monografia final grijó

34
MARCOS FABIANO ROCHA GRIJÓ FLORESTAS DE PROTEÇÃO: UTILIZAÇÃO, IMPLANTAÇÃO E INDICADORES DE RECUPERAÇÃO Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão e Manejo Ambiental em Sistemas Florestais, para obtenção do título de especialista em Gestão e Manejo Ambiental em Sistemas Florestais. Orientador _______________________________

Upload: grijogrijo

Post on 27-Jun-2015

172 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Monografia Final Grijó

MARCOS FABIANO ROCHA GRIJÓ

FLORESTAS DE PROTEÇÃO: UTILIZAÇÃO, IMPLANTAÇÃO E INDICADORES DE RECUPERAÇÃO

Monografia apresentada ao Departamento de CiênciasFlorestais da Universidade Federal de Lavras, como parte das

exigências do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão eManejo Ambiental em Sistemas Florestais, para obtenção do

título de especialista em Gestão e Manejo Ambiental emSistemas Florestais.

Orientador

_______________________________

LAVRASMINAS GERAIS – BRASIL

2010

Page 2: Monografia Final Grijó

MARCOS FABIANO ROCHA GRIJÓ

FLORESTAS DE PROTEÇÃO: UTILIZAÇÃO, IMPLANTAÇÃO E INDICADORES DE RECUPERAÇÃO

Monografia apresentada ao Departamento de CiênciasFlorestais da Universidade Federal de Lavras, como parte das

exigências do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão eManejo Ambiental em Sistemas Florestais, para obtenção do

título de especialista em Gestão e Manejo Ambiental emSistemas Florestais.

Orientador

_______________________________

APROVADA em _____ de _________ de _______.

Prof. ______________________

Prof. ______________________

LAVRASMINAS GERAIS – BRASIL

2010

Page 3: Monografia Final Grijó

SUMÁRIO

RESUMO ........................................................................................................................................ i

1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................012 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................................03

2.1 Degradação Ambiental ...........................................................................................................032.2 Importância das florestas de proteção .....................................................................................042.3 Técnicas para implantação de floresta de proteção ................................................................04

2.3.1 Os grupos ecológicos e a sucessão florestal ..................................................................052.3.2 Composição e arranjo ....................................................................................................072.3.3 Espaçamento ..................................................................................................................092.3.4 Preparo do solo ..............................................................................................................102.3.5 Plantio ............................................................................................................................102.3.6 Definições de espécies ...................................................................................................112.3.7 Proteção das nascentes ..................................................................................................122.3.8 Manutenção ...................................................................................................................122.3.9 Capina ............................................................................................................................132.3.10 Adubação em cobertura .................................................................................................132.3.11 Combate à formiga ........................................................................................................142.3.12 Proteção contra o fogo ...................................................................................................14

2.4 Indicadores e monitoramento da recuperação ........................................................................152.4.1 Regeneração natural .........................................................................................................152.4.2 Banco de sementes ...........................................................................................................162.4.3 Produção de serapilheira ..................................................................................................162.4.4 Chuva de sementes ...........................................................................................................162.4.5 Abertura de dossel ............................................................................................................17

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................19

Page 4: Monografia Final Grijó

RESUMO

O processo de ocupação do Brasil resultou num elevado nível de destruição dos recursos naturais, inclusive das floretas. Porém a ação antrópica não é a exclusiva causa da degradação da cobertura florestal, os processos naturais também interferem nas mudanças ambientais. No entanto quando há interferência do homem, os processos ditos naturais tendem a ter uma conseqüência muito maior. Seguindo o ritmo da crescente degradação ambiental e a legislação que vem cobrando a obrigação da recuperação de áreas de proteção, a implantação de florestas de proteção passa a ser uma prioridade. Para uma melhor eficiência da implantação dessas florestas, devem-se conhecer as espécies e suas funções. O presente trabalho apresenta o resultado de uma revisão bibliográfica feita pelo autor, onde cita a importância e os benefícios dessas florestas de proteção, espécies e suas funções separadas por grupos ecológicos. Os métodos e técnicas de implantação de florestas. Faz menção dos indicadores de recuperação florestal de uma área degradada.

i

Page 5: Monografia Final Grijó

1 INTRODUÇÃO

O processo de ocupação do País caracterizou-se pela falta de planejamento e considerável

destruição dos recursos naturais, particularmente das florestas. Ao longo da historia do Brasil, a

cobertura florestal nativa, representada pelos diferentes biomas, foi sendo fracionada, cedendo espaço

para as pastagens, culturas agrícolas e as cidades.

Apesar da reconhecida importância ecológica nos dias atuais, as florestas e outros ecossistemas

continuam sendo eliminados, cedendo lugar para a especulação imobiliária, para a agricultura e a

pecuária e, em muitos casos, sendo transformadas apenas em áreas degradadas, sem qualquer tipo de

atividade produtiva. (MARTINS, 2009)

Em função de maior conscientização ambiental da sociedade e do aprimoramento da legislação

ambiental, as florestas de proteção vêm recebendo uma crescente e merecida atenção nos últimos anos.

Apesar de ainda vivermos uma fase de muito discurso, é cada vez mais normal encontramos exemplos

de ações visando a conservação e a implantação de florestas de proteção.

De acordo com Botello (2001), vários são os benefícios de uma floresta. Em um solo coberto

por mata, a erosão é praticamente nula. As copas das árvores protegem o solo, interceptando as gotas

de chuva. Na superfície do solo, a serapilheira amortece a queda das gotas de água, diminuindo o

choque e dificultando o caminhamento da água sobre o solo, dando mais tempo para que ela se infiltre.

No interior do solo o enriquecimento em matéria orgânica torna-o menos denso e capaz de absorver e

reter maior quantidade de água.

