas com

deficiência em salas da rede regular de ensino, tendo como um dos principais

objetivos desde muito cedo trabalhar a minimização do preconceito, a aceitação das

diferenças, a percepção do outro enquanto detentor de direitos e deveres iguais.

Além disso, também sabemos que a educação rende seus frutos com o

tempo, não é um trabalho imediatista e a prova disto é que a educação inclusiva no

Brasil começou na década de 1990 e vem caminhando a passos bem lentos, seja

por falta de informação ou por comodismo dos cidadãos em geral.

Tal comportamento pede medidas enérgicas para se fazer valer, porque

muitas pessoas dependem dos ideais da inclusão. Como dissemos anteriormente a

inclusão vem sendo divulgada, aos poucos, através da educação que por

conseqüência se interliga em outras áreas de grande fluxo público como: saúde,

trabalho e lazer, setores dos quais provocam mudanças que são significativas na

qualidade de vida das pessoas em geral. Mas, como inserir efetivamente esses

alunos em sala de aula?

Para inserir alunos com deficiência em sala de aula algumas mudanças

simples na arquitetura escolar, nos equipamentos, no material didático potencializam

o aprendizado dos alunos, mas também são necessárias mudanças de atitude dos

professores, dos profissionais da comunidade escolar em aceitar os alunos, o que

deve ser acompanhado de oferecimento de formação adequada aos profissionais da

instituição escolar, minimizando as dúvidas, melhorando o trabalho em equipe,

favorecendo práticas educacionais que tenham por real sentido a formação efetiva

2

Page 15: Monografia Leny f. Oliveira

de todos os alunos, pois a inserção de pessoas com deficiência no ambiente escolar

só vem acrescer experiências de aprendizado a TODOS, sejam alunos ou

profissionais da educação e vem ampliar as experiências das pessoas envolvidas

nesse processo.

Com o trabalho no Museu Banco Real no ano de 2007- onde ocorreu a

primeira Exposição Itinerante de Arte Moderna em Contexto em que das 77 obras

apenas 11 foram disponibilizadas em relevo (de resina ou emborrachado). A

Exposição também contou com apoio dos arte-educadores para atendimento

especializado ao publico com deficiência visual. Percebeu-se quão é difícil trabalhar

a construção de significados das imagens, mas também como é importante oferecer

oportunidades iguais de acesso ao público.

Após essa primeira experiência me dediquei às pesquisas no que dizia

respeito às artes feitas por cegos e descobri um pintor turco, Eşref Armağan, pintor

de fino trato, nasceu cego e aprendeu a fazer suas pinturas, belíssimas, a partir da

descrição que faziam para ele das plantas, dos animais, do fundo do mar e também

das pessoas. O que seria das obras de Eşref Armağan se não descrevessem o que

ele perguntava? Com certeza não seria o artista renomado que é!

Atualmente, estas observações adquirem uma importância inteiramente nova,

pois nosso mundo está repleto de cartazes, anúncios luminosos. O cinema e a

televisão se baseiam inteiramente no que os olhos podem perceber. Foi dito, por

JACQUES LUSSEYRAN Apud OLIVEIRA (2002) que vivemos hoje na era das

imagens.

Em números, segundo OLIVEIRA (2002) o mundo oferece aproximadamente

80% de informação imagética e as pessoas que possuem o sentido visual, perfeito,

apreendem as informações por meio da visão, observação e repetição. Os outros

20% de informações restantes são apreendidos por meio dos outros sentidos

(audição, tato, olfato, paladar).

Então, perguntamos como as pessoas com deficiência visual (cegueira e

baixa visão) têm acesso as informações, uma vez que toda a sociedade apresenta

aproximadamente 80% das informações com imagens?

3

1

Page 16: Monografia Leny f. Oliveira

"O último censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística) mostrou que o País tem 16,5 milhões de pessoas com deficiência visual,

sendo 160 mil com deficiência visual total. A região Sudeste tem a maior

concentração, com quase 6 milhões de pessoas. Proporcionalmente, porém, o

Nordeste é que tem maior número por habitante: 5,6 milhões, ou seja, 11,2% da

população, têm deficiência visual total ou baixa visão" (SIMBIESP, 2006).

No Estado de Pernambuco aproximadamente 4 entre 10 pessoas tem algum

tipo de deficiência visual, 2 apresenta-se com baixa visão, e 2 apresenta-se com

cegueira total e 3 dentre estes estão em idade escolar .

Sendo assim, percebe-se que parte da população fica excluída das

experiências de: assistir a um filme no cinema, um programa de TV, perceber a

informação de comerciais, de uma peça de teatro ou um espetáculo de dança em

sua forma mais completa, também freqüentar museus, ou seja, falta ter acesso à

narrativa das imagens desses produtos que foi pensado para públicos apenas

visuais.

Diante desses fatos, entendemos ser necessário realizar uma pesquisa que

nos forneça informações necessárias para compreender o sentido informativo

comunicacional e educativo da áudio-descrição para pessoas com deficiência visual.

A monografia traz, em um primeiro momento, os objetivos do nosso estudo,

posteriormente um estudo sobre a temática áudio-descrição e logo em seguida,

trazemos teóricos que discutem essa metodologia de trabalho. Em seguida

apresentamos a metodologia do trabalho que foi organizada por meio de uma

pesquisa bibliográfica e ainda entrevistas com profissionais que trabalham utilizando

esse recurso em sala de aula. No terceiro momento, indicamos alguns pontos

observados no discurso desses profissionais no tópico análise dos resultados e por

fim, temos as considerações finais que retomam as questões que foram colocadas

para direcionar nosso estudo.

4

Page 17: Monografia Leny f. Oliveira

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

- Investigar a áudio-descrição como meio de acesso à informação e

conseqüente educação para pessoas com deficiência visual.

2.2. Objetivos Específicos

- Conceituar a áudio-descrição, sua história, leis que regem esse trabalho no

Brasil.

- Verificar como os profissionais que trabalham com a áudio-descrição

observam a contribuição dessa metodologia para o aprendizado do aluno.

- Identificar no que a áudio-descrição serve para a educação de pessoas com

deficiência visual.

5

Page 18: Monografia Leny f. Oliveira

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1. A Realidade da Educação das Pessoas com Deficiência Visual

No Brasil, a educação de pessoas com deficiência visual caminha devagar e

com poucos recursos, seja didático, seja tecnológico, e, os recursos de que os

docentes dispõem são antiquados e ao mesmo tempo são os mesmos utilizados

desde a infância até a vida adulta o que resulta em perda de interesse pelos estudos

por parte dos alunos com deficiência visual desde muito cedo.

Além disso, a educação da pessoa com deficiência visual em muito depende

do esforço individual do professor que hora acredita no potencial dos alunos e usa

de sua criação e inventividade para construir, adaptar materiais que possam auxiliá-

los na educação diária, hora desiste pensando ser impossível tal trabalho por falta

de recursos e não ver progresso no aprendizado dos alunos.

É valido salientar que qualquer trabalho pedagógico realizado com pessoas

com deficiência visual é sempre prejudicado e perde muito das informações a que as

pessoas com o sentido da visão têm acesso, porque muito do que é ensinado nas

escolas, ou no cotidiano, é apresentado com imagens ou com auxilio de imagens e

muito do que é criado não privilegia as pessoas com deficiência visual.

6

Page 19: Monografia Leny f. Oliveira

4. UM LONGO PERCURSO PARA AS PESSOAS COM DEFICIÊNCI A1* OBTEREM

DIREITOS

Em todo o mundo durante muito tempo houve a EXCLUSÃO SOCIAL em que

as pessoas ficavam totalmente a margem da sociedade. Este tempo foi chamado

assim porque além das pessoas com deficiência eram também excluídas todas as

minorias, tudo o que fosse diferente.

Essas pessoas simplesmente não participavam de atividades de educação,

lazer ou de turismo, ficavam a margem da sociedade dependendo da caridade das

pessoas para sobreviver porque também a elas não era dado o direito de trabalhar.

Após este longo e nebuloso período, deu-se inicio a SEGREGAÇÃO SOCIAL

onde surgiram as primeiras programações fechadas, exclusivamente para pessoas

com deficiência, oferecidas apenas no interior das instituições “especializadas”, com

profissionais que se dedicavam a eles proporcionando-lhes um pouco mais de

atenção as suas necessidades.

Com a INTEGRAÇÃO SOCIAL as entidades se propunham a preparar

pessoas com deficiência para participar de eventos comunitários de lazer ou, pelo

menos, freqüentar os espaços de lazer da comunidade, mas as pessoas com

deficiência tinham que se adequar aos ambientes, se quisessem participar, porém

ainda permanecia o sentimento de cuidado e proteção com as pessoas com

deficiência.

1*__________________

* Pessoa com deficiência porque segundo SASSAKI no texto: “Nomenclatura sobre a pessoa com

deficiência na era da inclusão”; Trabalho publicado no livro mídia e deficiência, da Agência de

notícias dos direitos da infância e da Fundação Banco do Brasil Brasília, 2003, 160-165. Pessoas com

deficiência vêm ponderando que elas não portam a deficiência; que a deficiência que elas têm não é

como coisas que às vezes portamos e às vezes não portamos, por exemplo, um documento de

identidade, um guarda-chuva. O termo preferido passou a ser pessoa com deficiência a partir de um

evento em 2002 realizado no Recife “Encontrão” onde conclamaram o público a adotar esse termo.

Elas esclareceram que não são “portadoras de deficiência” e que não querem ser chamadas com tal

nome.

7

Page 20: Monografia Leny f. Oliveira

Com a INCLUSÃO SOCIAL a sociedade começa a modificar seus sistemas

de recebimento ao público de forma geral (escola, hospitais, lazer, turismo, esporte,

setores empregatícios), e suas atitudes, fazendo-os perceber de maneira geral que

todas as pessoas tem direitos e deveres iguais e que para tal ser concretizado

devem obtê-los em todas as atividades, nos mesmos locais e sem descriminção,

separação ou diferença.

O interesse pela melhora da qualidade de vida começou a aparecer para

todas as pessoas com deficiência na INTEGRAÇÃO SOCIAL, quando finalmente

podiam sair de casa e ter acesso às primeiras atividades de lazer disponibilizadas

em ambientes comuns, mesmo que estes não fossem adequados ou adaptados às

necessidades delas. Essa atitude da sociedade já significou muito, se a

compararmos com as fases anteriores como a exclusão social e a segregação

social.

Foi, porém, na fase da INCLUSÃO SOCIAL que a qualidade de vida

realmente se consolidou nas atividades para pessoas com deficiência e que

começou-se a pregar o emponderamento como estilo de vida, que segundo

SASSAKI (2003, p.19) é o processo pelo qual pessoas usam o seu poder para

fazer escolhas, tomar decisões e assumir o controle de sua vida pessoal. E desde

essa filosofia as pessoas com deficiência fazem escolhas das opções de vida que

querem seguir e assumem o controle de todo o processo de escolha, decisão e

usufruto de questões educacionais, de empregabilidade, lazer e turismo entre tantas

outras.

E mais ainda, há uma mudança estrutural para atender adequadamente a

esse público, que segundo (LOPES FILHO, 2002.):

Ao mesmo tempo, que a fase da inclusão social propiciou a implementação do modelo social da deficiência, segundo o qual os locais (...) é que devem passar por modificações para se adequarem às necessidades dos usuários com deficiência. Um dos elementos a serem modificados consiste de ambientes físicos. Daí a importância da arquitetura e do conceito de desenho universal. Vários profissionais têm trabalhado com dedicação e competência para construir ambientes físicos inclusivos e/ou eliminar barreiras arquitetônicas existentes nos espaços e edificações.

