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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE NÚCLEO DE GESTÃO ADMINISTRAÇÃO GEORGE LEITE FREXEIRA O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS E OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE NOVOS TEMPLOS CARUARU 2013

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O Processo de gestão social em instituições religiosas e os interesses dos seus líderes na expansão e fundação de novos templos.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE

NÚCLEO DE GESTÃO

ADMINISTRAÇÃO

GEORGE LEITE FREXEIRA

O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES

RELIGIOSAS E OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA

EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE NOVOS TEMPLOS

CARUARU

2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE

NÚCLEO DE GESTÃO

ADMINISTRAÇÃO

GEORGE LEITE FREXEIRA

O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES

RELIGIOSAS E OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA

EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE NOVOS TEMPLOS

Trabalho apresentado à Coordenação do Curso de Graduação

em Administração, da Universidade Federal de Pernambuco,

Centro Acadêmico do Agreste, como requisito parcial para

aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso.

Orientador: Profª. Drª. Silvana Medeiros Costa.

CARUARU

2013

Catalogação na fonte

Bibliotecária Simone Xavier CRB4 - 1242

F892p Frexeira, George Leite. O Processo de gestão social em instituições religiosas e os interesses dos seus

líderes na expansão e fundação de novos templos. / George Leite Frexeira. - Caruaru: O Autor, 2013.

95f; il.; 30 cm. Orientadora: Silvana Medeiros Costa Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal de

Pernambuco, CAA. Administração, 2013. Inclui bibliografia 1. Instituições religiosas - administração. 2. Valores. 3. Capitalismo. I. Costa,

Silvana Medeiros. (orientadora). II. Título.

658 CDD (23. ed.) UFPE (CAA 2013-28)

GEORGE LEITE FREXEIRA

O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES

RELIGIOSAS E OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA

EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE NOVOS TEMPLOS

Este trabalho foi julgado adequado e aprovado para a obtenção do título de graduação

em Administração da Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do

Agreste

Caruaru, 11 de abril de 2013.

_____________________________________

Prof. M.Sc. Antônio César Cardim Britto

Coordenador do Curso de Administração

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________

Profª. Drª. Silvana Medeiros Costa

Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste

Orientador(a)

_____________________________________

Profª. Drª. Maria das Graças Vieira

Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste

Banca

_____________________________________

Prof. M.Sc. Fernando José do Nascimento

Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste

Banca

Dedico aos meus pais (in memoriam), pois,

se há algo a elogiar em meus pensamentos

ou em meu estilo, o crédito é devido a eles,

por me instruírem de um amor precoce pela

leitura.

AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus que de uma forma espetacular e simples me abençoou com o

dom da vida e me compreende, mesmo eu sendo um ser tão mutável e complexo.

A meus pais (in memoriam) que através deles hoje eu não estaria aqui e sem

eles nunca teria aprendido a me dedicar à boa leitura e me dado uma educação voltada

para a construção das bases familiares cristãs e me ensinado a Bíblia Vernácula.

A minha esposa que é o forte elo entre minha vida de solteiro e o

comprometimento com uma vida a dois, com maiores responsabilidades e amor acima

de tudo, gerando frutos de amizade, companheirismo e dedicação mútua.

A meus filhos: Maysa, George e Larissa, que me ensinaram a nunca desistir de

lutar e aprender ensinar o caminho da verdade e dos valores morais em família como

base para todas as nossas vidas.

Às políticas de Gestão Pública Federais, tão escassa em nossos dias, que

disponibilizou ao longo do país e em particular no Agreste pernambucano uma

Universidade Federal, de onde pude, além de acesso a um ensino de qualidade, uma

oportunidade ímpar de cursar minha graduação em Administração.

Aos meus professores (mestres e doutores) de Administração da UFPE que me

guiaram por entre as muitas descobertas durante todo aprendizado nesta graduação e aos

que em particular fizeram a diferença nas minhas novas escolhas profissional e na

minha visão hoje como administrador, tais como a Drª Graça Vieira, que até o momento

que iniciei esta monografia foi vice coordenadora do curso de administração nesta

Universidade e professora de Administração Estratégica e Empreendedorismo, além de

ser grande amiga; Drª Silvana Medeiros, minha orientadora neste trabalho monográfico

e professora de Gestão Pública e Gestão Social, meu muito obrigado.

Aos gestores eclesiásticos (pastores, bispos e reverendos) e seus secretários

(as) que foram o sujeito das entrevistas, assim como suas respectivas igrejas como

instrumentos de observação e percepção dos constructos aqui mencionados e

posteriormente desenvolvidos, os quais sem eles seriam impossível à transliteração

desta pesquisa. A todos, muito obrigado por colaborarem com seus conceitos e ideias

referentes à Gestão Social nas instituições religiosas.

Aos meus caros colegas de curso que por um período de quase cinco anos

estivemos juntos compartilhando e trocando informações, estudando e ensinando, rindo

e descontraindo, pesquisando e aprofundando nossos conhecimentos. Não vou citar

nomes para não esquecer nenhum!

Enfim, a todos os amigos e irmãos que direta ou indiretamente estiveram

acompanhando a evolução deste trabalho, orando, trocando ideias, sugerindo novos

argumentos para as questões mais difíceis e apresentando novas propostas.

“[...] Apascentai o rebanho de Deus, que vos foi confiado, cuidando dele, não como por

coação, mas de livre vontade, como Deus o quer, nem por torpe ganância, mas por

devoção; nem como senhores daqueles que vos couberam por sorte, mas, antes, como

modelos do rebanho.”

(Bíblia de Jerusalém, nova edição revista e ampliada p. 2.118 e 2.119).

"O homem só se realiza quando na verticalidade anseia pela contemplação do seu Deus

e na horizontalidade busca e acolhe seus semelhantes".

Michel Quoist

RESUMO

Esta pesquisa tem o objetivo de somar às muitas outras que se preocupam em

trazer um diagnostico organizacional nas práticas de gestão social dentro de um grupo

específico do Terceiro Setor conhecidas por instituições religiosas. O assunto em estudo

é discutido por várias autoridades acadêmicas e é desafiador para a geração atual, tendo

em vista, o tema não ser conclusivo, porém identificado por fatores diversos, interna e

externamente no âmbito das empresas privadas sem fins lucrativos. A intenção do

mesmo não é esgotar o assunto, porém, levar ao público acadêmico uma maior reflexão

do tema abordado, bem como sua relevância para a administração e a verificação desta

linha divisória entre o compromisso social das igrejas como parte do modelo adotado

pelo terceiro setor e a filosofia capitalista operante na maioria dos líderes religiosos

ocidentais. Com embasamento bibliográfico o trabalho argumenta as relações culturais e

econômicas dentro do protestantismo na construção das primeiras unidades de igrejas

tradicionais e fazendo ligação com as igrejas emergentes na região de Caruaru (PE);

estudando essas instituições religiosas como um organismo eclesiástico e uma

organização de capital humano moldada pelas relações coletivas e individuais;

analisando também o modelo de gestão adotado pelos líderes para a fundação de novos

templos, assim como propostas inovadoras para manter os valores, a missão, a

qualidade, a ética e a transparência dos serviços prestados pela administração

eclesiástica.

Palavras Chaves: valores, gestão social, administração eclesiástica e capitalismo.

ABSTRACT

This research aims to add to the many others who are concerned to bring an

organizational diagnosis in social management practices within a specific group known

as the Third Sector religious associations. The subject under study is discussed by

several academic authorities and is challenging for the present generation in view, the

issue is not conclusive, but identified by various factors, both internally and externally

within the private nonprofit. The intention of it is not exhaustive, however, lead to

greater academic public discussion of the subject and its relevance to the administration

and verification of this dividing line between the social commitment of the churches as

part of the model adopted by the third sector and capitalist philosophy at work in most

Western religious leaders. With foundation work literature argues cultural and economic

relations within Protestantism in the construction of the first units of traditional

churches and making links with emerging churches in the region of Caruaru (PE);

studying these religious institutions as an ecclesiastical body and human capital of an

organization shaped by collective and individual relationships; also analyzing the

management model adopted by leaders to the founding of new temples, as well

innovative proposals and to maintain the values, the mission, quality, ethics and

transparency of services provided by the ecclesiastical administration.

Keywords: values, social administration, ecclesiastical administration and capitalism.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Divisão do Protestantismo.....................................................................21

Figura 2 – Pirâmide de Maslow..............................................................................39

Figura 3 – As necessidades Espirituais na Pirâmide de Maslow............................40

Figura 4 – Evolução do Protestantismo..................................................................53

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO .............................................................................. 13

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO .............................................................................. 13 1.2 OBJETIVOS.......................................................................................................16

1.2.1 Objetivos Gerais ................................................................................... 16

1.2.2 Objetivos Específicos ........................................................................... 16

1.3 JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 17

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................. 19

2.1 CULTURA, ECONOMIA E RELIGIÃO: CONSTRUÇÃO DO

PROTESTANTISMO HISTÓRICO NO MUNICÍPIO DE CARUARU ............... 19

2.1.1 As Origens das Famílias Evangélicas e sua Relação com a Gestão

Administrativa...................................................................................................19

2.1.2 Igreja: Organismo e Organização .......................................................... 26

2.2 TERCEIRO SETOR E A INFLUÊNCIA CAPITALISTA NA GESTÃO

SOCIAL DOS LÍDERES RELIGIOSOS OCIDENTAIS ...................................... 30

2.2.1 Estrutura Organizacional e Hierárquica das Instituições Religiosas ....... 30

2.2.2 A Influência Capitalista no Protestantismo Ocidental ............................ 36

2.2.3 A Gestão Social Eclesiástica e sua Relevância no Terceiro Setor .......... 44

2.2.4 O Processo de Gestão nas Principais Igrejas Históricas e Emergentes ... 49

2.3 COMPORTAMENTOS SOCIAIS E OCUPAÇÃO TERRITORIAL PELO

AVANÇO DAS IGREJAS EVANGÉLICAS NO MUNICÍPIO DE CARUARU . 57

2.3.1 Adequação Geográfica dos Templos à Realidade Populacional ............. 57

2.3.2 O Impacto das Segregações Espaciais, Migrações Comportamentais e

Alterações Denominacionais ......................................................................... 60

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA ........................................................................... 64

3.1 OBJETO DE ESTUDO .................................................................................. 64

3.2 COLETA DE DADOS ................................................................................... 65 3.3 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................... 66

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 69

4.1 O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS E

OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE

NOVOS TEMPLOS.................................................................................................69

4.1.1 As Relações Culturais e Econômicas dentro do Protestantismo na

Construção das Primeiras Unidades Históricas na Região .............................. 69

4.1.2 A Linha Divisória entre o Compromisso Social das Igrejas como Parte do

Modelo Adotado pelo Terceiro Setor e a Filosofia Capitalista Operante na

Maioria dos Líderes Religiosos Ocidentais .................................................... 73

4.1.3 A Igreja como um Organismo Eclesiástico e uma Organização de Capital

Humano Moldada pelas Relações Coletivas e Individuais .............................. 77

CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 81

5.1 CONCLUSÃO ............................................................................................... 81

5.2 LIMITAÇÕES ............................................................................................... 83 5.3 RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES........................................................... 83

CAPÍTULO 6 - REFERÊNCIAS, APÊNDICES E ANEXOS ................................. 84

6.1 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 84 6.2 APÊNDICES......................................................................................................89

6.3 ANEXOS............................................................................................................94

13

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

O atual contexto em que as instituições religiosas estão inseridas, fragmentadas

em várias correntes teológicas e doutrinárias, ocupando um espaço cada vez mais

amplo, tende a provocar uma adequação maior e mais holística no desenvolvimento

organizacional1 das mesmas, forçando-as cada vez mais em curto prazo uma busca mais

precisa pela solução de problemas no decorrer do seu ciclo de vida, destarte durante sua

trajetória, assim como qualquer outro tipo de organização, as Organizações Não

Governamentais também podem sofrer alterações variadas decorrentes de forças

internas ou externas pela qual elas estão vulneráveis, ou seja, uma empresa pode tender

a assumir posturas diferenciadas ao longo de sua história.

Em busca de uma identidade, muitas denominações evangélicas influenciadas

por construções ideológicas e políticas do ambiente tentam postular seus interesses em

detrimento da racionalidade do capital humano que por sua vez, é alvo de discussões

quando envolve o comportamento econômico e burocrático que tais organizações

manifestam. Sendo estas instituições formadas por seres humanos, são a elas atribuídos

os impactos que cada modelo de gestão causa na percepção dos indivíduos em meio às

pressões desse ambiente turbulento e mutável, rompendo paradigmas e pressionando

seus membros, líderes, cooperadores e concorrentes; tomados de decisões cada vez mais

rápidas e muitas vezes nocivas à qualidade de gestão. Quando adotam posturas

diferenciadas e se deparam, por vezes, com uma inversão de valores, estão sendo

contrárias às posturas pelas quais foram preparadas desde sua formação.

O que acontece neste ambiente eclesiástico é resultante de fatores intrínsecos e

extrínsecos e comunicam os valores da comunidade em buscar seus objetivos, pois,

mensuram as relações entre religião e sociedade que são formadas por meios

institucionais e também valores individuais motivados pela ação social. Um

acontecimento pode ter causas econômicas, políticas e religiosas, mas todas elas

1 Desenvolvimento organizacional é um esforço (1) planejado, (2) de âmbito organizacional e (3) gerenciado do topo, para (4) elevar a eficácia e a saúde da organização através de (5) intervenções

planejadas nos “processos” da organização, usando conhecimentos de ciências comportamentais

(BECKHARD, 1969, p. 9 apud MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 240 e 241).

14

compõem um conjunto de aspectos da realidade diagnosticados nos atos individuais, ou

seja, são condicionantes a fazer refletir o papel em conjunto na sociedade ou torna o

indivíduo um produto controlado por essas forças e que o levarão a uma visão

individualizada da mesma. “O homem percebeu-se como uma parte isolada do

organismo social em que está inserido [...] (MEDEIROS; 2009 p. 33)” e passa a ser uma

criação contínua dos critérios básicos negociais/políticos e puramente capitalistas das

empresas da atualidade, que isolam os valores voltados ao desenvolvimento de

qualidades pessoais como: a criatividade, a informalidade, a inovação, a aprendizagem,

num processo de mudança e compartilhamento de conhecimentos, prontos para serem

explorados.

Desde as bases da Revolução Industrial, onde o Taylorismo e o Fordismo eram

responsáveis pela produção em massa, pela padronização como formas inteligentes do

processo de fabricação nos primórdios da administração científica, os processos eram

voltados para eficácia e o estudo sistemático do trabalho fazia do ser humano

simplesmente mais uma ‘peça’ desse produto em contínua fabricação. Conjuntamente à

Revolução Industrial o capitalismo pôde amadurecer constituindo-se num sistema

econômico ocasionando significativas mudanças sociais, culturais, políticas e religiosas,

onde nesse interim a Reforma Protestante alcançava sua fase de maior expansão na

Europa, como uma revolução cultural e ideológica. Com frequência podia-se perceber

que a maior concentração de capital de fato estava nas mãos de alguns grupos de

protestantes, onde “[...] o desenvolvimento do capitalismo, [na época de sua grande

expansão], esteve com suas mãos livres para redistribuir a população em camadas

sociais e profissionais em função de suas necessidades (WEBER, 2006, p. 29)”, sendo

explicado em grande parte pelas circunstâncias históricas, iniciadas na Europa e pelos

primeiros reformadores na Alemanha.

O tempo passou e as aplicações iniciais da administração científica, assim

como a ética protestante, onde a religião dava a oportunidade aos homens granjear o pão

de cada dia e consequentemente introduzir a sistematização do trabalho, continuam

deixando por último o seu principal e mais caro recurso: o homem. O liberalismo

econômico2 cria áreas de conflitos sociais cada vez mais turbulentos e a acumulação de

2 O liberalismo econômico corresponde ao período de desenvolvimento da economia capitalista baseada

no individualismo e no jogo das leis econômicas naturais e na livre concorrência. [...] O novo capitalismo

se inicia com a produção em larga escala de grandes concentrações de máquinas e de mão-de-obra,

15

capitais nas mãos de uns poucos causou profundos desequilíbrios para o funcionamento

do sistema como um todo.

Esta pesquisa assume o papel de incentivar os leitores que fazem uso

consciente de uma responsabilidade coletiva em prol de mudanças e desmistificação da

religião liberal numa sociedade pluralista (JONES, 2002), procurando identificar os

interesses dos líderes evangélicos e os modelos de gestão por eles usados para

disseminarem e fazerem-se percebidos neste século através da implantação de novos

templos, trazendo novos adeptos por uma visão inteiramente expansionista e capitalista,

ou permanecerem inertes, mas dando ênfase ao ascetismo religioso3, ao bem estar social

e uma melhor assistência aos seus membros, com uma visão humanitária mínima para

suprir as necessidades da comunidade.

Bem, o liberalismo influenciou a ‘religião’. Passada está a reinterpretação liberal do

Evangelho em termos do envolvimento social ou teoria marxista. O novo liberalismo

descobriu uma espiritualidade que salvará o planeta e atingirá os objetivos de uma

humanidade ambiciosa. A visão liberal de uma cultura igualitária inclusiva do futuro

[...] concebe um novo mundo [...] (JONES, 2002, p. 81).

Urge a necessidade dos gestores administrarem a igreja não só como um

organismo eclesiástico, mas também como uma organização, onde o filantropismo

(amor à humanidade) é base ideológica, pois, já há muito tempo que a crise do

sensacionalismo cresce nas igrejas evangélicas e que líderes tentam motivar os

membros, enfatizando a busca pela recompensa, ao passo que quanto maior o grau de

percepção dos fiéis pela religião em si, maiores os laços informais, resultando em

padrões específicos de comportamentos para pessoas e grupos envolvidos.

O papel das igrejas evangélicas no Terceiro Setor é notadamente criterioso e,

partindo do pressuposto que assim como o Estado tem passado por transformações no

decorrer das últimas décadas, com ele veem arrastando vários grupos sociais e também

instituições religiosas de iniciativa privadas. Estas são estudadas analisando as

transformações visíveis que o capitalismo amplia, fomentando a discussão sobre as

competências do Estado tradicional e a gestão social dessas Organizações Não-

criando situações problemáticas de organização de trabalho, de concorrência econômica, de padrão de

vida etc. (CHIAVENATO; 2003 p. 37). 3 A pregação do ascetismo, ausente no neopentecostalismo, não põe os fiéis a salvo do consumismo.

Muitos crentes sucumbem aos apelos da cultura do consumo, chegando ao descontrole financeiro,

acumulando dívidas, como constata matéria da revista assembleiana Seara (n.17, abril de 1998, p. 22-26), que, em parte, responsabiliza por muitas destas ocorrências pastores e igrejas difusoras da Teologia da

Prosperidade. Diz a revista que 50% dos atendimentos do SOS Vida, serviço de aconselhamento

evangélico 24 horas, referem-se a pessoas (a maioria crente) endividadas pedindo conselhos e orações

(MARIANO, 1996).

16

Governamentais através de definições teóricas e avaliações qualitativas da pesquisa de

campo. Incluídas entre as Organizações do Terceiro Setor, as igrejas, “[...] instituem-se

a partir de uma missão social, agregando indivíduos voluntários, operando em

programas e ambientes altamente dependentes de financiamento social, e orientam sua

atuação para problemas e conflitos sociais” (CABRAL, 2007, p. 8), contudo, diante de

tantos vieses que articulam o ambiente das instituições religiosas e suas necessidades

associativas e assistenciais para um modelo de gestão e o compromisso político das

mesmas, qual o interesse dos líderes religiosos em expandir novos templos e como

mensurar o desempenho desses gestores nesse campo investigativo? É nesta

prerrogativa que se alicerçam os instrumentos necessários para compilação desta

pesquisa e a sua relevante importância para este nicho de sociedade.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivos Gerais

Analisar o processo de gestão social em instituições religiosas e os interesses

dos seus líderes na expansão e fundação de novos templos.

1.2.2 Objetivos Específicos

1.2.2.1 Identificar as relações culturais e econômicas dentro do protestantismo na

construção das primeiras unidades de igrejas históricas na região.

1.2.2.2 Verificar a linha divisória entre o compromisso social das igrejas como parte do

modelo adotado pelo terceiro setor e a filosofia capitalista operante na maioria dos

líderes religiosos ocidentais.

1.2.2.3 Estudar a igreja como um organismo eclesiástico e uma organização de capital

humano moldada pelas relações coletivas e individuais.

17

1.3 JUSTIFICATIVA

Teórica:

Desde que os primeiros reflexos da reforma protestante que iniciaram há

aproximadamente 500 anos atrás e fragmentou o movimento em várias correntes com

diferenças teológicas e doutrinárias, até a plena liberdade religiosa com a Constituição

do Brasil de 1824, onde de forma marcante após a 2ª Guerra Mundial os movimentos

evangélicos emergiram, cresceram, edificaram-se como instituições, fundamentaram-se

como organizações e principalmente tornaram-se componentes políticos importantes.

Porquanto a história delimita suas linhas fronteiriças, divididas em partes constituintes

bem distintas, apresentando inúmeras subdivisões, tendo em vista a fragmentação que

esse imenso império evangélico tem alcançado, em especial na América, voltado ao

evangelicalismo liberal (WELLS, 2010) e cada vez mais distante da ética protestante

com a qual os primeiros grupos vivenciaram. Dentro dessa perspectiva as instituições

religiosas surgem como empresas privadas do terceiro setor e traçam suas metas ante a

complexidade globalizada e conectadas. À medida que essas instituições religiosas se

desenvolvem, aumentam também em complexidade, como qualquer outro tipo de

organização, e naturalmente também outro desafio é de se manter estável, sob o ponto

de vista organizacional, não perdendo os objetivos e a missão pelas quais foram

formadas.

Prática:

A pesquisa centrou-se nesse tema, tendo em vista o foco de estudo do

pesquisador está centrado num nicho social cada vez maior na região do Agreste

Pernambucano; influência de um crescimento macro, principalmente nas Américas, e

que tende a tomar um corpo mais complexo em se tratando de Organizações que

compõem o Terceiro Setor.

O crescimento dessas denominações vem sendo assunto de pesquisa por várias

áreas e ultimamente tem se intensificado; o assunto em apresso é desafiador e sua

abordagem não é conclusiva, mas abre uma vasta oportunidade de incentivo aos

pesquisadores para ampliarem seus conhecimentos e trazerem ao público acadêmico um

posicionamento ético racional e posteriormente mais um registro e uma análise das

motivações para o aumento de novos templos evangélicos na região em estudo.

18

A crescente expansão dessas novas unidades evangélicas (filiais) dentro do

município nem sempre estão em acordo com a necessidade investida pela liderança,

decorrendo num aumento de seus templos na região com o intuito de acessibilidade aos

fiéis, contudo, por vezes se veem igrejas com poucos membros em espaços muito

próximos umas das outras, tendo ainda deficiência em sua assistência e manutenção.