O plantio de florestas em encostas melhora as propriedades físico-hidrológicas dos solos, no

que se refere à estruturação, infiltração e percolação; abastece o lençol freático; estabiliza as encostas,

principalmente através do desenvolvimento do sistema radicular, que forma um obstáculo físico,

aumentando a resistência ao deslizamento; minimiza o processo erosivo dos solos e reduz o

assoreamento dos cursos d’água. (BOTELLO, 2001)

Segundo Botello (2001), as florestas situadas próximas aos cursos d’água (matas ciliares) são

sistemas que funcionam como reguladores do fluxo de água, sedimentos e nutrientes entre os terrenos

mais altos da bacia hidrográfica e o ecossistema aquático. Desta forma atuam como filtro, o qual se

encontra situado justamente entre as partes mais altas da bacia, normalmente utilizadas pelo homem

para a agricultura e urbanização, e a rede de drenagem, onde se encontra o recurso natural mais

importante do ponto de vista do suporte da vida, que é a água.

De acordo com Botello (2001), as florestas de proteção, quando bem manejadas, proporcionam

ainda os seguintes benefícios, entre outros:

Regularização da vazão dos cursos d’água

Conservação da biodiversidade

Estabelecimento de habitats para a vida silvestre

Criação de espaços para a recreação

Proteção de áreas urbanas das poluições do ar e sonora

1

Page 6: Monografia Final Grijó

Proteção de áreas agrícolas e urbanas da ação dos ventos

Fixação de carbono da atmosfera

Efeito visual positivo.

Apesar de ser a principal característica de uma floresta de proteção a conservação dos recursos

naturais, também proporcionam retorno econômico, porém, indireto e de difícil quantificação. São

benefícios ambientais certamente de grande importância econômica, mas de difícil mensuração.

Além dos modelos e técnicas de implantação de florestas de proteção propostas neste estudo, é

fundamental a intensificação de ações na área da educação ambiental, visando conscientizar tanto as

crianças quanto os adultos sobre os benefícios da conservação das florestas e de outros ecossistemas

naturais.

O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão de literatura sobre a implantação de florestas

de proteção e os indicadores de recuperação.

2

Page 7: Monografia Final Grijó

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Degradação ambiental

O ambiente pode ser considerado como o espaço onde se desenvolve a vida vegetal e animal

(inclusive o homem). O processo histórico de ocupação desse espaço, bem como suas transformações,

em uma determinada época e sociedade faz com que esse meio ambiente tenha caráter dinâmico.

Dessa forma, o ambiente e alterado pelas atividades humanas e o grau de alteração de um espaço, em

relação a outro, é avaliado pelos seus diferentes modos de produção e/ou diferentes estágios de

desenvolvimento da tecnologia (GUERRA e CUNHA, 2003).

A ação do homem não é a única causa da degradação no meio ambiente. Os processos naturais

também interferem nessa mudança do ambiente. Porém a atuação do homem interfere na evolução da

degradação. De acordo com Guerra e Cunha (2003) os processos naturais, como formação dos solos,

lixiviação, erosão, deslizamentos, modificação do regime hidrológico e da cobertura vegetal, entre

outros, ocorrem nos ambientes naturais, mesmo sem a intervenção humana. No entanto, quando o

homem desmata, planta, constrói, transforma o ambiente, esses processos, ditos naturais, tendem a

ocorrer com intensidade muito mais violenta e, nesse caso, as conseqüências para a sociedade são

quase sempre desastrosas.

Um ecossistema torna-se degradado quando perde sua capacidade de recuperação natural após

distúrbios, ou seja, perde sua resiliência. Dependendo da intensidade do distúrbio, fatores essenciais

para a manutenção da resiliência como, banco de plântulas e de sementes no solo, capacidade de

rebrota das espécies, chuva de sementes, dentre outros, podem ser perdidos, dificultando o processo de

regeneração natural ou tornando-o extremamente lento. (MARTINS, 2001)

Em ternos de extensão, as atividades agropecuárias são as principais degradadoras dos solos. O

pastoreio excessivo provoca empobrecimento e compactação dos solos, deixando-o propenso ao

estabelecimento de processos erosivos. As práticas agrícolas sem adoção de medidas de conservação

também contribuem para a queda da qualidade das características físicas, químicas e biológicas do

solo. (BOTELHO, 2001)

Os danos causados à mata ciliar podem variar desde a simples retirada de algumas espécies até

a total destruição da floresta e mesmo do solo. Em situações em que o dano é restrito, a retirada do

fator de degradação ou a reintrodução de uma ou outra espécie podem permitir que o ecossistema

retorne a sua composição original. Todavia essa não é a situação mais comum, em geral o que ocorre é

uma grande destruição do ecossistema. Nestes casos, mesmo com grande esforço e aplicação de

recursos, o ecossistema restaurado não é exatamente igual ao original. (ATTANASIO, 2006)

A intensa degradação intensifica a necessidade de adoção de técnicas e de modelos de

recuperação, no intuito de restabelecer uma vegetação que proteja o solo e o curso d’água.

2.2 Importância das florestas de proteção

3

Page 8: Monografia Final Grijó

Com o intenso desmatamento ocorrido no passado, áreas que deveriam abrigar florestas,

conforme exigência do código florestal, como topos de morro e matas ciliares, foram destinadas a

outros usos, muitas vezes inadequados, trazendo sérios prejuízos ao ecossistema como um todo,

tornando-se necessária sua recuperação com o plantio de espécies nativas da região (GONÇALVES,

2006).

Embora a legislação atual recomende a implantação de matas ciliares no perímetro de lagos

artificiais, na maioria das vezes o uso e ocupação destes solos vem sendo destinados,

inadequadamente, à agricultura, pecuária e lazer. Isto favorece os processos erosivos com o

conseqüente acúmulo de sedimentos e diminuição da vida útil dos reservatórios, perdas do horizonte

fértil do solo e redução da qualidade da água com efeito sobre a ictiofauna. (TOGORO, 2007)

Florestas de proteção são aquelas que têm como objetivo principal a proteção de recursos

naturais e a melhoria da qualidade ambiental, ao passo que as florestas de produção, como as de

eucalipto e pinus, têm por objetivo maior o retorno econômico, através de seus produtos, como carvão,

celulose, resina e lenha. (BOTELHO, 2001)

