monografia geografia ufpe 2010

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Monografia em Geografia UFPE 2010 - Fatores de localização.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE CINCIAS GEOGRFICAS

DSON JOS PIUCOLocalizao das Agncias

da Previdncia Social (APS) e sua rea de influncia:

o caso da APS Afogados / Recife Recife

2010DSON JOS PIUCOLocalizao das Agncias

da Previdncia Social (APS) e sua rea de influncia:

o caso da APS Afogados / Recife Monografia apresentada ao Departamento de Cincias Geogrficas da Universidade Federal de Pernambuco, Campus Recife, como requi-sito parcial para a obteno do ttulo de Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Cludio J. M. de CastilhoAprovada em 15/07/ 2010.

BANCA EXAMINADORA_____________________________________________________

Prof. Dr. Cludio Jorge Moura de Castilho Orientador UFPE

_____________________________________________________

Profa. Dra. Sonia Maria de Lira Examinadora UFPE__________________________________________________

Profa. Ms. Signe Dayse Castro de Melo e Silva Examinadora Externa UFPB

Ao meu Pai, Jos Piuco (in memoriam) que partiu para transcender novos territrios, exatamente no semestre em que conclua o entendimento dos meus.AGRADECIMENTOS

Agradeo primeiramente a DEUS, nosso Pai maior, por mais esta jornada em minha vida.

Aos meus pais Jos Piuco e Gema Maria Donatti Piuco (in memoriam) que me ensinaram com amor, carinho, e simplicidade, sempre andare avanti, independente dos obstculos que a vida nos apresente.

s minhas irms Emerenciana e Elisabete Piuco, apesar da distncia que nos separa, sempre esto torcendo pelo meu sucesso e felicidade.

minha esposa Ana Paula e minha filha Alice Piuco, pelo carinho, amor e compreenso desta jornada.

Ao Prof. Dr. Cludio Jorge Moura de Castilho por ter sempre acreditado em minhas inquietudes geogrficas e orientado esta pesquisa, realizando enormes contribuies para o seu desenvolvimento (Grazie di tutto).

Ao Prof. Dr. Nilson Cortez Crcia de Barros pelos dilogos sobre os diversos assuntos que abordam a Geografia e a Previdncia Social (Grazie di tutto).

Aos Professores do curso de Bacharelado em Geografia que foram fundamentais na minha formao profissional e no desenvolvimento desta pesquisa. Em especial a Mestra Prof. Thais de Lourdes Correia de Andrade pela leitura de meus primeiros escritos sobre o tema.

Aos colegas do curso de Bacharelado em Geografia, Turma 2007.1, pelo apoio e torcida pela realizao deste trabalho. Em especial aos colegas Caio Barbosa, ngelo Gamba e Thiago Adriano, companheiros de muitas reflexes.

Aos colegas da Previdncia Social Gerncia Recife/Pernambuco pelo apoio e discusses sobre o tema, na busca dos dados quantitativos e na formulao dos questionrios aplicados na Instituio e aos usurios da APS Afogados. Em especial as minhas Gestoras do SST Servio de Sade ao Trabalhador/GEXREC, Dra. Ladjane Wolmer e Dra. Ena Albuquerque que sempre me apoiaram no decorrer deste curso, e, fundamentalmente, na produo deste trabalho monogrfico. Meus agradecimentos tambm a Justina Bastos, Gestora do Servio de Reabilitao Profissional/GEXREC, pelo valoroso auxlio bibliogrfico e inmeros dilogos sobre o tema desta pesquisa, discusses valiosas que ajudaram na compreenso do papel da Previdncia Social na promoo da incluso social e na construo da cidadania. Agradeo a todos os colegas da APS Afogados, em especial ao colega Wladimi Xavier pelo apoio e auxlio no desenvolvimento desta pesquisa.

O nico homem que est isento de erros aquele que no arrisca acertar.

Albert Einstein

O Cidado o indivduo num lugar. A Repblica somente ser realmente democrtica quando considerar todos os cidados como iguais, independentemente do lugar onde estejam.

Milton SantosRESUMOPartindo do histrico do Servio de Previdncia Social, eminentemente pblico, ampliado com dados quantitativos de atendimento e entrevistas locais de seus usurios, este estudo buscou evidenciar a importncia que conceitos como funo do espao geogrfico, teoria das centralidades e fatores de localizao, refletem diretamente na compreenso da atuao e dinmica das Agncias da Previdncia Social no espao geogrfico brasileiro. Disposta em um bairro dotado de elevados fluxos de transportes e pessoas, a APS Afogados destaca-se em relao s demais agncias da Previdncia Social GEXREC pelo nmero de atendimentos e concesses de benefcios previdencirios. Com isso, os fatores de localizao, atrelados a mais de 50 anos de atividade no bairro, fazem da APS Afogados um importante Fixo para o Servio Pblico Previdencirio em sua misso de distribuio de renda, o que pode constituir uma forma de promoo da incluso social e, por sua vez, na construo da cidadania. Com isso, demonstra-se atravs de uma reflexo terica, analtica e quantitativa, uma forma de compreenso geogrfica do processo de atuao da Agncia da Previdncia Social (APS) localizada no bairro de Afogados Recife Pernambuco.

Palavras-chaves: Servio Pblico, Previdncia Social, Bairro de Afogados, Recife, Fatores de Localizao.

ABSTRACTBased on the history of the Department of Social Welfare, highly public, augmented with quantitative data and interviews local service to its users, this study sought to highlight the importance of concepts as a function of geographical space, the theory of local points and location factors, reflect directly on understanding of the role and dynamics of the Social Security offices in the geographic area of Brazil. Prepared in a neighborhood equipped with high flows and transport people, APS Afogados stands out compared to the other agency of Social Security - GEXREC by the number of calls and grants of welfare benefits. Thus, the factors of location, linked to more than 50 years of activity in the neighborhood, make an important APS Afogados Fixed for the Public Service Pension in their mission to income distribution, which may be a way of promoting social inclusion and, in turn, the construction of citizenship. Thus, it is demonstrated through a theoretical, analytical and quantitative form of a geographical understanding of the process of work of the Social Security Agency (APS) located in the neighborhood of Afogados - Recife - Pernambuco.

Keywords: Public Service, Social Security, district of Afogados, Recife, Location Factors.

LISTA DE FIGURASFigura 1 Modelo de centralidade (Walter Christaller) 15

Figura 2 Distribuio das regionais da Previdncia Social 26

Figura 3 Gerncias Executivas e abrangncias municipais em Pernambuco 28

Figura 4 Distribuio das APS no municpio de Recife 30

Figura 5 Balco de atendimento APS Afogados 31

Figura 6 Mapa locacional da RPA 5 no municpio de Recife

(destaque bairro de Afogados) 36

Figura 7 Vista da APS Afogados pelo acesso da Feira Local 37

Figura 8 Vista superior da APS, ao fundo, Feira Livre de Afogados 37

Figura 9 Destaque da malha viria existente no Bairro de Afogados 38

Figura 10 Complexo de transportes (destaque) no Bairro de Afogados 39

Figura 11 Acesso principal da Feira Livre de Afogados 40

Figura 12 Acesso secundrio da Feira (Metr Estao Afogados) 40

Figura 13 Painel do Sistema SEI da RMR 69

LISTA DE MAPAS TEMTICOSMapa 1 Fluxos dos benefcios concedidos pela APS Afogados em 2009 47

Mapa 2 Populao residente total no ano de 2000 (IBGE) 49

Mapa 3 Renda mdia dos responsveis pelo domiclio em 2000 (IBGE) 50

Mapa 4 Totais de benefcios concedidos em 2009 (INSS/2010) 51

Mapa 5 Totais de benefcios assistenciais concedidos em 2009 (INSS/2010) 52LISTA DE GRFICOS Grfico 1 - Percentual de pessoas com menos de salrio mnimo de renda domiciliar per capita, Considerando e desconsiderando a renda previdenciria Linha de Pobreza = salrio mnimo de setembro de 2008 (INPC) 1992 a 2008 33

Grfico 2 - Percentual de pessoas com menos de salrio mnimo de renda domiciliar per capita no Brasil por idade, considerando e desconsiderando a renda previdenciria 2008 34

Grfico 3 - Total de benefcios requeridos (contributivos e assistenciais) nos anos de 2005 a 2009 nas 15 principais Agncias da GEXREC 45

Grfico 4 - Total de benefcios assistenciais requeridos nos anos de 2005 a 2009 nas 15 principais Agncias da GEXREC 45

Grfico 5 - Total de benefcios requeridos/concedidos pela APS Afogados em 2009 46

Grfico 6 - Distribuio de benefcios concedidos pela APS Afogados para os municpios com maior acesso a esta Agncia no ano de 2009 47

Grfico 7 - Respostas relativas questo 2 do questionrio. 56

Grfico 8 - Respostas relativas questo 3 do questionrio. 56

Grfico 9 - Respostas relativas questo 4 do questionrio. 57

Grfico 10 - Respostas relativas questo 5 do questionrio. 57

Grfico 11 - Respostas relativas questo 6 do questionrio. 58

Grfico 12 - Respostas relativas questo 7 do questionrio. 58

Grfico 13 - Respostas relativas s questes 8 e 9 do questionrio. 59

Grfico 14 - Respostas relativas questo 10 do questionrio. 59

LISTA DE BOXESBox 1 Principais unidades responsveis pelo atendimento do INSS 23

Box 2 Principais benefcios/servios prestados pela Instituio 24LISTA DE QUADROSQuadro 1 Gerncias em Pernambuco e municpios que possuem postos de atendimento 27

Quadro 2 Gerncia Executiva Recife e suas respectivas agncias de atendimento - APS 29

Quadro 3 Formulrio de pesquisa aplicado na APS Afogados 68LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLASAPS Agncia da Previdncia SocialCONDEPE/FIDEM Agncia Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco CSURB Companhia de Servios Urbanos do RecifeDIRAT Diretoria de AtendimentoDOU Dirio Oficial da UnioGEXREC Gerncia Executiva RecifeIBGE Instituto de Geografia e EstatsticaINSS Instituto Nacional do Seguro SocialRMR Regio Metropolitana do RecifeSEI Sistema Estrutural IntegradoSST Servio de Sade do Trabalhador

SUMRIO

1 INTRODUO 12

2 FATORES DE LOCALIZAO DAS ATIVIDADES 13

2.1 Geografia, Espao e Atividades Tercirias 17

2.2 Geografia dos Servios: caractersticas do servio pblico 19

3 PREVIDNCIA SOCIAL: MISSO, DINMICA E ABRANGNCIA 21

3.1 Previdncia Social: caractersticas regionais de atuao 25

3.2 Gerncia Recife Pernambuco: abrangncia administrativa 29

3.3 Previdncia Social: trabalhando a incluso social, construindo cidadania 30

4 APS AFOGADOS: ATUAO LOCAL, INFLUNCIA REGIONAL 35

4.1 APS Afogados: localizao e rea de influncia 36

4.2 Anlise dos dados histricos e quantitativos da APS Afogados 41

4.3 Aplicao e anlise do Questionrio Diagnstico 55

4.4 Servio Pblico Previdencirio: construindo o espao do cidado 60

5 CONSIDERAES FINAIS 64

REFERNCIAS 65

APNDICE 68

ANEXOS 69

1 - INTRODUOAtravs de um ordenamento metodolgico analtico-dialtico, este estudo buscou nas diversas correntes tericas que se debruaram sobre os fatores de localizao e centralidade de atividades tercirias, compreender o fluxo, abrangncia territorial e dinmica da Agncia da Previdncia Social (APS) localizada no bairro de Afogados Recife Pernambuco.Consideramos como hiptese central os fatores de localizao como explicao para o elevado quantitativo de atendimentos gerados na APS Afogados no perodo de 2005 a 2009, em relao s demais Agncias da Previdncia Social pertencentes Gerncia Recife (GEXREC).

