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LEANDRO LUIZ COLODRO O JOGO COMO PRÁTICA DE ENSINO INTERDISCIPLINAR. 1 1

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Estudo sobre Educação Física Interdisciplinar, Jogos, Posturas de Aula e Pluralidade Cultural.

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Page 1: Monografia final

LEANDRO LUIZ COLODRO

O JOGO COMO PRÁTICA DE ENSINO INTERDISCIPLINAR.

Ribeirão Pires

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Page 2: Monografia final

2006

LEANDRO LUIZ COLODRO

O JOGO COMO PRÁTICA DE ENSINO INTERDISCIPLINAR

Monografia de conclusão do curso de

Educação Física, apresentada como

exigência parcial para obtenção do título de

Bacharel e Licenciado em Educação Física

nas Faculdades Integradas de Ribeirão

Pires. Sob orientação da professora Mestra

Katya Eid.

Ribeirão Pires

2006

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho teve grande contribuição da Professora Mestra Katya Eid,

que orientou o processo de estudo e dos Professores e Mestres Alexandre Mate e

Carminda André, que foram meus professores de Teatro durante os anos de 1996 a

2000.

Aos meus colegas de trabalho, pelos seus esforços em melhorar a

Educação e a qualidade de vida.

Gostaria de agradecer também todas as pessoas que passaram pela minha

vida e que contribuíram de alguma forma com este trabalho, e principalmente minha

esposa que estava do meu lado o tempo todo e minha filha que foi grande inspiração

para que eu procurasse formas diferentes de Ensino e Aprendizagem.

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“Muda, que quando a gente muda, o mundo muda com a gente. A gente muda o mundo na mudança da mente. E quando a gente muda à gente anda pra frente. E quando a gente manda, ninguém manda na gente. Na mudança de atitude não há mal que não se mude, nem doença sem cura. Na mudança de postura a gente fica mais seguro, na mudança do presente a gente molda o futuro.”

Gabriel Pensador

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I - APRESENTAÇÃO

A Educação Física vivenciada por mim na época escolar (1983-1994) passou

despercebida. Não entendia a Educação Física como disciplina e sim como espaço onde

eu jogava algum esporte, dava algumas risadas e não me preocupava com a nota no final

do bimestre. Durante as aulas de Educação Física eu não estava preocupado em

aprender e sim apenas em me divertir.

Em 1996 tive a oportunidade de fazer parte de um grupo de pessoas que se

reuniam para aprender teatro, foi onde descobri que existem várias formas de

aprendizagem além daquela encontrada na Escola, com resultados satisfatórios. Lá eu

continuava a jogar, a dar risadas, não tinha preocupação com nota, mas tinha o objetivo

de aprender e exercitar o que estava sendo vivido.

Qual era o diferencial entre as duas formas? Na primeira forma eu não

encontrava uma razão para aprender tal movimento ou esporte, já na segunda eu

participava pelo puro prazer de estar descobrindo o porquê de realizar cada ação.

Após ter algumas experiências na prática de ensino/aprendizado através do

teatro, e ter lido alguns especialistas como Bertold Brecht, Augusto Boal, Viola Spolin

entre outros, percebi que necessitava de uma formação mais teórica. Foi então que

resolvi estudar Letras, cujos dois semestres que estudei (1998), me proporcionaram a

chance de ampliar meus horizontes em relação ao ensino. Infelizmente não consegui

concluir este curso, mas tive a oportunidade de iniciar uma nova experiência de

trabalho, o da recreação.

Nesta fase percebi que um ensino motivador para o aluno seria de grande

importância, comecei então a procurar seguir uma linha de educação interdisciplinar

através do jogo (prazer) e do teatro (relação). Trabalhei com estes temas de 1998 a 2001

nas oficinas de teatro no município de Ribeirão Pires com crianças, adolescentes e

adultos.

Após ter casado e tendo uma filha para educar, senti novamente que seria

necessário estudar, foi então que decidi escolher algo que se aproximasse dos jogos

teatrais e recreativas, escolhi assim o curso de Educação Física.

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Page 6: Monografia final

E foi através do curso de Educação Física que comecei a ter contato com Piaget,

Vygotsky, Daolio, João Batista Freire entre outros. Tais pensadores firmaram ainda mais

meus pensamentos no que diz respeito ao ensino. Percebi que o jogo seria uma ótima

forma de se ensinar diversos conteúdos disciplinares integrados com a atividade física.

“O jogo como prática de ensino interdisciplinar” foi a forma que encontrei para

unir Teatro, Jogo e Educação Física em favor da educação total do indivíduo.

O trabalho foi dividido em três capítulos: O jogo, a interdisciplinaridade na

escola e a pluralidade cultural como tema transversal, procurando assim sintetizar

algumas idéias e propostas de ensino para a Educação Física, com a preocupação de

uma nova prática de ensino, diferente da que está sendo realizada nas instituições de

Ensino em geral (públicas principalmente).

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II - INTRODUÇÃO

As aulas de Educação Física na escola passam por sérios problemas em seu

planejamento e execução, e acarretando certo “desencanto pelas aulas” por parte dos

alunos e dos professores. Uma das principais razões é que o planejamento é feito através

de um modelo único, independente da cultura de cada região. A visão que prevalece é a

da frustração, descaso e desinteresse do professor em procurar novas alternativas de

aprendizagem, o que faz permanecer a imagem de uma aula em que se “joga bola”.

Outra questão é o foco que está centralizado no esporte, dando ênfase para o

treinamento e a competitividade, não permitindo ao aluno a vivência de suas

capacidades físicas, excluindo o aluno que não se interessa por esporte e ocasionando na

desvalorização da aula por parte dos outros professores.