As matas nativas das margens dos rios são constituídas por árvores, arbustos, sub-bosque,

bambual, macegas e maciços cerrados, que protegem o solo, além disso, os galhos pendentes oferecem

sombreamento e ambiente adequado para a fauna aquática, abrigo à fauna terrestre e aves,

principalmente no verão e na estiagem quando todos os animais procuram a água. (TOGORO, 2007)

As florestas ciliares entre outros papéis ecológicos, atuam na contenção de enxurradas, na

infiltração do escoamento superficial, na absorção do excesso de nutrientes, na retenção de sedimentos

e agrotóxicos, colaboram na proteção da rede de drenagem e ajudam a reduzir o assoreamento da calha

do rio, favorecem o aumento da capacidade de vazão durante a seca. (ATTANASIO, 2006)

Essas florestas de proteção têm um papel importante por fornecerem matéria orgânica para os

microhabitats dentro dos cursos d´água e por protegerem as espécies da flora e fauna. Além de

atuarem como um filtro natural para possíveis contaminações por produtos químicos, decorrentes do

uso de fertilizantes e agrotóxicos. Os cursos d’água que possuem uma floresta de proteção são menos

impactados pela ação do homem e pelos agentes naturais. Estas florestas formam longos corredores de

vegetação protegendo os rios, sendo necessária para o equilíbrio dos ecossistemas e para a manutenção

da biodiversidade.

2.3 Técnicas para implantação de floresta de proteção

O reflorestamento e a recuperação de áreas degradadas em decorrência de distúrbios

antrópicos têm sido muito estudados atualmente. A sucessão florestal é o conceito mais utilizado nos

modelos de regeneração artificial de florestas de proteção, ou seja, procura-se reproduzir o processo

pelo qual as espécies se regeneram nas florestas naturais.

4

Page 9: Monografia Final Grijó

Segundo FERREIRA (2009) O entendimento de como as diferentes condições da floresta,

desde as clareiras até a mata fechada, são ocupadas por diferentes grupos de espécies, pode orientar a

forma como as espécies podem ser associadas. (FERREIRA, 2009)

Um dos maiores desafios na recomposição de matas ciliares está em encontrar técnicas

adequadas de revegetação para uma determinada área e situação (RESENDE, 1998). Para isso, é

necessário identificar as áreas que podem ser trabalhadas facilmente, as que podem ser melhoradas e,

ainda, as que não apresentam aptidão para a formação de uma cobertura arbórea (DUTRA, 2005).

Quando o objetivo principal é a proteção ambiental, o plantio com espécies nativas é o mais

adequado. Este método de regeneração pode ser por plantios de mudas, onde as principais vantagens

são a garantia da densidade de plantio, pela alta sobrevivência e pelo espaçamento regular obtido.

Porém a qualidade morfo-fisiológica da muda é um dos principais fatores responsável pelo sucesso do

plantio. Por isso, garantir a qualidade da muda e a qualidade do viveiro de onde vão ser obtidas as

mudas é garantir a regeneração do plantio.

O processo de semeadura direta é outro método de regeneração, onde é importante identificar

quais são as limitações que impossibilitam a germinação das sementes nas condições naturais do

campo.

Os principais fatores que interferem o estabelecimento das sementes e de suas plântulas são:

características do solo, competição com ervas daninhas e com gramíneas, predação e qualidade das

sementes. O solo deve ser analisado e preparado para cada situação de regeneração, diminuído assim

as barreiras físicas e aumentando sua umidade para as sementes. A proteção das sementes e plântulas

na fase inicial contras as ervas daninhas e gramíneas é de grande importância para garantir a

germinação e o crescimento das espécies arbóreas. A qualidade dessas sementes também tem grande

valor, pois sementes de baixo vigor podem não germinar ou originar plântulas fracas que não

conseguem se estabelecer.

2.3.1 Os grupos ecológicos e a sucessão florestal

É importante a separação das espécies em grupos ecológicos para o manuseio do grande

número de espécies. O principal critério utilizado para a classificação das espécies tem sido a resposta

à luz das clareiras ou ao sombreamento do dossel. Os grupos são então formados mediante o

agrupamento por funções semelhantes e pelas exigências de cada espécie.

De acordo com Macedo (1993), o primeiro grande grupo, que é o das pioneiras, tem rápido

crescimento, germinam e se desenvolvem a pleno sol, produzem precocemente muitas sementes

pequenas, normalmente com dormência, as quais são predominantemente dispersadas por animais.

O segundo grande grupo, que é o das climácicas, têm crescimento lento, germinam e se

desenvolvem à sombra e produzem sementes grandes, normalmente sem dormência. São denominadas

também tolerantes, ocorrendo no sub-bosque ou no dossel da floresta. As espécies deste grupo

5

Page 10: Monografia Final Grijó

ocorrem também em pequeno número, com médias e altas densidades de indivíduos. (MACEDO,

1993)

Para a implantação de uma floresta de proteção ter maiores chances de resultados satisfatórios,

procura-se reproduzir a situação que ocorreria em uma floresta após passar por um processo simples

de degradação. A floresta quando sofre um corte raso, inicia-se o processo de sucessão florestal.

Segundo Botelho (2001), esta sucessão tem início com a colonização da área pelas espécies pioneiras,

cujas sementes já se encontravam no banco de sementes, muitas delas dependendo apenas da entrada

de luz para que pudessem germinar. Sementes de espécies clímax também germinam nesse primeiro

instante, sobretudo as clímax exigentes de luz, mas em menor intensidade, uma vez que as sementes

de espécies pioneiras estão no banco em numero muito maior.

As espécies pioneiras têm um ritmo de crescimento inicial rápido e intenso, proporcionando

uma rápida cobertura do solo. Os animais atraídos pelos frutos trazem consigo sementes de espécies de

outras florestas, contribuindo para a diversidade e o enriquecimento da regeneração natural nesta

floresta inicialmente degradada.