8

Page 21: Monografia Leny f. Oliveira

Primeiro precisou-se entender a deficiência como uma diferença, porque

assim como existem pessoas brancas, negras, gordas, magras também existem as

com deficiência e sem deficiência.

Também se precisou entender que a deficiência não é contagiosa, e o mais

importante que é uma questão que envolve a toda sociedade e cuja inserção dessas

pessoas em qualquer atividade não vai diminuir o ritmo dos acontecimentos ou da

qualidade de vida, pelo contrário, irá otimizá-los exatamente porque são muitas

pessoas pensando para favorecer a vida de todos, é a igualitarização de

oportunidades, aspecto que um grupo sozinho não contemplaria.

Na educação não foi diferente. Há muito se informa e promove mudanças

para equiparar em igualdade o atendimento a todos os alunos independente de raça,

cor, credo ou deficiência, pois a educação é o maior legado que uma cultura pode

deixar a seu povo. Não é a toa que se diz que ela é alicerce para a vida social,

justamente porque é ela que faz as pessoas conduzirem suas vidas de forma correta

e assim guiar também as gerações futuras.

Aos educadores que trabalham em sala de aula há uma preocupação

constante em atender esses alunos, sem que nada falte a cada um deles, pois

sabemos que cada aluno tem suas particularidades e a um professor é angustiante

perceber que o aluno poderia ter apreendido mais conhecimentos do que aquele que

foi ensinado em sala de aula, e muito pior é imaginar que ele passa pela sala e não

apreendeu a maioria das informações que deveria para utilizar em sua vida diária.

Detendo-nos aos alunos com deficiência visual, os livros, os materiais ficam

escassos, esse problema é bem maior, porque como foi dito anteriormente, boa

parte do que aprendemos é por meio do uso do sentido da visão, quando vemos

naturalmente apreendemos e imitamos.

As instâncias superiores de educação nos oferecem uma gama de

documentos sobre como devemos conduzir a educação, não como um livro de

receitas, mais como um guia, em que o professor se apropria e sabe de suas

possibilidades em sala. É a partir desse ponto que o professor usa de seus

conhecimentos pedagógicos para adaptá-los segundo as necessidades de seus

alunos.

9

Page 22: Monografia Leny f. Oliveira

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s, 2000), temos um exemplo

disso, pois ele aborda em um dos seus objetivos para o ensino:

Que os alunos sejam capazes de utilizar as diferentes linguagens – verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal – como meio para produzir, expressar e comunicar as suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais em contextos públicos e privados atendendo as diferentes intenções e situações de comunicação (P.108).

Por outro lado, se no trabalho de sala de aula há alunos com deficiência

visual, muda todo o trabalho. Como seguir tal indicação se tudo o que foi sugerido

não é captado pelo sentido visual, com exceção da linguagem verbal? Para isso o

professor/a deve saber o que é a deficiência visual e como podemos contribuir na

educação de uma pessoa com essa limitação sensorial.

10

Page 23: Monografia Leny f. Oliveira

5. UM POUCO SOBRE DEFICIÊNCIA VISUAL

A deficiência da visão é uma limitação sensorial que prejudica ou anula a

capacidade de ver e abrange vários graus de acuidade visual2*, permitindo diversas

classificações de redução da visão e pode ser dividida em: cegueira ou baixa visão,

também conhecida por visão subnormal ou ambliopia.

5.1. Cegueira

Uma definição menos técnica segundo SÁ (2007) da cegueira é a alteração

grave ou total de uma ou mais das funções elementares da visão que afeta a

percepção da cor, tamanho, distância, forma, posição ou movimento em um campo

mais ou menos abrangente. Pode ocorrer desde o nascimento (cegueira congênita),

ou após o nascimento (como adquirida) em decorrência de causas orgânicas ou

acidentais.

Segundo OLIVEIRA (2002) uma definição mais técnica da cegueira se dá a

partir da acuidade visual, que é a distância que um objeto pode ser visto e que na

escala de Snellen3*, a fração 60/60 corresponde à visão normal propriamente dita ou

o campo visual que é a amplitude angular em que os objetos são enquadrados para

que possam ser vistos.

2*________________________

Acuidade visual: grau de aptidão do olho para detectar detalhes espaciais, capacidade de perceber, formas e contornos dos objetivos. É medida com aplicação de teste simples utilizando a letra E (escala de sinais de Snellen). Pedindo que a criança mostre ou fale para que lado o sinal está direcionado. A medida é feita numa distancia de 6 metros e tem como objetivo conhecer a visão do indivíduo dentro de um referencial padronizado. (Ver portal do deficiente visual: www.cmpv.com.br

3*______________________________

Escala de Snellen: Também conhecida como escala optométrica de Snellen utilizada para fazer um pré-diagnostico da condição visual de pessoas em todo o mundo e dá um indicativo de que a pessoa precisa ir ao oftalmologista ou não, todavia esse diagnóstico não substitui o parecer de um oftalmologista. Informação retirada do portal do deficiente visual: www.cmpv.com.br, link: Sala De Leitura.

A cegueira define-se como a deficiência visual em nível máximo: é o estado

11

Page 24: Monografia Leny f. Oliveira

em que a visão não ocorre, ou está reduzida quanto à acuidade visual central a um

patamar igual ou inferior a 6/60 na escala Snellen. Em situação de cegueira, o

campo visual não excede a 20 graus, sempre tomando como parâmetro o melhor

olho, tendo sido realizada correção ótica.

5.2. Baixa Visão

Varia de acordo dos comprometimentos das funções visuais de cada

indivíduo. Uma pessoa com baixa visão pode apresentar variação na sua condição

visual devido ao estado emocional ou até mesmo devido às condições de iluminação

natural ou artificial do local em que ela se encontra.

Também traduz-se numa redução da quantidade e qualidade de informações

que o indivíduo percebe fazendo com que ele tenha um conhecimento muito

pequeno sobre o mundo exterior.

Outra definição técnica sobre baixa visão segundo OLIVEIRA (2002) é que

ela dá-se quando a acuidade visual central se reduz à faixa intermediada pelas

frações 6/20 e 6/60, na escala Snellen, feita correção máxima no melhor olho. O

campo visual é reduzido, em nível próximo ao que caracteriza a cegueira. A pessoa

pode ler impressos em tinta, por exemplo, desde que as letras sejam

suficientemente grandes e que ela use lentes especiais para ampliar mais.

Comumente os estabelecimentos educacionais para os cegos também

atendem às pessoas que têm visão subnormal e após as definições anteriores

percebemos que ambas precisam de cuidados diferentes. Tais como:

Primeiro é importante saber cuidar do canal sensorial responsável pela

aquisição do maior número de informações, pois comprovadamente 70% das

crianças declaradas cegas têm algum resíduo visual que pode ser aproveitado na

escola uma vez estimulado e também acompanhado por especialistas.

Segundo é importante elaborar formas de ensino que transmitam informações

que não podem ser obtidas por meio da visão para as pessoas cegas e também

12

Page 25: Monografia Leny f. Oliveira

elaborar atividades que estimulem a visão para as pessoas com baixa visão

proporcionando assim prazer e motivação no aprendizado do aluno além de

desenvolver a iniciativa e a autonomia, que são os objetivos primordiais da

estimulação visual.

O educador/a precisa mobilizar a turma e com os seus conhecimentos

trabalhar com os alunos elaborando estratégias para as situações em que apareçam

imagens seja nos livros, nos filmes, nos cartazes propiciando o ambiente ideal para

que novos conhecimentos se elaborem.

MANTOAN (2001) defende que nas salas de aula em que o ensino é para

todos, que o saber não passa do professor para o aluno como se passassem um

conteúdo de um recipiente a outro, mas é fruto de um trabalho conjunto e

progressivo que faz ambos aprenderem.

São nas instituições educacionais são desenvolvidas muitos aprendizados e

as noções de cidadania estão entre esses conhecimentos. E é lá na escola que se

constroem boas idéias que são semeadas em muitas casas e divulgadas em muitos

meios exatamente porque são os alunos responsáveis por distribuir lá fora o que de

novo se constrói nas escolas.

As pessoas com deficiência visual têm tantos direitos como quaisquer outras

pessoas de ter acesso à educação, à cultura, ao lazer, ao trabalho e a todas as

informações que neles estiverem contidas. Para isso mais a seguir destacamos

parte de leis discutimos qual o peso de cada uma delas na vida dessas pessoas.

13

Page 26: Monografia Leny f. Oliveira

6. LEGISLAÇÃO SOBRE O ACESSO À EDUCAÇÃO E À CULTUR A

O progresso e o acesso as fontes de cultura convence-nos cada vez mais de

que cada pessoa é única, que tem direitos iguais e também deve ter oportunidades

iguais. Para que tais direitos sejam seguidos, antes eles devem ser escritos e

firmados por leis, e em si tratando de leis para as pessoas com deficiência, elas vem

após muito tempo de situações vividas e repetidas e muitas vezes para firmar algo

que um grande grupo quer ou não deseja passar.

A carta para o Terceiro Milênio, documento feito em nove de Setembro de

1999, em Londres, Grã-Bretanha, pela assembléia governativa da Rehabilitation

Internacional vem para reforçar que em pleno século XXI que ‘nós precisamos

insistir para que os direitos humanos e civis sejam tanto para pessoas com

deficiência como para quaisquer outras pessoas’.

Além do mais, faz-se necessário esclarecer que Direitos humanos é um

repensar da humanidade para se fazer justiça e democracia para minimizar ou

extirpar da sociedade as injustiças e atrocidades. Tal conceito foi pensado após a

Segunda Guerra Mundial com fins de minar e não permitir outra vez nenhum

maltrato, a qualquer pessoa que seja. Atualmente, são valores Universais a serem

protegidos pelos Estados não se limitando apenas a estes, mais está sob a

observação da Comunidade Internacional.

De acordo com PIOVESAN (1997) Direitos Humanos são:

Um conjunto de faculdades e instituições que em cada momento histórico,

concretizam as exigências de dignidade, liberdade e igualdades humana, as quais

devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos nos plano

nacional e internacional e que não busca apenas o equilíbrio entre as igualdades,

mas remediar os desequilíbrios entre as disparidades.

Entre todos os direitos citados nos Direitos Humanos, um chamou-nos a

atenção, em particular, para constar neste trabalho que é o Direito a Participação,

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Page 27: Monografia Leny f. Oliveira

Art. 27, I: ‘Todo o homem tem o direito de participar livremente da vida cultural da

comunidade, de usufruir das artes, de participar do progresso científico e de seus

benefícios’. E sabemos que isso só acontece mediante o compromisso do Estado

em oferecer condições mínimas para que as pessoas participem da vida social.

Hoje, o Brasil conta com muitas leis e normas que podem melhorar a vida das

pessoas em vários ambientes, desde que lidas, internalizadas e executadas. Como

a temática da pesquisa também diz respeito ao acesso a informação buscamos na

Constituição Federal de 1988, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº

8.069/90, na Lei das Diretrizes e Bases (LDB) Lei 9.394/96 e o Estatuto da Pessoa

com Deficiência Lei 7853/89, quais os pontos que reforçam o acesso a educação, a

informação e consequentemente o acesso à cultura destacamos:

6.1. Sobre a Educação

Em primeiro lugar captamos na Constituição Federal de 1988 e encontramos

em seu Art. 205 que “A educação é um direito de todos e dever do estado e da

família promovida e incentivada com a colaboração da sociedade visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa (...).