Um dos maiores problemas é a falta de interesse em discutir o trabalho em

grupo. Em algumas reuniões de professores que participei percebi que os assuntos que

estavam sendo discutidos eram desnecessários em uma discussão de ensino, sendo

muitas vezes de caráter pessoal. Alguns professores davam uma ou outra opinião sobre

um aluno específico, outros faziam algumas reclamações sobre a Escola.De vez em

quando alguém dava uma proposta diferenciada, geralmente o professor de Educação

Física ou Artística, no entanto tais propostas só apareciam para organização de alguns

eventos em datas comemorativas. Concluí assim, que as muitas oportunidades que os

professores tinham para trabalhar em equipe acabavam se transformando em um

trabalho cansativo e obrigatório, e o evento que viria a ser um interessante processo de

ensino/aprendizagem, passava como um acontecimento qualquer.

Vários Psicólogos, Sociólogos, Pedagogos e Educadores Físicos estudam formas

diferenciadas de resolver tal problema, preocupados com o bom desenvolvimento

humano e o aprendizado global do aluno. Um desses profissionais é João Batista Freire,

que em seu livro “Educação de Corpo Inteiro”, procura solucionar alguns problemas da

Educação Física escolar. Outro livro importante é “Educação Física escolar: ser... ou não

ter?”, organizado pela professora Vilma L. Nista Piccolo que contém textos de

estudiosos importantes como Jocimar Daolio e João Francisco Rodrigues de Godoy.

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Tais livros citados serviram como inspiração e estudo para o desenvolvimento deste

trabalho.

“O jogo como prática de ensino interdisciplinar” foi a forma que encontrei para

atrair o aluno para a participação não só na aula de Educação Física, mas também na

escola. A escola está perdendo seus alunos pela falta de prazer que ela proporciona, item

importante para o ensino, descrito neste trabalho. Outra razão que tive foi a de trazer à

tona a preocupação com a relação pessoal no desenvolvimento humano, não apenas

entre os alunos, mas indiscutivelmente também entre os profissionais de ensino.

O objetivo é o tratamento diferenciado da Educação Física em conjunto com

outras disciplinas, motivando o aluno para que tenha interesse não apenas pela atividade

física, mas também pelo aprendizado como um todo, integrando educação afetiva,

social, cognitiva e psicomotora.

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III – DESENVOLVIMENTO

CAPÍTULO 1 - O JOGO

A palavra jogo vem do grego, “ludus”, de lúdico (divertido, prazeroso), seus

conceitos e sua prática segundo alguns pensadores, são tão antigos quanto o homem,

que evolui e transcende conforme o tempo. O jogo é considerado por muitos como

início de uma cultura. Huizinga (1996) cita que “é no jogo e pelo jogo que a civilização

surge e se desenvolve”. Ele descreve dois elementos importantes que conduzem a essa

tese.

“... é desde o inicio que se encontram no jogo os elementos antiéticos e agonísticos que constituem os fundamentos da civilização, porque o jogo é mais antigo e muito mais original do que a civilização”.(HUIZINGA, 1996)

Através do jogo podemos organizar um determinado grupo onde todos podem

aprender a respeitar e a ser respeitados. O jogo pode proporcionar experiências, práticas

e sensações capazes de firmar nossa moral e ética. Para Teixeira e Mazzei (1967)

através de situações promovidas pelo jogo o indivíduo “revela seu caráter e descobre

sua alma”.

O jogo pode ser utilizado como forma de análise. Jean Chateau (1987) cita: “O

jogo possa servir como meio de análise de caráter... a criança dá inteiramente a seu jogo,

porque este lhe serve para firmar sua personalidade total”.

O jogo ajuda a lidar com fatos complexos, provoca raciocínio, faz com que se

adquira conhecimento para resolver situações difíceis. Piaget (1975) afirmava:

“Os jogos constituem-se admiráveis

instituições sociais... Exercitam a autonomia e a cidadania, pois as crianças aprendem a julgar, a argumentar, a chegar a um consenso, a raciocinar”.

Seja qual for o conceito e o uso do jogo, sabemos que existem várias funções

para o mesmo, e que todas elas são importantes para o aprendizado humano.

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“... quando uma criança brinca um instante reproduz ações que os adultos ensinam, e com o passar do tempo deixa de ser só imitação e passa a ampliar seus conhecimentos a respeito do mundo que a cerca”. (GIRARDI, 1995):

O jogo pode também se transformar em uma forma mais dinâmica de

aprendizagem, proporcionando análise, execução e avaliação do que está sendo jogado.

“O jogo ajuda a construir novas descobertas, desenvolve e enriquece sua personalidade e simboliza um instrumento pedagógico... estimulador e avaliador da aprendizagem”. (ANTUNES, 1998)

Teixeira e Mazzei (1967) destacam no jogo a importância da espontaneidade de

quem pratica e o que isso representa na educação, citando que:

“Seu valor traduz especialmente pela espontaneidade da sua prática, e pela satisfação resultante dessa espontaneidade, pelas oportunidades educacionais que oferece... não deixa duvida sobre seu aproveitamento em todas as idades como um meio reconhecidamente indispensável na organização dos programas de Educação Física”.

Para Huizinga (1996) através do fator lúdico (diversão) proporcionado pelo jogo,

a participação de quem esta jogando é fluente e intensiva, o objetivo é solucionar o

problema criado pelo jogo.