A motivao realizao desta pesquisa originou-se atravs da atuao do autor como funcionrio do INSS Gerncia Recife. Desse modo, no desempenho da funo de Gestor do Sistema de Administrao de Benefcios por Incapacidade (SABI), a APS Afogados foi eleita em 2006 como a primeira APS a ter expandido tal Sistema Informatizado. Neste ano foi possvel vivenciar uma experincia mpar atravs da dinmica previdenciria local, assimilando os diversos fluxos de seus servios previdencirios e de usurios, provenientes das mais variadas localidades situadas no seu entorno.

Primordialmente, foram analisadas as teorias que versam sobre os fatores de localizao e centralidades usadas pela Geografia, especificamente ligadas Geografia dos Servios. Alm destes conceitos, este estudo aborda tambm as suas relaes com questes relativas proteo e incluso social, bem como o papel desta instituio na construo do espao do cidado, desafios estes que se refletem no territrio brasileiro atravs da atuao do servio pblico pesquisado.

Destacou-se, tambm, a forma como as unidades administrativas da Previdncia Social esto dispostas no territrio brasileiro a fim de compreender o modelo de distribuio espacial adotado pela instituio em tela. Embasaremos a pesquisa com recentes contribuies para a Geografia dos Servios, analisando a questo ora resslatada por meio de mecanismos quantitativos e cartogrficos a fim de explicar a atuao da Agncia da Previdncia Social Afogados na sua rea de influncia.

Por fim, concatenando as informaes tericas com dados quantitativos e cartogrficos, resultados da aplicao de questionrio e de entrevista e informaes obtidas in situ na referida instituio, apresentou-se uma oportunidade para a reflexo da importncia e dinmica deste Servio Pblico Federal sobre o territrio que transborda a Regio Metropolitana do Recife RMR.2 - FATORES DE LOCALIZAO DAS ATIVIDADES Resgatando os estudos sobre os Fatores de Localizao iniciados no sculo passado, as teorias originais de Alfred Weber (1929) e August Lsch (1954), destacam a teoria da localizao de atividades baseada em uma hiptese central: segundo a qual toda empresa escolhe a localizao que lhe oferea o menor custo com o maior lucro esperado. No entanto, para Weber, o destaque seria o custo de transporte, influindo numa forma de localizao baseada em um tringulo, posicionando neste modelo, a localizao da matria-prima, o centro de consumo e mo-de-obra. Assim, esta teoria define como uma localizao tima, aquela em que h um equilbrio entre a localizao desses trs fatores, minimizando, desta forma, o custo do transporte.

Desta forma, nos estudos da localizao industrial, os custos de transportes e das despesas com mo-de-obra, foram denominados como foras de aglomerao. O fator aglomerativo indica que o ganho para a empresa, em termos de reduo de custos, dado pela sua localizao prxima a outras empresas do mesmo ramo.

Ampliando esta reflexo, encontramos a contribuio de August Lsch a qual, segundo Sousa, clarifica questes como a da relao entre sistemas e demandas, criando a Teoria dos Sistemas das Cidades.

Para August Lsch (1977), nem a minimizao de custos, nem a maximizao de receitas leva localizao tima, o que possvel pela maximizao dos lucros. Lsch concentrou-se nos estudos de sistemas e demanda. O autor criou a teoria sobre sistemas de cidades. Por exemplo, pode se imaginar que inicialmente uma plancie homognea na qual a populao distribui-se igualmente por todo o territrio e ocupa-se do cultivo de um produto agrcola qualquer, para autoconsumo. Vrios outros territrios comeam a produzir sob uma concorrncia perfeita, passando os centros produtores a competir entre si pelo suprimento da maior rea possvel (equilbrio geral). No final do processo, cada centro dever atender a uma regio circular de igual rea (subcentros). A conformao circular das regies no leva exausto total do territrio, razo pela qual no uma soluo estvel, a estabilidade conseguida por uma conformao hexagonal, semelhana de uma colmia. Entretanto, diferentes produtos apresentam diferentes economias de escala e diferentes custos de transporte. Como resultado final chega-se a uma rede de centros (cada qual com sua importncia, de acordo com a sua produo). Na evoluo das teorias da localizao, em Walter Christaller (1933) que encontramos um estudo voltado mais especificamente para os Lugares Centrais. Desta forma, atravs de sua teoria, Christaller a constri definindo que a localizao dos servios e instituies urbanas se d a partir do conceito de centralizao como princpio de ordem. Neste caso, entende-se Lugar Central como sendo o centro urbano (uma cidade, por exemplo) de uma regio, que fornece bens e servios centrais. Os lugares mais importantes, isto , de ordem mais elevada prestam mais e mais variados servios que os lugares de ordem inferior. A rea servida por um lugar central chama-se rea complementar a qual tanto mais extensa quanto mais elevada for a ordem do lugar central respectivo.

Para Christalle, a centralidade de um lugar dada pelo grau de satisfao das necessidades dos residentes, ou, por outras palavras, pela razo entre os servios que o lugar presta e os servios necessrios aos residentes. O modelo assenta-se num certo nmero de pressupostos e hiptese dentre os quais, como destaca Ramos, podemos citar:

a) A populao distribui-se no espao de forma homognea, sendo este espao isotrpico; em consequncia, a ocupao humana processar-se-ia segundo um padro triangular equiltero que garante a existncia de distncias iguais entre os compradores mais prximos;

b) A oferta localiza-se espacialmente num sistema de pontos: os lugares centrais (figura 1);

c) A procura dos bens e servios nesses lugares assegurada pela sua prpria populao e pela da sua regio complementar;

d) Os bens e servios so de ordens de importncia variveis, de acordo com a frequncia com que so necessrios; em princpio, os mais raramente procurados so os de ordem mais elevada;

e) A ordem dos bens e servios oferecidos num centro est associada prpria ordem de importncia (ou centralidade) do centro;

f) Um centro desempenhando funes de ordem superior desempenha tambm as de ordem inferior.

Figura 1 Modelo de centralidade (Walter Christaller). Fonte: Universidade UMINHO (2010) - Disponvel em . Acessado em 18 de jun. 2010.Sendo o foco desta monografia os servios pblicos, destaca-se que estes no possuem como escopo a obteno do lucro. Mas, o atendimento populao que busca os servios previdencirios de fundo contributivo e assistencial, servios estes oferecidos atravs da atuao do Estado na administrao do Servio de Seguridade Pblica Brasileira.

Com base nas teorias locacionais, destacam-se como importantes fatores para a viabilizao dos servios pblicos, a facilidade de acesso a eles, por meio das seguintes variveis: o transporte, a aglomerao e a centralidade.

O fator transporte, na teoria da localizao, sempre se apresentou com varivel principal, uma vez que o desafio na reduo do espao-tempo/custo para a circulao dos insumos e produtos de fundamental importncia para a viabilizao de um empreendimento, seja industrial, comercial ou de servios. Os autores Joo Sics e Marco Crocco destacam este fator como sendo uma varivel decisria na localizao, como segue abaixo:

O fator transporte surgiu na literatura com o trabalho de Weber (1929), tendo como premissa o objetivo de minimizar custos. A firma decidiria onde localizar sua planta industrial tendo em vista os custos envolvidos no transporte do volume de insumo at a fbrica, assim como tomaria sua deciso locacional baseada naqueles custos de transportes relativos entrega do produto final em seu mercado consumidor. No clculo deste custo estariam tambm envolvidos os pesos, tanto do insumo quanto do produto final, e as respectivas distncias. A caracterstica do insumo tambm poderia influenciar a deciso locacional da firma. Supondo que o insumo tenha uma caracterstica ubqua (e apresente custos similares nas diferentes regies), a deciso de localizao tenderia a ser orientada pela localizao do mercado consumidor. Caso o insumo seja localizado (isto , esteja disponvel em apenas uma localizao especfica) e perca significativo peso durante o processo de fabricao, existiria uma tendncia da fbrica em se localizar prximo sua fonte de produo (SICS; CROCCO, 2000, p. 90).No caso dos servios da APS Afogados, este fator de aglomerao, compreendemos, para este trabalho, como um fator de consequncia da concentrao de atividades comerciais localizadas em determinado ponto do territrio, fator este de suma importncia para a escolha da instalao de um servio pblico, devido ao alto fluxo de pessoas que este local passa a ter. Em seu livro Regio e Organizao Espacial, o autor Corra destaca esta idia argumentando que:

H, na realidade, no processo de ajuste entre agentes e atividades, o aparecimento de um mecanismo de natureza econmica que denominado de economias de aglomerao: vrias atividades juntas beneficiam-se mutuamente umas das outras pela escala que criam, ao se utilizarem das mesmas formas espaciais. Neste sentido, podemos afirmar que as economias de aglomerao, na medida em que viabilizam o sucesso das atividades, so economias locacionais para a reproduo. Os fenmenos de concentrao espacial que decorrem deste mecanismo tm a vantagem de minimizar a complexidade da organizao espacial global (CORRA, 2000, p. 32).

Desencadeada pelo fator da aglomerao, o fator centralidade apresenta-se com grande relevncia para a compreenso dos fatores de localizao dos servios considerados neste estudo. Na definio de Corra, temos o seguinte:

Localidade central: expresso criada em 1933 pelo gegrafo alemo Walter Christaller para designar um lugar de venda de produtos industrializados e de prestao de servios educacionais, de sade, bancrios etc. Uma cidade comercial servindo a uma zona rural e a cidades menores (ver Hinterlndia) uma localidade central. A teoria das localidades centrais aborda a organizao espacial desses lugares, organizao que inclui a hierarquia entre eles (CORRA, 2000, p. 47).

Desta forma, atravs deste resgate histrico, o mesmo processo encontrado, tambm, na escola intra-urbana das cidades, onde percebemos que estas trs variveis permanecem inalteradas, sendo tambm consideradas no entendimento dos fatores de localizao dos servios pblicos, objeto do presente estudo. Portanto, a geografia j possui um arcabouo importante no estudo da localizao das atividades humanas.2.1 - Geografia, Espao e Atividades Tercirias

Para compreendermos melhor os servios pblicos atravs de sua distribuio espacial, indispensvel que compreendamos a importncia do conceito de espao como uma base conceitual da geografia. Em seu livro Por uma Geografia Nova, o professor Milton Santos expe este tema, muitas vezes visto como rduo, criticando o fato de que os geogrfos se dedicaram muito mais definio do que geografia do que definio de espao, seu objeto de estudo. Assim, ressaltando a relevncia da segunda definio, disse ele que:

O espao deve ser considerado como um conjunto de relaes realizadas atravs de funes e de formas que se apresentam como testemunho de uma histria escrita por processos do passado e do presente. Isto , o espao se define como um conjunto de formas representativas de relaes sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relaes sociais que esto acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam atravs de processos e funes. O espao , ento, um verdadeiro campo de foras cuja acelerao desigual. Da porque a evoluo espacial no se faz de forma idntica em todos os lugares (SANTOS, 2004, p.153).