Com um ritmo de crescimento mais lento, as clímax crescerão abaixo das pioneiras, até

alcançarem o dossel da floresta, quando então as pioneiras estarão atingindo o fim do seu ciclo, e com

sua morte, serão gradativamente substituídas pelas clímax. Assim, completa-se a sucessão e a floresta

adquire uma fisionomia parecida com a que possuía antes do distúrbio. (BOTELHO, 2001)

As características principais das espécies pioneiras e clímax encontram-se na tabela 01. Trata-

se de características gerais, pois nem todas as espécies de um dado grupo terão sempre todas as

características do grupo. Portanto, geralmente uma espécie classificada em determinado grupo

ecológico apresenta a maior parte das características inerentes àquele grupo.

Tabela 01: Características das espécies pioneiras, clímax exigentes de luz e clímax tolerantes

à sombra.

Características Pioneiras Clímax Exigentes de

luz

Clímax Tolerantes à

Sombra

Exigência de luz para

germinar

Exige Exige Não exige

Exigência de luz para o

crescimento

Exige Exige O individuo jovem não

exige, mas o adulto é

heliófilo

Ritmo de crescimento Rápido Moderado/Lento Lento

Longevidade Curta Média/Extensa Extensa

Madeira Leve Pesada Pesada

Período juvenil Curto (Frutificação

precoce

Médio Longo

Continua...

6

Page 11: Monografia Final Grijó

Continuação...

Características Pioneiras Clímax Exigentes de

luz

Clímax Tolerantes à

Sombra

Tamanho das sementes Pequeno Médio Grande

Síndrome

predominante de

dispersão de sementes

Anemocórica e

Zoocórica

Anemocórica e

Zoocórica

Zoocórica e Barocórica

Dormência de

sementes

Geralmente presente Presente/Ausente Geralmente ausente

Classificação das

sementes quanto à

capacidade de

armazenamento

Ortodoxas Ortodoxas/

Recalcitrantes

Recalcitrantes

2.3.2 Composição e arranjo

A composição e o arranjo do plantio dizem respeito ao número de espécies a serem plantadas,

as proporções de cada grupo ecológico e a distribuição desses grupos numa determinada área,

procurando reproduzir o que aconteceria de forma natural no ecossistema no início do processo de

sucessão.

Do ponto de vista ambiental, os plantios feitos aleatoriamente, sem critérios técnicos,

apresentam menores chances de atingir um resultado satisfatório. Por isso para o plantio das diferentes

espécies nativas devem-se levar em conta vários fatores como: as exigências das espécies, sua

adaptação às condições locais e o conhecimento prévio da área a ser regenerada.

Vários modelos vêm sendo utilizados na recomposição da vegetação ciliar, destacando-se o

uso dos conceitos de sucessão florestal. Segundo PEREIRA (1999) o sistema de plantios mistos

compostos de espécies arbóreas de diferentes estádios da sucessão (espécies pioneiras, clímax

exigentes de luz e clímax tolerantes à sombra) é defendido por vários autores por assemelhar-se à

floresta natural composta de um mosaico de estádios sucessionais. (PEREIRA, 1999)

A partir de plantios experimentais, Botelho et al. (1995) indicam como a melhor combinação

para implantação de matas ciliares e plantios em áreas degradadas a utilização de 50% de espécies

pioneiras (P), 40% de clímax exigentes de luz (CL) e 10% de clímax tolerantes à sombra (CS). A

seleção de espécies deve se basear em levantamentos florísticos dos fragmentos remanescentes da

região em questão considerando-se as características dos sítios quanto aos aspectos físico-químicos e

de umidade do solo. (Figura 01)

7

Page 12: Monografia Final Grijó

Figura 01: Distribuição das mudas na área, no espaçamento indicado e em quincôncio, alternando

linhas de espécies pioneiras com linhas de espécies clímax.

De acordo com Botello (2001) com essa proporção (50%, 40% e 10%), para o reflorestamento

de 1 hectare, no espaçamento de 1,5 x 3 m, seriam necessárias 2.222 mudas, sendo 1.111 de espécies

pioneiras; 889 mudas de espécies clímax exigentes de luz e 222 mudas de clímax tolerantes à sombra.

Botello (2001) cita outras opções de composição:

50% de mudas de espécies pioneiras e 50% de espécies clímax exigentes de luz.

(Figura 02)

75% de mudas de espécies pioneiras e 25% de espécies clímax tolerantes à sombra.

(Figura 03)

100% de mudas de espécies pioneiras (Figura 04), sendo que nesse caso, o

recobrimento do solo ocorre em um menor tempo, diminuindo a necessidade de

manutenção. Essa pode ser uma boa estratégia, quando a área que esta sendo

reflorestada encontra-se ladeada por outras matas, o que intensificará a chegada de

sementes, garantindo o aumento da diversidade.

Figura 02: Distribuição das mudas na área, alternado mudas de espécies pioneiras com mudas de

espécies clímax exigentes de luz.

8

Page 13: Monografia Final Grijó

Figura 03: Distribuição das mudas na área, alternando linhas de espécies pioneiras com linhas de

espécies pioneiras e clímax tolerantes à sombra.

Figura 04: Distribuição das mudas na área, no espaçamento indicado e em quincôncio, utilizando

apenas espécies pioneiras.

2.3.3 Espaçamento

O espaçamento, ou seja, número de plantas por hectare depende da qualidade do sitio, das

espécies a serem plantadas e dos objetivos do plantio. Para a implantação de florestas de proteção em

sítios de pior qualidade o espaçamento entre as plantas deve ser menor, para obter melhor resultado,

como o rápido recobrimento do solo e o sombreamento das espécies clímax, proporcionado pelas

copas das espécies pioneiras.

Sítios com melhor qualidade, os espaçamentos entre as plantas pode ser maior, pois o

crescimento dessas plantas oferece o recobrimento do solo em um tempo desejável, mesmo com uma

distância maior entre elas. Porem, para a redução de custos de manutenção, o espaçamento pode ser

menor, mesmo em sítios de melhor qualidade, pois assim o fechamento das copas iria acontecer mais

cedo, proporcionando a eliminação natural da vegetação competidora e a menor necessidade de

capinar o local.

9

Page 14: Monografia Final Grijó

No entanto, não existem estudos conclusivos sobre esse assunto, para que possa ser tomados

como certos exemplos a seguir. Segundo Botelho (2001), resultados obtidos em plantios experimentais

nem sempre podem ser extrapolados para outros locais, devido à heterogeneidade de ambientes,

micro-ambientes, práticas silviculturais e espécies usadas.