Vygotysk (1988) unindo o jogo e a brincadeira descreve muito bem a ligação do

lúdico com a aprendizagem e como contribuiem para o desenvolvimento da criança:

”A ludicidade e a aprendizagem não podem ser consideradas como ações com objetivos distintos. O jogo e a brincadeira são, por si só, uma situação de aprendizagem. As regras e a imaginação favorecem à criança comportamento além dos habituais. Nos jogos ou brincadeiras a criança age como se fosse maior do que a realidade, e isto, inegavelmente, contribuem de forma intensa e especial”.

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Peter Slade (1978) profissional da área do teatro cita que “A oportunidade de

jogar, significa ganho e desenvolvimento. A falta de jogo pode significar uma parte de si

mesmo permanentemente perdida”, pode se dizer que o jogo é fundamental para o

indivíduo, uma experiência necessária para o seu desenvolvimento.

Vários profissionais do Ensino acreditam que jogos ou brincadeiras pertencem

exclusivamente ao mundo infantil, pela capacidade de imaginar e re-criar de uma

atividade lúdica (divertida). Le Boulch (1986), descreve em sua obra que:

“O jogo, atividade própria à criança, que toma diferentes formas de acordo com a idade, está centrado no prazer proporcionado por sua prática... Constitui no motor essencial de desenvolvimento”.

Mauro Teixeira e Julio Mazzei (1967) reafirmando esta idéia descrevem em sua

obra que o jogo evolui conforme a idade de quem o pratica, toma formas e objetivos

diferentes, se aplicados com crianças, adolescentes ou adultos.

O que este capítulo quer mostrar é a importância do jogo na sociedade e seus

efeitos positivos na educação, independente da idade a ser trabalhada.

É bom deixar claro que o jogo está sendo discutido aqui como um instrumento

de aprendizagem e não simplesmente como lazer ou diversão.

Para quem se destina o jogo não é o objetivo, e sim sua utilização no ensino.

Vamos nos basear em três de formas de jogo: o Competitivo, Cooperativo e o

Dramático.

1.1 - O JOGO COMPETITIVO

Quem nunca ouviu que “O homem é um ser competitivo”. Esta afirmação pode estar

correta, pois, na sociedade competimos a todo o momento, vezes com o mundo e vezes

com nós mesmos, sempre atrás de algo para que se tenhamos vitória que traga

“orgulho”, que segundo o dicionário Aurélio, significa: ”1.Sentimento de dignidade

pessoal” ou pode se entender como “2.Amor-próprio demasiado [Antô.: Humildade]”.

Huizinga (1993) cita que: “Jogamos ou competimos por alguma coisa. O objetivo

pelo qual jogamos e competimos é antes de mais nada a vitória”.

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Page 12: Monografia final

Há vários conceitos relacionados aos jogos competitivos com seus prós e contras,

mas o que é importante é saber que a competição faz parte da cultura do homem, está no

seu cotidiano.

É necessário encontrar formas para trabalhar esta questão levando em consideração

o meio em que vive e qual é seu objetivo em competir. Por exemplo, em um

acampamento educativo as crianças são divididas em equipe e durante a semana elas

participam de atividades competitivas, porém, o objetivo do acampamento é a

convivência, a sustentação e a independência da criança e do adolescente.

A competição tem algumas características que podem ser observadas em alguns

participantes, uma delas é a de sobressair ou igualar-se ao outro (emulação). Para Tani

(in Brotto, 1999) a competição é “quando uma pessoa ou grupo tem como objetivo um

melhor resultado em relação à outra pessoa ou grupo, é gerada a oposição”.

O jogo competitivo é muito bem representado pelo esporte, que tem como

objetivo a auto-superação e a vitória. O esporte está sendo utilizado por muitos como

única prática de ensino nas aulas de Educação Física, mas deveria ser utilizado como

instrumento e não como treinamento. Moreira (in Santin, 1988) descreve: “O professor

de Educação Física e das práticas esportivas, mais do que saber técnicas e estratégias,

precisará saber brincar”.

É necessária uma discussão sobre a aplicação do esporte na escola (ver anexo

1), para que não haja o equivoco de impor que o aluno deva aprender um esporte

durante o ano.

“O esporte impõe pela atração que desperta, incita a ação, a competição, a superação e esforço e como tal deve ser orientado e dirigido de maneira a assegurar sua utilidade como meio educacional” (Teixeira e Mazzei, 1967).

O esporte não deveria ser utilizado como objetivo de aula e sim como estratégia.

João Zanetic (in Pontuschka 1993) afirma que “mais importante que o objeto é o

processo de construção do objeto”.

Mattos e Neira (2003) colocam que alguns educadores tendem a conduzir à uma

sociedade competitiva, justificando a inclusão no esporte em um caráter socializador.

Sobre esse ponto de vista encaram da seguinte forma: ”A competição reflete valores

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Page 13: Monografia final

importantes na sociedade e, fazendo esporte integramos na sociedade”; “o esporte

oferece a oportunidade de aprendizagem de diversos papéis sociais”.

Contrapondo esta idéia Mattos e Neira (2003) citam também que determinados

autores têm elaborado estudos através de análise do esporte em uma ótica histórica e

cultural, valorizando a relação social em vez da função social. Citam ainda que o

esporte “precisa ser entendido no contexto das atividades nas quais o fenômeno se dá;

competitivo reflete a ideologia de determinadas parcelas da sociedade”.

Not (1993) coloca a necessidade da utilização da competição no ensino, para que

o aluno possa superar obstáculos, enfrentar desafios e alcançar seus objetivos. Além do

mais vivemos em uma sociedade competitiva, e a esse respeito Not cita que

“introduzindo a competição na sala de aula, prepara-se o aluno para situações que ele

encontrará mais tarde”.