19

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 CULTURA, ECONOMIA E RELIGIÃO: CONSTRUÇÃO DO

PROTESTANTISMO HISTÓRICO NO MUNICÍPIO DE

CARUARU

2.1.1 As Origens das Famílias Evangélicas e sua Relação com a Gestão

Administrativa

Com a cisão entre o catolicismo romano e o aparecimento dos reformadores o

protestantismo ganhou espaço durante a Idade Média, onde homens como Martinho

Lutero e João Calvino desconstruiriam as bases corporativas centrais do catolicismo –

que tradicionalmente eram os fortes proprietários de terras e ostentavam o poder e

controle ideológico da população – preparando terreno para um novo tipo de religião,

que colocaria o homem futuramente numa dupla meta, ou seja, unir a devoção religiosa

ética às virtudes de trabalhar com o suor de seu rosto como fator de dignidade social

(DONKIN, 2003). Surgia então uma classe empreendedora dentro de uma sociedade,

acostumada, outrora, com o poder papal monopolista, e que passaram a reconhecer o

poder econômico dentro de um novo ensino sistemático religioso e a plena aceitação

social das massas pelos missionários protestantes; o exemplo disso, pela doutrina de

João Calvino “[...] era possível orar e prosperar a um só tempo, desde que se estivesse

disposto a renunciar à frivolidade e à corrupção permitidas nos círculos católicos – e

desde que se estivesse pronto a reinvestir a própria riqueza em benefício da sociedade

(DONKIN, 2003, p. 43)”.

Donkin (2003) ainda afirma que a ética do trabalho protestante entraria pelos

séculos seguintes como forte pensamento no mundo industrializado ocidental, e que esta

religião definiu um estilo de vida na sociedade, principalmente porque trazia à

população o despertar da razão, do conhecimento, e da busca por um código ético

social. Começava um impacto intelectual nas pessoas (ainda que a taxa de

analfabetismo fosse alarmante na época) introduzido pela propagação da Bíblia

vernácula, que se tornou o alimento indispensável para as classes em fermentação, por

ser moderna, estava em plena circulação entre as classes sociais e afirmava uma posse

ideológica pelo pleno direito legal de examiná-la. Somada à sede pela alfabetização; sua

20

distribuição, no entanto, começou a estar sujeita a fatores comerciais. Um cenário

revolucionário e sujeito a mudanças, mas que já moldavam, ainda que timidamente, a

evolução do pensamento administrativo que desabrochariam no Renascimento.

Em face destas mudanças, e diante da formação teológica durante essa

trajetória histórica nas principais igrejas, foram onde estes grandes nomes apareceram,

ainda que num ambiente turbulento e de ajustes culturais e ideológicos. Tal influência

foi substancialmente afetada por questões políticas, unindo a Igreja e o Estado, pelas

reformas e seus idealizadores e pelos concílios ecumênicos. Bem mais próximo de

nossa época, porém, não menos importante, está a divisão do Protestantismo

propriamente dito, onde temos: verticalmente a formação de famílias denominacionais

(luteranos, anglicanos, presbiterianos, metodistas, batistas, congregacionais,

pentecostais e emergentes), e horizontalmente influenciados por correntes teológicas e

filosóficas, ou seja, a tradição conservadora da ortodoxia (doutrina), o puritanismo

(santidade), o pietismo (devoção), o liberalismo (razão) e os avivamentos pentecostais

(impulso missionário).

A esses dois fenômenos (denominacionais e teológicos), as influências de

Martinho Lutero, João Calvino, Jacó Armínio, João Wesley, Jonathan Edwards e muitos

outros formariam as bases para uma construção de elementos de uma fé protestante, ou

seja: características denominacionais, doutrinas e credos protestantes e afirmações

teológicas. É através dessas afirmações que os idealizadores abrem um ‘leque’ para

propagar as mais variadas formas de interpretação das doutrinas Bíblicas, o

comprometimento de seus adeptos por uma identidade social, a forte influência da

imposição de seus dogmas através de seus seguidores e de todo um contexto político-

filosófico sofrido em decorrência da busca do ser humano completo; o homo

economicus4, postulado por Taylor, já estava sendo desenhado e posto em prática no

protestantismo, ainda que de forma sutil e rasa, porém, com aspectos característicos da

influência histórica de algumas denominações.

4 O homo economicus ou o homem econômico é uma ficção, formulada segundo procedimentos

científicos do século XIX que aconselhavam a fragmentação do objeto de pesquisa para fins de

investigação analítica. O homo economicus nada mais é do que um pedaço de ser humano, um fragmento, um resto, a sua parcela que apenas produz e consome, segundo "leis" deduzidas da observação, cujo único

critério de verdade apoiava-se na evidência (Recuperado do site:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Homo_economicus> Acesso em 27 de maio de 2012).

21

(Recuperado do site:

<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Ficheiro:Protestantbranches_pt.svg&page=1> Acesso em: 02

de out de 2012)

Figura 1 – Divisão do Protestantismo

Segundo OLSON (2001), com o rompimento de Martinho Lutero e a Igreja

Católica, os protestantes discordavam entre si sobre várias questões secundárias, mas

conseguiram compor uma frente relativamente unida contra a Igreja de Roma. Mesmo

com suas diferenças, teólogos luteranos, reformados e anglicanos permaneceram unidos

teologicamente, mas não politicamente. É aí que o século XVII testemunhou o

aparecimento de grandes “rachaduras teológicas”, ou mudanças, não somente entre as

famílias protestantes, mas também dentro de cada uma delas. Paralelamente à Reforma

de Martinho Lutero ocorreu a Reforma Radical5.

Quando a Revolução Industrial já fomentava os seus alicerçares, o

protestantismo já fazia parte de muitos grupos sociais no Ocidente e as consequentes

divisões entre as igrejas protestantes daquela época acompanhavam características

5 A Reforma Radical foi um movimento religioso do século XVI. Tratou-se de uma resposta para tanto a corrupção na Igreja Católica quanto a reforma magisterial expansiva promovida pelo Protestantismo de

Martinho Lutero e vários outros. Começando na Alemanha e na Suíça, a reforma radical deu origem a

vários grupos protestantes radicais pela Europa. (Recuperado do site:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Radical> Acesso em 23 de out de 2012).

22

próprias à influência dos indivíduos que se faziam presentes em seu rol de membros.

Muitos deles gerariam seus descendentes que seriam missionários, adeptos da

administração científica e pioneiros do pensamento da administração na sociedade

americana e europeia.

Frederick Wislow Taylor (1856-1915), considerado o fundador da Administração

Científica, veio de uma família “Quaker” de princípios rígidos e foi educado dentro

de uma mentalidade de disciplina, devoção ao trabalho e poupança [...] Taylor

começou sua carreira como operário e terminou como executivo da área industrial

de uma siderúrgica (PEDROSO, 2004, p. 23).

Os Quakers, (em inglês) que significava tremedores estavam “[...] entre as mais

desprezadas das novas seitas do século XVII [...] a Sociedade dos Amigos, apelidada de

quacres por um magistrado a quem George Fox, fundador e líder do movimento,

aconselharam tremer ante o nome do Senhor (DONKIN, 2003, p. 55)”; então Taylor

pertencia a uma denominação, constituída por um grupo radical, para a época, e muito

influenciado pela doutrina calvinista6.

Observa-se, então, que a cultura, a política, a religião e a estrutura de poder

delimitam esses aspectos revolucionários na sociedade, nas organizações, etc. e todos

envolvidos participam ativamente como agrupadores, rompendo paradigmas e rotinas.

Seria a exemplo de tantos outros, as bases para o que a Administração Moderna possui

hoje e que na época, ainda que a Teoria da Administração Científica fundada por Taylor

fosse marcada, a priori, pela eficiência e pela padronização dos processos, forjou-se

negativamente, quando no seu auge, devido aos problemas sociais e organizacionais,

como rotinização, sistema mecanicista voltado para uma administração de chão de

fábrica e de um rígido comportamento formal humano. Ciência aperfeiçoada pelo

pensamento de Henri Fayol que havia elevado o estudo da administração científica ao

nível gerencial com as funções organizacionais que ele as chamou de: prever, organizar,

coordenar, comandar e controlar, contudo, o mesmo também não estava preocupado

com o ser humano, mas a maximização do lucro organizacional. Essa degradação social,

provocada pela Revolução Industrial, influencia pioneiros e empreendedores para as

condições ideais do surgimento do liberalismo econômico e a considerável atuação da

doutrina social da igreja como parte dessa mudança. A evolução do pensamento

6 Convém lembrar que para a geração de Taylor “[...] o domínio do Calvinismo seria a forma mais

insuportável de controle eclesiástico do indivíduo que até então já pôde existir” (WEBER, Max. A Ética

Protestante e o Espírito do Capitalismo. 11ª ed. São Paulo: Pioneira, 1996 – p. 20 a 21).

23

administrativo, dentro do Renascimento, “[...] vê nesses acontecimentos as sementes da

administração científica, das relações humanas, do processo decisório gerencial e de

outros conceitos da administração moderna (PEDROSO, 2004, p. 14)”.

Durante a década de 60, principalmente nos Estados Unidos da América, o

mundo vislumbra o nascimento da esquerda religiosa, isso devido à consciência crítica

evangélica da América que havia mudado drasticamente de comportamento e

influenciado muitas outras nações predominantemente cristãs. Os baby-boomers 7 foram

apropriadamente chamados de ‘geração em busca’ e espalhou-se por vários segmentos

sociais, inclusive a religião. “A busca nobre dos anos 60 por uma consciência aberta [...]

foram em direção ao Oriente [...] e retornaram para fazer nascer uma religião híbrida

relativista [...] na autodeterminação democrática ou no ideal do igualitarismo autônomo

[...] vestido de forma ‘cristã’ para um consumo ocidental geral (JONES, 2002, p.35)”.

Essa geração encontrou-se amadurecida nos anos 90 como uma nova proposta para uma

transformação religiosa e espiritual, ou seja, uma mudança e que severamente

influenciaria os grupos de pessoas pelos quais estes estavam inseridos, desde a família

aos mais altos níveis hierárquicos das empresas.

Para mapear o grau de mudança numa empresa se faz necessário ter uma visão

micro e macro da situação e procurar analisar as circunstâncias que provocam a

necessidade de mudar. O padrão de mudança para algumas empresas são principalmente

vistos no âmbito decisório e estrutural da alta administração que desce às demais partes

da hierarquia entre períodos de modificação que são ocasiões para implementação e

estabilização destas mudanças.

Mintezberg, Ahistrand e Lampel apresentam essas práticas, nas organizações e

sociedades, de mudanças gerenciais – mesmo que a expressão em si seja uma

contradição, pois dependerá da nossa aptidão para mudar – onde “[...] indica o que

realmente significa mudança abrangente em uma organização: significa estratégia e

7 Baby-Boom é uma definição genérica para crianças nascidas durante uma explosão populacional - Baby

Boom em inglês, ou, em uma tradução livre, Explosão de Bebês. Dessa forma, quando definimos uma

geração como Baby-Boomer é necessário definir a qual Baby-Boom, ou explosão populacional estamos

nos referindo. Em geral, a atual definição de Baby-Boomer, se refere aos filhos da Segunda Guerra

Mundial, já que logo após a guerra houve uma explosão populacional. Nascidos entre 1945 e 1964, hoje são indivíduos que foram jovens durante as décadas de 60 e 70 e acompanharam de perto as mudanças

culturais e sociais dessas duas décadas (Recuperado do site <http://pt.wikipedia.org/wiki/Baby_boom>

Acesso em 01 de abril de 2012).

24

estrutura, indo do conceitual ao concreto e de comportamentos altamente formais aos

mais informais. Não faz sentido mudar a estrutura sem mudar sistemas e pessoas”

(MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p 238 e 239).

Essa visão sistêmica das mudanças sugere aos envolvidos uma intervenção na

modificação de muitos elementos ao mesmo tempo, procurando ser adequado a uma

nova forma de estabilidade tentando restabelecer posteriormente uma integração com

suas diretrizes e bases, o que Miller chama de arquétipos, “[...] isto é, estados de

estratégia, estrutura, situação e processo, e também de transições entre arquétipos e

consideram as mudanças estratégicas e estruturais como sendo quânticas, ao invés de

incrementais” (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 230).

As mudanças não eram somente de crivo eclesiástico ou administrativo, pois

havia uma grande preocupação por parte dos reformadores por novos paradigmas na

educação: um exemplo clássico está em Martinho Lutero que foi um dos responsáveis

pela concepção de ensino público, e que serviu de modelo para a escola moderna do

Ocidente, ou seja, “[...] para Lutero, o objetivo da escola não é o acesso de todos à

cultura. A escola tem por função formar uma elite capaz de dirigir tanto a sociedade

civil quanto a religiosa (GILMONT, 1999, p. 54)”. Para ele o desenvolvimento social

está intimamente ligado ao grau de educação em que seus indivíduos estão expostos e

posteriormente isto refletirá na cultura, na política, na sociedade e por que não dizer na

própria religião.

A harmonia entre estes vieses que fornecem dados importantes para a

construção da história de uma sociedade pode determinar o grau de intensidade com que

os mesmos podem interferir no comportamento e nas decisões coletivas e individuais e

também o que os motivam. É nesse momento que ideias como a de Max Weber

coadunam com o exposto acima partindo da premissa que “[...] cada formação social

adquiriu, para Weber, especificidade e importância própria [...] e seu objeto de

investigação é a ação social, a conduta humana dotada de sentido, isto é, de uma

justificativa subjetivamente elaborada (COSTA, 2005, p. 97)”, ou seja, para Weber “[...]

não existem oposição entre indivíduo e sociedade: as normas sociais só se tornam

concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação (COSTA,

2005, p. 97)”.

A reforma protestante, iniciada por Martinho Lutero, ainda está longe de ser

completada e idealizada em vários segmentos religiosos e sociais, mas abriram as portas

25

para o pensamento crítico da população que estava à mercê da desigualdade, dos

conflitos e da submissão às autoridades políticas e religiosas, destarte, quando “[...] o

argumento moral, o senso de comprometimento e a o apelo popular convergem, como

no caso do protestantismo [...] ocorre uma comunhão entre a crença popular e o

pragmatismo. É a religião de mangas arregaçadas (DONKIN, 2003, p. 53)”, mas

também, “[...] a emancipação do tradicionalismo econômico parece ser, sem dúvida, um

fator que apoia enormemente o surgimento da dúvida quanto à santidade das tradições

religiosas [...] a Reforma significou não tanto a eliminação da dominação eclesiástica

sobre a vida de modo geral, quanto a substituição de sua forma vigente por uma outra

(WEBER, 2006, p. 30)”. O surgimento do Capitalismo vinculado à doutrina calvinista e

sua consequente interpretação do enriquecimento material como garantia da graça

divina entendida pelos primeiros grupos evangélicos são a marca registrada desse

período pós reforma.

O protestantismo foi uma revolução cultural e intelectual com um poder e uma

intensidade tão grandes quanto os que se reconhecem na indústria e nas inovações do século XVIII. A mudança ocorreu em uma escala jamais vista, [...] afinal, tratava-

se de uma revolução das massas, explorado pelas massas. A Bíblia vernácula

fomentou o aumento da alfabetização (DONKIN, 2003, p. 54).

A administração Eclesiástica é vista hoje em seu apogeu de abrangência e vai

canalizando essas ‘brechas’ formadas pela ação do tempo na vida da sociedade e

cicatrizando suas erradas filosofias de interpretação. Hoje em dia, as igrejas evangélicas

podem e devem ter um plano estratégico, um modelo de gestão administrativo, estarem

voltadas à responsabilidade social, trabalharem em seus processos através de

ferramentas administrativas, da reestruturação e participarem ativamente da construção

da cidadania com a cooperação dentro do Terceiro Setor.

Por esse pensamento racional, o Brasil, que comunga entre doutrina e ética

religiosa e sua relação com sistemas econômicos abertos, onde de longe essa situação,

assumida na obra de Max Weber (A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo) é a

mais divulgada, conhecida e debatida para fins acadêmicos, ainda sofre sobremaneira os

impactos dessas mudanças e atuará de forma substancial nas diversas fases da moderna

sociedade capitalista. Desafiador para o caso brasileiro, ou os ‘novos ricos’, que mesmo

26

sendo atualmente a sexta economia8 do mundo ainda está à beira dos países

desenvolvidos e abaixo de outros emergentes, mas aberto à propagação de crenças e

novas religiões e plena liberdade de culto em todo o seu território.

2.1.2 Igreja: Organismo e Organização

As instituições evangélicas englobam um conjunto de organizações

filantrópicas que possuem características próprias – por vezes se diferenciando até

mesmo das outras não governamentais – quando é retratado dentro delas a abrangência

de atuação, ou pelo menos é o que rege seus estatutos e sua missão. Por maioria,

embasadas na Bíblia Vernácula, e de onde sai a grande parte dos seus dogmas e

costumes, elas circundam não só os horizontes sociais da vivência de seus membros em

comunidade, mas também ensejam a aplicabilidade dessas doutrinas no âmago

espiritual dos seus adeptos. Recai sobre seus gestores o dever de administrar de forma

cautelar e cuidadosa, tendo em vista, além da aplicabilidade do processo administrativo,

estar lidando com aptidões espirituais dos seus membros. O que implica dizer que as

religiões não somente devem tentam abrir suas portas para o cooperativismo e o social,

contudo têm que retratar nos corações dos fiéis um objetivo maior, intangível, que se

postulam nos anais da fé e da razão, fronteiras por vezes impenetráveis e de opiniões

diversas (justificar a fé individual ou coletiva não é foco nessa pesquisa).

O caráter organizacional por vezes se mistura com o religioso dessas

instituições e descobrir esta fronteira se faz necessário para o bom andamento e

funcionamento das mesmas, pois as práticas sociais dessas organizações fazem do

trabalho eclesiástico uma fonte geradora de valor econômico (dízimos e ofertas) ao

mesmo tempo em que prestam um serviço aos seus fiéis (uso da cidadania). Mesmo que

se diferenciem das organizações que são especializadas na produção em massa, através

de recursos materiais, elas abstraem para si um campo investigativo qualitativo,

intangível e combinam agentes sociais, conferindo-lhes por vezes nobreza, pelo caráter

8 Segundo o Centro de Pesquisa CEBR (Centre for Economics and Business Researche), sediado em Londres, em 2011 o Brasil ultrapassou a Grã-Bretanha e se tronou a sexta potência econômica do mundo.

O diretor do centro de pesquisa ainda enfatiza o peso crescente da Ásia no ranking em detrimento dos

países ocidentais (Recuperado do site: <http://www.portugues.rfi.fr/brasil/20111226-brasil-e-sexta-

economia-mundial-diz-instituto-britanico> Acesso em 17/03/12).

27

de sua criação. E nesta evolução das ações cooperativas e coordenativas pelas quais

prestam à sociedade muitas delas confundem na realidade e na prática o seu verdadeiro

objetivo e sua real missão. Contudo “[...] em sua ânsia de reprodução, muitas

organizações desviam recursos destinados a realizar os objetivos originais para os quais

foram estabelecidas e os investem em propósitos de interesse de sua própria burocracia”

(SROUR, 2005, p. 141 e 142).

Na prática elas são entidades que possuem vida própria e se fazem perceber na

singularidade da história. As relações que formam as estruturas das organizações como

um todo são mensuradas por relações coletivas através da formalidade de seu caráter e

na impessoalidade quando seus agentes sociais, aparelhados de instrumentos de

trabalho, processam através da matéria-prima resultando em produtos finais, ou seja, os

meios de produção em massa ainda fazem o objetivo primordial de muitas empresas.

Todavia há uma lacuna no meio delas, e principalmente entre as instituições religiosas

que abrangem um patamar considerável (SROUR, 2005). Elas também são formadas

por atos informais de associação e por meios pessoais, pois, a exemplo, quando um fiel

vai a uma igreja, ele, movido pela razão quer encontrar através do serviço disponível

pela instituição uma solução para seu problema através da unidade que os fiéis

comungam (fé). Essa subjetividade está ao alcance de todos e conectam os indivíduos

associados, como uma relação de bem comum e não somente auferido a alguns no topo

hierárquico, aproveitando o excedente econômico que o trabalho tende a gerar dentro do

sistema capitalista.

As dimensões dessas instituições vão muito mais além de uma estrutura

material e de um sistema de poder, mas de um “[...] composto por saberes (patrimônio

intelectual) e por padrões culturais que são inculcados e praticados pelos agentes

sociais” (SROUR, 2005, p. 153) importado do seu ambiente externo e aplicados

internamente servindo para distinguir todo o espaço econômico, político, social,

administrativo e religioso da mesma. Essa gama de abrangência do seu raio de atuação

demarca “[...] o terreno das variações possíveis das relações de poder e das relações de

saber” (SROUR, 205, p. 154) e atua como sistemas abertos em seu ambiente celebrando

a convivência social ou a afastando. Fazem parte da estrutura organizacional das

instituições religiosas dentro de sua missão os processos visando o longo prazo

orientando-as para os meios e os fins que devem ser absorvidos como parte da cultura

das mesmas, onde “[...] a gestão social prioriza esse procedimento como instrumento de

28

descoberta e declaração explícita da missão e mobilização de suas forças” (CABRAL,

2007, p. 138).

Ainda segundo Cabral (2007) essa missão tem um sentido mais abrangente e

duradouro do que nas empresas de primeiro e segundo setores (públicos e privados),

pois elas foram criadas para cumprirem essa missão na íntegra e são regidas por dogmas

auferidos através desses objetivos organizacionais, destarte, a construção do grupo

social que as envolvem, está diretamente ligada com crenças comuns e questões de

cultura histórica, ou seja, um organismo vivo, que interage na realização da finalidade

proposta e da visão, que por sua vez, esboça a noção onde as empresas desejam alcançar

comportando também os seus preceitos, mas que também precisa ser apoiada em

análises do ambiente e das oportunidades para funcionarem.

Questão essa em evidência carente de verificação e não somente pela

subjetividade, pois para alguns, se não tivesse esses dois vieses (missão e visão), não

passaria de utopias “[...] que expressa entre os pressupostos constitutivos da utopia o

objetivo de experienciar a fronteira da sociabilidade como forma de sociabilidade e a

reinvenção de mapas de emancipação social e subjetividades com capacidade de os

usar” (SANTOS, 2000 apud CABRAL, 2007, p. 139).

Uma instituição religiosa não se subsistiria somente pela sua atuação religiosa

ou dogmática, mas necessariamente, deve desenvolver o seu fluxo administrativo como

entidade formada por indivíduos que se socializam e trocam informações necessárias à

subsistência da mesma, para então, constituir formalmente sua identidade pela qual foi

criada. Ela experimenta uma abrangente área de atuação quando, geralmente,

introduzem em seu ambiente interno, pessoas de diferentes classes sociais e perpetua

seus valores através desses indivíduos, que garantem a durabilidade da visão e a

propagação fiel da missão da mesma, refletida, principalmente em seu ambiente

externo. Influencia no comportamento de seus membros fora dela, que são estimulados

a disseminar sua imagem, não só para as similares que abstraem sua linha de

pensamento, mas também a grupos sociais com posicionamentos diferentes.