2.3.4 Preparo do solo

Vários são os objetivos do preparo do solo, mas prioritariamente ele deve ser efetuado para

melhorar as condições físicas do solo, reduzir as ervas daninhas e facilitar o plantio. O preparo pode

aumentar a taxa de mineralização da matéria orgânica, melhorando a fertilidade do solo no plantio;

melhorar a capacidade de retenção da água no solo ou sua drenagem; quebrar camadas impermeáveis

ao longo do perfil do solo, reduzindo sua densidade aparente e sua resistência à penetração de raízes,

aumentando a aeração, melhorando a porosidade em solos compactados e favorecendo o crescimento

radicular; diminuir o escoamneto superficial (no caso de áreas declivosas), ou encharcamento – no

caso de terrenos planos. (LISBOA JR., 1988)

O ideal é que o preparo da área de plantio seja feito antes do inicio da estação chuvosa, para

que o plantio aconteça juntamente com as primeiras chuvas, aumentando as chances de sobrevivência

das mudas e proporcionando um maior ritmo de crescimento inicial.

As etapas que compõem o preparo do solo variam de acordo com a situação do local. Em áreas

muito declivosas, o coveamento manual é a única operação realizada. Quando a declividade permite a

mecanização, as etapas são aração e gradagem e, se posivel, sulcamento, o qual deve ser feito em

nível, perpendicular ao sentido da declividade, para que cada sulco funcione como um “mini terraço”,

ajudando a reter o escoamento superficial das águas pluviais. Outra vantagem dos sulcos é facilitar a

marcação e abertura das covas no espaçamento determinado, com maior uniformidade. Se for

necessário, deve-se proceder a construção de terraços, em nível ou em gradientes, visando uma maior

conservação do solo na área plantada (BOTELHO, 2001)

2.3.5 Plantio

A realização de um plantio com as técnicas certas é de grande importância na regeneração da

floresta de proteção, já que este plantio mal executado pode resultar em elevadas taxas de mortalidade

das mudas, o que coloca em risco a floresta.

É importante na hora do plantio misturar uma parte da terra retirada da cova com o fertilizante

e voltar com essa mistura para a cova, fazendo com que a muda não entre em contato direto com

fertilizante e sofra algum dano. Deve-se observar a altura do colo da planta, este deve ficar no mesmo

nível do solo, ou um pouco abaixo, para que não ocorra o soterramento e nem que o escoamento

superficial remova o solo ao redor dessa muda, e faça com suas raízes fiquem expostas e a muda

venha a morrer.

10

Page 15: Monografia Final Grijó

2.3.6 Definição das espécies

Deve se plantar espécies nativas com ocorrência em florestas de proteção da região. Plantar o

maior número possível de espécies para gerar alta diversidade florística, na tentativa de reproduzir ao

máximo o ambiente natural. Plantar espécies atrativas à fauna e respeitar a tolerância das espécies à

umidade do solo. (Tabela 02)

Florestas com maior diversidade apresentam maior capacidade de recuperação, melhor

ciclagem de nutrientes, maior atratividade à fauna, maior proteção ao solo contra processos erosivos e

maior resistência a pragas e doenças. No planejamento da revegetação, deve-se considerar, também, a

relação da vegetação com a fauna, que atuará na polinização e dispersão de sementes, contribuindo

com a própria regeneração natural. Espécies regionais, com frutos comestíveis pela fauna, ajudarão a

recuperar as funções ecológicas da floresta (MARTINS, 2001).

Tabela 02: Algumas espécies usadas em reflorestamento na região do Leste de Minas Gerais.

Nome científico Nomes vulgares Grupo ecológicoAcnistus arborescens Marianeira PioneiraAegiphila sellowiana Papagaio ou tamanqueira PioneiraAnadenanthera macrocarpa Angico vermelho ClimaxesAlbizia haslerii Farinha seca IntermediáriaApulea leiocarpa Garapa ClimaxesCaesalpinia echinata Pau Brasil ClimaxesCaesalpinia ferrea Pau ferro ClimaxesCariniana legalis Jequitibá rosa ClimaxesCassia ferruginea Canafístula de fava IntermediáriaCecropia (diversas espécies) Embauba PioneiraCedrela fissilis Cedro ClimaxesCentrolobium robustus Araribá ClimaxesCopaifera langsdorfii Copaiba ClimaxesCroton floribundus Capixingui PioneiraCroton urucurana Sangra d’agua PioneiraCytharexylum myrianthum Pombeira PioneiraDalbergia nigra Jacaranda da Bahia IntermediáriaEriotheca candolleana Catuaba branca IntermediáriaErythrina verna Mulungu IntermediáriaGallesia intergrifolia Pau dalho ClimaxesGenipa americana Jenipapo IntermediáriaHortia arbórea Paratudo ClimaxesHymeneae courbaril Jatobá ClimaxesInga edulis Ingá IntermediáriaJoanesia princeps Cutieira ou boleira Climaxes

Continua...

Continuação...

11

Page 16: Monografia Final Grijó

Nome científico Nomes vulgares Grupo ecológicoLecythis lúrida Inuiba ClimaxesLecythis pisonis Sapucaia ClimaxesMelanoxylon brauna Brauna preta ClimaxesMyroxylon balsamum Cabreúva, Balsamo IntermediáriaOcotea spichiana Canela branca  IntermediáriaParatecoma peroba Peroba do campo ClimaxesPiptadenia gonoacantha Angico jacaré PioneiraPlathymenia foliosa Vinhatico ClimaxesPterogyne nitens Amendoim do mato IntermediáriaPterygota brasiliensis Pau rei ClimaxesSenna alata Fedegoso gigante PioneiraSenna macranthera Fedegoso PioneiraSchinus terebinthifolius Aroeira vermelha IntermediáriaSchizolobium parahyba Guapuruvu IntermediáriaSparattosperma leucanthum Caroba branca IntermediáriaSpondias monbin Caja mirim PioneiraTabebuia avellanedae Ipê roxo IntermediáriaTabebuia chrysotricha Ipê amarelo do cerrado IntermediáriaTabebuia serratifolia Ipê amarelo da mata ClimaxesTabernaemontana fushiaefolia Leiteira Pioneira

2.3.7 Proteção das sementes

Na semeadura direta é importante proteger as sementes para evitar perdas decorrentes por

predadores como as formigas e os pássaros, perdas que ocorrem desde a semeadura até a fase de muda

e também perdas pela movimentação do solo provocado pela chuva, e pelo escoamento superficial,

que enterra a semente, dificultando seu crescimento.

