monografia final

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SEMINÁRIO EVANGÉLICO DA IGREJA DE DEUS THIAGO DEZEMBRE BUENO A INSPIRAÇÃO E SUFICIÊNCIA DA ESCRITURA: UMA ABORDAGEM DE 2 TIMÓTEO 3:16, 17. GOIÂNIA-GO 2013

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Page 1: Monografia final

SEMINÁRIO EVANGÉLICO DA IGREJA DE DEUS

THIAGO DEZEMBRE BUENO

A INSPIRAÇÃO E SUFICIÊNCIA DA ESCRITURA: UMA ABORDAGEM DE 2

TIMÓTEO 3:16, 17.

GOIÂNIA-GO

2013

Page 2: Monografia final

THIAGO DEZEMBRE BUENO

A INSPIRAÇÃO E SUFICIÊNCIA DA ESCRITURA: UMA ABORDAGEM DE 2

TIMÓTEO 3:16, 17.

Trabalho de Conclusão do Curso de Formação

Eclesiástica Plena em Teologia para obtenção

do título de Bacharel em Teologia do

Seminário Evangélico da Igreja de Deus.

Orientador: Paulo Freitas

GOIÂNIA-GO

2013

Page 3: Monografia final

Dedico este trabalho a todos os meus amigos e

irmãos na fé principalmente aqueles que

sempre estiveram ao meu lado tanto em

momentos difíceis como em momentos alegres.

Dedico especialmente à minha esposa

(Camila) companheira, amiga, que tanto

confio e amo.

Page 4: Monografia final

AGRADECIMENTOS

A construção deste trabalho só foi possível com a colaboração do professor e orientador

Paulo Freitas, que, demonstrou ser um profissional responsável e interessado com a

qualidade da formação dos seminaristas que por ele são orientados.

A todos os professores que contribuíram para a minha formação.

À minha querida esposa que sempre esteve presente nas leituras e correções deste trabalho.

Page 5: Monografia final

RESUMO

A presente pesquisa tem como tema a “Inspiração e Suficiência da Escritura: uma abordagem

de 2 Timóteo 3:16, 17”. A pesquisa ressalta os principais conceitos sobre a “inspiração” da

Escritura, como: inspiração plenária; dinâmica; verbal; mecânica ou ditada; parcial ou

fracionada. Analisa o termo “inspiração” presente na segunda epístola de Paulo a Timóteo,

desde sua origem até o seu emprego na Bíblia e possíveis problemas quanto à tradução literal

do termo a partir do grego theópneustos. Esclarece qual a crença da Igreja a respeito da

“inspiração” desde sua fundação. Faz uma abordagem sobre a principal definição a respeito

de “suficiência da Escritura” principalmente na pregação, ressaltando os principais métodos

de interpretação bíblica que são: gramático-histórico, histórico-crítico e fundamentalista.

Algumas diferentes teologias que influenciam na forma como se interpreta a Bíblia, que são:

teologia da libertação, feminista, negra, liberal e reformada. A pesquisa se encerra mostrando

como o cristão e a igreja podem ser edificados através da utilização da Escritura, conforme

abordado em 2 Timóteo 3:16,17.

Palavras chave: Inspiração. Suficiência. Escritura. Interpretação. Teologia.

Page 6: Monografia final

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 6

2. A INSPIRAÇÃO DA ESCRITURA .................................................................................... 7

2.1 A Natureza da Inspiração .................................................................................................. 8

2.1.1 Inspiração Plenária ............................................................................................................ 8

2.1.2 Inspiração Dinâmica .......................................................................................................... 9

2.1.3 Inspiração Verbal ............................................................................................................. 10

2.1.4 Inspiração Mecânica ou ditada ........................................................................................ 10

2.1.5 Inspiração Parcial ou Fracionada ..................................................................................... 11

2.2 Evidências bíblicas a respeito da inspiração .................................................................. 12

2.3 A doutrina de inspiração da Igreja ................................................................................. 17

3. A SUFICIÊNCIA DA ESCRITURA ................................................................................ 21

3.1 Conceito ............................................................................................................................. 22

3.2 A Suficiência da Escritura na Pregação ......................................................................... 24

3.3 Interpretação das Escrituras ........................................................................................... 26

3.4 Métodos de Interpretação ................................................................................................ 31

2.4.1 Gramático-histórico ......................................................................................................... 31

3.4.2 Histórico-crítico ............................................................................................................... 31

3.4.3 Fundamentalista ............................................................................................................... 33

3.5 Pressupostos teológicos..................................................................................................... 34

3.5.1 Teologia da Libertação .................................................................................................... 35

3.5.2 Teologia feminista ........................................................................................................... 36

3.5.3 Teologia negra ................................................................................................................. 38

3.5.4 Teologia Liberal .............................................................................................................. 39

3.5.5 Teologia reformada.......................................................................................................... 40

4. EDIFICAÇÃO PELA ESCRITURA INSPIRADA: ANÁLISE EM SEGUNDA

TIMÓTEO PARA A ATUALIDADE ................................................................................... 43

4.1 2 Timóteo 3:16-17 ............................................................................................................. 44

4.2 Praticando a Escritura ..................................................................................................... 48

4.2.1 A Bíblia e o Cristão ......................................................................................................... 49

4.2.2 A Bíblia e a Igreja ............................................................................................................ 51

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 54

Page 7: Monografia final

6

1. INTRODUÇÃO1

A presente pesquisa tem como tema A Inspiração e Suficiência da Escritura: Uma

abordagem de 2 Timóteo 3:16, 17. Para a aproximação do objeto de estudo e buscando

alcançar o objetivo proposto, este trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisa

bibliográfica que consiste na leitura e análise da produção teórica já existente acerca do

assunto investigado, permitindo a articulação de conceito e o levantamento de novas questões.

A Igreja de Cristo tem passado por grandes dificuldades, no que se refere a sua

edificação, pois a mensagem cristã tem perdido sua essência. Isso mostra que a Igreja tem

considerado a Escritura insuficiente para sua edificação, tratando-a como um livro comum e

menosprezando sua natureza divina. Esta pesquisa surgiu a partir do momento em que se

percebeu que os meios de edificação da Igreja, utilizados atualmente, tem sido em sua maioria

os meios seculares: a ciência em geral, na tentativa de complementar o ensino bíblico;

utilização do senso comum como meio de repreensão; e o amparo da psicologia em questões

que a Bíblia não demonstra clareza dentro do aspecto comportamental do membro ou de uma

comunidade inteira. Estes meios seculares tornam a Igreja menos bíblica, podendo entrar em

um processo de secularização e consequentemente deixar de cumprir seu propósito essencial

que é a glorificação de Deus.

Este trabalho tem como objetivos conhecer os principais conceitos que envolvem o

tema, realizar a análise do termo “inspiração” presente na segunda epístola de Paulo a

Timóteo, desde sua origem até o seu emprego na Bíblia e possíveis problemas quanto à

tradução literal do termo a partir do grego theópneustos. Objetiva também abordar sobre a

suficiência da Escritura, sua pregação, seus diferentes métodos de interpretação que são:

gramático-histórico, histórico-crítico e fundamentalista. As diferentes teologias que

influenciam na forma como se analisa a Bíblia, são elas: teologia da libertação, feminista,

negra, liberal e reformada. A pesquisa se encerra mostrando como o cristão e a igreja podem

ser edificados através da utilização da Escritura, conforme abordado em 2 Timóteo 3:16,17.

1 Todas as passagens bíblicas utilizadas neste trabalho foram extraídas da BÍBLIA, Sagrada. Nova versão

internacional, São Paulo: Vida, 2007.

Page 8: Monografia final

7

2. A INSPIRAÇÃO DA ESCRITURA

Chegar a uma definição clara e aceitável a respeito da inspiração bíblica tem se

tornado um desafio um tanto complicado. “Pois tem sido alvo de muita confusão em recentes

discussões.”2 O que contribui para isso certamente é a enorme quantidade de teorias que

envolvem o assunto. Sendo que “aquele que, procurando conhecer a verdade sobre este tema

[...], seria imediatamente conduzido por ele para todas as direções possíveis.”3 Mesmo

havendo divergências em alguns pontos, é importante afirmar que a definição sobre a

inspiração bíblica que tem prevalecido desde o nascimento da Igreja “é a constante e

permanente convicção da Igreja sobre a divindade das Escrituras e confiadas a sua guarda”4.

Também é correto afirmar que se trata de um agir sobrenatural da parte de Deus no

intuito de inspirar homens “feitos de carne e osso e dotados de faculdades emocionais e

intelectuais,”5 a produzir documentos fiéis que expressam o caráter de seu autor (Deus), e que

foi autoridade na época em que foram redigidos, e em dias atuais. Trata-se da voz de Deus

expressa em palavras divinamente escolhidas. O material produzido traz consigo marcas ou

expressões humanas, não dos pensamentos e conceitos próprios dos redatores, mas do

pensamento dos redatores cativo ao Espírito Santo. Essas marcas são; “caráter, temperamento,

dons, cultura, educação, vocabulário, estilo, etc., peculiares a cada um deles.”6 Esse é um

ponto que não coloca em descrédito o fator inspiração. Tanto o fato de Deus usar o homem

para transmitir sua mensagem não descaracteriza a plena inspiração da mensagem, como o

fato de que “a encarnação não tornou a pessoa de Cristo pecaminosa.”7 Mas como elaborar

uma obra divina usando o labor humano? Este questionamento também foi feito por Ryle8,

que declara não poder explicar como e de que maneira isso foi feito. O ponto chave é que o

Espirito Santo inspirou o homem habitando dentro dele, o conduzindo com permissões e

restrições, para elaborar seus oráculos.

Segundo Groningen:

O Espírito Santo habitou em certos homens, inspirou-os, e assim dirigiu-os, que eles,

em plena consciência, expressaram-se na sua singular maneira pessoal. O Espírito

2 WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 84.

3 Ibid.

4 Ibid., p. 85.

5 MIRANDA, Daniel Leite Guanaes de. Calvino e Sola Scriptura: a aplicação deste princípio na cidade de

Genebra e sua Relevância para o Brasil dos dias atuais. Disponível em:

<http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/Calvino-Sola-Scriptura_Daniel-Leite.pdf>. Acesso em: 01 de set.

2013. 6 ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 70.

7 SANTOS, João Alves dos. Bibliologia: revelação, inspiração e cânon, A Natureza da Inspiração, parte II.

Centro Presbiteriano de Pós-Graduação, Universidade Mackenzie, São Paulo, 2009, p. 3. 8 RYLE, J. C. A Inspiração das Escrituras. São Paulo: Pes, s.d, p. 9.

Page 9: Monografia final

8

capacitou homens a conhecer e expressar a verdade de Deus. Ele impediu-os de

incluir qualquer coisa que fosse contrária a essa verdade de Deus. Ele também os

impediu de escrever coisas verdadeiras que não eram necessárias. Assim, homens

escreveram como homens, mas, ao mesmo tempo, comunicaram a mensagem de

Deus, não a do homem.9

2.1 A Natureza da Inspiração

Segundo Bavinck, “a visão correta de inspiração depende [...] de colocar o autor

primário e os autores secundários em relação correta, um para com os outros,”10

para saber

como se relacionam e então explicar a ação do Espírito Santo em inspirá-los. No entanto

muitas teorias sobre a Inspiração Bíblica partiram de “diferentes concepções, tendo variados

graus de legitimidade, dependentemente do ângulo de observação da pessoa que as

formula.”11

Dentre as muitas teorias, “algumas delas não se coadunam com o ensino bíblico

sobre o assunto.”12

No entanto, grande parte das definições nasceram embasadas em três

movimentos ao longo da história da Igreja: ortodoxia, modernismo e neo-ortodoxia.13

Dentre

as principais teorias estão: inspiração plenária, inspiração dinâmica, inspiração verbal,

inspiração mecânica ou ditada e inspiração parcial ou fracionada.

2.1.1 Inspiração Plenária

Sobre esse tema entende-se que toda a Bíblia é inspirada e não somente algumas

partes. A Escritura é vista como um “corpo de revelação formado de partes, mas

indivisível,”14

onde cada parte foi divinamente inspirada. “A inspiração pressupõe o controle

do Espírito Santo,”15

esse controle se estende para a totalidade da Escritura, mas “não

significa necessariamente que todas as partes têm a mesma importância e o mesmo peso em

relação a qualquer doutrina em particular.”16

É importante também enfatizar os aspectos que

compõem a Escritura e que também recebeu inspiração como “os diferentes tipos de literatura

9 GRONINGEN, apud COSTA, Hermisten Maia P. A Inspiração e Inerrãncia das Escrituras. São Paulo: Cultura

Cristã, 2008, p. 66-67. 10

BAVINCK, apud ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 68. 11

GEISLER, Norman; WILLIAM, Nix. Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida,

2006, p. 19. 12

Ibid., p. 15. 13

“Na maior parte dessa história, prevaleceu a visão ortodoxa, a saber: a Bíblia é a Palavra de Deus. Com o

surgimento do modernismo, muitas pessoas vieram a crer que a Bíblia meramente contém a Palavra de Deus.

Mais recentemente, sob a influência do existencialismo contemporâneo, os teólogos neo-ortodoxos têm ensinado

que a Bíblia torna-se a Palavra de Deus quando a pessoa tem um encontro pessoal com Deus em suas páginas”.

GEISLER, Norman; NIX, William. Introdução a Bíblia: como a bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida, 2006,

p. 15. Conferir mais detalhes desses movimentos, p.15-18. 14

SANTOS, João Alves dos. Bibliologia: Revelação, Inspiração e Cânon, A Natureza da Inspiração, parte II.

Centro Presbiteriano de Pós-Graduação, Universidade Mackenzie, São Paulo, 2009, p. 5. 15

Ibid. 16

Ibid., p. 6

Page 10: Monografia final

9

que apresenta; história, poesia, cartas, profecias [...], as questões de ciência, biologia, [...] e

geografia [...], e em todas as questões que envolvem a vida do homem.”17

De Gênesis ao

Apocalipse, tudo o que foi registrado, o foi pela vontade de Deus (2Tm 3.16; 2Pe 1.20,21).18

2.1.2 Inspiração Dinâmica

Essa teoria “destaca a combinação dos elementos divino e humano no processo de

inspiração da escrita da Bíblia.”19

Tal pensamento não reparte a autoridade da Escritura entre

um livro metade humano e metade divino, mas sim em um livro inteiramente divino com

elementos humanos não desprezados, de acordo com a soberana vontade de Deus. O termo,

inspiração dinâmica, também é chamado de inspiração orgânica, este termo;

Serve para acentuar o fato de que Deus não empregou os escritores mecanicamente,

mas atuou neles de maneira orgânica, em harmonia com as leis de seu próprio

íntimo. Usou-os precisamente como eram [...], iluminando-lhes a mente, incitou-os a

escrever; reprimiu a influência do pecado sobre sua atividade literária, e os guiou na

escolha de suas palavras e nas expressões de seus pensamentos.20

Também é visto como “uma interação harmoniosa de forças. Deus preparou os seus

servos desde a eternidade, tornando-os órgãos de inspiração,”21

“o Espírito os capacitou a

conhecer e expressar a verdade de Deus. Ele impediu-os de incluir qualquer coisa que fosse

contrária a essa verdade.”22

Uma forte afirmação conclui esse pensamento, onde “Deus se

valeu livre e soberanamente de seus conhecimentos e personalidades.”23

Esse conceito foi

duramente criticado por causa da prevalência do fator humano que reduziria o seu caráter

autoritativo e consequentemente tornaria a Bíblia um livro falível. Segundo Anglada, o termo

inspiração dinâmica nada mais é que um;

17

HANKO, Ronald. A Inspiração Plenária da Escritura. Disponível em:

<http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/a-inspiracao-plenaria-escritura_dag_r-hanko.pdf>. Acesso em:

03 de set. 2013. 18

“Toda a Escritura é Inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a

instrução na justiça”. 2Pe 1:21,22. “Pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram

da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo”. BÍBLIA Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida,

2007. 2Tm 3:16. 19

ERICKSON, Millard. Introdução a teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 71. 20

BERKHOF, Louis. Manual de Doutrina Cristã. 1992 apud SANTOS, João Alves dos. Bibliologia. Centro

Presbiteriano de Pós-Graduação, Universidade Mackenzie, São Paulo, 2009, p. 3. 21

HOEKSEMA, Homer C. The Doctrine of Scripture. s.n.t. p. 78ss apud COSTA, Hermisten Maia P. A

Inspiração e Inerrãncia das Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 67. 22

COSTA, Hermisten Maia P. A Inspiração e Inerrãncia das Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 68. 23

Ibid.

Page 11: Monografia final

10

Conceito racionalista que influenciou o método histórico-crítico24

de interpretação, e

que reduz a inspiração a mera iluminação [...], os autores bíblicos foram apenas

homens iluminados. A excelência dos seus escritos deve ser atribuída à influência

santificadora no caráter, mente e palavras deles, devido à comunhão profunda com

Deus ou pela convivência com Jesus, e não a uma ação ímpar do Espírito Santo.25

2.1.3 Inspiração Verbal

Tanto a inspiração verbal como a plenária defende a divina inspiração da Escritura em

sua totalidade, porém a inspiração verbal afirma que cada palavra da Escritura é inspirada,

pois “Deus dirigiu até a própria escolha das palavras no Santo Volume, de maneira que pode

ser dito verdadeiramente que a Palavra de Deus é sem mistura de erro humano.”26

É

impossível que existam partes ou expressões inteiras da Escritura que sejam inspiradas sem

que as palavras que as compõem também sejam inspiradas, são elas que vão dar uma

autoridade divina a cada parte ou expressão. “Não é possível expressar ideias sem palavras.

Não é possível nem mesmo pensar sem palavras.”27

Segundo Harris o termo verbal passou a

ser usado;

Para preservar o mesmo sentido e evitar deturpações daqueles que querem usar o

termo plenária significando apenas que todas as partes da Bíblia, de Gênesis a

Apocalipse, foram de algum modo produzidas por Deus, sem que, contudo, sejam

necessariamente de origem divina.”28

Sobre inspiração verbal Geisler afirma que;

Não se tratava simplesmente de uma mensagem de Deus sobre a qual os homens

tinham a liberdade para transmitir nas suas próprias palavras, mas cada uma das

palavras era escolhida por Deus [...], até mesmo os tempos verbais são enfatizados

por Deus.29

2.1.4 Inspiração Mecânica ou ditada

Logo acima foi dito através de pequenas e simples definições, algumas teorias a

respeito da inspiração bíblica, não foram citadas todas elas, mas, as principais, coerentes e

dignas de serem citadas. Foi averiguado o que a Escritura poderia ser, no que diz respeito aos

seus escritos como inspirados, mas também é importante ressaltar o que a Escritura não é de

24

[Foi um método de interpretação] “que surgiu com o Iluminismo, ao adotar os pressupostos racionalistas

quanto às Escrituras, contrários à sua origem divina. Ao tratar a Bíblia como qualquer outro livro de religião,

deixando de levar em conta sua inspiração e divina autoridade. [...], como resultado, a Bíblia passou a ser vista,

não como Palavra de Deus em sua inteireza, mas como registro de fé de comunidades religiosas, primeiro a

judaica e depois a cristã”. LOPES, Augustus Nicodemos. A Bíblia e seus intérpretes: uma breve história da

interpretação, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 26. 25

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 69. 26

HARRIS, Laird. Inspiração e Canonicidade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 17. 27

SANTOS, João Alves dos. Bibliologia: Revelação, Inspiração e Cânon: A Natureza da Inspiração, parte II.