Registros na história eclesiástica exemplificam através da mudança de foco

entre a missão e a visão destas instituições que abstraem em seu núcleo outros

posicionamentos e forçam mudar seus paradigmas. Como o que ocorreu entre uma

guerra teológica formada por fundamentalistas e neoliberais – fundamentalismo aqui

descrito como àquelas igrejas que aderem de forma clara a determinadas doutrinas que

29

para outras, da atualidade principalmente, são consideradas antigas e ultrapassadas e

neoliberais como grupos que abraçam o pluralismo religioso, disfarçando a democracia

e impulsionando o relativismo teológico. Em termos denominacionais o termo

fundamentalismo floresceu no Brasil, em especial no Nordeste e São Paulo, entre as

igrejas fundamentalistas Presbiterianas e Batistas, por exemplo, durante a década de 50

e que atualmente estão fazendo o inverso, retornando às suas igrejas reformadas. Em

outros casos tal fundamentalismo foi marcado por laços financeiros e ideológicos

(LOPES, 2008).

As instituições religiosas estão diretamente influenciando os stakeholderes em

sua área de atuação e estão infiltradas na cultura e filosofia de seus adeptos em uma

forma maciça de propagação, ou seja, são instituições que estão dentro de outras

organizações e mudam paradigmas através da religião; umas mudanças são vistas como

positivas e outras negativamente, dependendo da dimensão e do tipo de influência.

30

2.2 TERCEIRO SETOR E A INFLUÊNCIA CAPITALISTA NA

GESTÃO SOCIAL DOS LÍDERES RELIGIOSOS OCIDENTAIS

2.2.1 Estrutura Organizacional e Hierárquica das Instituições Religiosas

O modo pelo qual as instituições religiosas estão organizadas: suas bases e

dispositivos de expansão, sua hierarquia, suas instituições de poder, assim como seus

principais agentes religiosos constituem sua estrutura organizacional. A antiga

influência da estrutura organizacional da igreja Católica serve de base para muitas

organizações do presente e forma por um longo período de tempo uma hierarquia tão

simples e eficiente, que sua amplitude e poderio puderam ser eficazes através do

comando de um só gestor – o Papa – onde as normas administrativas e os princípios de

organização pública, de certa forma, foram transferidos do Estado para a igreja, assim

como as organizações militares (onde as teorias da administração surgiram, e também a

contribuição do princípio da direção), que estavam contrárias com a ação política destes

Estados que tinham propósitos e objetivos diferentes.

As instituições religiosas seguem essa mesma linha administrativa quando

englobam a hierarquia e a sua estrutura como organização; e o seu crescimento e

expansão estão sendo alvos de estudo, pela própria igreja Católica e por intelectuais,

que outrora passou despercebido, mas que atualmente essas igrejas possuem destaque na

organização e estrutura do espaço urbano. Esta pesquisa, uma vez que concentra a

expansão dos templos em um determinado setor geográfico, também visa esse impacto

das possíveis segregações espaciais, migrações comportamentais, alterações nas classes

urbanas e possivelmente estratégias de ocupação territorial dessas igrejas. Há uma

relação entre espaço geográfico e religião com identidade organizacional e social na

comunidade que está inserida.

Uma característica importante de todas as religiões é a existência de “espaços

sagrados”, ou seja, locais associados com a realização dos cultos, e que, por essa razão,

adquirem um valor especial para os seus fiéis. Segundo o Antigo Testamento, Jeová, o

Senhor, deu orientações precisas para a construção de um santuário onde o seu povo

pudesse adorá-lo de maneira especialmente significativa, pois tanto o tabernáculo, ou

seja, a tenda portátil utilizada nas peregrinações de Israel, quanto o magnífico templo

construído por Salomão, representavam a presença de Deus no meio do seu povo. Os

31

primeiros locais de culto utilizados pelos cristãos foram alguns recintos públicos e

preferencialmente residências particulares, as conhecidas igrejas domésticas

mencionadas em várias passagens do Novo Testamento (Rm 16.5,14-15; 1º Co 16.19;

Cl 4.15; Fm 1.2). Não se atribuía qualquer valor especial a esses lugares, igualmente

como os judeus faziam em relação às suas sinagogas. O mais importante não era a igreja

como instituição ou como espaço físico, mas o povo de Deus, a comunidade da fé e os

valores adquiridos. Um importante ponto de transição nesse processo evolutivo foi o

impacto causado pelo imperador Constantino, o primeiro líder do Império Romano a

identificar-se com a nova religião do povo, onde mais tarde na Idade Média surgiu o

período em que o poder da Igreja Católica atingiu o seu máximo. A grande ascendência

da igreja sobre importantes áreas da vida e sua relação com o Estado produziram na

Europa o fenômeno conhecido como “cristandade”, uma sociedade caracterizada por

grande uniformidade política e religiosa, sob a liderança dos soberanos e dos papas. Foi

esse o período das magníficas catedrais góticas, que substituíram gradativamente as

fortes estruturas em estilo romano, com suas paredes lisas, suas torres quadradas e sua

aparência de fortalezas (MATOS, 2013).

O retorno a formas de culto mais simples, com o surgimento da Reforma, como

as da igreja do novo testamento, e a devoção consciente e imutável dirigido à Trindade,

levaram a uma redefinição radical da arquitetura religiosa. Em várias partes da Europa,

os templos católicos herdados pelos reformados tiveram suas imagens e altares

removidos, e foi eliminada a existência de espaços separados para o clero e para os

leigos. Todavia, no hemisfério norte, a maior parte das denominações protestantes

históricas (luteranos, presbiterianos, anglicanos, episcopais, metodistas e outros)

manteve um considerável interesse pela arquitetura e pela arte religiosa, observadas nos

lindos templos dessas confissões existentes na Europa e nos EUA. Foram os grupos

mais contestadores, como, por exemplo, os anabatistas, os quacres e mais tarde os

pentecostais, que passaram a utilizar templos deliberadamente simples e despojados no

início de sua expansão, porém, tanto no caso dos primeiros quanto dos últimos, o

santuário nunca chegou a ter a importância e o simbolismo místico que possui nas

tradições católica e ortodoxa. Durante o século XX e posteriormente XXI, com o

processo de nacionalização de muitas dessas igrejas, foi que os seus templos passaram a

manifestar as preferências e aparências locais. Em países como o Brasil, a posição da

Igreja Católica como religião oficial, e ao mesmo tempo o desejo de atrair imigrantes

32

europeus, fez com que os legisladores autorizassem os protestantes a construir os seus

templos, contanto que não tivessem forma exterior de igrejas. Isso contribuiu para o

empobrecimento arquitetônico e artístico dos templos evangélicos, em grande parte

monótonos e pouco atraentes, contudo, após a expansão e crescimento dos evangélicos a

importância dada aos templos fez com que as Instituições Religiosas passassem a serem

percebidas pela sociedade através de templos suntuosos e também pela quantidade

imensa de filiais espalhadas geograficamente (MATOS, 2013). Hoje esses templos se

espalham de forma impressionante, chegando a competirem uns com os outros por

espaço em bairros e ruas; observadas também no município de Caruaru (PE).

Esta expansão das igrejas evangélicas no espaço brasileiro seguiu paralela ao

processo de urbanização e industrialização do país. Analisando as instâncias

hierárquicas verifica-se que há um organismo supralocal, onde o mesmo possui alcance

nacional ou regional e é constituído de membros investidos da alta administração.

Esta jurisdição de poder rege e orienta as várias igrejas que compõem uma

determinada denominação. Na sequência hierárquica e em subordinação, estão as igrejas

locais. As principais igrejas locais atuam como sedes do poder local e, geralmente, são

igrejas principais, isto é, templos-sedes ou igrejas-matrizes, que por sua vez, cada

templo-sede possui uma ramificação de igrejas menores e dependentes (chamadas de

igrejas filiais), salões e pontos de pregação. Esse tipo de expansão é visto em igrejas

Pentecostais (Assembleia de Deus, Congregação Cristã do Brasil, etc.) e também nas

neopentecostais (Igreja Universal do reino de Deus, Nova Vida, Deus é Amor,

Congregacional Vale da Bênção, etc.), diferentemente das igrejas históricas tradicionais

(Presbiteriana, Metodista, Batista, Congregacional e Luterana) assim como o

catolicismo romano, que possuem um clero profissional que centraliza todas as decisões

e não descentralizam tanto suas filiais.

Essa rigidez centrada nas igrejas históricas refere-se às instâncias de poder que

estas estruturas religiosas assumem, pois, caracterizam um governo legal-hierárquico

que descrevem uma linha vertical onde os pontos mais baixos e intermediários são

executores de diretrizes e orientações dos mais altos. Por outro lado quando se descreve

a descentralização e a flexibilidade encontrada na forma espontânea de expansão das

Igrejas Pentecostais e na sua divisão interna, reforça-se o sentido de independência que

as tais igrejas promulgam, destarte apresentarem a descentralização como a força

motora que impulsiona todo o ciclo de crescimento pentecostal. Segundo Read (1967)

33

os templos-sede que não se descentralizam podem se fossilizar, perdendo a influência

como agente de evangelização e de crescimento dinâmico, portanto, a reprodução

pentecostal se dá de forma descentralizada e essa descentralização se faz em processo

contínuo.

Os pontos de pregação (quase nunca utilizados pelos evangélicos históricos),

ou grupos de nucleação9, constituem a base da hierarquia pentecostal. Eles são produtos

de uma importante prática de evangelização bastante utilizada pelo pentecostalismo,

originária da Igreja Evangélica Assembleia de Deus.

As religiões evangélicas, apesar de não poderem ser consideradas um

fenômeno urbano10

(pois é nele que elas encontram amplitude para sua expansão, sendo

essa uma de suas características) é no meio dessas camadas menos favorecidas

economicamente que a maioria (não todas) dessas denominações prefere atuar para sua

expansão, desencadeando posteriormente tal fenômeno.

Conforme Pinho (2000), o modo de atuação dessas igrejas evangélicas, já

analisadas posteriormente, se resume em duas formas distintas: a forma estrutural das

igrejas tradicionais, onde há maior rigidez de sua estrutura organizacional e eclesiástica

e outra de forma mais descentralizada e flexível como é o caso das denominações

neopentecostais, embora estas em determinados momentos também possuam certa

rigidez, mas não como as tradicionais, marcam uma determinada linha estratégica que

tem sido muito eficiente observando a difusão das mesmas, ou seja, se for analisado

tendo como referência o percentual de crescimento, tanto das denominações quanto do

número de crentes em todas as esferas.

9 A nucleação é uma prática informal, através da qual um crente ou um pastor reúne em sua própria casa,

ou mesmo em qualquer outro lugar, um pequeno grupo de não crentes curiosos em conhecer a Bíblia. Foi

e continua sendo uma estratégia proselitista (estratégia de conversão) bem sucedida que abarca de forma

bem clara a dimensão territorial (A Representação Político-Territorial dos Pentecostais no Rio De Janeiro.

Autoria: Cristina Lontra Nacif: Prof.ª da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal Fluminense e

Mônica Sampaio Machado: Prof.ª do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio de

Janeiro). 10 O processo de urbanização crescente da humanidade, iniciado no século XIX, verificou-se

primeiramente nos países pioneiros da Revolução Industrial. Nos países do Sul subdesenvolvido, este

fenômeno só tomou corpo a partir de 1950 em função da combinação de dois fatores: o êxodo rural e um

expressivo crescimento vegetativo da população. O mundo atual vive um acelerado processo de

urbanização. Atualmente, mais da metade dos quase 7 bilhões de habitantes do planeta já reside em centros urbanos. [...] Segundo a ONU, em 2025 pouco mais de 60% do contingente demográfico total do

mundo morará em cidades (Recuperado do site:

<http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp? n=393&ed=4> Acesso em: 29 de abr.

de 2012).

34

A religião evangélica, principalmente seu ‘braço’ pentecostal tem sido apontado por

vários estudiosos como sendo uma religião dos pobres e oprimidos. [...] segundo o

IBGE (2000), é nas camadas de menor poder aquisitivo que se concentram os

maiores números absolutos de população evangélica. O que por si só não pode ser

apontado como causa do fenômeno. [...] a população pentecostal aparece como a de

menor quantidade de anos de estudo regular, o que também não deve ser colocado

como fator de causa para o crescimento desta religião, pelo menos não isoladamente.

[...] A estrutura organizacional de uma igreja evangélica é composta por quatro

instâncias hierárquicas: organismo supralocal, templos-sedes, igrejas filiais, salões e

pontos de pregação. [...] Essa estrutura pode mudar de acordo com o tamanho da

denominação e seu número de fiéis, serve apenas como demonstração básica para

um maior entendimento do leitor (PINHO, 2000, p. 3 e 6).

Outro fator facilitador dessa expansão territorial dos neopentecostais é atentar

para o fato dos líderes de linha (ou liderança média) possuir pouca qualificação para

dirigirem uma igreja (geralmente filial), bastando somente um conhecimento empírico

da Bíblia e posteriormente uma vida íntegra na comunidade local, o que difere de uma

religião tradicional liderada por um gestor, geralmente possuindo uma formação

acadêmica, além da conduta ética na sociedade. Há alguns casos em que esse assunto

está sendo revisto o que implica dizer que se postula pela necessidade de seus líderes,

além de uma vida ética, serem formados secularmente.

Geralmente as instituições religiosas têm uma hierarquia baseada no modelo

Funcional com ênfase nos aspectos mecanicistas, ou seja, “[...] o modo mais simples de

departamentalização [...] que tanto pode ser usado pelas organizações de grande como

de pequeno porte, [...] a estrutura pode evoluir para outras formas mais complexas”

(MAXIMIANO, 2008, p. 196) em que na prática existe um administrador principal que

comanda um conjunto maior com departamentos hierarquicamente organizados, ainda

que geograficamente espalhados. Nesse modelo o gestor tem pleno o controle dos

processos da organização e certeza de que as atividades se orientam para a missão da

mesma, porém essa estrutura, baseada na expansão da instituição religiosa, tende a se

tornar muito complexa e com uma hierarquia verticalizada extremamente formal. Há

uma sobrecarga pastoral. Elas também possuem características burocráticas com uma

adequação às condições ambientais estáveis; descritas por Max Weber (2006). Incluem-

se aqui a grande maioria das igrejas históricas: as igrejas Batistas, Metodistas,

Presbiterianas, Congregacionais, algumas Pentecostais (Assembleia de Deus,

Congregação Cristã no Brasil, Deus é Amor), etc. Já quando a ênfase é mais

evidenciada para a descentralização dos processos as instituições religiosas agregam um

modelo mais flexível, orgânico, que são características de ambientes dinâmicos, com

35

organogramas em contínua construção e redefinição das tarefas. Aplica-se a esse

modelo uma hierarquia mais horizontal ou achatada. São exemplos as igrejas: Igreja

Universal do Reino de Deus, Igreja Congregacional Vale da Bênção, Igreja Renascer

em Cristo, Igreja Internacional da Graça de Deus, etc., geralmente incluídas entre as

igrejas neopentecostais.

Conforme Maximiano (2008) nenhuma organização é exclusivamente

mecanicista ou orgânica, todavia, há uma combinação de ambas e é explicada pela

teoria situacional11

, em que os modelos de organização se adaptam a diferentes

circunstâncias e variantes, tais como: estratégia, tecnologia, recursos humano e

ambiente (interno e externo), ou seja, seu capital intelectual12

. As organizações precisam

de um plano estratégico com base a um padrão comportamental holístico e sistêmico em

relação ao seu ambiente e com base a sua atuação diante da concorrência que podem

englobar: os níveis de envolvimento hierárquicos, que se projeta, quase sempre em

longo prazo quando estão inseridas a missão e a visão da mesma na busca de objetivos

mensuráveis, aptidão para retroceder quando são identificados erros nas tomadas de

decisões e a busca de uma sinergia ampla entre os envolvidos.

Tais estratégias são mensuradas a partir de aspectos ambientais e análise

organizacional revelando as ameaças e as possíveis oportunidades que devem ser

aproveitadas, assim como estudar pontos fracos e fortes das organizações, gerando uma

vantagem competitiva ante as demais. As instituições religiosas não são diferentes, mas

elas agem de acordo com estratégias, processos logísticos e estruturas organizacionais

modernas, ainda que algumas não vejam (mas realizam na prática, ainda que

inconscientemente) esse lado, pelo fato de acharem que religião e sistemas humanos não

se coadunem.

11 A Teoria (ou Modelo) Situacional desenvolvida por Paul Hersey e Kenneth Blanchard e publicada na

obra de ambos: "Management of Organization", é uma teoria situacional de liderança que se baseia na

ideia de que o estilo de liderança mais eficaz varia consoante a maturidade dos subordinados e consoantes

às características da situação. Os autores do modelo defendem que um líder eficaz é aquele que consegue

identificar e diagnosticar corretamente a situação e o nível de maturidade dos seus subordinados,

adotando de seguida o estilo de liderança mais adequado. Um dos conceitos-chave desta teoria é, desta

forma, o nível de maturidade dos subordinados relativamente ao seu desempenho das tarefas (incluindo o

seu desejo de realização pessoal, a sua disposição para aceitar responsabilidades e a sua

capacidade/aptidão para executar a tarefa) (Recuperado do site:

<http://www.knoow.net/cienceconempr/gestao/teoriasituacionalherseryblanchard.htm> Acesso em 29 de abr. de 2012). 12 “Brooking (1996:12-13) define Capital Intelectual como uma combinação de ativos intangíveis, frutos

das mudanças nas áreas da tecnologia da informação, mídia e comunicação, que trazem benefícios

intangíveis para as empresas e que capacitam seu funcionamento” (ANTUNES, 2000, p. 78).

36

2.2.2 A Influência Capitalista no Protestantismo Ocidental

“A Reforma protestante ocorreu no século XVI, período em que as

oportunidades para acumulação de capital, tão necessária para a posterior produção

capitalista em grande escala, foram maiores do que nunca” (HUBERMAN, 1986, p.

154).

Há aproximadamente meio século os evangélicos são a religião que mais

cresce no Brasil, desde os primeiros reflexos da reforma protestante e seus idealizadores

que iniciaram há quase 500 anos atrás e fragmentou o movimento em várias correntes

com diferenças teológicas e doutrinárias, até a presença maciça de sociólogos que

incrementaram não só a teologia como também a política e a economia e abordaram

críticas às descontínuas negligências para com o papel do cidadão num ambiente

democrático ou social, por vezes em ângulos diretamente opostos. Analisando Karl

Marx, o mesmo possuía uma visão negativa da política, o que implicaria dizer que,

segundo ele, não existe uma teoria geral do Estado, e por isso deveria ser extinto

(BOBBIO, 1997), ao passo que Max Weber, defendendo a política, era a favor de uma

burocracia permeada por uma eficiente forma de controle democrático

(TRAGTENBERG, 1997). Sociólogos, semelhantes a estes citados, foram responsáveis

por forçarem um debate, já por outros iniciados, sobre o capitalismo que ora aliena, ora

visa o lucro certo das organizações em detrimento do trabalhador ou ora trás progresso e

inclusão social.

Igualmente, é de importância ressaltar que também há uma dupla opinião

quando ambos os sociólogos (Weber e Marx) retratam a relação entre religião e

capitalismo. Marx não reinterpretou a religião, porém passou a denunciá-la como

inimiga do progresso. “A religião é na verdade a autoconsciência e o autoconhecimento

do homem, enquanto este ainda não estiver encontrado meios de se sustentar em pé no

universo [...] O homem é o mundo dos homens, o Estado, e a sociedade” (BROWN,

2007, p. 115). Ele via nesta sociedade o fator gerador que produz a religião de forma

nociva ao próprio progresso humano. Todavia Marx chamava de vácuo deixado pela

religião e que deveria ser preenchido pelo materialismo13

– materialismo esse,

13 Em filosofia, materialismo é o tipo de fisicalismo que sustenta que a única coisa da qual se pode

afirmar a existência é a matéria; que, fundamentalmente, todas as coisas são compostas de matéria e todos

os fenômenos são o resultado de interações materiais; que a matéria é a única substância. Como teoria, o

37

dinâmico, moldado segundo as linhas da dialética de Hegel – onde a realidade não é

estática, seguindo um curso ascendente de progresso. Ele instigou em sua filosofia as

lutas entre as classes sociais e justificou a evolução do feudalismo para o capitalismo,

deste para o socialismo e deste para o comunismo (BROWN, 2007). Já Weber traça de

forma detalhada o tipo ideal da conduta religiosa da sua época que viria contribuir

decisivamente para o desenvolvimento qualitativo do capitalismo, também chamado por

ele de ascetismo intramundano14

que foi vivenciado por grupos protestantes tais como:

calvinistas, pietistas, metodistas e batistas, já citados anteriormente nessa pesquisa

(WEBER, 2006).

A partir dessa ética protestante existente na sociedade alemã – de onde se

originaram sociólogos como os citados acima, assim como também reformadores como

Lutero – que tinham suas bases formadas por culturas, políticas, economias, religiões e

sociedades diferentes das do Brasil, e foi pela qual houve maciça influência nos

primeiros grupos evangélicos que posteriormente se difundiriam nas cidades brasileiras,

onde a burguesia republicana passou a ver tais movimentos necessários como parte da

construção e modernização filosófica da nação propagada através de missionários

estrangeiros (europeus e americanos). É no início do século XX, que algumas igrejas

entram no cenário eclesiástico com destaque para uma nova forma de pensamento e

passariam a influenciar o perfil do novo evangélico no Brasil através do movimento

pentecostal (REILY, 2003).

Em continuidade histórica vê-se através da plena liberdade religiosa com a

Constituição do Brasil de 1824, e também pela política econômica de abertura do país

ao capital estrangeiro pela Revolução de 1964 (o golpe militar) – um importante canal

de distribuição e expansão das principais denominações no país – de onde “houve um

alto grau de aceitação da intervenção militar pelos protestantes, a princípio pelo medo

de que João ‘Jango’ Goulart estivesse conduzindo o país a um caos socialista e

possivelmente à guerra civil” (REILY, 2003, p. 309), e dessa forma os protestantes,

materialismo pertence à classe da ontologia monista. Assim, é diferente de teorias ontológicas baseadas

no dualismo ou pluralismo. Em termos de explicações da realidade dos fenômenos, o materialismo está

em franca oposição ao idealismo e ao metaficismo, deixando bem claro que o materialismo pode sim se

correlacionar com o idealismo e vice-versa em alguns casos, mas o real oposto da materialidade é mesmo

o sentido da metafisicidade (<http://pt.wikipedia.org/wiki/Materialismo>). 14

O agente dinâmico [...] para tanto se fazia necessário exercê-lo da forma mais metódica possível, com o

maior grau de racionalização, otimizando os recursos e maximizando os resultados, como era compatível

com a conduta dos eleitos, que não estavam em busca do reconhecimento neste mundo, mas de realizar o

que é agradável a Deus (WEBER, 2011, p. 18 e 19).