Neste conjunto de relaes sociais citado por Santos, uma das mais importantes para o funcionamento de um pas a relao que o Estado desenvolve atravs de seus servios pblicos como regulador das relaes econmicas e sociais que garantem a sua sobrevivncia e a de sua sociedade. Para tornar seus servios pblicos exeqveis, o Estado utiliza de forma soberana o seu territrio para nele distribuir geograficamente suas instalaes, seus processos e funes, uma gama de atividades que visem atender seus objetivos polticos, econmicos e sociais.

Resgatando o conceito de atividade terciria atravs dos servios desenvolvidos na cidade, podemos observar nas ponderaes de Paterson em seu livro Terra, Trabalho e Recursos (1982), uma formulao conceitual em relao classificao destes servios em quatro subdivises principais de atividades, sendo elas: distribuio, finanas, administrao e servio pessoal. Desta forma, enfocando os servios pblicos em causa como servios de administrao, pode-se observar que eles constituem as atividades do governo, desde a escala nacional at a local.

Pelo antes exposto, o servio da previdncia social, constitui uma atividade administrativa, cuja razo de existncia acha-se no objetivo de servir pessoas, buscando, desta forma, fixar-se nos locais de maior concentrao demogrfica no territrio, visando mxima otimizao dos fixos e fluxos existentes em sua rea de abrangncia. Desta forma, a Previdncia Social, assim como qualquer outra atividade terciria, atua pelo uso e distribuio espacial de suas unidades administrativas e de atendimento, fundamentalmente promovendo acesso a polticas sociais do Estado Brasileiro; visando com isto, obter uma maior reduo das desigualdades econmicas e, conseqentemente, sociais, atravs da promoo do acesso a servios previdencirios to bem destacados na Constituio Brasileira de 1988.2.2 - Geografia dos Servios: caractersticas do servio pblicoSendo ainda muito recente o grande interesse pelas pesquisas sobre o tercirio, encontramos atravs de um texto do Professor Castilho, a ideia da importncia dos servios nos nossos dias.

Com efeito, o espao e a importncia que o tercirio e, mais precisamente, os servios vm ocupando nas economias urbanas sob o contexto da globalizao, preenchendo lacunas deixadas pela desindustrializao e, por conseguinte, desempenhando um papel ideolgico como mecanismo menos rgido e mais flexvel de engajamento de indivduos nos momentos de crises cclicas do mercado de trabalho e, por sua vez, elevando as taxas de desemprego como consequncia da reconfigurao dos setores produtivos, tm contribudo para o alargamento deste campo de estudo (CASTILHO, 1998, p. 01).Sendo o servio pblico bastante diferente dos servios prestados por empresas privadas ou por prestadores autnomos, uma vez que est subordinado aos interesses da coletividade, destaca-se a existncia de um interesse maior (coletivo) que se sobrepe ao interesse individual de cada cidado. Assim, o Estado, por critrios jurdicos, tcnicos e econmicos, define e estabelece quais os servios que devero ser pblicos ou de utilidade pblica, bem como em que medida estes servios sero prestados diretamente pela estrutura oficial ou se sero delegados a terceiros. Como nos assevera Figueiredo, atravs de sua obra em Direito Administrativo:

Servio pblico toda atividade material fornecida pelo Estado, ou por quem esteja a agir no exerccio da funo administrativa se houver permisso constitucional e legal para isso, com o fim de implementao de deveres consagrados constitucionalmente relacionados utilidade pblica, que deve ser concretizada, sob regime prevalente de Direito Pblico (FIGUEIREDO, 2003, p. 78-79).Os servios pblicos propriamente ditos so aqueles prestados diretamente comunidade pela Administrao Pblica, depois de definida a sua essencialidade e necessidade. Assim, da competncia do Poder Pblico a prestao da sade pblica, dos servios de educao e dos servios da previdncia social dentre outros.

No que diz respeito ao caso da seguridade social, atribuio de competncia do Estado Brasileiro, como assevera o disposto normativo em nossa Constituio Federal de 1988:Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de aes de iniciativa dos poderes pblicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos sade, previdncia e assistncia social.

Pargrafo nico. Compete ao poder pblico, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: [...] (CF, 1988).Mas, a seguridade social brasileira segue resistindo ainda s investidas constantes do mercado de capitais visando precipuamente ao lucro, e direcionando suas atividades, prioritariamente ao cidado consumidor. Em seu livro O Espao do Cidado, o professor Milton Santos, aborda claramente esta temtica, sempre destacando o papel que os indivduos, enquanto cidados, podem ter na reverso desse processo, fazendo valer seu status de cidado:

O consumo, sem dvida, tem sua prpria fora ideolgica e material. s vezes, porm, contra ele, pode-se erguer a fora do consumidor. Mas, ainda aqui, necessrio que ele seja um verdadeiro cidado para que o exerccio de sua individualidade possa ter eficcia. Onde o indivduo tambm cidado, pode desafiar os mandamentos do mercado, tornando-se um consumidor imperfeito, porque insubmisso a certas regras impostas de fora dele mesmo. Onde no h o cidado, h o consumidor mais-que-perfeito. o nosso caso (SANTOS, 2007, p.56).

Se o Estado Brasileiro continua promovendo a privatizao dos servios pblicos, ele engendra, ao mesmo tempo, o distanciando cada vez mais entre a sociedade brasileira e os seus direitos de usurio-cidado. Destarte, questes como a cobertura previdenciria (regras) que envolvem os grupos sociais brasileiros mais vulnerveis (rural, indgena, deficientes para a vida civil e laboral, etc.) podero estar comprometidas, dificultando a concesso de diversos benefcios previdencirios. Diante deste quadro de privatizao, estaramos brevemente inviabilizando a consolidao da misso que vem sendo construda pela Previdncia Social, ao longo dos seus 87 anos de existncia.3 - PREVIDNCIA SOCIAL: MISSO, DINMICA E ABRANGNCIAEm seu livro Previdncia Social: um direito conquistado (1997), a autora Maria L. L. da Silva aborda a formao da Previdncia Social no Brasil, como originada de vrios movimentos da sociedade brasileira. A gnese da seguridade social acha-se, segundo a autora, no advento do sistema capitalista, na medida em que o sistema gerou uma maior preocupao com a proteo social, fundamentalmente, com a do trabalhador. No caso brasileiro, foram vrios processos de lutas dos trabalhadores e medidas governamentais que consolidaram o sistema previdencirio que conhecemos hoje. A autora indaga, ainda, sobre pessoas que j precisaram, por alguma razo, utilizar os servios e benefcios da Previdncia Social Pblica, reconhece a precariedade do sistema, mas sabe tambm que h momentos na vida de milhes de brasileiros em que esses benefcios so a nica alternativa que pode ser buscada.

No entanto, a previdncia social constitui, de modo geral, no seguro social para a pessoa que contribui. uma instituio pblica que possui como objetivo reconhecer e conceder direitos aos seus segurados. A renda transferida pela previdncia social utilizada para substituir a renda do trabalhador contribuinte, quando ele perde a capacidade de trabalho, seja pela doena, invalidez, idade avanada, morte e desemprego involuntrio, ou mesmo nos casos de maternidade e recluso. Alm deste carter contributivo, a Previdncia Social tambm administra benefcios assistenciais para o idoso e deficiente, abrangidos pela Lei chamada LOAS Lei Orgnica de Assistncia Social, bem como, demais benefcios especiais definidos por leis especficas que busquem resgatar a cidadania de diversos brasileiros acometidos de infortnios e desassistidos pelo Estado Brasileiro, como por exemplo: benefcios para os acometidos de segregao por doenas infectocontagiosas (Hansenase), e para os dependentes de vtimas fatais por contaminao, tal como ocorreu no caso da hemodilise - Caruaru - PE.

Com efeito, a partir da Constituio Cidad, traz em seu artigo 194 a seguinte definio de seguridade social:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de aes de iniciativa dos poderes pblicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos sade, previdncia e assistncia social.

Pargrafo nico. Compete ao poder pblico, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

I - universalidade da cobertura e do atendimento;

II - uniformidade e equivalncia dos benefcios e servios s populaes urbanas e rurais;

III - seletividade e distributividade na prestao dos benefcios e servios;

IV - irredutibilidade do valor dos benefcios;

V - eqidade na forma de participao no custeio;

VI - diversidade da base de financiamento;

VII - carter democrtico e descentralizado da gesto administrativa, com a participao da comunidade, em especial de trabalhadores, empresrios e aposentados.

A previdncia social tem por finalidade principal, assegurar proteo social s pessoas que vivem, residem e trabalham no pas.

O atendimento aos segurados e contribuintes da previdncia social efetuado pelo Ministrio da Previdncia Social e pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS. Esta instituio dispe de uma estrutura de atendimento ao pblico, distribuda por todo territrio nacional composta de unidades fsicas especficas, cujas funes so determinadas de acordo com as atividades que desenvolvem: habilitao, concesso ou manuteno de benefcios, realizao de exames mdico-periciais, atendimento aos inscritos no programa de reabilitao profissional, dentre outras. No caso do servio no estar disponvel em algum municpio, o atendimento prestado pela unidade mais prxima.

A estrutura organizacional do INSS, disciplinada pelo Decreto no 5.870, de 8 de agosto de 2006, contempla Gerncias Regionais, Gerncias-Executivas, Agncias da Previdncia Social, Auditorias e Corregedorias Regionais, Procuradorias Regionais e Seccionais, bem como Agncias de Benefcios por Incapacidade e de Atendimento de Demandas Judiciais. Desta forma, a rede de atendimento ao pblico da previdncia social composta por unidades de atendimento fixas e mveis, sendo as Agncias da Previdncia Social (APS) responsveis pela inscrio do contribuinte, para fins de recolhimento, bem como pelo reconhecimento inicial, manuteno e reviso de direitos ao recebimento de benefcios previdencirios e ampliao do controle social. No Box 1, so descritas as principais unidades responsveis pelo atendimento do INSS.

Box 1 - Principais unidades responsveis pelo atendimento do INSS. Fonte: INSS (2010).

Em Abril de 2010, o INSS dispunha de 100 gerncias executivas e 1.406 Unidades prprias de atendimento em funcionamento no Brasil, sendo destas 60 unidades mveis (PrevBarco e PrevMveis) e 199 unidades de atendimento PrevCidades, para atendimento de seus segurados e dependentes. Foram realizados 44,6 milhes de atendimentos no ano de 2009, o que correspondeu a uma mdia diria de 149.744 atendimentos efetuados.

Os benefcios consistem em prestaes pecunirias pagas pela Previdncia Social aos segurados ou aos seus dependentes de forma a atender a cobertura dos eventos de doena, invalidez, morte e idade avanada; maternidade; salrio-famlia e auxlio-recluso para os dependentes dos segurados de baixa renda e penso por morte do segurado, homem ou mulher, ao cnjuge ou companheiro e dependentes.

J os benefcios de prestao continuada so caracterizados por pagamentos mensais contnuos, at que alguma causa (a morte, por exemplo) provoque sua cessao. Enquadram-se nesta categoria as aposentadorias, penses por morte, auxlios, rendas mensais vitalcias, os salrios-famlia e maternidade etc., totalizando 67 espcies. Dentre os principais benefcios e servios prestados pela Instituio, so destacados: Aposentadoria por idade; Aposentadoria por invalidez; Aposentadoria por tempo de contribuio; Aposentadoria especial; Auxlio-doena; Auxlio-acidente; Auxlio-recluso; Penso por morte; Salrio-maternidade; Salrio-famlia; Benefcio assistencial ao idoso e ao deficiente; Servio de reabilitao profissional e Servio social de orientao ao usurio.