Centro Presbiteriano de Pós-Graduação, Universidade Mackenzie, São Paulo, 2009, p. 1. 28

HARRIS, R. L. Inspiration and Canonicity of the Bible: An Historical and Exegetical Study. Grand Rapids:

Zondervan, 1957, p. 19-20 apud ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 73 29

GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Cpad, 2010, p. 219.

Page 12: Monografia final

11

maneira alguma. O primeiro ponto é a Inspiração mecânica, que afirma que Deus não se valeu

da personalidade, estilo ou cultura, de seus autores secundários, anulando completamente suas

mentes, para que fosse produzida a Escritura de Deus.

Se opondo a essa teoria Champlin afirma que;

A inspiração divina não suprimiu ou abafou a individualidade de qualquer escritor

sagrado; pelo contrário, utilizou-se dela. A Palavra de Deus veio à existência através

de muitos e diferentes canais humanos e a evidência das variações de estilo dá

testemunho da realidade desse fator humano.30

A preparação desses autores teve início desde o nascimento e cada um deles sabia

exatamente o que estava fazendo, pois, talvez pelo fato de serem secundários transmita a ideia

de que eles foram completamente passivos, pelo contrário, existia uma razão lógica para

produzirem esses escritos. E o que foi produzido de Escritura, algumas partes, talvez eles nem

soubessem que estavam sendo inspirados pelo Espirito Santo. Em outras partes “os autores

bíblicos não foram muito mais do que copistas, visto que apenas transcreveram as palavras de

Deus,”31

(como por exemplo, em Genesis 22:15-18; Êxodo 20:1-17)32

.

2.1.5 Inspiração Parcial ou Fracionada

Essa ideia defende o fato de que a Bíblia não é em seu todo inspirada e sim algumas

partes. “Os defensores dessa ideia entendem que doutrinariamente a Bíblia contém a Palavra

de Deus.”33

Sendo que a tarefa de encontrar nela o que é inspirado (tentando separar o que é

inseparável) está a cargo do labor humano, correndo um risco nocivo por se colocar superior

30

CHAMPLIN, Russel. N. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. 2.v. s.l, s.d. p. 475. 31

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 68. 32 “Pela segunda vez o Anjo do Senhor chamou do céu a Abraão e disse: ‘juro por mim mesmo’, declara o

Senhor, ‘que por ter feito o que fez, não me negando seu filho, o seu único filho, esteja certo de que o abençoarei

e farei seus descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar. Sua

descendência conquistará as cidades dos que lhe forem inimigos e, por meio dela, todos os povos da terra serão

abençoados, porque você me obedeceu’. Êx 20: 1-17 “E Deus falou todas estas palavras: ‘Eu sou o Senhor, o teu

Deus, que te tirou do Egito, da terra da escravidão. Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti

nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te

prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo os

filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração daqueles que me desprezam, mas trato com

bondade até mil gerações aos que me amam e guardam os meus mandamentos. Não tomarás em vão o nome do

Senhor teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o seu nome em vão. Lembra-te do dia de

sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, mas o sétimo dia é o sábado

dedicado ao Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus

servos ou servas, nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades. Pois em seis dias o

Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor

abençoou o sétimo dia e o santificou. Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o

Senhor teu Deus te dá. Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás. Não darás falso testemunho contra o teu

próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seus servos ou

servas, nem seu boi ou jumento, nem coisa alguma que lhe pertença.’” 33

COSTA, Hermisten Maia P. A Inspiração e Inerrãncia das Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 63.

Page 13: Monografia final

12

(colocar-se superior a Palavra de Deus é um erro) ao objeto estudado como se fizesse uma

pesquisa em qualquer obra literária comum. Não somente como parcial, mas alegam também

que a Bíblia “contém erros de história, cronologia, arqueologia, geografia e etc. [Sendo que a

ideia comum é de que a Escritura] só teria autoridade em matérias morais e espirituais.”34

A Bíblia é fruto do trabalho de homens que foram inspirados por Deus a escrever

decretos eternos completamente relevantes em qualquer época. Pois somente o Espírito Santo

poderia produzir um documento tão fiel capaz de alcançar valores morais, éticos, sociais e

espirituais tanto de um homem como de um país inteiro tornando-os totalmente cativos a ele.

Nada supera seu alcance e nada pode produzir resultados semelhantes ao que a Escritura

produz. Mesmo que seu conteúdo tenha partes que são enigmáticas e até incompreensíveis ao

homem, ela também é composta de pontos claros e coerentes com abordagens atuais. Essa é a

Palavra de Deus, onde cada expressão que a compõe é fruto do labor harmonioso do Criador e

sua criação.

2.2 Evidências bíblicas a respeito da inspiração

Antes de entrar na questão da reivindicação que a Bíblia faz de si mesma como obra

divina, é importante tratar do emprego do termo “inspiração”35

, que tem sua origem no “latim

e é a tradução do termo grego ‘theópneustos’36

de 2Tm 3:16.”37

Esta “palavra e suas variantes

parecem ter entrado no inglês médio a partir do francês e tem sido empregada desde então (já

no início do século 14).”38

Essas variantes foram multiplicadas e o emprego do termo ganhou

mais amplitude e variações com;

Um número considerável de significados, físicos e metafóricos, seculares e

religiosos [...]. O substantivo “inspiração” embora já estivesse em uso no século 14,

não parece ocorrer em nenhum outro sentido, a não ser o teológico, até o final do

século 16. O sentido especificamente teológico de todos esses termos é regulado, é

claro, por seu uso na teologia latina e isto se deve, em última instância, ao seu

emprego na Bíblia latina. Na Bíblia latina Vulgata, o verbo inspiro (Gn. 2.7; Sab

15.11; Ec 4.12; 2Tm 3.16; 2 Pe 1.21) e o substantivo inspiratio (2Sm 22.16; Jó 32.8;

Sl 17.16; At 17.25) ocorrem quatro ou cinco vezes em aplicações um pouco

diferentes. No desenvolvimento de uma nomenclatura teológica, porém, eles

adquiriram [...] um sentido técnico como referência aos escritores da Bíblia ou aos

livros bíblicos.39

34

COSTA, Hermisten Maia P. A Inspiração e Inerrãncia das Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 63. 35

“Lat. Inspiratione, 1. Ato de inspirar (-se) ou de ser inspirado. 2. Qualquer estímulo ao pensamento ou à

atividade criadora. 3. Entusiasmo poético; estro. Pl.: - ções. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini

Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8. ed. Curitiba: Positivo, 2010, p. 430. 36

Este termo será abordado com mais detalhes no terceiro capítulo. 37

PACKER, J. I; COMFORT, Philip Wesley (Org.). A Origem da Bíblia. Rio de Janeiro: Cpad, 1998, p. 49. 38

WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 106,

parêntese do autor. 39

WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 106.

Page 14: Monografia final

13

O termo então é basicamente definido como o agir sobrenatural de Deus sobre os

escritores bíblicos, “de modo que o produto de suas atividades transcende os poderes

humanos e se torna divinamente autoritativo.”40

A Escritura é vista como um produto divino

desenvolvido por homens inspirados, e o seu propósito “é assegurar a ‘infalibilidade’41

do

registro daquilo que foi revelado.”42

Quando se questiona a autenticidade e utilidade da Bíblia, a defesa mais contundente

está nela mesma, expressada em muitos versículos sendo que os mais utilizados são os de 2

Timóteo 3:16 “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão,

para a correção e para a instrução na justiça” e 2Pedro 1:21 “Pois jamais a profecia teve

origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito

Santo”. Citar os versículos não configura um erro, até porque eles expressam toda a verdade a

respeito da origem e utilidade da Escritura. “Mas essa citação dá margem à acusação de

‘raciocínio circular’43

: Prova-se a Bíblia citando a Bíblia.”44

Essa acusação feita pelos críticos

pode não ser tão relevante quando se analisa o patamar em que a Igreja primitiva colocava as

Escrituras, pois tanto o Antigo Testamento quanto o Novo Testamento eram tidos como

Palavra de Deus infalível. A Palavra testemunhando da própria Palavra e a única capaz disso,

validando-a e autenticando-a dando a si própria autoridade. Contudo é extremamente

importante conferir o que Jesus diz em Mateus 15:17,1845

se referindo,

Claramente aos sagrados escritos dos judeus como uma unidade, e exatamente uma

unidade sagrada bem definida. Ele diz positivamente que esse livro é perfeito até o

menor detalhe. Não é mera inspiração verbal que ele ensina [...], mas inspiração das

próprias letras! A menor letra era o ‘Yodh’ hebraico, a menor letra do alfabeto

hebraico. Exatamente o que significa o ‘menor traço da pena’ é menos claro. A

maioria considera como se referindo às pequenas partes de letras hebraicas que as

40

WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 106. 41

“A Escritura é a Palavra de Deus, ela é perfeita também. Encontrar erro na Escritura é encontrar erro em Deus.

Receber a Escritura como algo menos que infalível, é negar a imutabilidade e soberania de Deus.” HANKO,

Ronald. A Infalibilidade da Escritura 2008, p. 1. Disponível em

<http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/a-infalibilidade-escritura_dag_r-hanko.pdf>. 42

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 63, aspas simples nossa. 43

“A Bíblia alega ser a Palavra de Deus. Esse é o nosso ponto de partida. Com certeza, simplesmente porque um

livro diz ser a Palavra de Deus não o torna tal coisa. Mas se um livro é a Palavra de Deus, ele certamente alegará

ser a Palavra de Deus. Se um livro é a Palavra de Deus, então o que ele diz será verdade. Pode parecer estranho

que citemos a Bíblia para provar que a Bíblia é a Palavra de Deus. Isso é o que os filósofos chamam de

“argumento circular”. Quando provamos a autoridade da Bíblia citando a Bíblia, assumimos desde o princípio

que a Bíblia é autoritativa. Isso é apenas um círculo vicioso de raciocínio, que não nos levará a nenhum lugar?

Pode parecer que precisamos provar a verdade da Bíblia por algum outro padrão “neutro” externo. Certamente,

se fizermos isso, teríamos que responder o que torna esse padrão autoritativo. Apenas criaríamos outro círculo

que necessitaria ser defendido” DEMAR, Gary. Raciocínio Circular. Disponível em

<http://www.monergismo.com/textos/apologetica/raciocinio-circular_demar.pdf>. 44

HARRIS, Laird. Inspiração e Canonicidade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 39. 45

“Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade:

Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que

tudo se cumpra.” BÍBLIA Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007.

Page 15: Monografia final

14

distinguem uma da outra, como nosso pingo no ‘i’ e o traço que cruza o ‘t’. Outros

acham que pode ser uma referência à letra hebraica ‘Waw’, que muitas vezes servia

só para distinguir uma vogal longa de uma vogal breve. Em todo caso, o ponto

principal está claro. Jesus declarou que as Escrituras eram perfeitas até na letra. 46

A Bíblia está repleta de afirmações do tipo “assim diz o Senhor” ou “está escrito”.

Trata-se de uma evidência interna47

conhecida como “autoridade [bíblica] que se

autoconfirma.”48

Isso só pode ocorrer quando existem ouvintes para essas palavras. Um

exemplo disso foi quando Deus veio ao profeta Ageu dizendo: “assim diz o Senhor dos

Exércitos: ‘Ainda não chegou o tempo de reconstruir a casa do Senhor...” (Ag 1:2). Na época

os ouvintes eram o governador de Judá, Zorobabel, filho de Sealtiel, e o sumo sacerdote

Josué, filho de Joazadaque, essas palavras vinham cheias de autoridade, pois, a expressão

“assim diz o Senhor” qualifica a afirmação como autoridade máxima. Para o ouvinte hoje em

dia, essas afirmações antes desconhecidas depois de captadas passa para o status de

autoridade suprema e guia, palavras que se resumiam em tinta no papel ganha vida em seu

coração com apenas uma atitude, a de ouvir, ouvir palavras que soam “semelhantes a um

rugido de um leão [...]. [E] o modo mais convincente de demonstrar a autoridade de um leão é

soltá-lo,”49

assim será visto do que ele é capaz. A Escritura não pode ser domesticada,

semelhante ao leão não pode ser domada ou controlada, ela exerce a autoridade que lhe foi

atribuída por natureza. Sendo assim, a Escritura toma o único posto que lhe é devido, que é

sujeitar o ouvinte por inteiro a ela.

O testemunho da mensagem bíblica também é rico em seu propósito transformador. E

como pré-requisito para isso o mesmo Espírito que inspirou a escrita convence o ouvinte em

seu espírito de que a própria escrita é palavra inspirada por Deus “iluminando a mente e o

coração em trevas [...], permitindo que [o indivíduo] reconheça a [natureza] divina das

Escrituras.”50

Apóstolo Paulo afirma que essa palavra é “poder de Deus para a salvação de

todo aquele que crê” (Rm 1: 16)51

. “Relaciona-se àquilo que o crente vê ou sente em sua

46

HARRIS, Laird. Inspiração e Canonicidade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 40. 47

“Há duas espécies de evidências que se devem levar em conta no que diz respeito à inspiração da Bíblia: a

evidência que brota da própria Bíblia (chamada de evidência interna), e a que surge de fora da Bíblia (conhecida

como evidência externa).” GEISLER, Norman; NIX, William. Introdução a Bíblia: como a Bíblia chegou até

nós. São Paulo: Vida, 2006, p. 53-54. 48

GEISLER, Norman; WILLIAM, Nix. Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida,

2006, p. 54. 49

Ibid. 50

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 87, colchete nosso. 51

“Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê:

primeiro do judeu, depois do grego.”

Page 16: Monografia final

15

experiência pessoal com a Bíblia. [Isso acontece apenas] para os que se acham dentro do

cristianismo.”52

Sem dúvida que essas evidências brotam da própria Bíblia.

A Escritura não somente faz reivindicações através de afirmações explicitas, mas

também se evidencia na observância do conteúdo bíblico como um todo, tendo em vista a

harmonia dos livros, a profundidade da mensagem e o seu testemunho de poder. Mesmo

levando em consideração alguns problemas que “estudiosos tem chamado de

distanciamento,”53

que são de ordem temporal, contextual, cultural, linguístico e autoral54

todos esses livros tomam uma só direção, que é Cristo. Da criação até as coisas futuras o

enredo é o mesmo, trata-se de uma progressão ininterrupta em parte alguma. Geisler trata o

conjunto de livros como;

66 livros escritos ao longo de 1500 anos, por cerca de 40 autores, em diversas

línguas, com centenas de tópicos, é muito mais que mero acidente que a Bíblia

apresente espantosa unidade temática – Jesus Cristo. Um problema – o pecado – e

uma solução – o Salvador Jesus – unificam as páginas da Bíblia, do Gênesis ao

Apocalipse.55

Nos ensinos de Jesus as Escrituras eram autoridade. Em momento algum Ele negou o

Antigo Testamento ou fez menção de que apenas algumas partes é que mereciam crédito. Nas

palavras de Jesus existe uma grande evidência que está em Mateus 5:1856

, onde ele afirma que

de maneira alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço até que tudo se

cumpra. Em João 10:3557

, Jesus diz que a Escritura não pode ser anulada. Em alguns

versículos Jesus utiliza a afirmação “está escrito” (Mt 4:4; Mt 11:10; Lc 10:26; Jo 6:45)58

. Em

outros versículos ele atribui a autoria divina para as Escrituras como sendo palavras

52

GEISLER, Norman; WILLIAM, Nix. Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida,

2006, p. 55, colchete nosso. 53

LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 23. 54

Encontra-se tal abordagem de forma esclarecedora e útil em LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus

intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 23-27. 55

GEISLER, Norman; WILLIAM, Nix. Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida,

2006, p. 55. 56

“Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou

o menor traço, até que tudo se cumpra.” 57

“Se ele chamou ‘deuses’ àqueles a quem veio a palavra de Deus (e a Escritura não pode ser anulada)”. 58

Mt 4:4 “Jesus respondeu: Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da

boca de Deus’". Mt 11:10 “Este é aquele a respeito de quem está escrito: ‘Enviarei o meu mensageiro à tua

frente; ele preparará o teu caminho diante de ti’. Lc 10:26 “‘O que está escrito na Lei?’, respondeu Jesus. ‘Como

você a lê?’” Jo 6:45 “Está escrito nos Profetas: ‘Todos serão ensinados por Deus’. Todos os que ouvem o Pai e

dele aprendem vêm a mim.”