A utilização de protetores físicos sobre as sementes tem como objetivo propiciar melhorias na

germinação das sementes e sobrevivência das mudas e, também, criar um microambiente para o

crescimento das plantas jovens. O uso de protetores, tanto o laminado de madeira, como o copo

plástico sem fundo, propiciou um aumento significativo na emergência e sobrevivência de mudas em

povoamentos de Pinus taeda. Foi verificada, ainda, menor ocorrência de soterramento de sementes,

quando da movimentação do solo decorrente da água da chuva (MATTEI, 1997).

2.3.8 Manutenção

Ao dar início à atividade de revegetação em áreas de florestas de proteção, é importante

considerar que, através deste trabalho, somente se estará fornecendo os ingredientes iniciais

necessários para o início de um processo de restauração da área. A manutenção e proteção das matas,

após essa fase, darão condições para que a natureza se encarregue da continuidade do processo.

(MACEDO, 1993)

12

Page 17: Monografia Final Grijó

A falta de manutenção da área onde esta implantando a floresta de proteção pode comprometer

o futuro da mesma. As operações de manutenção realizadas após o plantio das mudas podem ser

entendidas como: capina, adubação em cobertura e combate à formiga. Estas operações de

manutenção deve se estender pelo tempo que for necessário, geralmente até o segundo ano.

2.3.9 Capina e coroamento

As plantas invasoras aumentam a diversidade biótica do ecossistema, incrementando as

possibilidades de equilíbrio ecológico local. No entanto, na maioria dos casos, as populações das

plantas invasoras atingem elevadas densidades populacionais e passam a condicionar fatores que são

negativos ao crescimento das mudas plantadas, como a competição pelos recursos essenciais ao

crescimento, como água, luz e nutrientes (MARCHI ET AL., 1995).

Dessa forma exige-se o coroamento, que deverá ser feito um círculo em volta da muda

medindo 1 m de uma extremidade a outra, ou seja, com 0,5 m de raio, sempre mantendo a vegetação

das entrelinhas roçadas.

2.3.10 Adubação em cobertura

Adubação em cobertura, ou adubação de manutenção, é aquela realizada após o plantio,

geralmente no início da próxima estação chuvosa, quando as plantas apresentam algum sintoma de

deficiência nutricional. Essa situação é comum em sítios de pior qualidade, principalmente em áreas

degradadas. Somente uma analise da situação, feita por um técnico da área, pode determinar a

necessidade de uma adubação em cobertura, bem como os fertilizantes e dosagens a serem aplicados.

(BOTELHO, 2001)

De acordo com citações de Furtini Neto et al. (2000), a aplicação de 20g de N, 40g de P2O5 e

30g de K2O por cova, eleva consideravelmente o crescimento de algumas espécies florestais nativas.

Os valores aproximados referentes à citação anterior são 100g de sulfato de amônio, 200g de super-

fosfato simples e 50g de cloreto de potássio. Por ser em nascentes, a utilização de adubos orgânicos

devidamente curtidos e disponíveis na propriedade pode reduzir os custos e evitar riscos de

contaminação do lençol freático

Além do uso de fertilizantes poder representar uma parcela considerável do custo de

implantação de florestas, existe um risco ambiental, quando a adubação é realizada sem critérios

adequados, em virtude da natureza dos produtos.

Deve-se ressaltar que o adequado fornecimento de nutrientes contribui sobremaneira para um

rápido, completo e equilibrado estabelecimento da vegetação introduzida, fator precípuo à finalidade

de proteção eletiva para o ambiente das áreas de implantação destas florestas. (BOTELHO, 2001)

13

Page 18: Monografia Final Grijó

2.3.11 Combate à formiga

As formigas cortadeiras constituem um dos problemas fitossanitários mais graves no Brasil e

podem causar grandes prejuízos em áreas agrícolas, pastoris e florestais. (SILVA, 2008)

As formigas cortadeiras, conhecidas como saúvas (Atta spp) e quem-quéns (Acromyrmex spp)

são as principais pragas que comprometem o sucesso do plantio no início de formação da floresta. O

controle dessas formigas deve ser feito antes de iniciar o plantio, durante e depois, até que seja

necessário. O combate com o uso de iscas granuladas, formicidas em pó ou termonebulizador deve se

estender não só a área de plantio, mas nas reservas e ao redor da área plantada.

As porções de isca devem ser colocadas sobre folhas, cascas secas de árvores, telhas ou em

pedaços de bambu para proteger o produto da umidade. (SILVA, 2008)

Sempre que possível, a isca deve ser coberta para evitar a contaminação de animais. As iscas

devem ser aplicadas ao lado da trilha, a mais ou menos 20 cm dos olheiros. A aplicação deve ser feita

em dias secos e em formigueiros ativos, de preferência com as formigas cortando e carregando folhas

para o interior do ninho (bem cedo ou no final do dia). (SILVA, 2008)

Segundo Silva (2008), alguns pontos importantes devem ser considerados:

Não armazenar as iscas granuladas junto com produtos que exalem odores, para que

não haja contaminação e/ou rejeição pelas formigas.

Na hora da aplicação, a isca não deve ser tocada com as mãos, para evitar a

contaminação do aplicador e da isca. A aplicação deve ser feita com um medidor,

como uma colher ou colmo de bambu, por exemplo.

2.3.12 Proteção contra o fogo

De acordo com Ribeiro (2002), aceiros são faixas de terra, de largura variável, sem cobertura

vegetal viva ou morta, destinadas a quebrar a continuidade do material combustível e deter a

propagação do fogo. É uma técnica embasada na eliminação de um dos componentes do triangulo do

fogo, o material combustível.