No Box 2, apresentamos todos estes benefcios conceituados institucionalmente:

Box 2 - Principais benefcios/servios prestados pela Instituio. Fonte: INSS (2010).Podemos perceber, pela abrangncia e complexidade dos servios prestados pela Previdncia Social, a sua importncia para acesso e manuteno da renda da populao brasileira. Trata-se de um servio exclusivamente ligado ao mercado de trabalho, ou fundamentalmente, manuteno de sua subsistncia, desde os aspectos funcionais do trabalhador urbano e rural, at o seu restabelecimento laborativo e retorno.

Com isso, evidente que esta atribuio gerida pelo Estado, atravs da administrao dos impostos recolhidos, promove uma melhor condio social de seus cidados e a manuteno do mercado econmico; e isso possibilitando a transferncia de renda ao trabalhador durante a sua incapacidade laborativa, permitindo desta forma, a sua estabilidade financeira e, posteriormente, o seu retorno s atividades produtivas do pas.

Alm das caractersticas de assistncia ao trabalhador/contribuinte, o instituto uma ferramenta importante das aes governamentais federais, que buscam uma poltica de distribuio de renda e amparo aos no contribuintes. Casos como os amparos sociais (LOAS) que visam concesso de benefcios de prestao continuada, apresentam, assim, um importante instrumento de diminuio da pobreza e da desigualdade de renda dos menos favorecidos.3.1 - Previdncia Social: caractersticas regionais de atuao

Retomando a teoria das localidades Centrais de Walter Christaller (1933), a qual em sua hiptese formulada, considerava a centralizao como princpio de ordem, observa-se que o sistema de distribuio das Regionais da Previdncia Social denota esta mesma conceituao.

Ampliando esta anlise, Christaller procurou uma teoria de localizao para que os servios e instituies urbanos pudessem corresponder teoria de localizao da produo agrcola de Johann Heinrich von Thnen (1826) e teoria de localizao industrial de Weber (1909). Dentre os fatores fundamentais, podemos destacar o princpio do trfego ou da circulao (mxima demanda de transporte com menores custos) e o princpio da administrao (estrutura administrativa orientada ao mercado), neste estudo monogrfico, mercado para a previdncia social compreende o universo populacional brasileiro que se enquadra na busca de benefcios e servios prestados por esta instituio.

Desta forma, analisando a distribuio espacial das unidades administrativas da Previdncia Social, observa-se o fenmeno da centralidade com cunho exclusivamente poltico-administrativo. Com base na teoria citada acima de Walter Christaller e na literatura de Geografia Urbana, encontramos este tema abordado tambm no livro ABC do Desenvolvimento Urbano de Marcelo Lopes de Souza, onde em seu captulo terceiro, intitulado Da cidade individual rede urbana, ele refora o seguinte conceito: A centralidade de uma cidade funo de sua capacidade de ofertar bens e servios para outros centros urbanos, estabelecendo assim uma rea de influncia. No entanto, observa-se que a Previdncia Social distribui a sua administrao no territrio nacional sob o aspecto poltico-administrativo, propiciando uma centralidade territorial, e evidenciando a busca de um equilbrio na distncia fsica na rea de abrangncia de cada regional (fig. 2).

Figura 2 Administrao central Braslia contendo 5 regionais: Regio I - So Paulo; Regio II - Rio de Janeiro; Minas Gerais e Esprito Santo; Regio III - Santa Catarina; Paran e Rio Grande do Sul; Regio IV - Bahia; Piau; Cear; Sergipe; Alagoas; Rio Grande do Norte; Paraba e Pernambuco; Regio V - Amazonas; Distrito Federal; Gois; Maranho; Par; Mato Grosso do Sul; Mato Grosso; Acre; Tocantins; Rondnia; Roraima e Amap. Fonte: INSS (2009).

Manuel Correia de Andrade faz uma anlise da questo do territrio no Brasil, retratando o conceito de territrio numa abordagem profundamente poltica e econmica de ocupao do espao. Assim,

O conceito de territrio no deve ser confundido com o de espao ou de lugar, estando muito ligado idia de domnio ou de gesto de uma determinada rea. Deste modo, o territrio est associado idia de poder, de controle, quer se faa referncia ao poder pblico, estatal, quer ao poder das grandes empresas que estendem os seus tentculos por grandes reas territoriais, ignorando as fronteiras polticas (ANDRADE, 1995, p. 19).

O territrio pode ser entendido como controle administrativo, fiscal, jurdico, poltico, econmico, efetivo do espao ou de uma regio. Assim, pode-se compreender a forma como a Previdncia Social organiza a sua administrao no territrio brasileiro, a partir de 5 unidades, com sedes que permitem o deslocamento equnime na regio circunscrita. Como exceo a esta regra, acha-se a Regional V, localizada no Distrito Federal, tendo como objeto principal de localizao na capital federal, mas que tambm atende a regio Norte.

Destacando a Regional IV, com sede em Recife / Pernambuco, esta Regional possui como atribuio a administrao da gesto dos Servios Previdencirios nos estados da Bahia, Piau, Cear, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraba e Pernambuco. Seguindo a hierarquia desta rede, o estado de Pernambuco, inscrito nesta Regional IV, possui em seu territrio, 4 Gerncias Executivas: Petrolina, Garanhuns, Caruaru e Recife (Quadro 1 e Fig.3).

GERNCIAPOSTOS DE ATENDIMENTO APS

RecifeCabo de S. Agostinho, Camaragibe, Goiana, Paulista, Jaboato dos Guararapes, Moreno, Olinda, Recife e So Loureno da Mata.

CaruaruBelo jardim, Bezerros, Carpina, Caruaru, Escada, Gravata, Limoeiro, Nazar da Mata, Ribeiro, So Joaquim do Monte, Surubim, Timbaba e Vitria de Santo Anto.

GaranhunsAfogados da Ingazeira, Arcoverde, Barreiros, Bom Conselho, Canhotinho,

Garanhuns, Palmeirinha, Pesqueira, Palmares e So Jose do Egito.

PetrolinaAraripina, Petrolndia, Petrolina, salgueiro, Ouricuri e Serra Talhada.

Quadro 1 Gerncias em Pernambuco e municpios que possuem postos de atendimento. Fonte: INSS (2009).

Figura 3 Gerncias Executivas e abrangncias municipais em Pernambuco: A) Gerncia Executiva Recife; B) Gerncia Executiva Caruaru; C) Gerncia Executiva Garanhuns e D) Gerncia Executiva Petrolina. Fonte: INSS (2009)Estas quatro Gerncias tm como finalidade, administrar a ao de seus postos de atendimento espalhados pelo estado de Pernambuco concernentes a cada circunscrio territorial, bem como, assegura o controle social, em especial por meio da manuteno dos Conselhos de Previdncia Social. No mbito das procuradorias, elas representam judicial ou extrajudicialmente o INSS e as instituies de que mandatrio ou com as quais mantm convnio.

De imediato, j se observa na figura 3, que a distribuio espacial das Gerncias Executivas e das APS no equitativa. Demonstrando, desta forma, que a escolha intra-estadual para localizao de agncias da previdncia social aponta um carter locacional de cunho poltico-administrativo. Neste caso, os fatores locacionais no apontam o equilbrio territorial como demonstra sua distribuio Regional (figura 2), mas o ponto territorial de maior concentrao populacional e de servios que se apresentam na circunscrio territorial pernambucana. Tal como deve ocorrer em outros estados federados brasileiros. Milton Santos j nos alertava em seus trabalhos, para o fato de considerarmos, ainda, a desigualdade territorial no que tange distribuio de equipamentos pblicos pelo espao brasileiro na sua totalidade.

3.2 - Gerncia Recife Pernambuco: abrangncia administrativa

A Gerncia Recife (GEXREC) est inscrita na Regional IV com sede no municpio do Recife. Inserida na Regio Metropolitana do Recife (RMR), denota-se a importncia desta Gerncia na anlise eminentemente urbana. Sua funo, dentro da hierarquia da Previdncia Social, efetuar a administrao das atividades previdencirias realizadas nos municpios de Cabo de S. Agostinho, Camaragibe, Goiana, Paulista, J. dos Guararapes, Moreno, Olinda, Recife e So Loureno da Mata.

Destaca-se no quadro 2 a distribuio das 15 APS entre os 9 municpios da GEXREC, contendo localizao e densidade populacional IBGE (2000). Na figura 4, observa-se a distri-buio espacial das unidades de atendimento dispostas no municpio do Recife. Contudo, a influncia das Agncias da GEXREC transborda a RMR, atingindo, por exemplo, o municpio de Goiana ao norte, onde se concentra a maior demanda de benefcios rurais desta gerncia.MUNICPIOAGNCIA E LOCALIZAOPOPULAO

IBGE/2000

( hab./km2 )

OlindaR. Pedro de Assis Rocha, 734 - Bairro Novo Olinda

(APS Olinda)8.361

PaulistaPraa Agamenon Magalhes, n. 35 Paulista (APS Paulista)2.790

Cabo de Sto. AgostinhoR. das Florentinas, 88 - Cabo de Sto Agostinho. (APS Cabo)341

CamaragibeAv. Belmiro Correia, 2850 - Timbi Camaragibe (APS Camaragibe)2.340

GoianaR. Luiz Gomes, n. 100 - Centro Goiana (APS Goiana)142

So LourenoR. Frei Caneca, 301 Centro - So Loureno da Mata .

(APS S. L. Mata)342

MorenoPraa N. S. do Rosrio, 611 - Centro J. dos Guararapes (APS Moreno)251

J. dos GuararapesPraa N. S. do Rosrio, 611 - Centro J. dos Guararapes

(APS Jaboato)2.272

RecifeR. Joo Carlos Guimares, 147 Afogados (APS Afogados)9.691

Av. Recife, n. 797 Estncia (APS Areias)12.967

Estrada do Araial, 3515 Casa Amarela (APS Casa Amarela)13.733

Av. Norte 2008 Encruzilhada (APS Encruzilhada)9.076

Av. Mrio Melo, 343 Sto. Amaro (APS Corredor do Bispo)7.396

Av. Mrio Melo 343 - Santo Amaro (APS Mrio Melo)7.396

Av. Herculano Bandeira, 570 - Pina (APS Pina)4.423

Quadro 2 Gerncia Executiva Recife e suas respectivas agncias de atendimento - APS. Fonte: INSS (2010), Atlas do Desenvolvimento no Recife/2005 e IBGE dados Censo 2000.

Figura 4 Distribuio das APS no municpio de Recife Fonte: Google Maps Brasil (2009) Escala: 1:20003.3 - Previdncia Social: trabalhando a incluso social, construindo cidadaniaHoje, aps estes longos 87 anos de existncia, podemos observar que a Previdncia Social muito tem feito para a melhoria do atendimento da populao brasileira, atravs de uma importante distribuio de suas unidades de atendimento pelo seu territrio. Como meta da administrao atual est projetada a instao de 720 agncias distribuidas por diversas cidades brasileiras at o final deste ano. No entanto, sabemos que muito precisa ainda ser feito, como o constante aperfeioamento na gesto humanda da instituio e melhor otimizao de seus equipamentos administrativos, sempre tendo como meta realizar atendimentos cada vez mais eficientes para a populao. Com isso, podemos observar uma relevante evoluo em termos de atendimento e aprimoramento em respeito temporalidade dos processos administrativos e informacionais nas instituies em questo (fig. 5).