Page 17: Monografia final

16

relacionadas a afirmações do próprio Deus (Mt 15:4; Mt 22:44)59

. “Para Jesus [a Escritura] é

fundamento da doutrina, a fonte de solução, e o fim do argumento.”60

Já no Antigo Testamento os profetas escolhidos de Deus para intermediar sua

mensagem tinham convicção da origem da mesma (Êx 4:12; Dt 18:18; 2Sm 23:1-2; Os 1:2;

Hc 2:1; Zc 1:9; etc)61

. O chamado dos profetas era para que suas anunciações ao povo

tivessem uma fonte exclusiva de autoridade, no entanto, antes de cada afirmação eles diziam

sempre “‘assim diz o Senhor’, ‘ouvi a palavra do Senhor’ ou palavra que ‘veio da parte do

Senhor’. Muitas vezes, o que eles falam é explicitamente atribuído ao próprio Deus”62

(Js

24:2; Is 1:2; Is 8:1; Jr 1:2; Ez 1:3; Ez 2:1; etc).63

Em relação aos Apóstolos as afirmações sobre a inspiração foram bem explícitas,

como por exemplo 2Tm 3:16 e 2Pe 1:21, versículos já citados anteriormente. Existem vários

outros versículos que auxiliam no sentido de comprovar a inspiração divina da Escritura, mas

os que aqui foram citados elucidam bem essa verdade. Jesus, os Apóstolos e os Profetas em

nenhum momento deixaram escapar nenhuma ideia, a menor que seja, a respeito de alguma

falha, ou discordância entre eles ou entre as partes desse Livro, “mas o aceitam totalmente

[...], sem reservas [e] incondicionalmente [...] como verdadeiro e divino em todas as suas

partes.”64

59

Mt 15:4 “Pois Deus disse: ‘Honra teu pai e tua mãe’ e ‘quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe terá que ser

executado.’” Mt 22:44 “O Senhor disse ao meu Senhor: ‘Senta-te à minha direita, até que eu ponha os teus

inimigos debaixo de teus pés.’” 60

BAVINCK, Herman. Reformed Dogmatics. Vol. 1, Prolegomena, ed. John Bolt, trans. John Friend. Grand

Rapids: Baker Academic, 2003, p. 395 aped ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013,

p. 66, colchete nosso. 61

Êx 4:12 “Agora, pois, vá; eu estarei com você, ensinando-lhe o que dizer” 2 Sm 23:1-2 “Estas são as últimas

palavras de Davi: ‘Palavras de Davi, filho de Jessé; palavras do homem que foi exaltado, do ungido pelo Deus de

Jacó, do cantor dos cânticos de Israel: O Espírito do Senhor falou por meu intermédio; sua palavra esteve em

minha língua.’” Dt 18:18 “Levantarei do meio dos seus irmãos um profeta como você; porei minhas palavras na

sua boca, e ele lhes dirá tudo o que eu lhe ordenar.” Os 1:2 “Quando o Senhor começou a falar por meio de

Oséias, o Senhor lhe disse: ‘Vá, tome uma mulher adúltera e filhos da infidelidade, porque a nação é culpada do

mais vergonhoso adultério por afastar-se do Senhor.’” Hc 2:1 “Ficarei no meu posto de sentinela e tomarei

posição sobre a muralha; aguardarei para ver o que ele me dirá e que resposta terei à minha queixa.” Zc 1:9

“Então perguntei: Quem são estes, meu senhor? O anjo que estava falando comigo respondeu: ‘Eu lhe mostrarei

quem são.’” 62

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 67. 63

Js 24:2 “Josué disse a todo o povo: ‘Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Há muito tempo, os seus

antepassados, inclusive Terá, pai de Abraão e de Naor, viviam além do Eufrates e prestavam culto a outros

deuses.’” Is 1:2 “Ouçam, ó céus! Escute, ó terra! Pois o Senhor falou: ‘Criei filhos e os fiz crescer, mas eles se

revoltaram contra mim.’” Jr 1:2 “A palavra do Senhor veio a ele no décimo terceiro ano do reinado de Josias,

filho de Amom, rei de Judá,” Ez 1:3 “A palavra do Senhor veio ao sacerdote Ezequiel, filho de Buzi, junto ao rio

Quebar, na terra dos caldeus. Ali a mão do Senhor esteve sobre ele.” Ez 2:1 “Ele me disse: ‘Filho do homem,

fique de pé, que eu vou falar com você.’” 64

BAVINCK apud ANGLADA, op. cit. p., 66.

Page 18: Monografia final

17

2.3 A doutrina de inspiração da Igreja65

Depois de discorrer acerca de algumas (principais) teorias da inspiração Bíblica, é

importante ressaltar qual é a posição da Igreja, desde seu início, em relação a essa doutrina.

Para a Igreja a convicção na divina inspiração da Escritura prevalecia por meio da fé, talvez

esse assunto não tenha sido uma pauta tão importante na época, à preocupação estava mais em

disseminar a verdade do que averiguar se o que eles pregavam era verdade inspirada e

infalível. Esse testemunho de fé prevaleceu por 18 séculos, denominado “como visão

ortodoxa da inspiração divina. Os pais da Igreja em geral [...], ensinaram firmemente que a

Bíblia é a Palavra de Deus escrita.”66

Essa visão serviu como base, não somente para os pais

da Igreja do primeiro século, mas também aos reformadores a partir do século 16 e ainda é

sustentada em dias atuais. Só com o surgimento do “modernismo ou liberalismo teológico,”67

no século 19, foi que a visão ortodoxa da Escritura começou a ser questionada e

consequentemente surgiram vários conceitos sobre a inspiração bíblica. Trata-se de um

período conturbado, pois foi quando “todas as teorias de inspiração que a energia incansável

dos incrédulos e a especulação dos meio-crentes foram capazes de inventar.”68

No meio de inúmeras teorias, existe uma muito bem estabelecida pela Igreja, que

Warfield esclarece como sendo uma doutrina que;

Difere das teorias que de bom grado a substituíram, no fato de que ela não é

invenção nem propriedade de um indivíduo, mas a fé constante da Igreja universal

de Deus; no fato de que ela não surgiu ontem, mas é a segura persuasão do povo de

Deus desde a primeira plantação da Igreja até o dia de hoje; no fato de que ela não é

uma elaboração multiforme que varia suas afirmações para se encaixar em cada

nova mudança do pensamento inconstante dos homens, mas desde o início, é a

constante e permanente convicção da Igreja sobre a divindade das Escrituras.69

Não é necessário um desenvolvimento minucioso para esclarecer essa doutrina, pois

para a Igreja, desde a sua plantação, a Escritura é “um livro oracular – como a Palavra de

Deus de tal modo que tudo o que ela diz Deus diz.”70

Essa doutrina está embasada na fé, que é

uma herança natural do crente, este pode recorrer a essa palavra sem medo de encontrar nela

algo que não seja a Palavra de Deus, ou talvez, não encontrar auxílio necessário para seus

infortúnios, curvando-se diante “das suas enunciações de direito [e] de suas ameaças, [mas

65

Da Biblioteca Sacra, v. 51, 1894, p. 614-640. Publ. Em Revelation and Inspiration sob o título “The

inspiration of the Bible” apud WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura

Cristã, 2010, p. 84. 66

GEISLER, Norman; WILLIAM, Nix. Introdução Bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida,

2006, p. 16. 67

Ibid., p. 20. 68

WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 85. 69

Ibid. 70

Ibid.

Page 19: Monografia final

18

também descansando] em suas promessas.”71

Essa fé é uma grande ponte para a Igreja, se

caso as dúvidas que brotam com a modernidade, sobre a Escritura, ecoarem no meio do povo

de Deus, ela fará com que o cristão;

Facilmente se [recorde] daqueles dias mais felizes [quando] no colo de nossa mãe

cristã, com um cicio nos lábios seguindo palavras que o dedo lento traçava sobre

uma página aberta – palavras que foram o seu apoio em cada prova e, como ela

carinhosamente confiava [tornaram] guia durante toda a vida.72

A Igreja sempre repousou na confiança de que cada palavra da Bíblia é a voz de Deus

e “todo corpo de literatura cristã da testemunho desse fato [...], [traçando uma trajetória] até

sua fonte e em toda parte a cristandade é harmoniosa com uma fé viva na fidelidade divina

das Escrituras.”73

Já foi citado o testemunho de alguns escritores bíblicos, como Apóstolo Paulo e

Apóstolo Pedro, que declaram serem os escritos bíblicos inspirados por Deus. Todavia é

importante ressaltar os testemunhos dos pais da Igreja, que após a era apostólica também

defendiam o caráter divino das Escrituras, ainda que, essas afirmações não possuam o mesmo

peso que possui o testemunho apostólico. Eles não tinham outra definição a não ser a

completa inspiração divina das Escrituras clara e convicta em seus corações e registrada em

seus escritos. Orígenes74

, teólogo do primeiro século, “afirma que o Espírito Santo foi

cooperador com os evangelistas na composição do Evangelho [...], portanto, lapsos de

memória, erros ou falsidades eram impossíveis para eles.”75

Irineu de Lyon76

, discípulo de

Policarpo77

“reivindica para os cristãos a consciência clara de que as Escrituras são perfeitas,

visto que são faladas pela Palavra de Deus e do seu Espírito.”78

Policarpo por sua vez

71

WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 85, colchete

nosso. 72

Ibid., colchetes nosso. 73

Ibid., p. 86, colchete nosso. 74

“(185-254) Nascido no Egito, esse mártir foi um importante e controvertido teólogo da cristandade primitiva.

Foi um dos principais promotores de uma exegese alegórica das Escrituras, enfatizando três níveis de leitura do

texto bíblico, o literal, o moral e o espiritual. Lecionou na escola de teologia (Didaskaleion) de Alexandria. Seus

ensinos sobre a preexistência da alma e da restauração de todas as coisas (apokatástasis) foram condenados no

Segundo Concílio de Constantinopla (553), por serem contrários às Escrituras. Sua principal obra é uma apologia

ao cristianismo: Contra Celso.” FERREIRA, Franklin. Teologia Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 263. 75

WARFIELD, op. cit., p. 86. 76

“(130-202) Provavelmente nascido na Turquia, foi bispo na França sendo um dos mais importantes escritores

da cristandade antiga. Por meio de seus escritos, não apenas refutou completamente o gnosticismo, como

também legou à cristandade o primeiro protótipo de uma teologia bíblica. Provavelmente foi martirizado. Sua

mais importante obra foi: Contra as Heresias” FERREIRA, Franklin. Teologia Cristã. São Paulo: Vida Nova,

2011, p. 261. 77

“Segundo Tertuliano, um importante teólogo cristão do século 3.°, Policarpo, teria sido ordenado bispo de

Esmirna pelas mãos do próprio apóstolo João. FERREIRA, Franklin. Gigantes da Fé. São Paulo: Vida, 2006, p.

25. 78

WARFIELD, op. cit., p.86.

Page 20: Monografia final

19

considerou a Escritura como a “voz do altíssimo, e anunciou como primogênito de Satanás

[aquele que corrompe seus escritos].”79

Para os últimos pais da Igreja essa doutrina não se

diferenciava em nada, um exemplo disso são as palavras de Agostinho de Hipona80

que

“afirma que considera as Escrituras canônicas entre os livros com tal reverência e honra [e

que seus autores foram isentos de erros].”81

Entre os reformadores, também não é encontrada

uma teoria diferente em relação a doutrina da inspiração bíblica. Um exemplo disso é Lutero

que faz uso das mesmas palavras de Agostinho e ainda “declara que o conjunto das Escrituras

deve ser atribuído ao Espírito Santo e, portanto, não pode errar.”82

Para Calvino83

as

Escrituras “eram o verbum Dei – a Palavra de Deus [...], competente, inspirada, inerrante, e

infalível.”84

Poderiam ser citados inúmeros autores que marcaram suas épocas com seus

posicionamentos, mas para encerrar essa pequena lista é importante citar o que diz Richard

Baxter (1615-1691), um importante ministro em sua época que levou para dentro das casas

“em sua paróquia no interior da Inglaterra,”85

o ensino bíblico que ele mesmo considerou

como sagrado e verdadeiro afirmando que “não há falsidade nas Escrituras.”86

Neste capítulo foi abordado o tema “inspiração bíblica” com ênfase em suas principais

teorias. Dentre elas estão: inspiração plenária que evidencia o fator divino na totalidade da

Escritura considerando assim cada parte como inspirada, mas não com o mesmo grau de

importância entre essas partes; Inspiração dinâmica que valoriza o labor harmonioso do

divino e humano, onde Deus se valeu dos conhecimentos e personalidade humana para

produzir a Escritura; Inspiração verbal que semelhante a plenária defende a completa

inspiração bíblica, no entanto, na verbal não somente as partes são inspiradas, mas cada

palavra. Existem outras definições menos aceitas, entre elas estão: a inspiração mecânica ou

79

WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 86, colchete

nosso. 80

“(354-430) Um dos mais importantes influentes pensadores cristãos. Originário da Argélia, no norte da África,

foi bispo na pequena cidade de Hipona e o mais prolífico escritor da cristandade antiga. Quase todos os grandes

temas cristãos foram tratados nos escritos desse bispo latino, tais como: hermenêutica, Trindade, graça,

predestinação, igreja, casamento, sacramentos e escatologia. Entre suas principais obras, estão: O livre-arbítrio,

A doutrina cristã, A Trindade, Confissões e Cidade de Deus.” FERREIRA, Franklin. Teologia Cristã. São Paulo:

Vida Nova, 2011, p. 257. 81

WARFIELD, op. cit., p. 87, colchete nosso. 82

Ibid. 83

“Um dos mais destacados pensadores da cristandade. Esse francês desenvolveu seu ministério na cidade de

Genebra, na Suíça, onde exerceu influência sobre grande parte da Europa em sua época. [...]. Pregador, exegeta,

polemista, é mais conhecido pelas Institutas da Religião Cristã, uma teologia bíblica que serve de introdução aos

principais temas dogmáticos das Escrituras.” FERREIRA, Franklin. Teologia Cristã. São Paulo: Vida Nova,

2011, p. 261. 84

LAWSON, Steven. A arte expositiva de Calvino. São José dos Campo, Sp: Fiel, 2010. p. 34. 85

FERREIRA, Franklin. Teologia Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 263. 86

WORKS, 15.65 apud WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã,

2010, p. 87.

Page 21: Monografia final

20

ditada que defende a anulação completa da mente humana, não se valendo do conhecimento e

nem da personalidade humana e Inspiração parcial ou fracionada que não tem a Bíblia como

inspirada em sua totalidade, mas parcialmente.

Em outro ponto foi enfatizado o emprego, origem e as variações do termo “inspiração”

como sua definição dentro da ideia bíblica que se resume no agir sobrenatural de Deus que

transcende a capacidade humana. Outro ponto são as evidências bíblicas que comprovam sua

inspiração presente nos ensinos de Jesus, nos testemunhos dos apóstolos e nas mensagens

proféticas do Antigo Testamento, também como a transformação que se evidencia na vida

daquele que se dispõe a ouvir essa mensagem. A inspiração é também evidenciada na questão

harmônica dos livros, que estão distantes em autoria, estilo, contexto e que mesmo assim

transmitem uma mesma ideia.

Finalizando o capítulo, foi descrito a ideia bíblica da inspiração que a igreja defende

desde sua plantação, uma crença fundamentada nos escritos, mas principalmente na fé que

sempre foi uma herança natural da igreja, essa crença é transmitida até hoje e conhecida como

visão ortodoxa da Escritura, onde toda ela é obra do Espírito Santo, que inspirou homens para

escrevê-la. Se opondo a essa visão em um período conhecido como modernismo ou

liberalismo teológico, outras definições surgiram, algumas coerentes com a Bíblia e com

maior aceitação pela igreja e outras que, defendida pelos críticos, não se coadunam com o

ensino bíblico.

Alguns podem questionar o fato da convicção da Igreja na inspiração divina da

Escritura ser por meio da fé, e não através de uma declaração formal e bem esclarecida do

assunto, mas “a fé simples do povo cristão é também doutrina confessional das igrejas

cristãs,”87

e “foi por meio dela que os antigos receberam bom testemunho.”88

É pela fé que a

Escritura é recebida como um livro divino escrito por homens inspirados pelo Espírito Santo.

Portanto é necessário rejeitar qualquer teoria de que a Bíblia possua somente algumas partes

inspiradas ou que ela seja mecânica não se valendo de fatores humanos e contextos da época,

ou seja, qualquer ideia que despreze o divino ou o humano no que diz respeito a Escritura,

deve ser rejeitado.

No próximo capítulo será tratado a respeito da suficiência da Escritura tal como seus

principais conceitos, história e aplicações práticas que semelhante a inspiração bíblica sempre

foi a regra de fé da Igreja, mas que passou e ainda passa por manifestações de incredulidade.

87

WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 88. 88

Hebreus 11:2. Cf. também Hebreus 11:1-40.

Page 22: Monografia final

21

3. A SUFICIÊNCIA DA ESCRITURA

A Igreja de Cristo desde o seu nascimento confiou nas Escrituras, pois ela tinha uma fé

viva e convicta de que esses escritos eram inspirados e consequentemente suficientes para

direcioná-la. Essa realidade mudou, pois “os púlpitos não mais podem ser identificados com

os de outrora” 89

, um dos fatores que colaboram para isso é “o evangelicalismo moderno [que]

parece manifestar uma crescente incredulidade nas Escrituras como regra suficiente de fé e

prática.”90

Fato é que, algumas Igrejas tem buscado, fora da Bíblia, complementos para sua

doutrina desviando-se do caminho proposto por Deus.

A Bíblia é extremamente adequada para governar a Igreja, pois “tudo o que aprouve a

Deus revelar [...] em matéria de fé e prática,”91

foi registrado nela, sem faltar ou passar

qualquer tipo de informação, e como um leme preciso direciona um barco a Escritura

direciona a Igreja e até mesmo a sociedade. Um exemplo disso foi quando João Calvino,

teólogo francês, retornou a Genebra depois de dois anos após ser expulso da cidade por causa

de discussões sobre “disciplina cristã, adesão à confissão de fé e práticas litúrgicas.”92

Esse

retorno, tão aclamado pelos genebrinos, foi para que Calvino pudesse tirar da Bíblia,

Os princípios que deveriam reger a vida dos cidadãos daquela cidade, tanto no que

se referia às questões eclesiásticas, quanto às demais questões que envolviam a

administração e ordem na cidade. Por esta razão, Calvino fez da pregação baseada

nas Escrituras seu principal instrumento de trabalho.93

Para o homem, a Escritura é o seu guia, sendo a voz de Deus, ela governa cada área de

sua vida. Nela o homem “encontra tudo o que deve saber e tudo o que deve fazer a fim de que

venha a ser salvo [e], viva de modo agradável a Deus, [o servindo e o adorando].”94

No Salmo

19:7-13,95

algumas afirmações elucidam bem o propósito e capacidade da Escritura, nela esta

explicito que “a lei do Senhor é perfeita” os “preceitos do Senhor são justos” e seus

89

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 2 90

Ibid., p. 91. 91

Ibid., p. 93. 92

FERREIRA, Franklin, Gigantes da fé. São Paulo: Vida, 2006, p. 162 93

MIRANDA, Daniel Leite Guanaes de. Calvino e Sola Scriptura: A aplicação deste princípio na cidade de

Genebra e sua Relevância para o Brasil dos dias atuais. Disponível em:

<http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/Calvino-Sola-Scriptura_Daniel-Leite.pdf>. p. 8. 94

ANGLADA, op. cit., p. 93 95

“A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam

sábios os inexperientes. Os preceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor

são límpidos, e trazem luz aos olhos. O temor do Senhor é puro, e dura para sempre. As ordenanças do Senhor

são verdadeiras, são todas elas justas. São mais desejáveis do que o ouro, do que muito ouro puro; são mais

doces do que o mel, do que as gotas do favo. Por elas o teu servo é advertido; há grande recompensa em

obedecer-lhes. Quem pode discernir os próprios erros? Absolve-me dos que desconheço! Também guarda o teu

servo dos pecados intencionais; que eles não me dominem! Então serei íntegro, inocente de grande transgressão.