Com esta proposição podemos interpretar que o Estado deve dispor de

educação para todos e se preocupar em sempre oferecê-lo em condição de

igualdade de direitos para todos e sem discriminar ou favorecer nenhum grupo.

Cabendo a família ou tutores o papel de zelar pela educação dos filhos, sendo de

grande responsabilidade da sociedade e das instancias superiores da educação a

discussão e a busca por melhores meios de educar as gerações.

Não diferente, mas com o mesmo sentido o ECA aborda em seu Capítulo IV,

Artigo 53 que “A criança e o adolescente tem direito à educação, visando ao pleno

desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho”.

E no Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei Nº 7.853/89, no seu Titulo II,

dos Direitos Fundamentais, em seu Artigo 36 traz que ‘a educação é direito

15

Page 28: Monografia Leny f. Oliveira

fundamental da pessoa com deficiência e será prestada visando o

desenvolvimento pessoal, a qualificação para o trabalho e o preparo para o

exercício da cidadania’.

Percebe-se que o ECA e o Estatuto da Pessoa com Deficiência tratam do

sentido do exercício da pessoa humana exercer uma vida organizada e bem

projetada desde a infância até a maior idade, e também fica claro o compromisso de

oferecer e preparar em idade escolar o educando para o mundo do trabalho.

Também no ECA em seu Art. 54, alínea III garante o “atendimento

educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede

regular de ensino”.

Nota-se que as pessoas com deficiência podem procurar escolas da rede

regular ou da rede privada de ensino. Comumente o atendimento educacional

especializado destina-se aos educandos com deficiências sensoriais (cegueira,

surdez) ou cognitiva, múltiplas, altas habilidades ou alguns quadros neurológicos, ou

psiquiátricos e, psicológicos.

Porém, é importante lembrar aos educadores quanto a alguns problemas

desenvolvidos pelos alunos que podem diminuir a capacidade e o desempenho

escolar deles, fazendo diminuir o seu ritmo de aprendizado. Também sabemos que

uma vez cuidado, tendo atendimento especializado de psicólogos, apoio dos

professores e dos pais o mau desempenho pode ser sanado. Se tivermos um olhar

diferente, pode ser considerado uma deficiência temporária, exatamente porque

causa um déficit no rendimento do aluno em fase escolar.

Diante desse quadro a Resolução nº 2 de 2001 em seu artigo 3º explicita que:

A educação especial, modalidade de educação escolar entende-se um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar suplementar e em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as modalidades da educação básica.

Somando se a isso na Lei das Diretrizes e Bases (LDB) em seu Titulo II, Art. 3

em que o ensino será ministrado com base nos princípios de: “I – Igualdade de

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Page 29: Monografia Leny f. Oliveira

condições para o acesso e permanência na escola” em que fica claro que o que

deve ser oferecido em termos de educação, material didático, conteúdo e currículo

devem ser iguais, sem privilegiar ou favorecer ninguém. Também não se deve

diminuir os conteúdos a serem estudados, só porque a pessoa tem uma deficiência

ou simplificar as avaliações só para diminuir o desgaste e a quantidade de trabalho

do aluno e do professor.

Também no Artigo 3, alínea II em que diz que a “Liberdade de aprender,

ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, a arte, o pensamento, a cultura e o saber”.

Reforça o direito pelo aprendizado, porém abre espaço para a pesquisa, e mais

ainda, reforça que além do conteúdo escolar Todos têm direito ao conhecimento do

que a diversidade cultural do País oferece, bem como conhecer a extensão e a

diversidade do mundo artístico.

Ainda na LDB em seu Título III, Do Direito a Educação e o Dever de Educar,

Art. 4º, alínea V, acrescentam-se aos direitos educacionais o “acesso aos níveis

mais elevados do ensino, da pesquisa e criação artística, segundo a capacidade de

cada um”. Lançado ao aluno o direito de escolher a formação que deseja, porém

também lança nas mãos dos educandos que a sua escolha reside na sua

capacidade. Sabe-se que a formação escolhida independe do educando ter

deficiência ou não, porque as escolhas dependem das oportunidades que são

oferecidas a cada pessoa ao logo de seu percurso educacional.

6.2. Sobre a Cultura

A cultura pode ser o complexo dos padrões característicos de uma sociedade,

tudo o que um grupo ou meio social produzem a começar pelo próprio perfil humano

como produto do meio, mais os conceitos criados, as vestimentas, o comportamento,

etc.

A cultura é capaz de perpassar as formas de expressão, as criações

científicas artísticas e tecnológicas, obras de arte, literatura, documentos, objetos,

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Page 30: Monografia Leny f. Oliveira

arquitetura e espaços de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,

paleontológico, ecológico e científico.

A Constituição Federal em seu Art. 215 aborda que o Estado garantirá “a

todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes de cultura nacional,

e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”. Uma

vez constituído direito, porque entendemos que através da cultura somam-se

informações a educação de todas as pessoas, não fica claro na constituição como

será possível o acesso aos bens culturais, cabendo aos responsáveis, pelos setores

onde há cultura, criarem segundo a procura dos interessados e a característica do

público específico, novas maneiras de tornar acessível as informações.

Já no Art. 216 da Constituição Federal informa que “Constituem patrimônio

cultural os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em

conjunto, portadores de referência ou à identidade, à ação, à memória dos diferentes

grupos formadores da sociedade brasileira”.

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Page 31: Monografia Leny f. Oliveira

7. METODOLOGIA

A metodologia do trabalho nos baseou-se na pesquisa qualitativa porque,

segundo MARTIN & GASKELL (2003), é a pesquisa que nos permite

aprofundamento subjetivo no qual podemos interpretar as informações recolhidas na

sociedade.

Partiu-se do princípio de que nenhuma abordagem é capaz de esgotar todas

as dimensões da realidade social, concordando com MINAYO (2000, p.37), “para

que nenhuma das linhas de pensamento social tem o monopólio de compreensão

total e completa da realidade”.

E DEMO (1995, p. 249) completa admitindo que se a “comunicação fosse

totalmente interpretada, em completa fidedignidade, não teríamos necessidade de

ciência”, o que não ocorre.

LACERDA (2005), também afirma que a pesquisa na área de educação

especial se faz premente, dadas às necessidades de soluções para numerosos

problemas enfrentados cotidianamente nesta área, todavia nos parece importante

ressaltar que tais pesquisas apoiadas No referencial qualitativo permite-nos a

construção de conhecimentos muito mais sintonizados com o objeto que se pretende

estudar.

Desse modo, a pesquisa foi elaborada a partir de levantamento bibliográfico-

descritivo, do qual extraiu-se informações sobre o que é áudio-descrição, sua

história e características, quando iniciou esse trabalho no mundo e no Brasil.

Foi feito também um levantamento sobre as leis que fundamentam esse

trabalho no Brasil, mais as leis que garantem o acesso à educação, à cultura e ao

lazer e concluímos mostrando a importância da áudio-descrição na educação das

pessoas com deficiência visual por meio de entrevistas estruturadas abertas.

Para a realização das entrevistas escolheu-se dois profissionais da área da

educação que trabalham com pessoas com deficiência visual situando os benefícios

desse recurso comunicacional para a vida das pessoas com deficiência visual.

Nos utilizamos de entrevista semi-estruturada e a escolha por essa

modalidade de entrevista ocorreu devida à flexibilidade na aplicação da entrevista,

aspecto esse também defendido por LÜDKE (1986), quando o autor coloca que a

entrevista semi-estruturada “se desenrola a partir de um esquema básico, porém

19

Page 32: Monografia Leny f. Oliveira

não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias

adaptações” (p.34).

Outro aspecto contemplado na entrevista semi-estruturada foi discutido por

ROSA E ARNOLDI (2006):

As questões, nesse caso, deverão ser formuladas de forma a permitir que o sujeito discorra e verbalize seus pensamentos sobre os temas apresentados. O questionamento é o mais profundo e, também, mais subjetivo, levando ambos a um relacionamento recíproco, muitas vezes de confiabilidade, freqüentemente, elas dizem respeito a uma avaliação de crenças, sentimentos, valores, atitudes, razões e motivos acompanhados de fatos e comportamentos. Exigem que se componha um roteiro de tópicos selecionados. As questões seguem uma formulação flexível e a seqüência e minúcias ficam por conta do discurso dos sujeitos e da dinâmica que acontece naturalmente (P. 31).

A entrevista, composta por cinco questões envolviam desde os

questionamentos relacionados à dificuldade de trabalhar com imagens com pessoas

com deficiência visual até perguntas que estavam relacionadas à opinião da pessoa

sobre a contribuição da áudio-descrição na educação das pessoas.

No tópico seguinte observaremos as análises traçadas envolvendo a pesquisa bibliográfica em um primeiro momento e a realização da entrevista com os profissionais de educação que trabalham com a áudio-descrição e sua devida análise.

20

Page 33: Monografia Leny f. Oliveira

8. O QUE É ÁUDIO-DESCRIÇÃO?

A áudio-descrição é um recurso comunicacional que permite a inclusão de

pessoas com deficiência visual e viabiliza o acesso às informações imagéticas.

Consiste na tradução de imagens em palavras. Ela também pode ser disponibilizada

ao vivo em ambientes públicos onde contenham espaços abertos com informações

apresentadas apenas com imagens, ou movimentos, de forma que comunique o

conteúdo das imagens.

Pode acontecer em TV’s ao mesmo tempo em que a imagem aparece na tela,

entre o conteúdo verbal imagético do produto audiovisual, e sempre está em

sincronia com outras informações sonoras do produto, ou seja, se na imagem

ocorrer situações que contenham uma risada, uma porta batendo ou um tiro, serão

descritos para que o telespectador compreenda a situação que está acontecendo e

se sinta inserido, de fato, na situação comunicacional. É válido ressaltar que, o papel

da áudio-descrição é não se sobrepor ao conteúdo sonoro principal da imagem

trabalha em sincronia com a imagem e seu sentido é de comunicar o que acontece

na cena.

A áudio-descrição vem como novo recurso pensado para a inclusão e se

classifica como Tecnologia Assistiva capaz de proporcionar ampliação das

habilidades de compreensão ou participação das pessoas com algum tipo de

deficiência na sociedade de forma igual e sem prejuízo de participação de todos.

PARCKER (1996), pesquisador do tema, enfatiza que “a áudio-descrição

precisa ser difundida e usada antecipadamente em televisões, vídeos, bem como

em museus, espaços públicos, salas de aula e computadores”.

8.1. História

A áudio-descrição deu-se na década de 70 e realizou-se pela primeira vez

como a formulação de uma técnica que consistia em agregar ao suporte visual de

TV uma pista de áudio na qual eram gravadas umas vozes que descrevessem as

imagens utilizando para isso os espaços que ficam livres de informações faladas e

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Page 34: Monografia Leny f. Oliveira

narrativas. O que antes só devia ser escutada por pessoas com deficiência visual,

com auxílio de fones, sem afetar aos outros espectadores.

O primeiro pesquisador da áudio-descrição foi GREGORY FRAZIER em sua

tese “Master of Arts” desenvolvida na Universidade de San Francisco, tal

pesquisador conheceu August Coppolla, irmão do famoso cineasta, e desde esse

momento a áudio-descrição se difundiu pela América, Europa, países ocidentais e

Japão.