Figura 5 Balco de atendimento APS Afogados - Fonte: dson Jos Piuco em 09/06/2010.Como exemplo disto, em meados de 2006, surgiu o canal 135, linha telefnica de acesso gratuito (24h) pela qual qualquer pessoa pode marcar o seu agendamento para obteno de diversos servios previdencirios. Com isso, a Previdncia Social deu um grande passo na soluo das histricas filas que se iniciavam ao pr do sol e perfaziam toda madrugada, dispondo milhares de cidado pelo Brasil, das mais diversas idades, sob condies extremamente desconfortveis, gerando uma situao constrangedora e degradante que manchou a instituio de forma brutal ao longo de sua histria. Quem no associa fila a INSS? Mas esta percepo tem mudado nos ltimos anos. Este breve histrico, remete-nos para as mudanas que Milton Santos aborda em seu livro A Natureza do Espao, com a introduo do meio tcnico-cientfico-informacional:

A revoluo informtica e do controle tornou possvel a realizao da previso de P. Naville (1963, p. 254) quanto mobilidade generalizada (dos homens, da energia, dos usos, dos produtos, no tempo e no espao), uma mobilidade medida, controlada, prevista, que as segura aos centros de deciso um real poder sobre os outros pontos do espao (SANTOS, 1996, p. 120).Atravs desta revoluo apontada por Santos, o uso deste meio tcnico-cientfico-informacional pela Previdncia Social, pela juno das comunicaes com a informtica (telemtica), permitiu um expressivo controle sobre as filas que se acumulavam em suas agncias. Tambm alterando a mobilidade de seus usurios, controlando-a e redistribuindo-a em uma temporalidade melhor administrvel pelo INSS.

Corroborando com esta anlise terico-metodolgica do uso do meio tcnico-cientfico-informacional pela Previdncia Social, abaixo listamos um informativo da ao do Fone 135 realizada no ano de 2009, evidenciando aspectos da teoria acima discutida e apontada por Santos.

A Central 135 recebeu quase 65 milhes de ligaes em 2009, um acrscimo de 11% sobre o total registrado no ano anterior. A mdia mensal de ligaes foi de 5,4 milhes. O usurio, em cerca de 870 mil ligaes mensais (30% da demanda), busca informaes. A solicitao de agendamento de benefcios respondeu por 40% de toda a demanda. A Central 135 funciona 24 horas, durante toda a semana, em todo o Pas, com atendimento humano e eletrnico. Para falar com um atendente, o usurio deve ligar das 8 horas s 23 horas. Telefonar de um aparelho fixo ou pblico de graa. De um celular, o custo de ligao local (PREVIDNCIA SOCIAL, 2010).J no quesito Grandes Nmeros da Previdncia Social apresentados constantemente pelo Instituto Sociedade Brasileira, como inferncias de sua participao na incluso social e distribuio de renda, destaca-se a matria divulgada neste ano pelo Departamento de Comunicao da Previdncia Social:

Quase 82% dos idosos brasileiros mais de 17,2 milhes de pessoas com 60 anos ou mais tm proteo da Previdncia Social. No caso dos homens, a proteo chega a 86,6%, ou seja, 8 milhes de pessoas. Para as mulheres idosas, o percentual de cobertura chega a 77,9%, beneficiando 9,2 milhes de brasileiras. O pagamento de benefcios previdencirios tambm impediu que 22,6 milhes de brasileiros, de todas as faixas etrias, ficassem abaixo da linha da pobreza (renda domiciliar per capita inferior a meio salrio mnimo). Sem esse mecanismo de proteo social, o percentual de pessoas pobres, aos 50 anos, chegaria a 30%. Aos 70 anos de idade, superaria a 60%. De acordo com o estudo do Ministrio da Previdncia Social, se no houvesse pagamento de benefcios previdencirios ou assistenciais, 41,5% da populao 76,3 milhes de pessoas, independentemente da idade, estaria abaixo da linha de pobreza. Com os benefcios, o percentual cai para 29,2%, garantindo melhor renda a 53,7 milhes de brasileiros (PREVIDNCIA SOCIAL, 2010).Como visto pelos informes da Instituio, basta acompanharmos, pelos Anurios da Previdncia Social, a evoluo em nmeros dos benefcios repassados para a sociedade e seu respectivo impacto econmico na vida de milhares de brasileiros. Desta forma, estas anlises reforam a importncia da Previdncia Social na transferncia de renda, e, consequentemente, na reduo da linha de pobreza como podemos ver nos grficos 1 e 2.

Grfico 1 - Percentual de pessoas com menos de salro mnimo de renda domiciliar per capita, considerando e desconsiderando a renda previdenciria Linha de Pobreza = salrio mnimo de setembro de 2008 (INPC) 1992 a 2008. Fonte: PNAD/IBGE (1992 2008). Elaborao: SPS/MPS.

Grfico 2 - Percentual de pessoas com menos de salro mnimo de renda domiciliar per capita no Brasil por idade, considerando e desconsiderando a renda previdenciria 2008. Fonte: PNAD/IBGE (1992 2008). Elaborao: SPS/MPS.Assim, atravs destes demonstrativos, podemos refletir melhor a importncia que a Previdncia Social possui na composio do quadro de transferncia de renda e participao na reduo da linha de pobreza brasileira. No entato, para que este servio possa efetivamente ter uma maior amplitude, necessrio encar-lo como direito bsico de cidadania e servio pblico essencial nos mesmos moldes da educao e da sade, aos quais todos tm direito independentemente de contribuio realizada. Naturalmente, a viabilizao disto pressuporia mudanas na correlao de foras existentes hoje entre os diversos setores sociais com interesse no tema. Cabe populao trabalhadora e queles que ela designar como interlocutores perante o Estado, produzir as condies polticas necessrias para tanto.

4 - APS AFOGADOS: ATUAO LOCAL, INFLUNCIA REGIONAL Observando a abrangncia que os servios da previdncia social possuem hoje, vinculados aos fatores de comunicao e transporte, a APS Afogados destaca-se pela distribuio dos benefcios concedidos que ultrapassam este territrio metropolitano. Sendo assim, verifica-se que se trata de um servio vinculado intimamente aos fluxos existentes na rede urbana da RMR. Observando os dados fornecidos pelo IBGE, a rede urbana de Recife destaca-se como sendo a quarta mais populosa do pas, com 10,3% de seus habitantes. Deste total, 19,5% concentram-se em Recife. Em 2005, a rede detinha 4,7% do PIB nacional, sendo Recife responsvel por 29,0% desta parcela, com um PIB per capita de R$ 8,0 mil, e de R$ 4,7 mil no restante da rede (IBGE, 2000).

Servido por vrias tipologias de transportes, Afogados destaca-se pela conectividade com toda a RMR atravs dos fluxos rodovirios e metrovirios, fazendo com que a atuao da APS Afogados tenha um fluxo privilegiado de pessoas em relao s demais unidades dispostas na RMR. Desta forma, a influncia regional que a APS Afogados promove, alm da distribuio da renda em diversos locais espalhados pela malha metropolitana, revela-se segundo Milton Santos, em um fixo ligado a uma rede urbana diposta como uma matriz em duplo sentido. Neste caso, da mesma forma que concentra (numa perspectiva centrpeta) o acesso da populao metropolitana e extrametropolitana, atua tambm como uma fora de disperso de renda (numa perspectiva centrfuga).

As redes so, pois, ao mesmo tempo, concentradoras e dispersoras, condutoras de foras centrpetas e de foras centrfugas. comum, alis, que a mesma matriz funcione em duplo sentido. Os vetores que asseguram distncia a presena de uma grande empresa so, para esta, centrpetos, e, para muitas atividades preexistentes no lugar de seu impacto, agem como fatores centrfugos (SANTOS, 2006, p. 188).Ainda sobre redes urbanas, Santos fala de trs elementos de base, que constituem, conforme esse autor, a prpria substncia da organizao das redes: as massas, os fluxos e o tempo que vm auxiliar no entendimento deste fixo que a APS Afogados. Sendo as massas caracterizadas pela populao, sua densidade e sua distribuio, estas fazem com que os fluxos, que contm as massas, sejam a expresso da fluidez tanto populacional como informacional. O fator tempo pondera os dois elementos anteriores, explicando os fenmenos de disparidade, principalmente os temporais, como o grau de arcasmo de infraestrutura agrcola, industrial, dos transportes e servios, dependendo da regio.

As melhorias nos transportes e telecomunicaes da RMR nestas ltimas dcadas tm encurtado o tempo e as distncias entre os diversos centros da RMR. O espao geogrfico, desta forma, torna-se virtual para diversas relaes, mas, em nenhum momento, perde sua importncia, pois no deixa de existir. Denota-se, no entanto, que ainda existem necessidades bsicas para o acesso a vrios servios, com destaque para o previdencirio, fazendo com que exista esta hierarquia ativa, cujos pequenos ncleos do hinterland da RMR sejam polarizados, neste caso, em destaque, o bairro de Afogados.4.1 - APS Afogados: localizao e rea de influncia

A Agncia da Previdncia Social (APS) Afogados, segundo a definio administrativa da Prefeitura do Recife, localiza-se na Regio Poltico-administrativo 5 (RPA) (fig. 6). Com edificao prpria, localiza-se na Rua Joo Carlos Guimares, 147 no bairro de Afogados nesta cidade (fig. 7 e 8). Disposta em um terreno cuja rea de 255 m, a edificao composta por 3 pavimentos perfazendo 668 m de rea construda. Estabelecida neste local desde 1960, a unidade se insere no bairro de Afogados que composto por uma populao estimada no ano de 2000 em 36.000 habitantes e uma rea territorial de 349,5 hectares.

Figura 06 Mapa locacional da RPA 5 no municpio de Recife (destaque bairro de Afogados). Fonte: PCR/SEPLAN/DIRBAN/DEIP Prefeitura do Recife (2010).

Figura 7 Vista da APS Afogados pelo acesso da Feira Local. Fonte: dson Jos Piuco em 24/06/2009.

Figura 8 Vista superior da APS, ao fundo, Feira Livre de Afogados. Fonte: dson Jos Piuco em 09/06/2010.

Destacando-se como uma rea detentora de uma extensa rede de fluxos (fig. 9), o bairro de Afogados permite um fcil acesso aos habitantes dos bairros limtrofes, bem como aos demais habitantes da RMR.

Figura 9 Destaque da malha viria existente no bairro de Afogados. Fonte: Google Maps Brasil (2009).Este bairro contm dois pontos de acesso ao fluxo da CBTU Companhia Brasileira de Trens Urbanos (Estao Largo da Paz e Estao Afogados), o que somado ao Terminal de nibus SEI (Sistema Estrutural Integrado) Afogados, e possui tambm diversos pontos de nibus provenientes dos vrios fluxos rodovirios intra-urbanos que englobam em torno de 70% da Cidade do Recife, agregando-se a este sistema virio, fluxos provenientes do Sistema de Integrao Olinda Paulista Jaboato Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho. Alm destes transportes de cunho coletivo, destaca-se tambm, no entorno da Feira de Afogados, 10 pontos de txi, completando, assim, uma relevante rede rodoviria e metroviria (fig. 10).