BÍBLIA, Sagrada. Nova versão internacional. São Paulo: Vida, 2007.

Page 23: Monografia final

22

“mandamentos são límpidos” e ainda “mais desejáveis do que o ouro” e “mais desejáveis do

que o mel”, e por ela o “servo [do Senhor] é advertido” e essa lei guarda o homem dos

“pecados intencionais” de maneira que eles não o dominam. Uma vez dominado pelo pecado,

a Escritura é o único meio suficiente capaz de iluminá-lo conscientizando-o e libertando-o de

suas práticas reprovadas por Deus em sua Palavra. Assim, a suficiência da Escritura só poderá

ser comprovada à medida que o homem se torna, por completo, cativo a ela.

Alguns podem perguntar, se outros livros poderiam ajudar o homem e a Igreja a

desenvolver seu crescimento, a resposta é não! Segundo Ryle;

Há um abismo entre este [Bíblia] e qualquer outro livro que tenha sido escrito. Ele

ilumina um vasto número de assuntos dos mais importantes de forma melhor do que

todos os outros livros no mundo. Ele ousadamente trata de assuntos que vão além do

alcance humano, quando o homem é deixado por conta própria. Trata de coisas que

são misteriosas e invisíveis: a alma, o mundo vindouro e a eternidade, profundidades

essas que nenhum homem pode sondar. 96

Por mais que seja impossível desconsiderar o avanço da ciência, da arte e da erudição

a Bíblia ainda é um livro exclusivo, incomparável e insubstituível. Não se trata de um livro

com pontos fortes e fracos, assuntos relevantes e irrelevantes. Tudo o que foi escrito, é, e

sempre será relevante em seu todo. E ainda “é o único livro que conserva frescor, perenidade

e novidade.”97

3.1 Conceito

Crer na suficiência bíblica significa crer em sua inspiração. Para Paul Washer essa

ideia pode não ser tão obvia assim, pois quando a Igreja tem a Bíblia como inspirada ganha

“somente metade da batalha [...]. A maior questão que acompanha isso [...], é: a Bíblia é

suficiente?”98

Na definição de Grudem;

As Escrituras são suficientes [que] significa dizer que [ela] contém todas as palavras

divinas que Deus quis dar ao seu povo em cada estágio da história da redenção e que

hoje contém todas as palavras de Deus que precisamos para salvação, para que, de

maneira perfeita, nele possamos confiar e a ele obedecer. 99

É impossível definir a suficiência da Bíblia sem incluir o fator inspiração, pois dizer

que a Bíblia não é inspirada e afirmar sua suficiência, não passa de um conceito de opinião.

Da mesma forma crer na sua inspiração sem obedecer as palavras que contém no livro, não

quer dizer nada, nenhuma mudança ocorre, pois a suficiência da Escritura é comprovada

96

RYLE, J. C. A Inspiração das Escrituras. São Paulo: Pes, s.d. p. 1. 97

Ibid., p. 5. 98

WASHER, Paul. 10 Acusações contra Igreja Moderna. São José dos Campos, Sp: 2011, p. 16. 99

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 86.

Page 24: Monografia final

23

quando ocorrem mudanças invisíveis que refletem visivelmente, operadas pela Palavra de

Deus.

Um grande apoio bíblico para o conceito de suficiência está em 2Tm 3:15,100

onde

Paulo confirma o grande apreço de Timóteo pela Escritura desde sua infância,101

mostrando o

poder de seus escritos que poderia “torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo

Jesus”, no verso seguinte Paulo descreve porque a Escritura tem esse poder. Um detalhe

importante é, para que ela seja proveitosa ou suficiente é necessário fazer o uso correto da

mesma. Pois que proveito a Escritura teria quando o leitor “se interessa apenas por

especulações curiosas? [...], [ou] se porventura ele perverte o significado natural com as

interpretações estranhas à fé,”102

descaracterizando seu ponto central que é Cristo.

A suficiência bíblica é compreendida no sentido de que tudo o que é relacionado com

a vida do cristão, seu chamado e vocação está presente nas Escrituras. Apóstolo Paulo afirma

a utilidade dos escritos no sentido de tornar o homem “apto e plenamente preparado para toda

boa obra” (2Tm 3:17).103

Assuntos relacionados a: casamento, divórcio, criação de filhos,

relacionamento entre cristãos e governo, bem como doutrinárias relacionadas a: “expiação, ou

a pessoa de Cristo, ou a obra do Espirito Santo na vida do crente hoje,”104

fazem parte da

gama de assuntos que a Escritura aborda, não somente na busca de respostas a cerca de um

determinado assunto, mas na preparação do cristão para servir a Deus dentro do seu próprio

contexto. No entanto Deus não cobra do crente aquilo que Ele não registrou no Livro, ou seja,

“Deus não pode acrescentar mais palavras àquelas que ele já falou ao seu povo.”105

De igual

modo “o homem, não pode por conta própria, acrescentar nenhuma palavra àquelas que Deus

já falou.”106

Alguns podem questionar a suficiência da Escritura na época de Moisés por exemplo,

ou em períodos posteriores, em que o povo hebreu não tinha os 66 livros fechados a sua

disposição. Talvez tal compreensão reflete na ideia de que o povo não tinha a vontade de

100

“Porque desde criança você conhece as sagradas letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação

mediante a fé em Cristo Jesus.” BÍBLIA Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007. 101

“Era um sábio cuidado que nos tempos antigos se tomava em assegurar-se de que aqueles que eram

destinados ao ministério da palavra fossem desde a infância instruídos na sólida doutrina da piedade e

houvessem bebido as profundas águas dos escritos sagrados, para que, ao assumirem o desempenho de seu

ofício, não se revelassem aprendizes inexperientes. CALVINO, João. As Pastorais. São José dos Campo, Sp:

Fiel, 2009, p. 262. 102

CALVINO, João. As Pastorais. São José dos Campo, Sp: Fiel, 2009, p. 262. 103

BÍBLIA Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007. 104

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 87 105

Ibid., p. 88. 106

Ibid., p. 88.

Page 25: Monografia final

24

Deus por inteiro, no entanto, não poderiam agradar a Deus fazendo sua vontade, pois lhes

faltavam revelações. Mas Deus se valeu daquilo que já tinha sido revelado, por exemplo;

No tempo da morte de Moisés, os cinco livros do [...] Antigo Testamento eram

suficientes para o povo de Deus da época. Mas Deus ordenou que autores

posteriores acrescentassem novos ensinos, para que as escrituras fossem também

suficientes para os crentes de épocas posteriores. Para os cristãos de hoje, as

palavras de Deus [...], [do] Antigo e [do] Novo Testamento [...] são suficientes

durante a era da Igreja. Depois da morte, ressurreição e ascensão de Cristo, da

fundação da Igreja primitiva [...], não ocorreram na história ações divinas redentoras

importantes (ações que tenham relevância direta para todo o povo de Deus e para

todo o tempo subsequente).107

No entanto todas as palavras que foram citadas no Antigo Testamento serviram não

somente para sua época, mas são extremamente relevantes para o contexto atual. Isso quer

dizer que tanto a Igreja como o membro podem ser instruídos, exortados e edificados com os

textos do Antigo Testamento que, mesmo sendo antigos e de uma época completamente

diferente de hoje, principalmente em relação a cultura, são textos atuais e competentes, que

podem ser aplicados atualmente, (Dt 4:2; 12:32; Pv 30:5-6).108

3.2 A Suficiência da Escritura na Pregação

O estudo da homilética109

traz várias técnicas com o intuito de aperfeiçoar o orador

para apresentar sua exposição com qualidade, a evolução desses métodos tem crescido muito

ultimamente com o propósito de dar maior compreensão àquilo que esta sendo dito. Na

pregação do evangelho não tem sido diferente, as técnicas invadiram os púlpitos, os oradores

tem conseguido atingir resultados cada vez mais expressivos no quesito compreensão e

contextualização de suas mensagens. A impressão que se dá é que isso nunca foi tão

importante como tem sido nos últimos anos. O aperfeiçoamento das técnicas de expor a

mensagem bíblica tem se tornado mais importante do que a própria mensagem, prioridades

como: extrair da Bíblia princípios norteadores para a vida do homem, princípios estes que

conduz a um viver agradável a Deus tem ficado em segundo plano. Quando se inverte

107

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 89 108

Dt 4:2 “Nada acrescentem às palavras que eu lhes ordeno e delas nada retirem, mas obedeçam aos

mandamentos do Senhor, o seu Deus, que eu lhes ordeno. Mt 12:32 “Apliquem-se a fazer tudo o que eu lhes

ordeno; não acrescentem nem tirem coisa alguma. Pv 30:5-6 “Cada palavra de Deus é comprovadamente pura;

ele é um escudo pra quem nele se refugia. Nada acrescente às palavras dele, do contrário, ele os repreenderá e

mostrará que você é mentiroso” (BÍBLIA Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Vida, 2007). 109

“Essa palavra portuguesa vem do grego, omiletikós, «sociável». O verbo omileein, significa «estar em

companhia de»; e o substantivo omilos significa «assembléia». Visto que a sociabilidade está, intimamente,

associada à linguagem, esse título, homilética, veio a se referir àquele ramo da retórica que trata da composição e

entrega de sermões. Em outras palavras, a homilética é a arte de compor e entregar sermões. Uma homilia, por

sua vez, é um discurso ou sermão. As homilias originais, dos pais da Igreja, eram comentários sobre as

Escrituras, envolvendo também os trechos bíblicos que eram lidos durante os cultos religiosos” CHAMPLIN,

Russel. N. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. 3.v. s.l, s.d. p. 154.

Page 26: Monografia final

25

priorizando a técnica mais do que a mensagem, o risco pode ser enorme e a consequência

disso é a descaracterização do real sentido bíblico, ensinos moralistas, desconstrução da

doutrina bíblica e cultos antropocêntricos. Nesse sentido, a Escritura é insuficiente tanto para

o pregador quando para o ouvinte. Pois o pregador estaria perdendo a oportunidade de falar da

parte de Deus e agradá-lo e os ouvintes estariam perdendo seu tempo com palavras

meramente humanas, cheias de requinte, porém humanas.

O entendimento acerca do que é uma pregação ganha sentido quando analisamos o

seus respectivos empregos no Novo testamento. Será feito o uso de quatro palavras, que no

grego expressam essa ideia, são elas;

Kerusso (“pregar”). Significa ‘declarar, como faz um arauto’. Refere-se à mensagem

de um rei. Quando um soberano tinha uma mensagem para seus súditos, ele

entregava aos arautos. Este transmitia às pessoas sem mudá-la ou corrigi-la [...]. O

Novo Testamento usa este verbo para enfatizar que o pregador não deve anunciar

sua própria mensagem. Ele fala como porta-voz de outrem. A ênfase desta palavra

está na transmissão exata da mensagem. [Outra palavra é] euangelizo [que significa]

‘trazer boas notícias’. Martureo, este verbo significa dar ‘testemunho dos fatos’. [E

por último] didasko, esta palavra significa ‘pronunciar em termos concretos o que a

mensagem significa em referência ao viver’. [...] Quando alguém prega, não importa

o lugar em que esteja ou para quem está falando, está fazendo todas as quatro coisas

[mencionadas].110

Os profetas do Antigo Testamento tinham a incumbência de transmitir ao povo somente

aquilo que Deus revelasse como em Jr 1:17 “E você, prepare-se! Vá dizer-lhes tudo o que eu

ordenar”. O Deus da mensagem também é o Deus do povo que vai receber a mensagem, e

para esse Deus a sua palavra é o suficiente, pois “o que Deus tem a dizer ao homem é

infinitamente mais importante do que as coisas que o homem tem a dizer a Deus.”111

A

Escritura possui somente uma interpretação que abrange várias áreas da vida dos ouvintes, por

essa razão é que o rigor para sua transmissão é tão importante, e aqui o rigor não tem a ver

com técnica mas sim em dizer somente o que Deus disse, pois o “Espírito Santo age nos

ouvintes por meio de um pregador só até o ponto em que a Palavra é ensinada com exatidão e

clareza.”112

João Calvino se assemelha aos profetas do Antigo Testamento por crer que a pura

transmissão das Palavras de Deus sem mistura humana é que surtirá efeito, para ele “a igreja

de Deus será educada pela pregação autêntica de sua Palavra e não pelas invenções dos

homens [as quais são madeira, feno e palha].”113

E ainda acrescenta: “mesmo em nossa

110

OLYOT, Stuart. A pregação pura e simples. São José do Campo, Sp: Fiel, 2008, p. 14-18. 111

STEVEN, Lawson. A arte expositiva de João Calvino. São Jose dos Campos, Sp: Fiel, 2010, p. 38 112

Ibid., p. 38. 113

CALVINO, João. Comentário em 1 Coríntios. São Bernardo do Campo, SP: Paracletos, 2003 apud

LAWSON, Steven. A arte expositiva de João Calvino. São José dos Campos, Sp: Fiel, 2010, p. 40.

Page 27: Monografia final

26

própria época há muitos que, a fim de exibir sua habilidade em compendiar a Palavra de

Deus, se permitem jogar com ela como se fosse filosofia profana”.114

Para Calvino, na

pregação, a Palavra sai da boca de Deus tal como sai da boca de homens, pois Deus não fala

diretamente do céu, mas usa homens para falar por seu intermédio.115

Para Agostinho de

Hipona116

o pregador é quem interpreta e ensina as verdades divinas com base na fé,

interpretando as Escrituras e não dando sentido ao texto, mas resgatando-o do próprio texto,117

enquanto isso acontecer o caminho que o pregador e os ouvintes trilham é o do propósito

divino e o cumprimento das promessas ali encontradas.

3.3 Interpretação das Escrituras

Para dar mais clareza ao assunto da suficiência na pregação que foi abordado no tópico

anterior, faz-se necessário a abertura de um assunto muito importante em relação à Escritura,

que é a sua interpretação, pois, a potencialidade das informações bíblicas depende

exclusivamente disso, assim como os escritos de um jornal, revista e etc. Se não houver uma

interpretação precisa e correta é impossível alcançar o propósito pelo qual tal escrito foi

confeccionado, ocorrendo então uma deturpação de informações. Como afirma Nicodemus;

“Cada vez que abrimos e lemos, buscando entender a mensagem de Deus para nós, engajamo-

nos num processo de interpretação.”118

Lembrando que o processo de interpretação utilizado

para as Escrituras se difere das fontes de informações que temos hoje, por causa da época em

que foi escrita e a língua que foi utilizada, e também pelo fato de que todos os escritores da

Bíblia já morreram, tornando a interpretação mais complicada e importante.

Para Anglada a necessidade de interpretação:

Decorre do fato de que ler não implica necessariamente em entender. [...], as

Escrituras são substancialmente, mas não completamente claras. As verdades

básicas necessárias à salvação, serviço e vida cristã são evidentes em uma ou outra

passagem bíblica, mas nem todas as passagens das Escrituras são igualmente claras.

Daí a necessidade de interpretação consciente da Palavra de Deus.119

114

CALVINO, João. As pastorais. São José dos Campos, Sp: Fiel, 2009, p. 18 115

FERREIRA, Franklin. Calvino e a pregação. In: Conferência Fiel, 2008. Pregação poderosa. Portugal.

Disponível em: <http://www.ministeriofiel.com.br/conferencias/mensagem/391/Joao_Calvino_e_a_Pregacao>.

Acesso em 24 out. 2013. 116

(354-430) Natural da Argélia, norte da África, foi Bispo em uma pequena cidade chamada Hipona, foi autor

de grandes obras, dentre as principais estão: O livre-arbítrio, A doutrina cristã, A Trindade, Confissões e Cidade

de Deus. FERREIRA, Franklin. Teologia Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 257. 117

FERREIRA, Franklin. Agostinho e a pregação. In: Conferência Fiel, 2008. Pregação poderosa. Portugal.

Disponível em: <http://www.ministeriofiel.com.br/conferencias/mensagem/390/Agostinho_e_a_Pregacao>.

Acesso em 24 out. 2013. 118

LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus interpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. p. 21. 119

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 150.

Page 28: Monografia final

27

O processo de interpretação da Escritura começa com os autores do Antigo

Testamento e “continua até os dias de hoje, fecundado e amadurecido pela chegada do

Cristianismo e qualificado em diversos aspectos pelos limites da inspiração impostos pela

história da salvação.”120

Mesmo tendo acesso a documentos mais atuais e fiéis, em relação ao

que se tem hoje, os primeiros intérpretes não estiveram isentos de problemas de interpretação

como afirma Virkler:

Os escribas tiveram grande cuidado em copiar as Escrituras crendo que cada letra do

texto era a Palavra de Deus inspirada [...]. Essa reverência tinha vantagens e

desvantagens. Uma grande vantagem estava em que os textos foram cuidadosamente

preservados através dos séculos. Uma grande desvantagem foi que os rabinos logo

começaram a interpretar a Escritura por outros métodos121

que não [são] os meios

pelos quais a comunicação é normalmente interpretada.122

Apóstolo Pedro reconhece a dificuldade para se interpretar o texto sagrado, quando em

2Pe 3:16, ele afirma que nas cartas de Paulo “contêm algumas coisas difíceis de entender...”.

“Isso significa que a compreensão da Escritura Sagrada nem sempre é automática e

espontânea.”123

É justamente pelo fato dessa compreensão não ser espontânea que o faz

necessário ser interpretado conscientemente, “neste caso, existe um vazio entre o texto a ser

compreendido e o leitor, que ‘necessita da formulação de normas para preencher esse

vazio.’”124

É necessário enfatizar dois aspectos a respeito da interpretação da Escritura: O

primeiro aspecto é a ação iluminadora do Espírito Santo na vida do intérprete, pois “a

cegueira espiritual do homem em decorrência da queda havia afetado inclusive a capacidade

[do homem] de conhecer as coisas de Deus e recebê-las.” Neste sentido, é preciso que o

“coração [não esteja] embotado, como o dos Judeus descrentes; nem seu entendimento

[esteja] obscurecido, como dos gentios incrédulos.”125

Por isso Apóstolo Paulo orava

constantemente para a Igreja em Éfeso;

Não deixo de dar graças por vocês, mencionando-os em minhas orações. Peço que o

Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o glorioso Pai, lhes dê espírito de sabedoria e de

revelação, no pleno conhecimento dele. Oro também para que os olhos do coração

de vocês sejam iluminados, a fim de que vocês conheçam a esperança para a qual ele

os chamou, as riquezas da gloriosa herança dele nos santos e a incomparável

120

LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e seus interpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. p. 36. 121

Por causa da autoria divina das Escrituras, era atribuído pelos rabinos muitos significados para um único

texto. cf. em: VIRKLER, Henry, Hermenêutica avançada. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 36-37. 122

VIRKLER, Henry, Hermenêutica avançada. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 36. 123

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 150. 124

Ibid. 125

Ibid., p. 151.