Em 1989 a áudio-descrição ficou conhecida amplamente pela primeira vez em

um festival de filmes, em Cannes, e em setembro de 1993, iniciou-se um programa

de investigação e desenvolvimento de audiodescrições, que culminaram com a

publicação da norma UNE 153020, intitulada: Audiodescripción para las personas

com descapacidad visual. Requisitos para la audiodescripción y elaboración de

audioguías?

No Brasil, a áudio-descrição vem sendo difundida desde 2000 e começou a

ser utilizada timidamente em pequenos filmes de curta duração, chamado a atenção

especificamente para o que ocorria nas imagens dos filmes, no momento em que

não havia fala ou narração preenchendo o vazio e o silêncio da cena com a

descrição da imagem, do cenário, do vestuário, do significado da cena, etc;

Passados alguns anos tem-se tentado dispor desde recurso em exposições,

museus (audiodescrevendo imagens), como na exposição Arte Moderna em

Contexto que ocorreu em abril de 2007 – 1º exposição itinerante com áudio-

descrição para as pessoas com deficiência visual, que passou pelos estados do Rio

de Janeiro, São Paulo, Recife e Curitiba.

8.2. Legislação Sobre a Áudio-Descrição

No Brasil há muitos anos existe leis que fundamentam a áudio-descrição.

Essa ferramenta foi criada para otimizar o atendimento das pessoas que tivessem

problemas sensoriais (cegueira e baixa visão). Na portaria Nº 310, 3.3, DE 27 DE

JUNHO DE 2006 destacamos uma definição sobre áudio-descrição: ‘Corresponde a

uma locução, em língua portuguesa, sobreposta ao som original do programa,

22

Page 35: Monografia Leny f. Oliveira

destinada a descrever imagens, sons, textos e demais informações que não

poderiam ser percebidos ou compreendidos por pessoas com deficiência visual’.

Além disso, a Lei Nº 10.098 de 19 de dezembro de 2000 trata dos padrões de

acessibilidade e dispõem de diretrizes para algumas áreas, uma dessas áreas

aborda o tratamento de imagens em meios de rádio difusão e televisão que podem

muito bem ser utilizadas em outros ambientes em que há trabalho com informações

imagéticas, servindo assim para a melhoria do entendimento dos usuários em

setores de atendimento ao público.

No capítulo VII, artigo 17 da LEI 10.098/00 que estabelece critérios básicos

para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência, o qual fala:

O poder público promoverá a eliminação de barreiras na comunicação e estabelecerá mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização às pessoas portadoras de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação para garantir-lhes o direito de acesso à informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte, ao lazer.

É de clareza solar a ampliação de trabalhos dispostos à eliminação de todas

as barreiras comunicacionais para favorecer a informação das pessoas com

deficiências sensoriais e amplia pela primeira vez ao longo de anos ao acesso a

cultura, ainda tão reduzido no século XXI mesmo para quem tem todos os sentidos a

seu favor.

Tais artigos só afirmam o desejo e o interesse das pessoas usuárias de

veículos comunicacionais em quebrar a barreira comunicacional e despertar para a

importância de se promover o acesso à informação a todas as pessoas em qualquer

ambiente, garantindo assim, igualitarização de acesso, de direitos e também o

despertar da sociedade no sentido de promoção à igualdade e qualidade de vida

para todos.

Some-se a isso o Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei 7853/89, ainda

reserva em seu capítulo III, Do Acesso à Informação e à Comunicação, Art. 147 e

148: “Caberá ao Poder Público incentivar a oferta de (...) recursos tecnológicos que

permitam sua utilização de modo a garantir o direito de acesso à informação às

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Page 36: Monografia Leny f. Oliveira

pessoas com deficiência auditiva ou visual”. Para que isso aconteça deverá se

adotar medidas em que privilegiem a pessoa com deficiência sensória (auditiva ou

visual), seja legenda para as pessoas surdas ou janela com intérprete de língua de

sinais e a descrição e narração em voz de cenas e imagens.

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Page 37: Monografia Leny f. Oliveira

9. O QUE É TECNOLOGIA ASSISTIVA?

É também aplicada para minorar os problemas encontrados pelos indivíduos

com deficiências e é definida como uma ampla gama de equipamentos, serviços,

estratégias e práticas concebidas de acordo com o surgimento de situações e

necessidades. Pode ser feita para prevenir, compensar ou neutralizar uma

deficiência temporária ou momentânea, e ser produzida em larga escala para

auxiliar muitas pessoas ou pode ser produzida com recursos simples para melhorar

a vida de uma única pessoa.

A importância deste recurso se dá exatamente em favorecer as atividades e

melhorar o estilo de vida da pessoa em questão.

No Brasil, encontramos também terminologias diferentes que aparecem como

sinônimos da Tecnologia Assistiva, tais como “Ajudas Técnicas”, “Tecnologia de

Apoio“, “Tecnologia Adaptativa” e “Adaptações”.

Também tem como objetivo proporcionar as pessoas, com deficiência, maior

independência, qualidade de vida e inclusão ampliando sua comunicação,

mobilidade, habilidades de trabalho e aprendizado.

A áudio-descrição também pode ser pensada como tecnologia assistiva

porque foi pensada para servir à todas as pessoas com e sem deficiência

considerando as possibilidades de tempo de uso, beneficiando o uso de pessoas de

todas as idades e capacidades.

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Page 38: Monografia Leny f. Oliveira

10. ACESSIBILIDADE À COMUNICAÇÃO: PELO DIREITO A NO VOS

CONHECIMENTOS

Nos dicionários a palavra "acessibilidade" é um substantivo que significa ser

acessível e "acessível", por sua vez, é um adjetivo que significa aquilo a que se pode

chegar facilmente; que está ao alcance.

Quando este termo começou a ser utilizado para as pessoas que tinham

deficiência significava apenas que precisava eliminar “barreiras” no dicionário

significa limite; obstáculos; mecanismos que impedem a passagem de espécies a

outro espaço.

Neste caso, as barreiras citadas pelas pessoas com deficiência ou seus

parentes faziam referências as barreiras dos ambientes arquitetônicos, eram nada

mais que uma série de obstáculos que a pessoa com deficiência deveria ter que

ultrapassar sozinha se quisesse conviver “igualmente” com as outras pessoas.

Aos poucos a situação da pessoa com deficiência foi mudando em 1981, foi

importante para as pessoas com deficiência, a ONU - Organização das Nações

Unidas - decretou que era o Ano Internacional das Pessoas Portadoras de

Deficiência (AIPPD).

A partir desse momento, a sociedade passou a perceber essas pessoas e que

eram em um número consideravelmente grande, que elas tinham direitos iguais a

todas as outras e que a sociedade deveria adequar-se a elas e não o contrário.

Segundo SASSAKI (2002) muitas pessoas com deficiência não podem ter

acesso aos espaços públicos porque existem, nos ambientes de lazer, recreação e

turismo do País alguns tipos de barreiras que impedem a pessoa com deficiência

exercer seus direitos de igualdade e acesso, e aos mesmos benefícios e

informações que todas as outras pessoas.

Na sociedade podemos encontrar seis tipos de barreiras (arquitetônica,

comunicacional, atitudinal, metodológica, instrumental e programática). Porém

26

Page 39: Monografia Leny f. Oliveira

vamos nos ater a barreira4* comunicacional que está diretamente ligada ao nosso

objeto de estudo.

Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência as barreiras nas

comunicações são:

Quaisquer fatores que dificultam ou impossibilitam às pessoas a expressão ou recebimento de mensagens por intermedio dos meios ou sistemas de comunicação e informação, sejam ou não de massa, incluídos os portais públicos ou de acesso à internet.

Primeiro devemos considerar que a pessoa com deficiência visual tem muito

pouco para divertimento, aculturação e lazer, uma vez que sabemos que muitos dos

divertimentos são visuais e carregados de informações imagéticas, e pouco se

pensa ou se dispõe em atrativos para esse público.

Por sua vez, o uso exagerado de imagens para informar algo exclui parte da

sociedade e constitui barreira comunicacional grave que é quando nem todas as

pessoas têm acesso ao que se comunica.

4*________________________

Barreiras arquitetônicas são aquelas presentes em construções onde circulam público variado e que impedem a participação desse público no ambiente. Por exemplo portas largura menor que 90 centímetros para cadeiras, óbvio que impossibilita a passagem de cadeirantes.

Barreiras atitudinais é o preconceito implicito ou explícito para com as pessoas que tenham deficiência, está presente na sociedade como um todo quando não permite entrada dessas pessoas em locais públicos, quando não se abrem oportunidades de trabalho ou mesmo quando dão oportunidade com intuito apenas de comprir a lei de cotas, mas continuam com protecionismo.

Barreiras comunicacionais estão presentes na falta de sinalizações dos locais tátil quando ignoram as pessoas cegas. A ausência de sinalização visual ignorando as pessoas surdas e a não-contratação de intérpretes da língua de sinais ignorando o direito a participação das pessoas surdas também constitui barreira comunicacional.

Barreiras metodológicas ocorrem quando desconsideramos a diversidade do público que frequenta ou frequentará o ambiente não levando em conta seus direitos, suas necessidades.

Barreiras instrumentais quando há dificuldade para utilização dos aparelhos, equipamentos, ferramentas e outros dispositivos tecnologicos que fazem parte dos locais visitados sejam por problemas de adaptações técnicas ou falta de profssional especializado para auxílio ao público que tenham limitações físicas, sensoriais, mentais, limitação temporária.

Barreiras programáticas existentes nos decretos, leis, regulamentos, normas, políticas públicas e outras peças escritas, barreiras estas invisíveis, não-explícitas, mas que na prática impedem ou dificultam que as pessoas utilizem serviços de acesso ao público.

27

Page 40: Monografia Leny f. Oliveira

Muitas pessoas ainda não conhecem os termos barreira comunicacional ou

acessibilidade comunicacional, porém já existem ambientes onde há uma

preocupação em comunicar as informações exatamente exatamente para facilitar

o atendimento ao público, e por consequência melhorar a qualidade do

atendimento.

Como exemplo, podemos citar os metrôs onde há um interlocutor que

transmite os locais de destino, descreve o espaço arquitetônico, faixa de proteção, e

o transporte para que o passageiro se sinta confortável para caminhar no ambiente e

utilizar o transporte. Por sua vez a partir do momento que um ambiente oferece essa

melhora no atendimento outros setores também tentam seguir, melhorar ou ampliar

a idéia.

Mas o que é necessário para que haja acessibilidade comunicacional para as

pessoas com deficiência?

- Em primeiro lugar deve-se sempre consultar as pessoas com deficiência,

com o objetivo de melhorar a prestação de serviços de comunicação dos ambientes

físicos, de circulação pública ou dos meios digitais de divulgação, visando à

eliminação das barreiras de comunicação.

- Promover em ambientes onde haja circulação de pessoas, independente de

que tenha deficiência ou não, a minimização e de preferência a exclusão dessas

barreiras, repensando as formas de comunicação de informação(ões),

principalmente nas informações que contenham imagem.

- Solicitar às editoras, os jornais, as revistas para que tornem acessíveis os

seus produtos, tanto os veiculados ao público de forma impressa, quanto às

disponibilizadas em meio digital.

- Oferecer sempre panfletos de comunicação, cardápios, guias de turismo,

avisos, em letra ampliada ou em Braille nos ambientes de circulação pública,

eventos como shows, palestras, divulgação de filmes. É valido ressaltar que o

conteúdo deve ser o mesmo de forma que não descrimine de maneira alguma

ambos os públicos: o público com deficiência e o sem deficiência.