Figura 10 Complexo de transportes (destaque) no bairro de Afogados: A Estao de Metr Afogados (vista interna); B Vista do Terminal de nibus SEI Afogados; C Vista sada Norte do terminal Metrovirio Afogados; D Vista superior do Terminal de nibus SEI; E Vista ponto de Txi em frente Feira de Afogados e F Ponto de nibus Rua So Miguel (sentido Zona Sul de Recife). Fonte: dson Jos Piuco em 09/06/2010.A localizao desta APS demonstrou, in situ, um elemento fixo de grande valia estratgica para o Servio Pblico Federal, uma vez que possui como fator de fluxo a sua grandiosa capilaridade de acessos, proporcionando uma abrangncia que transborda a RMR. Desta forma, estes fatores locacionais, sumariamente, destacam-se para a promoo dos servios previdencirios para toda a regio.

Alm da vasta gama de acessos aos fluxos do transporte urbano e interurbano a este bairro, elencados anteriormente, destaca-se nas proximidades desta APS a presena da Feira Livre de Afogados (fig. 11). Muito conhecida e tradicional, esta atividade j faz parte do patrimnio local da cidade do Recife como identidade intrnseca do bairro de Afogados. Elemento este que agrega aos fatores de localizao da APS Afogados um grande valor referencial, uma vez que in loco, aps alguns contatos com os feirantes, revelou-se que todos os entrevistados conheciam o endereo desta APS (fig. 12).

Figura 11 Acesso principal da Feira Livre de Afogados, em destaque, ponto de txi. Fonte: dson Jos Piuco em 25/05/2010.

Figura 12 Acesso secundrio da Feira (proveniente do Metro Estao Afogados), ao fundo do corredor, acesso visual APS Afogados. Fonte: dson Jos Piuco em 24/06/2009.

4.2 - Anlise dos dados histricos e quantitativos da APS AfogadosNa busca da ampliao desta pesquisa, bem como na construo da sua metodologia, utilizamos a visita a campo, aproximando-nos da realidade, como um elemento importante para a construo das variveis lanadas em nossa hiptese original. em Santos que lastreamos a importncia desta ferramenta de inferncia e sua contribuio para a construo do conhecimento geogrfico. Todavia, como a percepo da dimenso material dos processos sociais no suficiente para entend-los, procuramos elucidar os seus significados.

A percepo sempre um processo seletivo de apreenso. Se a realidade apenas uma, cada pessoa a v de forma diferenciada; dessa forma, a viso pelo homem das coisas materiais sempre deformada. Nossa tarefa a de ultrapassar a paisagem como aspecto, para chegar ao seu significado. A percepo no ainda o conhecimento, que depende de sua interpretao e esta ser tanto mais vlida quanto mais limitarmos o risco de tomar por verdadeiro o que s aparncia (SANTOS, 1988).

Nesta pesquisa de campo, destacou-se dentre outros comerciantes locais, o Sr. Rostand Costa Filho, comerciante de 54 anos, proprietrio do Box 106, que exerce suas atividades no Mercado Pblico de Afogados desde o incio dos anos 80 do sculo passado. Indagado sobre a sua percepo da Agncia do INSS nesta transio de mais de 30 anos, o Sr. Rostand relatou-nos a intensidade de fluxo que esta Agncia j possua desde a sua implantao. Alm disto, o que se destacou nesta entrevista, foi a percepo deste entrevistado com relao ao fim das filas, isto , apontando para a melhoria no atendimento aos usurios desta Agncia, bem como a sua percepo em relao conexo cognitiva Bairro-APS:

Eu lembro muito bem, h muito tempo (dcada de 80 e 90) uma grande intensificao no acesso a esta Agncia, a fila era enorme, muitas vezes, quase ocupava toda a extenso da rua Joo Carlos Guimares. Muitos chegavam de madrugada trazendo seus bancos e apetrechos para varar a noite na espera do posto abrir. Alm disso, como o Posto muito antigo, as pessoas tm ele na cabea, pois quando se fala em INSS, lembram do bairro aqui de Afogados (informao verbal, 2010).

Alm desta percepo quanto evoluo no uso do espao desta APS, o Sr. Rostand tambm acrescentou dados quantitativos sobre o fluxo do bairro, uma vez que ele mesmo precisou fazer este levantamento para alguns eventos que foram promovidos pela Feira com parceria da Prefeitura Municipal do Recife em tempos pretritos:H alguns anos atrs (2005), eu mesmo fiz alguns levantamentos e constatei que s o Metr, Estao Afogados, tinha por dia uma circulao de aproximadamente 20.000 pessoas, assim foram os dados que o METROREC me forneceu. Alm deste fluxo grande, o bairro tambm possui vrios nibus que vem de todas as reas do Recife, alm de termos mais de dez pontos de taxi s aqui prximos a Feira (informao vebal, 2010).

Atravs desta entrevista e pelo dilogo informal que tivemos com outros feirantes, pudemos observar que estes trabalhadores auxiliam no encaminhamento de transeuntes que no conhecem a localizao efetiva do prdio da APS. Foi da que compreendemos a comunho existente entre os feirantes e seu territrio, identificando com facilidade seus objetos espaciais.

O territrio em que vivemos mais que um simples conjunto de objetos, mediante os quais trabalhamos, circulamos, moramos, mas tambm um dado simblico. A linguagem regional faz parte desse mundo de smbolos, e ajuda a criar essa amlgama, sem o qual no se pode falar de territorialidade. Esta no provm do simples fato de viver num lugar, mas da comunho que com ele mantemos (SANTOS, 2007, p.82).Destarte, foram estas algumas das percepes que se destacaram nas entrevistas, indicando a atitude dos comerciantes, como um forte acessrio que no pode ser negligenciado quanto ao bom xito dos fatores locacionais da APS Afogados.

O que chamou a nossa ateno, nesta pesquisa, foi exatamente a grande quantidade de usurios e suas diversas origens inclusive at de fora da RMR. Para fazer esta anlise atravs de uma pesquisa realizada na Gerncia Recife, entrevistamos uma das primeiras pessoas a chefiar a implantao da APS no bairro de Afogados.

A funcionria Sr Graa Lima, hoje lotada na Procuradoria Federal, pde nos revelar atravs de uma breve entrevista, que esta APS, j nos idos dos anos 60/70, logo aps a sua implantao, j se destacava como sendo uma APS de grande circulao de pessoas proveniente dos mais diversos bairros do Recife e, atpe mesmo, dos municpios circunvizinhos. Isto nos remete existncia j naquela poca da importncia locacional da Feira Local e o acesso Estao de Trem (antes da implantao do atual Metr), proporcionando fatores locacionais que destacavam o acesso ao Servio Pblico Federal Previdencirio. Passado quase meio sculo da implantao desta APS, atualmente constatamos as mesmas caractersticas locacionais, obviamente, dinamizadas e amplificadas pelas aes governamentais de reestruturao do bairro como a reforma da Feira Livre, a implantao das Estaes de Metr e os diversos pontos de nibus que hoje interligam a RMR.

Resgatando os dados histricos, encontramos no site da Prefeitura do Recife, na seo destinada ao Histrico dos Mercados (CSURB) encontra-se o seguinte apontamento:

O Centro de abastecimento de Afogados um complexo formado por quatro unidades com finalidades distintas: o mercado maior vende carne fresca e de sol, aves, queijos e laticnios, cereais, vasilhames, calados, roupas e dispe de 95 bares na rea externa; o mercado de peixes, no Anexo I vende cerca de uma tonelada de peixes e crustceos por semana; o Ptio da Feira comercializa frutas, verduras e legumes e outros alimentos; e o Centro de Servios, que rene, basicamente, bares e lanchonetes populares. So 508 boxes s no mercado principal.

No terreno onde foi construdo o Centro de Abastecimento funcionava um ptio de feira para comrcio atacadista de frutas. A inaugurao deu-se em 6 de dezembro de 1983. Joaquim Francisco era o prefeito. Em 10 de janeiro de 1994, inaugurou-se o Anexo I. Abrigou os locatrios do velho Mercado de Afogados, demolido para a construo do Ptio da Feira, que seria inaugurado em 31 de maro daquele mesmo ano pelo ento prefeito Jarbas Vasconcelos. Em junho de 2001, a gesto Joo Paulo inicia ampla reforma em todo o complexo comercial, a primeira desde a sua inaugurao.

Para construir o Ptio da Feira, a prefeitura desapropriou as reas laterais e ao fundo para que pudesse comportar todos os feirantes que ali exerciam suas atividades. O ptio tem uma rea total de 4.294,18 metros quadrados. totalmente cercado por gradil metlico. dotado de sanitrios, iluminao com lmpadas a vapor de sdio e local para lavagem de frutas e verduras.O velho Mercado de Afogados funcionava desde 04 de novembro de 1934. Fora construdo na gesto Pereira Borges [...] O investimento inclui desapropriao do terreno e obras, incluindo o aterramento de parte do local, imperativo devido proximidade da mar (grifos nossos).Pesquisas de 1981, da ento Secretaria Municipal de Abastecimento, revelam que no local onde fora construdo o mercado funcionava um viveiro de peixes. Atrs do viveiro, havia um corredor de casas, ligadas por pontes (grifo nosso).

Por fim, como bem aduz o tema acima exposto, neste breve resgate histrico e quantitativo dos fatores de localizao da APS Afogados, o professor Milton Santos em sua obra Pensando o Espao do Homem, auxilia-nos para a compreenso desta imagem pretrita que ainda se reflete em nossos dias (fig. 13):

A paisagem nada tem de fixo, de imvel. Cada vez que a sociedade passa por um processo de mudana, a economia, as relaes sociais e polticas tambm mudam, em ritmos e intensidades variados. A mesma coisa acontece em relao ao espao e paisagem que se transforma para se adaptar s novas necessidades da sociedade (SANTOS, 2004).

Mas a permanncia deste grande equipamento comercial na rea no foi o nico fator que alimentou o seu potencial de centralidade. Aliando a este fator acha-se o da evoluo do acesso metrovirio do bairro de Afogados disponvel no site da CBTU, como assim segue:

Ao tomar a deciso de implantar o Metr do Recife, o Governo Federal, atravs do Ministrio dos Transportes criou, em setembro de 1982, o consrcio Metrorec, constitudo pela Rede Ferroviria Federal S/A e pela Empresa Brasileira de Transportes Urbanos, hoje extinta. Esse consrcio deu incio construo do Metr, em janeiro de 1983.

Em fevereiro de 1984 foi criada a Companhia Brasileira de Trens Urbanos - CBTU que teve integrada, em janeiro de 1985, a Superintendncia de Trens Urbanos do Recife - STU/ REC, o METROREC.Em maro de 1985 comearam a circular os primeiros trens com passageiros. A partir de ento, o METROREC passou por vrias fases administrativas. A mais significativa ocorreu em janeiro de 1988, quando a CBTU, atravs da Superintendncia do Recife, absorveu os trens de subrbio da RFFSA (grifo nosso).

Em 1998 foram iniciadas as obras de expanso do Metr do Recife, compreendendo o prolongamento da Linha Centro, a partir da Estao Rodoviria at Camaragibe (trecho inaugurado em dezembro de 2002) e a eletrificao de 14,3 km da Linha Sul, entre as Estaes Recife e Cajueiro Seco, com as estaes Largo da Paz e Imbiribeira operando desde fevereiro de 2005, as estaes Antnio Falco e Shopping inauguradas em maro de 2008, a Estao Tancredo Neves em novembro de 2008 e o trecho Aeroporto/Cajueiro Seco, entregue populao em 23 de maro de 2009 (grifo nosso).