Essa afirmação pode estar correta, mas devemos ficar atentos para não incentivar

a competitividade entre os alunos, desviando assim os objetivos de aprender e o de

experiênciar.

O jogo competitivo tem como função superar limites pessoais ou de um grupo,

sejam eles psicológicos, sociais, físicos, ou mentais.

João B. Freire (1997) afirma que “não se pode ser negado na escola a existência

dos jogos competitivos” e diz ainda em seu livro que:

“Professores realmente preocupado com o desenvolvimento das características humanas, ao invés de tentar eliminar o caráter competitivo dos jogos, deveriam procurar compreendê-los e utilizar para valorizar as relações”.

O jogo competitivo pode ser utilizado como forma de superação através do

princípio da cooperação. Não se trabalha o jogo competitivo sem o cooperativo, em

qualquer atividade em que haja uma disputa, deve haver um o mínimo de cooperação

entre os participantes.

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1.2 - O JOGO COOPERATIVO

A cooperação entre os indivíduos está relacionada com a necessidade de se

trabalhar em grupo para um determinado objetivo A necessidade de dividir e de se

relacionar, faz com que o indivíduo se organize em “movimentos” de pessoas com algo

em comum. Segundo Brotto (1999) “a cooperação é um processo de interação social,

em que os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios são

distribuídos para todos”.

Seguindo o pensamento Ulrich (in Tani, 1988) afirma que a cooperação é:

“Quando as pessoas ou grupos combinam suas atividades ou trabalham juntas para conseguir um objetivo comum, de tal maneira que o maior êxito de alguma das partes concorra para um maior êxito das demais, temos o processo de cooperação”.

O jogo cooperativo é muito aplicado como forma de socialização. Algumas

empresas promovem jogos cooperativos com o objetivo de melhorar a relação social de

seus funcionários, para que haja mais produtividade, porém, na educação ele é pouco

utilizado, ou por falta de conhecimento do professor, ou por desinteresse do mesmo em

aplicá-lo. Brotto (1999) faz uma pesquisa ampla sobre os jogos cooperativos,

destacando sua importância na educação.

Através de outros tipos de jogos podemos desenvolver o princípio da

cooperação, Broto (1999) cita que “promovendo pequenas, mas fundamentais mudanças

na estrutura do jogo, podemos criar um tipo de desafio que motive cada pessoa e o

grupo para realizar um objetivo comum”.

Podem ser vários os caminhos para o ensino através do jogo cooperativo,

segundo Brotto (1999):

“Através dos jogos Cooperativos nos sentimos confortáveis e confiantes para desfazer nossos bloqueios. Expressamos livremente o poder que existe dentro de nós e compartilhamos qualidades e habilidades humanas essenciais”.

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Page 15: Monografia final

É através do compartilhar que poderemos perceber os resultados do trabalho em

grupo. Segundo Tartang Tulku (in Brotto, 1999) ”a cooperação libera uma força vital de

energia criativa que proporciona benefícios muito mais amplos do que uma pessoa

sozinha poderia conseguir”.

O jogo cooperativo pode ser aplicado como forma de unir conhecimentos em

favor do grupo, pois dentro da individualidade de cada jogador, há um sentimento de

contribuir sua participação.

O jogo cooperativo possibilita experiênciar o coletivo, onde todos participam e

ninguém é rejeitado. Para Brotto (1999) “Os jogadores aprendem a ter um senso de

unidade e a compartilhar o sucesso”.

Conforme os PCN’s é através da cooperação que poderemos entender a

“diversificação” dos indivíduos, objetivando a construção do conhecimento através da

socialização entre eles.

1.3 - O JOGO DRAMÁTICO.

O jogo dramático ao contrário dos outros é pouco discutido entre os

profissionais da área da Educação, sendo conceituado apenas pelos estudiosos do Teatro

tais como: Ingrid Dormien Koudela, Peter Slade, Viola Spolin, entre outros.

A palavra “drama” originária do Grego tem seu significado na ação, no

movimento. Se levarmos em conta que drama é toda representação do que foi vivido,

podemos então dizer que drama pode ser a representação do que aprendemos.

É bom deixar claro que o objetivo do jogo dramático não é ensinar teatro ou

expor os alunos para uma platéia, mas sim utilizá-lo como ferramenta de ensino para

vários conceitos morais, éticos e sociais. É irrelevante analisar se o aluno está

desenvolvendo bem a personagem, o importante é observar se ele está executando o

objetivo proposto com espontaneidade e expressando suas idéias com clareza.

O jogo dramático pode ser utilizado para vários objetivos no ensino, como forma

de avaliação, como trabalho de desenvolvimento motor, como interpretação de textos e

principalmente como desenvolvimento social. O ato de representar pode expor atitudes

escondidas a serem discutidas, pode promover a vivência do conteúdo e proporcionar o

entendimento das diferenças sociais e podendo opinar sobre qualquer assunto.

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Peter Slade (1978) expõe duas qualidades importantes no jogo dramático, o

envolvimento e a sinceridade, “Devemos estimular essas qualidades por todos os meios

ao nosso alcance, porque elas são de extrema importância para o indivíduo em

crescimento”. Através dessas qualidades Slade (1978) diferencia duas formas de jogo, o

Jogo Pessoal e o Jogo Projetado. O jogo projetado acontece quando a ação principal tem

lugar fora do corpo (externo) e no jogo pessoal a ação provém de quem está jogando

(interno) exemplos:

Jogo Projetado – o jogador entra em cena e começa a cozinhar sobre um fogão,

depois vai até a geladeira e pega os ovos para fazer uma omelete.