38

mesmo apolíticos em sua forma de pensar, refletiam fielmente uma mentalidade

majoritária, e uma oportunidade para se firmar como identidade religiosa (REILY,

2003).

Destas transformações sociais o Capitalismo, já bem alicerçado nos EUA e

resto do mundo, se faz perceber nas organizações brasileiras de forma mais dominante e

sobre as classes menos favorecidas por ele dominadas. Weber argumentava que o “[...]

Capitalismo, porém, identifica-se com a busca do lucro, do lucro sempre renovado por

meio da empresa permanente, capitalista e racional (2011, p. 26)”. Ele ainda explicava

que um grande problema, porém não impossível de mensurar, era demonstrar a

influência de ideias religiosas no desenvolvimento de um espírito econômico, ou seja,

uma conexão do espírito da moderna vida econômica com a ética racional da abnegação

protestante; e quais elementos faz parte da ética econômica das religiões ocidentais que

as diferenciam das outras religiões mundiais, como do Oriente, por exemplo,

concentrando em sublinhar as ligações causais entre o protestantismo e o capitalismo.

Observamos a mesma coisa nas estatísticas de filiação religiosa de qualquer parte

em que o capitalismo, na época de sua grande expansão, pôde alterar a distribuição

social conforme suas necessidades e determinar a estrutura ocupacional [...] Resta,

por outro lado, observar o fato de os protestantes, [...] quer como classe dirigente,

quer como subordinada, tanto em maioria como em minoria, terem mostrado uma especial tendência para desenvolver o racionalismo econômico (WEBER, 2011, p.

39 – 42).

De fato, vários grupos sociais que vivem na periferia desse processo – o que

por vezes é o caso das instituições religiosas quando se aborda a hierarquia das

necessidades das mesmas já identificadas por Abraham Maslow – ainda hoje estão

pouco envolvidos ou adaptados às novas condições do capitalismo moderno e “[...] com

o colapso do tradicionalismo e a quase total extensão da livre empresa econômica,

mesmo no interior do grupo social, a novidade não foi, no geral, eticamente justificada e

encorajada, mas apenas tolerada como fato (WEBER, 2011, p. 54)”. O que sempre

sugere entre as sociedades por mudanças e transformações para adaptação ao ambiente.

Abraão Harold Maslow (1908-1970), psicólogo americano, lançou durante a

abordagem comportamental da administração científica as bases para a Teoria das

Necessidades Humanas ou Hierarquia das Necessidades Humanas, onde segundo ele

“[...] o homem é motivado por necessidades organizadas em uma hierarquia de relativa

prepotência, ou seja, [...] uma necessidade de ordem superior surge somente quando a

39

de ordem inferior foi relativamente satisfeita” (CARAVANTES; PANNO;

KLOECKNER, 2006, p. 106).

Numa sociedade desigual em que os indivíduos vivem um problema estrutural

globalizado, fugindo dos perigos, buscando abrigo, segurança, proteção, estabilidade e

continuidade, a busca da religião ou de uma crença deve estar inserida em um dos níveis

da pirâmide das necessidades de Maslow; Necessidade de Segurança da hierarquia,

como termômetro de sua crença e filiação é o lugar mais propício? Ou também junto

com necessidades fisiológicas básicas está a base da religiosidade dos envolvidos? E se

as necessidades espirituais só se comportassem bem no topo da pirâmide de Maslow

para, assim, haver a motivação verdadeira para a crença e propagação dos valores?

Esses posicionamentos invertem-se quando diferenciamos populações de países centrais

e periféricos? Os membros de uma filiação religiosa poderão estar motivados a

participarem ativamente do convívio social eclesiástico e envolverem-se com a missão e

propagar os valores das mesmas quando estiverem motivados a esse fim. Os gestores

evangélicos têm papel crucial na aproximação ou afastamento de um membro. E os

membros estão diretamente ligados à denominação pelo lugar em que sua religiosidade

pode estar ocupando na pirâmide.

(Recuperado do site: <http://site.suamente.com.br/a-piramide-de-maslow/>

Acesso em 12 de mar de 2013).

Figura 2 – Pirâmide de Maslow

Busca da religião

ou de uma crença

40

(Recuperado do site: <http://www.fabiosampa.com.br/motivacao-e-a-piramide-de-maslow>. Acesso em

12 de mar de 2013).

Figura 3 – As necessidades Espirituais na Pirâmide de Maslow

O homem é um ser complexo e dotado de necessidades num processo contínuo

do nascimento até a morte. Não é estranho perceber que aplicando essa teoria à

realidade cristã podemos perceber que o comportamento do ser humano é semelhante na

busca pela hierarquia destas necessidades intrínsecas em seu ambiente de vida. Hoje o

que mais assola mesmo nas igrejas locais são pessoas necessitadas, quer sejam pela falta

de estrutura familiar, surgimento de doenças, educação fragilizada, falta de emprego,

rejeições sociais ou pelo acúmulo de problemas.

Uma expressão escrita por um mestre em Administração e professor de

Estratégia e Marketing, Marcos Morita nos chama a atenção para o quanto o público lá

fora estão sintonizados nas transformações que a sociedade passa, sobretudo os

evangélicos; ele aponta para um crescimento e grande aderência entre as atitudes e

padrões de consumo da emergente classe média e o seu poder aquisitivo nesses últimos

anos e que “[...] as igrejas evangélicas souberam aproveitar esta lacuna, inserindo-se nas

comunidades de forma pioneira, antes mesmo da explosão do consumo” (MORITA;

Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/brasileiros-na-

argentina-os-novos-sonhos-de-consumo/46296/> Acesso em: 08 de ago. de 2010). Na

verdade o que ele está querendo afirmar aqui – isso ele engloba todos os evangélicos – é

que as igrejas foram aproveitadoras da ‘inocência’ da maioria subdesenvolvida das

pessoas e com suas doutrinas conduziram-nas ao rol de membros das suas instituições,

ou seja, diferentemente da reforma protestante alemã ou da revolução industrial na

Inglaterra, a aculturação em ambientes diversificados, como no Brasil, encontraram

brechas proporcionais ao tipo de sociedade e indivíduos que a absorveram dentro do seu

limite cultural e de desenvolvimento, contudo, estudos mais profundos podem

41

direcionar a outras conclusões, pois o fato por si só não pode definir a religiosidade no

Brasil.

De todo modo, este constitui um campo de investigação que vem engolfando

crescentemente maior número de questões, tornando-se mais complexo, abrangente

e relevante. Envolve questões referentes ao pluralismo religioso, à ética, à ampliação

das fronteiras do campo religioso e das formas de inserção social das denominações

pentecostais, à transformação de igrejas em empresas lucrativas, às demandas

sociais ao Estado para fiscalizá-las e controlar seus negócios e empreendimentos (MARIANO, 1996, p. 16).

Indícios históricos concentram a pobreza entre os neopentecostais e

demonstram essa atratividade pela mensagem pentecostal, em sua múltipla variedade de

formas e conteúdos, nas classes sociais periféricas, de onde deriva justamente a sua

adaptação às demandas por resultados concretos e por vezes abstratos (no âmago

espiritual) condicionados pelas condições de vida na pobreza e na marginalidade,

constituindo uma estratégia institucional para competir no mercado religioso. Essa

forma capitalista e mercantilista ocorre quanto menor forem as forças internas e

externas, assim também como menos barreiras existirem, porém, tais igrejas são

socialmente vistas como instrumentos de enfrentamento da pobreza15

que trazem

positivamente fatores como a melhora da autoestima, o fortalecimento da dignidade, a

criação de uma imagem de decência, de um senso de coerência, de uma nova

identidade, a prática da caridade, a oportunidade de trabalho remunerado (ainda que

dentro da burocracia denominacional), a formação de vínculos informais de ajuda

cooperativa, a ênfase no ascetismo, a restrição ao consumo supérfluo e o incentivo à

poupança (MARIZ, 1996 apud MARIANO, 1996).

Também ao contrário da teoria da evolução das espécies proposta pelo

naturalista Charles Darwin que forçam as espécies em transformações contínuas e que

influenciou os pensadores da administração conduzindo a ideia de que, assim como na

teoria das espécies biológicas, as instituições religiosas tidas como empreendedoras,

também forçosamente devem se adaptar ao ambiente (ao passo que, aquelas que não se

adaptarem a essas mudanças gradualmente serão superadas), e o pensamento

configuracional16

afirma que essa mudança (mutação) acontece, contudo não é gradual,

mas revolucionária e repentina.

15 Mariz, 1996 apud Mariano, 1996. 16

Sugere o pensamento da escola de configuração que tais revoluções são particularidades das grandes

organizações, com padronização em suas rotinas, bem estabelecidas e que estão mais adequadas a

dominarem o cenário empresarial e que tendem a experimentar longos períodos de estabilidade,

interrompidos por curtos períodos de transformações (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000).

42

Essas revoluções são geradas pelo advento de empresas empreendedoras com novas

tecnologias [...] novos setores industriais criados por esses novos negócios

empreendedoriais destroem as empresas e os setores industriais existentes, tornando-

os obsoletos [...] Essas organizações adaptativas permitiriam às empresas inovadoras

absorver os custos e riscos de se criarem novos produtos e serviços e depois

imitariam as adaptações bem-sucedidas (WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2010, p.

29 e 30).

Diante desse exposto tenta-se projetar que o Capitalismo está para o

Neocristianismo, assim como o Comunismo está para o Islamismo Ortodoxo, onde

essas e muitas outras religiosidades populares assumem um papel antropocêntrico e

humanista, ou seja, colocam o homem como centro de tudo, individualizando-o e

projetando-o para os interesses de classes politicamente dominantes, afastando-se

completamente do que está escrito nas páginas dos seus livros sagrados: A Bíblia e o

Alcorão, de onde provém à práxis documental da fé de seus membros. Outrora ao

estremo Lenin17

descrevia a religião como: “[...] uma das formas de opressão espiritual

que pesa em toda a parte sobre as massas populares, esmagadas pelo seu perpétuo

trabalho para outros, pela miséria e pelo isolamento (1ª edição publicado no jornal

Nóvaia Jzni, nº 28 de 3 de dezembro de 1905 – O Socialismo e a Religião)”, e Weber

por outro lado dizia que estava interessado “[...] na influência de tais sanções

psicológicas, originadas nas crenças e práticas religiosas, que orientavam a conduta

prática dos indivíduos e assim a mantinham (WEBER, 2011, p. 83)”; Mesmo que por

lados opostos e como influentes para pensamentos políticos/religiosos de suas épocas,

ambos estavam afirmando a importância da religião no cotidiano das pessoas e sua

visão aparente do que ela causava na sociedade e no trabalho como um todo.

Contemporaneamente, as discussões sobre as relações entre ética religiosa,

economia e mobilidade social continuam sendo atuais e tendem a crescer cada vez mais,

porém, num mundo em que cada vez a globalização, o domínio pela lógica do mercado,

pela cultura do marketing e do consumo, pela indústria do entretenimento, por

multinacionais, por grandes corporações financeiras e conectadas por redes mundiais de

computadores, não é mais possível pensar e deduzir, de forma particular nas sociedades

pluralistas e democráticas, a partir de uma religião, baseada na ética da ascese e do

17 Vladimir Ilitch Lenin ou Lenine (Simbirsk, 22 de abril de 1870 – Gorki, 21 de janeiro de 1924), foi um

revolucionário e chefe de Estado russo, responsável em grande parte pela execução da Revolução Russa de 1917, líder do Partido Comunista, e primeiro presidente do Conselho dos Comissários do Povo da

União Soviética. Influenciou teoricamente os partidos comunistas de todo o mundo (pelo seu perfil ético),

e suas contribuições resultaram na criação de uma corrente teórica denominada leninismo (Ética de

Estado). (Recuperado do site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Lenine>. Acesso em 24 de março de 2012).

43

trabalho duro, que possa alavancar e reformular, modelar e transformar uma economia

nacional, quanto mais global (MARIANO, 1996).

Conforme o próprio Mariano (1996) isto é tido como um problema de cunho

sociológico, no entanto, permanece atual e passível de exame, pois o tema é relativo à

expansão e crescimento pentecostal na América Latina, defendendo a tese de que as

consequências moral e social da conversão pentecostal são potencialmente similares às

mesmas descritas por Weber da ética protestante, onde se verifica que a ética de

determinado grupo religioso pode favorecer ou não a mobilidade social de seus adeptos.

Uma questão tratada pelo próprio pentecostalismo.

O crescimento dessas denominações vem sendo assunto de pesquisa por vários

grupos e durante décadas: teólogos, filósofos, sociólogos, gestores, administradores,

etc., e ultimamente tem se intensificado. A crescente expansão dessas novas unidades

evangélicas (filiais) dentro do município de Caruaru, apesar de ser micro, tende a

mensurar de forma holística o que se vê na teoria, pois, nem sempre estão em acordo

com a necessidade investida pela liderança, ou que seja, o aumento de seus templos na

região com o intuito de acessibilidade aos fiéis, contudo, por vezes se veem igrejas com

poucos membros em espaços muito próximos umas das outras, tendo ainda deficiência

em sua assistência e manutenção.

À medida que as igrejas se desenvolvem, aumentam também em

complexidade, como qualquer outro tipo de organização, e naturalmente também outro

desafio é de se manter estável, sob o ponto de vista organizacional, não perdendo os

objetivos e a missão pelas quais foram formadas.

[...] Hoje em dia, em face da evolução cultural e tecnológica, do amplo crescimento

das igrejas como unidades institucionais, da necessidade do desenvolvimento

integral dos recursos da comunidade e das exigências legais do Estado, a boa

organização converteu-se num ingrediente importante do bom êxito da liderança da Igreja (KESSLER; CÂMARA, 2005, p 11).

O que atualmente reflete como principal crescimento organizacional num

mundo capitalista? O que as instituições religiosas descrevem como crescimento? O que

para elas é estar ampliando seus territórios e firmando sua teologia no processo de

administrar, gerando um novo organismo e sendo capaz de retirá-lo da inércia,

conduzindo-o a uma melhor funcionalidade dos seus recursos com o menor gasto

possível? Manter a organização em funcionamento homogêneo e integrado em suas

diversas atividades, reunindo os meios e os recursos materiais e humanos racionalmente

44

são critérios que estão na base da administração eclesiástica e na visão de todo bom

administrador. Em vista disso: quais os interesses dos líderes religiosos para a fundação

de novos templos evangélicos na cidade de Caruaru, e como avaliar esse papel como

gestão social dentro das teorias administrativas? Essas e outras perguntas serão testadas

pela metodologia em ação no campo investigativo.

2.2.3 A Gestão Social Eclesiástica e sua Relevância no Terceiro Setor

Numa perspectiva de pluralidade e crescimento as políticas mundiais voltadas

ao bem estar e coletivo se deparam com uma realidade dura e cada vez mais

centralizada numa minoria, já de muito tempo atrás chamada de burguesia, e alimenta

suas bases ideológicas com uma forma distorcida da realidade humanitária num

contexto social e religioso.

O desenvolvimento de uma nação está intimamente ligado ao grau de educação

em que seus indivíduos estão expostos e posteriormente isto refletirá na cultura, na

política, na sociedade e por que não dizer na religião. Com a fragilidade das estruturas

do Estado e consequentemente sua insuficiência em alternativas políticas de conter esse

hiato, que cada vez mais tende a separar as classes sociais, surge o Terceiro Setor como

uma possível solução para minimizar os danos causados pela ação capitalista no

decorrer das últimas décadas.

A designação de Terceiro Setor aplica-se ao conjunto de iniciativas e organizações

privadas, baseadas no trabalho associativo e voluntário, cuja orientação é

determinada por valores expressos em uma missão e com atuação voltada ao

atendimento de necessidades humanas, filantropias, direitos e garantias sociais

(CABRAL, 2007, p. 2).

Paralelamente a esta ruptura com o bem-estar social o trabalho das ONGs

(organizações não governamentais), vem crescendo em todo mundo e semelhantemente

no Brasil elas tem alcançado seu espaço com o papel de transformação social – papel

este reportado ao Estado – que visa o seu fortalecimento em uma sociedade eticamente

estruturada (não é o caso brasileiro e de muitos outros países situados na periferia do

capitalismo) e que prima por uma ação de missão social com indivíduos voluntários,

não governamentais e sem fins lucrativos – por vezes meras ilustrações de organizações

caracterizadas apenas pela literatura bibliográfica. Elas alcançam em sua área de

atuação “[...] elementos relativos à produção e reprodução da vida societária, incluindo

45

os vínculos de associação e dissociação na família, na empresa, na escola, na igreja, na

administração, na formação do povo [...] (CABRAL, 2007, p. 9)” de forma

intermediária na sociedade civil.

Por essa abordagem destaca-se a influência em que as Igrejas Evangélicas têm

causado nos dias atuais e os meios que as mesmas têm utilizado para se posicionarem

no Terceiro Setor de forma que não passem despercebidas, porém atuantes e

expansionistas. Dependendo da época e da formação econômica, política e social dos

povos, a Igreja tem influenciado a sociedade e o poder público de diferentes maneiras e

é participante das transformações sociais e trabalhistas no decorrer dos tempos em todo

o mundo. Momentos estes que vão desde os mártires de Roma (igreja primitiva), dos

governos comunistas, das segregações raciais (reivindicando a igualdade para todos),

atualmente dos países islâmicos radicais e o número crescente de parlamentares

evangélicos em toda esfera nacional, contrariando o que se propagava antigamente pelos

evangélicos que: Igreja e administração pública eram insociáveis e de competência

apenas formal por parte da população como um todo; um pensamento de quem vive na

periferia do progresso econômico e numa perspectiva de subdesenvolvimento (JESUS,

2001).

Dentre os países subdesenvolvidos, quase todos são excluídos dos benefícios

do crescimento, o que implica dizer que o subdesenvolvimento18

é uma forma de

organização social no interior do sistema capitalista, e que não somente isso, os países

subdesenvolvidos tiveram um processo de industrialização indireto como consequência

dos países industrializados. O que se descobre através dos estudos é que não basta

somente uma crescente industrialização para conter os problemas sociais brasileiros e de

outros países tidos como “emergentes”, mas as bases que delimitam o modo “estar”

subdesenvolvido de um país dependerá de fatores acumulados no decorrer de sua

própria história, da influência da sua religião, da formação de identidade nacional,

dimensão cultural de subdesenvolvimento e porque não dizer o histórico de permanente

dependência dos países periféricos dos centrais.

18[...] Essa perspectiva constituía, além da novidade que encerra uma forma de procurar saídas para os

desafios do desenvolvimento nos países periféricos, desafio esse que [...] sintetiza na necessidade de “explicar, numa perspectiva macroeconômica, as causas e o mecanismo do aumento persistente da

produtividade do fator trabalho e suas repercussões na organização da produção e na forma como se

distribui e utiliza o produto social” (FURTADO, 1961, p. 19).

46

Atualmente a expansão, não só geográfica, mas também doutrinária das

instituições religiosas emergentes promulgam de certa forma um liberalismo teológico,

com uma reinterpretação liberal do Evangelho em termos do envolvimento social ou

teoria marxista, com uma visão cultural igualitária e futurista, rejeitam as bases

ortodoxas, apoiando somente um sincretismo religioso, numa tentativa de fuga a essa

desproporcional realidade social, e em contrapartida, como que a própria administração

eclesiástica tradicional está preocupada com os novos nichos que surgem nesse

mercado; proporcionalmente que cresce a mobilidade entre grupos sociais inseridos nas

classes sociais que se distanciam cada vez mais uma das outras quando avaliada a teoria

das necessidades sociais já postuladas outrora por Maslow e a possível ascensão da

classe C no Brasil ocasionando um impacto na distribuição dessas necessidades.

Por essas mudanças num ambiente competitivo espera-se um posicionamento

estratégico das instituições religiosas, mesmo que estejam inseridas no grupo de

empresas privadas não governamentais; tais denominações dominam um público que

tende a crescer e são alvos dos interesses das mesmas, pois no macro ambiente, num

conjunto político, econômico, social, cultural e tecnológico, fazer uso correto da missão

da religião em si, traçando seus objetivos e metas voltadas para a convergência das

estruturas sociais para uma revisão e mudança de posicionamento racional nas pessoas

tende a ser fundamental para a fidelização desses membros.

Observando o caso brasileiro, pelo qual a Constituição Federal (1824) dá

amplo direito de associação religiosa, mas que na prática, tem formas dicotômicas de

cidadania, que por sua vez assumem, respectivamente, “[...] modelos societários que

privilegiam um ou outro tipo de democracia [...] um orientado para a concessão de

direitos sociais formalmente doados à comunidade – a cidadania passiva – e outro,

orientado para conquista, garantia e manutenção dos direitos sociais fundamentais do

cidadão [...] – a cidadania ativa” (MEDEIROS, 2009, p.60), atesta-se que as igrejas

também tendem a assumir esse papel e por isso ajudam a somar para a forma como a

sociedade civil está exposta diante do espírito do capitalismo moderno e sua ascensão

em detrimento da cultura racional da tomada de decisão participativa e em prol do bem-

estar coletivo. Por essas premissas estão alimentadas também às bases teológicas das

principais igrejas evangélicas do país na conquista da integridade denominacional e da

incessante busca pela unidade da igreja com ênfases para o Evangelho Social e o

47

Liberalismo Teológico, com o aparecimento também, das igrejas institucionais,

prestando serviços sociais, educativos e recreativos.

Talvez não seja demais afirmar que o Evangelho Social levou a sério o pensamento

de Karl Marx (1818-1883), insistindo em que o pecado é tanto social quanto

individual e recuperando o conceito de Reino de Deus em substituição à visão

individual e espiritualista do Céu. O liberalismo, por sua vez, levou a sério o

pensamento de Charles Darwin (1809-1882) e as consequências da aplicação da

ciência moderna à religião (REILY, 2003, p. 163).

Num panorama histórico Gary B. McGee apud Stanley M. Horton (1997)

descreve esta transição nos crentes denominacionais como o “[...] vinho novo (que)

tinha sido derramado em odres velhos”, ou seja, distinguindo-se teologicamente de

muitos movimentos do passado, o pentecostalismo continua sendo o mais fluente e o

que mais tem sido responsável pelo grande avanço missionário e evangelístico nos

últimos anos, superando inclusive outras igrejas históricas tradicionais que são mais

antigas do que o surgimento do pentecostalismo.

A igreja deveria ser o lugar de consolo e também de inspiração para o serviço,

para a proclamação e para a exigência de mudanças em toda a sociedade. “[...] A busca

do projeto de Deus na história da família humana, a prevalência do bem comum sobre o

interesse particular, a busca da paz e os limites do poder político [...]” (CHIAVACCI,

2001, p. 19/20), tudo isso e mais ainda é objeto constante da reflexão e da preocupação

teológica no estudo da moral social e com ela a doutrina social cristã, pois aborda a

moral social e a traição da mensagem Bíblica e as mudanças dos padrões éticos e morais

que estão em nosso tempo, demonstrando que nós somos os próprios agentes dessa

mudança.