Possuindo uma mdia de atendimento dirio de mais de 350 pessoas, destaca-se a APS Afogados, dentre as 15 Agncias de Atendimento dispostas na circunscrio da Gerncia Recife GEXREC. Outro dado importante pesquisado, foi a dos lugares de origem das pessoas que acessam a APS, pelo que se destaca a abrangncia da sua rea de influncia: os 94 bairros do municpio do Recife e municpios da RMR, destacando: Jaboato dos Guararapes, Moreno, Olinda, Camaragibe, Paulista, Cabo de Santo Agostinho e Olinda.

Atravs de um recorte temporal de 2005 a 2009, perodo exatamente em que ocorre a implantao do Fone 135 (2006), denota-se a continuidade na alta frequncia de usurios a esta Agncia, como podemos observar nos grficos 3 e 4.

Grfico 3 Total de benefcios requeridos (contributivos e assistenciais) nos anos de 2005 a 2009 nas 15 principais agncias da GEXREC. Fonte: SUIBE/INSS (2010).

Grfico 4 Total de benefcios assistenciais requeridos nos anos de 2005 a 2009 nas 15 principais agncias da GEXREC. Fonte: SUIBE/INSS (2010).Para a construo de uma espacialidade dos benefcios requeridos e concedidos pela APS Afogados, realizamos, no ano de 2009, um levantamento estatstico com 6.965 benefcios concedidos (contributivos e assistenciais), o que foi apresentado na forma grfica e cartogrfica, ilustrando de forma espacializada, a rea de atuao da APS Afogados. Isto quanto ao recebimento dos fluxos de usurios (ao centrpeta) e na distribuio de renda temporria ou permanente (ao centrfuga) aos diversos territrios que ultrapassam a RMR.

Podemos verificar, atravs da proporo de benefcios requeridos e concedidos no ano de 2009, a existncia de um diferencial de aproximadamente 50%. Com isso, esta baixa porcentagem de concesses de benefcios requeridos demonstra um substantivo dficit concessrio, remetendo-nos ao tema j abordado na p. 39 desta monografia, a uma necessria reformulao das polticas pblicas. Estas devem promover, de forma mais celere e eficaz, a incluso de uma substancial parcela da populao que se encontra fora do mercado de trabalho. Desta forma, sem renda, esta parte da populao se distancia cada vez mais da obteno dos benefcios previdencirios, aumentando significantemente a disparidades que o grfico 5 demonstra.

Grfico 5 Total de benefcios requeridos/concedidos pela APS Afogados/2009. Fonte: SUIBE/INSS (2010).

Tratando-se da distribuio espacial destes benefcios concedidos no ano de 2009, podemos observar a sua grande concentrao (71,7%) proveniente do municpio do Recife (grfico 6 e mapa 1). Isto nos remete a comprovar a intensificao deste acesso promovido principalmente pela malha rodoviria intra-urbana. No entanto, devido proximidade territorial com o municpio do Jaboato dos Guararapes, este apresenta uma participao de 20,8% dos benefcios concedidos pela APS Afogados. Desta forma, este indicador nos remete anlise do fator de acesso metrovirio que promove a integrao da RMR, bem como existncia de apenas uma APS localizada em seu centro (Jaboato Velho), fatores estes que fazem com que o usurio limtrofe busque acessar de forma mais rpida e cmoda os servios da APS Afogados. Este ltimo fator tambm se repete para os municpios do Cabo de Santo Agostinho (2,1%), Olinda (0,8%), Camaragibe (0,6%), Paulista (0,5%) e demais localidades (3,5%).

Grfico 6 Distribuio de benefcios concedidos pela APS Afogados para os municpios com maior acesso a esta agncia no ano de 2009. Fonte: SUIBE/INSS (2010).

Mapa 1 Fluxos dos benefcios concedidos pela APS Afogados em 2009. Fonte: SUIBE/INSS (2010).Atravs do uso da Cartografia Temtica, fez-se uma anlise da distribuio espacial dos dados elencados anteriormente, o que nos permite fazer uma sobreposio de variveis que busquem auxiliar na anlise desta distribuio/influncia territorial quanto concesso de benefcios previdencirios e distribuio de renda.

Podemos observar nos Mapas 2 a 5, a seguinte disposio: Mapa 2 Dispe a distribuio, no municpio do Recife, da Populao Residente Total no ano de 2000 (IBGE); Mapa 3 Dispe a distribuio da Renda Mdia dos Responsveis pelo domiclio em 2000 (IBGE); Mapa 4 Dispe a distribuio dos totais de Benefcios Concedidos em 2009 (INSS/2010); Mapa 5 Dispe a distribuio dos totais de Benefcios Assistenciais Concedidos em 2009 (INSS, 2010).

Atravs desta disposio cartogrfica, observam-se algumas aes centrpetas ou centrfugas que as vias de acesso promovem (Anexo A), bem como as transferncias de renda temporria ou permanente.

Alm desta dinmica, os mapas tambm permitem confrontar as peculiaridades de cada territrio, receptculo destas transferncias, confrontando-as com indicadores como populao e renda mdia (IBGE, 2000).

Mapa 2 Populao residente total no ano de 2000 (IBGE). Fonte: Atlas Municipal do Recife (2005).

Mapa 3 Renda mdia dos responsveis pelo domiclio em 2000 (IBGE).

Fonte: Atlas Municipal do Recife (2005).

Mapa 4 Total de benefcios concedidos em 2009. Fonte: SUIBE/INSS (2010).

Mapa 5 Total de benefcios assistenciais concedidos em 2009. Fonte: SUIBE/INSS (2010).

Analisando de modo mais profundo os quatro mapas anteriormente apresentados, auxiliando-nos do mtodo de sobreposio cartogrfica, podemos destacar o fluxo de pessoas que se deslocam para a APS Afogados, confrontando desta forma, os fatores locacionais relativos a esta unidade.

Atravs da sobreposio desta questo com a do adensamento populacional e com a distribuio da renda mdia dos habitantes (mapas 2 e 3), observa-se nesta confrontao, uma regio composta por reas populosas e de baixa renda. Partindo do lado oeste do municpio do Recife, atravs do bairro do Curado, seguindo para o extremo sul e atingindo o bairro do Jordo, encontramos como destaque, os bairros: Ibura, COHAB, Barro, Areias, Jardim So Paulo, Imbiribeira, Afogados, Torres, Cordeiro, Iputinga e Vrzea.

Relacionando o adensamento territorial com o quadro da malha viria disposta atravs do eixo metrovirio e das ramificaes rodovirias existentes, verificamos a existncia de um intenso fluxo populacional disponvel para o acesso referida unidade previdenciria.

Observando o Painel do Sistema SEI da RMR (Anexo), percebemos ainda, a importncia da integrao dos terminais do Barro, Afogados e Joana Bezerra, que demonstram, atravs de sua abrangncia, a formao de um fluxo dinmico e centralizador.

Confrontando o adensamento populacional com o das populaes de baixa renda, associado ao item malha viria disposta, tambm se consegue fazer associaes interessantes no que diz respeito relao entre os habitantes moradores e os servios previdencirios buscados por eles na APS Afogados.

Com destaque para esta cartografia, o bairro do Ibura desponta como o maior beneficirio da unidade previdenciria em causa, seguindos dos bairros COHAB, Imbiribeira e Afogados (mapas 4 e 5). Desta forma, atravs do uso da cartografia como forma de distino dos fenmenos existentes e distribudos no espao geogrfico, confrotamos a origem dos usurios da APS Afogados, atravs do adensamento populacional, condio de renda e acessibilidade em termos de transporte, dispostos na malha viria do municpio do Recife.

Destarte, percebemos a existncia de um agrupamento territorial que demonstra em estudos j realizados o diagnstico destas reas mais carentes da cidade do Recife. Com isso, visualizamos o importante papel da APS Afogados na busca da reduo destas disparidades econmicas e sociais atravs da distribuio de renda inerente a estes territrios.

A pobreza est diretamente relacionada s carncias sociais, sendo causa e efeito ao mesmo tempo. Assim, assume-se e comprova-se que as reas mais pobres da cidade em termos de renda so, tambm, as mais carentes, apresentando maiores demandas por equipamentos e servios sociais, bem como por infra-estruturas urbanas.As reas que vm apresentando crescimento populacional mais acentuado destacam-se por concentrar, fortemente, famlias cujos responsveis, em sua maioria, no tm renda ou recebem at dois salrios mnimos. Salientam-se a Comunidade do Pilar, Guabiraba e partes da Vrzea, COHAB e Caote, com mais de 75% dos chefes de famlia nessa situao (CASTILHO, C. J. M.; OLIVEIRA, D. V. F, 2007, p. 80, grifo nosso).

Diante do exposto, vlido salientar que o estudo dos fatores de localizao da APS Afogados no pode apenas ficar centrado nestas variveis cartografadas de renda, adensamento populacional, malha viria e distribuio dos benefcios concedidos. Para aprofundarmos esta anlise locacional, no o bastante considerar somente o locus da ao deste servio, mas sim encontrar no movimento histrico do lugar da APS, sua relao social com seus usurios em totalidade. na busca da totalidade deste espao que podemos compreender a relao dos fatores locacionais com o servio previdencirio ali prestado, tal como Santos aponta em seus escritos:

O gegrafo torna-se um empiricista, e est condenado a errar em suas anlises, se somente considera o lugar, como se ele tudo explicasse por si mesmo, e no a histria das relaes, dos objetos sobre os quais se do as aes humanas, j que objetos e relaes mantm ligaes dialticas, onde o objeto acolhe as relaes sociais, e estas impactam os objetos. O gegrafo seria funcionalista se levasse em conta apenas a funo; e estruturalista se apenas indicasse as estruturas, sem reconhecer o seu movimento histrico ou a relao social sem o conhecimento do que a produziu. Impe-se, na anlise, apreender objetos e relaes como um todo, e s assim estaremos perto de ser holistas, isto , gente preocupada com a totalidade (SANTOS, 1988, p. 20).

Para um maior aprofundamento das anlises locacionais cartografadas, destacamos a importncia que a pesquisa de campo possui como ferramenta adensadora desta anlise locacional. Atravs da percepo dos usurios no espao, a aplicao de entrevistas e questionrios auxiliou a obteno de maiores esclarecimentos dos fatores locacionais da APS Afogados.4.3 - Aplicao e anlise do Questionrio Diagnstico

O uso deste instrumento de pesquisa teve como objetivo analisar e averiguar a percepo dos usurios dos servios previdencirios prestados pela APS Afogados. A aplicao do questionrio foi feita localmente no interior da APS, entre os dias 10 e 19 de maio de 2010. Foram entrevistados, de forma aleatria, 78 usurios, sendo como critrio de seleo a disponibilidade para participar da pesquisa.