Jogo Pessoal – O jogador entra em cena e começa a observar o ambiente, abaixa

a cabeça e chora, enxuga as lágrimas e sai correndo.

Observamos que no primeiro momento o ambiente tem maior destaque do que o

segundo, a diferença esta na importância que terá a ação, se é no ambiente ou no

individuo.

Outra estudiosa do jogo dramático é Viola Spolin (1979) estruturou o jogo sobre

três ações: Quem, onde e o que. Em uma ação sempre existe uma personagem em algum

lugar fazendo algo. Para a utilização dessas ações Spolin descreve que é sempre

necessário um foco de atenção (objetivo). Nele o jogador poderá atuar da forma que

bem entender desde que não fuja do objetivo da ação. Desta forma o resultado é sempre

inesperado.

Ingrid Dormien Koudela, professora da ECA/USP, onde leciona a disciplina

Teatro Aplicado a Educação, e também tradutora de Viola Spolin, descreve em seu livro

como o jogo dramático se desenvolve “como o problema vai ser solucionado depende

da atuação de cada jogador. A tensão desempenha no jogo um papel fundamental, ela

significa incerteza, acaso. A solução do problema implica no esforço dos jogadores para

chegar até o desenlace e na improvisação espontânea de ações para vencer o

imprevisto".

No jogo dramático não se prevê um resultado, é trabalhado na estrutura do que já

viveu. As possibilidades de atividades são muitas, podendo integrar qualquer assunto

utilizando apenas a representação.

Segundo Viola Spolin (1979) o resultado do jogo dramático depende da

valorização do processo. A atuação de cada jogador é fator essencial no jogo,

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Page 17: Monografia final

possibilitando inúmeras formas de jogar onde cada resultado adquirido se diferencia

entre si, sendo sempre válido.

É o no jogo dramático que pode possibilitar ao aluno o desenvolvimento da sua

criatividade – criar-atividade - para que possa experimentar. É através dele também que

os alunos podem expressar idéias e concluir pensamentos escondidos no subconsciente,

além de exercitar percepções.

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Page 18: Monografia final

CAPÍTULO 2 - A INTERDISCIPLINARIDADE NA ESCOLA.

Muitos profissionais discutem o tema “interdisciplinaridade”, levantam teses,

conceituam este termo, no entanto nem sempre o definem. Através do estudo sobre o

tema, Sandra Lucia Ferreira (in Fazenda, 1997) cita que “não há verdades absolutas nem

universos acabados... considerando essa idéia a interdisciplinaridade perde a razão de

ser um conceito com definição fechada”.

Alguns professores trabalham com este tema sem ter noção do que se trata, não

permitindo um trabalho de resultado, impossibilitando sua prática e muitas vezes a

comunicação entre os envolvidos. Ivani Fazenda (1979) cita que: “Interdisciplinaridade

não se ensina, não se aprende, apenas vive-se, exerce-se e por isso exige uma nova

pedagogia, a da comunicação”.

A interdisciplinaridade segundo Ferreira (in Fazenda, 1997) “surge como

possibilidade de enriquecer e ultrapassar a integração dos elementos do conhecimento”.

Para Ivani Fazenda (1979) a interdisciplinaridade não pode ser entendida como

conceito e sim como ação, que precisa ser exercitada, “não possui um sentido único e

instável”, segundo ela pensar em um conceito seria a própria prática.

Segundo Sandra Lúcia Ferreira (Fazenda, 1997) certos educadores vêm

utilizando-se desse termo sem pensar no seu significado mais importante, sua definição

acaba caindo em uma delimitação.

Um dos problemas agravante segundo Penã (in Fazenda, 1997) é como os

professores irão dominar conhecimentos específicos de várias disciplinas, pois o

desinteresse em trabalhar com outras matérias facilita muito para que não ocorra um

trabalho interdisciplinar. Ela descreve também que:

“Muito raramente as falhas pedagógicas dos professores eram argumentos para explicar o insucesso e a repetência. Em geral, a causa do fracasso era atribuída aos alunos, tidos como incompetentes”.

Este capítulo tenta descrever alguns pontos importantes para que haja a

interdisciplinaridade são eles: A função do professor, a relação da educação física entre

as disciplinas e a aula de Educação Física.

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Page 19: Monografia final

2.1 - A FUNÇÃO DO PROFESSOR

O papel de educador pode tanto ser uma aventura empolgante quanto frustrante,

dependendo das respostas de algumas questões, por exemplo: Como conversar com

alunos? Como modificar o processo que não está sendo satisfatório? Como manter o

que está tendo bons resultados? O profissional enfrenta essas questões diariamente. O

fato é que nem sempre o professor está preparado para enfrentar tais questões e acaba

impondo a sua forma de ensinar sem considerar as idéias e opiniões dos alunos.

Muitas vezes o professor trata seu educando como se ele não soubesse nada,

ignorando seu conhecimento e sua cultura.

“Não há educação sem amor... Quem não é capaz de amar o ser inacabado não pode educar... Quem não ama não compreende o próximo, não respeita” (FREIRE, 1983).

A função do professor é possibilitar que o aluno descubra dentro da sua própria

vivência, mostrar a forma mais fácil de aprender outros conhecimentos. Paulo Freire

(1983) descreve: “A educação implica uma busca realizada por um sujeito que é o

homem. O homem deve ser o sujeito de sua própria educação. Não pode ser objeto

dela”.