28

0

Page 41: Monografia Leny f. Oliveira

- Criar ambientes na web onde as pessoas possam contribuir nas discussões

para assegurar ou melhorar o acesso igualitário e a educação inclusiva.

- Eliminar barreiras na iluminação de espaços físicos que prejudicam o acesso

à informação e comunicação de pessoas com baixa visão, e também de pessoas

com deficiência auditiva.

- Sinalizar o espaço arquitetônico de forma a comunicar as escadarias,

obstáculos, portas, telefones públicos, etc.

- Disponibilizar os materiais didáticos em áudio, letra ampliada, Braille, em

relevo, e com a descrição ao lado ou em folder a parte, com indicações

bibliográficas, sempre com vistas em ampliar o acesso ao conhecimento da pessoa

com deficiência visual.

- Solicitar que os filmes, novelas e programas televisivos tenham além do

intérprete da Língua de Sinais Brasileira ou legenda e áudio-descrição.

- Disponibilizar nos espetáculos ao vivo recursos de acesso à comunicação,

áudio-descrição, por exemplo, informativos e panfletos sobre o conteúdo dos

espetáculos.

- Caso não haja disponibilidade de tecnologias, que facilitem o acesso a

comunicação como leitores de tela para computadores e caixas eletrônicos é válido

disponibilizar apoios humanos como ledores, intérpretes da Língua Brasileira de

Sinais (para os surdos) tudo isso para garantir o pleno aproveitamento do que se

quer comunicar aos espectadores.

- Incentivar a formação de recursos humanos em acessibilidade e

comunicação da informação para atuarem nos mais distintos meios de circulação

pública para fortalecer ou melhorar a qualidade da informação.

O que há de acessibilidade à comunicação na educação das pessoas com

deficiência visual?

A acessibilidade a comunicação já aparece de várias formas, alguns livros

impressos já são disponibilizados em áudio, não todos como deveria. As editoras

também liberam os arquivos digitais em doc. Word a quem os solicita, desde que

29

10

Page 42: Monografia Leny f. Oliveira

comprovanda a deficiência por meio de ofício e documentação prévia com

justificação do uso do arquivo..

Os livros disponibilizados pelas editoras são coloridos e bem ilustrados, mas

não são disponibilizados em Braille ou em letra ampliada e as informações dadas

aos alunos sobre as imagens não são completas. Primeiro porque as ilustrações

não possuem legendas, segundo porque o professor não tem informação ou

formação adequada para fazer descrição ou áudio-descrição das imagens.

Alguns filmes educativos já vêm com legenda e também com janela com

Intérprete da Língua de Sinais Brasileira, porém poucos filmes contém o recurso da

áudio-descrição e os alunos podem contar apenas com a boa vontade dos

professores para “descreverem” as cenas.

Mas na sala de aula os professores ainda precisam de algumas dicas para

trabalharem melhor com esse aluno.

Uma vez que os alunos estão mediados pelo sentido da visão, as informações

orais dadas pelo professor só vem somar informações para todos os alunos. Se

pensarmos na pessoa com deficiência visual muito pouco é oferecido em termos de

qualidade de informação oral. Ou seja, as pessoas que enxergam não lembram de

informar o que vêem para as pessoas cegas, a menos que elas perguntem.

A partir do momento que se oferece novas formas de transmitir informação,

adaptam-se conteúdos, ampliam-se as oportunidades de aprendizado para as

pessoas, seja em sala de aula, seja em qualquer ambiente que se tenha por objetivo

maior passar alguma informação.

Vivemos numa sociedade que é fundamental ser bem informado e saber lidar

com a informação, saber consumi-la e manejar os instrumentos e meios a ela

ligados. A informação precisa ser divulgada porque quando não circula não tem

valor algum.

Então, de que serve informação se não for para ampliar os nossos

conhecimentos e fazer com que compreendamos o que há ao nosso redor?

30

Page 43: Monografia Leny f. Oliveira

11. COMO FAZER ÁUDIO-DESCRIÇÃO?

Para se fazer áudio-descrição seja em estúdio seja ao vivo, temos que ter

alguns recursos em mente:

1) Conhecer bem o meu objeto de estudo, de trabalho, fazendo

antecipadamente uma pesquisa para adquirir o máximo de informações possíveis,

para discorrer sobre o tema de forma fluente e acessível a todas as pessoas.

2) Lembrar sempre que uma forma, imagem ou situação mal descrita pode

dar margem a várias interpretações.

3) Não se estender nas audiodescrições, para não tornar, o momento de

lazer/lúdico (filme, peça, amostra em museu, aula) cansativo e enfadonho, porque

muita áudio-descrição diminui o interesse e a atenção pelo assunto em pauta, por

isso é importante uma pesquisa prévia para dosar o que se vai falar.

4) Fazer com que a áudio-descrição seja um momento fantástico no qual a

pessoa se sinta inserida como participante na comunicação das informações.

5) Não ser redundante na áudio-descrição, nem impreciso; ser exato,

conciso.

6) Ser ético, falando a verdade sem esconder o que realmente se passa na

cena, na imagem ou na peça porque quem precisa desse recurso está confiando no

trabalho e na veracidade das informações que o locutor/ audiodescritor transmite.

11.1 Para se Áudio-Descrever Deve Saber Descrever. O Que / Quais Características

Buscar para Fazer Bem Esse Trabalho?

Descrição:

Uma boa descrição deverá levar em conta, todos, ou quase todos os

elementos para que a pessoa tenha acesso à informação de forma que a

compreenda.

31

Page 44: Monografia Leny f. Oliveira

A pessoa responsável pela descrição deve ser ético, passar qualquer tipo de

informação com veracidade, de forma que as pessoas que dependem de sua

informação para compreender a imagem saiba que você audiodescreve tal e qual as

imagens aparecem, sem faltar nem acrescentar informação ou opinião pessoal.

11.2. Como fazer descrição:

1. De Pessoas:

Não é tão simples porque muitos fatores precisam ser levados em

consideração. Porém, os elementos que compõem o ser humano podem ser

divididos em dois grupos: características físicas e psicológicas.

• As características físicas são a aparência externa tudo o que pode ser observado

externamente quando analisamos uma pessoa. Tais características vêm em uma

seqüência lógica:

• Estatura, cor do cabelo, cor da pele, tipo de pele;

• Face: traços do rosto, olhos, lábios, nariz, expressão traços da voz, modo de vestir

que se encaixa na aparência externa e muitas vezes auxilia a descrever também as

características psicológicas da pessoa.

• Uma vez bem descritos tais características só ajudam a reconhecer as pessoas, e

saber enumerar as diversidades de raça, cor, no reconhecimento das singularidades

de cada pessoa.

No que diz respeito às características psicológicas pode-se enumerar:

• Tudo que associe características da pessoa como: temperamento, caráter,

comportamento, preferências, postura profissional, comportamento em relação à si e

aos outros.

32

Page 45: Monografia Leny f. Oliveira

2. De Objetos:

• Iniciar com referência de caráter geral dizendo onde o objeto foi fabricado ou

trazido podendo falar dos lugares de procedência.

• Depois descrever os detalhes do objeto, o formato, comparado esses formatos as

figuras geométricas conhecidas, comparando também a objetos semelhantes

deixando bem claro como é o objeto descrito, se possível deixar tocar.

• As dimensões, diâmetro, largura, comprimento, altura são importantes.

• E por fim, falar sobre que ou qual material foi feito o objeto, a textura, cor, peso,

brilho, se tem perfume, temperatura.

3. De Ambientes:

• Primeiramente devemos perceber se é um ambiente fechado ou aberto. Se for

fechado denominamos ambiente e se for aberto denominamos paisagem. A

paisagem subdivide-se em paisagem rural ou urbana.

• Captar as informações de caráter geral, detalhes de caráter, paredes janelas

portas, teto, chão, luminosidade, aroma, luminosidade. Detalhes do ambiente como

eletrodomésticos, quadros, esculturas, mobília.

• Atmosfera que paira no ambiente, se é tranqüilo, seguro, agitado, lúgubre, feliz,

limpo, sujo, empoeirado.

• Informações que possa localizá-lo casa, museu, cidade, centro, norte, sul.

• Paisagem, ambiente externo, localizar o ambiente, o aspecto, se é longe ou perto,

pequeno ou grande, dia ou noite, pano de fundo, o que se vê ao longe, e atmosfera

que paira no ambiente, destacando com exatidão o momento.

33

Page 46: Monografia Leny f. Oliveira

4. Vestuário

Muito do que a pessoa veste é escolha e parte das características

psicológicas de como pode ser tímido, comportado, sensual, pobre, rico, rebuscado,

austero, despojado, religioso, a cultura a que pertence ou foi formado.

5. No Museu

Saber informações sobre a exposição, temas ligados ao que é exposto.

Descrever o ambiente interno, como as obras estão dispostas, se há uma cronologia

da disposição das obras, etc.

6. Obras de Arte – Quadro

Falar sobre o autor/a, as cores, o tipo da pintura. Como foi pintado? Com

pincel? À mão? Com os dedos? Falar sobre o que está desenhado, plano de fundo

da obra, se ele/a era exclusivo ou se pintava seguindo o estilo de outro pintor/a

famoso/a, qual a importância daquela obra para a sociedade da época que foi feita,

qual o significado desta obra para a sociedade na atualidade, qual a ligação da obra

com o eixo da exposição em si.

7. No Computador

As pessoas responsáveis pelos desenhos das páginas devem ficar atentas

tanto para a questão de acessibilidade, quanto para os símbolos (desenhos que

estiverem dispostos) porque estes deverão ser descritos, não só em seu significado

mais em sua ligação com o conteúdo disposto na página. Perceber também se estes

34

Page 47: Monografia Leny f. Oliveira

desenhos não atrapalham usuários que necessitam utilizar dispositivos de leitura à

se apropriar das informações da página. Os desenhos não podem ser impeditivos e

não podem entrar em conflito com a tecnologia assistiva - comando de voz- de

apropriação das informações.

8. Nos Filmes

Primeiro vem do interesse do autor e do diretor. Depois um levantamento

sobre a história do filme, vestuário, estudo sobre detalhado sobre as cenas dos

filmes e os espaços com cenas que permitam as entradas de narrações sem

sobrepor as falas dos personagens informando o que acontece, sem desmotivar o

espectador.

9. Nas apresentações, Peças, Espetáculos ao Vivo

Devem dispor de pontos auditivos para as pessoas com deficiência visual e

de pessoal capacitado para que descrevam os intervalos sem narração, musica ou

falas, para que o expectador em momento algum deixe de privilegiar o que está

acontecendo.

35

Page 48: Monografia Leny f. Oliveira

12. A ÁUDIO - DESCRIÇÃO NA ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE AUXILIANDO O APRENDIZADO

Com o fim da II guerra muitas pessoas ficaram com algum tipo de deficiência

e por iniciativa do Dr. Richard Hoover deu-se início a estudo mais científico voltado à

mobilidade das pessoas cegas e por ele novos métodos foram aperfeiçoados para

auxiliar a vida das pessoas com deficiência visual. A antiga bengala curta,

ortopédica e branca foi substituída pela bengala longa com extensão tátil-cinestésica

e testada no Veteran Administration Hospital, de Illinois e adotada pelos veteranos

cegos.