Segundo RIBEIRO (2002) a largura dos aceiros depende das condições locais, mas,

normalmente, devem ser considerados o tipo de vegetação e a topografia. De forma geral, quanto mais

inclinado for o terreno e maior a densidade da vegetação, mais largo deve ser o aceiro. (Tabela 03)

Tabela 03: Largura do aceiro em função do tipo de vegetação e da

declividade do terreno

Tipo de vegetação Terreno plano Terreno 70% de inclinação

Leve 4 a 12 m 12 a 20 m

Densa 12 a 20 m 20 a 35 m

14

Page 19: Monografia Final Grijó

Fonte: CEMIG apud RIBEIRO, 2002.

Alem de observar o tipo de vegetação e a inclinação do terreno para a construção do aceiro,

recomenda-se que em suas bordas ou nas proximidades não apresente nenhuma vegetação cuja altura

seja superior a largura do aceiro.

Todo material vegetal cortado da área do aceiro deve ser retirado do aceiro e da sua borda,

sendo levado à mata da área subjacente.

A limpeza periódica dos aceiros é de extrema importância como medida de prevenção. De

modo geral, basta realizar a operação de limpeza no inicio da época critica para que os aceiros

atravessem todo o período de perigo de incêndio em bom estado de dormência, com pequeno ou

nenhum crescimento vegetativo. (RIBEIRO, 2002)

2.4 Indicadores e monitoramento da recuperação

O sucesso de um projeto de recuperação de uma floresta de proteção deve ser avaliado por

meio de indicadores de recuperação. Analisando os indicadores, é possível definir se o projeto

necessita de intervenções ou até mesmo ser redirecionado, visando acelerar o processo de sucessão e

de restauração das funções da floresta de proteção. Os indicadores podem também determinar o

momento em que a floresta implantada dispensa a intervenção antrópica e passa a ser auto-sustentável.

Martins (2001) cita que a implantação de um modelo de recuperação, por mais bem planejado

que seja, e com maior embasamento ecológico que tenha, não garante, necessariamente, que

determinada área ciliar terá, no futuro, uma cobertura florestal com capacidade de regeneração, com

efetiva proteção do solo e do curso d’água e atratividade à fauna.

Diversos estudos têm proposto um conjunto de indicadores de avaliação da recuperação e da

sustentabilidade dos projetos de restauração, manejo e ou implantação das florestas de proteção.

Citam-se aqui alguns indicadores de recuperação relacionados com a vegetação.

2.4.1 Regeneração natural

Martins (2001) afirma que a regeneração natural é analisada através de medições de diâmetro,

no nível do solo, e da altura das plântulas e plantas jovens, presentes em pequenas parcelas amostrais,

lançadas na floresta. Uma estratificação vertical auxilia o entendimento da dinâmica da regeneração

natural. Estudos mais detalhados determinam categorias de tamanho para a análise da regeneração.

O estudo é feito para cada espécie, assim é possível distinguir quais espécies estão bem

representadas em todas as classes de tamanho e da mesma forma, quais espécies podem estar tendo

dificuldades de regeneração. A análise da regeneração natural deve levar em conta o tempo em que a

floresta de proteção foi implantada. Se for necessário, pode haver algum tipo de intervenção.

15

Page 20: Monografia Final Grijó

2.4.2 Banco de sementes

O banco de sementes compreende as sementes viáveis presentes na camada superficial do solo.

Através de uma moldura de 0,5 x 0,5cm, lançada na superfície do solo, coleta-se toda a serapilheira e o

solo, numa profundidade de 0-5 cm, que retém a maior parte das sementes. Transferindo para a casa de

vegetação e livre de contaminações externas, são fornecidas condições de luz e de umidade

necessárias para a germinação das sementes. Após um determinado tempo, as sementes germinadas

são contadas e as plântulas identificadas. (MARTINS, 2001)

Espécies pioneiras são as que normalmente formam o banco de sementes, já que estas

apresentam dispersão a longa distância. Porém espera-se que numa área com boa cobertura vegetal e

bom sombreamento estas pioneiras não encontrem condições para germinarem e se estabelecerem.

Para avaliar o sucesso de um modelo de recuperação de uma floresta analisando o banco de

sementes é importante distinguir as espécies do banco de sementes e a equivalência entre espécies

nativas e invasoras. Segundo Martins (2001), um banco rico em sementes de espécies invasoras sugere

que, frente a um distúrbio natural, como a abertura de clareias, estas espécies poderão vir a colonizar a

área, podendo competir com as espécies nativas, afetando a sustentabilidade da floresta de proteção.

2.4.3 Produção de serapilheira

O sucesso na recuperação de uma floresta pode ser analisado pelo retorno de nutrientes do solo

para as plantas, ou seja, a ciclagem de nutrientes, que se inicia com a deposição do material de origem

vegetal e em menor quantidade, o de origem animal, sua posterior decomposição e a liberação dos

nutrientes para o solo. Segundo Martins (2001) a determinação da produção de serapilheira numa

floresta é realizada através da instalação de coletores, ou seja, de caixas de madeira de 0,5 x 0,5 m ou

de 1,0 x 1,0 m, com laterais de 0,1 m e fundo em tela de náilon de malha fina (2 x 2 mm), que são

mantidas a cerca de 10cm acima da superfície do solo. Mensalmente, a serapilheira depositada nestes

coletores é retirada, separada por folhas, frutos, sementes, flores e ramos, secada em estufa e pesada.

A quantificação da produção de serapilheira na área onde foi implantada a recuperação é

importante, pois possibilita a comparação com outras florestas de proteção. Se a produção de

serapilheira da floresta de proteção em fase de regeneração está muito pequena comparada com outras

florestas, pode estar ocorrendo problemas, em nível de retorno de nutrientes para o solo.