Page 29: Monografia final

28

grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, conforme a atuação da sua

poderosa força (Ef 1:16-19).

Em Efésios 4:17-18 existem outras recomendações do Apóstolo em relação a questão

espiritual: “Portanto, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do

Senhor. Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo

Espírito,”. Em Efésio 3:14-19;

Por essa razão, ajoelho-me diante do Pai, do qual recebe o nome toda a família nos

céus e na terra. Oro para que, com as suas gloriosas riquezas, ele os fortaleça no

íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito, para que Cristo habite em

seus corações mediante a fé; e oro para que vocês, arraigados e alicerçados em amor,

possam, juntamente com todos os santos, compreender a largura, o comprimento, a

altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento,

para que vocês sejam cheios de toda a plenitude de Deus.

Passagens como estas mencionadas e inúmeras outras revelam o papel do Espírito

Santo em revelar a vontade de Deus. A Interpretação bíblica não esta pautada somente em

habilidades humanas, mas também na oração, pois somente o Espírito Santo pode iluminar a

verdade, como diz a promessa de Jesus em João 16:13: “Mas quando o Espírito da verdade

vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes

anunciará o que está por vir.” O coração do homem é um poço de engano tornando-se incapaz

de encontrar por si mesmo a vontade de Deus como afirma Jeremias “O coração [do homem]

é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável... .” Isso comprova a

incapacidade do homem em interpretar a Bíblia a partir de recursos próprios pois facilmente

daria margem para o espírito do erro como diz em 1 Jo 4:16: “Nós viemos de Deus, e todo

aquele que conhece a Deus nos ouve; mas quem não vem de Deus não nos ouve. Dessa forma

reconhecemos o Espírito da verdade e o espírito do erro.”

O segundo aspecto é a importância do conhecimento para a interpretação das

Escrituras. Anglada126

afirma que;

Por haver sido escrita em idiomas humanos, em contextos históricos, sociais,

políticos e religiosos específicos, o conhecimento da língua e do contexto histórico

também é necessário para uma melhor interpretação e compreensão das Escrituras.

Por essa razão, o ministro da Palavra é, por definição, aquele que se afadiga na

Palavra (1Tm 5:17).127

Portanto com o propósito de se garantir uma interpretação

correta das Escrituras, alguns princípios, normas e práticas foram buscados,

126

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 152-153. 127

“Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a

pregação e o ensino.”

Page 30: Monografia final

29

descobertos e sistematizados pela igreja. A esses princípios e normas chama-se

hermenêutica;128

à sua prática, exegese.129

Dentro desses dois aspectos pode-se entender o lema de João Calvino, “‘orar e

labutar’: orar por iluminação do Espírito e labutar estudando as Escrituras, usando todos os

recursos disponíveis.”130

Prosseguir com esse ideal sugerido por Calvino expressa uma grande

confiança na Escritura, quando a exposição correta do sentido bíblico juntamente com o poder

iluminador do Espírito Santo gera fé nos ouvintes.

Ao longo da história da Igreja, foram dadas diferentes ênfases em relação a

interpretação da Bíblia. Três diferentes correntes hermenêuticas foram responsáveis por essas

ênfases, entre elas estão: corrente espiritualista, racionalista e reformada.

A corrente espiritualista com base na insatisfação pelo sentido natural ou literal do

texto enfatiza exageradamente o caráter espiritual e místico da Bíblia,131

esta corrente está

subdividida entre a hermenêutica alegórica, que é de origem da escola alexandrina no Egito,

influenciada pelo platonismo e judaísmo alegórico e defende a atribuição de vários sentidos

ao texto bíblico.132

Seus principais defensores são: Clemente de Alexandria133

e Orígenes.134

Nessa mesma corrente encontra-se a hermenêutica intuitiva onde a interpretação é de acordo

com o pensamento que vêm à mente ao ler o texto bíblico valorizando a iluminação interior,

escolha de textos específicos para ocasiões especificas sem um estudo devido nem

considerações de contexto.135

E a hermenêutica existencialista que valoriza o sentido do texto

para os dias atuais desprezando o sentido que os autores bíblicos atribuíram, essa

interpretação defende que a Escritura não é a Palavra de Deus, mas ela se torna a Palavra de

Deus.136

128

“Origina-se do verbo grego ermvneuein / hermeneuein, cujo significado é igual ao da palavra exegese, ou

seja, interpretar. Hermenêutica significa, pois, interpretação” WEGNER, Uwe. Exegese do novo testamento. São

Leopoldo: Sinodal, 1998. p. 11. 129

“Comentário ou dissertação para esclarecimento ou minuciosa interpretação de um texto ou de uma palavra.

O termo deriva-se da palavra grega ecvgvsij / exegeses, que tanto pode significar apresentação, descrição ou

narração como explicação e interpretação” WEGNER, Uwe. Exegese do novo testamento. São Leopoldo:

Sinodal, 1998. p. 11. 130

LOPES, Augustus Nicodemus. Princípios de interpretação da bíblia. Disponível em:

<http://www.monergismo.com/textos/hermeneuticas/hermA_02.pdf> Acesso em: 04 de nov. 2013. 131

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 153. 132

Ibid. 133

“Clemente identificava cinco sentidos para um dado texto das Escrituras: (1) sentido histórico; (2)

doutrinário; (3) profético; (4) filosófico e (5) místico”, ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA:

Knox, 2013, p. 153. 134

“[Orígenes defende] três níveis de sentido: (1) literal, ao nível do corpo; (2) o moral, ao nível da alma; e (3) o

alegórico, ao nível do espírito” ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 153,

colchete nosso. 135

ANGLADA, op. cit., p. 154. 136

Ibid.

Page 31: Monografia final

30

A segunda corrente de interpretação é a racionalista, completamente oposta a corrente

espiritualista, pois valoriza mais o caráter humano das Escrituras, tal como seus métodos e

técnicas de interpretação nos aspectos literários e históricos da Escritura.137

Um dos seus

principais precursores são os “saduceus”138

que eram descrentes na ressurreição de Cristo e na

existência de anjos.139

“Ao negarem verdades básicas da Escritura, os saduceus podem ser

considerados como os modernistas ou liberais da época.”140

Entre os defensores dessa

corrente também estão os humanistas renascentistas cujos “interesses [eram] meramente

acadêmico, linguísticos, literário e histórico, estavam interessados na Bíblia mais por sua

antiguidade do que por ser a Palavra de Deus.”141

Outra defensora dessa corrente é a Escola

Crítica que deu origem ao método histórico-crítico142

de interpretação, trata-se de uma

hermenêutica racionalista que valoriza o intelecto como sem margem para erro, e

desconsidera tudo que não se harmoniza com a razão, além de rejeitar a doutrina reformada da

Escritura tal como a inspiração, inerrância, autoridade e preservação da Escritura143

.

Já a terceira corrente é conhecida como reformada, ela mantém o equilíbrio em relação

às outras duas, por acreditar no caráter divino-humano da Escritura e por rejeitar tanto o

alegorismo de Alexandria quanto o literalismo judaico e a postura da escola crítica em relação

à Escritura. Seu método utilizado é conhecido como gramático-histórico144

“fundamentado em

pressupostos teológicos confessionais, que emprega princípios gerais definidos decorrentes

desses pressupostos, levando em consideração a natureza divino-humana das Escrituras.”145

Seus principais precursores são: Theodoro de Mopsuéstia e João Crisóstomo que

“estabeleceram estes princípios de interpretação considerando o próprio ensino bíblico e a

prática apostólica.”146

Os principais representantes são: Lutero, Calvino, reformadores

alemães, suíços, franceses e ingleses. Esse método foi adotado no século 18, na Europa e

América do Norte, por Whitefield e Jonathan Edwards, na Inglaterra, por J. C. Ryle e Charles

Spurgeon entre muitos outros pregadores da Palavra e interpretes até os dias de hoje.

137

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 154. 138

“Naquele mesmo dia, os saduceus, que dizem que não há ressurreição, aproximaram-se dele com a seguinte

questão...” Mateus 22:23. 139

ANGLADA, op. cit., p. 154. 140

B. J. van der Walt, Anatomy of Reformation (Potchefstroom: Potchefstroom University fo Christian Higher

Education, 1981), 10 e 26 apud ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 155. 141

ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua, PA: Knox, 2013, p. 155. 142

Entre os principais defensores estão “Bultman, com o seu programa de desmitologização das Escrituras,

Harnack, com a sua humanização de Jesus, e muitos outros” ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua,

PA: Knox, 2013, p. 155. 143

ANGLADA, op. cit. p. 156. 144

Ibid. 145

Ibid., p. 158. 146

Ibid., p. 157.

Page 32: Monografia final

31

3.4 Métodos de Interpretação

Quando se fala em interpretação bíblica o que vem à mente é como isso pode ser feito

ou que métodos poderiam ser usados para tal fim? A partir de que pressuposto a Bíblia

poderia ser interpretada? Neste sentido serão abordados os três principais métodos de

interpretação bíblica que são: Gramático-histórico, histórico-crítico e fundamentalista.

3.4.1 Gramático-histórico

O método gramático-histórico de interpretação foi adotado pelos reformadores e

“representou um rompimento radical com a hermenêutica alegórica medieval.”147

Sua

principal intenção é “chegar ao sentido óbvio, claro e simples de cada passagem das

Escrituras.”148

Os Reformadores ensinavam que:

Cada texto tem um só sentido, que é o literal – a não ser que o próprio contexto ou

outro texto das Escrituras requeriam claramente uma interpretação figurada ou

metafórica. [...]. [Esse método enfatizava]; a natureza divina das Escrituras [que],

era a principal barreira à sua compreensão por parte de pessoas que não tinham o

Espírito; a necessidade de estudar a Escritura, pois os reformadores reconheciam a

Bíblia como um livro humano.149

Eles acreditavam que “achar o sentido humano [original] era achar o sentido

pretendido por Deus,” 150

pois “como intérpretes bíblicos, eles se preocuparam em determinar

a intenção do autor, que era geralmente o sentido literal de uma passagem, a não ser que o

próprio autor indicasse o contrário.”151

Defendiam também que a Escritura só poderia ser

interpretada pela própria Escritura, pois podem existir passagens “obscuras num lugar, [e que]

são claras em outros.152

” De acordo com Lutero:

O sentido das Escrituras não poderia mais ser determinado por tradição, nem por

decisão eclesiástica, nem por argumento filosófico, nem por intuição espiritual, mas

sim, unicamente, por outras partes das mesmas que explicam e esclarecem o seu

sentido.153

3.4.2 Histórico-crítico

Outro método de interpretação da Escritura muito utilizado é o histórico-crítico. É

histórico porque “lida com fontes históricas [Bíblicas], dentro de uma perspectiva de evolução

histórica, procurando determinar os diversos estágios de sua formação e crescimento, até

147

LOPES, Augustus N. A Bíblia e seus intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 161-162. 148

Ibid., p. 161. 149

Ibid., p. 161-162. 150

Ibid., p. 164. 151

Ibid. 152

Ibid., p. 163. 153

Ibid.

Page 33: Monografia final

32

terem adquirido sua forma atual.”154

É crítico porque “necessita emitir uma série de juízos

sobre as fontes que tem por objeto de estudo.”155

Esse método de interpretação foi

desenvolvido a partir do iluminismo156

em oposição ao método alegórico da Idade Média, e

ficou conhecido por ser racional e muito questionador pois:

Na época do Iluminismo, a crítica bíblica dirigiu-se preponderantemente contra os

condicionamentos da interpretação bíblica determinados por postulados dogmáticos

defendidos pelas igrejas. Para o iluminismo, verdadeiro era o que estava de acordo

com a razão e o que podia ser deduzido e explicado racionalmente.157

No final do século 19 esse método ganha corpo como ciência histórica através do

teólogo Ernst Troeltsch, que julgava ser necessário o uso de alguns pressupostos para reger as

análises históricas, os quais são: a crítica, a analogia e a correlação. A crítica sustenta a

existência de juízos prováveis e desconsidera a existência de juízos absolutos no campo

histórico, por isso toda pesquisa resultaria em dúvidas metódicas. E se tratando das tradições

bíblicas o seu conteúdo e suas formas seriam “submetidos a juízos de maior ou menor

probabilidade histórica”; A analogia propõe explicar acontecimentos do passado através de

fatos semelhantes, normais, corriqueiros, atestados e conhecidos, ou seja, é a probabilidade de

explicar o que é desconhecido num lugar pelo que é conhecido em outro lugar; E por último a

correlação que entende que todos os acontecimentos se encontram em relação mútua de

dependência, cada acontecimento esta relacionado ao outro.158

Para Troeltsch a aplicação desses pressupostos representa uma evolução do modo de

pensar em relação à Idade Média. Para a “ciência bíblico-teológica explica-se [outra]

característica atual do método histórico-crítico, ou seja, a sua atitude de dúvida e

questionamento frente às tradições e aos conteúdos [bíblicos] a serem analisados.”159

Sobre a

aplicação desses pressupostos Wegner afirma que:

[Sua] aplicação rígida [...], logrou alguns avanços indiscutíveis

160 no melhor

conhecimento das tradições e dos textos bíblicos, bem como de sua gênese histórica

e condicionamentos culturais. Sem essa crítica aplicada de maneira sistemática à

Bíblia, dificilmente teríamos hoje em dia os inestimáveis avanços em áreas com a da

154

WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1998, p. 17. 155

Ibid. 156

“Movimento intelectual dos sécs. XVII e XVIII, em países europeus e em suas colônias, que tem como base a

crença na razão e nas ciências como motores do progresso.” FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini

Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8. ed. Curitiba: Positivo, 2010, p. 408. 157

WEGNER, op. cit., p. 18. 158

Ibid., p. 19. 159

Ibid. 160

“Apesar desses e outros inestimáveis avanços alcançados pela crítica histórica, os seus pressupostos, quando

usados de forma absolutizada, evidenciam-se com incompatíveis com o caráter da revelação bíblica.”

(WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1998, p. 19)

Page 34: Monografia final

33

critica textual,161

critica literária162

e crítica redacional.163

A sistemática aplicação do

critério da analogia desvendou, a um só tempo, a proximidade e o distanciamento da

religião e fé cristãs de outras crenças do Oriente e Ocidente na época de Jesus. A

crítica histórica também conseguiu caracterizar o cristianismo primitivo como um

conjunto bem mais pluralista do que se supunha; mostrou, dessa forma, que o

cristianismo, nas origens, era teologicamente mais rico que [se imaginava].164

O método histórico-crítico também sofre muita rejeição, isso ocorre por inúmeras

razões, são elas: excesso de academicidade dentro das comunidades causando separação entre

os teólogos e os leigos; parcialidade nas análises bíblicas, muitas vezes sem segurança em

seus resultados; autonomia do intérprete frente ao texto bíblico impedindo o texto de falar por

si somente; falta de prática na aplicação da mensagem bíblica, pois alegam que a

aplicabilidade da mensagem é papel da homilética e esclarecer o sentido original do texto é

papel da exegese crítica e por fim o historicismo exagerado.165

3.4.3 Fundamentalista

Este movimento surgiu nos Estados Unidos depois da Primeira Guerra Mundial, seu

propósito era defender a fé cristã ortodoxa da crítica e do ceticismo do liberalismo teológico,

revitalizando conceitos ou crenças que estavam ameaçadas como a inerrância e a

infalibilidade das Escrituras. Este método “parte do pressuposto de que cada detalhe da Bíblia

é divinamente inspirado, não podendo, em decorrência apresentar erros ou incongruências.

Este método tende a absolutizar o sentido literal da Bíblia.”166

Assim pretende-se defender a

Escritura afirmando que ela é o único meio pelo qual pode-se desenvolver doutrina e ética

cristã.167

Porém seu posicionamento em relação à Escritura pouco valoriza o fator humano

muito menos seus autores, e segundo Wegner esse “método corre o perigo da ‘bibliolatria’, ou

seja, de uma idolatria à letra dos textos.” Além de desprezarem a análise crítica dos textos,

eles possuem uma conduta separatista como afirma Nicodemus:

161

“Passo exegético que examina criticamente os vários textos apresentados sobre um versículo pelos

manuscritos antigos, com o objetivo de determinar qual deles tem, com a maior probabilidade, a leitura original”

WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1998, p. 338. 162

“À crítica literária [deve-se], entre outras coisas, a descoberta de uma multiplicidade de fontes usadas pelos

escritores bíblicos, em especial as fontes relacionadas com o Pentateuco e com os três primeiros evangelhos,

denominados sinóticos” WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1998, p. 345. 163

“Pela crítica redacional [aprende-se], por exemplo, a captar melhor os evangelistas como teólogos autônomos

e sensibilizados com os problemas das comunidades para as quais escreveram. A crítica redacional possibilita

identificar, em cada um dos evangelistas, um estilo característico, uma teologia singular e um propósito bem

particular.” WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1998, p. 345. 164

WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1998, p. 19. 165

Ibid., p. 20. 166

Ibid., p. 15. 167

Ibid.

Page 35: Monografia final

34

Cito negativamente o fundamentalismo como movimento separatista do erro

teológico como único meio de preservar a verdade cristã. Sob esse aspecto, o

fundamentalismo crê que não pode haver associação com igrejas, denominações e

indivíduos que neguem os pontos fundamentais do cristianismo. O separatismo nem

sempre é o caminho para batalharmos pela fé histórica.168

Os métodos de interpretação que foram citados podem ser considerados como os

principais dentro de uma gama de métodos existentes menos expressivos. Dentro do método

gramático-histórico destaca-se a firmeza no sentido literal do texto, tanto na sua época como

hoje o sucesso desse método está no “equilíbrio hermenêutico alcançado pelos reformadores

[...], em manter junta a resposta a duas perguntas importantes: o que a Bíblia significou no

passado (exegese) e o que ela significa para [a Igreja] hoje (aplicação).”169

Lembrando que

esse método nunca esteve totalmente isento de desvios de interpretação. Mas trata-se daquilo

que pode ser mais coerente no que se refere a interpretação bíblica.

O método histórico-crítico traz contribuições históricas precisas a respeito da tradição

bíblica demonstrando seu apreço pela análise sistemática da Escritura, até demonstra fazer um

uso de juízo saudável em buscar as raízes do texto sagrado, mas o exagero de se colocar

acima de seu objeto de estudo não permitindo que a literatura faça com o leitor o mesmo que

o leitor faz com a literatura, por ser uma literatura divina, não traz para a comunidade os

valores espirituais que ela realmente precisa. Em resumo, esse método traz informações

bíblicas de um valor inestimável, mas peca no que se refere ao ensino que estimula a fé e a

prática.