Já no Brasil as técnicas de orientação e mobilidade chegaram no ano de

1959 quando foi criado o primeiro curso para treinar instrutores de “Orientação e

Mobilidade” pelo Instituto de Reabilitação da Escola de Medicina da Universidade de

São Paulo.

A orientação e a mobilidade são extremamente importantes para o

desenvolvimento e a autonomia das pessoas em geral, porém são importantíssimos

na vida da pessoa com deficiência visual. Tais conceitos são introduzidos em nossas

vidas desde cedo e deve ser inserido na vida da pessoa com deficiência desde o

colo da mãe com acréscimo de informações técnicas a medida que a criança se

desenvolve.

De acordo com ÁLVARO (2005) a orientação serve para a pessoa perceber o

ambiente que o cerca e estabelecer relações corporais, espaciais e temporais com o

ambiente, através dos sentidos de que a pessoa dispõe. A orientação da pessoa

com deficiencia visual é alcançada através da utilização dos sentidos da audição,

aparelho vestibular, tato, consciência cinestésica5*, olfato e visão residual, nos casos

de pessoas que possuem de baixa visão.

5*________________________

Segundo Mc Candless (1987) Apud Gallahue, D. É o processo pelo qual todas as pessoas passam

para conhecer peso, volume, textura.

36

Page 49: Monografia Leny f. Oliveira

A capacidade ou estado de um indivíduo se mover reconhecendo os

estímulos internos ou externos, em equilíbrio estático ou dinâmico chama-se

MOBILIDADE, é alcançada através de um processo ensino-aprendizagem que pode

ser feito na infância ou mesmo na vida adulta e que de acordo com MASI (2002),

ÁLVARO (2005) pode utilizar de recursos mecânicos, ópticos, eletrônicos, animal

(cão-guia) em vivências sempre contextualizadas, favorecendo o desenvolvimento

das habilidades e capacidades perceptivo-motoras6* de cada indivíduo com

deficiência visual.

Existem alguns passos a serem cuidados para o desenvolvimento da

aprendizagem da orientação e mobilidade das pessoas com deficiência visual. Em

que destacamos primeiramente alguns movimentos básicos fundamentais para o

aprendizado:

► Locomotores de ação como andar, correr, pular, deslizar, saltar, rodar,

rastejar, subir.

► Não-locomotores de relização de atividades como: puxar, empurrar,

balançar-se, agachar-se, estirar-se, inclinar-se, girar.

► Manipulativos que servem para apropriação de conhecimento e realização

de atividades: como manejar, manipular, sustentar, efetuar movimentos de preensão

com os dedos e mãos.

► Discriminação cinestésica: consciência corporal (bilateralidade,

lateralidade, dominância, equilíbrio), imagem corporal, relação do corpo com os

objetos circundantes no espaço.

► Discriminação visual: acuidade visual, acompanhamento visual, memória

visual, diferenciação figura-fundo, coerência perceptiva. Uma vez bem estimulada,

usar/estimular o máximo possível e de forma segura a capacidade funcional da visão

residual de pessoas com baixa visão.

6*________________________

Segundo GALLAHUE é a percepção dele ou do mundo ao redor e o significado que ele dá as sensações que ele recebe.

37

Page 50: Monografia Leny f. Oliveira

► Discriminação auditiva: acuidade auditiva, acompanhamento auditivo,

memória auditiva, reconhecimento dos sons. É extremamente útil quando a pessoa

circula por um ambiente para reconhecer o som por onde passa. De uma escola, de

um local em construção, etc.

► Discriminação tátil para reconhecimento dos objetos concretos e sua

sensações térmicas: redondo, ondular; quente, frio , áspero, úteis para a proteção

da pessoa com deficiência.

► Discriminação olfativa: fragrâncias, odores podem ajudar na percepção da

localização.

► Capacidade de coordenação: coordenação olho-mão, coordenação olho-

pé, coordenação ouvido-mão, coordenação ouvido-pé.

12.1. Orientação e Mobilidade da Criança

Para uma criança o trabalho começa com os pais desde cedo, que diferente

da criança que enxerga, precisa que se diga e se mostre tudo aos mínimos detalhes

com objetivo de favorecer a atividade motora, proprioceptiva e vestibular, para que

ela não tenha rupturas nas experiências sensório-motoras integradas.

Quando as atividades motoras não são estimuladas por experiências

“compensatórias”, brincadeiras, atividades que ensinem concretamente a caminhar,

a reconhecer os objetos durante os primeiros anos de vida, poderão trazer prejuízos

à organização e planejamento do ato motor e vivência do corpo no espaço,

responsáveis pelo desenvolvimento de adaptação e de organização “interna” da

pessoa.

O desenvolvimento perceptivo depende da qualidade de experiências

sensório-motoras vividas, da elaboração e organização construída pela criança que

diferente do adulto (que perdeu a visão), já possui experiências dos objetos porque

possui uma memória visual recente.

38

Page 51: Monografia Leny f. Oliveira

Haverá o estímulo à consciência e percepção tátil-cinestésica, ao

reconhecimento do que se toca através do objeto, à audição através dos sons

produzidos pelo objeto no piso e no tocar em outros elementos presentes no

ambiente. As sensações térmicas são de grande importância o para o

desenvolvimento da pessoa cega.

É através destes sentidos combinados que a pessoa conhece o conceito

concreto dos objetos. A criança passa por tres níveis de aprendizado: o concreto

conhecer o objeto em si; o funcional conhecer o objeto e funcionalidade e abstrato é

sistematização de todas as características dos objetos demora mais tempo para

aprender a completude do objeto.

Alguns brinquedos podem ser utilizados para melhorar a locomoção e a

confiabilidade de caminhar das crianças com deficiência visual, porque além de

serem lúdicos incentivam a caminhar, melhoram a postura e acrescentam ao

aprendizado tátil-cinestésico.

1. Berço

Um dos primeiros ambientes com o qual a criança estabelece relações é o

interior do seu berço. Depois vem o quarto, o banheiro, sala, cozinha, etc. Cada um

desses lugares tem características diferentes e que devem ser apresentadas para à

criança pela verbalização sempre demarcando um local para início de

reconhecimento e fim de percurso. Se não enxergar deve-se apresentar pelo toque,

manipulação tátil e cinestésicamente, ouvir e cheirar.

Quando ela adquire o comportamento verbal, a nomeação dos objetos

contribuirá para a formação da imagem corporal e facilitará o desenvolvimento de

conceitos durante a exploração dos novos ambientes. Não basta para uma pessoa a

verbalização, eles precisam conhecer os objetos tatil-cinestésicamente para

conhecer bem do que estão se apropriando.

39

Page 52: Monografia Leny f. Oliveira

2. No Colo

Quando o bebê não se locomove só, ele aprende as primeiras habilidades de

orientação e mobilidade no colo da mãe pois ela é que deverá estimulá-lo,

colocando na posição de engatinhar, depois de pé. Para quem não sabe as crianças

começam a engatinhar porque vêem alguns animais andarem nos quatro pés como

é o caso do cão, do gato, animais domésticos comuns que são percebidos pelas

crianças que enxergam. Por isso, é de responsabilidade da mãe proporcionar os

primeiros estímulos. Aos poucos ele adapta-se aos braços de quem o segura e pode

se familiarizar com o está dentro desse campo de ação.

Outra área de limitação na formação de conceitos da criança cega é a da

consciência espacial. Os conceitos ligados a posição, localização, direção e

distância são adquiridos de forma restritiva prejudicando boa parte de sua educação.

3. Ambientes Internos

Em casa, o aprendiz pode demarcar um ponto de partida para o

reconhecimento de detalhes dos ambientes: tipos e texturas de paredes e pisos,

mobília, portas, trincos e maçanetas, luminárias, interruptores e tomadas elétricas,

utensílios domésticos, ambientes externos como jardim, quintal, etc. Durante esses

reconhecimento a pessoa poderá contar com os conhecimentos de uso da bengala

longa, com o guia vidente e também as técnicas de autoproteção.

É interessante para o aprendizado seja da criança ou do adulto reconhecer as

diferenças nos nível e desníveis do piso andando calçado, descalço, com meias,

escadas, pisos lisos, ásperos.

Na escola, instituição ou clínica de atendimento - O primeiro espaço a ser

explorado é a própria sala de aula ou de atendimento utilizada como o ponto focal

para ampliação da familiarização. Igual ao ambiente doméstico, em que se deve

40

Page 53: Monografia Leny f. Oliveira

aproveitar as possibilidades de aquisição de conceitos para o treinamento

perceptivo-motor.

Outros ambientes - Em áreas de lazer, cultura, esportes, prédios comerciais,

industriais, etc, deve-se seguir o mesmo modelo de mobilidade orientação e

autoproteção.

4. Ambientes Externos

Área Residencial - Inicialmente, quadras, esquinas, quarteirões bem definidos e

calçadas com pisos regulares, evitando trânsito, muitos pedestres e veículos.

Aproveitar os equipamentos urbanos e iniciação com o público externo nas

solicitações de travessia de ruas, de pontos de referência, etc.

Área mista de pequeno comércio servirá para reconhecer locais onde

encontramos pequenas lojas, padarias, farmácias, postos, calçadas com trânsito de

pessoas, veículos, ruídose também usar semáforos e estabelecimentos comerciais.

12.2. Para que Serve a Áudio-Descrição no Aprendizado da Orientação e

Mobilidade?

1.A pessoa com deficiência visual reconhecer o ambiente, através de pistas

verbais dos intrutores favorecendo o reconhecimento e o desenvolvimento da

autonomia;

2. Áudio-descrição feita pelo instrutor serve para a familiarização e

reconhecimento dos objetos, objeto/som, locais internos ou externos/ruídos,

pessoas.

41

Page 54: Monografia Leny f. Oliveira

3. As pistas sonoras contribuem para caminhar em cada ambiente seja aberto

ou fechado caracterizados pelos ruídos que podem informar em que lugar o

indivíduo caminha.

4. Também são utilizadas as pistas sonoras de objetos caídos no chão, para

que a pessoa saiba a distância que ele caiu que e aprenda que postura física utilizar

para abaixar e procurar sem causar danos ou acidentes.

5. Permitir que a pessoa obtenha informações seguras sobre objetos

encontrados durante sua caminhada favorecendo a proteção da pessoa, evitando

acidentes.

42

Page 55: Monografia Leny f. Oliveira

13. CANAIS SENSORIAIS DE CAPTAÇÃO DE INFORMAÇÃO E S UA

IMPORTÂNCIA NO APRENDIZADO

Todos nós aprendemos na escola quais são os cinco sentidos humanos: a

visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato. Nosso aprendizado toma esses

sentidos por canal direto e principal e todos eles estão interligados entre si, são

canais diretos de comunicação e de recepção de informações responsáveis pelo

nosso aprendizado e principalmente pela nossa sobrevivência.

A pessoa que tem deficiência visual conta com um sentido a menos e tem de

utilizar-se dos outros sentidos com maior habilidade/profundidade, por isso é falso

afirmar que a pessoa com deficiência visual escuta melhor, tem o tato mais apurado

etc, ela simplesmente usa melhor os sentidos dos quais dispõe, enquanto que quem

tem os cinco sentidos pode variar sua escolha de acordo com a situação.