Contudo, é válido salientar que as diferenças teológicas e denominacionais não

se evaporaram em meio à emoção de se propagar sua teologia entre os evangélicos.

Nesse enfoque muitas igrejas neopentecostais seguem numa ‘via de mão única’, onde

não há regras, não há leis, não há nada que seja contrária a ideologia dos seus líderes e

seguidores, em completa discordância com igrejas pentecostais clássicas que conduzem

seus rebanhos sob alguns valores implícitos tais como: “[...] a experiência pessoal, a

comunicação oral (também refletida nos testemunhos, revistas e livretes da igreja, na

literatura da Escola Dominical, nos panfletos e nos folhetos evangelísticos), a

espontaneidade, o repúdio ao mundanismo e a autoridade das Escrituras” (HORTON,

1997, p. 23).

48

Outro grande paradigma quando se trata do papel da igreja como ONGs, ou

seja, além de não Governamental é o fato delas também possuírem a característica: sem

fins lucrativos, ou mais precisamente longe do dinheiro e do poder (Cadernos ABONG,

2000). Contudo para uma igreja vir a existir legalmente são necessários alguns

procedimentos que a tornam pessoa jurídica, que vão desde a sua constituição até os

mecanismos que regem seu funcionamento perante a sociedade e que vão regular seu

tipo de atividade. A partir de janeiro de 2003 o Novo Código Civil trouxe profundas

mudanças na estrutura administrativa das igrejas:

Conforme art. 16, inciso I, do Código Civil de 1916, a Igreja enquadrava-se na

legislação como sociedade religiosa. Com a entrada em vigor do novo Código Civil

ocorreu uma importante distinção, pondo fim a discussões sobre o tema. Denomina-

se sociedade a pessoa jurídica constituída para o exercício de atividade econômica,

com a partilha dos resultados entre os sócios, segundo conceitua o art. 981. Já

associação, por sua vez, é uma união de pessoas que se organizam para fins não

econômicos, de acordo com o art. 53, do novo código. A Igreja, perante a lei, é

pessoa jurídica de direito privado (NOGUEIRA, 2008, p. 19 e 20).

A Constituição Federal lembra em seu art. 5º, incisos VI, XVII e XXI, tratando

dos direitos individuais e coletivos, assim como determina regras para a criação e o

funcionamento de associações de pessoas; e no seu art. 44º o que considera pessoas

jurídicas de direito privado:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

seguintes:

[...]

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre

exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de

culto e a suas liturgias;

[...]

XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter

paramilitar;

XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de

autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento; Art. 44º São pessoas jurídicas de direito privado:

I - as associações; Art. 5º, XVII e XXI, Direitos e Deveres Individuais e Coletivos -

Direitos e Garantias Fundamentais - Constituição Federal - CF – 1988.

II - as sociedades;

III - as fundações;

IV – as organizações religiosas; (Acrescentado pela L-010. 825-2003).

V – os partidos políticos. (Acrescentado pela L-010. 825-2003).

VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Acrescentado pela L-

012. 441-2011) (Novo Código Civil Brasileiro. São Paulo: Escala).

É também privilégio atribuído pela Constituição Federal possuírem imunidade

tributária os templos de qualquer culto:

49

Art. 150º Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à

União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

VI instituir impostos sobre:

[...]

b) templos de qualquer culto;

[...]

§ 4º As vedações expressas no inciso VI, alíneas (b) e (c), compreendem somente o

patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das

entidades nelas mencionadas (Novo Código Civil Brasileiro. São Paulo: Escala).

Com o advento destas leis: Lei de Responsabilidade Fiscal 101 de 05.05.2000 e

da entrada em vigor da Lei 10.416 de 12.01.2002 do Novo Código Civil Brasileiro

todos representantes das entidades religiosas e assistenciais deverão estar resguardados

da observância das mesmas, pois o não cumprimento trará implicações por aqueles que

manipulam recursos de terceiros com a finalidade da prática religiosa e assistencialista.

E muitas igrejas, hoje, têm sido alvos da mídia em detrimento da má aplicabilidade dos

seus recursos e pela falta de lisura em sua prática contábil e administrativa

(NOGUEIRA, 2008). O modo como essa mídia vem lidando com a questão da

controversa relação de certas igrejas neopentecostais com o mau uso do dinheiro e cujos

métodos heterodoxos de coleta têm dado ensejo a inúmeras acusações de mercantilismo

e de exploração financeira abalam a missão postulada no cerne dessas igrejas que

primam pela pregressa imagem de retidão moral.

2.2.4 O Processo de Gestão nas Principais Igrejas Históricas e Emergentes

Atualmente as instituições religiosas que estão saindo da sua área de conforto

habitual, são tidas como emergentes, pois, procuram ser fieis aos ensinos cristãos,

bíblicos e históricos, mas também estão interessadas em como a igreja se comporta

como uma agência missionária dentro da cultura pós-moderna. A igreja deverá ter a

capacidade de identificar as ligações de fatos particulares do sistema social como um

todo, pois, é natural que ela não poderá ficar estática, mas nutrirá a experiência coletiva

do processo de globalização, de modo que, não mais cabe ao individualismo ou

exclusivismo vivido por alguns membros e líderes. É a interação do indivíduo com a

sociedade, como agente de transformação do meio em que está inserida, afinal, esta é a

missão do protestantismo histórico.

Tendo em vista a grande diversidade de religiões evangélicas e a grande

50

similaridade entre as mesmas, haja vista, que a maioria delas professa, na sua estrutura,

em um tipo mais desenvolvido de organização formal, legal e burocrático, destarte

serem entidades sem fins lucrativos, mas serem ativas financeiramente, além de

possuírem um cunho basicamente sócio religioso.

Atualmente os efeitos da secularização do Estado, do pluralismo religioso e do

utilitarismo mercadológico são previsíveis e tiveram seus indícios de formação no

passado, pois, não há registro em qualquer estudo por parte da história, antropologia,

sociologia ou qualquer outra ciência de um agrupamento humano em qualquer época

que não tenha professado algum tipo de crença religiosa com uma dominação

tradicional, carismático ou racional-legal. Para um real entendimento, mesmo quando

sistemas burocráticos agem como uma ameaça à liberdade básica dos indivíduos,

reconhecida pelo próprio Max Weber que era um sistema eficiente, porém contrastava

através da dominação e previsibilidade do comportamento do ser humano (PEDROSO,

2004).

As religiões são um fenômeno inerente à cultura humana e a “[...] Teoria da

Administração Científica foi marcada por um cientismo triunfalista, pelo culto do

progresso e pela idolatria da máquina, o que contribuiu, negativamente, para o

surgimento de uma série de problemas sociais [...]” (PEDROSO, 2004, p. 25). Grande

parte de todos os movimentos humanos relevantes tiveram o espírito do capitalismo

como impulsor, e estruturas sociais foram definidas com base em religiões que durante a

maior parte da história da humanidade estiveram vinculados ao poder político e social.

Hoje em dia apesar de todo avanço científico o fenômeno religioso sobrevive e cresce

desafiando previsões que especulam seu fim. A grande maioria da humanidade professa

alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a religião continua a promover

mudanças em sua estrutura, diversos movimentos humanos e mutações entre eles sob

um controle social.

Mudanças estruturais são uma realidade e mesmo as instituições religiosas

precisam estar preparadas para tal, contudo, como determinar o grau necessário de

mudança à organização? Através de um bom planejamento estratégico na estrutura

moderna das instituições religiosas que sofre alterações consideradas através do tempo,

envolvendo mudanças religiosas, culturais, sociais, econômicas, políticas e etc.

Nenhuma organização pode triunfar sem sua missão e seus objetivos, pois, eles

proporcionam um censo de direção.

51

Quando se analisam os recursos e o ambiente em que a organização está

inserida, pode-se prever através de resultados se devem seguir com a estratégia atual ou

modifica-la, lembrando que quanto mais estável for o ambiente, mais fácil será prevê-la.

“Essa decisão deveria ser baseada na possibilidade de identificar hiatos de

desempenho19

[...] (e) os administradores devem verificar seu progresso em estágios

periódicos ou críticos” (STONER; FREEMAN, 1999, p. 141), quando a empresa se

encontra incapaz em programar adequadamente a estratégia.

O planejamento estratégico pode ocorrer em três níveis principais na

organização: no superior, no intermediário e no operacional, evidentemente em

dimensões diferentes e que observando de cima para baixo existe um grau de

complexidade maior enfrentado pelos gerentes superiores do que aqueles enfrentados

pelos gerentes intermediários e de linha. Muitas vezes essas mudanças acontecem de

cima para baixo (do superior hierárquico para as bases da pirâmide), mas também se

acredita que ocorrem mudanças de baixo para cima, tais como um processo de

transformação onde pequenas mudanças dentro da empresa geram uma evolução

orgânica – geralmente no lado micro, na periferia da organização e diferentes dos outros

lugares de mudança (estratégico e intermediário,) que possuem uma forma mais

gerencial, ela absorve uma forma típica de aprendizado do que mudanças planejadas ou

conduzidas, que são programadas e guiadas por interesses maiores no desenvolvimento

organizacional (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000).

Ter visão sistêmica é atuar estrategicamente dentro da organização, e as

instituições religiosas abarcam uma base muito mais complexa, pois, por vezes são

compreendidas e mensuradas pela população consumidora de forma puramente religiosa

e de fé individuais, e quase nunca vista como bem-estar social e coletivo. Com isso a

administração estratégica eclesiástica nem sempre corre por uma via de mão única, pois

fatores como tempo, cultura, religião, ambiente, stakeholders, concorrência, novos

serviços e muitos outros podem impedir a execução da estratégia. Muitas vezes torna-se

difícil prever as mudanças organizacionais. Nem sempre uma estratégia planejada chega

ao final do seu curso, podendo sofrer alterações através do que a administração

programa na realidade. Por vezes elas partem de uma visão inicialmente mecanicista

para outra holística e orgânica.

19 Hiatos de Desempenho é a diferença entre as metas estabelecidas no processo de formulação de

objetivos e os resultados que provavelmente serão alcançados caso se prossiga com a estratégia atual.

52

Consequentemente, uma estratégia pretendida [...] pode ser realizada em sua forma

original, em uma forma modificada ou até mesmo em uma forma completamente

diferente. Ocasionalmente, é claro, a estratégia pretendida pela administração é

implementada, mas normalmente a estratégia pretendida e a estratégia realizada

diferem. A razão disso é que ocorrem eventos ambientais ou organizacionais não

previstos que provocam mudanças na estratégia pretendida (WRIGHT; KROLL;

PARNELL, 2010, p. 37 e 38).

Um caos estaria sendo instaurado no Brasil devido ao avanço vertiginoso das

múltiplas igrejas e sua crise por uma identidade que favoreça ao reconhecimento social

através de uma multiplicidade de “[...] ausência de padrões morais que pautem ao

menos a disciplina eclesiástica, [...]” (NICODEMUS, 2008, p. 20).

Ainda são argumentados os modos como não evangélicos demonstram sua

atual preocupação com o crescimento dos protestantes, alegando rachaduras nesta

geração presente que destroem a estrutura primitiva do cristianismo (o quadro abaixo dá

uma visão cronológica da questão em foco outrora publicada pela Revista Época) que

segundo a ilustração apresentada, teve sua origem no catolicismo romano; fato este

entra em contradição com o que os teólogos e comprometidos com a religião protestante

proclamam nos seus estudos. Uma reforma protestante poderá ocorrer? Estamos em

uma época de estrema mutação no gênero litúrgico e dogmático. Igrejas locais que têm

suas bases reforçadas por dogmas ortodoxos poderão dar o veredito sobre questões que

seriam foco de reformulações, no entanto, as congregações neopentecostais ficariam

apenas na periferia dos assuntos, por não poderem opinar sobre causa tão séria, destarte

pelo fato de possuírem uma estrutura superficial e sem embasamentos históricos.

A recente descristianização do Ocidente permite este leitura da História. A

espiritualidade da Nova Era não é uma moda dos esquisitos da ‘costa oeste’. É a

exótica ponta e um iceberg religioso – a religião sincretista do novo liberalismo –

cujo progresso assustador pode remodelar a vida neste planeta. [...] todas as áreas da

existência são afetadas por essa ideologia utópica [...] Os liberais de hoje encontram

sua espiritualidade não na ortodoxia, mas no paganismo renovado. Mas ‘não há nada novo debaixo do sol’. Os liberais modernos somente imitam seus primos perdidos

no passado, os gnósticos. Para obter entendimento do caos da religião atual, nós

precisamos da perspectiva da História (JONES, 2002, p. 68-82).

53

(Recuperado do site: <http://estrangeira.wordpress.com/2010/08/07/revista-epoca-os-novos-evangelicos/>

Acesso em: 19 de dez de 2010).

Figura 4 – Evolução do Protestantismo

Segundo o Jornal da Igreja Evangélica Congregacional Vale da Bênção,

outubro/2012, o IBGE não divulgou os dados por município, mas quando são levadas

em conta as médias nacional e estadual, Caruaru com aproximadamente 315 mil

habitantes teria entre 63 a 70 mil evangélicos, possuindo um dos maiores redutos

protestantes do interior. Estimativas do IBGE/2010, divulgados no final de junho,

mostraram que a população evangélica no Brasil passou de 15,4% da população

brasileira para 22,2%, o que dá um crescimento de 6,8 pontos percentuais nos últimos

dez anos, e atualmente representa 42,3 milhões de pessoas – sendo esta a segunda maior

religião. Embora o perfil religioso da população brasileira mantenha, no ano de 2010, a

histórica maioria católica, esta religião está fadada ao declínio e vem perdendo espaço

desde o primeiro Censo, realizado em 1872. Em Pernambuco o número de evangélicos

54

cresceu 50% em 10 anos, onde as estatísticas demonstraram que o percentual passou de

13,5% para 20,3%. São 1.788.973 contra 5.834.601 católicos. Dos evangélicos de

origem pentecostal 1.102.485, ou 61,62% estariam representados no Estado ante os

686.488 evangélicos de Igrejas Históricas ou de outras missões (JORNAL DO VALE,

2012).

Na década de 1960, a hegemonia no aumento de evangélicos passou das

históricas igrejas (Batista, Congregacional, Presbiteriana, Metodista, etc.) para as mãos

dos pentecostais, que davam ênfase em curas e milagres nos cultos de igrejas como

Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil e O Brasil Para Cristo. A grande

explosão numérica evangélica deu-se na década de 1980, com o surgimento das

denominações neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Renascer.

Elas tiraram do pentecostalismo a rigidez de costumes e a ele adicionaram a teologia da

prosperidade20

. Sem querer, o movimento pentecostal/carismático se tornou a maior e

mais dinâmica força ecumênica popular no mundo cristão no final do século XX e a

penetração do neopentecostalismo nas igrejas históricas aconteceram e trouxeram à cena

uma nova geração de cristãos que ia além de aspectos geográficos ou denominacionais,

pois se desenvolvia no âmbito espiritual.

Essa visão sistêmica, onde tenta se identificar as ligações de fatos particulares e

transportando ao todo através de habilidades e explicações complexas exigidas pela

ciência, são forçosamente estudadas pelos líderes das igrejas históricas, sabendo que

uma grande maioria de igrejas emergentes forçam as mesmas a serem multidisciplinares

num ambiente organizacional, aferidos por uma atitude sinérgica flexível em

contraposição aos modelos reducionistas, mecanicistas, que valorizam a maximização

do lucro e não por relacionamentos humanos e informais.

Preocupados com o crescimento evangélico (mesmo que horizontalmente

desproporcional em números sem uma verticalidade hierárquica voltada para os moldes

teológicos e dogmáticos), principalmente no Brasil, autoridades acadêmicas se aplicam

incansavelmente na busca pela solução desse aumento vertiginoso, em especial do

neopentecostalismo. O teólogo Augustus Nicodemus Lopes, chanceler da Universidade

Presbiteriana Mackenzie, discute a ascensão e queda do movimento evangélico

brasileiro, retrato desolador de uma geração cindida entre o liberalismo teológico, os

20 ÉPOCA, Revista. Disponível em: <http://estrangeira.wordpress.com/2010/08/07/revista-epoca-os-

novos-evangelicos/> Acesso em: 19 de dez de 2010.

55

truques de marketing, o culto à personalidade e o esquerdismo político.

Um dos maiores estudiosos do fenômeno evangélico no Brasil, o sociólogo

Ricardo Mariano (PUC-RS), vê como natural o embate entre neopentecostais e as

lideranças de igrejas históricas. Ele lembra que, desde o final da década de 1980,

quando o neopentecostalismo ganhou força no Brasil, os líderes das igrejas históricas se

levantaram para desqualificar o movimento, afirmando que o problema é que não há

nenhum órgão que regule ou fale em nome de todos os evangélicos, então ninguém tem

autoridade para dizer o que é uma legítima igreja evangélica.

[...] O sociólogo Ricardo Mariano, autor do livro Neopentecostais: sociologia do

novo pentecostalismo no Brasil (Editora Loyola) oferece uma explicação pragmática

para a ruptura proposta pelo novo discurso evangélico. Ateu, ele afirma que o

objetivo é a busca por certa elite intelectual, um público mais bem informado,

universitário, mais culto que os telespectadores que enchem as igrejas populares.

“Vivemos uma época em que o paciente pesquisa na internet antes de ir ao

consultório e é capaz de discutir com o médico, questionar o professor”, diz. “Num

ambiente assim, não tem como o pastor proibir nada. Ele joga para a consciência do

fiel.” [...] Por isso mesmo, Ricardo Mariano não vê comparação entre o apelo das

novas igrejas protestantes e das neopentecostais. “O destino desses líderes será

‘pescar no aquário’, atraindo insatisfeitos vindos de outras igrejas, ou continuar falando para meia dúzia de pessoas”, diz ele. De acordo com o presbiteriano Ricardo

Gouveia, “não há, ou não deveria haver, preocupação mercadológica” entre as

igrejas históricas. “Não se trata de um produto a oferecer, que precise ocupar espaço

no mercado”, diz ele. “Nossa preocupação é simplesmente anunciar o evangelho, e

não tentar ‘melhorá-lo’ ou torná-lo mais interessante ou vendável. (ÉPOCA, Revista.

Disponível em: <http://estrangeira.wordpress.com/2010/08/07/revista-epoca-os-

novos-evangelicos/> Acesso em: 19 de dez de 2010)”.

A esses problemas soma-se o pragmatismo religioso, tendencioso a construir

igrejas orientadas somente para resultados e que desconstrói a linha teológica pela qual

estas igrejas históricas foram criadas, pois, ensina que a doutrina protestante consiste na

necessidade dela ser útil (somente) propiciando êxito e satisfação aos seus ouvintes

(muito difundido pela teologia da Prosperidade). Satisfação essa embutida no

capitalismo que torna o homem uma simples máquina do sistema e atribui o mérito ao

materialismo mercantilista e na prática antiética da gestão social em instituições

religiosas.

É um conceito extremamente relativista que aufere mais ênfase no

individualismo do que na coletividade e que não está em acordo com as práticas

administrativas voltadas a uma visão sistêmica integrativa, pois que não se molda aos

padrões sociais, mas tão somente políticos e econômicos. O que se procura mensurar é

que esses ministérios (denominações) não podem ser dirigidos pelo mercado, como uma

atratividade e comodidade ao usuário final (membros), mesmo porque, não podem

56

perder a missão pela qual foram criados numa época de crescente expansão religiosa,

mas ser perceptível às mudanças revolucionárias dentro do evangelho, principalmente

como uma empresa empreendedora ou organizações adaptativas e procurando adequar a

uma nova estabilidade entre diretrizes e bases, ainda que históricas, sem prejudicar sua

visão missionária e seus projetos para com a sociedade.

57

2.3 COMPORTAMENTOS SOCIAIS E OCUPAÇÃO TERRITORIAL

PELO AVANÇO DAS IGREJAS EVANGÉLICAS NO MUNICÍPIO

DE CARUARU

2.3.1 Adequação Geográfica dos Templos à Realidade Populacional

A religião de forma genérica hoje é um produto de exportação do Brasil pela

presença de grupos evangélicos em outros países (NERI, 2011).

Entre 1980 a 2010, houve um aumento na classificação das religiões no Brasil

e poucas variáveis socioeconômicas mudaram tanto nos últimos censos demográficos

como à composição religiosa na sociedade brasileira. Com a queda do catolicismo

romano nas últimas décadas – ainda que a partir do ano de 2003 esse número

permaneceu estável, principalmente entre os jovens – os protestantes tradicionais e

pentecostais continuam crescendo, encontrando êxito, agora, entre os sem religião

(NERI, 2007).

Segundo ainda pesquisas da FGV (Fundação Getúlio Vargas/2005) ao

mergulhar na economia dessas religiões a partir do novo milênio advertem no contexto

brasileiro pela tese weberiana e sua relação com crenças e mobilidade social através de

variáveis como escolhas ocupacionais, financeiras e educacionais que se destacam na

argumentação do sociólogo alemão (A tese de Weber era que o estilo de vida dos

católicos inibia a acumulação de capitais e da divisão do trabalho, bases fundamentais

para o desenvolvimento capitalista) que via afinidades entre as inovações nas estruturas

religiosas e econômicas. Seria a tese de Weber aplicada à realidade brasileira? Por certo

as camadas protestantes da Europa eram, na época, composta por fatias diferentes e

demograficamente maiores em adeptos, porquanto que no Brasil a quantidade de

empregadores está sub-representada nas religiões emergentes da pós-reforma, pois os

atributos socioeconômicos21

destas religiões são inferiores às dos católicos,

principalmente quando a variável educação é colocada em pauta. “Seria a percepção da

possibilidade de crescimento profissional e material através das práticas religiosas

extensíveis a base das estruturas pentecostais?” (NERI, 2007, p. 33).

21 Conforme pesquisa da CPS/FGV a partir dos microdados da POF 2009 IBGE.

58

Uma diferença importante que surge a partir da reforma protestante, da

revolução industrial e do desenvolvimento capitalista europeu apontado por Weber são

desassociados do crescimento dos ramos destes evangélicos, sobretudo pentecostais, e

os aspectos econômicos brasileiros. “A maior ligação entre o espírito empresarial e a

organização religiosa seria uma marca dos ramos religiosos emergentes hoje no Brasil –

e na América Latina” (NERI, 2007, p. 6), ou seja, as novas religiões liberaram a

acumulação privada de capital através da igreja em paralelo com a tese weberiana do

protestantismo tradicional em detrimento da culpabilidade católica de acumulação de

capital (NERI, 2007).

O contexto de estagnação econômica das chamadas décadas perdidas de 80 e 90 do

século passado teria propiciado, tanto por elementos de demanda como de oferta, a

busca de novas modalidades de inserção produtiva para lidar com as dificuldades materiais percebidas e de ocupação em meio a crescentes taxas de desemprego e de

precarização do trabalho (NERI, 2007, p. 6 e 7).