O fundamentalismo aparece muito mais como um movimento do que como um

método de interpretação. Seu objetivo é plausível, que é a defesa de rudimentos antigos da fé

cristã, porém utiliza-se de meios separatistas quando divergem em algum assunto, e o apego a

itens menos importantes como se fossem o cerne do evangelho.

3.5 Pressupostos teológicos

Não existe crença sem um pressuposto, o conhecimento não pode ser neutro, pois

sempre parte de algum lugar ou de alguma ideia. Da mesma forma é a interpretação bíblica

que sempre tem como base uma teologia. Toda interpretação bíblica parte de um pressuposto

teológico que define os rumos para sua compreensão. Uma teologia puramente bíblica vai

resultar em uma interpretação saudável da Escritura, o fato de crer ou não na Bíblia inspirada,

168

LOPES, Agustus N. Liberalismo e fundamentalismo teológico. [maio de 2007]. Entrevistador: Elvis

Brassaroto Aleixo. Entrevista concedida ao Instituto Cristão de Pesquisa. Disponível em:

< http://www.icp.com.br/86entrevista.asp>. Acesso em: 13 de nov. 2013. 169

id. A Bíblia e seus intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 167.

Page 36: Monografia final

35

a maneira que se concebe a ideia da existência de Deus e outras mais concepções irão

interferir diretamente nessa interpretação.

Nunca existiu uma época em que esses pressupostos teológicos foram tão

diversificados quanto nos séculos 19 e 20, quando muitos desdobramentos e debates deram

origem a diversos movimentos que influenciaram e influenciam até hoje a Igreja [e sua

teologia].170

Tais movimentos surgiram devido a abertura para novas correntes de

pensamentos que surgiram com o “Iluminismo,” que segundo Macgrath causou “um grande

impacto sobre a teologia cristã, provocando uma série de questionamentos críticos relativos à

suas origens, métodos e doutrina.”171

Dentre os vários movimentos, serão citados apenas

cinco deles, que são: teologia da libertação, negra, feminista, reformada e liberal.

3.5.1 Teologia da Libertação

A teologia da libertação surgiu dentro de um contexto latino-americano entre 1960 e

1970, onde bispos da igreja católica passaram a tomar partido dos necessitados acusando a

própria igreja católica de se colocar ao lado dos governos ditatoriais da América Latina. Essa

decisão ganhou reforço tornando o movimento mais sólido com o apoio do teólogo peruano

Gustavo Gutiérrez, do teólogo brasileiro Leonardo Boff , do teólogo uruguaio Juan Luis

Segundo e do teólogo argentino José Miguéz Bonino, entre outros. O tema básico da teologia

da Libertação é a ênfase total a causa dos pobres e oprimidos, pois eles são a fonte teológica

para o entendimento da verdade e da prática cristã. Deus está ao lado dos pobres, toda

teologia cristã parte do menos favorecido o colocando em uma posição especial para

compreensão da fé cristã.172

Por causa dessa teologia construída através dos menos favorecidos, um grande

impacto na interpretação bíblica fica evidente, para Macgrath:

As Escrituras são lidas como narrativas de libertação. Uma ênfase especial é posta

sobre a questão da libertação de Israel da escravidão no Egito, sobre as denúncias

feitas pelos profetas acerca da opressão e a proclamação do evangelho por Jesus aos

pobres e marginalizados. As Escrituras não são lidas a partir de um perspectiva

baseada na disposição de compreender o evangelho, mas a partir de um interesse em

aplicar suas revelações libertadoras à situação da América Latina. [...]. Tendência de

igualar a salvação à libertação, enfatizando os aspectos sociais, políticos e

econômicos da salvação [...], destacando que é a sociedade, e não os indivíduos, que

é corrupta e que necessita ser redimida.173

170

MCGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e filosófica. São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p.

124. 171

Ibid., p. 132. 172

Ibid., p. 154. 173

Ibid., p. 155.

Page 37: Monografia final

36

Nessa ideia percebe-se que a construção da interpretação bíblica não depende

unicamente do sentido em que o escritor quis dar ao texto, mas sim de uma análise da

realidade presente. Este tipo de interpretação recebe o nome de “rejeição da intenção autoral”.

Isso acontece principalmente por causa do distanciamento cultural e linguístico dos tempos

bíblicos em relação aos dias atuais, por isso se faz necessário uma mediação através de uma

análise social da realidade. Neste caso os Evangelhos e seus significados seriam válidos

somente como um referencial de como a Igreja compreendeu Jesus, e não como uma verdade

universal.174

3.5.2 Teologia feminista

No mesmo contexto de libertação social surge a teologia feminista que “veio a se

tornar um importante elemento da cultura ocidental moderna. Em sua essência, representa um

movimento global de luta pela emancipação das mulheres.”175

Também conhecido como

movimento da libertação feminina, que visa romper barreiras em relação a crenças e valores

em geral. Esse movimento se contrapôs ao cristianismo por causa de sua abordagem machista

em relação a Deus, a Cristo e as posições de autoridade eclesiástica que favorecem, em sua

maioria, ao homem. Segundo algumas feministas:

O cristianismo com seus símbolos masculinos para Deus, a figura masculina de seu

salvador e sua longa história de líderes e intelectuais do sexo masculino, apresenta

um preconceito contra a mulher, não sendo, portanto, passível de recuperação.

Conforme frisam essas feministas, as mulheres devem abandonar esse ambiente

opressivo do cristianismo.176

Alguns grupos feministas defendem uma reavaliação do passado cristão no sentido de

atribuir honra às servas que contribuíram bastante para a construção da tradição, não só

bíblica, mas também para a tradição cristã ao longo dos séculos. Elas alegam ter passado

despercebidas pela história do cristianismo, ao contrário dos homens que foram reconhecidos

pelos seus atos de fé e bravura.

As maiores contribuições do feminismo são: posicionar frente às teses teológicas

consideradas patriarcais ou machistas, um exemplo é a questão do uso frequente de pronomes

masculinos para se referir a Deus, elas defendiam que o uso do pronome feminino seria tão

lógico quando o uso do pronome masculino, criticavam também o emprego da palavra ‘pai’

174

LOPEZ, Augustus N. A hermenêutica da teologia da libertação. S.l.: Fides Reformata 3.2, 1998. Disponível

em: <http://www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_III__1998__2/a_herra....pdf>.

Acesso em: 13 nov. 2013. 175

MCGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e filosófica. São Paulo: Shedd Publicações, 2005,

p.148. 176

Ibid.

Page 38: Monografia final

37

para se referir a Deus por se tratar de uma analogia ao pai humano; A natureza do pecado e

suas noções de orientação masculina principalmente como o orgulho, a ambição e o amor-

próprio. Pois as feministas alegam que tais pecados não correspondem à experiência da

mulher que é tendenciosa em conhecer o pecado ‘como falta de orgulho, falta de ambição e

falta de amor-próprio’ e por último a masculinidade de Jesus que tem sido base para que

somente o homem refletisse a imagem de Deus.177

Tomas de Aquino trata as mulheres “como homens que sofrem de má formação

(aparentemente com base em uma biologia aristoteliana obsoleta).”178

Em resposta a essa

afirmação e à questão da masculinidade de Cristo as escritoras feministas,

Tem alegado que a masculinidade de Cristo é um aspecto contingente de sua

identidade, tão importante quanto o fato dele ser um judeu. Isso representava um

elemento contingente de sua realidade histórica, e não um aspecto essencial de sua

identidade, Portanto, esse aspecto não pode servir de fundamento para a dominação

das mulheres pelos homens, assim como não legitima a dominação dos gentios pelos

judeus, ou dos encanadores pelos carpinteiros.179

Em resumo “o conceito básico da hermenêutica feminista é que existe um controle

patriarcal da teologia ao longo da história.”180

É por isso que “lendo as Escrituras através dos

sofrimentos das mulheres oprimidas que procuram sua libertação e que se faz uma

reinterpretação radical do texto bíblico.”181

Por essa razão Nicodemus afirma que,

Alguns teoristas desconstrucionistas tem procurado eliminar o conceito de “homem”

e “mulher” das traduções da Bíblia. Argumentam que as referências masculinas a

Deus é parte de uma tentativa de oprimir as mulheres por uma hierarquia masculina

que se perpetua através da linguagem e facilita a exploração das mulheres. Eles tem

conseguido influenciar diversas sociedades bíblicas e organizações de tradução e

publicação da Bíblia, para publicarem Bíblias com “linguagem inclusiva”. Este tipo

de tradução omite referências a Deus como “Pai”, chama Jesus de “a criança de

Deus” em vez de “o Filho de Deus”, e evita o uso do masculino em referências

genéricas.182

Fica perceptível como uma simples mudança de contexto (movimento feminista),

torna a abordagem bíblica extremamente sensível e diferenciada em relação ao tradicional, o

que antes eram abordagens “comuns e tranquilas”183

como atribuir pronomes masculinos a

Deus ou a própria masculinidade de Jesus, agora ganham novas interpretações por causa do

177

MCGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e filosófica. São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p.

150. 178

Ibid., parêntese do autor. 179

Ibid. 180

LOPES, Augustus N. A Bíblia e seus intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 233. 181

Ibid. 182

Ibid., p. 234. 183

Estas expressões refletem o machismo de outras gerações que são herdados quase que imperceptível nos dias

atuais se não fossem os movimentos pensantes como o feminista.

Page 39: Monografia final

38

contexto em que são observados, correndo um sério risco de cair no extremismo como foi o

caso do feminismo. Mas diante disso é importante ressaltar que o fato de atribuir gênero

humano a Deus não quer dizer que Ele tenha um sexo, mas sim seria uma melhor forma dEle

ser visto ou compreendido. Deus é conhecido por papéis de pai como disciplinar e proteger,

mas pode ser facilmente visto desempenhando um papel de mãe no sentido de amar e

carregar, mas isso vai depender do contexto no qual o leitor estiver inserido.

3.5.3 Teologia negra

Ainda dentro do contexto de libertação é que nasce a teologia negra nos Estados

Unidos em meados das décadas de 60 e 70. “Ela se concentra na reflexão teológica sobre a

luta dos negros norte-americanos, liderados no princípio pelo pastor batista Martin Luther

King, Jr., para conseguirem a justiça e libertação social, política e econômica numa sociedade

dominada pelos brancos.”184

As características desse movimento,

Encontra na Bíblia uma base para o sentido político da libertação, isto é, o êxodo do

Egito. E ela encontra na experiência religiosa dos escravos negros, manifestada nos

seus cânticos, sermões e orações que destacam a ressurreição de Jesus, a base para o

sentido escatológico ou futurista da libertação. A teologia negra pode ser

classificada como um tipo de teologia de libertação, pois ela se preocupa

basicamente com a libertação de um grupo de oprimidos.185

Os fatores que contribuíram para a teologia negra foram três, são eles: “o movimento

dos direitos civis” que visava à conquista de plenos direitos de cidadão para os negros usando

de meios não violentos; o livro “Religião Negra” de Joseph Washington (1964), que relata a

existência de uma religião negra nos Estados Unidos que se difere do Protestantismo branco e

de qualquer expressão do Cristianismo, pois seu intuito é liberdade e igualdade, surgindo

então à teologia negra com o intuito de corrigir esse mal-entendido; e por último o movimento

“Poder Negro” que nasce da desilusão em relação ao movimento de direitos civis chefiado

pelo Dr. King na tentativa de mudar a atitude dos brancos, e incentiva a busca por parte dos

negros a alcançar controles políticos e econômicos com intenção de autoafirmação.186

A teologia negra começa se encorpar à medida que o movimento parte das ruas para os

círculos acadêmicos. Importantes obras influenciaram esse movimento de libertação, entre

elas estão: O Messias negro de Albert Cleage, ensina que “a Bíblia foi escrita por judeus

negros, ele defendia que o evangelho do Messias negro havia sido distorcido por Paulo, em

184

DUNAWAY, Felipe. A teologia negra. Disponível em: < http://www.teologiaocidental.com/teologica/a-

teologia-negra.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2013, p.1. 185

Ibid. 186

DUNAWAY, Felipe. A teologia negra. Disponível em: < http://www.teologiaocidental.com/teologica/a-

teologia-negra.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2013, p.4

Page 40: Monografia final

39

sua tentativa de torná-lo aceitável aos europeus”187

; e o Manifesto dos negros lançado no

encontro Inter-religioso em Detroit, que enfatizou “a questão da experiência negra na agenda

teológica,”188

e o tema libertação como “aspecto central da teologia negra.”189

3.5.4 Teologia Liberal

Existe uma grande dificuldade em entender o liberalismo teológico, tanto para uma

definição clara quanto para entender suas raízes. Como o propósito principal aqui é esclarecer

seus principais pontos hermenêuticos, suas origens não serão abordadas com riqueza de

detalhes, mas apenas para caráter de informação.

Sobre o liberalismo teológico Macgrath afirma que: “fica mais fácil compreendê-lo se

considerarmos como seu ponto de partida a reação ao programa teológico elaborado por F. D.

E. Schleiermacher, particularmente no que diz respeito à sua ênfase sobre o sentimento

humano.”190

Já para Thomas Lang a “obra de René Descartes, um filosofo do século 17 [é o]

ponto de partida [...]. Para Lang, o liberalismo, já desgastado pelo tempo, esmaeceu a partir de

1930.”191

Mas segundo Costanza:

[O liberalismo] se tornou mais evidente durante o Renascimento, quando surgiram

indagações sobre o homem natural e seu espírito, e também durante a Reforma. A

primeira fase do moderno liberalismo teológico, chamado Racionalismo ou

Iluminismo, perdurou até meados do século 18. Os principais filósofos e teólogos

dessa fase foram Baruch Spinoza (judeu holandês), Gottfried Wilhelm Leibniz e

Gotthold Ephraim Lessing (alemães), John Locke (inglês), os escritores e filósofos

ingleses conhecidos como Platonistas de Cambridge e também os deístas.

O segundo estágio do liberalismo teológico, o Romantismo, também chamado de

Modernismo, aconteceu a partir no final do século 18 e perdurou até o final do

século 19. Nele se destacam Jean-Jacques Rousseau e Immanuel Kant, que foram os

arquitetos do liberalismo romântico. Na teologia, o maior destaque coube ao alemão

Friedrich Schleiermacher, chamado de pai da moderna teologia protestante. O

alemão Albrecht Ritschl dominou a teologia liberal protestante após Schleiermacher,

e outro teólogo alemão, Adolf von Harnack, foi o mais proeminente discípulo de

Ritschl.192

187

MCGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e filosófica. São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p.

156. 188

Ibid. 189

Ibid. 190

MCGRATH, op. cit., p. 138. 191

COSTANZA, José R. da S. As raízes históricas do liberalismo teológico. S.l.: Fides Reformata, 2005.

Disponível em:

<http://www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_X__2005__1/jose.pdf>. Acesso

em: 15 nov. 2013. p. 81. 192

COSTANZA, José R. da S. As raízes históricas do liberalismo teológico. S.l.: Fides Reformata, 2005.

Disponível em:

<http://www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_X__2005__1/jose.pdf>. Acesso

em: 15 nov. 2013. p. 81.

Page 41: Monografia final

40

Quanto às posições Teológicas do liberalismo serão desenvolvidas a partir do

pensamento de Schleiermacher que muito contribui na área da teologia dogmática, sendo um

dos teólogos mais influentes do século 19. Schleiermacher utilizava o método histórico-critico

de interpretação, para ele o interprete tinha condição de interpretar o texto bíblico igual ou até

melhor que o próprio autor, por estar em uma situação mais privilegiada em relação ao

escritor. Outro princípio hermenêutico era o de poder compreender o texto bíblico através da

empatia, pois por traz das regras gramaticais existia a intenção do autor que seria pensamentos

comuns, pois o leitor está na mesma situação daquele que fala e compartilha da mesma

natureza humana do autor. Neste caso, a interpretação segue em duas dimensões: a gramatical

e a psicológica.193

Para Schleiermacher o intérprete deve reconstruir a ideia original do texto segundo a

própria intenção do autor, ou seja, “o intérprete se esforça para entrar na mente do autor num

ato imaginativo e empático de compreensão”. Isso pode ser possível porque os intérpretes

compartilham de um mesmo espírito que facilita essa comunicação e não pelo fato de existir

uma verdade absoluta.194

3.5.5 Teologia reformada

A reforma protestante que se iniciou no século 16 teve um grande significado para a

teologia cristã ocidental, pois foi um movimento de retorno da Igreja aos fundamentos

bíblicos em relação aos seus sistemas de crença, moralidade e estrutura.195

Nomes como os de

Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e João Calvino estiveram no ponto central desse

movimento. Na Alemanha precisamente em Wittenberg, Lutero escreveu noventa e cinco

teses em protesto contra a venda de indulgências que objetivava a reconstrução da Basílica de

São Pedro. Essa venda de indulgências encontrava um apoio bíblico um tanto confuso para

Lutero, pois aquele que as comprava também cria que estava comprando o perdão para seus

pecados, sendo que para ele a doação em dinheiro era a consequência do perdão e não a

condição para isso.196

Lutero “era considerado o líder de um movimento reformista de caráter

religioso, social e político que, aos olhos de alguns observadores contemporâneos, parecia

abrir espaço para uma nova ordem social e religiosa na Europa.”197

193

LOPES, Augustus N. A Bíblia e seus intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 206. 194

Ibid., p. 206-207. 195

MCGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e filosófica. São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p.

95. 196

MCGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e filosófica. São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p.

97-98. 197

Ibid. p. 98.

Page 42: Monografia final

41

Ulrico Zuínglio também iniciou um programa de reforma do púlpito da cidade de

Zurique, leste da Suíça. Estudou nas Universidades de Viena e Basiléia, despertou profundo

interesse pelo “programa do humanismo cristão” e em especial pelos escritos de Erasmo. Seu

programa de reforma era mais de caráter ético e que posteriormente incluiria uma crítica à

teologia da época. Não com a mesma intensidade como foi na Alemanha com Lutero, mas

Zuínglio teve grande importância na propagação da reforma em especial no leste da Suíça.198

Sobre Zuínglio foi afirmado o seguinte:

Compôs todos os seus escritos reformados apressadamente, em menos de uma

década. Foi ofuscado durante sua vida pelo grande Lutero e sucedido pelo mais

eficaz Calvino, que impeliu um estudioso a conferir-lhe o título de ‘terceiro homem’

da Reforma. Zuínglio nunca escreveu nada comparável às Institutas.199

“A reforma de Zurique, por meio de uma série de complexos desdobramentos, passou

por diversas modificações de ordem política e teológica, vindo, no futuro, a ser associada

principalmente a cidade de Genebra.”200

Foi nesta cidade que João Calvino, francês, fez o uso

do púlpito por toda sua vida, pregando quase toda a Bíblia para os genebrinos. O caráter de

sua reforma era voltado para ética e o culto da Igreja fundamentado em padrões mais bíblicos.