De acordo SÁ (2007, p.15)

Os sentidos têm as mesmas características e potencialidades para todas as pessoas. As informações tátil, auditiva, sinestésica e olfativa são mais desenvolvidas pelas pessoas cegas porque elas recorrem a esses sentidos com mais freqüência para decodificar e guardar na memória as informações. Sem a visão, os outros sentidos passam a receber a informação de forma intermitente, fugidia e fragmentária. O desenvolvimento aguçado da audição, do tato, do olfato e do paladar é resultante da ativação contínua desses sentidos por força da necessidade.

Então se o s sentidos são tão importantes para todas as pessoas conheçamos a

importância de cada um detalhadamente:

2.3. A Visão

A maioria das pessoas acredita que o sentido da visão é responsável pelo o

que podemos perceber do mundo e conhecê-lo passando de uma forma a outra.

43

Page 56: Monografia Leny f. Oliveira

Segundo OLIVEIRA (2002) uma pessoa capta não menos que 80% das informações

pela visão e tal processo de visualização é condicionado pela existência de luz. Para

ver, perceber as imagens os olhos também exigem movimentos das pálpebras, do

globo ocular e da cabeça.

Em se tratando da força que é responsável pelo movimento dos olhos em

direção de um objeto a outro objeto esta não é comandada pelos olhos. É

comandada pelo cérebro que além de tudo nos faz acompanhar e junto a outras

mensagens sensoriais reconhecer e registrar cada imagem durante toda a vida e é

lá, no cérebro, onde temos um extenso arquivo em que as informações ficam

armazenadas para que possamos reconhecer e utilizar durante toda a vida, ou seja,

no aprendizado, na defesa.

2.4. A audição

Dos sentidos a audição vem em segundo lugar e atua em conjunto com a

visão. E em caso de cegueira assume cerca de 75% por cento da capacidade de

apreensão de informações. Pode ser dividido em três segmentos ouvido externo,

ouvido médio e ouvido interno. O som ao entrar no ouvido vai para o córtex auditivo

é lá são realizadas a interpretação da altura e do ritmo, em que faz-se diferenciação

entre sons e ruídos.

Quanto à percepção dos sinais característicos da linguagem, cabe à área de

Wernicke fazer a distinção entre, sílabas, palavras e frases, mas sua compreensão

efetiva cabe a outros sentidos. Também é na área de Wernicke que se origina o

processo relativo à fala. E é uma das tarefas mais importantes realizada pelo

sistema auditivo uma vez que o homem é o único ser que detém expressão e

compreensão da linguagem.

44

Page 57: Monografia Leny f. Oliveira

2.5. O Paladar

O paladar é considerado um sentido químico e é responsável pela percepção

dos sabores dos alimentos. Originando-se nas papilas gustativas, localizadas na

membrana mucosa da boca, a sensação de gosto vai até o córtex primário relativo à

gustação, indo para a área do paladar. Também na área de Wernicke, essa

informação junta-se à outras informações sensoriais.

2.6. O Olfato

Também é um sentido químico. Seu processo de percepção dá-se nas células

olfativas, que são encontradas na parte interna superior do nariz. A sensação é

enviada ao córtex cerebral e encaminha à área de Wernicke, unindo-se então ao

restante do nosso material sensório, já devidamente elaborado.

No caso da pessoa cega, o olfato tende a desempenhar função importante, na

dinâmica de orientação. É comum que o cego diferencie o ambiente a partir dos

odores característicos que o circundam: conhece a sapataria pelo cheiro de couro, a

farmácia pelo de medicamento e assim por diante.

2.7. O Tato

Pertencente ao âmbito das sensações somestésicas, que têm sua origem na

superfície do corpo ou em suas estruturas profundas, o tato está diretamente ligado

ao mundo exterior. Nisso consiste uma importante diferença entre ele e os outros

quatro sentidos externos, que são protegidos do contato direto: os olhos têm as

pálpebras; os ouvidos, as orelhas; o paladar, a boca; o olfato, o nariz.

A sensação táctil começa com receptores sensoriais especializados, tais

como o corpúsculo de Meissner, com sensibilidade extrema a tudo o que toca a

superfície corpórea. Encontramos uma grande concentração nas pontas dos dedos

45

Page 58: Monografia Leny f. Oliveira

das mãos. E auxilia na identificação das texturas, calor. Divide-se em tato passivo

quando as informações são recebidas de forma não intencional ou passiva. E o tato

ativo ou háptico quando a informação é buscada de forma intencional pelo indivíduo

que toca. Assim estão envolvidos não somente os receptores da pele e os tecidos

mais os receptores dos músculos e dos tendões.

Ademais, o tato, por expandir-se através de todo o exterior do corpo,

auxiliando na proteção quanto aos perigos, informando através de boas ou más

sensações como a dor, o calor e o frio sendo de importantíssima valia para a pessoa

cega ou com baixa visão.

46

Page 59: Monografia Leny f. Oliveira

3. A ESTIMULAÇÃO DOS SENTIDOS EM FAVOR DO APRENDIZA DO

Para o aprendizado cada pessoa utiliza melhor um sentido tanto para

assimilar quanto para responder aos estímulos externos. Porém o certo seria um

equilíbrio entre esses sentidos porque não sobrecarregariam uns aos outros. Mas

como fazê-lo?

Aos alunos que compreendem melhor ouvindo, ou que fazem melhor uso do

SENTIDO AUDITIVO apresentar imagem para que tenha estímulo visual desde que

tenha música como estimulação auditiva ou venha acompanhado com bons textos

lidos ou poesias com informações faladas que completem as imagens – áudio-

descrição.

Para as pessoas que fazem melhor uso do SENTIDO VISUAL, que captam

melhor vendo, apresentar informações faladas que completem as imagens mais

também proporcionar aprendizado através de experiências táteis com materiais

diferenciados em cor e em textura e volume para estimulação tátil.

Muitas pessoas passam despercebidas mais aprendem melhor se tocar os

objetos, esquecem do mundo e passam muito tempo analisando um determinando

objeto, a essas pessoas fica patente que o aprendizado por meio do TATO se

sobressai. A essas pessoas apresentamos outras formas de aprendizado

privilegiando usos de imagens e estímulos auditivos, como citados anteriormente,

músicas, por exemplo.

O SENTIDO OLFATIVO e o PALATAR podem ser utilizados na aquisição de

conhecimentos do que traz ou não benefícios ao corpo em termos de alimentação,

limpeza, saúde.

Esse estímulo dos outros sentidos pode ser realizado com todas as pessoas

independente de ter deficiência ou não chama-se Dieta sensorial e tem o objetivo de

estimular outros canais de aprendizado em todas as pessoas é feito por meio de

estímulos externos. Esse estímulo a outros sentidos na pessoa com deficiência

47

Page 60: Monografia Leny f. Oliveira

visual é de grande importância porque diminui consideravelmente os estímulos

auditivos equilibrando o aprendizado entre os outros sentidos.

48

Page 61: Monografia Leny f. Oliveira

15. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

Entrevistamos um professor de matemática /A/ que leciona há três anos no

Ensino Fundamental e percebemos que o professor defendia claramente o trabalho

com essa metodologia.

É fazer com que os alunos imaginem como é o formato da imagem, do que

está se falando com aproximações, as coisas... os objetos.

Nesse momento, entendemos que a matemática por ser uma disciplina na

qual o aprendiz deve ter contato com o concreto para melhor entender o abstrato,

certamente essa imaginação beneficia a criação e a percepção do que se escuta.

Ao ser questionado sobre como é feito esse trabalho de áudio-descrição o

professor coloca:

Pego nos dedos dos alunos e faço com que eles desenhem a imagem no ar

enquanto eu falo sobre elas. Adotaria desenhos em forma de relevos de

texturas diferentes, também construo com material reciclado, emborrachado.

Nesse momento o professor mostra outras alternativas de trabalho para

facilitar a compreensão do aluno. Esses recursos indicam uma junção entre áudio-

descrição e percepção tátil-cinestésica do que se está explicando, fazendo com que

o aluno desenhe no ar objetos promovem a reflexão sobre as formas e o conceito.

No que concerne ao segundo professor entrevistado, que ensina desenho

(professor /B/), há quinze anos, quando questionado sobre as dificuldades de

trabalhar com imagens com crianças com de deficiência visual, o professor

respondeu:

49

Page 62: Monografia Leny f. Oliveira

O trabalho com imagem trata a emoção pelo olhar. O impacto que ela causa

na primeira impressão. Pode ser uma imagem de alto impacto que cause

medo, ou uma meiga que cause afeto. Tudo isso é difícil ser trabalhado com

pessoas com deficiência visual. Tem que Tentar novas formas de passar

essa emoção do mesmo jeito e impacto do que com o olhar.

Percebemos que o professor /B/ fala claramente sobre as dificuldades de se

trabalhar com as imagens. Porém, os dois concordam quando tentam transmitir o

significado das imagens mostrando através de aproximações com os objetos, ou

idéias. O professor B deixa claro que deve ser passada a informação de forma que

cause a mesma emoção.

Independente de ter ou não formação específica ambos preocupa-se com os

alunos, com a formação de conceitos, com a carência de material adequado. De

acordo com CERQUEIRA & FERREIRA (2000) a formação de conceitos depende do

maior número de informações que a pessoa tenha e do contato com o mundo. Mas

para a pessoa com deficiência visual quanto maior for o contato com objetos e

informações melhor será sua apreensão de informações, e por conseqüência

aquisição de informações7*.

No momento em que foi questionado sobre o trabalho com áudio-descrição o

professor /B/ expressa claramente o trabalho que é feito indicando a credibilidade

que tem esse recurso didático.

Num primeiro momento, imagino que o trabalho tenha que interagir com as

pessoas, usando os outros sentidos para transmitir a mesma emoção. Ou

seja, usar do áudio com narração específica e até sons que passem essa

emoção. Texturas e auto-relevos, e até, aromas e cheiros, são, também, um

ótimo meio para se ter as mesmas sensações.

7*________________________

Ver capítulo 12: A áudio - descrição na orientação e mobilidade auxiliando o aprendizado.

50

Page 63: Monografia Leny f. Oliveira

O professor /A/ chama os alunos para a construção dos conceitos, mas o

professor /B/ sempre ressalta que ao fazer um trabalho com esse público deve-se

passar a mesma emoção das imagens para os alunos em questão.

E quando pergunto que outras alternativas o professor adotaria para trabalhar

imagens os professores /A/ e /B/ concordam em trabalhar usando relevos e texturas

para dar as informações e que já tinha o hábito de trabalhar usando material

reciclado e emborrachado. Já o professor B vai além admitindo que usar áudio com

narração e sons que transmitissem a emoção e até mesmo aromas ampliaria o seu

trabalho com imagens, atribuindo mais significado as suas aulas, facilitando assim a

inserção do indivíduo e avanço cognitivo de crianças com dificuldades de visão ou

não.

De acordo com ARANHA (2000) as adaptações de métodos de ensino vêm

para atender as reais necessidades dos alunos sem que implique a diminuição de

conteúdos. Ou seja, as adaptações devem vir para melhorar o trabalho do professor,

ampliar as formas de aprendizado dos alunos sem necessariamente abrir mão da

qualidade, proporcionando um ambiente inclusivo aos alunos com os seus pares.

Na questão que concerne à formação recebida pelo professor, o professor /B/

se colocou da seguinte forma:

Não recebo informação. No Brasil, acho que há muito pouca informação de

como se trabalhar com áudio-descrição. E não só com áudio-descrição, como

também, todas as outras "ferramentas" de inserção dos portadores de

necessidades especiais. Isso passa pela universidade que não trabalha com

isso, mas passa pela sociedade que não cobra e não dá tanta importância

como devia.