Para Louis Not (1993) aprender tem dois sentidos. “Um é objetivo o outro é

subjetivo: aprender para si, é apreender, distinguir, dominar o conhecimento, seja por

um trabalho intelectual ou físico, seja pela experiência”.

Uma das principais estratégias do professor para que ocorra aprendizagem entre

os alunos é a motivação que irá proporcionar. A motivação, segundo Aurélio significa:

”Ato ou efeito de motivar; exposição de motivos (que determina ou causa alguma

coisa); que pode fazer mover”, pode ser fundamental tanto no jogo quanto na educação.

Motivar o aluno é sempre importante.“Motivação como chave para o resgate do

interesse pelo aprender”. (João Luiz Martins, 2002).

O homem motivado adquire gosto pelo desafio, pela descoberta e a formação do

conhecimento pode incentivar-lo ainda mais para que busque mais conhecimento.

Para Penã (in Fazenda, 1997), o conhecimento deve trazer a satisfação de

apropriar-se de mais saber, para poder se entender, entender o outro e entender o mundo.

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Page 20: Monografia final

A função do professor é proporcionar problemas interessantes para que seu

resultado traga satisfação para o aluno. A resolução de um problema é um ótimo

exercício para a construção do conhecimento. Matos e Neira (2003) descrevem que “em

vez de ser levado “ao que fazer” e ser instruído exatamente a ”como fazer", para o aluno

deve ser apresentado um problema cuidadosamente estruturado e em seguida solicitar-

lhe que encontre soluções para esse problema”. O aluno nesta situação, passa a interagir

totalmente com o conteúdo, sem que se perceba.

Para se ter um bom relacionamento com o aluno o professor deve dar-lhe

atenção, fornecer alternativas e oportunidades para opinar. Ele poderá ter grandes

chances de obter sucesso em suas aulas, podendo torná-la mais dinâmica, interessante e

significativa para os alunos.

“... O educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos...” (FREIRE 1987).

Matos e Nieira (2003) citam em sua obra o quanto é significativa a postura do

professor para o aluno, podendo ela ser positiva ou negativa para o seu

desenvolvimento.

“... se o aluno gostar do professor, que gosta de um assunto que não agrada o aluno, ainda sim, é possível a interação na situação de aprendizagem”.

A função do professor não é mostrar o que o aluno deve aprender e sim lhe

indicar caminhos para seguir. Matos e Nieira (2003) descrevem que: “A situação de

aprendizagem não deve ser dirigidas pelas instruções optativas do professor”, este deve

estimular o interesse do aluno em descobrir, "a descoberta deveria ser a mais

significativa se ensinar o conhecimento”.

Para a aula ser mais interessante é necessário que se haja interesse do aluno em

aprender, e para isso o professor deverá dar mais atenção aos conhecimentos que os

alunos adquiriram em sua vida.

20 2

Page 21: Monografia final

“O interesse do aluno passou a ser a força que comanda o processo da aprendizagem, suas experiências e descobertas... e o professor um gerador de situações estimuladoras e eficazes”. (ANTUNES, 1999)

O objetivo de se ter uma boa relação com os alunos é favorecer o entendimento

das diversas disciplinas, exigindo do professor participação orgânica no grupo. “É uma

relação de reciprocidade, de mutualidade, um regime de co-propriedade que iria

possibilitar o diálogo entre os interessados”(Fazenda, 1979). Isso pode facilitar a

participação do aluno em aula, aumentando seu interesse.

Através da interação o aluno começa a comunicar, a se relacionar, a jogar, e

assim construir todo um ambiente de aprendizado.

Um texto sobre interação no “Referencial Curricular Nacional para Educação

Infantil” (Brasil, 1998) cita:

“... cabe ao professor propiciar situações de conversa, brincadeira ou de aprendizagens que garantam a troca entre as crianças, de forma a que possam comunicar-se, demonstrando seus modos de agir, de pensar e de sentir, em um ambiente acolhedor e que propicie a confiança e a auto-estima”.

2.2 – A EDUCAÇÃO FÍSICA E OUTRAS DISCIPLINAS

Trabalhar com interdisciplinaridade na Educação Física nem sempre vai ser

fácil, a dificuldade será relacionar uma disciplina diferente com a sua e entendê-la. Por

esta questão é importante a constante discussão sobre o assunto, o como planejar,

elaborar e estruturar a interdisciplinaridade de forma que todos os professores

colaborem para o aprendizado do aluno.

Segundo Matos e Neira (2003) é possível encontrar formas de trabalhar com

outras disciplinas na Educação Física através de “projetos com a elaboração de jogos,

resgate de brincadeiras populares, narração de fatos e elaboração de coreografias podem

estar perfeitamente articulados com Português, História, Geografia ou Sociologia”. Eles

esclarecem que a integração não deve partir apenas da Educação Física, mas das outras

21 2

Page 22: Monografia final

disciplinas também, o que significa que as demais áreas devem ter movimento,

buscando integrar-se de forma eficiente com a educação do indivíduo.

A discussão do processo de ensino tem que ser constante e em equipe, a relação

do Educador Físico pode refletir no grupo escolar. Por esta questão o bom entendimento

do currículo escolar e saber bem qual relação ás disciplinas podem ter, pode ser o

caminho para o desenvolvimento saudável.

É de extrema necessidade que o grupo de trabalho tenha como objetivo novas

estratégias para um bom desenvolvimento do aluno. Para que isso ocorra é muito

importante para o Educador ter capacidade de trabalhar em equipe por um objetivo

maior, no caso, a formação do aluno.