Neri argumenta ainda que a demanda por novas opções religiosas são

relacionadas com choques econômicos e sociais variados (violência, informalização,

crises metropolitanas e de desemprego, etc.), assim como também aspectos de oferta de

religião associados às transformações recentes, tais como: substituição do primeiro setor

(Estado) por instituições religiosas percebidas pela satisfação de necessidades básicas

(poupança privada, mecanismos de crédito, aumento de empregos formais nas

atividades religiosas, etc.) e qualidade de acesso a serviços e políticas públicas. A

globalização e revolução feminina (ascensão econômica feminina) também são

responsáveis por mudanças dicotômicas em razões de oferta e de demanda que juntos

somam uma mobilidade religiosa crescente.

Usando a população caruaruense – que segundo o último Censo de 201022

atingiu a marca de 315.000 habitantes – percebe-se um aglomerado de religiões e seitas

propagadas pelos bairros da cidade. Esse aumento, por vezes incoerente com a sua

distribuição geográfica, visa a princípio a disputa pelo crescimento do nome da religião

e depois a maior cobertura de áreas possíveis dentro do seu nicho de atuação. A

logística na distribuição dessas igrejas nem sempre seguem um padrão mensurável de

expansão. Esse crescimento (de forma geral) apontado por Neri (2007) associa os

avanços econômicos na última década ao aumento de 38,5% dos evangélicos

22 Recuperado do site: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/index.php> Acesso em 29 de maio de 2012.

59

tradicionais (de 5,39% a 7,47%), enquanto os pentecostais tiveram crescimento inferior,

de 12,49% em 2003 a 12,76% em 2009. Contudo o doutor e teólogo Augustus

Nicodemus Lopes expõe que não acha o crescimento das igrejas tradicionais atribuído

somente à melhoria econômica dos brasileiros.

Geralmente as igrejas evangélicas para explorarem e se fixarem em uma

determinada área alugam um ponto de pregação e começam os trabalhos de

evangelização, porém, para a realidade caruaruense a grande concentração da população

– sobretudo pela busca de emprego e educação superior – é dada pela migração de

pessoas de outras cidades vizinhas, que são indicadores de aumento da própria

população, e também contribui para dificultar o processo de condução dessa distribuição

geográfica da maioria dos templos na visão dos gestores dessas instituições religiosas.

Haja vista, a maioria de igrejas neopentecostais procurarem esse recurso, ou seja,

trabalhar com nucleações em nichos menores e mais acessíveis, mas as igrejas

tradicionais fazem-se presentes em poucos bairros, porém principais, da cidade e não

em toda a sua distribuição, visando minimizar uma expansão irregular e sem uma

logística dentro dos moldes históricos.

Para a divisão e níveis de expansão destas igrejas dentro do município em

estudo seria necessária uma pesquisa em fontes confiáveis como IBGE e outros órgãos

responsáveis para um levantamento micro dos dados geopolíticos, populacionais e

religiosos – este último por sua vez traçaria um perfil detalhado com localização de

igrejas evangélicas ou não, com número de frequentadores aos cultos, endereço, estilo

de trabalho, reputação no lugar, as principais necessidades socioeconômicas do lugar,

entrevistas com líderes comunitários, órgãos de prefeitura, diretores escolares, outros

pastores, etc. – para então estabelecer novas unidades. Continuadamente num

envolvimento macro aprofundaria a pesquisa em exemplos de sucesso buscados de fora

para dentro do município, trabalhando com grupos e equipes selecionadas para

instalação e permanência nas unidades recém-criadas, estudando o impacto da

implantação da Igreja na nova comunidade e sua possível recepção pelos seus

moradores, influência socioambiental, acessibilidade à comunidade consumidora,

limites entre outras instituições já operantes na região, manutenção financeira e a forma

estética do novo templo no bairro.

O desenvolvimento desta pesquisa pretende ajudar em grande maneira a

atuação destas novas igrejas e posteriormente sua expansão, também a continuidade das

60

igrejas históricas que de forma concisa crescem, assim como a atuação das práticas de

gestão dos seus líderes. Os gestores não podem simplesmente locar um salão e perpetuar

a imagem da instituição que dirige, mas devem partir para um estudo mais detalhado da

percepção da sociedade envolvida com a nova proposta religiosa e isto é mérito de

estudos e análises profundas e sistemáticas.

2.3.2 O Impacto das Segregações Espaciais, Migrações Comportamentais e

Alterações Denominacionais

“Nenhuma religião opera num vácuo” (MADURO, 1981, p. 70).

Toda e qualquer religião é uma realidade situada num contexto humano

específico que vai além de um espaço geográfico, de um período na história, para uma

religião de seres humanos concretos que a compartilham formados por pessoas de

situações específicas tais como: familiar, cultural, econômica, social, política e etc. em

busca de expectativas pessoais e, ou coletivas. Uma religião é mais que uma realidade

socialmente situacional, pois seus agentes se movem dentro de um conjunto de

alternativas finitas com diversos graus de poder e de implicações dos agentes

envolvidos, mas nunca numa sociedade abstrata. Cada grupo humano possui sua

particularidade de produção e se organiza de acordo com seus recursos materiais

acessíveis para constituir a vida dentro do mesmo num dado espaço e fixa os limites

dentro dos quais uma religião pode atuar e quais ações religiosas são possíveis

(MADURO, 1981).

Os valores de conversão, mobilidade, filiação, expansão e modelo de gestão

dependem em muito do tipo de denominação e de suas raízes históricas. Serão eficazes?

Haverá necessidade de mudanças ou devem permanecer como estão? Notadamente

ocorrem mudanças e migrações comportamentais, além de possíveis segregações

espaciais e alterações nas classes urbanas com a chegada destas instituições religiosas

em áreas populacionais.

Os seres humanos – quer saibam quer não – produzem suas próprias relações

sociais, sua associação, sua organização social, suas formas de estruturação coletiva,

produzem – em duas palavras – sua sociedade. Mas os seres humanos não produzem

sua própria sociedade – seja ela qual for – de maneira direta, imediata, mecânica. Não. Os seres humanos produzem suas relações sociais com ações que se acham

limitadas e orientadas – entre outras coisas – por uma visão de mundo, aquela que

eles compartilham. [...] permite a esse grupo [...] situar-se, orientar-se e atuar no seu

meio ambiente natural e social (MADURO, 1981, p. 152 e 153).

61

De certa forma, toda nova visão que realiza a abertura de certas possibilidades,

efetua naturalmente a exclusão de outras já existentes e conduzem o grupo, que a

absorve, por essas novas possibilidades, pois a partir de certas relações sociais de um

dado grupo, influencia ativamente no desenvolvimento dessas relações e ainda às

condiciona (MADURO, 1981).

Se uma religião pode ter influência sobre o desenvolvimento da sociedade, se uma

religião pode desempenhar funções sociais, isto ocorre precisamente – em

primeiríssimo lugar – porque toda religião limita e orienta a conduta dos grupos crentes que a compõem, oferecendo-lhes uma representação compreensível e

comunicável do mundo que, além de organizar a experiência vivida por esse grupo,

o situa e guia no meio ambiente sócio natural (MADURO, 1981, p. 155).

Acontecem, nesse tempo, as migrações comportamentais, onde o

protestantismo penetra a rua, o bairro, porque não dizer a cidade e modifica sua

estrutura social; com as novas segregações espaciais – decorrentes da fundação de uma

nova igreja – o próprio layout da área de atuação é forçosamente modificado e isto

numa dimensão acentuada, devido também a já concentração de adeptos naquele lugar,

ou seja, vizinhos que já transmitiam antecipadamente essa mudança pelo contato

pessoal neste nicho de sociedade, muito antes da construção da igreja; haverá também

uma compartilhada troca de informações entre pessoas de diferentes classes sociais

através de indivíduos que congregam e comutam a mesma denominação, e isto, na

condição de estarem em pé de igualdade dentro da religião, ou seja, todos são iguais

naquele espaço; isto certamente desencadeia alterações nas classes urbanas.

Analisando o município de Caruaru percebe-se que há uma grande quantidade

de igrejas (mesmo que haja uma grande população) que estão localizadas nos lugares

mais imagináveis possíveis e conduzindo a um colapso nas variáveis sociológicas

(família, cultura, religião, política, economia, etc.) e transformando num fato social “[...]

suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior: ou então que é geral no

âmbito de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria,

independente das suas manifestações individuais” (DURKHEIM, 2008, p. 40); como a

mobilidade social, se mensurar a falta de estrutura nos processos de expansão adotados

por certas denominações em estudo, destarte, “[...] as religiões podem influir sobre a

produção, reprodução e transformação das relações sociais, isto é, nessa mesma medida

pode a religião desempenhar funções sociais” (MADURO, 1981, p. 156), contudo, uma

overdose pode desencadear um desequilíbrio nestas funções, quando são colocados os

grupos teológicos e suas origens, seu modelo de gestão, sua estrutura administrativa, seu

62

marketing pessoal, sua ênfase nos processos e a visão que possuem de expansão. Como

Maduro descreve, quando cita a palavra ‘medida’, dando ideia de algo regulado,

nivelado, dentro do padrão, da normalidade, porém, no exemplo fogem dessa medida,

deixam de exercer uma “[...] solidariedade mecânica [...] para uma orgânica quando [...]

a sociedade se vê ameaçada pela desintegração, pois os valores ficam enfraquecidos”

(DURKHEIM, 2008, p. 154).

O fato social23

descrito acima (a propagação das tendências de grupos pela

sociedade) pode ser apontado como a forma geral com que o mesmo se repete na

maioria dos indivíduos e que tem como característica a generalidade (que por sua vez

são sempre manifestações coletivas) apontando para a natureza socióloga dos

fenômenos e podem ser medidos de forma objetiva. O comportamento humano, ainda

que divergente, resulta da expressão de características universais de uma mesma espécie

(COSTA, 2005). O olhar laico e especulativo sobre a teologia religiosa na atualidade

força a sociedade científica a reexaminar a sacralização da estrutura social, “[...]

entendendo que o conflito social é uma realidade passageira e como que acidental no

funcionamento da sociedade” (MADURO, 1981, p. 157). A também relação entre

religião e sociedade se garante através de valores assimilados nas pessoas e

transformados em motivos da ação social; um exemplo, e conforme o próprio Max

Weber argumenta, é que o dever e a tendência ao trabalho são a motivação para o

23

Segundo Emile Durkheim, os Fatos Sociais constituem o objeto de estudo da Sociologia, pois

decorrem da vida em sociedade. O sociólogo francês defende que estes têm três características:

* Coercitividade - característica relacionada com a força dos padrões culturais do grupo que os

indivíduos integram. Estes padrões culturais são de tal maneira fortes que obrigam os indivíduos a

cumpri-los.

* Exterioridade - esta característica transmite o fato desses padrões de cultura serem exteriores aos indivíduos, ou seja, ao fato de virem do exterior e de serem independentes das suas consciências.

* Generalidade - os fatos sociais existem não para um indivíduo específico, mas para a coletividade.

Podemos perceber a generalidade pela propagação das tendências dos grupos pela sociedade, por

exemplo.

Para Émile Durkheim, fatos sociais são "coisas". São maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao

indivíduo, e dotadas de um poder coercitivo. Não podem ser confundidos com os fenômenos orgânicos

nem com os psíquicos, constituem uma espécie nova de fatos. São fatos sociais: regras jurídicas, morais,

dogmas religiosos, sistemas financeiros, maneiras de agir, costumes, etc.

“É um fato social toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma

coação exterior.”; ou ainda, “que é geral no conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo,

uma existência própria, independente das suas manifestações individuais.” Ou ainda: Todas as maneiras

de ser, fazer, pensar, agir e sentir desde que compartilhadas coletivamente. Variam de cultura para cultura e tem como base a moral social, estabelecendo um conjunto de regras e determinando o que é certo ou

errado, permitido ou proibido (Recuperado do site: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Fato_social> Acesso em

02 de out de 2012).

63

protestante ascético24

com suas doutrinas e o efeito que elas causaram no

comportamento dos indivíduos e no desenvolvimento capitalista (COSTA, 2005).

24 Do francês: ascétique < do grego: askétikós.

1 - Relativo a ascetas ou ao ascetismo. 2 - Devoto, místico, contemplativo.

(Recuperado do site: <http://www.dicionarioinformal.com.br/asc%C3%A9tico/>. Acesso em 15 de out de

2012).

64

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

3.1 OBJETO DE ESTUDO

Para a construção desta pesquisa, tendo traçado direções (objetivos) e

caminhos (procedimentos metodológicos) procurou-se justificar, com embasamento

bibliográfico, qual o interesse dos líderes religiosos da contemporaneidade para a

fundação de novos templos evangélicos no município de Caruaru e os modelos de

Gestão Social que suas respectivas igrejas estão sendo trabalhadas; fundamentando a

ideia de inserção dessas respectivas instituições religiosas no grupo de Organizações

Não-Governamentais do Terceiro Setor.

Ainda segundo Rey (2005) o desmembramento do problema esteve

compreendido no interior do sistema metodológico, ou seja, se obedeceram, ou não, a

mesma forma de propagação desenvolvida pelos primeiros grupos que deram origem

aos atuais, ou o que mudou durante as décadas de evangelismo e expansão. Dentro da

metodologia utilizada procurou-se inferir o cenário cultural, social, histórico e religioso

que estas denominações no Agreste Pernambucano fazem parte, tendo em vista serem

diretamente influenciadas por suas tradições e suas raízes pós-reforma e os valores que

seus gestores empregam para conduzirem o processo de gestão. O problema em questão

abriu um leque para visualizar um cenário cada vez mais explorado pelas religiões

protestantes, onde no geral, elas são responsáveis por uma grande quantidade de

templos e pontos de pregação já espalhados no município de Caruaru.

Utilizou-se na pesquisa, além das igrejas históricas (por serem congregações

com décadas de existência, umas chegando a mais de um século, com sua missão e

vocação, do ponto de vista teológico, e agrupam no seu interior um conjunto de práticas

administrativas já introduzidas no início de suas bases fundamentais), outras emergentes

que provocaram uma abrangência notável, apesar de tão pouco tempo de existência.

Contudo esse nicho está cada vez mais sendo expandido e explorado fazendo com que

se tornem competitivas por uma fatia de destaque no mercado, mesmo tratando-se de

instituições religiosas. O modo de desenvolvimento em gerir essas organizações tornou-

se primordial para seus líderes preverem uma estratégia eficiente e não mais em longo

prazo, sabendo que atualmente há uma grande mobilidade entre seus membros nestas

igrejas (históricas e emergentes). Analisando desta forma há urgência de aprofundar e

65

disseminar seus valores. Por esta perspectiva a mensuração dos dados não pôde ser

explorada separadamente, “[...] mas sim por um sistema de pensamento, cujos

momentos distintos se afetam de forma recíproca” (REY, 2005, p. 93) através da

observação, que vincula a imersão sustentada do pesquisador entre aqueles que ele

busca estudar no contexto, e esta por sua vez, estaria complementando o próprio estudo

de caso.

3.2 COLETA DE DADOS

A instrumentalização utilizada para a coleta de dados para as questões

norteadoras foi a aplicação de entrevistas semiestruturadas, permitindo “[...] a

expressão do sujeito em trechos de informação que são objetos do trabalho

interpretativo do pesquisador” (REY, 2005, p. 52) e que as informações giraram em

torno de um ciclo de questões, desde a intervenção do entrevistador para o tema

abordado como parte do processo de motivação ao entrevistado até completando-se pela

codificação dessa informação (ROSA; ARNOLDI, 2006).

A princípio a população estudada na aplicação do pré-teste compreende um

grupo de gestores de instituições religiosas vinculadas a um conjunto de igrejas

evangélicas classificadas como: protestantismo tardio (Igreja Batista, Igreja Metodista e

Igreja Adventista do Sétimo Dia), protestantismo histórico (Igreja Luterana, Igreja

Anglicana, Igreja Congregacional e Igreja Presbiteriana) e movimento pentecostal: 1ª

onda do movimento – Pentecostalismo (Igreja Evangélica Assembleia de Deus, Igreja

de Deus no Brasil, Congregação Cristã no Brasil e Igreja de Cristo Pentecostal no

Brasil), 2ª onda do movimento – Deutero-pentecostalismo (Igreja Congregacional Vale

da Bênção, Igreja Evangélica Pentecostal o Brasil para Cristo, Igreja do Evangelho

Quadrangular e Igreja Pentecostal Deus é Amor) e 3ª onda do movimento –

Neopentecostais ou Emergentes (Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Apostólica

Renascer em Cristo, Igreja Cristã de Nova Vida, Igreja Mundial do Poder de Deus e

Igreja Internacional da Graça de Deus) no município de Caruaru (PE); De um grupo de

20 gestores, que totalizam 100% da amostra, foram entrevistados 14, ou seja, 70%

sendo representada cada uma das instituições religiosas nos grupos citados acima, e os

outros 30% restantes através da visita e observação no ambiente das demais instituições.

Destacou-se ainda que dos três grupos de igrejas a tempestividade das

66

hipóteses levantadas tiveram uma repercussão importante, tanto na pesquisa, quanto

pela receptividade das instituições que abraçaram o tema em estudo, cooperando,

opinando e revendo alguns posicionamentos em relação ao atual papel que elas

desempenham na sociedade. Motivo pelo qual houve uma preocupação de explicar as

etapas que envolveram o planejamento da investigação, seu aprofundamento no campo

empírico e a coleta de dados que nortearam a construção da pesquisa levando em

consideração as falas dos entrevistados, não somente como fazendo parte de uma

orientação acadêmica, mas promovendo a participação humana e sua livre

arbitrariedade nos assuntos tratados; não disseminando a ideia de que exista uma

instituição religiosa que fosse mais favorecida (mesmo que durante a entrevista algumas

se destacaram devido à influência e responsabilidade com o qual seus gestores

demonstraram pelo tema), porém, acatando que todas participam da construção e

desenvolvimento do ser humano complexo em sociedade e são nutridoras dessas

relações para promoverem um melhoramento nos seus papéis sociais.

Ainda relativo à coleta dos dados, “[...] e este por sua vez inseparável do

processo de construção teórica no qual adquire legitimidade [...]” (REY, 2005, p. 100), a

utilização da pesquisa bibliográfica irá coadunar com a entrevista semiestruturada que: é

orientada a facilitar a resposta do sujeito; constitui um sistema que responde a uma

estrutura estratégica buscando diferentes vieses na construção da informação em si; se

complementa analisando a combinação crescente das perguntas; a entrevista não conduz

de início a resultados concretos, mas gera informações que somarão a outras fontes e

instrumentos de pesquisa qualitativa; considera a existência de uma relação dinâmica

entre a situação atual das igrejas e as práticas de gestão social, como sujeito que

compõem uma fatia do terceiro setor; e limita-se, a pesquisa, em extensão geográfica

(apenas o município de Caruaru) e em finalidade (apenas gestores locais e suas

instituições religiosas). A suficiência dos materiais coletados deram condições de

ampliar o foco de estudo dando formas a raciocínios novos e ao levantamento de novas

hipóteses que a própria pesquisa direcionou e se revestiu de nova roupagem, sem

abandonar o seu objetivo geral.

3.3 ANÁLISE DOS DADOS

Para o objeto de estudo foi dada ênfase no pressuposto epistemológico

67

referente à forma pela qual é concebida a relação sujeito/objeto no processo de

conhecimento, tendo um caráter descritivo e um enfoque dedutivo aplicado na pesquisa

qualitativa.

Para a aplicação da interpretação dos dados o método foi a análise de

conteúdo25

e sua codificação onde ocorre a transformação dos dados brutos, por meio de

regras, em uma sistemática de recorte, agregação em unidades, as quais permitem a

descrição exata das características pertinentes do conteúdo (BARDIN, 2002) no

processo epistemológico dentro da amostra estudada apontando também as limitações e

os limites no projeto de pesquisa. Dentro da análise de conteúdo ainda destacou-se a

análise categorial, ou seja, o desmembramento do discurso em categorias, delimitando a

dimensão da investigação dos temas selecionados nos objetivos da pesquisa achados nos

tecidos de informação. “Consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem a

comunicação e cuja presença ou frequência de aparição pode significar alguma coisa

para o objetivo analítico estudado” (BARDIN, 1979, p. 105).

Foram escolhidas as principais igrejas dentro de cada grupo para a construção

de modelos teóricos compreensivos no papel que cada uma assume na gestão social;

reportando também para a produção do significado subjetivo-interpretativo, que

proporciona uma visão progressiva às questões norteadoras e também com base em

elementos visíveis, como a inter-relação pessoal na definição ontológica do processo de

entrevistas, valorizando a percepção de cada grupo de igrejas dentro do ambiente micro

com seu respectivo gestor.

A pesquisa centrou-se inicialmente nas bases históricas das instituições em

estudo resgatando suas visão e missão e comparando-as com os modelos por elas

adotados nos dias atuais. Destarte procurou-se subdividi-las em grupos: Históricas

Tradicionais, Históricas Pentecostais e Emergentes, tentando identificar as mudanças

nas bases do seu papel como organização e organismo eclesiástico através dos tempos.

As entrevistas com cada gestor dessas igrejas foram confrontadas com o método de

25 [...] a análise de conteúdo aparece como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens [...] A intenção da

análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou,

eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não) (BARDIN,

2002, p. 34).

68

observação na tentativa de uma maior introspecção do pesquisador26

no ambiente

organizacional das mesmas e apoiar ainda mais o direcionamento dos constructos

levantados. Os dados da entrevista foram transcritos e agrupados em vinte e cinco

perguntas semiestruturadas, de onde, destas foram subdivididas em três grupos menores

que compreendiam levantamentos e justificações dos respectivos objetivos específicos.

26 Durante a pesquisa o método de observação foi feito pela participação do pesquisador nos cultos das

denominações e em contato individual com alguns membros ativos, entrevistando e compartilhando

informações com a comunidade evangélica dessas igrejas.

69

CAPÍTULO 4 - APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS

RESULTADOS

4.1 O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES

RELIGIOSAS E OS INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA

EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE NOVOS TEMPLOS

4.1.1 As Relações Culturais e Econômicas dentro do Protestantismo na

Construção das Primeiras Unidades Históricas na Região

Voltando ao passado descobre-se que a Igreja se tornaria o único portador de

cultura intelectual, pois, as colônias evangélicas (como foi o caso das colônias alemãs

no Brasil) traçavam um perfil diferenciado entre a sociedade devido às imigrações,

principalmente alemãs. O “[...] papel das comunidades se explica pelo caráter débil do

poder estatal e municipal no Brasil de então, ao fracasso da justiça e do sistema policial

e à ampla ausência de um sistema escolar” (PRIEN, 2001, p. 66). O papel do pastor ia

além de funções eclesiásticas para as funções de professor, médico e também

conselheiro provincial. Hoje ainda há uma forte influência da igreja na sociedade,

contudo, o grau intelectual da própria sociedade mudou enfaticamente, permitindo uma

descentralização de poder da própria igreja em relação ao indivíduo.