O professor /A/ e o professor /B/ concordam quanto à ausência de formação

específica para professores que trabalham com alunos com deficiência,

principalmente formação que prepare os professores na criação de material didático

e adaptação para atender especificamente o público com deficiência visual. E o

professor /B/ dá ênfase falando dessa problemática quando diz que a defasagem de

materiais para se trabalhar com as pessoas com deficiência visual começa desde o

51

Page 64: Monografia Leny f. Oliveira

ensino fundamental, depois ensino médio, entra na universidade passa por lá

despercebida e as pessoas tanto fora quanto dentro da universidade não dão

importância quanto à equiparação das oportunidades de acesso a informação

quanto deveria ser dado.

Segundo ARANHA (2000) cabe a direção das unidades escolares suporte

técnico, administrativo e científico. Cabe também proporcionar a formação para que

haja flexibilização do processo de ensino de modo a atender a diversidade, bem

como, sabermos que nem todas as mudanças necessárias (mudanças estruturais,

formação de professores, aquisição de equipamentos) estariam disponíveis de um

dia para o outro. Mas não podemos ficar parados esperando que as coisas mudem

sozinhas, devem-se traçar planos e metas para construção de um sistema

educacional digno ao trabalho dos professores e que a população merece.

No que concerne a contribuição dessa metodologia de trabalho para a

educação dos alunos, o professor /B/ também discute a importância dela para a

socialização.

Ela insere uma grande quantidade de pessoas a interagir com o mundo ao

seu redor. Fazê-los participar ativamente de todos os momentos da vida,

sejam eles os de lazer, ou seja, até os de trabalho. Importante é que se

sintam incluídos na rotina da sociedade.

O professor /A/ volta o olhar para o acesso à informação das pessoas com

deficiência visual e o professor B amplia a resposta elucidando que além das

pessoas com deficiência visual o trabalho com audiodescrição faz todas as pessoas

interagirem, perceberem o que está ao seu redor, seja em momentos de trabalho, de

educação ou de lazer. E que, o mais importante é que tenham oportunidades iguais

para que se sintam participantes efetivos das mesmas atividades oferecidas na

sociedade.

ARANHA (2000) complementa dizendo que cabe a população a

conscientização de que as pessoas com deficiência fazem parte dela e que tem os

mesmos direitos. O primeiro passo é fazer o mapeamento das pessoas com

52

Page 65: Monografia Leny f. Oliveira

deficiência e para fazer os ajustes necessários para acolhê-las de fato em cada

setor da sociedade. E aos profissionais das áreas técnicas mobilização junto aos

órgãos de representações de pessoas com deficiência com fins de criarem ou

melhorarem os produtos e as formas de atendimento oferecidos à sociedade, capaz

de ampliar não somente as oportunidades educacionais inclusivas mais as

oportunidades para a construção de uma sociedade inclusiva.

No tópico seguinte retomamos questionamentos e apontamos descobertas

resultantes do nosso estudo.

53

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16. CONCLUSÃO

Diante do que foi pesquisado, percebemos que a áudio-descrição é um

trabalho minucioso que exige dedicação de quem faz e que com certeza será

valorizado por muitas pessoas com e sem deficiência.

Quando falávamos na abordagem da valorização dos sentidos na educação

pretendíamos criar possibilidades de favorecer uma educação melhor que

contemplasse a todos, tenham ou não deficiência.

Compreendemos que é promovendo possibilidades de acesso à informação

que criamos pessoas como Eşref Armağan, completas, mas para isso precisamos

comunicar. E se vivemos na era das imagens que dizem tudo por que não

transformá-las em informações tão fortes quanto a sua presença?

Acreditamos que é absolutamente possível fazer um trabalho de áudio-

descrição porque já existe um número de profissionais que estão dispostos a ampliar

esse trabalho cuja importância está além dá ampliação do acesso à educação.

Esses profissionais crêem na informação como um direito de todos.

A importância da áudio-descrição também ocorre com a estimulação dos

outros sentidos quando permite que estimule o sentido auditivo e minimize a

sobrecarga de informações visuais.

Também há pessoas cujo significado das imagens não é acessível, é um fato,

nem todos conseguem fazer interpretação das imagens e os disléxicos não-verbais

são exemplo verdadeiros de quem precisa da áudio-descrição tão quanto as

pessoas com deficiência visual.

Ainda há um público contemplado que são as pessoas que tem todos os

sentidos, mas não estão atentas e perdem o significado de uma imagem exatamente

porque nem todos têm a mesma velocidade de interpretação.

A áudio-descrição vem para atender as necessidades desse público real e

diversificado para que a igualdade de comunicação seja real.

54

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17. REFERÊNCIAS

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ARANHA, Maria Salete Fábio. Garantindo o acesso e permanência de todos os

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Educação Básica. SEESP, MEC, 2001.

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução aos

Parâmetros Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. 2ª

edição, Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

BRASIL, Ministério da Educação. Constituição da República Federativa do Brasil de

1988.

BRASIL, Ministério da Educação. Estatuto da Pessoa com Deficiência. Lei Nº

7.853/89.

BRASIL, Ministério da Educação. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Nº

8.069/90.

BRASIL, Ministério da Educação. Lei das Diretrizes e Bases da Educação. Nº

9.394/96.

CAMPBELL, Linda; CAMPBELL, Bruce; DICKSON, Dee. Inteligências Múltiplas.

Ensino e Aprendizagem por Meio das Inteligências Múltiplas na Sala de Aula.

Haward, Gardner: Tradução: por Magda França Lopes. Artes Médicas, 2ª edição,

Porto Alegre, 2000.

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na educação especial. SEESP, 2000.

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1995.

LACERDA, Cristina B. F. Questões Metodológicas e Pesquisa em Educação

Especial. Cielo, 2005.

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nº 28.

LÜDKE, Menga. Marli, E. D. A, ANDRÉ. Pesquisa em educação: Abordagens

Qualitativas. São Paulo, EPU, 1986.

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de; FARID RAHME, Mônica Maria; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro do; Educação em

Pauta, Escola e Democracia: Pensando e Fazendo Educação de Qualidade. Editora

Moderna, 2001.

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qualitativa com texto imagem e som: um manual prático. Petrópolis, 2003, Editora

Vozes.

MASI, Ivete De. Deficiente Visual Educação e Reabilitação. Programa Nacional de

Apoio à Educação de Deficientes Visuais. Formação de Professor. Ministério da

Educação, Secretaria de Educação Especial, 2002.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa

em Saúde. 7ª edição, São Paulo, Hucitec; Rio de Janeiro, Abrasco, 2000.

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os Cegos. Reven Editora, 2002.

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edição, São Paulo Max Limonad, 1997.

ROSA, M. V. De f. C; ARNOLDI, M. A. G. C. A entrevista na pesquisa qualitativa:

mecanismo para validação dos resultados. Belo Horizonte, Autêntica, 2006, p. 28-

101.

SÁ, Elizabet Dias de; CAMPOS, Izilda Maria de; SILVA, MYRIAN Beatriz Campolina.

Formação Continuada à Distância de Professores para o Atendimento Educacional

Especializado: Deficiência Visual. SEESP / SEED / MEC, Brasília/DF, 2007.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão no lazer e turismo: em busca de qualidade de

vida. São Paulo, áurea editora, 2003.

___. Revista Nacional de Reabilitação, Nº 28, 2002.

17.1. REFERÊNCIAS DA INTERNET:

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http://www.esrefarmagan.com/index-tr.html

Audiodescription solutions: audiodescription.com

Áudio-descrição: http://www.audiodescricao.com/home.htm

57

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BRASIL, Ministério da educação. LEI Nº 10.098/00. Legislação sobre Acessibilidade;

Áudio-descrição.

http://docs.google.com/gview?a=v&q=cache%3A0ezUk5P9dmIJ%3Awww.vezdavoz.com.br%2Fartigo

s%2Flegislacao_audiodescricao.pdf+audiodescri%C3%A7%C3%A3o+-legisla%C3%A7%C3%A3o&hl=pt-

BR&gl=br&sig=AFQjCNECTe4X27hzK10LoIsoPvHlljJUFw&pli=1

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=43

8&id_pagina=1

PACKER, Jaclyn. The following article is published in a book entitled: New

Technologies in the Education of the Visually Handicapped (1996), edited by

Dominique Burger, published by John Libbey Eurotext, p. 103 - 107.

http://www.afb.org/Section.asp?Documentid=1231

Tecnologia Assistiva. www.assistiva.com.br

SIMBIESP – fonte – dados do IBGE sobre numero de pessoas com deficiência

visual:

http://www.sinbiesp.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=87&Itemid

=42

Site sua mente sobre : os canais pessoais de comunicação

http://site.suamente.com.br/os-canais-pessoais-de-comunicacao/

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18. ANEXOS

ENTREVISTA 1 – Professor A

Professor de matemática, ensino fundamental, leciona há 3 anos.

1. Quais as dificuldades de se trabalhar com imagens com os alunos com deficiência

visual?

É fazer com que os alunos imaginem como é o formato da imagem, do que está se

falando com aproximações, as coisas... Os objetos.

2. Como você faz esse trabalho? Que alternativa você adota/ria?

Pego nos dedos dos alunos e faço com que eles desenhem a imagem no ar

enquanto eu falo sobre elas. Adotaria desenhos em forma de relevos de texturas

diferentes, também construo com material reciclado, emborrachado.

3. Que tipo de informação os professores recebem para trabalhar com áudio-

descrição?

Essas informações não são passadas para os professores em lugar nenhum.

4. Para você em que a áudio-descrição acresce, melhora a educação dos alunos?

Uma inclusão ao convívio social dos alunos portadores de deficiência, mais uma

forma de informar sobre que acontece e não é percebido pelos olhos.

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ENTREVISTA 2 – Professor B

Professor de desenho, leciona há 15 anos.

1. Quais as dificuldades de se trabalhar com imagens com os alunos com deficiência

visual?

O trabalho com imagem trata a emoção pelo olhar. O impacto que ela causa na

primeira impressão. Pode ser uma imagem de alto impacto que cause medo, ou uma

meiga que cause afeto. Tudo isso é difícil ser trabalhado com pessoas com

deficiência visual. Tem que Tentar novas formas de passar essa emoção do mesmo

jeito e impacto do que com o olhar.

2. Como você faz esse trabalho? Que alternativa você adota/ria?

Num primeiro momento, imagino que o trabalho tenha que interagir com as pessoas,

usando os outros sentidos para transmitir a mesma emoção. Ou seja, usar do áudio

com narração específica e até sons que passem essa emoção. Texturas e auto-

relevos, e até, aromas e cheiros, são, também, um ótimo meio para se ter as

mesmas sensações.

3. Que tipo de informação os professores recebem para trabalhar com áudio-

descrição?

Não recebo informação. No Brasil, acho que há muito pouca informação de como se

trabalhar com áudio-descrição. E não só com áudio-descrição, como também, todas

as outras "ferramentas" de inserção dos portadores de necessidades especiais. Isso

passa pela universidade que não trabalha com isso, mas passa pela sociedade que

não cobra e não dá tanta importância como devia.

4. Para você em que a áudio-descrição acresce, melhora a educação dos alunos?

Ela insere uma grande quantidade de pessoas a interagir com o mundo ao seu

redor. Fazê-los participar ativamente de todos os momentos da vida, sejam eles os

de lazer, ou seja, até os de trabalho. Importante é que se sintam incluídos na rotina

da sociedade.

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