Cada professor tem suas diferenças e as especificidades de suas disciplinas, no

entanto o ensino não funciona somente com igualdade, é importante que haja a

diferença para que os professores possam através de pontos distintos, analisar, avaliar e

reconhecer o que é satisfatório para o conhecimento e desenvolvimento do aluno e

assim direcioná-lo para um caminho.

Não reciclar os métodos e conceitos pode ser um grande problema do Educador

Físico. É necessário que o professor dê atenção às mudanças da sociedade e da

comunidade em que ensina, e que esteja sempre informado a respeito dos

acontecimentos, para que haja um trabalho integrado com outras disciplinas

(contextualização). A adaptação dos métodos de ensino deve ser constante, a cada dia

existe uma nova situação, um novo aluno e um novo professor.

Para o Educador Físico trabalhar com a diversidade e a pluralidade cultural (que

será discutido no capítulo 3), é necessário ter um vasto conhecimento e um estudo

contínuo sobre o que pretende desenvolver.

“É necessário uma formação continuada e atualizações constantes para que haja processos inovadores na área educacional... os educadores devem ser multifuncionais, com conhecimento amplo de outras matérias” (MARTINS, 2002).

E é através da multidisciplinaridade, do conhecimento diversificado que

podemos evoluir nossos métodos de ensino, atingindo um vasto território de

conhecimento. O Professor atualizado estará mais preparado para qualquer

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Page 23: Monografia final

eventualidade. A formação constante e ampliada possibilita diferentes estratégias de

ensino, o trabalho interdisciplinar se torna mais fácil de acontecer e a convivência com

outros profissionais torna-se mais prazerosa.

2.3 – A AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA

A educação física apresenta como característica própria a possibilidade da

construção do conhecimento corporal e seu relacionamento com o meio em que está

inserido, através do movimento, gestos e expressões, levando o aluno à prática.

Para Mattos e Neira (2003) “a prática educativa é bastante complexa, pois o

contexto de aula traz situações de ordem afetiva, emocional, cognitiva, física e de

relação pessoal”. Os acontecimentos em aula, mesmo que planejados, dificilmente

ocorrem conforme o programado, as situações acima citadas interferem diretamente na

dinâmica da aula planejada.

Antes de qualquer planejamento o Educador Físico deve estar atento para as

experiências dos alunos no que diz respeito aos conhecimentos sobre o corpo, aptidão

física, saúde, costumes, etc. O Professor deve criar situações que coloquem esses

conhecimentos em questão, como já foi dito anteriormente situações que solicitem do

aluno a resolução de um problema de caráter estratégico, motor ou conceitual.

Através de uma proposta de trabalho embasada na perspectiva construtivista-

interacionista, Mattos e Neira (2003) constatam que “o desenvolvimento é o resultado

da construção de estruturas mentais que tendem a se equilibrar e que permitem a

adaptação do sujeito ao meio físico e social, através da contínua interação com esse

meio”. Essas estruturas são construídas pelo próprio aluno através da ação sobre o que

quer conhecer.

Constantes desafios aos alunos provocam situações que precisam ser resolvidas

e é nessa necessidade de resolver que ocorre a construção do pensamento.

A discussão das propostas de atividades físicas, sempre que possível devem ser

estimuladas e o professor deve adotar uma postura de coordenador dos debates,

questionando o grupo de forma que favoreça o aproveitamento de respostas e reflexões

individuais e coletivas.

“Os alunos devem ser estimulados a

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Page 24: Monografia final

explicar as suas posições e ações e essa

explicação far-se-á no sentido de atribuir-lhes

um significado. Isto permite ao aluno o

questionamento de condutas e valores do grupo

e de si próprio”. (MATTOS e NEIRA, 2003)

O professor deve adotar a postura de interlocutor de informações, sendo flexível

às mudanças do planejamento e do programa de curso. Segundo Mattos e Neira (2003)

o professor deve “mostrar aos alunos que aquele é um espaço de aprendizagem e

procurar entender e aceitar as relações corporais existentes no mundo humano para o

bom desempenho do seu papel de educador”.

O Educador Físico deve criar um ambiente harmonioso, tranqüilo para trabalhar,

assim os alunos sentirão este ambiente acolhedor;

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Page 25: Monografia final

CAPITULO 3 - PLURALIDADE CULTURAL COMO TEMA TRANSVERSAL

Nos capítulos anteriores já foi citada a importância de considerar nas aulas a

cultura e o conhecimento dos alunos inseridos na escola. Neste capítulo será abordado a

pluralidade cultural e qual a importância de trabalhar com outras culturas, costumes e

conhecimentos para a formação do indivíduo e uma convivência mais tolerável. Os

PCN’s destacam que a Pluralidade Cultural oferece para os alunos “oportunidades de

conhecimento de suas origens como brasileiro e como participante de grupos culturais

específicos”.

Através dos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997) podemos

desenvolver situações onde a cultura e os conhecimentos do aluno podem ser utilizados

como instrumento de ensino, além de possibilitar a ele o conhecimento de outras

culturas, mostrando suas diferenças e semelhanças.

A Pluralidade Cultural pode ser utilizada como ligação para o trabalho

interdisciplinar na Educação Física em vários momentos como por exemplo: ao ensinar

uma luta o professor poderá trabalhar a cultura daquela luta, onde foi criada, qual

biotipo de quem pratica, em qual parte geográfica é praticada, e muito mais. Além disso

a Pluralidade Cultural traz oportunidades pedagógicas muito interessantes,

motivadoras, que relacionam não apenas com a escola, mas também com a comunidade

local e sociedade. Este tema possibilita ampliar questões do cotidiano para o âmbito

mundial e vice-versa, colocando-se assim simultaneamente, como objetivo e como meio

do processo educacional.