Este questionrio (Apndice) aplicado aos diversos usurios durante estes dias de entrevista, objetivou, respectivamente: saber qual a rea de origem (cidade, bairro) dos usurios dos servios em causa, buscando inferir in loco a abrangncia regional dos servios desta APS (pergunta 1); investigar os motivos que levaram o usurio a escolher/acessar esta APS (pergunta 2); analisar o uso do meio de comunicao que o usurio utilizou para ser atendido nesta APS (pergunta 3); identificar o tipo de transporte que o usurio utilizou para se deslocar at a APS (pergunta 4); estimar a percepo de tempo do usurio neste deslocamento (pergunta 5); inferir o custo que o usurio se dispe a gastar para acessar os servios a APS (pergunta 6); avaliar a percepo espacial do usurio em relao ao objeto em estudo (APS) (pergunta 7); compreender o grau de satisfao ao usar a estrutura fsica e humana a APS (perguntas 8 e 9) e, por fim, inferir o conceito de cidadania atravs da percepo do uso e o acesso a uma unidade de servio pblico (pergunta 10).

Neste tpico so analisadas as respostas dos usurios selecionados, os quais adotaram o livre arbtrio para opinar em face do questionrio a eles apresentado.

Na questo 1, a pesquisa identificou a origem dos usurios provenientes de vrias localidades, destacando os bairros do municpio de Recife (Jardim So Paulo, Tejipi, Areias, So Martin, Joana Bezerra, Cordeiro, Ibura, UR3, Areias, Coqueiral, Mangueira, Barro, Afogados, Imbiribeira, Torre, Mustardinha, Cidade Universitria, Jequi, Barro, Escada, Vrzea, Casa Amarela, IPSEP, Cajueiro e Iputinga), do municpio do Jaboato dos Guararapes (Prazeres, Curado I, II, III e IV, Jardim Jordo, Alto Dois Carneiros, Muribeca, Cascata e Zumbi Pacheco), alm dos municpios de Igarassu, So Loureno da Mata e Cabo (COHAB, Ponte dos Carvalhos e Charneca). Em relao a esta pergunta, podemos aduzir a grande capilaridade que os fluxos provenientes da RMR e fora desta afluem para o bairro de Afogados, corroborando, desta forma, com as teorias de localizao at aqui abordadas.

Na questo 2 (Grfico 7), a pesquisa identificou entre as cinco alternativas de mltipla escolha, duas variveis se destacam pela escolha dos usurios, a localizao (49 escolhas) e atendimento (33 escolhas), e, como terceira opo, transporte (13 escolhas). Neste quesito inferimos a grande importncia da orientao espacial dos segurados, uma vez que praticamente todos conhecem o bairro de Afogados e seus principais atrativos locacionais (feira, bancos, etc.) e como segunda escolha, destaca-se o bom atendimento desta Agncia, fidelizando o usurio aos servios previdencirios ali existentes.

Grfico 7 Respostas relativas questo 2 do questionrio. Fonte: dson Jos Piuco em 20/05/2010.Na questo 3 (Grfico 8), a pesquisa identificou entre as quatro alternativas de nica escolha, duas variveis de destaque, a utilizao do Fone 135 e o acesso local. Neste quesito, destaca-se o processo evolutivo dos meios de comunicao. No entanto, podemos observar neste quesito, a importncia locacional como fonte da acessibilidade a esta APS.

Grfico 8 Respostas relativas questo 3 do questionrio. Fonte: dson Jos Piuco em 20/05/2010.Na questo 4 (Grfico 9), a pesquisa identificou entre as seis alternativas de nica escolha, uma varivel de grande destaque pela escolha dos usurios, a utilizao do meio rodovirio (nibus) como transporte predominante de acesso ao bairro de Afogados. Desta forma, podemos inferir que, neste grupo de entrevistados, suas origens denotam distanciamento das conexes principais (integrao SEI e estaes do METROREC), resultados estes que podero se diferenciar atravs de uma pesquisa mais abrangente nos usurios desta APS. Grfico 9 Respostas relativas questo 4 do questionrio. Fonte: dson Jos Piuco em 20/05/2010.

Na questo 5 (Grfico 10), a pesquisa identificou entre as quatro alternativas de nica escolha, uma varivel relativa noo de tempo/deslocamento dos usurios, destacando-se os perodos de 15 a 30 minutos como mdia em seus deslocamentos.

Grfico 10 Respostas relativas questo 5 do questionrio. Fonte: dson Jos Piuco em 20/05/2010.Na questo 6 (Grfico 11), a pesquisa identificou entre as trs alternativas de nica escolha, a predominncia da varivel de gastos acima de R$ 3,00 como custo de deslocamento (ida e volta).

Grfico 11 Respostas relativas questo 6 do questionrio. Fonte: dson Jos Piuco em 20/05/2010.

Na questo 7 (Grfico 12), a pesquisa identificou entre as trs alternativas de nica escolha, uma varivel relativa noo de conhecimento prvio da localizao desta APS. Podemos aqui aduzir o que j foi abordado no captulo anterior onde na referncia espacial destes usurios, a APS est fortemente vinculada ao Bairro de Afogados, fazendo destes dois referenciais um forte concenso neste grupo pesquisado.

Grfico 12 Respostas relativas questo 7 do questionrio. Fonte: dson Jos Piuco em 20/05/2010.Na questo 8 e 9 (Grfico 13), a pesquisa identificou entre as quatro alternativas de nica escolha destas duas questes, uma predominncia aos conceitos Bom/Muito Bom.

Grfico 13 Respostas relativas questo 8 e 9 do questionrio. Fonte: dson Jos Piuco em 20/05/2010.

Na questo 10 (Grfico 14), por fim, infere-se nos usurios desta amostragem, a sua noo de cidadania diante o acesso/uso de um servio pblico, onde 76 manifestaram como positivo e apenas 2 usurios expressaram insatisfao. Salienta-se que este quesito no abordou o grau de satisfao na obteno efetiva deste servio, e sim, o seu acesso, uma vez que para a concesso dos benefcios, estes usurios devero enquadrar-se na legislao previdenciria vigente. Para o escopo do tema abordado nesta pesquisa, limitamo-nos aos fatores de localizao, mas no deixamos de evidenciar que este grau de satisfao pode se alterar conforme a obteno ou no do servio pleiteado.

Grfico 14 Respostas relativas questo 10 do questionrio. Fonte: dson Jos Piuco em 20/05/2010.

Portanto, podemos observar a partir do contedo das 14 respostas acima colocadas, a existncia de uma aproximao ao modelo da Teoria das Localidades Centrais proposta por Walter Christaller, destacado no incio deste trabalho. Os fatores que levaram os usurios a utilizarem a APS Afogados revelam-se nas respostas das questes 1, 2, 5 e 7, pelas quais nos remetemos uma situao de uma rea circundada de uma elevada densidade populacional, servida por uma dinmica malha viria, tornando-a facilitadora do acesso dos usurios esta APS. Proporcionando um deslocamento rpido e de baixo custo, as vias de acesso e os meios de transporte utilizados pelos usadores destacam o servio previdencirio como servio relevante para a rea que centralizadora.

Sendo os servios previdencirios enquadrados em uma ordem de relevante importncia para a populao, principalmente, a de baixa renda, as respostas das questes 3, 4 e 6 demonstram que, atravs da gratuidade dos meios de comunicao (Fone 135), e do baixo custo no transporte integrado urbano, houve melhoramentos sensveis quanto qualidade do acesso dos usurios aos servios pblicos estudados nesta monografia.

Outrossim, as respostas relativas s questes 7 a 10 destacam, no grupo entrevistado, que, alm dos fatores fsicos que promovem a localizao da APS Afogados, os fatores humanos ali encontrados propiciaram um atendimento satisfatrio, destacados com unanimidade, pelos seus prprios usadores, atravs do conceito bom como resposta qualidade do atendimento recebido nesta APS.

Diante destes dados apresentados, as respostas apontam para uma boa qualidade dos servios previdencirios prestados pela APS em tela, que busca construir, atravs de um atendimento mais eficiente, maior qualidade e satisfao aos seus usurios.

4.4 - Servio Pblico Previdencirio: construindo o espao do cidadoComo bem visto nos captulos anteriores, a APS Afogados, como um objeto fixo representativo da ao estatal, demonstra um espao de uso contnuo e de fcil acesso aos habitantes locais e provenientes da grande RMR e at mesmo fora dela. Compondo um arca-bouo reflexivo, da questo ora elaborada, seguindo Milton Santos, em seu livro O Espao do Cidado, convm pensar a escolha que o Estado Brasileiro adotou ao priorizar o chamado Milagre Econmico, trazendo consigo as mazelas at hoje presentes na no-formao do cidado brasileiro. Em uma das suas passagens, intitulada A elaborao brasileira do no-cidado, Santos aborda o caso brasileiro como sendo:

Em nenhum outro pas foram assim contemporneos e concomitantes processos como a desruralizao, as migraes brutais desenraizadoras, a urbanizao galopante e concentradora, a expanso do consumo de massa, o crescimento econmico delirante (...). Em lugar do cidado formou-se um consumidor, que aceita ser chamado de usurio (SANTOS, 2007, p. 25, grifo nosso).

Desta forma, como caracterizar a pessoa que utiliza o servio previdencirio? Milton Santos amplifica esta reflexo com o seguinte excerto: O conceito de servio pblico foi, alis, abastardado a um tal ponto que as entidades fornecedoras trabalham na base do lucro, que buscam aumentar gulosamente. Os clientes, isto , toda a populao, ganharam o apelido de usurios (SANTOS, 2007, p. 36).

Destaca Santos nesta passagem, a hegemonia que determinadas firmas adquiriram com o status de instituies governamentais (Bancos, SPC, etc.), pelas quais usurpam das assembleias eleitas um poder legislativo que no tm, impondo regras totalidade dos cidados. Neste caso especfico, tratando-se da Previdncia Social, como amplamente sabido, busca-se, a longo tempo, a privatizao deste servio, principalmente pela ala privatista brasileira.

Seguindo ainda a reflexo de Santos, em seu tema Arregimentao e Manipulao, encontramos um dos fatores que auxiliam na compreenso de quem usufrui dos servios previdencirios, intitulados: cidados mutilados.A definio atual da cidadania no escapa a essa regra. uma cidadania mutilada, subalternizada, muito longe do que, habitualmente, em outros pases j se vinha desenvolvendo h alguns anos esto s diversas formas organizadas sugeridas pelo Estado para arregimentar as pessoas. Uma dessas manipulaes se est dando pela profissionalizao. J foi chamada a ateno para essa forma de enquadramento, tornada indispensvel para permitir aos indivduos o acesso a direitos que deveriam ser indiscriminadamente assegurados (SANTOS, 2007, p. 37, grifo nosso).

Ampliando este conceito onde a realidade previdenciria calcada exatamente na pessoa que contribui, com fundamentos tambm de enquadramento em categorias laborativas, vale salientar que apesar desta regra normativa, onde necessrio que o usurio possua algum vnculo laboral ou contributivo, o grande diferencial deste servio pblico a sua ampliao da carncia contributiva. Com isso, o segurado pode ter os seus acessos ao servio previdencirio prorrogado pela carncia que varia de 12 at 36 meses, conforme o seu tempo contributivo, alentando-o durante este perodo de incapacidade ou demisso laboral.

Alm destas peculiaridades contributivas e vinculatrias aos enquadramentos profissionais, alguns benefcios tidos como assistenciais para o idoso e deficiente, abrangidos pela Lei chamada LOAS Lei Orgnica de Assistncia Social so extensivos populao sem renda declarada. neste ponto que a Instituio aproxima-se do conceito Miltoniano de cidadania, salientando, aproxima-se das necessidades reais das pessoas.

Em seu livro Espaos de Esperana, o autor David Harvey traz como idia principal a importncia de pensarmos o perodo atual por meio da imaginao utpica, no sentido de