É óbvio que a teologia da reforma possui características bem mais complexas e dignas

de serem analisadas com maior rigor, que não é o caso deste trabalho, no entanto precisa ser

ressaltada a principal mudança ocorrida na Igreja devido a reforma, que é a hermenêutica. A

partir daí a Bíblia passa a ser interpretada como autoridade máxima, infalível e inerrante da

Igreja. Nicodemus afirma que “a reforma protestante foi, em muitos sentidos, um movimento

hermenêutico. Representa um momento crucial na história da interpretação cristã das

Escrituras.”201

Antes da reforma a Igreja era a autoridade em todas as discussões teológicas,

após a reforma a Bíblia passa a ser o juiz maior e a ocupar uma posição central na fé e prática

da Igreja. Antes a hierarquia da Igreja era encabeçada pelo papa que era juiz das

controvérsias, mas agora a Escritura toma esse posto, pois a busca pelo Espírito Santo e sua

resposta na Palavra era que podia decidir as questões mais complexas da Igreja.202

O Espírito Santo passa a ter papel fundamental na interpretação da Bíblia, é como diz

Calvino: “o conhecimento de Deus nos chega através das Escrituras, pela iluminação do

198

MCGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e filosófica. São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p.

104. 199

GEORGE, Tymothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1993, p. 119. 200

MCGRATH, op. cit., p. 95. 201

LOPES, Augustus N. A Bíblia e seus intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 159. 202

Ibid., p. 159-160.

Page 43: Monografia final

42

Espírito [Santo], e esse conhecimento é seguro e certo.”203

Mas isso não quer dizer que os

reformadores só fizeram uso das Escrituras para interpretar a Bíblia, como eles entendiam que

a Bíblia também era um livro humano, era importante fazer uso do aparato gramatical para

uma melhor compreensão de sentido, e também “não desprezaram o que o Espírito Santo já

havia revelado a outros antes deles,”204

não negaram a história e seu desenvolvimento, mas

com muita cautela “fizeram uso abundante de erudição antiga, citando comentaristas

medievais, as obras dos pais apostólicos e obras de contemporâneos.”205

Os princípios hermenêuticos da Escritura no período da Reforma serviram de base

para o desenvolvimento do método gramático-histórico de interpretação que foi

“desenvolvido e adotado pelo protestantismo ortodoxo em geral.”206

Neste capítulo foi abordado a suficiência da Escritura e seus principais conceitos. Foi

apresentado a sua suficiência na pregação, onde o ministro se faz valer somente da Escritura

para edificação da Igreja e a si próprio, desprezando os métodos meramente humanos, porém

essa pregação só surtirá efeito mediante uma correta interpretação da mesma. Três correntes

englobam uma miríade de métodos de interpretação que são: corrente espiritualista que

abrange o método fundamentalista; o racionalista que abrange o método histórico-crítico e a

reformada que abrange o método gramático-histórico, utilizado pelos reformadores a partir do

século 16.

Foi abordado também os pressupostos teológicos que viabilizam os diferentes tipos de

interpretação, neste sentido foram citados alguns movimentos como: teologia da libertação,

negra, feminista e reformada. Essas teologias influenciam a Igreja até hoje moldando a

maneira de pensar, de ver o mundo, e principalmente de interpretar a Bíblia.

No próximo capítulo será feito uma abordagem da segunda epístola a Timóteo com

referência ao texto de 2 Timóteo 3:16-17, e suas implicações para a Igreja hoje.

203

LOPES, Augustus N. A Bíblia e seus intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 181. 204

Ibid., p. 165. 205

Ibid. 206

Ibid., p. 167.

Page 44: Monografia final

43

4. EDIFICAÇÃO PELA ESCRITURA INSPIRADA: ANÁLISE EM SEGUNDA TIMÓTEO

PARA A ATUALIDADE

Depois de enaltecer a inspiração e a suficiência da Escritura, o caminho a ser seguido é

na epístola de Paulo a Timóteo, um jovem pastor colocado à frente de uma comunidade com o

intuito de edificá-la na doutrina cristã através dos ensinamentos de Paulo. A carta escrita pelo

Apóstolo tinha por objetivo instruir Timóteo e a Igreja estabelecida em Éfeso.207

O propósito

central da Epístola era a confirmação de Timóteo na fé do evangelho como também sua

pregação de maneira que as circunstâncias não viessem tirá-lo do propósito por hipótese

alguma. Até mesmo por causa da iminente, mas próxima morte de Paulo, pois segundo

Calvino “Paulo tinha a morte ante seus olhos, e ele estava pronto para enfrentá-la pelo

testemunho do Evangelho.”208

É importante ressaltar que o apóstolo escreveu a carta “não meramente por causa de

um homem – Timóteo –, mas para estabelecer, através de um só homem, um ensino de

aplicação geral, o qual Timóteo pudesse mais tarde transmitir a outros.”209

Hendriksen em seu

comentário define a principal linha de pensamento que percorre a epístola com respeito à sã

doutrina: retenha-a (capítulo 1); ensine-a (capítulo 2); persevere nela (capítulo 3) e pregue-a

(capítulo 4). Dessa forma não existem divisões marcantes, o apóstolo muda de um assunto

para o outro sem abandonar o assunto anterior de maneira que as ênfases vão se encaixando

gradativamente, nada se perde ao longo da carta.210

Uma passagem dominante em relação ao

propósito paulino está no capítulo 1 e versículo 8, que diz: “Portanto[Timóteo], não se

envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte

comigo os sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de Deus.”211

Paulo faz referência à educação que Timóteo recebeu, que desde a infância tinha um

profundo apreço pelas Sagradas Escrituras e pela fé, sendo assim, Paulo o exorta a perseverar

fielmente tanto na doutrina que lhe havia sido ensinada quanto no ofício que lhe foi

confiado.212

Em seguida Paulo “apresenta um breve sumário de seu evangelho, e ordena a

Timóteo a transmiti-lo a outros e cuidar para que o mesmo fosse transmitido à posteridade

207

“É fácil concluir-se que Timóteo estava ainda em Éfeso quando esta carta lhe foi escrita, porque, [no final da

epístola], Paulo envia saudações a Priscila, Áquila e Onesíforo. Este último era de Éfeso, e Lucas nos conta que

os outros dois permaneceram ali ao tempo em que Paulo velejou para a Judéia [At 18: 18-19]” CALVINO, João.

As Pastorais. São José dos Campos, Sp: Fiel, 2009, p. 189, colchetes do autor. 208

CALVINO, João. As Pastorais. São José dos Campos, Sp: Fiel, 2009, p. 189. 209

Ibid., p. 190. 210

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: 1 e 2 Timóteo e Tito. São Paulo: Cultura Cristã,

2011, p. 271-272. 211

Ibid.. 212

CALVINO, op. Cit., p. 190.

Page 45: Monografia final

44

[...], ordena a Timóteo a abster-se de polêmicas contenciosas e questionamentos fúteis,”213

enfatizando ainda a necessidade de um demasiado zelo pela edificação da Igreja, e predizendo

“os tempos perigosos que aguardam os bons e piedosos [Paulo] também anuncia que se

levantariam contra eles homens terrivelmente destrutivos,”214

Nesse sentido o Apóstolo volta

a exortar Timóteo “a fim de que ele perseverasse fielmente no desempenho de seu ministério

para torná-lo ainda mais fiel.”215

Um destaque precisa ser feito em relação ao teor da carta, Paulo recomenda Timóteo a

se envolver constantemente com a sã doutrina, destacando a maneira de utilizar a Escritura e o

reconhecimento que, não só a Igreja, mas também Timóteo precisava ter a respeito da

Inspiração divina da Escritura e, “para que Timóteo soubesse que por meio dela [Escritura]

ele estaria plenamente equipado para a sólida edificação da Igreja.”216

Após essa ressalva a

respeito da Escritura e sua inspiração, o Apóstolo destaca a suficiência dela na edificação da

Igreja e sua capacidade plena em aperfeiçoar o cristão para toda boa obra, e ainda recorda a

Timóteo que sua morte estava próxima e solicita que fosse ter com ele o mais breve possível.

4.1 2 Timóteo 3:16-17

Quando Paulo fala que “Toda a Escritura”217

é inspirada, ele está se referindo a todo

corpo de literatura que, ao longo do desenvolvimento da Igreja foi inspirado pelo Espírito

Santo. Toda essa literatura compreendia na época pouco mais que o Antigo Testamento, mas

que ao final do primeiro século já havia sido escrita em sua totalidade. O processo de

fechamento do cânon em 66 livros aconteceu em um período bem posterior dentro de

processo um tanto complexo.218

Antes de dizer o quanto a Escritura é proveitosa ou útil o Apóstolo faz referência a sua

inspiração divina que assegura seu fator autoritativo. O termo grego utilizado para se referir à

expressão “inspirado por Deus” é “qeopneustoj (theopneustos), [que significa] soprado por

213

Id. As Pastorais. São José dos Campos, Sp: Fiel, 2009, p. 190. 214

Ibid., p. 191. 215

CALVINO, João. As Pastorais. São José dos Campos, Sp: Fiel, 2009, p. 191. 216

Ibid., colchete nosso. 217

Há algum debate sobre a tradução correta de “Toda Escritura”. Certamente, devemos sempre aspirar a

tradução mais precisa, mas os perigos de outras traduções para a frase têm algumas vezes sido exagerados. Que

traduzamo-la como “toda Escritura” ou “cada Escritura” não faz nenhuma diferença essencial — a primeira

declara que a Escritura como um todo é inspirada, e a última declara que cada parte da Escritura é inspirada. De

qualquer maneira, tudo da Escritura e cada parte dela é o sopro de Deus. CHEUNG, Vincent. O ministério da

Palavra. S.l.: Vida, 2001, p. 6. 218

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: 1 e 2 Timóteo e Tito. São Paulo: Cultura Cristã,

2011, p. 371.

Page 46: Monografia final

45

Deus, “Inspirado por Deus”219

.”220

Embora “a terminação –tos indica um significado passivo,

uma tradução ainda mais precisa seria ‘soprada [ou expirada] por Deus.”221

Segundo

Warfield:

A palavra grega representada por ela [inspirado ou soprada por Deus] e que aparece

nesta passagem [2 Tm 3:16] como um epíteto222

ou predicado de ‘Escritura’ –

qeopneustoj – embora ocorrendo somente no Novo Testamento e não encontrada

antes em nenhum ponto em toda a literatura grega [...], não pareceu ser de

interpretação duvidosa. Sua forma, seu uso posterior, as implicações dos termos

paralelos e a analogia da fé se combinaram com as sugestões do contexto para

atribuir-lhe um significado que tem sido constantemente atribuído a ela a partir do

primeiro registro de interpretação cristã até estes dias.223

Para Cheung a palavra “inspiração”, “se tornou há muito tempo um termo teológico

amplo para o que a Escritura realmente ensina sobre sua origem — que ela é o ‘sopro de

Deus’ — e assim também infalível, inerrante e carrega autoridade absoluta”224

Contudo é

questionável o fato de que o emprego do termo seja uma tradução, pois se configura mais

como uma dedução ou interpretação do que o versículo está querendo dizer. Cheung não se

opõe ao uso do termo, até por que ele é teologicamente reconhecido e aceito, mas ressalta o

perigo de se afirmar a partir dessa tradução que a “Escritura é um produto meramente humano

para o qual Deus soprou em seu espírito,” permanecendo primariamente humano em sua

origem, sendo que a tradução “soprada ou expirada” não permitiria esse mau entendimento.225

Warfield226

afirma que de maneira alguma a palavra grega usada em 2 Tm 3:16 como

theópneustos significa “inspirado por Deus”, o termo grego nada quer dizer sobre inspiração

ou inspirar, mas fala apenas de respirar ou respiração. A utilização do termo por “inspiração”

nada mais é do que uma tradução do latim divinitus inspirata da Vulgata, isso quer dizer que

o termo não passa de uma “paráfrase rude”, mas não mentirosa. A ideia transmitida então do

219

O termo “inspirado por Deus”, é encontrado somente em 2Tm 3:16, mas sua ideia esta presente em várias

partes da Escritura com em: Êx 20.1; 2Sm 23.2; Is 8.20; Ml 4.4; Mt 1.22; Lc 24.44; Jo 1.23; 5.39; 10.34, 35;

14.26; 16.13; 19.36, 37; 20.9; At 1.16; 7.38; 13.34; Rm 1.2; 3.2; 4.23; 9.17; 15.4; 1Co 2.4-10; 6.16; 9.10; 14.37;

Gl 1.11, 12; 3.8, 16,22; 4.30; 1Ts 1.5; 2.13; Hb 1.1,2; 3.7; 9.8; 10.15; 2Pe 1.21; 3.16; lIo 4.6; e Ap 22.19. 220

COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Dicionário internacional de teologia. São Paulo: Vida Nova, 2009, p.

713. 221

CHEUNG, Vincent. O ministério da Palavra. S.l.: Vida, 2001, p. 5, colchete do autor. 222

“Palavra ou frase que qualifica alguma coisa” FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o

dicionário da língua portuguesa. 8. ed. Curitiba: Positivo, 2010, p. 297. 223

WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 196,

colchetes nosso. 224

CHEUNG, op. cit., p. 6 225

Ibid., p. 5 226

Ibid. Sobre o emprego do termo qeopneustoj, B. B. Warfeild faz uma defesa da inspiração da Escritura

com base na história e nos debates que ocorreram para confirmar a Escritura como “inspirada” por Deus, cf.

WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 196-236.

Page 47: Monografia final

46

termo corretamente traduzido seria que a Escritura é fruto do “sopro criador de Deus”, um

produto divino sem indicação da maneira como foi produzido.227

Nem Cheung muito menos Warfield consideram a interpretação do termo

theópneustos como “inspiração” incorreta, pois transmite a ideia bíblica do que é a Escritura,

mas a tradução literal do termo grego para “inspiração” é incorreta, pois “seu uso baseia-se,

em última análise, no seu emprego na Bíblia Latina (Vulgata) [...], e não significa de maneira

alguma ‘inspirado por Deus,’” 228

utilizá-lo dessa forma pode dar margem para possíveis

equívocos. Cheung analisa a tradução do termo theópneustos por “inspiração” afirmando que:

“mesmo que concordemos que a palavra não signifique “inspirar” quando usada no sentido

teológico — mas amplamente se refira ao que a Escritura ensina sobre sua própria origem.”229

Para Warfield a utilização do termo é correta, pois:

Os livros bíblicos são chamados inspirados por serem o produto, divinamente

determinado, de homens inspirados; os escritores bíblicos são chamados inspirados

por terem recebido o sopro do Espírito Santo, de maneira que o produto de suas

atividades transcende a capacidade humana e recebe autoridade divina. A inspiração é,

pois, definida, em geral, como sendo uma influência sobrenatural exercida nos escritos

sagrados, pelo Espírito de Deus, em virtude da qual os seus escritos recebem

fidedignidade divina.230

Ao considerar o fator inspiração da Escritura, Paulo estava “empenhado em explicar a

grandeza das vantagens que Timóteo havia desfrutado por aprender a verdade salvadora de

Deus,”231

até porque Timóteo foi instruído desde a sua infância nas “sagradas letras”232

como

é relatado no verso 15 do mesmo capítulo. Segundo Warfield, Timóteo “não apenas teve bons

instrutores, mas também tinha sempre ‘uma bíblia’ aberta, como diríamos, na mão. Para

reforçar ainda mais a grande vantagem da posse dessas Sagradas Escrituras,”233

Paulo afirma

fortemente que a Escritura é de natureza divina, “portanto, do mais elevado valor para todos

os santos propósitos.”234

227

WARFIELD, Benjamin. O conceito bíblico da inspiração. Disponivel em:

< http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/conceito-biblico-inspiracao_warfield.pdf>, Acesso em: 28 dez.

2013, p. 1. 228

WARFIELD, Benjamin. O conceito bíblico da inspiração. Disponivel em:

< http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/conceito-biblico-inspiracao_warfield.pdf>, Acesso em: 28 dez.

2013, p. 1. 229

CHEUNG, Vincent. O ministério da Palavra. S.l.: Vida, 2001, p. 6 230

WARFIELD, op. cit., p. 1. 231

id. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 108. 232

“[Trata-se] de uma expressão técnica que não é encontrada em outras partes do Novo Testamento, é verdade,

mas que ocorre normalmente em Filo e Josefo para designar este conjunto de livros autoritativos que constituía a

‘Lei’ judaica” (WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p.

108, colchete nosso). 233

WARFIELD, op. cit., p. 108. 234

Ibid.