Segundo os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997) o aluno deve ser

capaz se: Utilizar as diferentes linguagens – verbal, matemática, gráfica, plástica e

corporal – como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias... Para isso é

necessário que o professor tenha uma formação e informação ampla sobre as culturas,

podendo assim disponibilizar alternativas, escolhas para sua formação sócio-cultural.

“Afirmação da diversidade como traço fundamental na construção de uma identidade”.

Para os PCNs pluraridade cultural: “Diz respeito ao conhecimento e à

valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais”. Não

significa aderir aos valores do outro, mas sim, respeitá-los como expressão da

diversidade, sem qualquer discriminação.

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Page 26: Monografia final

A pluralidade cultura procura entender e modificar uma ação, ou atitude de um

grupo, ocorrendo uma aculturação, que segundo o dicionário Aurélio (2001) significa:

“transformação da cultura de um grupo, decorrente de assimilação de elementos

culturais de outro grupo social com que mantém contato direto e regular”.

A questão da desigualdade social e da exclusão são discutidas dentro da

pluralidade cultural, indicando possíveis soluções. Tais questões segundo os PCNs são

produzidas na relação de dominação e exploração socioeconômica e política. Grandes

movimentos culturais e sociais foram organizados por consequência de discriminação

ou violação dos direitos.

Para os PCNs: Pluralidade Cultural, não é a divisão ou enquadrinhamento da

sociedade em grupos culturais fechados e sim pelo convívio e pelas opções pessoais. A

relação interpessoal contribui para as transformações necessárias à construção de uma

sociedade mais justa.

As culturas são produzidas pelos grupos

sociais ao longo das suas histórias, na

construção de suas formas de subsistência, na

organização da vida social e política, nas suas

relações com o meio e com outros grupos.

(PCN’s, 1997)

O que precisa ser enfatizado é que impedindo que o aluno tenha bens materiais e

culturais produzidos na sociedade, excluindo-o da participação coletiva, possivelmente

formaremos pessoas preconceituosas e discriminadoras.

A Pluralidade Cultural enfatiza tendências culturais que convivem com a

população oferecendo informações, alternativas e formando novas mentalidades.

Mas para acontecer Pluralidade Cultura é necessário que o professor saiba

discutir a diversidade cultural a partir das próprias diferenças dos alunos, é um modo de

conduzir o tema da forma mais próxima da realidade brasileira, criando uma

contextualização para qualquer assunto.

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Page 27: Monografia final

IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo desse trabalho e da experiência que tive como educador pude perceber a

importância que tem a Educação Física escolar em relação às outras matérias, através da

fundamentação teórica, da vinculação das aulas com os objetivos do trabalho em grupo,

da não improvisação e principalmente, da elaboração de um plano que atenda às

necessidades, interesses e motivações dos alunos.

O Educador Físico não pode ignorar a cultura dos alunos, e inserir algo de forma

imposta, para “que seja feita apenas a nossa vontade”, é necessário utilizar o

conhecimento dos educandos, para que se possa trabalhar em conjunto, através de uma

forma adequada de ensino, que ao meu entender esta inserida na prática construtivista-

interacionista citada por Mattos e Neira (2003).

O trabalho do professor de Educação Física vai além do ensinar a jogar, antes de

tudo ele é um Educador para a vida. A adoção do esporte como componente único fez

com que a aula se tornasse sem importância para a maioria dos alunos e dos professores.

Através das colocações postas pelos autores aqui citados é percebida uma nova

ótica sobre a Educação Física escolar, que objetiva a formação total do aluno, inserindo-

o na aula e eliminado-o de qualquer tipo de discriminação. Há a preocupação da

formação interdisciplinar onde o aluno pode relacionar o que esta sendo aprendido nas

diversas matérias com o seu meio em que vive.

  A interdisciplinaridade é algo que deve ser trabalhada, discutida e enfatizada

sempre, pois conseguimos tornar o estudo mais dinâmico, interessante e interativo.

Mostrar ao mundo escolar que a Educação Física não se limita ao espaço "quadra" é

nosso dever, temos muito a acrescentar para as outras disciplinas. O jogo é um possível

caminho para o ensino interdisciplinar.

Ao utilizar os jogos podemos motivar os alunos para várias situações de ensino. O

prazer proporcionado pelo jogo permite que aluno descubra o que mais lhe agrada.

Para inserir o jogo no ensino, o professor terá que estar preparado no sentido de

possibilitar conteúdos suficientes para que haja a interdisciplinaridade em sua prática. A

constante discussão, planejamento, elaboração e estruturação são itens relevantes que o

professor deve levar em consideração para a prática da interdisciplinaridade.

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Page 28: Monografia final

Na tentativa de indicar possíveis caminhos a serem seguidos pelos profissionais

que atuam na área, este trabalho propõe formas de atuação e competências que

proporcionam o envolvimento da totalidade dos alunos e não somente dos mais

habilidosos, vinculando a Educação Física de forma lúdica, educativa e contributiva

para o processo de ensino multidisciplinar e interdisciplinar.

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V - METODOLOGIA

Para a conclusão do trabalho foram utilizadas: pesquisas bibliográficas,

experiências e práticas anteriores nas áreas de teatro e recreação, pesquisa em site e

utilização de assuntos abordados em sala de aula.

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VI – ANEXO

Matéria do Jornal “Diário do Grande ABC”, dia 15 de outubro de 2006.

30 3

Page 31: Monografia final

31 3

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VII - BIBLIOGRAFIA

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