A análise neste ponto da pesquisa pôde corroborar com propriedade o que já

antes tinha sido evidenciado por Donkin (2003, p. 54) quando afirma que: “O

protestantismo foi uma revolução cultural e intelectual com um poder e uma intensidade

tão grandes quanto os que se reconhecem na indústria e nas inovações do século

XVIII”, e Max Weber (2011, p. 81) mostra que: “Na história, houve quatro formas

principais de protestantismo ascético, ou seja: o calvinismo, na forma que assumiu na

principal área de influência na Europa ocidental, especialmente no século XVII, o

pietismo, o metodismo e as seitas que se desenvolveram a partir do movimento batista”.

Com isso um braço cultural e econômico foi primordial para propagação das instituições

religiosas no município em estudo, uma vez que são remanescentes das igrejas que

foram originárias desta subcategoria descrita no texto de Weber através de missionários

enviados para o Brasil. Com ênfase pode ser destacado nas entrevistas com os gestores

que as formas administrativas adotadas pelas denominações são perfeitamente copiadas

70

das suas bases tradicionais de fundação, compartilhado entre igrejas históricas e

emergentes;

“[...] Mantemos o governo democrático de administração como modelo de gestão

adotado desde a fundação, pelas seguintes razões: é verificável nas Escrituras,

promove participação dos crentes, homenageia o sacerdócio universal de todos os

crentes e é da essência do congregacionalismo. Portanto, a administração é mantida

desde os fundamentos da igreja” (Igreja Evangélica Congregacional/histórica –

Pastor Ary Queiroz Vieira Junior).

“[...] Sim, ainda adotamos o modelo de gestão adotado desde as bases da fundação

que é originária dos EUA, de onde provém nossa instituição religiosa” (Igreja de

Deus no Brasil/emergente – Evangelista Ailton Rocha).

“[...] Nós os Batistas brasileiros, temos uma Declaração Doutrinária, onde se

encontram todas as diretrizes para a igreja Batista, logo, ainda prevalece o mesmo

modelo de gestão adotado desde a fundação; o que muda, por vezes, não é a

Declaração Doutrinária, mas a evolução desta administração exigida pelo próprio

desenvolvimento social” (Primeira Igreja Batista de Caruaru/histórica – Pastor João

Marcos Florentino de Souza).

“[...] Sim, o modelo de gestão adotado é o modelo Espiscopal e é histórico e segue

bases estabelecidas desde sua fundação” (Igreja Episcopal Carismática/emergente.

Reverendo Alexandre Lins da Silva).

“[...] Sim! A igreja Presbiteriana do Brasil, que nasceu em 1859 com a chegada do

missionário norte-americano Reverendo Ashbel Simonton tem a confissão de fé de

Westminster e o catecismo maior como símbolo de fé e é regida,

administrativamente, por uma constituição à qual a igreja em Caruaru é fiel” (Igreja

Presbiteriana no Brasil/histórica – Reverendo Calvino Teixeira da Rocha).

As instituições religiosas atualmente estão dentro deste sistema, e por ele são

influenciadas; pois como instituições filantrópicas assumem uma posição de

intermediação entre a promoção dos valores e uma ferramenta que reforça o

capitalismo. Posição esta reportada ao Estado de Bem-estar Social, que opera com uma

defeituosa máquina de distribuir os direitos individuais e coletivos na construção da

própria cidadania. Sabendo que “O Brasil da Democracia formal e da cidadania passiva

caracteriza-se por uma visão restrita de desenvolvimento, cuja preocupação prioritária

encontra-se voltada para o seu crescimento econômico” (MEDEIROS, 2009, p. 66,67),

entende-se que a cultura, interiorizada nos indivíduos protestantes, retomam também as

formas históricas da própria sociedade brasileira como um todo e por isso, mesmo

diferente nas diversas culturas quanto à forma, da “[...] origem desse sóbrio capitalismo

burguês, com sua organização racional do trabalho [...] (para) a forma especial do

moderno capitalismo ocidental (que) teria sido fortemente influenciada pelo

desenvolvimento das possibilidades técnicas” (WEBER, 2011, p. 30,31).

71

“[...] A quantidade de denominações (históricas e emergentes) desencadeia um

desequilíbrio na estrutura evangélica como um todo. O atual ‘evangelicalismo’ pode

descaracterizar – como de fato tem feito – a posição do protestantismo histórico

perante a sociedade. Isso se dá pela influência de novas ‘teologias’, com suas

ímpares doutrinas em dízimos e demônios, e da distorção dessas teologias quanto

aos conceitos fundamentais da teologia reformada como fé, graça e etc.” (Igreja

Evangélica Congregacional/histórica – Pastor Ary Queiroz Vieira Junior).

O atual conjunto de instituições religiosas que se espalham pelo município de

Caruaru (PE) aponta para uma divergência de cunho administrativo/social na forma de

gestão dos seus líderes quando envolvem igrejas históricas e emergentes. Essa expansão

é responsável por um liberalismo teológico, onde cada denominação tenta firmar-se com

seus valores e adequa-se, por vezes, a estratégias diferentes das promulgadas em sua

missão e visão. Geralmente as igrejas emergentes são tendenciosas ao liberalismo,

enquanto que as históricas totalmente conservadoras. Relaciona-se aqui o pensamento

weberiano ao “[...] constituir o poder o elemento central na abordagem da burocracia”

(PEDROSO, 2004, p. 31) no tradicionalismo evangélico, “[...] embora Weber visse a

burocracia como uma ameaça às liberdades pessoais básicas, ele também reconhecia

como um sistema mais eficiente possível de organização” (PEDROSO, 2004, p. 31). As

Igrejas Históricas, abordadas nesta pesquisa, são altamente burocráticas e por isso são

estáveis ante a expansão dos seus ministérios, outrora, as Emergentes, aqui também

estudadas, são voláteis, com pouca rigidez, descentralizam fáceis e são favorecidas por

ambientes instáveis, pois são nesses ambientes que elas costumam trabalhar e

crescerem.

“[...] Infelizmente a quantidade de instituições religiosas tem buscado a quantidade e

não a qualidade dos membros e processos. Chegamos a essa conclusão, não pelo

quantitativo de igrejas, mas pelo desvirtuamento dos valores e do puro evangelho que estas igrejas emergentes, em especial, têm provocado. Onde para ganhar mais

adeptos tem vulgarizado a mensagem bíblica, que gera o arrependimento, a

transformação, a mudança de vida e apresentado um evangelho de prosperidade

material, enriquecimento capitalista em detrimento da justiça social” (Primeira

Igreja Batista de Caruaru/Histórica – Pastor João Marcos Florentino de Souza).

“[...] Nem todos os gestores têm real interesse em expansão através de novas igrejas

locais. Imagino, com lamento, que a tendência é o nascimento de mega igrejas”

(Igreja Evangélica Congregacional/Histórica – Pastor Ary Queiroz Vieira Junior).

“[...] O que nos torna eficientes, apesar de sermos uma igreja considerada nova em comparação a muitas igrejas históricas, é a nossa fé como ponto de partida. Em

seguida temos um forte impacto na sociedade porque atuamos em um campo

diferenciado em que muitas instituições não priorizam, ou seja, usamos a mídia a

nosso favor; temos programas televisivos, de rádio e etc. desde as bases da fundação

e que causam grande impacto; usamos a influência que a nossa igreja possui a nosso

favor. Isso nos torna competitiva (temos um modelo de expansão só nosso) se

olharmos a tendência crescente de denominações e religiões no Brasil como um

todo” (Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)/Emergente. Pastor Israel).

72

O gestor Ary Queiroz Vieira Junior, pastor da Igreja Congregacional em Caruaru

(PE) – instituição religiosa com aproximadamente 115 anos no município, destarte ser a

mais antiga na cidade – em entrevista afirmou que: “[...] A nossa igreja, no passado, já

contribuiu muito mais na expansão do Evangelho em Caruaru e região [...] foi abalada

por três grandes divisões nos últimos 45 anos [...] a visão atual é que muito ainda está

para ser conquistado, logo, ainda não chegamos à fase máxima de expansão”. Isso é

notado pela ação direta de igrejas emergentes (as três grandes divisões citadas pelo

pastor foram desencadeadas por ousadas denominações novas e por membros que

permitiram as mudanças nesse ambiente mutável) que abordam de forma liberal e

rompem paradigmas, conquistando adeptos para seu ambiente de dentro dessas igrejas

históricas, que permanecem inertes, diante da ação rápida e estratégica que executam

para crescerem. Ainda o mesmo pastor argumentou que “[...] dentre os métodos

utilizados para expandir novos templos, a igreja tem passado por um processo de

reconstrução interna, ainda assim, esperamos que a formação de vocacionados e o

discipulado dos crentes da igreja local gerem novos pontos de pregação e

congregações”. Aqui está um exemplo evidente da forma estruturada e logística de

expansão com ênfase à formação profissional dos seus líderes e liderados, ou seja, a

preocupação com o ascetismo evangélico fica evidenciada.

Igualmente, é necessário ser registrado o fato que se as igrejas históricas foram

impulsionadas pelo “[...] sóbrio capitalismo burguês [...]” (WEBER, 2011, p.30) no

início de sua expansão; na modernidade (incluindo aqui Caruaru) houve uma inversão

nesse papel, onde agora, as igrejas emergentes, colocam-se como capitalistas liberais

(herança ocidental) e assumem a posição de liderança, ao passo que as igrejas históricas

não avançaram mais como antes, mas tornaram-se igrejas centradas em uma população

menor, porém, mais coesa em seus valores e mais ativa com a comunidade que as

cercam; “[...] Sim, na verdade, é parte integral das ‘funções eclesiásticas’ o exercício da

cidadania influenciando a produção, reprodução e transformação das relações sociais”

(Igreja Evangélica Congregacional/Histórica – Pastor Ary Queiroz Vieira Junior).

73

4.1.2 A Linha Divisória entre o Compromisso Social das Igrejas como

Parte do Modelo Adotado pelo Terceiro Setor e a Filosofia Capitalista

Operante na Maioria dos Líderes Religiosos Ocidentais

A ênfase “[...] no trabalho associativo e voluntário, cuja orientação é

determinada por valores expressos em uma missão e com atuação voltada ao

atendimento de necessidades humanas, filantropias, direitos e garantias sociais”

(CABRAL, 2007, p. 2) em que as instituições religiosas se incluem, encontra uma

barreira denominada de filosofia capitalista, reconhecida teologicamente no início

histórico por Calvinismo – “O Calvinismo foi a secta em torno da qual giraram os

países capitalistas desenvolvidos, em função de sua doutrina eminentemente capitalista”

(PEDROSO, 2004, p. 24) – contudo, hoje, não possui tanta força, por fazer parte dos

dogmas nas igrejas históricas; considerando atualmente uma globalização perversa que

emerge uma dupla função: a do dinheiro e a da informação (SANTOS, 2008), onde “[...]

ambas, juntas, fornecem as bases do sistema ideológico que legítima as ações mais

características da época e, ao mesmo tempo, buscam conformar segundo um novo ethos

as relações sociais e interpessoais, influenciando o caráter das pessoas” (SANTOS,

2008, p. 37) o caráter liberal entre muitas igrejas emergentes e os seus líderes de

influências ocidentais transbordam através desse capitalismo sua forma de gestão, como

megafirmas compulsoriamente como multinacionais, as quais são reconhecidas

inclusive por gestores evangélicos mais tradicionalistas: “Através do capitalismo

operante no mundo, simplesmente, muitas instituições religiosas se corromperam e

influenciaram seus membros também” (Igreja de Cristo Pentecostal no Brasil/Histórica.

Entrevista com o Pastor Luiz Andrade).

Grosso modo os vieses culturais e econômicos são predominantes e estes “[...]

elos causais entre o protestantismo e o capitalismo [...] é uma afirmação bastante sensata

[...], porém talvez seja mais cuidadoso dizer que o moderno capitalismo baseou-se

indiretamente na intolerância religiosa” (DONKIN, 2003, p. 60). Intolerância esta que já

fomentava muitas das primeiras realizações da ética protestante, destacado no livro de

Max Weber (A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo) e citado por Donkin

(2003). Por esse pensamento racional, o Brasil, que comunga entre doutrina e ética

religiosa e sua relação com sistemas econômicos abertos são favoráveis para abraçar a

diversidade, principalmente religiosa, em seu ‘seio’ como ‘mãe gentil’ em uma

74

sociedade moderna cada vez mais consumista, porém tida como democrática, contudo, o

Brasil de fato ainda não atingiu um grau em que a cidadania seja ativa, e o filantropismo

de muitas instituições religiosas da atualidade continua mais como utopia do que como

realidade.

O compromisso social das igrejas (puro na sua essência), deveria se basear,

genericamente, como ideias que deram certo e usaram a filantropia e o

empreendedorismo para elevar os valores por estas propagados, e basicamente

compreende a fala do pastor da Primeira Igreja Batista de Caruaru, João Marcos

Florentino de Souza, quando entrevistado: “[...] As instituições religiosas vão além do

modelo adotado pelo Terceiro Setor e se diferem das ONGs, pois procuram trabalhar a

vida religiosa das pessoas, levando-as a reconhecerem a existência de um ser Superior

que é Deus”. O mesmo definiu de forma clara o que todas as instituições religiosas

pregam, contudo, nesse hiato existente entre o compromisso social e a filosofia

capitalista operam forças que justificam o próprio capitalismo quando “[...] baseado na

maximização do nosso próprio interesse” (MATTAR, 2004, p. 314). Em contra

argumento o Pastor Israel da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) no decorrer da

entrevista falou que: “[...] não acho que as religiões na atualidade podem influenciar

sobre a produção, reprodução e transformação das relações sociais e ao mesmo tempo

desempenhar funções eclesiásticas [...] nosso trabalho crescerá independente de quais

relações estejam atuando na ocasião”; em vista disso alguns argumentos sintetizam uma

visão emergente, e do ponto vista individualista para atingir objetivos. As instituições

religiosas emergentes se consolidam por um sincretismo extremamente liberal de forças

para atingirem objetivos, enquanto que as históricas terminam mais passivas, mesmo

que percam espaço tendo uma visão mais voltada para os valores humanitários e sociais.

Diante disso Mattar (2004) expõe que nas últimas décadas, constitui-se uma

noção maior, entre os gestores, por uma urgente responsabilidade social nas

organizações capitalistas – incluem-se aqui também as ONGs – a ênfase nos

stakeholders, ou seja, nos riscos, nas participações, ou nos interesses voltado

exclusivamente para os resultados da empresa, ainda que com uma roupagem de

compromisso social.

“[...] de forma genérica a igreja evangélica no Brasil, se baseando nos aspectos

administrativo do protestantismo histórico X o emergente, conforme o último

CENSO/IBGE tem passado por um expressivo crescimento, mas, infelizmente a

igreja que está aí tem se afastado dos princípios da Reforma Protestante do século XVI: Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria e Solus Chistus” (Igreja

75

Presbiteriana no Brasil/Histórica – Reverendo Calvino Teixeira da Rocha).

“[...] de forma genérica a atual igreja evangélica no Brasil, o protestantismo

histórico e o emergente trazem nuances, ou seja, muitas igrejas emergentes abrem

suas portas, contudo, deixam muito a desejar quando se percebe que o intuito das

mesmas não é à favor da expansão do Reino de Deus, mas financeiro e político, que

de certa forma é contrário ao pensamento do protestantismo histórico que visa os

valores humanos, o indivíduo em si como pessoa, como cidadão ativo em

comunidade” (Igreja de Deus no Brasil/Emergente – Evangelista Ailton Rocha).

Em contrapartida “[...] liderança e ética são temas estreitamente conectados [...]

O líder determina o tom moral da organização, representando e reformulando seus

valores” (MATTAR, 2004, p. 326). Cabral (2007) afirma que o movimento da Reforma

Protestante, juntamente com as transformações da Era Moderna – pois o início da

industrialização desestruturaram as relações políticas, econômicas e sociais – tenta repor

o conhecimento racional em relação à nova interpretação do que é sagrado,

principalmente através da experimentação, sugerindo uma nova forma de abordagens

dos fatos sociais e consequentemente paralelo a Revolução Industrial abre espaço para

os empreendedores, destarte a posição de Taylor exemplificar muito bem.

“O organismo eclesiástico não pode subsistir sem qualquer forma de organização

eclesiástica, embora compreendamos que o caráter organizacional não pode estar

dissociado das diretrizes da igreja e da Bíblia; obedecendo a esse princípio não há

fronteiras entre o caráter organizacional e o religioso” (Igreja Evangélica

Congregacional/Histórica – Pastor Ary Queiroz Vieira Junior).

Também há uma relação entre espaço geográfico e religião com identidade

organizacional e social na comunidade que está inserida. Contemporaneamente, as

discussões sobre as relações entre ética religiosa, economia e mobilidade social

continuam sendo atuais e tendem a crescer cada vez mais.

“[...] Há uma relação inseparável (compromisso social e o terceiro setor), pois através da ação social com a comunidade em geral a igreja tem alcançado uma

expansão favorável estrategicamente e maior geograficamente e não vê como

dissociar essa relação, desde que a mesma entenda o porquê foi criada e para quê foi

fundada. Muitas vezes as pessoas (membros) não entendem que a igreja não é só um

lugar para soluções espirituais, mas de cidadania e principalmente com a

comunidade local” (Igreja de Deus no Brasil/Emergente – Evangelista Ailton

Rocha).

As igrejas históricas comungam um pensamento mútuo, e possuem mais

envolvimento com seus membros e a sociedade;

76

“[...] A relação entre o compromisso social das instituições religiosas e o modelo

adotado pelo terceiro setor são necessárias. Imagino que as igrejas evangélicas

devem envolver-se com assistência social, sobretudo no cuidado dos seus membros,

mas, sem descuidar de uma atuação mais ampla na sociedade. Isso as relaciona com

o terceiro setor. Entretanto, deve-se levar paralelamente atuação cidadã junto ao

Estado, para que este cumpra o seu papel” (Igreja Evangélica

Congregacional/Histórica – Pastor Ary Queiroz Vieira Junior).

“[...] Ainda não chegamos à fase máxima de expansão [...] Temos muito que fazer e

realizar. A nossa cidade tem crescido de uma forma extraordinária e a igreja precisa

acompanhar este desenvolvimento e crescimento, abrindo mais escolas evangélicas,

creches, orfanatos, enfim ampliando novos trabalhos sociais” (Primeira Igreja Batista de Caruaru/Histórica – João Marcos Florentino de Souza).

Ao passo que as emergentes têm uma visão consumista e uma filosofia mais

aberta para novas experiências, desde que as mesmas produzam crescimento e sejam

vistas pela sociedade. O gestor da Igreja Presbiteriana no Brasil/Caruaru (PE) –

Reverendo Calvino Teixeira da Rocha infere em seu comentário que “[...] a nossa

motivação, diferente das outras instituições religiosas, é a obediência às diretrizes e ao

evangelho de Jesus [...]”, afirmando que as instituições religiosas emergentes são

motivadas por outros aspectos que são totalmente divergentes dos postulados em suas

visão e missão.

A emergente IURD27

(Igreja Universal do Reino de Deus), muito exposta pela

mídia por seus suntuosos templos e envolvimentos de cunho financeiro, argumenta em

sua defesa o fato pelo qual trabalha de forma ampla e sistemática suas bases, e disto

diferencia de muitas outras e a torna ímpar, em se tratando de ministérios religiosos no

Terceiro Setor a amplitude de seu domínio em tão pouco tempo de existência. “[...] nós

trabalhamos com as bases para em seguida construir as edificações [...] isso é estrutura

[...] por isso estamos a 35 anos ajudando as pessoas” (Entrevista com o pastor Israel,

vice gestor de uma das filiais em Caruaru – PE).

Por fim as religiões ocidentais de forma genérica são fortemente influenciadas

pelo modernismo liberal e influenciadoras das massas jovens. Por trinta anos, estudos

apontaram para um declínio entre os evangélicos tradicionais metodistas, presbiterianos,

congregacionais e episcopais, em que por um período de crescimento nos anos 50

tiveram uma redução a partir dos anos 60. Pesquisas apontam que entre os baby-

boomers que eram membros dessas igrejas, cerca de 75 por cento abandonaram-nas e

desses, a metade nunca mais voltou, e dos que voltaram acreditaram numa igreja menos

27 Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Pastor Israel e está há quatro meses na administração da

igreja. A instituição religiosa possui 26 anos no município com cinco congregações espalhadas pelos

bairros da cidade (geralmente sempre grandes templos) e aproximadamente 6.000 membros.

77

ortodoxa, e nas gerações futuras, seus filhos, terá uma ideologia menos conservadora

ainda (JONES, 2002).

“[...] De forma genérica acredito que o melhor caminho é o equilíbrio entre o

constructo citado, ou seja, não desprezar o protestantismo histórico e suas principais

contribuições, ao passo que observar de forma prática as principais nuance das

emergentes” (Igreja Episcopal Carismática/Emergente. Reverendo Alexandre Lins da

Silva). A Igreja Episcopal Carismática é um exemplo de como se trabalhar com a nova

geração ‘Y’, a geração da internet ou do milênio atraindo-os para seu ambiente com

diversificada estratégia; “[...] a principal estratégia de nossa denominação é o cursilho28

,

movimento evangelístico para homens e mulheres, e o happening29

que é um

movimento evangelístico para os jovens” (Entrevista com o gestor Alexandre Lins da

Silva, pastor da Igreja Episcopal Carismática em Caruaru).

4.1.3 A Igreja como um Organismo Eclesiástico e uma Organização de

Capital Humano Moldada pelas Relações Coletivas e Individuais

A marca registrada das instituições religiosas está inserida na sua visão e

missão. Cabral (2007) faz inferência que porquanto a Democracia com a representação

do Estado forja a autonomia do setor público, quando se trata das políticas sociais, a

28 MCC (movimento evangelístico cursilho – é um Movimento de Igreja que, mediante um método

próprio, possibilita a vivência do fundamental cristão, ajudar a descobrir, a realizar e respeitar a vocação

pessoal, visando criar núcleos de cristãos que fermentes de Evangelho os ambientes. MCC tem uma

finalidade que pode ser dividida em três, conforme o prazo em que deve ser atingida: finalidade imediata:

possibilitar a vivência e a convivência do fundamental cristão; finalidade mediata: criar núcleos de

cristãos; finalidade última: fermentar de Evangelho os ambientes.

Homens e mulheres, jovens ou adultos que passam pelo Cursilho tem por missão fazer com que os

ambientes nos quais vivem, sejam impregnados pelos valores e pelos critérios do Reino de Deus,

anunciado por Jesus, tornando-os assim, ambientes dignos de hospedar os filhos e as filhas de Deus neste

mundo.) que visa levar o ser humano a experimentar e viver uma nova vida em Cristo (entrevista com o pastor Alexandre Lins da Silva).