2.4.4 Chuva de sementes

Um bom indicativo para uma área em recuperação é a abundante presença de sementes, tanto

dos grupos ecológicos de inicio de sucessão, como de final. Na regeneração de uma floresta de

proteção a presença de espécies não pioneiras é de grande importância. Por isso a ausência ou a baixa

16

Page 21: Monografia Final Grijó

quantidade de sementes dessas espécies na chuva de sementes significa que a floresta de proteção terá

um grande obstáculo para se regenerar. Medidas devem ser tomadas para a chegada dessas sementes

na área onde pretende recuperar, pelo fato das espécies não pioneiras serem de grande valor na

estrutura da floresta.

2.4.5 Abertura do dossel

Numa área ciliar em processo de restauração, espera-se que o dossel torne-se cada vez mais

fechado, à medida em que as árvores cresçam e que suas copas se encontrem. Contudo, em áreas em

que ocorreu mortalidade elevada de mudas, sem posterior replantio, o dossel apresentará muitas falhas,

e a regeneração natural de espécies não pioneiras poderá ser prejudicada. (MARTINS, 2001)

Analisando a abertura do dossel numa floresta implantada pode-se verificar o nível de

recuperação da área, porém este indicador deve ser combinado com outros, principalmente com a

regeneração natural. Pois é possível encontrar uma floresta com um dossel muito fechado e pouca

biodiversidade.

Esta análise da abertura do dossel pode ser feita através de fotografias hemisféricas. E também

pela projeção das copas das árvores, estabelecendo uma proporção entre as áreas cobertas e as abertas.

17

Page 22: Monografia Final Grijó

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante deste trabalho de revisão bibliográfica, fica evidenciada a importância e os benefícios

da implantação das florestas de proteção, com as técnicas corretas e sua devida manutenção. O sucesso

de um projeto de recuperação de florestas e sua implantação deve ser avaliado por meio de seus

indicadores e monitoramento.

As florestas de proteção têm um importante papel de fornecer matéria orgânica, proteger as

espécies da flora e fauna. Áreas que possuem florestas de proteção são menos impactadas pela erosão.

Formam longos corredores de vegetação necessários para o equilíbrio dos ecossistemas e

biodiversidade.

Para obter melhores resultados na implantação dessas florestas, procura-se imitar a situação

que ocorreria em uma floresta nativa após ser perturbada e passar por um processo de sucessão

florestal.

Dentro do contexto da restauração florestal com alta diversidade de espécies nativas regionais,

alguns desafios na fase de implantação ainda necessitam de maiores investigações e trabalhos

científicos.

É importante ressaltar que a implantação de modelos de recuperação, por mais bem elaborado

que seja não garante que a área degradada terá no futuro uma coberta florestal com a capacidade de

regeneração, atratividade à fauna e proteção do solo e do curso d’água.

18

Page 23: Monografia Final Grijó

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATTANASIO, C. M. Adequação ambiental de propriedades rurais: Recuperação de áreas degradadas: Restauração de matas ciliares. 2006. Universidade de São Paulo, Piracicaba.

BOTELHO, S.A.; DAVIDE, A.C.; PRADO, N.J.S. et al. Implantação de mata ciliar. Belo Horizonte: Companhia Energética de Minas Gerais, 1995. 28p.

BOTELHO, S. A. et al. Implantação de florestas de proteção. Lavras: Universidade Federal de Lavras/FAEPE, 2001. 81p.

DUTRA, G. C. Estratificação ambiental visando à recuperação da vegetação ciliar no entorno do lago da Usina Hidrelétrica do Funil, em Minas Gerais. 2005. 111 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) – Universidade Federal de Lavras, Lavras.

FERREIRA, W. C. et al. Estabelecimento de mata ciliar às margens do reservatório da Usina Hidrelétrica de Camargos. 2009. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 19, n. 1, p. 69-81.

FURTINI NETO, A. E. et al. Fertilização em reflorestamento com espécies nativas. In: GONÇALVES, J. L. de M.; BENEDETTI, V. Nutrição e fertilização florestal. Piracicaba: IPEF, 2000. cap. 12, p. 351-383.

GONÇALVES, E. O. et al. Diagnóstico dos viveiros municipais no estado de Minas Gerais. Viçosa, MG: UFV, 2004. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa.

GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. Geomorfologia e Meio Ambiente. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

LISBÃO JÚNIOR, L. Formação de florestas de rápido crescimento. In: Simpósio bilateral Brasil-Finlândia sobre atualidades. Curitiba, 1988. P.346-358.

MACEDO, A. C. Revegetação: matas ciliares e de proteção ambiental. São Paulo: Fundação Florestal, 1993.

MARCHI, S. R. et al. Efeito de períodos de convivência e de controle das plantas daninhas na cultura de Eucalyptus grandis. In: Seminário sobre cultivo do solo em floretas, 1. Anais... Curitiba, 06 a 09/06/95. p. 122-133.

MARTINS, S. V. Recuperação de matas ciliares. Editora Aprenda Fácil. Viçosa – MG, 2001.

MARTINS, S. V. Recuperação de áreas degradadas. Editora Aprenda Fácil – MG, 2009.

MATTEI, L. V. Avaliação de protetores físicos em semeadura direta de Pinus taeda L. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 7, n. 1, p. 91-100, nov. 1997.

PEREIRA, J. A. A. et al. Desenvolvimento de espécies florestais de rápido cresciemnto em diferentes condições de sitio visando a recomposição de matas ciliares. 1999. Dissertação (Mestrado em Engenharia Florestal) – Universidade Federal de Lavras, Lavras. Cerne, V.5, N.1, P.036-051.

REZENDE, A. V. Importância das matas de galeria: manutenção e recuperação. In: RIBEIRO, J. F . Cerrado: matas de galeria. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998. p. 3-16.

RIBEIRO, G. A. Formação e treinamento de brigada de incêndio florestal. Viçosa, CPT, 2002.

19

Page 24: Monografia Final Grijó

SILVA, M. P. S. Preservação de nascentes. Niterói: Programa Rio Rural, 2008

TOGORO, A. H. et al. Reflorestamento ciliar com espécies nativas ao reservatório de Furnas. 2007. Anais I Seminário de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul: o Eucalipto e o Ciclo Hidrológico, Taubaté, Brasil, IPABHi, p. 191-197.

20