Page 48: Monografia final

47

O fato de a Bíblia ser “inspirada por Deus” é tratado por Calvino como um princípio

que leva o cristão a recebê-la com extrema reverência, não uma reverência das letras, mas no

precioso teor da mensagem. Calvino afirma:

Eis aqui o princípio que distingue nossa religião de todas as demais, ou seja:

sabemos que Deus nos falou e estamos plenamente convencidos de que os profetas

não falaram de si próprios, mas que, como órgãos do Espírito Santo, pronunciaram

somente aquilo para o qual foram do céu comissionados a declarar. Todos quantos

desejam beneficiar-se das Escrituras devem antes aceitar isto como um princípio

estabelecido, a saber: que a lei e os profetas não são ensinos passados adiante ao bel-

prazer dos homens ou produzidos pelas mentes humanas como sua fonte, senão que

foram ditados pelo Espírito Santo.235

Além de afirmar a natureza divina das Escrituras o Apóstolo Paulo faz uma nova

recomendação da Escritura como “útil” ou “proveitosa”. O que o Apóstolo esta dizendo é

“que a Escritura contém a perfeita norma de uma vida saudável e feliz,”236

que segundo

Calvino se configura em uma utilização saudável, e só pode ser “corrompida por um mau uso

quando este propósito de utilidade não é buscado nela.”237

E assim “[pode-se] condenar a

todos aqueles que, sem nenhuma preocupação pela edificação, comovem com muita arte, sim,

porém com questões sem qualquer proveito. Sempre que engenhosas mesquinharias desse

gênero forem introduzidas, [deve-se repeli-las].”238

Ainda sobre a utilidade da Escritura

Calvino faz um afirmação que resume praticamente esse ponto:

Quem é que por natureza não ansiaria por sua felicidade e salvação? E onde

poderíamos achá-las senão na Santa Escritura, pela qual nos são comunicadas? Ai de

nós se não ouvirmos a Deus quando Ele nos fala. Ele não busca seu próprio ganho,

afinal que necessidade tem Ele de ganho? Somos igualmente lembrados de ler a

Santa Escritura não para gratificar nossas fantasias, ou extrair delas questões sem

proveito. Por que? Porque lê-la corretamente será proveitoso para a salvação, diz

Paulo. Assim, quando exponho a Santa Escritura, devo deixar-me guiar por esta

consideração: que aqueles que me ouvem recebam proveito da doutrina que ensino,

para que sejam edificados para a salvação. Se não nutro este desejo, e não almejo à

edificação dos que me ouvem, sou um sacrílego, profanando a Palavra de Deus. Em

contra partida, quem lê a Santa Escritura, ou quem busca ouvir o sermão, caso esteja

em busca de alguma tola especulação, se vem aqui para seu entretenimento pessoal,

é culpado de haver profanado algo tão santo.239

Quando Paulo fala da utilidade da Escritura ele cita quatro pontos que são: ensino,

repreensão, correção e instrução na justiça. É importante lembrar que o Apóstolo não esgota

nesses quatro pontos toda a utilidade da Escritura, mas faz o uso deles por causa da

necessidade do momento em que a Igreja, sob o pastoreio de Timóteo, estava vivendo. Neste

235

CALVINO, João. As Pastorais. São José dos Campos, Sp: Fiel, 2009, p. 262. 236

Ibid., p. 263. 237

Ibid. 238

Ibid. 239

Ibid., p. 264

Page 49: Monografia final

48

caso as outras importâncias ou critérios de utilização da Escritura podem ser encontrados nas

outras epístolas do Apóstolo tal como em toda a Escritura. Mas somente os pontos citados por

Paulo já tornaria Timóteo um mestre altamente habilitado para aquela comunidade como que

também para tudo aquilo que Deus viesse confiar em suas mãos.

Ao enumerar as quatro utilidades da Escritura, Paulo inicia com a palavra “ensino”

que para Calvino “ele mantem a precedência acima de todos os mais. Visto, porém, que a

doutrina por sua natureza, é às vezes fria e inanimada, ele adiciona a [repreensão] e a

correção,”240

e que entre essas duas existe uma única diferença “é que a segunda é resultante

da primeira. Reconhecer nossa iniquidade e encher-nos de convicção do juízo divino sobre ela

é o principio do arrependimento. Instrução na justiça significa instrução numa vida piedosa e

santa”241

No verso 17 (“Para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para

toda boa obra”) Paulo justifica os fatores que o levaram a descrever a natureza da Escritura

como também sua utilidade, que é tornar o cristão plenamente apto para realização de

qualquer oficio cristão. Pra Hendriksen o cristão que se considera pertencente a Deus está

investido de um “tríplice oficio”: profeta, sacerdote e rei. Este só poderá desempenhar com

louvor este “tríplice oficio” se estiver bem equipado com a Escritura que é totalmente

suficiente,242

no entanto o cristão que não fica satisfeito com ela “busca saber mais do que

convém e mais do que lhe é bom saber.”243

4.2 Praticando a Escritura

Todo o caminho desenvolvido nesse trabalho teve por objetivo chegar a este último

ponto. Pode-se pensar na simplicidade deste tópico em relação aos demais, mas o trajeto não

foi desenvolvido inutilmente. Essa caminhada não encontraria sentido sem que fosse feita

uma aplicação de tudo que foi abordado, da mesma forma uma aplicação direta sem passar

pela história que a fundamenta a tornaria extremamente rasa igualando este trabalho aos

muitos outros conceitos que são ensinados hoje em dia.

Se hoje a prática da Escritura está mais clara, isso é graças ao empenho de alguns

pensadores cristãos que gastaram uma vida inteira para traduzi-la e interpretá-la. Reduziram

os distanciamentos e esclareceram muitos pontos da Escritura que antes eram totalmente

240

CALVINO, João. As Pastorais. São José dos Campos, Sp: Fiel, 2009, p. 264. 241

Ibid. 242

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: 1 e 2 Timóteo e Tito. São Paulo: Cultura Cristã,

2011, p. 373. 243

CALVINO, op. cit., p. 265.

Page 50: Monografia final

49

obscuros. Ainda existem muitas questões da Escritura que geram muitas dúvidas, e grande

parte delas não encontraram respostas neste tempo. Mas tudo o que já foi interpretado ao

longo da história já é o bastante para conduzir um indivíduo e uma comunidade inteira para o

caminho da salvação, orientando sobre as adversidades que fazem parte da longa, árdua,

porém agradável caminhada.

Essa caminhada primeiramente se fundamenta na crença que é a causa para todos os

efeitos que a Escritura proporciona. Crer na inspiração divina e suficiência da Bíblia é um

fator determinante para esses efeitos. A fé na Escritura “é vitalmente importante para todos os

cristãos, [pois através dela] (pregada e lida) [é] que Deus nos salva e faz com que cresçamos

na graça que há em Cristo Jesus.”244

Considera-se que, se o Antigo Testamento é falso, o

Novo Testamento também será (Hb 1:1-2245

). Se a Bíblia é falível, Deus também será falível,

se a Palavra escrita de Deus é uma farsa, assim também será a Palavra encarnada de Deus e

finalmente, se a fé na Escritura é ilegítima, com certeza aquele que a exerce também é um

cristão ilegítimo.246

Se uma Igreja tem esse posicionamento em relação à Escritura ela se

encontra longe dos propósitos divinos não podendo jamais ser chamada Igreja do Senhor

Jesus.

4.2.1 A Bíblia e o Cristão

Infelizmente, os cristãos da atualidade se caracterizam pela sua pouca leitura bíblica.

Isso os torna ignorantes em relação ao conhecimento de Deus e a adoração a Ele. O resultado

disso é desastroso, pois esses cristãos vivem a vida toda nutrindo pensamentos mesquinhos e

insignificantes em relação a Deus e pensamentos elevados a respeito do homem.247

Negociam

aquilo que é divino pelo humano, enfatizam a criatura e deixam o criador de lado. Da mesma

forma trocam a Bíblia inspirada e suficiente por outras literaturas que se dizem sábias e de

fundamento bíblico. Segundo Ryle “há um abismo total entre este (Bíblia) e qualquer outro

livro que tenha sido escrito. [...] [É como trocar] ouro por simples metal; alguém que trocou o

céu pela terra.”248

244

STEWART, Angus. A doutrina da Escritura. Disponível em:

<http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/a-doutrina-escritura_angus-stewart.pdf>, Acesso em: 02 dez.

2013, p. 1, colchetes nosso, parêntese do autor. 245

“Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos

profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e

por meio de quem fez o universo.” 246

STEWART, op. cit., p. 1. 247

ANYABWILE, Thabiti. O que é um membro de Igreja saudável? São José do Campos, Sp: Fiel, 2010, p. 27. 248

RYLE, J. C. A Inspiração das Escrituras. São Paulo: Pes, s.d. p. 1-4, parêntese do autor, colchete nosso.

Page 51: Monografia final

50

Apóstolo Paulo afirma que os meios para tornar um cristão apto para a realização da

obra de Deus estariam fundamentados na Escritura (2 Tm 3:17). Ele está se referindo a uma

saúde espiritual, um cristão bem nutrido, saturado pela doutrina bíblica, plenamente cativo a

Bíblia em vontade e sentimentos, alguém que reconheceu que nela possui as vitaminas

essenciais da fé cristã. Não se trata de um livro onde se encontra resposta para todas as

dúvidas do homem e nem faz afirmações diretas relacionadas há humanidade, pois não é o seu

propósito. Mas, se o Cristão deseja conhecer Deus, “a Bíblia é o lugar em que Deus nos fala a

respeito de si mesmo.”249

Conhecer uma obra implica em conhecer pelo menos um pouco do seu autor, com a

Bíblia não é diferente conhece-la implica em conhecer Deus ou apenas aquilo que Ele próprio

permitiu ser conhecido. Packer em sua obra “O conhecimento de Deus” desenvolve cinco

princípios básicos sobre o conhecimento de Deus, são eles:

(1) Deus falou aos homens, e a Bíblia é sua Palavra, que nos foi dada a fim de nos

tornar sábios para a salvação. (2) Deus é Senhor e Rei deste mundo; ele governa

todas as coisas para sua glória, mostrando sua perfeição em tudo o que faz, a fim de

que homens e anjos possam louvá-lo e adorá-lo. (3) Deus é Salvador, ativo em amor

soberano mediante o Senhor Jesus Cristo para salvar os crentes da culpa e do poder

do pecado, adotá-los como filhos e assim abençoá-los.(4) Deus é triúno. Há em Deus

três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; e a obra da salvação é operada pelos

três ao mesmo tempo: o Pai propõe a redenção, o Filho a assegura e o Espírito a

aplica. (5). Piedade significa responder à revelação de Deus com confiança,

obediência, fé, adoração, oração, louvor, submissão e serviço. A vida deve ser vista

e vivida à luz da Palavra de Deus. Isto, e nada mais, é a verdadeira religião.250

Estes princípios correspondem aos inegáveis fundamentos da fé que devem ser

profundamente arraigados na vida do cristão através de uma relação intima com a Escritura.

Fundamentos que refletem em atitudes e palavras. Um cristão direcionado pela Escritura: ora

biblicamente; evangeliza biblicamente; ensina a Bíblia; exorta usando a Bíblia não se prende a

versículos favoritos, mas explora todo seu conteúdo se preocupando com a harmonia dos

versos; fala quando a Bíblia fala e se silencia quando a Bíblia se silencia; nada a acrescenta.

Para esse cristão a Escritura: se autoafirma; se autocompleta e se autointerpreta.

249

ANYABWILE, Thabiti. O que é um membro de Igreja saudável? São José do Campos, Sp: Fiel, 2010, p. 27. 250

PACKER J. I. O conhecimento de Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 1996, p. 20-21.

Page 52: Monografia final

51

4.2.2 A Bíblia e a Igreja

Deus edifica sua Igreja através da sua Palavra (Mt 16:18; Rm 1:16; 10:17251

), como

cabeça (Ef 4:15252

) e noivo dessa Igreja ele a prepara para seu retorno triunfal (Ap 21:2

21:9253

). Essa Palavra tem sido o “princípio regulador”254

da Igreja, pois somente por causa

dela é que a Igreja se diferencia do mundo. Pois no mundo o ponto central é o próprio homem

com suas vontades e anseios praticados deliberadamente sem nenhum princípio que regula

essas ações. Porém a Igreja nasceu para fazer a vontade de Deus que é expressa em sua

Palavra e testificada pelo Espírito Santo. Na Igreja a Bíblia é autoridade máxima, questões

difíceis de solucionar são tratadas mediante a Escritura, o papel do homem é somente de

obediência a Ela.

No livro de Dever e Alexander “Deliberadamente Igreja”, é estabelecido para a Igreja

um princípio regulador com base em cinco elementos que são: “Leia a Bíblia”255

nas reuniões

da Igreja e como Igreja, isso representa sua dependência em relação à Escritura. Paulo

recomenda a leitura da Bíblia, “Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da

Escritura, à exortação e ao ensino.” (1 Tm 4:13). Pois mesmo uma simples leitura pode surtir

grandes efeitos, como diz Jeremias, “Não é a minha palavra como o fogo”, pergunta o Senhor,

“e como um martelo que despedaça a rocha?” (Jr 23:29); “Pregue a Bíblia”256

, “esteja

preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e

doutrina” (2 Tm 4:2). “A pregação da Palavra de Deus é o método que Ele ordenou para a

comunicação do evangelho aos pecadores.”257

A falta da pregação comprometerá a Igreja em

se manter viva e atuante; “Ore a Bíblia”258

, isso implica em “falar com Deus citando-lhe sua

própria Palavra [...], transmite a ideia de que desejamos nos aproximar de Deus em seus

termos (não nos nossos), de acordo com o que Ele revelou acerca de Si mesmo, e não de

acordo com que preferimos que Ele seja, pois a Escritura ensina a orar.”259

; “Cante a

251

Mt 16:18 “E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades

não poderão vencê-la.” Rm 1:16 “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação

de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego.” Rm 10:17 “Consequentemente, a fé vem por ouvir

a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo.” 252

Ef 4:15 “Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo.” 253

Ap 21:2 “Vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, preparada como uma

noiva adornada para o seu marido.” Ap 21:9 “Um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias das últimas sete

pragas aproximou-se e me disse: ‘Venha, eu lhe mostrarei a noiva, a esposa do Cordeiro’.” 254

DEVER, Mark; ALEXANDER, Paul. Deliberadamente Igreja. São José dos Campos, Sp: Fiel, 2008, p. 97. 255

DEVER, Mark; ALEXANDER, Paul. Deliberadamente Igreja. São José dos Campos, Sp: Fiel, 2008, p. 97,

itálico nosso. 256

Ibid., p. 98, itálico nosso. 257

Ibid. 258

Ibid, itálico nosso. 259

Ibid., p. 99, parêntese do autor.

Page 53: Monografia final

52

Bíblia,”260

canções que expressam o caráter de Deus, que aplicam “corretamente a teologia, as

frases e assuntos bíblicos [...], porque a Palavra de Deus edifica a Igreja, e a música nos ajuda

a rememorar a Palavra.”261

; E por último “Veja a Palavra,”262

trata-se de observar as

ordenanças de Jesus em relação aos meio da graça como Santa Ceia e Batismo. A Santa Ceia

retrata o corpo e o sangue de Jesus “partido e derramado em favor da remissão de nossos

pecados”263

representados pelo pão e o vinho. O batismo que é a representação física da

conversão espiritual. Tais ordenanças “são selos visíveis da participação na Nova Aliança.”264

Essas atitudes têm por objetivo regular e instruir a forma de como se deve aproximar

de Deus no momento em que os cristãos se reúnem para adorá-Lo.265

A prática desses cinco

elementos evitam alguns males que tem assolado a Igreja moderna que Washer descreve

como:

Uma negação da suficiência da Escritura; uma ignorância a respeito de Deus; um

fracasso em abordar o mal do homem; uma ignorância quanto ao evangelho de Jesus

Cristo; um convite antibíblico ao evangelho; uma ignorância quanto a natureza da

Igreja; uma falta de disciplina eclesiástica amorosa e compassiva; um silêncio a

respeito da separação; uma substituição da Escritura referente a família por

psicologia e sociologia e pastores mal nutridos na Palavra de Deus.266

Todos esses problemas ocorrem pela ausência da Bíblia pura, suficiente e

corretamente interpretada na Igreja. Neste sentido, o princípio regulador de Dever e

Alexander surge para devolver a saúde espiritual da Igreja e mantê-la saudável. “Líderes

eclesiásticos comprometidos com a reforma da Igreja por meio da Palavra de Deus, através

dos séculos, têm usado o mesmo método.”267

Neste capítulo foi feito um breve comentário sobre a segunda epístola a Timóteo com

referência ao terceiro capítulo e versos dezesseis e dezessete. Foi tratado a respeito do termo

“inspiração” e as suas divergências que estão entre a sua tradução e sua interpretação, mas

que não altera o sentido bíblico que é o de afirmar que a Escritura é um produto divino. Em

seguida foi feita uma pequena exposição da prática da Escritura pelo cristão e pela Igreja, bem

como as vantagens de tê-la como inspirada e suficiente e as desvantagens de considera-la

como insuficiente para a edificação pessoal e da Igreja.

260

DEVER, Mark; ALEXANDER, Paul. Deliberadamente Igreja. São José dos Campos, Sp: Fiel, 2008, p. 100. 261

Ibid., p. 100, itálico nosso. 262

Ibid., p. 101, itálico nosso. 263

Ibid., p. 102. 264

Ibid. 265

DEVER, Mark; ALEXANDER, Paul. Deliberadamente Igreja. São José dos Campos, Sp: Fiel, 2008, p. 102. 266

São pontos extraídos do próprio índice da obra de (WASHER, Paul. 10 Acusações contra Igreja Moderna.

São José dos Campos, Sp: 2011, p. 7-95). 267

DEVER; ALEXANDER, op. cit., p. 97.

Page 54: Monografia final

53

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo principal desse trabalho foi apresentar como a inspiração e suficiência da

Escritura são ferramentas fundamentais para a edificação do cristão e da igreja. Dentre os

muitos conceitos e teologias que evolvem o tema, foram citados apenas os principais, que

moldam a forma como se interpreta a Bíblia. Foi abordado também aquilo que a Igreja tem

crido desde sua fundação, e os benefícios que ela terá quando receber as Escrituras como

inspirada por Deus e suficiente para sua edificação.

As muitas teorias que envolvem o tema inspiração são pensamentos diferentes acerca

do mesmo assunto podendo conduzir em várias direções até mesmo contraditórias. Sendo

assim, por essa divergência e complexidade é que torna importante construir uma

compreensão de qual conceito de inspiração bíblica pode servir como base para todo cristão

maduro na fé ou não. Se existir dúvida acerca da inspiração bíblica, também gera dúvida se

ela é suficiente ou não para conduzir alguém à salvação.

Toda a Escritura é inspirada por Deus, cada capítulo e verso colocados em seu devido

lugar segundo a vontade dEle, que inspirou homens piedosos a se entregarem totalmente a sua

vontade para determinado fim. Cada escritor escreveu acerca daquilo que viu e daquilo que

foi revelado por Deus. Portanto, a Bíblia não contém e nem se torna a Palavra de Deus, ela é a

Palavra de Deus e autoridade máxima na vida do cristão desde quando foi escrita e

atualmente.

Se a Escritura é inspirada por Deus, consequentemente ela é suficiente para a

edificação da igreja, pois o maior interessado no sucesso da igreja é o próprio Deus, por se

tratar de um projeto Divino. Os sessenta e seis livros entregues à humanidade e sua

organização são o manual para a transformação de uma comunidade e seus respectivos

indivíduos, ou seja, tudo o que a igreja precisa esta nas Escrituras, seja no ensino, na

repreensão de um grupo ou de um membro, na correção e em todo tipo de instrução no que

tange a formação de um membro dentro da comunidade. Razão pela qual foi abordado o texto

de 2 Timóteo 3:16,17, pois nele engloba alguns aspectos essenciais que são: o ensino, a

repreensão, a correção, instrução na justiça e o preparo do membro para a vida cristã.

É necessário saber que se deve falar quando a Bíblia fala e calar quando a Bíblia cala,

quando se trata de Igreja e seus conceitos, a origem e destino da humanidade suas obrigações

e deveres enquanto viver em sociedade. A Bíblia é a formula ideal para um destino promissor

com Deus e a dosagem correta para manter a saúde espiritual do individuo e de uma igreja

inteira.

Page 55: Monografia final

54

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