29 O movimento conhecido como HAPPENING teve origem em Dallas, Texas, em meados da década de

1970. Tudo começou quando alguns jovens viram a mudança que o Cursilho fez em seus pais e queriam

ter a mesma experiência transformadora. Por não terem idade suficiente para participarem de um

Cursilho, os pais decidiram criar um movimento para eles baseado no mesmo modelo, porem num

formato adequado para jovens. Eles formaram uma equipe composta por clérigos, adultos e jovens,

montaram um fim de semana que estava na tradição episcopal e chamou-lhe de HAPPENING. Um dos primeiros dirigentes espirituais do HAPPENING foi o reverendo Pat Hutton (Recuperado do site:

<http://www.happeningpedraviva.com/p/happening-cursilho-para-jovens.html> Acesso em 19 de jan. de

2012).

78

utopia é categoria necessária para compreender o processo social inseridos na fundação

da missão nas ONGs. Porquanto um grupo social pode ter um entendimento sobre fatos

ocorridos na sociedade, desencadeando um desejo em comunidade como gerador de

uma visão. O processo de planejamento organizacional é projetado pelo que está

intrínseco na missão, mesmo que ela esteja no Terceiro Setor, sendo que para estas a

missão tem um sentido mais amplo, pois, faz parte do grupo social que a deu origem.

Na missão os valores sustentados pelos indivíduos são corroborados com os de seus

idealizadores; nesse sentido “[...] a missão é a base intelectual da organização e o

fundamento de sua comunicação, expressando de modo prático a utopia que unifica suas

ações e transparece nos objetivos” (CABRAL, 2007, p. 140).

“[...] A missão é existirmos para adorar a Deus na proclamação das boas novas, na

integração, na edificação dos santos e no serviço ao próximo em Caruaru e no

mundo [...] A visão é ser uma igreja saudável, acolhedora e encorajadora,

testemunhando como discípulos de Cristo e praticando os valores cristãos” (Primeira

Igreja Batista de Caruaru/Histórica – Pastor João Marcos Florentino de Souza).

“[...] VISÃO – Ser reconhecida como a melhor organização eclesiástica, tornando-se

referência na propagação do evangelho, onde todos os membros estejam

comprometidos com a qualidade e desenvolvimento de ministérios eficazes.

MISSÃO – Propagar e Ensinar o Evangelho de Jesus Cristo pelo qual pessoas

chegam ao arrependimento de seus pecados para obterem a salvação e vida eterna” (Igreja Evangélica Assembleia de Deus/Histórica. Pastor Jayme Alexandre dos

Santos).

“As ONGs constroem visões ideais que comportam suas crenças e preceitos;

isso é um forte ingrediente motivacional para as pessoas que se envolvem em seu campo

de trabalho [...], porém, não é uma alternativa para a formulação de estratégias”

(CABRAL, 2007, p. 139). Os valores humanitários como meios estão servindo de guia

para os fins, pois a visão é tida como o objetivo que a empresa deseja alcançar.

Essas relações coletivas e individuais estão na base da fundação das

instituições religiosas, pois os missionários enviados ao Brasil tinham que possuir uma

formação acadêmica que prestasse em primeira mão um serviço à sociedade, tais como

médicos, enfermeiros, psicólogos, etc., e a partir daí uniriam a profissão ao evangelismo

pessoal para expansão da religião. Muitos eram influenciados por culturas das

instituições que faziam parte e adequavam-se ao sincretismo brasileiro, mesmo sendo

ortodoxas em doutrinas e padrões éticos. Atualmente esses grupos que se formam a

partir de missionários continuam em plena atividade, contudo, foram abalados pelo

crescimento – por vezes desajustado – de vários grupos religiosos dissidentes dos

79

originais. Em Caruaru (PE) foi evidenciado nesta pesquisa tal fato e o modo de

distribuição no coletivo da comunidade, em algumas emergentes igrejas passou a ser

para o individual, maximizando o poder, o cenário liberal com o qual vários evangélicos

se adequam, em detrimento de uma ortodoxia mais ligada aos primórdios da

evangelização.

“[...] Nossa denominação em Caruaru faz parte de um grupo de igrejas que é muito

tradicional, principalmente aqui em Pernambuco [...] Somos 460 igrejas espalhadas

no Brasil e no Sul e Sudeste do país essas igrejas são mais liberais, abertas às mudanças, porém aqui, o modelo de gestão adotado pela igreja ainda segue a

historicidade tradicional das bases da nossa fundação” (Igreja de Cristo Pentecostal

no Brasil/Histórica. Pastor Luiz Andrade).

Notadamente houve um ‘encurtamento de caminho’ entre a missão e a visão de

algumas instituições religiosas que permitiram uma fuga à responsabilidade social pelas

quais foram criadas. Se uma empresa do Terceiro Setor foi criada para garantir o bem-

estar social dos indivíduos e por outro lado elas assim não o fazem, a especulação do

que realmente têm servido na prática enseja em dilema. A filantropia deixou de ser

eficaz e reporta a mesma situação da máquina estatal com indícios capitalistas e para

favorecer uma minoria empresarial que se projeta por traz destas instituições. “Os

interesses econômicos, políticos e sociais de orientação liberal influenciaram as

transformações das atribuições do Estado, responsável pela garantia dos direitos sociais,

e suas consequências para o agravamento dos problemas nesta área” (MEDEIROS,

2010, p. 39).

“[...] A igreja foi instituída pelo próprio Senhor Jesus Cristo durante seu ministério

aqui na terra, com a finalidade máxima de fazer discípulos, mas também cuidar do

corpo, da alma, das emoções, porque o homem é um ser tricotômico – alma, corpo e

espírito [...] fazendo a diferença na sociedade que estamos inseridos como cidadãos

conscientes do seu papel civil e religioso, para termos uma sociedade mais justa,

respeitável e comprometida com o bem estar social [...] uma cidadania ativa”

(Primeira Igreja Batista de Caruaru/Histórica – Pastor João Marcos Florentino de Souza).

A transformação de uma ideia em uma coisa, ou a sua reificação, sugere a

prática dos primeiros grupos sociais do protestantismo tardio, (ainda que dentro de um

racionalismo cultural próprio alemão daquela época, diferente do Brasil atual)

apontadas por Weber no sentido de inspirar a confiança de outros através de

comportamentos, em que como citado anteriormente, o homem próspero seria aquele

que temesse a Deus e utilizasse o suor de seu rosto para aumentar sua reputação.

Ilustram-se aqui através dessas instituições religiosas modernas manterem as aparências

80

de ‘Organizações Sem Fins Lucrativos’, com apelos às máximas da ética protestante e

sua ascese, e na realidade esconderem um espírito do capitalismo propenso a atual

condição do homem ocidental com racionalidade apenas ao lucro certo e imediato e ao

individualismo (SÁ, 2009).

81

CAPÍTULO 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 CONCLUSÃO

Hoje qualquer organização, seja ela pública, comercial, filantrópica ou social,

deve desenvolver o profissionalismo e aprender a lidar com resultados (MURAD,

2007). Apesar de elas possuírem similaridades nas tarefas, somente empresas

comerciais têm o desempenho econômico fazendo parte de sua missão específica, e

numa instituição religiosa qualquer tratamento relativo à sua gestão social

necessariamente passará pela apreciação dos seus valores. Carvalho (2004) argumenta

que as instituições religiosas não podem permanecer fechadas em si mesmas, alheias ao

ambiente à sua volta e presas ao tradicionalismo, à rotina e aos seus dogmas, porquanto,

estará condenada à estagnação e ao desvirtuamento de suas finalidades principais, ou

seja, expandir e ensinar. No ato de desempenhar a gestão o líder religioso deve levar em

conta “[...] as pessoas, a finalidade da instituição e seus valores, os processos internos, o

que a organização oferece aos seus interlocutores ou clientes, a relação com a sociedade

e o mercado, bem como a garantia de sobrevivência e continuidade” (MURAD, 2007, p.

76) da própria instituição. Tanto Carvalho (2004) como Murad (2007) opina sobre a

forma de gestão social e focalizam mudanças, porém sem perder o que está na visão e

na missão das organizações.

Com o intuito de trazer à margem da discussão, de forma evidente, através dos

processos metodológicos aqui utilizados, os achados corroborados pela pesquisa

complementaram sobremaneira a própria literatura bibliográfica que já existia sobre o

assunto em foco. Sendo o processo de gestão social nessas instituições religiosas

associadas diretamente às causas que estimulam líderes de igrejas emergentes na

expansão e fundação de novos templos de forma expressiva, orientados a atingirem o

maior espaço geográfico possível no município, ao passo que os líderes das igrejas

históricas valorizam seus templos antigos, e por eles desenvolvem todo o trabalho de

expansão, com ênfase na propagação cultural, inculcada nas tradições e valores desde

suas fundações. Para os gestores históricos o que importa é a qualidade e não a

quantidade dos membros; percepção oposta das igrejas emergentes.

Evidenciou-se que as relações culturais são fortes em instituições tradicionais,

mesmo que as mesmas tenham sido responsáveis em suas bases da fundação por uma

82

ética protestante e um espírito capitalista voltado para ascese religiosa nos moldes da

grande explosão intelectual e industrial, e que ao passar do tempo às igrejas emergentes

souberam aproveitar essa brecha entre o filantropismo e sua reificação puramente

capitalista, que ratifica a ideia onde os líderes ocidentais liberais são tendenciosos a

maximização dos lucros, e isso o fazem mediante construção desde mega templos até o

ensino sistemático de suas práticas liberais propagadas em seus cultos e evangelismos.

Até o presente momento poucos estudos surgiram para fins de melhor

desenvolvimento das instituições religiosas e suas práticas de gestão eclesiástica,

ficando espontaneamente à expansão missionária, cada uma pelos seus próprios moldes,

e pelos quais melhores se adequam à sociedade moderna, contudo, as frases

apresentadas na missão das instituições religiosas para uma “[...] administração

eclesiástica nas organizações, em todos os seus níveis, requer uma gestão participativa,

relacionadas entre si, e que tem por pressuposto a participação de ministérios com ações

harmônicas fundamentadas no espírito de servir com amor, segundo o ensino e a prática

do Senhor Jesus” (CARVALHO, 2004, p. 37); a igreja moderna deve atuar como um

organismo eclesiástico e uma organização de capital humano moldada pelas relações

coletivas e individuais, então, para executar seu trabalho, as instituições religiosas

precisam se distanciar mais de serem ‘organizações burocráticas’ afirmadas por Weber

e que agem como “máquinas totalmente impessoais, que funcionam de acordo com as

regras que ele chamou de racionais – regras que dependem de lógica e não de interesses

pessoais” (MAXIMIANO, 2000, p. 62-63), mas, aproximar-se de um ethos, primando

pelo valor de uma identidade social e não “[...] por uma racionalidade específica (neste

caso a instrumental) capaz de orientar as ações humanas para os fins almejados” (SÁ,

2009, p. 138); afastando-se também do extremismo do protestantismo liberal, onde tais

organizações passam a serem dominadoras da sociedade ao invés de servidoras.

Se utilizar o constructo de que o protestantismo incentiva a busca por progresso

financeiro, o que é muito propício dentro de um ambiente capitalista pode-se afirmar

que o crescimento do protestantismo no Brasil, se continuar dessa forma, seguirá

paralelamente e será favorável ao seu crescimento econômico (como é o caso atual dos

EUA – um país predominantemente protestante), mesmo que utilizem meios contrários

aos seus valores, como fazer uso da teologia da prosperidade que abre espaço para o

benefício individual em detrimento da coletividade quando esse pensamento prega um

pragmatismo na busca pelo sucesso financeiro e espiritual.

83

Nos Estados Unidos conhecem-se melhor os puritanos, os adeptos de Calvino [...]

Sabemos como trabalharam para esse objetivo levando uma vida disciplinada, na

qual a poupança e o trabalho árduo eram louvados, e o luxo, a extravagância e a

ociosidade, condenados. Vejamos isso agora de outro ângulo. Que qualidades

poderiam ser mais propícias a um sistema econômico – no qual a acumulação de

riquezas, por um lado, e os firmes hábitos de trabalho, por outro, constituíam as

pedras fundamentais – do que esses mesmos ideais religiosos transformados em

prática quotidiana pelos adeptos de Calvino? (HUBERMAN, 1986, p. 154 e 155).

Enfim as instituições religiosas abrem um leque ideológico e doutrinário na

busca por uma sociedade alternativa, onde os direitos e deveres sejam respeitados, desde

que percebam a necessidade de voltar seu foco para a garantia dos direitos fundamentais

e da valorização do ser humano ético e racional e que garantam a conservação de uma

cidadania ativa pronta para atuar em todos os tipos de realidade. Não somente forçando

o poder legítimo que um gestor possa utilizar a seu favor em detrimento de um grupo

subordinado, mas sendo o exemplo de uma liderança transformadora, atendendo às

demandas da associação antes de tudo, pois, no final, tais organizações são pessoas

interagindo entre si.

5.2 LIMITAÇÕES

Limita-se, a pesquisa, em extensão geográfica (apenas o município de

Caruaru), em finalidade (apenas gestores locais e suas instituições religiosas) e em

material (pouca bibliografia existente no assunto).

5.3 RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES

Sugere-se o incentivo a construção de grupos de pesquisa dentro do tema

abordado sabendo que o mesmo não é conclusivo. Que haja um feedback aos gestores

entrevistados para que os mesmos revejam seus posicionamentos diante das instituições

religiosas e aprofundem-se quanto ao objetivo primordial das raízes do protestantismo,

amparado pela ética organizacional, sabendo que o capital humano é ímpar dentro delas,

em um ambiente em que a participação da comunidade seja ativa. Recomenda-se

desvincular as práticas capitalistas dos sistemas eclesiásticos tendo máxima cautela no

uso da expansão ideológica e doutrinária, sendo esta com ética à coletividade fugindo

do mercantilismo liberal e de práticas de marqueteiros emergentes na pós-modernidade

que distorcem a verdadeira função filantrópica pelas quais foram criadas.

84

CAPÍTULO 6 - REFERÊNCIAS, APÊNDICES E ANEXOS

6.1 REFERÊNCIAS

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Pioneira, 1996.

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Martin Claret Ltda, 2011.

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Celso A. Rimoli. São Paulo: Atlas, 2010.

89

6.2 APÊNDICES

APÊNDICE I – QUESTIONÁRIO SEMIESTRUTUTADO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE)

CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE (CAA)

NÚCLEO DE ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA (NAE)

GEORGE LEITE FREXEIRA – ADMINISTRAÇÃO/9º PERÍODO – NOITE

ORIENTADORA: Drª SILVANA MEDEIROS - MONOGRAFIA

O PROCESSO DE GESTÃO SOCIAL EM INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS E OS

INTERESSES DOS SEUS LÍDERES NA EXPANSÃO E FUNDAÇÃO DE

NOVOS TEMPLOS

ABORDAGEM QUALITATIVA NA PESQUISA EPISTEMOLÓGICA

ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA:

PRIMEIRA PARTE: IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO

1º Nome da Instituição Religiosa:___________________________________________

2º Nome do Gestor Local:_________________________________________________

3º Vossa Reverendíssima (V. Revma.) possui alguma formação acadêmica?

Descreva:______________________________________________________________

SEGUNDA PARTE: AMPLIAÇÃO DO FOCO DE OBSERVAÇÃO

4º Quantos anos possui no município a matriz da instituição religiosa que V. Revma.

dirige? _______________________________________________________________

5º Quantas congregações e pontos de pregação vossa igreja possui?

______________________________________________________________________

6º Há quantos anos V. Revma. é gestor da instituição religiosa no município que faz

parte? _________________________________________________________________

90

7º Quantos membros existem nas congregações que compõem vossa igreja dentro do

município? _____________________________________________________________

TERCEIRA PARTE: APROFUNDAMENTO SISTÊMICO DOS VIESES

8º Qual a visão e a missão da igreja evangélica que o reverendo atua como

gestor?_________________________________________________________________

9º Como o reverendo pastor avalia de forma genérica a atual igreja evangélica no Brasil,

se tomar por base o constructo administrativo do protestantismo histórico X

protestantismo

emergente?_____________________________________________________________

10º Quais métodos o reverendo como gestor utiliza para expandir novos pontos de

pregação ou novos templos dentro da área de atuação da sua

denominação?___________________________________________________________

11º O reverendo acha que vossa igreja já chegou à fase máxima de expansão no

município de Caruaru? Justifique sua resposta: ________________________________

12º Para o reverendo pastor qual a relação entre o compromisso social das instituições

religiosas e o modelo adotado pelo terceiro setor (organizações sem fins lucrativos)?

______________________________________________________________________

13º O modelo de gestão adotado pelo reverendo pastor na administração da igreja hoje

ainda é baseado em algum processo já estabelecido desde as bases de fundação da

denominação? Por quê? Houve mudanças? Justifique sua

resposta:_______________________________________________________________

14º Como V. Revma. descreve sua igreja dentro do papel de organização e organismo

eclesiástico na atualidade? Existe alguma fronteira entre o caráter organizacional e o

religioso?______________________________________________________________

15º V. Revma. acha que o capitalismo, operante na maioria das organizações, afetou as

instituições religiosas atuais nos seus processos e na vida dos seus membros? Justifique

sua Resposta:___________________________________________________________

91

16º Diante de tantos vieses que articulam o ambiente das instituições religiosas e suas

necessidades associativas e assistenciais para um modelo de gestão e o compromisso

social das mesmas com suas comunidades evangélicas, qual o interesse dos líderes

religiosos em expandir e propagar novas células (igrejas locais) de

pregação?______________________________________________________________

17º Vossa instituição religiosa atua em alguma ação social? Justifique:

______________________________________________________________________

18º Como o reverendo pastor analisa a influência de vossa igreja na sociedade?

______________________________________________________________________

19º Qual estratégia é aplicada no campo de atuação da vossa denominação dentro do

município que a torna mais eficiente diante das outras instituições

religiosas?_____________________________________________________________

20º Analisando algumas variáveis como: influência socioambiental, limite entre outras

denominações evangélicas, manutenção financeira, layout do novo templo no bairro,

recepção pelos moradores, etc. Quais são as maiores dificuldades no processo de

expansão da denominação? Por quê?________________________________________

21º V. Revma. acha que as religiões na atualidade podem influenciar sobre a produção,

reprodução e transformação das relações sociais e ao mesmo tempo desempenhar

funções eclesiásticas? Por quê?_____________________________________________

22º A quantidade de denominações (históricas e emergentes) dentro do município de

Caruaru podem desencadear um desequilíbrio na estrutura evangélica firmada pelos

primórdios do protestantismo, ou na forma administrativa e estratégica idealizada pelos

seus fundadores? Justifique sua resposta:_____________________________________

23º Vossa igreja, no ato de expansão, segue algum processo logístico? Por

quê?__________________________________________________________________

24º Qual o percentual de templos que fazem parte do ativo imobilizado da instituição

(PODEM SER DADOS APROXIMADOS)? Eles integram na totalidade o patrimônio

da mesma ou existem também bens locados e arrendados?_______________________

92

QUARTA PARTE: FECHAMENTO

25º Que outras considerações V. Revma. acharia necessária acrescentar ao tema em

estudo?________________________________________________________________

Contato: Cel. (81) 9311-6970 /(81) 9544-9685/ e-mail [email protected]

Caruaru, ______ de ______________________ de 2012.

Agradecemos a colaboração!

93

APÊNDICE II

ANÁLISE SWOT

Instituições Históricas

Análise interna

Forças Fraquezas

1. Cultura forte; 2. Tempo de existência; 3. Gestores com elevado índice de

formação acadêmica; 4. Estabilidade financeira; 5. Visibilidade (longo prazo)

6. Hierarquia verticalizada extremamente formal

7. Características burocráticas 8. Poucos templos; 9. Poucos membros; 10. Centralização de poder

Análise Externa

Oportunidades Ameaças

1. Competência de gestão; 2. Imagem da marca; 3. Reputação dos produtos e serviços; 4. Ênfase nos valores, missão e visão.

5. Maior rigidez em expandir-se; 6. Novos concorrentes; 7. Falta de fatores de diferenciação

Instituições Emergentes

Análise interna

Forças Fraquezas

1. Descentralização dos processos; 2. Modelo mais flexível com características

típicas de ambientes dinâmicos/adaptabilidade;

3. Hierarquia mais horizontal ou achatada; 4. Muitos templos; 5. Descentralização de poder.

6. Gestores com baixo nível de escolaridade;

7. Pouco tempo de existência; 8. Cultura fraca;

Análise Externa

Oportunidades Ameaças

1. Crescimento vertiginoso de membros; 2. Alianças estratégicas; 3. Mais agressivas e concorrentes; 4. Visão de liderança; 5. Capacidade de inovação; 6. Introdução de novas tecnologias e marketing.

7. Gestores altamente capitalistas; 8. Fraca visibilidade (curto prazo); 9. Falta de experiência; 10. Perca dos valores, da visão e da

missão.

94

6.3 ANEXOS

ANEXO I

Gráfico da fundação das Instituições Religiosas desta Pesquisa

Históricas:

Igreja Luterana - fundada por Martinho Lutero (1517);

Igreja Anglicana - fundada por Henrique VIII (1534);

Igreja Presbiteriana - fundada por João Calvino (1549); Igreja Batista - fundada por John Smith (1609);

Igreja Metodista - fundada por John Wesley (1740);

Igreja Adventista do Sétimo Dia – fundada por Ellen White (1863); Igreja Evangélica Congregacional – fundada por Dr. Robert Reid Kalley e Sra. Sarah

Poulton Kalley (1855).

Pestecostais:

Congregação Cristã no Brasil - fundada por Louis Francescon (1910);

Assembleia de Deus - fundada pelos missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren (1911);

Igreja do Evangelho Quadrangular - fundada por Aimée Semple McPhersom (1951);

Igreja Evangélica Pentecostal o Brasil para Cristo - fundada por Manoel de Melo (1955);

Igreja Pentecostal Deus é Amor - fundada por Davi Miranda (1962);

Igreja Cristã de Nova Vida – fundada por Robert McAlister (1960); Igreja de Deus no Brasil – fundada por Wayne McAfee (1955).

Neopentecostais:

Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) – fundada por Edir Macedo (1977);

Igreja Apostólica Renascer em Cristo – fundada por Estevam e Sonia Hernandes

(1986); Igreja Internacional da Graça – fundada por R.R. Soares (1980);

Igreja Congregacional Vale da Bênção – fundada por Caetano Antônio da Silva

(1967); Igreja Mundial do Poder de Deus – fundada por Valdemiro Santiago (1998);

Recuperado do site: <http://pt.wikipedia.org> Acesso em 10 de mar de 2013.

95

“Os evangélicos conservadores são como canais, com tudo domesticado e canalizado;

os emergentes são como corredeiras, incontroláveis e perigosas. Adivinhe quem são os

rios navegáveis?”

(CARSON, 2010, p. 13).